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Zaratustra de Nietzsche: o

simbolismo contra a violência


1.Introdução
-Nietzsche (1844-1900)
-“Assim falou Zaratustra”
Grande poema e grande obra
filosófica
-“Todo falar é simbólico”
Simbolismo contra a razão
prepotente
-Violência (vis) - vontade
Força, energia, manutenção
de si próprio do existir
-Pathos trágico
Tudo o que é vida sofre,
tudo o que sofre quer viver
- DIZER SIM A TUDO (amor fati)
LIVROS DE NIETZSCHE (1844-1900)
• Nascimento da tragédia no espírito da música (1872)
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• A filosofia na época trágica dos gregos (1873-1874)
• Inatuais / Extemporâneas (1873-1876)
• Verdade e mentira no sentido extra-moral (1873)
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• Humano, demasiado humano. Um Livro para Espíritos Livres (1878)
• Aurora. Reflexões sobre os preconceitos morais (1881)
• A gaia ciência (1882)
• Assim falou Zaratustra. Um livro para todos e para ninguém (1883)
• Além do bem e do mal (1886)
• Genealogia da moral (1887)
• O caso Wagner. Um problema para músicos (1888)
• O anticristo (1888)
• Nietzsche contra Wagner (1888/1889)
• Crepúsculo dos ídolos. Ou como filosofar com martelo (1889)
• Ecce homo. Como alguém se torna o que é (publicada em 1908)
• Vontade de poder (1906 - “Um livro que Nietzsche jamais escreveu” – Publicado por Elizabeth,
irmã de Nietzsche, e Peter Gast).
“Foi o primeiro a ver na luta entre o bem e o mal a
roda motriz na engrenagem das coisas – a
transposição da moral para o plano metafísico, como
Quem foi força, causa, fim em si, é obra sua. (…) Ele criou esse
Zaratustra? mais fatal dos erros, a moral; em consequência, deve
ser também o primeiro a reconhecê-lo.” (Ecce homo)
Ζωροάστρης
Um profeta-poeta que teria vivido na antiga Pérsia
(atual Irã), aproximadamente entre 628 e 551 a.C.
Prólogo
Aos trinta anos de idade, Zaratustra deixou sua pátria e o lago
de sua pátria e foi para as montanhas. Ali gozou do seu espírito
e da sua solidão, e durante dez anos não se cansou. Mas enfim
seu coração mudou — e um dia ele se levantou com a aurora,
foi para diante do sol e assim lhe falou:
“Ó grande astro! Que seria de tua felicidade, se não tivesses
aqueles que iluminas? Há dez anos vens até minha caverna: já te
terias saciado de tua luz e dessa jornada, sem mim, minha águia
e minha serpente. Mas nós te esperamos a cada manhã,
tomamos do teu supérfluo e por ele te abençoamos. Olha!
Estou farto de minha sabedoria, como a abelha que juntou
demasiado mel; necessito de mãos que se estendam. Quero
doar e distribuir, até que os sábios entre os homens voltem a se
alegrar de sua tolice e os pobres, de sua riqueza.
ANIMAIS DE ASSIM FALOU ZARATUSTRA
Metáfora da águia e a serpente
(Em oposição à metafísica de cunho dualista)
“E eis que uma águia fazia vastos círculos no ar, e
dela pendia uma serpente, não como uma presa,
mas como uma amiga: pois estava enrodilhada em
seu pescoço”
Eterno retorno do mesmo
 Orgulho e inteligência
“Peço a meu orgulho que
sempre acompanhe
minha Inteligência!”
DECLÍNIO DE ZARATUSTRA:
“Quero doar e distribuir, até que os sábios entre os homens voltem a se
alegrar de sua tolice e os pobres, de sua riqueza. [...] Olha! Esta taça quer
novamente se esvaziar, e Zaratustra quer novamente se fazer homem. Assim
começou o declínio de Zaratustra” (p. 11).

Zaratustra é um anunciador, um profeta:


“[Ancião]... Queres levar teu fogo para os vales? [...]
Mudado está Zaratustra; tornou-se uma criança, um
despertado: que queres entre os que dormem?”
“[Zaratustra] Eu amo os homens [...]
Trago aos homens uma dádiva”: ETERNO RETORNO
ÜBERMENSCH
DEUS ESTÁ MORTO “O SENTIDO DO SER VONTADE DE
DO HOMEM” PODER
Na praça. Havia ali apresentação de um equilibrista.
 [Zaratusta]: “Eu vos ensino o Übermensch (além-do-homem). O homem é algo
Personagens: Zaratustra, povo, equilibrista e palhaço
que deve ser superado (überwunden) [...] O além-do-homem é o sentido da
terra. Que a vossa vontade diga: o além-do-homem seja o sentido da terra!
Eu vos imploro, irmãos, permanecei fiéis à terra. [...]
 [Povo]: E todos riram de Zaratustra”. [O equilibrista se apresenta sobre a corda
bamba].
 [Zaratutra]: “O homem é uma corda, atada entre o animal e o além-do-
homem – uma corda sobre um abismo. Um perigo para-lá, um perigoso a-
caminho, um perigoso olhar-para-trás, um perigoso estremecer e se deter.
Grande no homem é ser ele uma ponte [...] uma passagem e um declínio”.
[...declarações de amor ao homem]. “Amo aquele de espírito livre e coração livre:
assim, sua cabeça não passa de entranhas do seu coração, mas seu coração o
impele ao declínio”.
 [O equilibrista, de uma torre a outra, faz sua apresentação sobre corda bamba.
Surge, também sobre a corda, um palhaço que desconcentra o equilibrista e
provoca sua queda no meio da multidão. Cai aos pés de Zaratustra]: O palhaço
lançou um grito de demônio e o equilibrista “perdeu a cabeça e a corda”.
 [Zaratustra]: “... Fizeste do perigo o teu ofício, não há o que desprezar nisso.
Agora pereces no teu ofício: por causa disso, eu te sepultarei com minhas próprias
mãos”. [Zaratustra conduz consigo o cadáver do equilibrista].
 [Zaratustra]: Não de cadáveres, “mas de companheiros vivos necessito, que me
Pathos das três
metamorfoses
Crian
ça
INOCÊNCIA e
ESQUECIMENTO

