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A sociedade oitocentista

sob o olhar dos artistas


A Revolução Industrial e a afirmação do liberalismo produziram alterações na sociedade
oitocentista europeia.
As transformações do mundo moderno forneceram o contexto para novas formas artísticas
que procuraram representar a vida tal como esta era.
As cenas do quotidiano tornaram-se o principal tema da pintura em toda a Europa,
explorando questões sociais, fazendo comentários políticos, representando gente nos seus
momentos de lazer, ou observando o lado triste da vida.

No quadro A Marselhesa (1880), Jean Béraud (1849-1953) representa a primeira celebração do feriado nacional, a 14 de julho de
1880. A população parisiense é apresentada em toda a sua diversidade e mostra como os franceses, para além das suas diferenças,
aderem ao regime. Os valores da revolução de 1789, omnipresentes nas cores azul, branco e vermelho, destacam-se no barrete frígio
usado pela criança e na cocarde que enfeita a lapela dos populares.
Uma sociedade urbana
No século XIX, as cidades modernizam-se refletindo os progressos da civilização industrial. Nas
avenidas, jardins, cafés, em momentos de trabalho e lazer, as vivências de homens e mulheres
foram captadas em instantâneos pelos pinceis dos artistas da época.
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Le Boulevard des Capucines, Jean Béraud, 1889


Uma sociedade de classes
O triunfo do liberalismo e da civilização industrial estabeleceu uma nova organização social – a
sociedade de classes.
• Assente no princípio da igualdade e na figura do cidadão.
• Fundada em novas distinções: a riqueza, a profissão exercida, o grau de instrução e cultura.
• Permeável à mobilidade ascensional.
• Constituída por dois grandes grupos, separados pelo o trabalho manual.

A burguesia O proletariado

Um pouco de conversa, Joseph Solomon, 1884 Ferro e Carvão, William Bell Scott , 1860
A burguesia
A burguesia é uma categoria social que se afirma através dos negócios e proventos da indústria,
comércio, serviços e finanças.
– Apesar dos diferentes modos de vida, os seus membros possuem riqueza, influência e
prestígio, partilham valores comuns e uma certa cultura.

A Música nas Tulherias, Edouard Manet, 1862


A burguesia, uma classe heterogénea

A Música nas Tulherias, Edouard Manet, 1862


A alta burguesia
É a elite dominante no século XIX. Dela fazem parte os grandes empresários da indústria,
banqueiros e diretores de grandes companhias comerciais e de transportes.
- Senhores de grandes fortunas, controlam a economia, exercem pressão política e
influenciam a opinião pública.
- Imitam padrões de vida da aristocracia, na compra de grandes propriedades e mansões e
nos momentos de lazer.
- Muitos nobilitam-se pelos seus serviços ou através do casamento.

A hora do chá, Adrien Henri Tanoux, 1904 O Monólogo, Jean Béraud, 1882
A sociabilidade da alta burguesia
À semelhança da aristocracia, a sociabilidade burguesa fazia-se em reuniões
familiares, eventos culturais, bailes privados e óperas. Eram momentos privilegiados
para ostentar a sua riqueza e celebrar alianças económicas, políticas e familiares.

Visita privada à Real Academia, William Powell Frith, 1881


A sociabilidade burguesa vista por James Tissot...

O concerto, James Tissot, 1875 A noite, James Tissot, 1880

No outono e no inverno pontuam as receções privadas e os bailes.


O baile era o ponto alto das recepções
da burguesia. Local de encontro e
sedução que favorecia os casamentos
entre pessoas da mesma origem:

- bailes para fundos de


caridade;
- bailes de empresas ou associações;
- bailes de debutantes.

Ser convidado era sinal


de reconhecimento
social, por isso,
cumprem-se as regras de
As meninas da província, James Tissot, 1885
etiqueta…
Este quadro faz parte de uma série de composições “Mulheres Parisienses” (1883-1885), de J. Tissot. Nesta
tela, Tissot capta a chegada ao baile de três irmãs da província, lindamente vestidas. Claramente, chegaram
cedo demais para a recepção e, pouco à vontade, rodeiam o pai que parece envergonhado.
Nos fins de semana e nas férias, as famílias burguesas refugiavam-se nas suas mansões nos
arredores da grande cidade ou no campo. Aí confraternizavam em ambientes sociais mais
restritos.

