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Introdução
O risco de intoxicação está presente no nosso cotidiano e, principalmente, no
de profissionais que são expostos diariamente em sua jornada de trabalho.
Os agentes tóxicos agem no organismo conforme a sua toxicidade, de modo
que diversos fatores contribuem para que a reação seja leve ou grave. Muitos
agentes apresentam relação tecido/órgão-específica, sendo importante realizar
a distinção de acordo com a fonte de exposição. Além disso, há diferenças
entre a exposição pontual e crônica, visto que a manifestação clínica também
ocorrerá desse modo. Tal abordagem é importante porque a identificação
dos possíveis efeitos tóxicos auxilia na diferenciação dos agentes envolvidos
na intoxicação e no seu tratamento, contribui para o cuidado da saúde dos
trabalhadores expostos e, portanto, para a determinação dos equipamentos de
proteção individual e coletiva que devem ser mantidos no ambiente de trabalho.
Neste capítulo, você vai estudar os efeitos tóxicos de diversas substâncias
químicas. Serão vistas substâncias como metais, solventes, vapores, pragui-
cidas, radiação e materiais radioativos, venenos de animais terrestres, fungos,
algas e plantas.
2 Agentes tóxicos
Metais e vapores
Os metais caracterizam-se por não poderem ser sintetizados, nem destru-
ídos, ou seja, eles não são biodegradáveis e se bioacumulam, ocorrendo a
contaminação. Há ampla exposição humana aos metais pelas mais diversas
fontes, como solo, água, ar, tinta, desodorantes, alimentos, agrotóxicos. Alguns
metais, inclusive, são essenciais à vida.
Os principais metais tóxicos são arsênio, cádmio, chumbo e mercúrio. Veja
no Quadro 1 algumas das formas de exposição a esses metais.
Metal Exposição
Cada um desses metais apresenta efeitos tóxicos que podem ser decorren-
tes de uma intoxicação aguda ou crônica, manifestando-se de modo distinto.
Os efeitos podem ser observados em minutos a horas, dias, semanas e até
meses após a exposição a altas doses dos metais. No caso do cádmio e do
mercúrio, eles podem se enquadrar também na liberação de vapores tóxicos.
Acompanhe os principais efeitos da intoxicação por alguns metais (KLAASSEN;
WATKINS III, 2012; KATZUNG; TREVOR, 2017):
Arsênio inorgânico:
■■ Intoxicação aguda: febre, anorexia, hepatomegalia, melanose e ar-
ritmia cardíaca, que em casos mais graves, pode promover falência
cardíaca, irritação das mucosas do sistema digestório, perda sen-
sorial do sistema nervoso periférico.
■■ Intoxicação crônica: principais órgãos-alvo são a pele e o fígado,
caracterizando um quadro de icterícia, hepatomegalia e, em casos
mais graves, cirrose e ascite. O metal tem perfil carcinogênico, sendo
associado ao câncer de pele e fígado, pulmões, rins e próstata.
Cádmio: é tóxico para as células tubulares renais e glomérulos, cau-
sando nefrotoxicidade, que pode ser identificada pela ocorrência de
proteinúria e consequente necrose tubular. Quando inalado promove
uma alteração respiratória conhecida como febre do vapor de cádmio,
que se caracteriza pela ocorrência de febre, tremores, tosse e mal-estar
nos soldadores; em uma exposição crônica pode acarretar pneumonia
e lesão renal grave. A doença pulmonar crônica ocorre conforme a
dose e a duração da exposição via inalatória, sendo manifestada como
bronquite crônica e enfisema; alterações na mineralização dos ossos,
o que causa dor óssea e até osteoporose.
Chumbo: promove desde inibição enzimática até patologias graves e
óbito. Em crianças acomete, sobretudo, o SNC, pois afeta o sistema
neurotransmissor, enquanto, em adultos, causa, usualmente, neu-
ropatia periférica, nefropatia crônica e hipertensão. Os principais
tecidos-alvo do chumbo inorgânico são o sistema digestório, imune,
esquelético e reprodutivo. O metal tem capacidade de ultrapassar a
barreira placentária, sendo um risco para o feto.
Agentes tóxicos 5
Mercúrio:
■■ Intoxicação aguda: quando inalado, acomete o sistema respiratório
e pode causar bronquite aguda e corrosiva, pneumonite intersticial
e edema pulmonar. O mercúrio inorgânico tem afinidade com as
células tubulares renais, sendo os rins os órgãos-alvo.
■■ Intoxicação crônica por metilmercúrio: promove neurotoxicidade
com parestesias, dificuldade de andar, na fala e ao engolir.
Níquel: o efeito mais usual é a dermatite de contato decorrente da
exposição ao ar ou por contato prolongado na pele (moedas e joias).
O níquel carbonila, quando inalado, provoca cefaleia, tosse, náuseas,
vômitos e irritação gastrointestinal, podendo evoluir para pneumonia,
falência respiratória e óbito. A exposição ao sulfeto de níquel, ao óxido
de níquel e ao níquel metálico apresenta risco potencial de câncer no
sistema respiratório.
Déficit de QI 10–15
↓ Velocidade de condução 40 40
nervosa
↑ Protoporfirina eritrocitária 15 15
Nefropatia 40 40–60
Solventes
Os solventes consistem em líquidos orgânicos. Apresentam variabilidade
na lipofilicidade e volatilidade, têm pequeno tamanho molecular e ausência
de carga. Assim, são facilmente absorvidos pelos pulmões, pela pele e pelo
sistema digestório. Normalmente, a ação dos solventes é reversível assim
que a exposição é interrompida. São empregados para dissolver, diluir ou
dispersar componentes insolúveis em água, e normalmente são obtidos por
meio do refino de petróleo.
