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História

A explosão populacional
Entre 1800 e 1914, a população mundial registrou um grande crescimento
populacional. A Europa acabou por se destacar pelo seu crescimento, duplicando a sua
população.

Motivos:
O decréscimo da mortalidade foi o fator mais decisivo deste crescimento. Este
decréscimo foi geral e irreversível, pondo fim ao modelo demográfico do Antigo Regime.
Este facto pode ser explicado pela melhoria da alimentação, pelos progressos na higiene
pública e privada e pelos avanços da medicina.
A abundância de géneros alimentares permitiu uma melhoria da alimentação, pondo
fim às fomes cíclicas. (aumento da produção agrícola e progresso dos transportes)
As iniciativas dos governos contribuíram para uma melhoria da higiene e saúde
públicas. Para isso promoveram as exposições públicas, investiu-se na criação de hospitais
e na construção de redes de saneamento e de abastecimento de água potável.
A medicina registou, também, importantes progressos: a vacinação que contribuiu
para a prevenção e regressão de doenças infecciosas. Novas técnicas, como o termómetro,
o estetoscópio e o raio X.
A redução da taxa de mortalidade não foi imediatamente acompanhada pela
redução da natalidade e foi esta diferença que fez crescer a população europeia. (- mortes;
= nascimentos)

Crescimento das cidades:


A expansão populacional foi acompanhada pela expansão urbana. As cidades
cresceram em nº, superfície e densidade populacional.
Os efeitos do êxodo rural somaram-se a este crescimento, sendo sobretudo a
Europa a mais afetada a partir de 1850. O desemprego causado pela maquinização agrícola
e pela decadência das pequenas oficinas, levou muitas famílias à cidade onde eram
atraídas pelas possibilidades de emprego e pelos melhores salários nas fábricas, portos,
caminhos de ferro…
A imigração também ajudou neste crescimento.
O crescimento da população e o forte dinamismo levaram os governos a
implementar grandes trabalhos urbanísticos, modernizando a cidade.

Emigração:
O séc.XIX foi o séc. da emigração. Para além das razões demográficas e
económicas, as razões políticas ou ligadas à repressão também fizeram com que tanta
gente quisesse ir para fora. O principal destino de emigração europeia foram os Estados
Unidos, que era admirado pelo seu sistema democrático e que se encontrava em plena
expansão económica.
A emigração acabou por ser uma válvula de escape para muitas tensões europeias,
e acabou por proporcionar, pela deslocação massiva de populações, um novo equilíbrio de
forças a nível mundial. A uma Europa envelhecida e com perda de potencial contrapôs-se
uma América dinâmica e com uma grande força que oferecia terras, trabalho e liberdade (o
sonho americano).
Unidade e diversidade da sociedade oitocentista
O liberalismo político reconheceu os preceitos da igualdade jurídica, retirando à
nobreza os privilégios de nascimento; a informação do capitalismo industrial e financeiro
deu forças à burguesia, que se impõe no mundo dos negócios e ascende aos quadros
superiores da política; as migrações maciças transformaram muitos camponeses em
assalariados, que vendem a sua força produtiva nas fábricas, nos estaleiros e nos múltiplos
afazeres que as novas cidades exigem; o crescimento da administração pública e do setor
terciário fez nascer novas profissões e um sem-número de novos funcionários.

Uma sociedade de classes:


A organização social do séc.XIX estrutura-se em função do poder económico, da
situação profissional e do grau de instrução de cada um. A nova sociedade de classes
permite a mobilidade social e aceita-a bem. O esforço, o trabalho, a poupança, o
investimento e a educação passam a ser alavancas da ascensão social.
Na sociedade oitocentista, distinguem-se 2 grandes classes sociais: o proletariado
(aqueles que só possuem a sua força de trabalho) e a burguesia (possui meios produtivos e
outros bens próprios). Ambas as classes não eram homogéneas, sendo que a burguesia,
em particular, era constituída por grupos diversos.

