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A sociedade industrial e urbana

 A explosão populacional

 Entre 1800 e 1914, a população mundial registou um crescimento de cerca de 80%, este
facto, inédito na História da Humanidade, leva os historiadores a falarem de explosão
demográfica.

 No conjunto da demografia mundial, a Europa destacou-se pelo seu crescimento. Embora


com disparidades geográficas, a população europeia duplica, enquanto na África e na
Ásia o crescimento é apenas de cerca de 30%.

 Os motivos

 O fator mais decisivo do crescimento demográfico oitocentista foi o decréscimo da


mortalidade. Apesar das variações regionais, a verdade é que a redução da mortalidade foi
geral e irreversível, pondo fim ao modelo demográfico do Antigo Regime. Tal facto pode
ser explicado por uma melhoria da alimentação, pelos progressos na higiene pública e
privada e pelos avanços na medicina.

 O aumento da produção agrícola e o progresso dos transportes fizeram dissipar as crises


de abastecimento. A abundância de géneros alimentares (cereais, produtos hortícolas e
carne) permitiu uma melhoria da alimentação pondo fim às fomes cíclicas que assolavam
as populações no Antigo Regime.

 Para a melhoria da higiene e saúde públicas contribuiriam as iniciativas dos governos,


preocupados que estavam em reduzir o nível de insalubridade dos centros urbanos tão
propício à proliferação de doenças e epidemias. Para tal, promoveram-se exposições
públicas, destinadas à divulgação de práticas de higiene, investiu-se na criação de
hospitais e na construção de redes de saneamento e de abastecimento de água potável.

 Por sua vez, a medicina registou importantes progressos: as descobertas de Pasteur e de


Robert Koch forneceram conhecimentos fundamentais sobre as causas da propagação das
doenças; a vacinação contribuiu para a prevenção e regressão das doenças infeciosas
como a varíola, o tifo, a cólera, a raiva e a difteria. Novas técnicas médicas, como o
termómetro, o estetoscópio e o raio X permitiram o diagnostico mais preciso das
enfermidades; começou a operar-se com anestesia e vulgarizavam-se as práticas de
desinfeção e a antissepsia hospitalar.

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 A redução da taxa de mortalidade não foi, de imediato, acompanhada pela correspondente
redução da natalidade. Foi esta diferença, entre uma mortalidade reduzida e a manutenção
de uma natalidade elevada, que se fez crescer a população europeia a um ritmo até então
desconhecido.

 O crescimento das cidades

 A expansão demográfica foi acompanhada da expansão urbana. As cidades crescem em


número, em superfície e em densidade populacional, sobretudo nos países
industrializados

 Ao crescimento natural das populações somaram-se os efeitos do êxodo rural,


particularmente forte, na Europa, a partir de 1850. O desemprego, provocado pela
maquinização agrícola e pela a decadência das pequenas oficinas, impeliu famílias
inteiras à cidade, atraídas pela possibilidade de emprego e melhores salários nas fábricas,
nos portos, nos caminhos de ferro, nos grandes armazéns e nas casas burguesas que
albergavam numerosa criadagem.

 A imigração foi outro fator de crescimento urbano. Autóctone ou proveniente do mundo


rural, nacional ou estrangeiro, o habitante da cidade procurava nela, além do emprego, a
promoção. Romper as barreiras sociais e ser bem-sucedido, profissional e social e
pessoalmente, foi o sonho dos que demandaram as cidades do século XIX e as fizeram
crescer.

 O crescimento da população e o forte dinamismo urbanos levaram os governantes a


implementar grandes trabalhos urbanísticos. Anexaram- se municípios da periferia,
renovaram-se os centros, abriram-se amplas ruas e praças, edificaram-se novos bairros,
instalam-se em sistemas sanitários de água potável e de iluminação. A cidade entrava na
modernidade.

 A emigração

 O século XIX foi o século da emigração. A população da Europa passou de 187 milhões,
em 1800, para 401 milhões, em 1914. A pobreza tanto quanto o progresso da navegação
ou o apelo dos novos mundos levaram os europeus a partir. Mais de 60 milhões de
pessoas deixaram a Europa no século XIX.