Leão
Camelo
“Sim, para o jogo da criação,
meus irmãos, é preciso um
sagrado dizer-sim: o espírito
quer agora a sua vontade”
ESTATUTO DAS PAIXÕES: TOMÁS DE AQUINO, DESCARTES
E NIETZSCHE
1) TOMÁS DE AQUINO - Paixões no âmbito do hilemorfismo
Todas as paixões se adequam à potência sensível do homem,
um pati (sofrer), por isso, tomadas em si mesmas, não são
nem boas e nem más. Nas intenções da vontade (apetite
racional), a bondade ou malícia das paixões.
2) DESCARTES - Paixões no âmbito do dualismo psico-físico
Alma = EU (ego cogito humano=pensamento): ações da alma
(nossas vontades) e paixões da alma propriamente
(percepções ou conhecimentos).
- Percepções da alma = paixões: admiração, amor, ódio,
desejo, alegria, tristeza
- Percepções vindas do corpo: calor, dor, fome, sede
- Percepções vindas de objetos externos: sons, odores,
sabores,
3) NIETZSCHE - Paixões no âmbito da corporeidade
As paixões são corpóreas, inclusive o modo como o
intelecto humano funciona – as ciências e todas as
sensações estão no âmbito da vontade, enquanto tal,
corpórea (“Há mais razão em teu corpo do que em tua
melhor sabedoria”).
Novo orgulho e nova vontade:
- Uma cabeça terrena, que cria sentido na terra (homem
saudável, convalescente – criança – além-do-homem).
- Uma virtude terrena, dadivosa, sacrossanto egoísmo:
“símbolos são todos os nomes de bem e de mal: nada
enunciam, apenas acenam (winken)” – METAFÍSICA
DO SÍMBOLO (?)
ESPÍRITO DE ARTISTA
DA VIRTUDE QUE DOA (AFZ, Primeira parte)
(Doação como economia de violência)
Dizei-me: como alcançou o ouro o mais alto valor? E porque é raro e
inútil, de brilho cintilante e brando: doa-se sempre. Só como símbolo da
mais alta virtude o ouro alcançou o mais alto valor. É como o ouro,
reluzente, o olhar daquele que doa. O brilho do ouro firma a paz entre a
lua e o sol.
A mais alta virtude é rara e inútil: é resplandecente e de um brilho
brando: uma virtude dadivosa é a mais alta virtude.
Em verdade vos adivinho, meus discípulos: vós aspirais como eu à
virtude dadivosa. Que podereis ter de comum com os gatos e com os
lobos?
A vossa ambição é querer converter-vos, vós mesmos, em oferendas e
presentes. Por isso desejais acumular todas as riquezas em vossas almas.
A vossa alma anela insaciavelmente tesouros e joias, porque é
insaciável a vontade de doar da vossa virtude.
Obrigais todas as crises a aproximarem-se de vós e a penetrar
em vós outros, para tornarem a emanar da vossa fonte como os
dons do vosso amor.
Em verdade, é preciso que tal amor dadivoso se faça
saqueador de todos os valores; mas eu chamo são e sagrado
esse egoísmo.
Há outro egoísmo, um egoísmo demasiado, pobre e famélico,
que quer roubar sempre: o egoísmo dos doentes, o egoísmo
enfermo.
Com olhos de ladrão olha tudo o que reluz, com a aridez da
fome mede o que tem abundantemente que comer, e sempre
se arrasta à roda da mesa do que doa.
A doença é uma invisível degeneração, eis o que tal
apetite demonstra; a avidez de roubo desse egoísmo
apregoa um corpo valetudinário.
Dizei-me, meus irmãos: qual é a coisa que nos parece
má, a pior de todas? Não é a degeneração? E
pensamos sempre na degeneração quando falta a
alma que doa.
O nosso caminho é para cima: da espécie à espécie
superior; mas o sentido que degenera, o sentido que
diz: “Tudo para mim”, assombra-nos.
O nosso sentido voa para cima, assim o símbolo do
nosso corpo é símbolo de uma elevação. Os símbolos
dessas elevações são os nomes das virtudes.
Assim atravessa o corpo a história, lutando e elevando-
se. E o espírito que é para o corpo? É o arauto das suas
lutas e vitórias, o seu companheiro e o seu eco.
Todos os nomes do bem e do mal são símbolos; não
falam, limitam-se a fazer sinais. Louco é o que lhes quer
pedir o conhecimento.
Meus irmãos, estai atentos às ocasiões em que o vosso
espírito quer falar em símbolos: assistis então à origem
da vossa virtude.
Então é quando o vosso corpo se elevou e ressuscitou;
então arrebata o espírito com os seus transportes para
que se faça criador e apreciador e amante, benfeitor de
todas as coisas. Assim falou Zaratustra

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