Em relação à sua toxicidade, conforme Klaassen e Watkins III (2012),
os solventes têm como características importantes as listadas a seguir:
Hidrocarbonetos clorados:
■■ Clorofórmio (CHCl3, triclorometano): utilizado para a produção de um
gás refrigerante. É considerado com provável efeito carcinogênico,
com ação hepatotóxica e nefrotóxica, além de atuar no SNC.
Hidrocarbonetos aromáticos:
■■ Benzeno: é derivado do petróleo e utilizado na produção de outros
produtos químicos. A exposição ocorre via produção industrial e
cotidiano por meio do tabagismo, mesmo que fumo passivo, e pela
inalação de gasolina e escapamento de automóveis. Seu efeito tóxico
ocorre via hematopoiética, manifestando-se como anemia, leuco-
penia, trombocitopenia e, em casos mais graves, aplasia medular.
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Inseticidas:
■■ Compostos organofosforados: a sintomatologia normalmente as-
sociada à intoxicação é a insuficiência respiratória. Outra sintoma-
tologia associada é a síndrome colinérgica, que acarreta sudorese,
salivação, diarreia, tremores e espasmos musculares.
■■ Carbamatos: apresentam maior absorção por via dérmica devido à
presença de compostos como solventes orgânicos e emulsificantes
nas formulações. Pode promover miose, diurese, diarreia, salivação
e espasmos musculares.
■■ Piretroides: a parestesia é o efeito mais comum decorrente da exposi-
ção dérmica, além de formigamento nas pálpebras, lábios e ardência
nas conjuntivas e mucosas. Em casos de exposição crônica, pode
causar hepatomegalia leve e alterações histopatológicas no órgão.
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Herbicidas:
■■ Compostos clorofenoxi: quando ingeridos, provocam vômito, dores
abdominais, hipotensão, miotomia e, em casos mais graves, afetam
o SNC e podem levar ao coma.
■■ Compostos bipiridílicos (paraquat): sãos herbicidas com maior toxici-
dade aguda e se acumulam nos pulmões, seguidos dos rins, causando
efeitos sistêmicos. A intoxicação manifesta-se sob a forma de edema
pulmonar, infiltração do interstício alveolar e, consequentemente,
morte. Em intoxicações crônicas, age no sistema digestório, nos rins
e nos olhos, com ocorrência de náusea, vômito, ulceração esofágica
e comprometimento das funções renais e alterações neurológicas,
até sangramento gastrointestinal, disfunção pulmonar e dano renal.
Fungicidas: conforme o fungicida empregado, podem acarretar irrita-
ção ocular e dérmica, hipertrofia e hiperplasia das células foliculares
tireoidianas, podendo evoluir para adenomas e carcinomas, além de
interferência endócrina, comprometendo o sistema reprodutivo.
Efeitos agudos
Efeitos crônicos
Referências
BRASIL. Fundação Nacional de Saúde. Manual de diagnóstico e tratamento de acidentes
por animais peçonhentos. 2. ed. Brasília: FUNASA, 2001. Disponível em: https://www.
icict.fiocruz.br/sites/www.icict.fiocruz.br/files/Manual-de-Diagnostico-e-Tratamento-
-de-Acidentes-por-Animais-Pe--onhentos.pdf. Acesso em: 21 out. 2020.
BRASIL. Instituto Nacional de Câncer. Radiações ionizantes. Brasília: INCA, 2019. Dispo-
nível em: https://www.inca.gov.br/exposicao-no-trabalho-e-no-ambiente/radiacoes/
radiacoes-ionizantes. Acesso em: 21 out. 2020.
CENTRO DE INFORMAÇÃO TECNOLÓGICA. Fungos tóxicos. Porto Alegre: CIT, 2011. Dispo-
nível em: http://www.cit.rs.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=4
0&Itemid=34#:~:text=Existem%20cogumelos%20comest%C3%ADveis%2C%20como%20
Agaricus,de%20esporos%20verdes)%20entre%20outros. Acesso em: 21 out. 2020.
KLAASSEN, C. D.; WATKINS III, J. B. Fundamentos em toxicologia de Casarett e Doull.
2. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012.
KATZUNG, B.; TREVOR, A. J. Farmacologia básica e clínica. 13. ed. Porto Alegre: AMGH,
2017. (Lange).
OLSON, K. R. Manual de toxicologia clínica. 6. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. (Lange).
FRANÇA, F. S.; LEITE, S. B. Micologia e virologia. Porto Alegre: SAGAH, 2018.
FIUZA, M. F. M. et al. Imaginologia. Porto Alegre: SAGAH, 2019.
Leituras recomendadas
AYER, F. Dietilenoglicol relacionado ao caso Backer já matou 750 em 10 países.
Estado de Minas Gerais, 2020. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/
gerais/2020/01/19/interna_gerais,1115300/dietilenoglicol-relacionado-ao-caso-backer-
-ja-matou-750-em-10-paises.shtml. Acesso em: 21 out. 2020.
OPAS/OMS. Manual de vigilância da saúde de populações expostas a agrotóxicos. Brasí-
lia: OPAS/OMS, 1996. Disponível em: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_
docman&view=document&category_slug=saude-e-ambiente-707&alias=301-manual-
-vigilancia-da-saude-populacoes-expostas-a-agratoxicos-1&Itemid=965. Acesso em:
21 out. 2020.
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