 Para além de demográficas e económicas, as razoes desta grande debandada foram


também políticas ou ligadas à repressão. Movimentos revolucionários fracassados
impeliram os antigos insurgentes a partir. Na Rússia, muitos judeus, vítimas de
perseguições sangrentas do final do século XIX, emigraram. O principal destino da
emigração europeia foram os Estados Unidos.
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 O país, admirado pelo seu sistema democrático, encontrava-se em plena expansão
económica. Oferecia liberdade, abundância de terras e facilidade de trabalho.

 Válvula de escape para as múltiplas tensões europeias, a emigração proporcionou, pela


deslocação massiva de população, um novo equilíbrio de forças a nível mundial. A uma
Europa envelhecida e com perda de potencial contrapôs-se uma América dinâmica e
pujante que oferecia terra, trabalho e liberdade – o sonho americano.

 Unidade e diversidade da sociedade oitocentista

 As profundas transformações do século XIX alteraram as hierarquias sociais. O


liberalismo politico reconheceu os preceitos da igualdade jurídica, retirando à nobreza os
privilégios de nascimento; a afirmação do capitalismo industrial e financeiro deu força à
burguesia, que se impõe no mundo dos negócios e ascende aos quadros superiores da
politica; as migrações maciças transformaram muitos camponeses em assalariados, que
vendem a sua força produtiva nas fábricas, nos estaleiros e nos múltiplos afazeres que as
novas cidades exigem; o crescimento da administração pública e do setor terciário fez
nascer novas profissões e um sem-número de novos funcionários.

 Uma sociedade de classes

 A organização social do século XIX estrutura-se em funçao do poder económico, da


situação profissional e do grau de instrução de cada um. Desaparecidos os privilégios de
nascimentos, serão estes os critérios que ditarão as diferenças sociais. Mais flexível e
dinâmica, a nova sociedade de classes permite a mobilidade social e aceita-a com bons
olhos. O esforço, o trabalho, a poupança, o investimento e a educação tornam-se as
alavancas da ascensão social.

 Distinguem-se, na sociedade oitocentista, duas grandes classes sociais: o proletariado,


composto por todos aqueles que nada mais possuem para além da sua força de trabalho e
a burguesia, detentora dos meios produtivos e de outros bens próprios. Mas, nem a
burguesia, nem o proletariado são classes homogéneas. A burguesia, em particular, era
constituída por grupos muitos diversos, que ocupavam degraus bem diferentes na
hierarquia desta sociedade de classes.

 A condição burguesa: heterogeneidade de situações, valores e


comportamentos
 A alta burguesia empresarial e financeira
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 No topo da hierarquia encontramos a alta burguesia empresarial e financeira. Esta era
uma elite restrita, composta por grandes proprietários, empresários industriais, banqueiros
e gestores das grandes companhias de transportes. O seu poder económico advinha do
controlo dos meios de produção e das grandes fontes de riqueza que, de um modo geral,
se perpetuava na família – autênticas dinastias burguesas controlavam o mundo dos
negócios.

 De acordo com o país, a alta burguesia apresentava características próprias. Nos Estados
Unidos esta é representada por personagens emblemáticas como John Pierpont Morgan,
John Rockefeller ou Andrew Carnegie, que alimentam i sonho capitalista americano e o
mito do self-made man. Na Alemanha, a alta burguesia como os Thyssen, os Siemens e os
Krupp, socialmente próxima da aristocracia, manteve-se sempre próxima do poder
político. Em França, às antigas dinastias industriais, como André Citroen, Louis Renault e
o self-made man Jean Pierre Peugeot. É também ligada aos novos setores do automóvel e
da eletricidade que, na Itália, as fortunas dos Agnelli e dos Pirelli se consolida.

 Ao poder económico, estas elites juntam ainda o poder político. Os grandes empresários
chegavam a deputados, ministros e até a presidentes da República.

 Criavam também grupos de pressão que influenciavam as decisões políticas, orientando-


as de acordo com os seus interesses. Procuravam controlar os mercados, atenuar a carga
fiscal, impedir o sucesso das revidações operárias.

 A elite burguesa assegura, enfim, também o poder social e cultural: os seus filhos
beneficiam de um sistema de ensino elitista, lanças modas, difundem os seus gostos e
valores e influenciam a opinião pública.