A condição burguesa: heterogeneidade de situações, valores e comportamentos


A alta burguesia empresarial e financeira
No topo da hierarquia encontramos a alta burguesia empresarial e financeira.
Composta por grandes proprietários, empresários industriais, banqueiros e gestores das
grandes companhias de transportes.
Poder económico: vinha do controlo dos meios de produção e das grandes fontes de
riqueza que se perpetuava na família. De acordo com o país, a alta burguesia apresentava
características próprias.
Poder político: onde os grandes deputados chegavam a deputados, ministros e
presidentes da República. Criavam grupos de pressão que influenciam as decisões
políticas, orientando-as de acordo com os seus interesses. Procuravam controlar mercados,
atenuar a carga fiscal, impedir o sucesso das reivindicações operárias.
Poder social e cultural: os seus filhos tinham um sistema de ensino elitista, lançam
as modas, difundem os seus gostos e valores e influenciam a opinião pública.

Comportamentos e valores
A abastança financeira, da elite burguesa e o envolvimento no decorrer da política
conferiam à alta burguesia um prestígio social semelhante ao da velha aristocracia, cujo
estilo de vida procuravam imitar. As elites burguesas investiam na compra de propriedades
para onde iam durante uma parte do ano, já nas cidades mantinham as suas residências
nos bairros mais luxuosos e tranquilos.
A junção dos estilos de vida e de interesses entre os aristocratas e os membros da
alta burguesia resultou na fusão destas duas elites, sendo o casamento o meio mais comum
para esta fusão.
Apesar das semelhanças nos estilos de vida, a alta burguesia assumiu-se um grupo
autónomo. A alta burguesia tinha a noção de que o seu êxito advinha do trabalho, da
poupança, da prudência e da perseverança. A estas virtudes burguesas juntavam-se a
importância do estudo e da disciplina moral que, se reforçam e consolidam na família.
A proliferação do terciário e o incremento das classes médias
As classes médias eram heterogéneas. Devem o seu nome ao facto de, na
hierarquia social, se situarem entre o proletariado e a alta burguesia. Os seus elementos
provinham dos estados populares, e alguns ascenderam ao topo da sociedade. Ilustram
bem a mobilidade ascensional da nova sociedade de classes.
Na sua composição integram-se os pequenos industriais (pequenos proprietários de
terras ou outros imóveis que lhes garantem um rendimento confortável). Mas foi com o
desenvolvimento do setor terciário que as classes médias tiveram o seu incremento.
Lojistas, empregados de escritório, profissionais liberais, professores e outras profissões
ligadas ao comércio e aos serviços tiveram um crescimento extraordinário.
Os colarinhos brancos - empregados de escritório - encontravam colocação nas
repartições estatais, nas grandes firmas industriais, nos bancos e companhias de seguros.
As profissões liberais (advogados, médicos, farmacêuticos, engenheiros…), desde
1870-1880 valorizaram-se, uma vez que o conhecimento científico lhes conferia autoridade
e estatuto. Ao prestígio acrescentam as vantagens materiais que lhes advinham da gestão
de bens, lucros ou honorários. Por isso, muitos elementos ascenderam na hierarquia social.
Os professores foram uma profissão de sucesso no final do séc.XIX. Embora sejam
mal pagos, o seu saber granjeava consideração social, cabendo-lhes a tarefa de disseminar
os valores burgueses e patrióticos. Foram, por isso, um dos sustentáculos da nova ordem.

O conservadorismo das classes médias


As classes médias assumiram como sua a ideia de que o mérito de cada um é a
chave de uma vida digna e da ascensão social. Cultivavam o gosto pelo trabalho, pelo
estudo e o sentido da responsabilidade. Continham-se nos gastos, assegurando-lhes
estabilidade financeira e até alguns luxos, como uma boa escola para os filhos e uma boa
casa.
Normalmente por serem muito conservadores, os elementos das classes médias
valorizam o estatuto de cada um, o respeito pelas hierarquias, as convenções e a ordem
estabelecida.
O seu quotidiano repartia-se entre trabalho e família, à qual impunham uma moral
austera. Os traços mais marcantes do comportamento das classes médias eram, por
exemplo, a modéstia, o respeito pelo chefe da família e pelas virtudes domésticas, a
compostura e recato no vestir, agir e falar, entre outros.
A partir destes valores afirmou-se a consciência de classe da burguesia, que
conferiu aos seus membros uma identidade própria.

