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VIDA E OBRA DO ARQUITECTO UNIVERSIDADE ZAMBEZE

FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA

JOÃO AFONSO GARIZO DO Curso de Licenciatura em Arquitectura


Historia da Arte e Arquitectura Africana

CARMO Discentes: Onélio Doroteia e Paulo Jorge


Docentes: Arqto. Abibo Vaz
INTRODUÇÃO

O presente trabalho, elaborada no âmbito académico, tem como objectivo cumprir com os
objectivos traçados para a cadeira de Historia da Arte e Arquitectura Africana, lecionada
pelo docentente Arqto. Abibo Vaz, e sendo assim, o trabalho busca mostrar a principal
influência que o arquitecto João Garizo de Carmo teve no âmbito da evolução da
arquitectura moderna nos tempos remotos, com as suas mais notórias obras, tendo mais
ênfase ao contexto Africano e concretamente cá em Moçambique e em diferentes regiões do
nosso país.
OBJECTIVOS

Objectivo geral
 Estudo sobre a vida e obra do arquitecto João Garizo de Carmo;

Objectivos específicos
Descrever a principal influência que o arquitecto teve na evolução da arquitectura
moderna;
Analisar as principais obras no contexto nacional;
JOÃO AFONSO GARIZO DO CARMO

 Linhagem e Influência

Segundo DELGADO, Catarina 2013, em duas gerações distintas, os Garizo do Carmo marcaram o
território moçambicano, quer no campo da arquitetura quer no da engenharia e das artes plásticas. A
primeira geração apresenta-se pelo arquiteto Jaime Afonso do Carmo, pai da segunda geração,
formada pelos irmãos João Afonso Garizo do Carmo (1917-1974) (arquitecto), Jorge Afonso
Garizo do Carmo (1927-1997) (pintor e artista plástico) e Luís Afonso Garizo do Carmo (-)
(engenheiro).
Arquiteto pioneiro em terras moçambicanas, Jaime
Afonso do Carmo iniciou a sua atividade como
condutor de trabalho da Companhia de
Moçambique na Beira em 1898 e, graças à sua
energia, dedicação e competência atingiu o estatuto
de Diretor dos Serviços da Direção Geral das Obras
Públicas e Fiscalização do Caminho-de-Ferro até
1914, data em que abandonou definitivamente os
serviços. Durante a sua atividade foi responsável
pelo Plano Diretor do Bairro Ponta Gêa e da Ponte
Figura 1: Ponte sobre o Chiveve, Beira, 1905
sobre o Chiveve, na Beira. Fonte: DELGADO, Catarina 2013
O pintor Jorge Afonso Garizo do Carmo frequentou o curso de Arquitetura na ESBAP (1944-48),
mas não o finalizou, tendo-se dedicado essencialmente à pintura e a outras artes plásticas (cerâmica,
gravura, xilografia, escultura).

Em 1956, viaja até à Beira, onde trabalha nas áreas da arquitetura, decoração, pintura, escultura e
artes gráficas, em contacto com João Garizo do Carmo e muitos outros arquitetos. Embora não
pudesse assinar, colaborava com o irmão nos projetos de arquitetura, marcando a sua identidade
como artista plástico. Os dois irmãos mantinham um forte elo de ligação tanto a nível profissional
como pessoal e, por isso, considerar-se importante a investigação das visões cruzadas desta dupla.
A VIDA DE JOÃO AFONSO GARIZO DO CARMO

No âmbito desta investigação, o membro da família que se destaca é o


arquiteto João Afonso Garizo do Carmo. Nascido na cidade da Beira, em
Moçambique, frequenta entre 1942 e 1949 o curso de arquitetura na ESBAP,
mas acaba por concluí-lo na ESBAL, em 1951, com a classificação de 17
valores.

A base da sua formação apoia-se em dois padrões de ensino distintos. Enquanto a ESBAP, apresentava
um ensino aberto e procurava uma linguagem moderna fundamentada no conhecimento das teorias
modernas de Le Corbusier, a ESBAL mais ligada ao Regime Salazarista, assumia os princípios anti
modernistas de Raul Lin.
A VIDA DE JOÃO AFONSO GARIZO DO CARMO

João Garizo do Carmo revelou, num espírito


progressista, a luta pela afirmação dos seus ideais
modernos, manifestando uma prática e atitude mais
corbusiana, mais ligada à sua formação no Porto.