No Conservatório, James Tissot, 1875-1876


No conservatório, Tissot apresenta um encontro social, onde a sumptuosidade do espaço, com plantas
exóticas, objetos de arte e mobiliário oriental comungam com a sofisticação das jovens mulheres vestidas
de acordo com a última moda.
Nas férias de verão, as famílias burguesas deslocavam-se para as suas residências de campo.
Depois de um jogo de críquete, um piquenique retempera os jogadores que acompanham as
damas num chá servido em bules de prata e porcelana chinesa.

Férias, James Tissot, 1876


As virtudes burguesas
Demarcando-se da velha aristocracia, a alta burguesia apresentava a sua riqueza como fruto do
trabalho, iniciativa e esforço pessoais.
A base do sucesso eram o trabalho, a perseverança, o estudo, a poupança, a respeitabilidade.
Estas virtudes eram cultivadas, desde a infância, no seio da família.

Em segredo, Eva Gonzalès, 1878


A família Bellelli, Edgar Dégas, 1862
A família burguesa
É no seio da família que se fomentam as virtudes burguesas.
Moralmente conservadora, a família burguesa é o suporte indispensável ao dinamismo
empresarial.

Reunião de família do pintor J-Frédéric Bazille (1867) na sua propriedade em Méric, na região de
Montpelier.
As classes médias
As classes médias constituem um grupo heterogéneo, situado abaixo da alta burguesia e acima
do proletariado. O seu incremento deveu-se ao desenvolvimento da vida urbana, à
complexidade das administrações pública e privada e à proliferação do setor terciário.

Adolph von Menzel, Tarde nos jardins das Tulherias, 1867

A Modista nos Campos


Saída dos empregados da casa Paquin, Jean Béraud, c. 1900 Elísios, Jean Béraud, 1880
A heterogeneidade das classes médias

Faziam parte das classes


médias:
• os pequenos empresários
comerciais e industriais;
• os membros das profissões
liberais;
• os professores;  
• os funcionários públicos;
• os empregados de
comércio;
• os empregados de
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escritório – colarinhos 
brancos.

Escritório de Algodão de Nova Orleães, Edgar Degas, 1873


Virtudes das classes médias
Projetando a ascensão social, as classes médias cultivam as virtudes burguesas:
- o trabalho como forma de dignificação e promoção social;
- a poupança que conferia segurança e permitia pequenos luxos;
- o estudo como meio ascensão profissional e social;
- a honestidade, a perseverança…
A família constitui o meio de promoção destas virtudes.

A mobilidade social é
alcançada por meio da escola.
A poupança permite o
financiamento dos estudos
para que geração seguinte
ascenda socialmente.

A saída do Liceu Condorcet, Jean Beráud, c. 1903


Comportamentos das classes médias
As classes médias demarcam-se do proletariado, cujos hábitos reivindicativos censuram.
- Cultivam o sentido da ordem e o respeito pelas hierarquias e convenções.
- Promovem uma moral austera e conservadora.
- Fomentam o espírito de família e o casamento como meio para manter a posição social.

A primeira lágrima, Norbert Gœneutte, 1884


Momentos de lazer
Ainda que de forma menos frequente ou exuberante, também nos momentos de lazer, as
classes médias replicavam o gosto burguês:
- frequentavam os cafés;
- acorriam aos bailes públicos;
- passeavam nos parques da cidade;
- iam ao teatro;
- passavam pequenas férias no campo ou na praia.
O proletariado
Famílias inteiras trabalham 12 a 16 horas nas fábricas, nos estaleiros, nas minas, nos portos.
As condições de trabalho eram degradantes, os salários reduzidos e os empregos precários.
Sem proteção, sujeitos a uma vida de miséria, viam-se muitas vezes obrigados à caridade, e o
desespero atirava muitos ao alcoolismo e outros à delinquência.

As idades do operário (tríptico), Léon Frédéric, 1897


Questões

1. Esclareça a heterogeneidade da
classe burguesa.
2. Refira três valores que pautavam
a conduta das classes burguesas.
3. Destaque três aspetos da
condição operária.

O regresso da mina, Constantin Meunier (1831-1905)

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