A condição operária
A Revolução Industrial criou a fábrica e fez nascer o operário. A fábrica e as
máquinas, são presença do capital, representado socialmente pelo empresário burguês. O
operário tem apenas o trabalho, que vende ao empresário a troco de um salário. Apelidado
de proletário, o operário conheceu o inferno, quer pelas condições do trabalho e pelas
condições em que viveu.

Condições de trabalho:
No séc.XIX, a classe proletária era um grupo heterogéneo, constituído por
trabalhadores urbanos das fábricas ou minas maioritariamente camponeses. Homens,
mulheres e crianças constituíram uma mão de obra barata, disponível e pouco exigente.
As condições de trabalho eram duras. Trabalhavam de 6 a 7 dias por semana, 12 a
16 horas por dia, sem férias e feriados. Os horários eram rígidos, com curtas pausas para
as refeições e com vigilância apertada.
Não tinham normas de saúde ou segurança, sendo que os locais de trabalho eram
muito quentes no verão e muito frios no inverno, sem arejamento, mal iluminados e sem
instalações sanitárias.
Os salários eram muito baixos. Nos períodos mais prósperos, a procura de mão de
obra aumentava e os salários tendiam a elevar-se um pouco. Contudo, nos períodos de
crise cíclica da indústria, os salários eram mais baixos e o desemprego era inevitável.
Escusado será dizer que os salários das mulheres eram ainda mais baixos. As mulheres
eram especialmente recrutadas para trabalhar na indústria têxtil, nas fábricas de fiação e
tecelagem, mas também iam para as minas e forjas. Acabavam por realizar os mesmos
trabalhos que os homens por metade do salário.
As crianças iniciavam muitas vezes a sua vida de trabalho aos 4/5 anos e
trabalhavam as mesmas horas que os adultos. Constituíam uma mão de obra requisitada
nas fiações, pela sua estatura e agilidade. Nas minas, abriam as portas de ventilação e
empurravam as pesadas vagonetas carregadas de carvão e outros materiais pelas estreitas
galerias.

Condições de vida:
Os trabalhadores que afluem às cidades vivem num quadro de miséria.
Alojavam-se em pequenos espaços nas caves e nos sótãos dos prédios no centro
da cidade. Eram compartimentos escuros, pequenos, húmidos, sem água canalizada,
aquecimento e instalações sanitárias.
Nas ruas, sem pavimentação, a água e os detritos acumulavam-se, contribuindo
para a disseminação de doenças.
A ausência de proteção social e de laços de solidariedade agravaram a solidão e a
desilusão. Aumentou a mendicidade, a prostituição, a delinquência e a criminalidade.

O movimento operário
Associativismo e sindicalismo:
As primeiras ações do movimento operário circunscrevem-se a sublevações locais
que fracassaram por falta de organização.
As primeiras organizações operárias estruturadas foram sociedades fraternas, as
mutualidades ou associações de socorros mútuos. Cada filiado contribuia com uma
pequena quotização para um fundo comum, com o qual se concedia financeira, em caso de
doença, invalidez, funeral e velhice.
No sindicalismo residiu o futuro do movimento operário. Constituiu na criação de
associações de trabalhadores para defesa dos seus interesses profissionais, onde os
operários contribuiam com as quotas e os sindicatos propunham-se lutar pela melhoria dos
salários e das condições de trabalho, recorrendo à greve para pressionar a entidade
patronal.
A legalização dos sindicatos e a influência das doutrinas socialistas concorreram
para a força crescente do sindicalismo.
A reivindicação do dia de trabalho de 8h, a melhoria de salários, o direito ao
descanso semanal e à indemnização do patronato em caso de acidente foram alguns dos
objetivos das lutas grevistas.
As propostas socialistas:
As propostas socialistas desenvolveram-se na primeira metade do séc.XIX e tiveram
como objetivos comuns a denúncia dos excessos da exploração capitalista, a eliminação da
miséria operária e a procura de uma sociedade mais justa e igualitária. As estratégias
implementadas foram bem diferentes, distinguindo o socialismo utópico e o socialismo
marxista.

