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CEFET

DIRETORIA DE ENSINO

GERÊNCIA EDUCACIONAL DE RECURSOS NATURAIS

CURSO DE SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM


CONTROLE AMBIENTAL

DISCIPLINA: poluição do solo

2º.bimestre

PROFª. RÉGIA LÚCIA LOPES

Natal/ julho/2006

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4- MECANISMOS DE TRANSPORTE DE MASSA E INTERAÇÃO SOLO-CONTAMINANTE

4.1 Introdução

Costuma-se chamar poluente uma substância estranha ao sistema, mas que a ele não
necessariamente se atribui ameaça ao sistema. Por outro lado, um contaminante é um termo
utilizado para designar uma substância a qual pode ser atribuída uma ameaça à saúde e/ou ao
meio ambiente.

As espécies químicas que promovem contaminação do solo podem se movimentar de


acordo com os vários mecanismos envolvidos no seu transporte. A somatória das propriedades
físico-químicas do contaminante e do solo, a interação entre o solo e a água e a interação entre
o solo e o contaminante, além das condições hidrogeológicas da região vão nortear os
processos de propagação.
Basicamente dois processos estão envolvidos no transporte de massa: a interação
solo-contaminante envolvendo os processos químicos, físico-químicos e biológicos (interação
solo-contaminante) e os mecanismos de transporte.
Alguns compostos são miscíveis em água, como é o caso de cloretos, metais pesados,
etc. Outros são imiscíveis, isto é, não se misturam com a água como é o caso dos compostos
orgânicos derivados do petróleo, que podem ser leves (LNAPL) ou pesados (DNAPL).

a) LNAPL – Light NAPL

Distribuições típicas de LNAPLs em contaminação do subsolo


a) LNAPL atingindo o nível d’água como fase contínua,
b) LNAPL, totalmente retido como fase residual.
Apud Schmidt, 2000

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b) DNAPL – Dense NAPL

Os processos de acumulação e transporte de contaminantes através do solo


dependem da natureza do contaminante e do tipo do solo em questão. A composição e as
propriedades dos resíduos são fatores significativos no desenvolvimento da interação com o
substrato do solo. Se, contudo, for possível estimar as propriedades físicas e químicas mais
importantes dos contaminantes e conhecer bem as características do solo, poderemos
compreender melhor o seu transporte e, assim, dimensionar melhores barreiras naturais ou
artificiais para áreas contaminadas ou para futuras áreas de disposição do resíduo.

Durante o transporte de contaminantes através do solo, os seguintes processos devem


ser controlados:
a) quantidade de contaminantes transportados em um tempo qualquer através de uma região
de controle particular;
b) atenuação da concentração através da adsorção e processos de dessorção;
c) razão e extensão da propagação ou avanço da pluma de contaminação.

A água é o agente transportador de contaminantes mais importante na obtenção e no


entendimento da interação solo-água (Yong, 1973).

4.2 Mecanismos de Transporte nos Solos


Em problemas que envolvem a previsão dos impactos de uma área de disposição de
resíduos, faz-se necessário o conhecimento dos mecanismos e parâmetros de transporte de
contaminantes envolvidos. A migração de contaminantes em meios porosos é governada por
diversos processos.
Os processos físicos envolvem os fenômenos da advecção e dispersão hidrodinâmica,
enquanto os processos químicos englobam as diversas reações químicas que podem ocorrer
entre a solução contaminada e o solo.
A contaminação do solo é a principal causa da deterioração das águas subterrâneas
(Boscov, 1997). Os processos de contaminação no solo ocorrem lentamente e,
freqüentemente, sem conseqüências trágicas imediatas, porém em longo prazo, podem ter
efeitos sérios e possivelmente irreversíveis. Os contaminantes podem ter sido produzidos no
estado líquido (efluentes) ou resultarem da degradação ou percolação de águas pluviais por
resíduos sólidos (chorume ou percolado). Para o aperfeiçoamento do projeto de disposição de
resíduos, torna-se cada vez mais importante entender os mecanismos fundamentais de
transporte de poluentes em solos.

4.2.1. Processos Físicos


a) Advecção: é o processo pelo qual o soluto é carregado pela água em movimento. No
transporte advectivo de solutos que não interagem com o meio poroso, a frente de

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contaminação é abrupta e move-se a uma velocidade igual à velocidade linear média (v)
do fluido percolante, geralmente a água, sem que seu pico de concentração seja
alterado.
Supondo a lei de Darcy (ver figura ), a velocidade de percolação do fluido (v) é definida
como sendo a velocidade de Darcy dividida pela porosidade efetiva (n) do meio, conforme a
equação abaixo:
v = K.i/n
Onde:
k=condutividade hidráulica (LT-1);
n=porosidade efetiva do meio;
i=gradiente hidráulico.

Velocidade de advecção de um soluto através do solo (Pinto, 2000).

A condutividade hidráulica é um importante parâmetro no que se refere ao transporte


de contaminantes, visto que esta representa a maior ou menor resistência que o meio oferece à
percolação de água, conseqüentemente, aos contaminantes dissolvidos nesta. A advecção
pode ser considerada como um transporte químico causado por um gradiente hidráulico.

b) Dispersão ou Dispersão Hidrodinâmica: este mecanismo é responsável pelo


espalhamento do poluente no meio poroso. O resultado deste espalhamento faz com que
o contaminante ocupe um volume maior do que se ocorresse apenas advecção. Com
isso o pico de concentração decresce, enquanto a frente de contaminação se move mais
rápido (Freeze e Cherry, 1979). A figura abaixo ilustra o processo de espalhamento
causado pela dispersão.

Ilustração do processo de espalhamento causado pela dispersão; fonte instantânea.