Entre 1943 e 1944, trabalha no Porto, no Atelier da Rua


Duque Teixeira, com José Borrego, Carlos Carvalho de
Almeida, António Veloso Pinto, Victor Palla, Fernando
Martins de Sousa, Raul Roque e com o seu colega
Joaquim Bento d´Almeida (1918-1997).
REGRESSO A MOÇAMBIQUE

De acordo com DELGADO, Catarina 2013 as dificuldades que os novos arquitectos tinham em
projectar eram tremendas, o gosto oficial estatal e privado continuava ligado a concepções ambíguas
sobre a tradição e o nacionalismo da arquitectura e os jovens arquitectos eram olhados com
desconfiança, não conseguindo praticamente nenhumas encomendas, ou conseguindo-as abdicando da
sua liberdade criativa.
É neste contexto que a ideia de emigrar começa a ganhar corpo. A “nova geração rebelde”, formada no
início dos anos 50, encontra em África condições ambientais e culturais diferentes da metrópole
portuguesa, permitindo-lhes explorar novos aspetos construtivos e formais focados nos ideais do
Movimento Moderno. Tal como tantos outros arquitetos formados nesta época em Portugal, João
Garizo do Carmo regressou a terras moçambicanas em 1952, onde o corpo e comunidade procuram
fresco, sombra e, sobretudo, viver e conviver longe dos preconceitos pesados de um mundo tão fechado
como era o de Portugal.
NOTORIEDADE

 Nos anos de 1954 a 1955 é vencedor do prémio Municipal Lacerda Araújo;

 Em 1970, trabalha para o Ministério do Ultramar em Macau, tendo sido da sua responsabilidade: o
Projeto do aproveitamento do terreno do Henrique Bento na Avenida da República – Bissau (1970);

 Colaboracao na concepcao do projecto da ponte Macau-Taipa (1971);

Estudo Prévio do Plano Diretor de Macau (1971) e o Plano de Urbanização da Nova Zona Central
(1972), realizado juntamente com Eurico Machado e Luísa d´Orey.
AS OBRAS DE JOÃO AFONSO GARIZO DO CARMO

As obras do arquitecto referenciado destacam-se entre os várias cdades do nosso pais, com obras que
apresentam os traços modernos, construído desde meras residências ate aos edifícios mais complexos
como igrejas, estações e entre outros edifícios, sendo assim, as cidades em que possuem as suas obras
de maior destaque são as cidades da Beira e Quelimane.
ENTRE BEIRA E QUELIMANE

 Predial Ultramarina- Beira


João Garizo do Carmo inicia a sua produção arquitetónica
na Beira, em 1952, destacando-se com o projeto de um
edifício de habitação coletiva para a firma Predial
Ultramarina, na zona residencial da Ponta Gêa (talhão 263).
Com grande simplicidade e equilíbrio de proporções,
aliando o lado estético e o funcional, as fachadas são
verticalmente seccionadas por elementos de betão armado.
Desta forma, as fachadas adquirem o aspeto de um
conjunto de alvéolos retangulares de proporções alongadas,
que produzem um jogo de claro-escuro bastante variado e
que as movimentam na sua grande extensão. Figura 2: Predial Ultramarina (1952), João Garizo do Carmo, Beira
Fonte: DELGADO, Catarina 2013
ENTRE BEIRA E QUELIMANE
 Cine-Teatro São Jorge - Beira
Em 1953, o arquiteto desenha o Cine-Teatro São Jorge, um
dos ícones da cidade da Beira. Pertencendo aos Irmãos
Paraskeva, este cine-teatro, situa-se na esquina entre a
Avenida Eduardo Mondlane (antiga Avenida da República)
e a Rua Renato Baptista, na praça 3 de Fevereiro (antiga
praça Almirante Reis), no Bairro Ponta Gêa.
Trata-se de “um trabalho delicado, difícil e fora do vulgar”,
que resulta da utilização de dispositivos climáticos e da
integração das artes com a arquitetura e volumetria. De
fachada frontal curva, com um grande vão protegido do sol
por brise-soleils verticais, conjuga elementos curvos e Figura 3: Cine-Teatro São Jorge (1953), João Garizo do Carmo, Beira
Fonte: DELGADO, Catarina 2013
retos, e a sua planta em forma de leque, possui uma sala de
espetáculos com balcão suspenso.
ENTRE BEIRA E QUELIMANE
 Igreja da Manga- Beira
A Igreja do Imaculado Coração de Maria do Alto da
Manga, enquanto primeira Igreja moderna a ser edificada
em Moçambique, traduz como tema principal da
composição a pureza e a simplicidade das formas. O corpo
principal do edifício, formado por uma longa casca
parabólica em betão armado, tal como na Igreja de São
Francisco, decompõe-se num segundo volume idêntico,
mais baixo, que forma o altar, criando na sua interseção,
uma entrada de luz indireta. Ao contrário da igreja de
Niemeyer, a abóbada não se prolonga até ao pavimento,
desdobrando-se em duas peles e permitindo, assim, o
fomento da ventilação natural entre elas.
Figura 4: Igreja da Manga (1955), João Garizo do Carmo, Beira
Fonte: DELGADO, Catarina 2013
ENTRE BEIRA E QUELIMANE
 Cine-Teatro Águia- Quelimane
É no ano de 1955, que João Garizo do Carmo projeta
pela primeira na cidade de Quelimane, uma obra
imponente, cultural e artisticamente rica, o Cine-
Teatro Águia. Neste projeto a implantação sugere a
ideia de movimento, em articulação com o lugar. “A
implantação curva exprime a liberdade formal, que
advém das capacidades plásticas do betão, e que se
libertando dos ângulos rectos, permite uma nova leitura
geométrica e formal.
Este modernismo de formas livres segue os caminhos
do modelo brasileiro, principalmente de Óscar Figura 5: Fachada principal Cine-Teatro Águia (1955), João
Niemeyer. Garizo do Carmo, Quelimane
Fonte: DELGADO, Catarina 2013
ENTRE BEIRA E QUELIMANE
• Casa dos Bicos- Beira
 É nos anos 60, o arquiteto projeta no Bairro do Chaimite, Chiveve, a sua obra mais expressionista, a
Casa dos Bicos. Foi construída para albergar a feira industrial da cidade da Beira mantendo-se
atualmente como um espaço para exposições temporárias e feiras agrícolas, embora em mau estado
de conservação. A grande nave consiste numa cobertura de betão ondulada ostentada de grandes
abóbadas com terminações de bicos.