O socialismo utópico
Distinguiu-se pelas propostas de reforma económica e social (recusa da violência,
criação de cooperativas de produção e de consumo e entrega dos assuntos do Estado a
uma elite de homens esclarecidos que iriam governar de forma mais justa socialmente - P.-
J. Proudhon, Saint-Simon, Charles Fourier..)
P.-J. Proudhon defendeu a abolição da propriedade privada e do Estado. Divulgou
uma revolução na economia, criando associações mútuas, onde todos trabalham, pondo em
comum o fruto do seu trabalho. Iria-se originar uma sociedade igualitária de pequenos
produtores, capazes de assegurar a melhor das condições sociais sem luta de classes ou
intervenção do Estado. Idealismos e projetos fracassados

O marxismo
Retirado do nome do alemão Karl Marx, que juntamente com Friedrich Engels,
publicou em 1848, o Manifesto do Partido Comunista. O marxismo acrescentou um
programa minucioso de ação.
Concluiu que assenta numa sucessão de modos de produção diferenciados
(esclavagismo, feudalismo e capitalismo) e que a passagem de um modo de produção a
outro de deveu à luta de classes entre opressores e oprimidos. Explicou a luta de classes
pelas condições materiais da existência.
Marx salientou que o capitalismo repousa na mais-valia, ou seja, o salário do
operário não corresponde ao valor do seu trabalho, mas apenas ao valor dos bens que
necessita para sobreviver, pelo que a exploração do operário é o lucro do burguês
capitalista.
Tornava-se necessário que o proletariado, organizado em sindicatos e em partidos,
conquistasse o poder político e exercesse a ditadura do proletariado. Comunismo, uma
sociedade sem classes, sem propriedade privada e sem exploração do homem pelo
homem.

As internacionais operárias
Marx e Friedrich Engels apelavam à união e à solidariedade do proletariado, que se
concretizou na criação de associações internacionais de trabalhadores - Internacionais
operárias ou Internacionais. A elas caberia a coordenação da luta para o derrube do
capitalismo e da sociedade de classes.
I Internacional, fundada em Londres em 1864. Os seus estatutos elaborados pelo
próprio Karl Marx, partiam da ideia de que a “emancipação da classe operária será obra dos
próprios trabalhadores”, onde a greve geral é uma forma de luta. Contribuiu para o
fortalecimento do movimento operário, apoiando greves, sindicatos e sociedades de
resistência. Nasceram os partidos operários. No seio da Internacional, as ideias marxistas
sofreram uma contestação crescente, o que originou várias visões do socialismo. Entre os
contestatários, destacaram-se os anarquistas, liderados por Bakunine (1814-1876) que
considerava os princípios marxistas da ditadura do proletariado e a supremacia do Estado
uma negação da liberdade. Estes desentendimentos provocaram a dissolução da I
Internacional em 1876.
II Internacionalização, fundada em Paris em 1889, propõe restaurar a unidade dos
trabalhadores, mas outra ideologia evidenciou-se: o revisionismo do socialista alemão
Eduard Bernstein (1850-1932) que repudiava a via revolucionária e defende o papel da
atuação parlamentar e sindical na consecução dos objetivos da classe operária. Propôs a
evolução pacífica, gradual e reformista do capitalismo para o socialismo, substituindo a luta
de classes e a ditadura do proletariado por um clima de entendimento entre os partidos
operários e burgueses.
Este entendimento permitiu aos Estados do mundo ocidental um conjunto de
conquistas democráticas, que aperfeiçoaram o sistema representativo liberal. O direito ao
voto foi para sufrágio universal. Os parlamentos ganharam força , consolidando o sistema
político que persiste até hoje, o demoliberalismo.
Em 1914, a II Internacional desaparece com uma conjuntura em que os apelos ao
internacionalismo cediam lugar à defesa das nações.
A Regeneração
No séc.XIX, iniciou-se em Portugal um período de estabilidade política e de
progresso económico a que chamamos Regeneração.