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Este espalhamento ocorre devido a dois fenômenos distintos:

• Dispersão Mecânica: Este fenômeno causa um espalhamento do poluente devido às


variações de velocidade do fluido dentro do meio poroso (Nobre, 1987). Numa escala
microscópica, a dispersão mecânica resulta de três mecanismos básicos (Freeze e
Cherry, 1979). O primeiro ocorre em canais individuais, devido à rugosidade da
superfície dos poros. As moléculas que estão mais próximas dos grãos têm maior atrito,
portanto, movem-se mais lentamente (figura a). O segundo processo depende do
tamanho dos poros na trajetória. Com a diferença na área superficial de contato entre o
fluido e a superfície rugosa, a velocidade será maior ou menor (figura b). O terceiro
processo está relacionado com a tortuosidade, ou comprimento da trajetória de fluxo
(figura c).

Mecanismos físicos de mistura mecânica em escala microscópica.

• Difusão molecular: A difusão molecular é o processo no qual os constituintes iônicos e


moleculares se movem sob a influência da energia cinética na direção do gradiente de
concentração. Uma vez estabelecido o gradiente, as moléculas e íons tendem a se
deslocar das regiões de maior concentração para as de menor, visando o equilíbrio de
acordo com a figura abaixo. O transporte difusivo ocorre mesmo na ausência de fluxo
hidráulico. (Freeze e Cherry, 1979).

Ilustração esquemática da difusão (Rowe et al, 1995).

A variável que descreve a dispersão hidrodinâmica (D) pode ser definida como a soma
de duas parcelas, que representam a dispersão mecânica (α v) e a difusão molecular (D*),
conforme a equação (Freeze e Cherry, 1979):
D = α . v + D*
Onde:
D=coeficiente de dispersão hidrodinâmica (L2 T-1);
α=coeficiente de mistura mecânica ou dispersividade (L);
v =velocidade de percolação do fluido (L.T-1);
D*=coeficiente de difusão molecular do soluto no meio (L2 T-1).

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O parâmetro α é uma propriedade característica do meio poroso, enquanto D* é
propriedade da substância e do meio (Freeze e Cherry, 1979).

4.2.2.Processos Químicos
As reações químicas também devem ser consideradas no transporte de poluentes,
dependendo do solo e da solução contaminada, em cada situação. Segundo Boscov, 1997, as
reações químicas e bioquímicas que podem alterar a concentração de contaminantes podem
ser agrupadas em seis categorias:
a) reações de adsorção-dessorção,
b) reações ácido-base,
c) reações de dissoluçãoprecipitação,
d) reações de oxi-redução,
e) pareamento de íons ou complexação e
f) síntese microbiana.

As reações químicas mais relevantes nos problemas geotécnicos relativos à disposição de


resíduos são as de adsorção e dessorção de íons e moléculas na superfície das partículas
de solo. O transporte 1D de soluto através de solo homogêneo, saturado, em regime
permanente de fluxo é representado da seguinte forma:

Essa equação tem solução analítica dada por Ogata e Banks (1961) para o transporte
advectivo-dispersivo, nas condições inicial e de contorno do ensaio de coluna em:
C(x,0)=0 x≥0
C(0,t)=C0 t≥0
C(∞,t)=0 t≥0
A solução da equação do transporte advectivo-dispersivo pode ser representada da
seguinte forma:

Onde:
L – comprimento da coluna;
Rd – coeficiente de retardamento;
v – velocidade média;
t – tempo;
D – coeficiente de dispersão hidrodinâmica.

a) Adsorção: adsorção é um dos processos mais importantes da qualidade da água, sendo


utilizado tradicionalmente no tratamento de água de abastecimento, e atualmente, também na
recuperação de águas contaminadas. A adsorção é um processo físico-químico no qual uma
substância é acumulada numa interface entre fases. Quando substâncias contidas em um
líquido se acumulam numa interface sólido-líquido, denomina-se adsorvato, a substância que
está sendo removida da fase líquida e adsorvente, a fase sólida na qual a acumulação ocorre
(Boscov, 1997).
Pode-se subdividir os mecanismos de adsorção em: adsorção física, quando a atração
para a superfície é devida às forças de Van der Waals relativamente fracas; adsorção
eletrostática, quando os íons na solução são atraídos pela superfície de carga elétrica oposta e
adsorção química entre as moléculas do soluto em um ou mais átomos na superfície do sólido
(Drever, 1997).
A EPA (1992) considera a adsorção química uma ligação química real, geralmente
covalente, entre uma molécula e átomos superficiais, em que a molécula pode perder sua
identidade quando os átomos são rearranjados, formando novos compostos.

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Segundo Drever (1997), para se entender o movimento dos metais pesados nos solos
e na água subterrânea, é preciso ser capaz de modelar quantitativamente os processos de
adsorção. A equação (ou representação gráfica) que relaciona a concentração de espécies
adsorvidas nos sólidos e a concentração na solução é geralmente referida como isoterma. A
maneira mais comum de quantificar geoquimicamente esse processo é dada pelo coeficiente
de distribuição Kd ou pela função de distribuição Kf. Este coeficiente também atua como um
indicador da mobilidade de um poluente num fluxo subsuperficial (Freeze e Cherry, 1979).
O coeficiente de distribuição, Kd, é um dos parâmetros mais importantes usados para
estimar a migração de contaminantes presentes em soluções aquosas em contato com sólidos
(USEPA, 1999a). Sua influência na migração de contaminantes pode ser ilustrada na figura
abaixo.

Influência do parâmetro Kd na migração de contaminantes: (a) Kd=1ml/g; (b)


Kd=10ml/g (adaptado de USEPA, 1999a).

b) Troca Iônica: a troca Iônica se divide em Troca Catiônica e Troca de Ânions.


• Troca Catiônica: as partículas de argila são constituídas por placas microscópicas,
possuindo, em geral, cargas negativas em suas faces devido às substituições
isomórficas e às ligações quebradas em suas estruturas químicas (Grim, 1968). Estas
cargas negativas são equilibradas por cátions trocáveis que aderem às superfícies e às
extremidades das partículas de argila. A medida desta capacidade é conhecida como
capacidade de troca catiônica. Os valores estão listados na tabela abaixo

Capacidade de troca catiônica de alguns argilo-minerais (Grim, 1968).