 Comportamentos e valores

 A abastança financeira, da elite burguesa e o envolvimento nos meandros da política


conferiam à alta burguesia um prestígio social semelhante ao da velha aristocracia, cujo
estilo de vida, normalmente, procurava imitar. Frequentemente, as elites burguesas
investiam na compra de grandes propriedades onde se recolhiam durante uma parte do
ano, distraindo-se com caçadas, tertúlias, bailes e receções. Nas cidades, as suas
confortáveis residências ocupavam os novos bairros, que cumpriam as exigências do
conforto, do luxo e da tranquilidade. No quotidiano urbano, lanchavam nos cafés da
moda, inauguravam exposições, compareciam nas corridas de cavalos e assistiam a
óperas.

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 No verão, os banhos de mar, tornam-se moda e as férias passam-se nas pretensiosas
estâncias balneares do Mónaco, de Biarritz, ou de Saint Moritz.

 A comunhão de estilos de vida e de interesses entre a aristocracia e a alta burguesia


resultou, não raras vezes, na fusão destas duas elites. O casamento foi o meio mais
comum da nobilitação dos homens de negócios. Contudo, também, o reconhecimento das
funções ou dos serviços prestados ao Estado permitiu à alta burguesia o enobrecimento.

 Ainda que o seu estilo de vida fosse marcado pelos padrões de vida aristocráticos, a alta
burguesia assumiu-se, progressivamente, como um grupo autónomo. A o contrário da
velha aristocracia, que beneficiava dos privilégios herdados de um nascimento em berço
de ouro, a alta burguesia tinha a noção de que o seu êxito advinha do trabalho, da
perseverança, da poupança, e da prudência. A estas virtudes burguesas juntam-se a
importância do estudo e da disciplina moral (respeito, honestidades, solidariedade) que,
no seio da família, se reforçam e consolidam. Por isso se considera ser a família burguesa,
moralmente conservadora, um suporte indispensável ao dinamismo empresarial.

 A proliferação do terciário e o incremento das classes médias

 As classes médias apresentavam-se como um mundo heterogéneo. Sem contacto com o


trabalho manual, mas também sem controlarem os grandes meios de produção, as classes
médias deviam o seu nome ao facto de, na hierarquia social, se situares entre o
proletariado e a alta burguesia. Muitos dos seus elementos provinham, aliás, dos estratos
populares, e alguns ascendiam ao topo da sociedade. As classes médias ilustram bem a
mobilidade ascensional da nova sociedade de classes.

 Na composição das classes médias integram-se os pequenos industriais, bem como os


pequenos proprietários de terras ou outros imoveis que lhes garantem um rendimento
confortável. Foi, porém, ao desenvolvimento do setor terciário que as classes médias
deveram o seu incremento. Lojistas, empregados de escritório, telegrafistas, técnicos
superiores, profissionais liberais, professores e muitas outras profissões ligadas ao
comércio e aos serviços conheceram um crescimento extraordinário.

 No ramo dos empregados de escritório regista-se uma das taxas de crescimento mais
significativas. Conhecidos por colarinhos brancos, encontravam colocação nas repartições
estatais, nas grandes firmas industriais, nos bancos, nas companhias de seguros.
Ocupavam-se da correspondência, da contabilidade, da movimentação de uma serie de
documentos. Apesar de nem sempre os seus vencimentos lhes parecerem suficientes, a
verdade é que o seu grau de instrução, o seu traje, as suas maneiras distinguiam-nos do
mundo do trabalho fabril.

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 Quanto às profissões liberais (advogados, médicos, farmacêuticos, engenheiros, notários,
intelectuais, artistas), pouco cresceram em percentagem, mas, desde 1870-1880,
valorizavam-se, pois, o saber científico conferia-lhes autoridade e estatuto. Ao prestígio,
as profissões liberais acrescentam as vantagens materiais que lhes advinham da gestão de
bens, lucros ou honorários. Por tudo isto, muitos dos seus elementos ascendiam na
hierarquia social.

 Os professores foram uma profissão de sucesso em finais do século XIX. Oriundos,


frequentemente, do campesinato, ilustravam a mobilidade social tão cara às classes
médias e à sociedade burguesa. Embora o seu ordenado fosse modesto, a verdade é que o
seu saber lhes granjeava consideração social, cabendo-lhes a tarefa de disseminar os
valores burgueses e patrióticos. Foram, por isso, um dos sustentáculos da nova ordem.

 O conservadorismo das classes médias

 De olhos postos na alta burguesia, as classes médias assumiram como sua a ideia de que o
mérito de cada um é a chave de uma vida digna e da ascensão social. Cultivaram, por
isso, o gosto pelo trabalho, pelo estudo e o sentido da responsabilidade. Procuraram gerir
com sabedoria o seu património, contendo-se nos gastos, o que lhes assegurava a
estabilidade financeira e até alguns luxos, como uma boa casa ou uma boa escola para os
filhos.