Uma nova etapa política:


Em 1851, dá-se a Regeneração, com o golpe militar liderado pelo marechal-duque
de Saldanha que depôs o governo de Costa Cabral.
Politicamente, foi com a Regeneração que o Liberalismo atingiu a maturidade em
Portugal. A pacificação do país e a revisão da Carta Constitucional, pelo Ato Adicional de
1852, criaram condições favoráveis ao regular funcionamento das instituições políticas. O
alargamento do sufrágio, as eleições diretas para a Câmara de Deputados e o rotativismo
partidário permitiram conciliar as várias tendências do liberalismo e harmonizar os
interesses da alta burguesia com os das camadas rurais e das pequena e média
burguesias.
Este contexto de tranquilidade política e social permitiu um conjunto de iniciativas
em diversos domínios de administração pública e as reformas económicas imprescindíveis
ao incremento de uma nova dinâmica de tipo capitalista.

O desenvolvimento de infraestruturas: transportes e comunicações:


Em 1850, Portugal ainda estava longe de uma revolução dos transportes. As
ligações entre cidades costeiras e a Europa eram feitas por via marítima.
Fontes Pereira de Melo, cria o Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria,
em 1852. O programa de renovação das infraestruturas nacionais designou-se Fontismo.
Fontes considerava que a base de qualquer programa de fomento era o alargamento do
mercado interno e das comunicações com o exterior.
A construção de estradas foi o primeiro grande investimento (1852-1856). Em 1856,
iniciou-se a revolução ferroviária.
Para complementar a rede de transportes terrestres, importantes obras portuárias
facilitaram o comércio com as colónias e os mercados internacionais. Os correios sofreram
também uma reestruturação. O uso do selo adesivo, simplificou o envio da correspondência
e o caminho de ferro diminuiu o tempo de expedição e os custos postais.
Em 1856, foi também inaugurada a rede de telegrafia elétrica. A instalação do
telégrafo fez parte de um sistema complementar de comunicações que se revelava
essencial à funcionalidade dos transportes ferroviários.
Ainda nos finais do século, o automóvel começa a fazer parte do quotidiano dos
portugueses.

A criação de um mercado nacional e o desenvolvimento das atividades produtivas:


A política económica da Regeneração assentou no livre-cambismo. A nova pauta
alfandegária liberaliza o comércio (1852). Para Fontes Pereira de Melo os impostos
excessivos sobre as matérias primas importadas eram um fator de bloqueio ao
desenvolvimento económico e ao necessário fomento dos transportes.

O mercado unificado
A lei que introduziu o sistema métrico decimal foi uma medida que uniformizou o
sistema de pesos e medidas que variavam de província para província.
As transformações nos transportes e comunicações e a uniformização de pesos e
medidas reduziram as barreiras regionais, facilitando a ligação dos vários espaços interiores
entre si e com o litoral. A livre circulação de mercadorias garantia o abastecimento uniforme
das populações e estimulava o consumo, promovendo a criação de um mercado nacional.
O mercado unificado e a pauta livre-cambista agiram como motores da dinamização
agrícola e industrial da Regeneração.
Pela melhoria dos transportes e das comunicações e pela redução das tarifas
aduaneiras, o fontismo procurava o alargamento das relações internacionais e o fomento do
comércio externo.

A expansão da agricultura
Para modernizar e fomentar a agricultura, deu-se continuidade ao processo
legislativo de libertação de terra dos vínculos feudais, difundiu-se as associações agrícolas
e promoveu-se a organização de exposições e concursos.
Com a extinção dos morgadios e com a abolição dos baldios e dos pastos comuns,
foi permitido o alargamento da área cultivada e um aproveitamento mais intensivo dos
solos.
Difundiu-se a utilização de adubos químicos e de máquinas agrícolas de forma lenta
e irregular. Fontes apostou também no ensino agrário.