A troca catiônica é um processo reversível, dependente do equilíbrio do sistema.


Quanto maior for o valor da valência, maior será a preferência de troca (Nobre, 1987). Mitchell

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(1976) apresentou uma série típica quanto à preferência de trocas catiônicas, em função do
argilo-mineral para cátions bivalentes, como mostra a tabela abaixo:

Série de preferência de troca catiônica (Mitchell, 1976).

A adsorção de cátions pode ser vista como uma competição entre cátions e H+ nas
regiões de superfície. Para baixo pH, a adsorção de cátions é mínima. (Drever, 1997). A figura
abaixo mostra a adsorção de alguns metais cátions.

Adsorção de cátions metálicos em função do pH (Dzombak e Morel, 1990).

• Troca de Ânions: Apesar de menos estudada do que a troca catiônica, este tipo de troca
também ocorre nos solos. Ela se dá em função da substituição de hidroxilas (OH-) ou da
adsorção de íons que possuam formas semelhantes ao tetraedro de sílica, como os
fosfatos, arsenatos, e carbonatos, nas extremidades dos tetraedros de sílica (Grim,
1968). A adsorção de ânions tem diferentes propriedades, tornando o comportamento da
adsorção totalmente complexo (Drever, 1997). A figura abaixo mostra a adsorção dos
ânions com a variação do pH.

Adsorção de ânions em função do pH (Dzombak e Morel, 1990).

4.3 Fatores que influenciam a mobilidade dos metais pesados

O transporte de poluentes no solo pode ser influenciado por alterações em três


variáveis: o solo, o poluente e o meio ambiente. As alterações em uma dessas variáveis
ocasionam modificações nas outras. As principais alterações, segundo Elbachá (1989), são:

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• variáveis do solo - tipo de solo, mineralogia, distribuição granulométrica, estrutura do
solo, capacidade de troca iônica, tipo de íons adsorvidos e tipo e teor de matéria
orgânica presente;
• variáveis do poluente - tipo de poluente, concentração do poluente e outras substâncias
presentes, densidade, viscosidade, pH, polaridade, solubilidade, demanda bioquímica de
oxigênio e demanda química de oxigênio;
• variáveis do ambiente - condições hidrogeológicas, condições aeróbicas/anaeróbias,
temperatura, microorganismos presentes, potencial de óxido-redução.

Os metais são cátions que, em sua maioria apresentam mobilidade razoavelmente


limitada no solo e na água subterrânea por causa da troca catiônica e da sorção na superfície
dos grãos minerais (Fetter, 1993). Os metais são móveis na água subterrânea se a relação Eh-
pH é tal, que os íons solúveis existam e o solo tenha baixa capacidade de troca catiônica.
(Dougy e Volk,1983). As condições que promovem a mobilidade incluem a acidificação, solos
arenosos com baixa quantidade de matéria orgânica e a ausência de argila.
Os metais pesados formam um grupo de contaminantes comumente encontrados em
diversos tipos de resíduos. Eles são altamente tóxicos aos homens, animais e à vida aquática,
como já foi visto na introdução. Os principais metais pesados que têm recebido atenção devido
a sua acumulação nos solos, plantas e nas águas subterrâneas são: Pb, Cd, Cu, Zn, Ni, Cr e
Hg.
Estudos de retenção dos íons dos metais pesados, usados em solução com solos
minerais argilosos puros (Caolinita, Ilita e Montmorilonita), indicam alta capacidade de retenção
pela argila suspensa com o aumento no pH (Yong, 1973). Para qualquer cálculo envolvendo
equilíbrio químico, adsorção ou, na verdade, toxicidade, é necessário o conhecimento da forma
química em que o elemento se apresenta (Drever, 1987).

4.4 – Processos de atenuação e imobilização

Materiais formados geologicamente tem a habilidade de interagir geoquimicamente


com os constituintes da água do solo. O resultado desta interação pode levar à imobilização
parcial ou total dos contaminantes presentes na água intersticial.
O processo de imobilização e/ou retardamento dos constituintes químicos do fluxo
d’água subterrâneo é chamado de atenuação. A capacidade de atenuação é definida como a
capacidade de uma “barreira material” retardar ou reduzir a taxa de migração de
contaminantes. Alguns processos naturais são efetivos em “remover” contaminantes da água
subterrânea. Estes mecanismos podem incluir troca de cátions e ânions em solos argilosos,
adsorção de cátions e ânions na superfície da partícula, sorção pela matéria orgânica,
precipitação de íons da solução, entre outros.
Normalmente reações de precipitação se iniciam pelas mudanças em parâmetros
químicos como pH e Eh (potencial redox). Como regra geral, os mecanismos de atenuação são
mais ativos na faixa de pH entre 5 e 8 (Rouse e Pyrih 1993). Um soluto é dito reativo quando
está sujeito a reações químicas/biológicas incluindo sorção e decaimento. O contrário é
denominado um soluto não reativo.
O termo conservativo tem o mesmo significado que não reativo. Da mesma forma, o
termo reativo tem o mesmo significado que não conservativo. No caso de contaminantes
orgânicos (com baixa solubilidade), a volatização e a biodegradação podem ser mecanismos
efetivos no retardamento do avanço dos contaminantes.