Figura 6: Casa dos Bicos (1975), João Garizo do Carmo, Beira


Fonte: DELGADO, Catarina 2013
ENTRE BEIRA E QUELIMANE
 Estacão do Caminhos de Ferro CFM- Beira
 Sem dúvida que a maior obra pública efetuada na
cidade da Beira é a Estação de Caminhos-de-Ferro, que
com um carácter monumental de léxico moderno,
reflete uma vez mais a clara influência da arquitetura
moderna brasileira.
A estação liga-se ao porto da Beira, e é o terminal do
Caminho de Ferro de Machipanda, recebendo também
composições ferroviárias do Caminho de Ferro de
Sena.O plano geral da estação dividiu-se em três áreas
funcionais, com três volumetrias distintas, cada uma
das quais entregue a um arquitecto português: João
Garizo do Carmo desenhou o átrio, Francisco José de Figura 7: Estação de Caminhos-de-Ferro da Beira (1960), Paulo Melo de
Castro os terminais ferroviários, ficando Paulo de Melo Sampaio, João Garizo do Carmo e Francisco Castro, Beira
Sampaio encarregado do edifício de escritórios e da Fonte: DELGADO, Catarina 2013
coordenação da obra.
ENTRE BEIRA E QUELIMANE

 Palácio Das Repartições- Quelimane


O Palácio das Repartições de Quelimane, Sede do
Governo Distrito, é um projeto de João Garizo do
Carmo iniciado em 1960. Situa-se numa zona de
equipamentos, central e movimentada da cidade, no
cruzamento da Avenida Josina Machel com a Rua
Nkwame Nkrumah, junto à Praça dos Heróis
Moçambicanos (antigo Largo Mouzinho de
Albuquerque) e à antiga Escola Primária Vasco da
Gama, num quarteirão deixado vago pela demolição do
antigo Mercado Municipal. Figura 9: Frente de rua, fachada nordeste-sudeste
Fonte: DELGADO, Catarina 2013
ENTRE BEIRA E QUELIMANE
 Paço Episcopal- Quelimane
O Paço Episcopal é projetado em 1956 na sequência da
criação da diocese de Quelimane, em 1954, e é devedor
da ação do primeiro bispo, D. Francisco Nunes Teixeira
(1910-). Implantado longitudinalmente num amplo lote
(talhão 580), com frente para as avenidas Mao Tsé
Tung (antiga Rua Manuel António de Sousa), e
Francisco Manyanga, situa-se junto ao largo onde foi
erguida posteriormente a Biblioteca Municipal (1969).
O quadro urbano envolvente, uma zona de expansão
habitacional da cidade, caracteriza-se por uma malha
regular dividida em pequenos lotes ocupados por
habitações unifamiliares. A forma sublime, francamente
moderna, adaptada ao lugar, e ao clima, aos ventos e ao Figura 10: Fachada principal (nascente)
Sol, reflete o carácter reservado e introspetivo do Fonte: DELGADO, Catarina 2013

edifício, “no equilíbrio entre a luz, o espaço e o


silêncio”
OBRIGADO

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