 Geralmente muito conservadores, os elementos das classes médias valorizam o estatuto


de cada um, o respeito pelas hierarquias, as convenções e a ordem estabelecida.

 Junto das classes médias, respirava-se respeitabilidade e decência, verdadeiros pilares da


moral burguesa. O seu quotidiano repartia-se entre o trabalho e a família, à qual
impunham uma moral austera. A modéstia, a regularidade dos hábitos de vida, a
vigilância dos cerimoniais sociais e religiosos, o cumprimento das regras de educação e
de cortesia, a compostura e recanto no vestir, agir e falar, o respeito pelo chefe de família
e pelas virtudes domésticas constituíam os mais marcantes traços do comportamento das
classes médias.

 Foi em torno destes valores que se afirmou a consciência de classe da burguesia, que
conferiu aos seus membros uma identidade própria.

 A condição operária

 A Revolução Industrial criou a fábrica e fez nascer o operário. A fábrica, tal como as
máquinas, são pertença do capital, representado socialmente pelo empresário burguês.
Quanto ao operário, situado no patamar inferior da sociedade oitocentista, apenas tem de

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seu a força dos seus braços, o chamado trabalho, que vende ao empresário a troco de um
salário.

 Apelidado de proletário, o operário da Revolução Industrial conheceu o inferno. Pelas


condições em que trabalhou. Pelas condições em que viveu.

 Condições de trabalho

 No século XIX, a classe proletária era um grupo heterogéneo, constituído por


trabalhadores urbanos das fábricas ou minas, na sua maioria de proveniência camponesa.
Sem qualquer preparação especifica, homens, mulheres e crianças constituíram uma mão
de obra barata, disponível e pouco exigente, correntemente sujeita à arbitrariedade e à
exploração.

 As condições de trabalho eram duríssimas. O dia de trabalho começava cedo e a


iluminação a gás permitia prolongá-lo pela noite dentro. Trabalhava-se seis a sete dias por
semana, 12 a 16 horas por dia, sem férias, feriados e, muitas vezes, sem descanso
dominical. Os horários eram rígidos, com curtas pausas para as refeições, e a vigilância
apertada.

 Sem normas de saúde ou de segurança, os locais de trabalho eram inóspitos: quentes no


verão, gelados no inverno; ruidosos, sem arejamento, mal iluminados e sem instalações
sanitárias. Nas fábricas e nas minas, os acidentes sucediam-se, como consequência do
cansaço, da falta de supervisão das máquinas, das inundações, dos desabamentos ou das
explosões.

 Os salários dos trabalhadores, sempre muito baixos, estavam inteiramente à mercê dos
interesses patronais. Em períodos de prosperidade, a procura de mã o de obra aumentava
e os salá rios tendiam a elevar-se um pouco. Em contrapartida, no contexto das crises
cíclicas da indú stria, os salá rios eram reduzidos e o desemprego tornava-se
inevitável.

 Mais baixos ainda eram os salários das mulheres. De facto, o recurso ao trabalho
feminino desde cedo se revelou de grande utilidade para o processo produtivo. As
mulheres eram especialmente recrutadas para trabalhar na indústria têxtil, nas fábricas de
fiação e de tecelagem, mas ocupavam também tarefas nas forjas e nas minas. Mais ágeis e
obedientes, realizavam os mesmos trabalhos pesados dos homens por apenas metade do
salário.

 As crianças iniciavam muitas vezes a sua vida de trabalho aos 4 ou 5 anos e trabalhavam
as mesmas horas que os adultos. Pela sua pequena estatura e agilidade, constituíam uma
mão de obra particularmente requisitada nas fiações, onde eram chamadas a recolocar os
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fios partidos sob os teares, a limpar as bobinas entupidas, ou ficavam encarregadas de
supervisionar as máquinas. Nas minas, eram responsabilizadas pela abertura das portas de
ventilação e deslizavam pelas estreitas galerias empurrando as pesadas vagonetas
carregadas de carvão e outros materiais.

 Condições de vida

 Desenraizados do meio rural onde a solidariedade aldeã era comum, os trabalhadores que
afluem às cidades vivem num quadro de miséria.