Progressos na industrialização
Criou-se o ensino industrial, fundaram-se sociedades, organizaram-se exposições
de produtos de novas indústrias e produziu-se nova legislação. O ensino industrial
estabeleceu-se inicialmente em Lisboa e no Porto e tinha o objetivo de atrair operários de
limitados conhecimentos e fazer deles profissionais habilitados.
Às sociedades e associações industriais coube-lhes a divulgação de novos
processos mecanismos de fabrico, a organização de exposições industriais e agrícolas. Que
contribuíam para a atualização tecnológica e favoreciam os contactos e os negócios
internacionais.
Constitui-se um novo quadro jurídico para as sociedades anónimas portuguesas e
estrangeiras que quisessem laborar em Portugal, para incentivar o investimento de capitais.
O aperfeiçoamento tecnológico pode inferir-se do aumento da importação de
máquinas industriais e do nº de registos dei patentes de invenção, como a crescente
utilização do vapor como energia e a diversificação dos ramos industriais.

Portugal no contexto europeu - os limites do crescimento económico:


Uma descolagem tardia
Portugal sempre sofreu com a concorrência com as grandes potências industriais,
que a política livre-cambista favoreceu. Debateu-se também, com a insuficiência de
matérias primas e do carvão.
Assim a industrialização do país fez-se de forma lenta. Apenas 10% da produção era
suscetível de ser exportada, comprovando a fraca competitividade internacional da indústria
portuguesa.
Relativamente à agricultura, a aplicação das inovações tecnológicas foi lenta e
desigual. A falta de instrução e os parcos recursos da maioria dos agricultores limitaram o
investimento da modernização dos processos produtivos.

A dependência de capitais estrangeiros


A prosperidade comercial prometida pelo modelo económico regenerador, iria
estimular o desenvolvimento da produção agrícola e industrial e o aumento do consumo,
permitindo uma maior cobrança de impostos. Esses impostos cobrariam as somas
despendidas pelo Estado na modernização do país. Contudo essas expectativas não se
cumpriram.
O Estado português recorre ao financiamento externo, o que agravou o défice das
finanças públicas. Restava o recurso a novos empréstimos que muitas vezes estavam
destinados ao pagamento dos juros de empréstimos anteriores.
Os capitalistas estrangeiros investiram também em empresas privadas. Os
investimentos externos fizeram-se sentir nas companhias de telégrafos e telefones, de
fornecimento de gás, de transportes urbanos… Oliveira Martins denunciou esta excessiva
dependência face ao capital estrangeiro.

Entre a depressão e a expansão (1880-1914)

A crise financeira de 1880-1890:


Do ponto de vista económico, Portugal especializou-se na produção de produtos
primários que eram a maior parte das exportações portuguesas.
Devido ao atraso industrial, os produtos industriais estrangeiros, mais baratos e mais
competitivos, inundaram o nosso mercado, agravando o défice da balança comercial. As
dificuldades originadas por este défice agravaram-se ainda mais pela redução das
remessas de dinheiro dos nossos emigrantes no Brasil.
No défice das finanças públicas ou défice orçamental pesavam cada vez mais os
enormes juros da dívida pública. Com um avultado empréstimo a Portugal de um banco
londrino, este entrou em rotura financeira, provocando a falência de casas bancárias no
Porto e Lisboa. Desencadeou-se um movimento de corrida aos bancos, obrigando o Estado
português a decretar, em 1891, a inconvertibilidade das notas bancárias em ouro e, em
janeiro de 1892, a declarar a bancarrota.

