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Toxicologia Ocupacional &

Ambiental

Profº Adilson Marques da


Silva
Objetivos:
• Conhecer os principais agentes tóxicos, e
seu mecanismo de ação.
• Correlacionar os possíveis sinais e
sintomas com a intoxicação.
• Descrever as principais drogas ilícitas,
seu mecanismo de ação no SNC.
• Correlacionar os possíveis sinais e
sintomas com o seu uso abusivo.
 Toxicologia Ocupacional: Trata das
substâncias químicas encontradas no
ambiente de trabalho.
- Valores Limites limiares (VLL): ppm ou
mg/m3.

 Toxicologia Ambiental: Trata do impacto


potencialmente deletério de substâncias
químicas, presente na forma de poluentes
ambientais,sobre os organismos vivos.
Conceitos:
 Toxicidade: É a capacidade inerente e
potencial do agente tóxico de provocar
efeitos nocivos em organismos vivos.
- Promoção de injúrias às estruturas biológicas,
através de interações físico – químicas

agente químico  organismo



EFEITO NOCIVO
 Risco: É a probabilidade da substância
produzir dano sob determinadas
condições.

Risco (risk): de um efeito adverso a saúde diz


respeito ao nível de exposição e da suscetibilidade
individual para aquela molécula

Perigo (hazard): define o potencial de um composto


provocar dano e é dessa forma associado,
virtualmente com alguma molécula.
Vias de Exposição:
 Inalatória
 Transdérmica
 Ingestão oral

Duração da Exposição:
 Exposição aguda
 Exposição crônica
 Exposição a longo prazo de baixo nível
(Toxicidade Tardia)
Considerações Ambientais
 Degradação,
 Mobilidade,
 Bioacumulação,
 Bioamplificação.
Poluentes do ar
1- Monóxido de Carbono (CO)
 Gás incolor,
 Insípido
 Inodoro
 Subproduto da combustão incompleta,
 Concentração média na atmosfera 0,1 ppm,
 CO (1000 ppm) 50% carboxiemoglobina.
 VLL -TMP: 25; VLL- LECP: NE
Mecanismo de ação:

 Combina-se de modo reversível com os


sítios de ligação de oxigênio da
hemoglobina.
 Afinidade 220 vezes maior que a do
oxigênio.
 Formação da carboxiemoglobina.
Efeitos clínicos:
 Hipóxia:
1- comprometimento psicomotor
2- Cefaléia e sensação de aperto na área
temporal.
3- Confusão e perda da acuidade visual.
4- Taquicardia, taquipnéia,sincope coma.
5- Coma profundo, convulsões, choque e
insuficiência respiratória.
Tratamento:

 Remover o indivíduo do local de


exposição.
 Oxigênio
 Ar ambiente a 1 atm → 320 min.
 Oxigênio a 100% → ~ 80 min.
 Tratamento com oxigênio hiperbárico e
controverso
2- Dióxido de Enxofre (SO2)
 Gás incolor
 Irritante
 Produzido pela queima de combustíveis
fosséis.
 VLL -TMP: 2 ppm; VLL- LECP: 5 ppm
Mecanismo de ação e Efeitos
clínicos
 Quando em contato com membranas
úmidas, forma ácido sulfúrico.
 Irritante sobre pele, mucosas e olhos.
 Constrição brônquica quando inalado.
 Exposições de 5-10 ppm provocam
broncoespamo grave.
Tratamento

 Não é específico para o SO2.