 O alto preço dos alojamentos urbanos obrigou famílias operárias à sublocação de


pequenos espaços nas caves e nos sótãos dos degradados prédios do centro da cidade.
Eram compartimentos pequenos, escuros, húmidos, sem água canalizada, aquecimento,
ou instalações sanitárias.

 Nos bairros operários que foram crescendo na periferia, próximos das fábricas e das
minas, as condições de salubridade não eram melhores. Nas ruas, muitas vezes sem
pavimentação, a água e os detritos acumulavam-se, contribuindo para a disseminação de
doenças. A tuberculose, o tifo ou a cólera eram companheiras dos bairros operários.

 A ausência de proteção social e de laços de solidariedade agravavam a solidão e a


desilusão, que eram abafados na embriaguez. A penúria fez aumentar a mendicidade, a
prostituição, a delinquência e a criminalidade, ensombrando ainda mais a negra miséria
do operariado.

 O movimento operário
 Associativismo e sindicalismo

 As primeiras ações do movimento operário circunscreverem-se a sublevações locais que


fracassam, por falta de organização. Foi o caso do ludismo particularmente forte entre
1811-1818, na Grã-Bretanha, que levou os trabalhadores a invadirem as fábricas para
destruir as máquinas que ameaçavam o seu trabalho e a incendiarem as habitações dos
industriais. Insurreições espontâneas, estalaram por toda a Europa e foram duramente
reprimidas pelas autoridades.

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 As primeiras organizações operárias estruturadas foram sociedades fraternas, as
mutualidades ou associações de socorros mútuos. Cada filiado contribuía com uma
pequena quotização para um fundo comum, com o qual se concedia assistência
financeira, em caso de doença, invalidez, funeral e velhice.

 No sindicalismo residiu, porém, o futuro do movimento operário. Consistiu na criação de


associações de trabalhadores para defesa dos seus interesses profissionais. Os operários
contribuíram com as necessárias quotas e os sindicatos propunham-se lutar pela melhoria
dos salários e das condições de trabalho, recorrendo, se necessário, à greve, como forma
de pressionar a entidade patronal.

 A legislação dos sindicatos e a influência das doutrinas socialistas concorreram para a


força crescente do sindicalismo. Em 1874, as Trade Unions britânicas eram já
organizações, com mais de um milhão de aderentes.

 A reivindicação do dia de trabalho de 8 horas, a melhoria dos salários, o direito ao


descanso semanal e à indemnização do patronato em caso de acidente foram alguns dos
objetivos das lutas grevistas, transformadas na principal arma do movimento operário.

 As propostas socialistas

 As propostas socialistas desenvolveram-se, ainda, na primeira metade do século XIX e


tiveram como objetivos comuns a denúncia dos excessos da exploração capitalista, a
eliminação da miséria operária e a procura de uma sociedade mais justa e igualitária.
Quanto às estratégias a implementar, foram bem diferentes e até opostas, o que leva a
distinguir um socialismo utópico de um socialismo marxista.

 O socialismo utópico

 O socialismo utópico distinguiu-se pelas suas propostas de reforma económica e social,


que passavam pela recusa da violência, pela criação de cooperativas de produção e de
consumo ou pela entrega dos assuntos do Estado a uma elite de homens esclarecidos que
governariam de molde a proporcionarem uma maior justiça social. Saint-Simon, Charles
Fourier, Louis Blanc e Robert Owen foram alguns desses pensadores sociais.

 Já P.-J. Proudhon, o mais ousado dos socialistas utópicos, defendia a abolição da


propriedade privada, que considerava “um roubo”, e do próprio Estado, que classificava
desnecessário. Preconizava uma autêntica revolução na economia, atraves da criação de
associações mútuas, onde todos trabalhariam, pondo em comum os frutos do seu trabalho.
Originar-se-ia, em consequência, uma sociedade igualitária de pequenos produtores,

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capazes de assegurarem a melhoria das condições sociais sem luta de classes ou
intervenção do Estado.

 Feito de sonhos de um mundo melhor e de propostas irrealizáveis ou condenadas ao


fracasso, foi este o socialismo que a História, numa feliz expressão, consagrou de utópico.

 O marxismo

 O socialismo marxista retira o nome do alemão Karl Marx que, juntamente com o seu
compatriota Friedrich Engels, publicou, em 1848, o Manifesto do Partido Comunista.
Esta obra marcou de forma profunda o socialismo e a História, na medida em que foi
portadora de uma nova concessão de sociedade e esteve na origem de inúmeros
movimentos revolucionários. Ao contrário do socialismo utópico, assente em idealismo e
projetos fracassados, o marxismo acrescentou, aos princípios doutrinários, um programa
minucioso de ação.