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5 – PADRÕES DE CONTAMINAÇÃO

No Brasil a CETESB publicou recentemente uma lista preliminar apresentando valores


orientadores para solos e águas subterrâneas no Estado de São Paulo, podendo ser aplicada
na prevenção e no controle da poluição e no controle de áreas contaminadas. Nesta lista são
apresentados três valores:

a) Valor de Referência de Qualidade - VRQ é a concentração de determinada


substância no solo que define como limpo. Deve ser utilizado como referência nas
ações de prevenção da poluição do solo e das águas subterrâneas e de controle de
áreas contaminadas.
b) Valor de Prevenção - VP é a concentração de determinada substância, acima da qual
podem ocorrer alterações prejudiciais à qualidade do solo e da água subterrânea.
Indica uma possível alteração da qualidade natural dos solos. Deve ser utilizado para
disciplinar a introdução de substâncias no solo e, quando ultrapassado, a continuidade
da atividade será submetida a nova avaliação, devendo os responsáveis legais pela
introdução das cargas poluentes proceder o monitoramento dos impactos decorrentes.
c) Valor de Intervenção - VI é a concentração que indica o limite acima do qual o solo é
considerado contaminado, pois existe risco potencial à saúde humana e será utilizado
em caráter corretivo no gerenciamento de áreas contaminadas. Para o solo, foi
calculado utilizando-se procedimento de avaliação de risco à saúde humana para
cenários de exposição Agrícola-Área de Proteção Máxima – APMax, Residencial e
Industrial.

A tabela mostrada a seguir apresenta esses valores para os solos e para as águas no
Estado de São Paulo (Dorothy C. P. Casarini [et al.]. - - São Paulo : CETESB, 2001.)

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6 GERENCIAMENTO DE ÁREAS CONTAMINADAS

6.1 MEDIDAS DE RECUPERAÇÃO DO SOLO

Se o estudo de solos contaminados é recente, a investigação e desenvolvimento de


processos e tecnologias de tratamento ainda não é tão difundida. A abordagem das áreas
contaminadas considera, normalmente, três fases fundamentais:

a) Identificação das áreas contaminadas (inventários);


b) Diagnóstico-avaliação das áreas contaminadas;
c) Tratamento das áreas contaminadas.

Atualmente consideram-se três grandes grupos de métodos de descontaminação de


solo:

a) descontaminação no local ("in-situ");


b) descontaminação fora do local ("on/off-site");
c) confinamento/isolamento da área contaminada.

O confinamento não se trata verdadeiramente de um processo de descontaminação,


mas sim de uma solução provisória para o problema. O tratamento do solo como metodologia
de recuperação de áreas contaminadas é uma alternativa cada vez mais significativa
relativamente à sua deposição em aterros sanitários, devido essencialmente ao aumento dos
custos envolvidos.

Dessa forma, antes de se fazer a escolha da tecnologia de remediação é necessário


fazer:

• coleta de informações da área em estudo;


• coleta das informações sobre os contaminantes em questão;
• levantamento da geologia e hidrogeologia da área de estudo;
• levantamento da legislação ambiental pertinente.

6.6.1 - TECNOLOGIAS DE TRATAMENTO DE SOLOS CONTAMINADOS


As tecnologias de tratamento de solos contaminados devem ser encaradas, como
etapas do plano de remediação. As tecnologias de descontaminação podem ser classificadas
segundo vários critérios, como por exemplo: objetivo, estado de desenvolvimento, localização
do tratamento, processo principal, aplicabilidade aos diferentes tipos de solo, aplicabilidade às
classes de contaminantes, destino final dos contaminantes dentre outros.
Os métodos de descontaminação de solos que visam reduzir a concentração e/ou
toxicidade dos contaminantes são designados por métodos de tratamento enquanto que os que
têm como principal objetivo a redução da mobilidade dos contaminantes são chamados
métodos de confinamento.

Quando se usa como critério principal o processo envolvido, os tratamentos podem dividir-
se nos seguintes grupos: biológicos, fisico-químicos, térmicos.

Os processos biológicos baseiam-se no fato de que os microorganismos têm


possibilidades praticamente ilimitadas para metabolizar compostos químicos, no entanto alguns
compostos orgânicos são resistentes a degradação biológica. Tanto o solo como as águas
subterrâneas contêm elevado número de microorganismos que, gradualmente, vão se
adaptando às fontes de energia e carbono disponíveis, quer sejam açucares facilmente
metabolizáveis, quer sejam compostos orgânicos complexos.

No tratamento biológico, os microorganismos naturais presentes na matriz, são


estimulados para uma degradação controlada dos contaminantes (dando às bactérias um
ambiente propício, como por exemplo, oxigênio, nutrientes, temperatura, pH, umidade, mistura,

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etc.). Em determinadas situações (presença de poluentes muito persistentes), pode ser
necessário recorrer a microorganismos específicos ou a microorganismos geneticamente
modificados, de modo a conseguir uma otimização da biodegradação.

Dos processos físico-químicos, os métodos “in situ” atualmente mais usados


baseiam-se na lavagem do solo. Estes métodos fundamentam-se no princípio tecnológico da
transferência de um contaminante do solo para um aceitador de fase líquida ou gasosa. Os
principais produtos a obter são o solo tratado e os contaminantes concentrados. O processo
específico de tratamento depende do tipo(s) de contaminante(s), nomeadamente no que se
refere ao tipo de ligação que estabelece com as partículas do solo.

Adicionalmente pode ser necessário considerar um circuito de exaustão e tratamento


do ar, se for provável a libertação de compostos voláteis. A aplicação desta técnica pode não
ser viável (técnica e economicamente), especialmente quando a fração argila do solo é superior
a 30%, devido à quantidade de resíduo contaminado gerada.

Nos processos térmicos as necessidades energéticas são, normalmente, bastante


elevadas e são possíveis emissões de contaminantes perigosos. Contudo, em determinados
casos, podem ser utilizadas temperaturas substancialmente baixas, levando a consumos de
energia relativamente diminutos. O processo é ainda passível de minimizar outros tipos de
poluição ambiental, se as emissões gasosas libertadas forem tratadas. As instalações para
este método de tratamento podem ser semi-móveis, e os custos dependem, não só do
processo em si, como também do teor de umidade, tipo de solo e concentração de poluentes,
bem como de medidas de segurança e das regulamentações ambientais em vigor.

Algumas das técnicas utilizadas envolvem elevados custos de tratamento. Dos


diferentes métodos de descontaminação do solo (biológicos ou não biológicos), apenas os
biológicos e a incineração permitem a eliminação ambiental dos poluentes orgânicos, através
da sua mineralização.