 Tratamento da irritação do trato respiratório
3- Óxido de Nitrogênio (NO2)

 Gás irritante,
 Acastanhado,
 Algumas vezes associados a incêndios,
 VLL -TMP: 3 ppm; VLL- LECP: 5 ppm
Mecanismo de ação
 Profundo irritante pulmonar,
 Capacidade de provocar edema
pulmonar,
 As células do tipo I alveolares são as mais
afetadas na exposição aguda.
 a exposição a 50 ppm por 1 hora pode
provocar lesões e edema pulmonar.
 a exposição a 100 ppm pode levar a
morte.
Efeitos Clínicos e Tratamento
 Irritação dos olhos e nariz,
 Tosse ,
 Produção de escarro mucóide ou
espumoso.
 Pode-se verificar o aparecimento de edema
pulmonar dentro de 1-2 horas.
 Oxigênio, controle da irritação pulmonar e
edema pulmonar,
 Broncodilatadores, sedativos e antibióticos.
4- Ozônio (O3)
Gás irritante,
Azulado,
Encontrado na natureza,
 Encontrado em torno de equipamentos
elétricos de alta voltagem e purificadores
de água,
 Oxidante encontrado no ar urbano
poluído.
Efeitos clínicos e Tratamento
 Irritante da mucosas
 irritação das vias respiratórias
 Oxigênio, controle da irritação pulmonar e
edema pulmonar,
 Broncodilatadores, sedativos e antibióticos.
Solventes
1- Hidrocarbonetos Alifáticos
Halogenados

 Solventes industriais,
 Desengordurantes e produtos de limpeza,
 Tetracloreto de carbono, clorofórmio,
tetracloroetileno
Mecanismo de ação e Efeitos clínicos
 Experimentalmente provocam depressão do
SNC, lesão hepática e renal.
 O clorofórmio foi amplamente utilizado como
anestésico.
 ainda não foram determinados os efeitos
potenciais da exposição a longo prazo de
baixos níveis em seres humanos.
Tratamento
 Não existe tratamento específico para a
intoxicação aguda.
 O tratamento depende do sistema
orgânico afetado.
2- Hidrocarbonetos aromáticos
Benzeno
 Amplamente utilizado como solvente,
 Agudamente provoca depressão do SNC
 a exposição a 7.500 ppm por 30 min.pode
ser fatal.
 VLL – TMP: 0,5 ppm; VLL – LECP: 2,5 ppm
Efeitos Clínicos
Os primeiros sintomas da intoxicação são:
 cefaléia, perda do apetite e fadiga.
A exposição crônica ao benzeno pode
resultar:
 Anemia aplásica,
 Leucopenia,
 Trombocitopenia.
Dados epidemiológicos indicam incidência
aumentada de leucemias em
trabalhadores.
Tolueno

 Depressor do SNC
 Não possui propriedades mielotóxicas
 A exposição de 800 ppm pode resultar
em fadiga intensa e ataxia.
 Um exposição a 10.000 ppm pode
provocar rápida perda da consciência.
 O efeito crônico da exposição a longo
prazo ao tolueno não estão bem definidos.
Inseticidas
1- hidrocarbonetos clorados
 DDT, Hexacloretos de benzeno,
Ciclodienos, Toxafenos.
 Inativação do canal de sódio das
membranas excitáveis.
 descarga repetitiva da maioria dos
neurônios.
 Estimulação do SNC: tremores, convulsão.
 Tratamento sintomático
2- Inseticidas organofosforados
 Bem absorvidos pela pele, Trato respiratório
e TGI.
 Metabolismo rápido.
 Age fosforilando o sítio de ação da
colinesterase.
 Alguns dos agentes possui atividade
colinérgica direta.
 alterações neurocomportamentais e
cognitivas .
 Não existe tratamento específico para os
efeitos neurotóxicos.
Toxicologia do Metais Pesados
1- Chumbo
Farmacocinética:
 Absorção lenta e uniforme.
 Vias respiratória e gastrointestinal.
 Pouco absorvido pela pele (orgânico)
 após a absorção liga-se aos eritrócitos e se
difundem pelos tecidos moles: medula
óssea, fígado, rim, músculos e gônadas.
 Atravessa a barreira placentária.
 Eliminação renal principal.
Farmacodinâmica:
 inibe a atividade enzimática
 Interfere na ação de cátions essenciais
 Altera a estrutura das membranas celulares
e de receptores
Ação sobre os sistemas:
A- SNC
 efeitos neuro-comportamentais,
 Irritabilidade,
 Perda do libido
 Comprometimento da coordenação visual –
motora
 Neuropatia periférica.
B- Sangue
 Anemia microcítica e hipocrômica
 Aumento na fragilidade osmótica do
eritrócito.
 Presença de pontilhado basófilo no sangue
periférico.