O surto industrial de final de século:


O Governo adotou, em 1892, uma nova pauta alfandegária vincadamente
protecionista. O comércio colonial tornou-se, entre 1892-1914, um fator fundamental no
desenvolvimento económico português.
Devido à nova medida económica, a última década do séc. foi marcada por um
notável progresso industrial: consolidaram-se os progressos da mecanização dos têxteis,
moagem e da cerâmica de construção; desenvolveram-se novos setores industriais, os
cimentos, a eletricidade; expandiram-se as indústrias de conserva de peixe, dos tabacos e
de metalurgia pesada.
A conjuntura de crise e a necessidade de capitais, empurraram a indústria para a
concentração, fazendo surgir as grandes companhias.

As transformações do regime político na viragem do século


Os problemas da sociedade portuguesa e a contestação da monarquia:
A industrialização fontista alterou a sociedade portuguesa. O país mantinha-se rural,
mas as cidades tinham crescido e também as classes médias e o operariado. Os
progressos da instrução e a proliferação dos jornais contribuíram para a formação da
“opinião pública”, força poderosa que os governos passaram a ter que levar em conta.

A crise político-social e a emergência das ideias republicanas


O sistema político português assentava num rotativismo partidário, ou seja, na
alternância, à frente do Governo, dos dois principais partidos monárquicos, o Regenerador e
o Progressista, que manipulavam em seu favor as eleições e a vida política em geral.
A falta de um programa coerente de governo , a incompetência de muitos dos seus
elementos, as rivalidades e interesses que se sobrepunham ao interesse nacional foram
desgastando a imagem da classe política portuguesa. Os governos passaram a ser alvo de
críticas e sobre o rei passaram a pesar as culpas dos males que afligiam o país.
Em 1880, o país tomou consciência da sua debilidade económica e sentia a
aproximação de tempos mais difíceis. Dos campos saíam grandes contingentes de
emigrantes que procuravam o sustento que esta lhes negava. Nas cidades desenvolvia-se
um operariado miserável. As classes médias desejosas de promoção social e participação
política, conciliavam os magros salários com a vida digna que o seu estatuto lhes impunha.
Contudo, com exceção do pequeno círculo da alta burguesia relacionada com o
poder político, o descontentamento era geral.
O Partido Republicano, fundado em 1876, capitalizou a seu favor a crise económica
que se abateu sobre o país e o descrédito em que se encontravam os partidos do
rotativismo monárquico. Desbrava-se em violentas críticas ao rei e aos seus governos.
Ao longo da penúltima década do séc., a expansão eleitoral do Partido Republicano
foi crescendo e, com ela, cresceu também o clima de exaltação patriótica que colocava a
vida nacional no centro dos mais acesos debates.

A questão colonial e o Ultimato Britânico


Na segunda metade do séc.XIX, os progressosda Revolução Industrial dera um
novo impulso ao imperialismo europeu. Ter colónias torou-se, nesta altura, sinónimo de
poder e prestígio, desencadeando uma corrida aos territórios da África que se encontravam
ainda por explorar.
O intenso colonialismo atingiu Portugal, que procurou proteger os seus territórios da
cobiça das nações mais poderosas e desenvolver esforços para os ampliar. Para isso,
organizaram-se missões de exploração e reconhecimento do territorio africano.
Neste contexto a Sociedade de Geografia de Lisboa elaborou um projeto de
ocupação do território africano que ligava, numa faixa contínua, Angola e Moçambique
(mapa cor-de-rosa). Esta ideia trouxe ao de cima o nacionalismo português.
Este projeto do Mapa Cor-de-Rosa no qual o governo e o rei D. Luís se esforçaram
para concretizar chocou com as pertensões inglesas de dominar uma faixa continua de
território no sentido n-s,”do Cabo ao Cairo”. Em 11 de janeiro de 1890, o governo britânico
enviou a Portugal um Ultimato, que impunha a retirada portuguesa das áreas em disputa.
O governo e o conselho de estado reuniram-se na presença do rei D. Carlos. Por
temer dar à Inglaterra a oportunidade de conseguir pela força territórios bem mais vastos, o
Governo cedeu às exigências britânicas.
Com esta notícia, uma vaga de indignação e nacionalismo percorreu o país. A
opinião mobilizou-se originando tumultos e manifestações anti-inglesas.
A ideia de um movimento militar para a substituição do regime começou a tomar
corpo entre os republicanos. Assim, no Porto, em 31 de janeiro de 1891, ocorreu a primeira
tentativa de derrube da monarquia.