Em termos do local em que decorre o tratamento, as tecnologias podem classificar-se


como sendo “in situ” ou Ex situ, podendo estas realizarem-se On-site ou Off-site. No caso
do tratamento “in situ” o material contaminado é tratado sem se recorrer a escavação (mais
ou menos em condições de armazenamento naturais). O tratamento Ex situ envolve sempre
escavação e diz-se que decorre On-site no caso do tratamento se realizar na área
contaminada ou em suas redondezas. Quando o material contaminado é tratado em local
distinto, após escavação e transporte, designa-se como tratamento Off-site.
Assim, as tecnologias de tratamento podem ser agrupadas nas seguintes categorias:
• Tratamentos In situ:
o biológico
o físico-químico
o térmico

• Tratamentos Ex Situ:
o biológico
o físico-químico
o térmico

6.6.1.1. TRATAMENTO BIOLÓGICO IN SITU


a) injeção de ar ou Bioventing
A "bioventing" é uma técnica recente e promissora que se baseia no estímulo da
degradação “in situ” de qualquer composto degradável aerobicamente através do

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fornecimento de oxigênio aos microorganismos presentes no solo. Normalmente o oxigênio é
fornecido através da injeção direta de ar.
Esta técnica tem sido usada no tratamento de solos contaminados por derivados do
petróleo, solventes não clorados, alguns pesticidas, conservantes de madeira, entre outros
orgânicos.
Como esta técnica depende da atividade de microorganismos, fatores como
temperatura, pH e umidade do solo podem influenciar na eficiência do processo de
descontaminação.
Os custos de operação de um sistema de "bioventing" variam geralmente de acordo
com o tipo e permeabilidade do solo, concentração e tipo de contaminantes. Além disso, esta
tecnologia não exige equipamento dispendioso e o número de operadores envolvidos na
operação e manutenção do sistema é reduzido, sendo a monitoramento do solo feita
periodicamente.
b) Biorremediação acelerada ou Enhanced Bioremediation
Nesse tratamento, a atividade de microorganismos é estimulada através da circulação
de soluções aquosas de modo a promover a degradação dos contaminantes orgânicos ou a
imobilização dos inorgânicos. O fornecimento de nutrientes, oxigênio (no caso de processo
aeróbio), ou de outros aditivos, constitui um modo de otimizar o processo.
Os tratamentos baseados em métodos biológicos, como já mencionado, têm sido
aplicados com sucesso na descontaminação de solos, lamas e águas subterrâneas
contaminadas com derivados do petróleo, solventes, pesticidas, conservantes de madeira e
outros compostos orgânicos. Esses tratamentos biológicos são especialmente eficazes na
descontaminação de solos com baixos níveis de contaminação residual.
Embora os contaminantes inorgânicos não sejam biodegradáveis, os processos
biológicos têm aplicação no seu tratamento já que podem ser usados para alterar o estado de
valência dos compostos. Esta alteração pode criar condições que permitam a adsorção ou a
precipitação dos contaminantes, ou ainda, que facilitem a sua absorção, acumulação e
concentração por micro ou macroorganismos.
Uma das desvantagens desse processo é que a circulação de soluções aquosas
através do solo pode aumentar a mobilidade dos contaminantes, podendo conduzir à
necessidade de tratamento da água subterrânea. Outro ponto negativo é que este sistema não
deve ser aplicado em solos argilosos, altamente estratificados ou muito heterogêneos devido a
limitações na transferência de oxigênio.
c) Land Treatment ou tratamento do solo
A Land Treatment é uma técnica de tratamento biológico em que os solos, lamas ou
sedimentos contaminados são revolvidos periodicamente para serem arejados e expostos às
condições climatéricas. Os resíduos, o solo, as condições climatéricas e a atividade biológica
interagem como um sistema dinâmico para degradar, transformar e imobilizar os
contaminantes.
Muitas vezes as condições do solo são controladas por forma a otimizar a velocidade
de degradação dos contaminantes. As condições normalmente controladas incluem: teor de
umidade, arejamento, pH, e concentração de nutrientes. Porém fatores incontroláveis como
temperatura e chuvas podem afetar negativamente a velocidade de descontaminação.
Esta técnica é utilizada para tratar hidrocarbonetos de elevado peso molecular. A
aplicação desta técnica deve ser convenientemente gerenciada de modo a evitar contaminação
de aqüíferos, águas superficiais, atmosfera, cadeia alimentar, tanto no local como nas áreas
envolventes, tornando-se necessário um plano de monitorização ambiental adequados.

6.6.2 TRATAMENTO FISICO-QUÍMICO ““IN SITU””

a)Separação Eletrocinética (Electrokinetic Separation)