C- Rins
 Fibrose intersticial renal e nefrosclerose,
 Artrite gotosa
 Elevação na pressão arterial
Órgãos Reprodutores:
 toxina para a função reprodutora
 em homens produz oligospermia severa
 Em mulheres grávidas pequenas
quantidades de chumbo podem interferir no
desenvolvimento neurológico do feto.
Trato gastrintestinal:
 perda do apetite,
 Dor abdominal intensa,
 Constipação e raramente diarréia .
Sistema cardiovascular:
 Hipertensão.
Principais formas de intoxicação
por chumbo inorgânico
AGUDA:
 Inalação industrial de Óxido de Chumbo,
 Crianças: ingestão de tinta
 Inicio abrupto dos sintomas requer dias ou
semanas.
 Diagnóstico difícil podendo ser confundido
com: apendicite, ulcera, pancreatite, ou
meningite.
 a manifestação subaguda muitas vezes é
confundida com doença viral do tipo gripal.
CRÔNICA:
Apresenta achados multissistêmicos:
 Anorexia, fadiga, mal estar, cefaléia
 Queixas neurológicas, dificuldade de
concentração, irritabilidade.
 O diagnóstico é feito pela determinação de
Pb no sangue.
 Nos EUA, a presença de níveis superiores a
10 g/dL recomenda-se investigação
criteriosa.
Principais formas de intoxicação por
chumbo orgânico

 Causado por chumbo tetraetil e tetrametil.


 Pb orgânico é volátil e Lipossolúvel.
 Absorção pela pele e Trato respiratório
 Produto do metabolismo hepático é
responsável pelo envenenamento agudo.
 O envenenamento crônico e raro.
Tratamento
Pb inorgânico:
 Interrupção imediata da exposição.
 A encefalopatia é uma emergência médica.
 Suporte intensivo com anticonvulsivantes.
 Edema cerebral: corticosteróides e Manitol.
 Evitar hiperidratação.
 Terapia de quelação: edetato dissódico de
cálcio (CaNa2EDTA): 1500 mg/m2/dia.
Pb orgânico:
 descontaminação da pele.
 evitar qualquer exposição adicional.
 Uso apropriado de anticonvulsivantes
 Terapia de quelação empírica na presença
de concentração elevada de Pb circulante.
2- Arsênico

 Elemento natural.
 Algumas regiões do mundo o lençol freático
pode conter altos níveis de arsênico.
 Os arseniacais orgânicos foram os
primeiros antibióticos utilizados.
 Produtos industriais farmacêuticos.
Farmacocinética:

 Bem absorvido pela respiratória e trato


gastintestinal.
 A absorção percutânea é limitada.
 A maior parte do arsênico absorvido sofre
metilação hepática.
 Seus metabólitos e o arsênico residual sofre
eliminação renal.
Farmacodinâmica:
 Exerce seu efeito tóxico ao inibir as reações
enzimáticas em diversos sistemas.
 O gás arsina que é oxidado in vivo exerce
potente efeito hemolítico.
 Também interrompe a respiração celular em
outros tecidos.
Principais Formas de Intoxicação
por Arsênico.
A- Envenenamento agudo:
 Cardiovasculares: choque e arritmias.
 SNC: Encefalopatia e neuropatia periférica e
coma.
 Trato gastrintestinal: gastrenterite
O tratamento baseia-se:
 descontaminação intestinal adequada.
 Cuidados de suporte intensivos.
 Quelação imediata com dimercaprol (3-5 mg/Kg)
a cada 4-6 horas.
B- Envenenamento Crônico :
 Sintomas constitucionais: fadiga, perda de
peso, anemia.
 Queixas gastrintestinais
 Neuropatia periférica sensório-motora.
 Alterações cutâneas: hiperpigmentação em
gotas de chuva, hiperqueratose acometendo as
palmas das mão e plantas dos pés.
 Doença vascular periférica e hipertensão
 Os níveis urinários de arsênico total deve se
normalizar ( ≤ 50g/24h) dentro de algumas
semanas após a interrupção da exposição.
C- Envenenamento por gás arsina:
 Profundos efeitos hemolíticos.
 De 2 a 24 horas após inalação.
 cefaléia, dispnéia, nauseas, vomitos dores
abdominais, icterícia e hemoglobinúria.
 Insuficiência renal oligúrica.
O tratamento baseia-se:
 Cuidados de suporte intensivos.
 Transfusões sanguíneas.
 Diurese alcalina forçada e hemodiálise.
 Os agentes quelantes não tem ação.
3- Mercúrio
 Único metal líquido em condições normais.
 Obtido predominantemente na forma de HgS.
 Grande utilização industrial.
 Produção de tinta e pigmentos, amalgma dentário
e refinação do ouro.
 Bioacumulação em sistemas biológicos.
Farmacocinética:
 O mercúrio elementar é muito volátil e pode ser
absorvido pelos pulmões.
 Pouco absorvido pelo TGI intacto
 Absorção percutânea de todos os tipos de
mercuriais é limitada.
 distribuição rápida.
 maior concentração nos rins.
 O Hg inorgânico é excretado principalmente pela
urina dentro de poucos dias.
 Retenção no cérebro e rins por vários anos.
 Ligam-se a radicais sulfidrilas em tecidos
queratinizados.
Farmacodinâmica:
 O Hg interage com grupos sulfidrila in vivo.
Inibindo as enzimas e alterando as membranas
celulares.
Principais formas de intoxicação
por Mercúrio
Aguda:
Inalação aguda de vapores de Hg.
 Pneumonite química e edema pulmonar
não cardiogênico.
 Gengivoestomatite
 Seqüelas neurológicas
Ingestão de sais de mercúrio inorgânico.
 Gastroenterite hemorrágica
 Necrose tubular e insuficiência renal
Principais formas de intoxicação
por Mercúrio
Crônica:
Inalação de vapores de Hg.
• Tríade: tremor, disturbio neuropsiquiátrico,
Gengivoestomatite
Intoxicação por metilmercúrio.
• SNC: parestesia, ataxia, distúrbios
auditivos
Tratamento

Exposição aguda:
• Tratamento suporte intensivo
• Quelação aguda com dimercaprol

Exposição crônica:
• Succimer, D-penicilamina e DMPS
aumentam a excreção urinária.
Caso: 2
Uma mulher leva seu filho de 5 anos de idade ao consultório para avaliação. Ele
teve dificuldade progressiva para andar nos últimos meses e pareceu irritado.
Também parecia bastante cansado. Vomitou em uma ou duas ocasiões durante a
última semana. A história clínica dele é normal. Ele nasceu depois de uma gravidez
não complicada. Recebeu todas as vacinas e alcançou todos os marcos de
desenvolvimento para a sua idade. Mora com os pais em uma casa que foi
construída na década de 1920, que está sendo reformada. Ao exame, a criança
encontra-se um pouco inquieta, mas cooperativa. Sua conjuntiva e mucosas estão
pálidas. O exame neurológico é significativo para uma marcha atáxica
(desajeitada). Seu exame geral é normal em outros aspectos. Um hemograma
completo mostra que ele está anêmico. O nível sérico de chumbo encontra-se
acentuadamente elevado. Você o interna e inicia tratamento com dimercaprol e
ácido etilenodiaminotetracético (EDTA).

•Como a exposição crônica ao chumbo causa anemia?


•Qual é o mecanismo de ação do dimercaprol e do EDTA?

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