Do reforço do poder real à implantação da República


Com o fracasso do sistema rotativista começou-se a sentir a necessidade de uma
autoridade forte que se colocasse acima das disputas partidárias.Gerou-se, assim, um clima
propício ao reforço do poder real. D. Carlos assumiu a posição mais interventiva que as
circunstâncias lhe exigiam, chamando ao governo novas personalidades e iniciando as
reformas desejadas.
As greves sucederam-se, os tumultos tornaram-se mais recorrentes, organizaram-se
novas associações revolucionárias e a questão colonial continuou a incendiar os ânimos.
Em 1906, D. Carlos nomeia João Franco a chefe do Governo. Franco começou por
governar de forma liberal, mas com a sistemática obstrução do Parlamento, agitado por
escândalos financeiros e pela agressividade dos partidos da oposição. Com esta situação,
D.Carlos dissolveu o Parlamento, passando Franco a governar em ditadura.
A “ditadura de João Franco” e a repressão que se abateu sobre alguns destacados
republicanos desembocaram no assassinato do rei D. Carlos e do príncipe herdeiro D. Luís
Filipe, a 1 de fevereiro de 1908.
Com o regicídio, D. Manuel sobe ao trono. A 4 de outubro de 1910, eclodia, em
Lisboa, uma revolta republicana que sairia vitoriosa. A 5 de outubro foi proclamada a
Primeira República Portuguesa.

A Primeira República
A implantação da República levou o Partido Republicano ao poder. Construiu-se de
imediato um Governo Provisório, presidido pelo Dr. Teófilo Braga. Em 1911 realizaram-se
as primeiras eleições para a Assembleia Nacional Constituinte, a qual se elaborou a
Constituição Política da República Portuguesa, aprovada a 21 de agosto desse mesmo ano.
Manuel de Arriaga, a 24 de agosto, foi eleito pela assembleia para primeiro ministro
da República Portuguesa. A 3 de setembro, tomou posse o primeiro Governo
Constitucional.

O sistema parlamentar
Nos termos da nova Constituição, o poder legislativo pertencia ao Congresso da
República, composto por 2 câmaras - a dos Deputados e o Senado -, ambas eleitas por
sufrágio universal e direto.
O predomínio do poder legislativo expressava-se nas vastas competências do
Congresso. Cabia-lhe a legislação em geral e matérias qie dependiam do exercício regular
do Governo e da Administração Pública. Os ministros eram obrigados a comparecer nas
suas sessões, recebendo votos de confiança ou de censura das respectivas câmaras.
A superioridade do Congresso era visível na figura do presidente da República,
eleito por 4 anos, em mandato não renovável. Era obrigado a promulgar as leis aprovadas,
não dispondo de qualquer poder sobre o órgão legislativo.
Era ao Parlamento que cabia o controlo das ações do Governo e do presidente,
contribuindo para uma grande instabilidade governativa.
A concretização do ideário republicano
Os novos dirigentes procuraram dar cumprimento às promessas do Partido
Republicano:
● Igualdade social (abolição dos privilégios de nascimento, títulos nobiliárquicos e
ordens honoríficas
● Justiça social (direito à greve, regulamentou-se o horário de trabalho e instituiu-se o
descanso obrigatório aos domingos; 1916, surge o Ministério do Trabalho e
Previdência Social, investindo-se nas áreas da habitação social, da saúde e da
assistência)
● Laicismo e anticlericalismo (Lei da Separação do Estado e das Igrejas, o catolicismo
deixa de ser a religião oficial, instituiu-se o casamento civil e implantou-se o registo
civil obrigatório)
● Ensino público (obrigatoriedade e gratuitidade do ensino primário, criação de escolas
e um programa de formação de professores; renovou-se o ensino técnico e
universitário)

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