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O processo de remediação eletrocinética permite tirar partido de processos
eletroquímicos e eletrocinéticos para promover remoção de metais e de compostos orgânicos
polares. Aplica-se ao solo uma corrente direta de baixa intensidade mediante a introdução de
eletrodos. Esta tecnologia de processamento do solo é fundamentalmente um método de
extração de contaminantes.
Esta técnica aplica-se a solos, sedimentos e lamas contaminados com metais pesados
e compostos orgânicos polares. A separação eletrocinética aplica-se principalmente no caso de
solos de baixa permeabilidade, tais como solos argilosos saturados ou parcialmente saturados,
difíceis de drenar.
A presença de materiais metálicos ou isolantes enterrados no solo pode induzir
variabilidade na condutividade do solo. Devem ser usados eletrodos inertes, tais como
eletrodos de carbono, grafite ou platina, de modo a não introduzir nenhum tipo de resíduo na
massa de solo tratada.
Os custos variam com a quantidade de solo a tratar, a condutividade do solo, o tipo de
contaminante, o espaçamento entre os eletrodos e o tipo de processo usado. Testes usando
"solos reais" indicam que os consumos energéticos na extração de metais podem atingir 500
kWh/m3 ou mais quando a distância entre os eletrodos varia entre 1,0 m e 1,5 m.
b)Fratura (Fracturing)
A fratura é uma tecnologia de melhoramento, destinada a aumentar a eficiência da
aplicação de outras tecnologias “in situ” em solos que apresentam más condições para a
aplicação destas. Promove-se o desenvolvimento de fraturas em solos de baixa permeabilidade
ou em sedimentos que apresentem elevado grau de compactação. A existência destas fraturas
aumenta a eficiência de muitos processos “in situ” devido ao aumento do contato entre os
contaminantes adsorvidos nas partículas do solo e o meio de extração.
A fratura aplica-se a todos os grupos de contaminantes. Como desvantagem, esse
processo pode gerar a criação de novas vias de dispersão de contaminantes.
c) Lavagem do Solo “in situ” (Soil Flushing)
A lavagem do solo “in situ” consiste na extração dos contaminantes do solo fazendo
passar água ou uma solução aquosa adequada através das camadas contaminadas, mediante
um processo de injeção ou infiltração. Os contaminantes são arrastados pela água para depois
se proceder à sucção da água subterrânea e respectivo tratamento.
Esta tecnologia aplica-se especialmente aos contaminantes inorgânicos, incluindo
contaminantes radioativos. Pode ser usada para tratar contaminação por combustíveis e
pesticidas, mas em geral não apresenta uma relação custo-benefício tão favorável quanto
outras técnicas.
A técnica de lavagem do solo não é tão eficiente em solos de baixa permeabilidade ou
muito heterogêneos e deve ser usada apenas quando os contaminantes e os fluídos de
lavagem podem ser confinados e extraídos.
d) Extração do Vapor do Solo (Soil Vapor Extraction- SVE)
A extração do vapor do solo é uma tecnologia de tratamento da zona não saturada do
solo. A aplicação de vácuo através de poços de extração resulta na indução de um fluxo de ar
controlado de modo a remover contaminantes voláteis e semivoláteis. O gás que abandona o
solo pode necessitar de tratamento para remoção ou destruição dos contaminantes,
dependendo das disposições legais em vigor.
Os grupos de contaminantes alvo desta técnica são alguns combustíveis. Esta
tecnologia é tipicamente aplicada apenas no caso de compostos voláteis. Fatores, tais como
umidade, fração orgânica e permeabilidade do solo ao ar afetam a eficiência desta tecnologia.
Dado que o processo implica em um fluxo contínuo de ar através do solo, ele promove
freqüentemente a biodegradação “in situ” de compostos orgânicos pouco voláteis que estejam
presentes.
Esta técnica não deve ser aplicada em solos muito compactos ou com elevada
umidade, pois estes apresentam baixa permeabilidade ao ar, requerendo vácuo mais potente,
o que implica custos superiores.

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O custo da aplicação desta tecnologia é muito dependente do local específico a tratar,
dependendo da sua extensão, do tipo e níveis de concentração dos contaminantes e das
características hidrogeológicas. A necessidade de tratamento dos gases libertados aumenta
significativamente o custo dos projetos. Muitas vezes também ocorre extração de água com
contaminantes dissolvidos, podendo implicar custos adicionais de tratamento.
e)Solidificação/Estabilização
Os contaminantes são fisicamente envolvidos em uma massa estabilizada
(solidificação), ou são induzidas reações químicas entre agentes estabilizadores e os
contaminantes de modo a reduzir a mobilidade destes (estabilização). Os agentes
estabilizadores são normalmente inseridos no solo através de máquinas injetoras.
Os processo de solidificação/estabilização “in situ” aplicam-se nos casos de
contaminação por inorgânicos. A vitrificação “in situ” pode destruir ou remover compostos
orgânicos e imobilizar a maioria dos compostos inorgânicos presentes nos solos.
Os custo são altamente variáveis, pois dependem da área a ser tratada e das
substancias utilizadas para provocar a solidificação e/ou estabilização dos contaminantes.

6.6.3 TRATAMENTO TÉRMICO “IN SITU”


a) Extração do Vapor do Solo Acelerada (Thermally Enhanced Soil Vapor Extraction)
A Thermally Enhanced Soil Vapor Extraction é uma tecnologia idêntica à SVE em que
se utiliza a injeção de ar quente/vapor, resistências elétricas, ou energia eletromagnética para
aquecer o solo, aumentando assim a velocidade de volatilização dos compostos semi-voláteis e
facilitando a sua extração.
Estes sistemas são dimensionados para tratar de alguns pesticidas e combustíveis
líquidos, dependendo das temperaturas alcançadas pelos sistemas.
Essa tecnologia é eficaz em solos com elevada umidade, ultrapassando uma das
limitações de aplicação da tecnologia de SVE convencional.
Como na técnica precedente, solos muito compactos ou com umidade muito elevada
apresentam uma permeabilidade ao ar reduzida, o que dificulta a operação e requer um
consumo de energia superior para aumentar a temperatura e o vácuo. No caso de solos com
permeabilidade variável pode dar-se uma distribuição desigual do fluxo gasoso através das
zonas contaminadas.

6.6.4 TRATAMENTO BIOLÓGICO EX SITU


a) Compostagem
A compostagem é um processo biológico controlado através do qual contaminantes
orgânicos biodegradáveis são convertidos em subprodutos inócuos e estabilizados, devido à
atividade de microorganismos (em condições aeróbias ou anaeróbias).
Os solos escavados são misturados com agentes dispersantes e corretivos orgânicos,
tais como aparas de madeira e resíduos vegetais e animais, de modo a aumentar a porosidade
do material a tratar. A eficiência máxima de degradação é atingida mantendo constantes a
umidade, o pH, a concentração de oxigênio e a temperatura.
O processo de compostagem pode ser aplicado a solos ou sedimentos contaminados
com compostos orgânicos biodegradáveis. Os custos variam em função do volume de solo a
tratar, do tipo de contaminantes, do processo de compostagem escolhido, do custo dos
corretivos e da fração de solo no composto.
b) Biodegradação por Fungos (White Rot Fungus)
A aplicação da biodegradação por fungos envolve a utilização controlada dos White Rot
Fungus, cultivados especificamente para o tratamento de contaminantes. Esta técnica
apresenta-se em duas configurações possíveis: ““in situ”” (sistema aberto) e bioreator. O