 Antes de mais, o marxismo deteve-se numa análise rigorosa da História da Humanidade.


Concluiu que esta assenta numa sucessão de modos de produção diferenciados (o
esclavagismo, o feudalismo e o capitalismo) e que a passagem de um modo de produçao a
outro se deveu à luta de classes entre opressores e oprimidos. Explicou a luta de classes
pelas condições materiais de existência e fez dela o verdadeiro motor da História.

 Ao analisar o modo de produçao capitalista, Marx salientou que ele repousa na mais-
valia. Isto é, o salário do operário não corresponde ao valor do seu trabalho, mas apenas
ao valor dos bens de que ele necessita para sobreviver, pelo que a exploração do operário
é o lucro do burgues capitalista. Desta constatação resulta. Para Marx, ser a luta de
classes, mais uma vez, inevitável. Travar-se-ia, agora, entre proletários e burgueses e
conduziria à eliminação do capitalismo.

 Para o efeito, tornava-se necessário que o proletariado, organizado em sindicatos e,


especialmente, em partidos, conquistasse o poder político e exercesse a ditadura do
proletariado. Esta mais não seria que uma etapa a anteceder e preparar a verdadeira
sociedade socialista – o comunismo -, uma sociedade sem classes, sem propriedade
privada, em “exploração do homem pelo homem”.

 As Internacionais operárias

 “Proletários de todos os países, uni-vos” era a mensagem de Karl Marx e Friedrich Engels
no final do Manifesto do Partido Comunista. Apelava-se à união e à solidariedade do
proletariado, o que veio a concretizar-se na criação de associações internacionais de
trabalhadores que ficaram conhecidas por Internacionais operárias ou simplesmente

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Internacionais. A elas caberia a coordenação da luta para o derrube do capitalismo e da
sociedade de classes.

 A I Internacional foi fundada em Londres, em 1864. Os seus estatutos, elaborados pelo


próprio Karl Marx, partiam da ideia de que a “emancipação da classe operária será obra
dos próprios trabalhadores”, estabelecendo-se a greve geral como forma de luta. A
Internacional contribuiu para o fortalecimento do movimento operário, apoiando greves,
sindicatos e sociedades de resistência. Contribuiu também para o nascimento dos partidos
operários que, em breve, passaram a atuar em numerosos países da Europa. Porem, no
seio da Internacional, as ideias marxistas sofreram uma contestação crescente, dando
origem a diversas visões do socialismo. Entre os contestatários, destacaram-se os
anarquistas, liderados pelo russo Bukanine (1814-1876) que considerava os princípios
marxistas da ditadura do proletariado e a supremacia do Estado uma negação da
liberdade. Estes desentendimentos acabariam por provocar a dissolução da I
Internacional, em 1876.

 Quando a II Internacional se constituiu em Paris, em 1889, já Marx havia falecido, mas F.


Engels mantinha-se entre os fundadores. Afastados os anarquistas, a II Internacional
propõe-se restaurar a unidades dos trabalhadores, mas outra tendência ideologia se
evidenciou: o revisionismo do socialista alemão Eduard Bernstein (1850-1932).

 Baseando-se na realidade alemã, cujo Estado burgues fora capaz de proporcionar aos
trabalhadores uma eficaz legislação social, Berstein repudia a via revolucionária e
defende o papel da atuação parlamentar e sindical na consecução dos objetivos da classe
operária. Propõe a evolução pacifica, gradual e reformista do capitalismo para o
socialismo, substituindo a luta de classes e a ditadura do proletariado por um clima de
entendimento entre os partidos operários e burgueses.

 De facto, este entendimento permitiu ao Estados no mundo ocidental um conjunto de


conquistas democráticas, que aperfeiçoaram o sistema representativo liberal. O direito de
voto, inicialmente restrito a quem tivesse determinado grau de fortuna, foi
progressivamente alargado às classes trabalhadoras, caminhando para o sufrágio
universal. Mais representativos, os parlamentos ganharam força, consolidando o sistema
político que persiste até aos nossos dias: o demoliberalismo.

 Em 1914, a II Internacional desaparecia, numa conjuntura em que os apelos ao


internacionalismo cediam lugar à defesa das nações.

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