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objetivo é manter um sistema aeróbio, fazendo circular ar úmido na mistura de solo
contaminado e aparas de madeira, servindo estas de suporte ao desenvolvimento dos fungos.
Os White Rot Fungus são capazes de degradar e mineralizar variados poluentes
orgânicos, incluindo explosivos convencionais como o TNT e outras substâncias recalcitrantes
tais como, DDT.
Esta técnica não é aplicável em solos, sedimentos ou lamas contendo elevadas
concentrações de TNT. As estimativas de custos rondam os 98 USD por metro cúbico.
c) Landfarming ou fazendas de lodo
Os solos, lamas ou sedimentos são aplicados sobre uma camada de solo e revolvidos
periodicamente para promover o arejamento dos resíduos. É necessário implementar métodos
de controle dos lixiviados, as condições do solo de forma a otimizara velocidade de degradação
dos contaminantes.
Normalmente são controlados o teor de umidade, aeração, pH e concentrações de
nutrientes. Esse método é equivalente da técnica “in situ” de land treatment e é eficaz no
tratamento de hidrocarbonetos derivados de petróleo. Alguns contaminantes que tem sido
tratado com sucesso incluindo gasóleo, fuelóleos nº 2 e 6, JP-5, PCP, resíduos de coque e
alguns pesticidas.
d) Reator biológico ou Slurry Phase Biological Treatment
Esta técnica envolve o tratamento controlado do solo escavado num reator biológico. O
solo é primeiramente processado de modo a separar fisicamente os componentes de maiores
dimensões e em seguida é misturado com água até uma concentração pré-determinada,
dependendo da concentração dos contaminantes, da velocidade da degradação biológica e da
natureza do solo. A fração arenosa, já limpa, é retirada do sistema, restando a fração de finos e
a água de lavagem, que serão tratados biologicamente.
O solo é mantido em suspensão no reator e misturado com nutrientes e oxigênio e, se
necessário, corretores de pH. Após a degradação estar completa procede-se à secagem das
lamas. Os custos de tratamento variam entre 130 e 200 USD por metro cúbico.

6.6.5 TRATAMENTO FISICO-QUÍMICO EX SITU


a) Extração Química (Chemical Extraction)
A extração química consiste em misturar o solo e uma substância solvente num reator,
promovendo-se assim a dissolução dos contaminantes. A fase líquida é então transportada
para um separador, onde se dá a separação dos contaminantes e do solvente, que são
posteriormente tratados e/ou reutilizados. Esta tecnologia não destrói os contaminantes, o seu
objetivo é reduzir a massa de resíduo a ser tratada.
A extração por solvente tem sido aplicada com eficiência no tratamento de solos
contaminados essencialmente com compostos orgânicos, solventes halogenados e petróleo.
Os custos de investimento dependem do volume de solo a tratar.
b) Remoção de halógenos (dehalogenation)
Mistura-se o solo contaminado com reagentes apropriados com o objetivo de substituir
as moléculas contendo os hologéneos, ou de provocar a sua decomposição e volatilização
parcial. O solo contaminado é peneirado, processado em um moinho especial e misturado com
os reagentes aquecendo-se posteriormente a mistura.
Esta tecnologia é aplicada a contaminantes constituídos por compostos orgânicos
semi-voláteis halogenados e os pesticidas e tem variantes de acordo com o reagente aplicado.
c) Oxidação/Redução (Chemical Reduction Oxidation)
Reações de oxidação-redução permitem converter contaminantes perigosos em
compostos não perigosos ou menos tóxicos, que sejam mais estáveis, menos móveis e/ou
inertes. Os agentes oxidantes mais comumente usados no tratamento de contaminantes
perigosos são: ozônio, peróxido de hidrogênio, hipocloritos, cloro e dióxido de cloro.

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Esta tecnologia aplica-se essencialmente no tratamento de contaminantes inorgânicos.
Também pode ser usada, embora com menor eficiência, no caso de hidrocarbonetos
combustíveis e pesticidas.
O processo não é economicamente vantajoso no caso de elevadas concentrações de
contaminantes devido à necessidade de utilização de grandes quantidades de agente oxidante.
d) Separação (Separation)
As técnicas de separação têm como objetivo concentrar os contaminantes sólidos
através de meios físicos e químicos que promovem a sua separação do meio em que se
encontram dispersos. A sedimentação e o peneiramento são técnicas de separação
tradicionalmente usadas, enquanto que a separação magnética é um processo recente, ainda
em testes.
Os processos de separação ex situ são aplicados nos casos de contaminação com
combustíveis e compostos inorgânicos. Também podem ser usados para tratar alguns
pesticidas. A separação magnética é especificamente adaptada ao tratamento da
contaminação por metais pesados e partículas radioativas com propriedades magnéticas, tais
como compostos contendo urânio e plutônio. A separação física é muitas vezes utilizada antes
da extração química, já que de um modo geral os contaminantes se encontram associados às
frações do solo mais finas, sendo que muitas vezes apenas estas frações são sujeitas a
tratamento. Esta técnica também é útil nos casos em que os metais pesados ocorrem na forma
de partículas.
Uma das vantagens dos processos de separação física é a utilização de equipamento
de dimensões relativamente reduzidas. Não foi possível obter uma estimativa dos custos
desses processos.

e) Lavagem do Solo (Soil Washing)


Os contaminantes adsorvidos nas partículas mais finas do solo são removidos
mediante um processo de wet-scrubbing. Na água de lavagem podem ser adicionados agentes
lixiviantes básicos, surfactantes, reguladores de pH ou agentes quelantes. Os contaminantes
tratados são SVOCs, combustíveis, e compostos inorgânicos. Esta tecnologia também pode
ser aplicada para tratar alguns VOCs e pesticidas. Oferece também a possibilidade de
recuperação de metais pesados, e permite o tratamento de grande variedade de contaminantes
orgânicos e inorgânicos presentes em solos de granulometria grosseira.
f) Extracção do Vapor do Solo (Soil Vapot Extraction- SVE)
A Extracção do Vapor do Solo (Ex situ) consiste em colocar o solo sobre uma rede de
tubulações localizada à superfície, e à qual é aplicado vácuo com o objetivo de promover a
volatilização de compostos orgânicos. As pilhas de solo são geralmente cobertas com uma
geomembrana para evitar a emissão descontrolada de VOCs e a infiltração da precipitação.
O processo inclui um sistema de tratamento dos efluentes gasosos produzidos. As
vantagens que esta tecnologia apresenta, relativamente à sua equivalente ““in situ””, incluem:
a escavação promove a formação de novos canais de passagem para os contaminantes, a
existência de águas subterrâneas pouco profundas deixa de limitar o processo, o recolhimento
de lixiviados é simplificado, o tratamento é mais uniforme e facilmente monitorizado. O grupo
de contaminantes alvo desta tecnologia é o dos VOCs.
g) Solidificação/Estabilização (Solidification/Stabilization)
Os contaminantes são fisicamente envolvidos no seio de uma massa estabilizada
(solidificação), ou são induzidas reações químicas entre agentes estabilizadores e os
contaminantes de modo a reduzir a mobilidade destes (estabilização). É necessário dar um
destino final adequado ao material resultante.
As tecnologias de solidificação/estabilização têm sofrido variadas inovações, a maioria
das quais consistindo em modificações de técnicas de encapsulamento e imobilização dos
contaminantes. O grupo de contaminantes alvo das tecnologias de solidificação/estabilização é
o dos compostos inorgânicos, incluindo radionuclídeos. A maior parte destas técnicas

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apresenta eficácia muito limitada no tratamento de compostos orgânicos e pesticidas, com
exceção da vitrificação, que destrói a maioria destes compostos.

6.6.6 TRATAMENTO TÉRMICO EX SITU

a) Incineração
Neste tipo de tratamento usam-se temperatura na ordem dos 870 a 1200 ºC para
volatilizar e queimar, compostos halogenados e outros orgânicos refratários.
A incineração é utilizada para descontaminar solos que contenham explosivos e
resíduos perigosos, particularmente hidrocarbonetos clorados e dioxinas.
Os custos de tratamento de solos em incineradores off-site variam entre 220 e 1100
USD por tonelada, incluindo todos os custos de projeto. A utilização de unidades de
incineração móveis que possam ser operadas on-site reduz os custos de transporte do solo. O
tratamento de solos contaminados com dioxinas é mais dispendioso, podendo variar entre
1650 e 6600 USD por tonelada.

b) Pirólise
A pirólise consiste na decomposição química dos materiais orgânicos através do calor
(430 ºC), na ausência de oxigênio. Na prática não é possível obter atmosferas completamente
livres de oxigênio, sendo que ocorre sempre oxidação. Da pirólise dos compostos orgânicos
resultam gases, pequenas quantidades de líquido e um resíduo sólido (coque) contendo carvão
e cinzas.
Os contaminantes tratados são os pesticidas, dioxinas e muitos outros compostos
orgânicos. O processo é aplicável na separação de resíduos provenientes de refinarias, do
tratamento de madeiras, do processamento de borracha sintética e tintas e de solos
contaminados com hidrocarboneto, e ainda resíduos mistos (radioativos e perigosos). Os
metais voláteis podem ser removidos devido às elevadas temperaturas, mas não são
destruídos.
Com a tecnologia disponível atualmente, uma parte dos solos contaminados ainda não
é ou é problematicamente descontaminável, devido a problemas variados tais como emissões
gasosas de alto risco, concentrações residuais inaceitavelmente elevadas e/ou produção de
grandes quantidades de resíduos contaminados. Isto é particularmente verdade para solos
poluídos com hidrocarbonetos aromáticos halogenados e/ou metais pesados, bem como com
solos contendo elevada percentagem de finos.

2.7 – SISTEMAS DE BARREIRAS REATIVAS

A utilização dessa técnica se dá quando há uma contaminação do solo que atinge o


aqüífero subterrâneo. Consiste em um tratamento ““in situ” das plumas de contaminação
através de barreiras contendo reagentes para remoção do contaminante por processos
abióticos e biológicos, que direcionam o fluxo subterrâneo para uma passagem de maior
condutividade hidráulica.

A eficiência do tratamento é verificada periodicamente através do monitoramento de


poços de controle instalados à montante e a jusante da barreira. A total degradação dos
compostos químicos dependem do dimensionamento do sistema, da porosidade e do tempo de
residência do contaminante na zona reativa. O material reativo deve possuir uma composição
eficiente na decomposição dos compostos organoclorados e a granulometria desse material
deve permitir uma mistura homogênea com a areia empregada no preenchimento da barreira,
evitando a colmatação do sistema.

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2.8 – ATENUAÇÃO NATURAL OU BIORREMEDIAÇÃO

A tecnologia de atenuação natural ou biorremediação leva em conta o poder da própria


natureza em resolver o problema do solo degradado. No solo há microorganismos que, ao se
alimentarem, se encarregam de remover os contaminantes da área afetada por determinados
produtos tais como a gasolina. Não se trata simplesmente de deixar a natureza a cargo da
solução do problema. Para obter benefícios com o experimento é necessário um conhecimento
profundo dos processos que envolvem o transporte dos contaminantes e a degradação do
combustível no subsolo e isso depende também de estudos particulares de cada local.

A atenuação natural refere-se aos processos físicos, químicos e biológicos que


facilitam a remediação natural que não é uma alternativa de "nenhuma ação de tratamento",
mas uma forma de minimizar os riscos para a saúde humana e para o meio ambiente,
monitorando-se o deslocamento da pluma e assegurando-se que os pontos receptores (poços
de abastecimento de água, rios, lagos,etc) não serão contaminados.

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