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Leão
Camelo
“Sim, para o jogo da criação,
meus irmãos, é preciso um
sagrado dizer-sim: o espírito
quer agora a sua vontade”
ESTATUTO DAS PAIXÕES: TOMÁS DE AQUINO, DESCARTES
E NIETZSCHE
1) TOMÁS DE AQUINO - Paixões no âmbito do hilemorfismo
Todas as paixões se adequam à potência sensível do homem,
um pati (sofrer), por isso, tomadas em si mesmas, não são
nem boas e nem más. Nas intenções da vontade (apetite
racional), a bondade ou malícia das paixões.
2) DESCARTES - Paixões no âmbito do dualismo psico-físico
Alma = EU (ego cogito humano=pensamento): ações da alma
(nossas vontades) e paixões da alma propriamente
(percepções ou conhecimentos).
- Percepções da alma = paixões: admiração, amor, ódio,
desejo, alegria, tristeza
- Percepções vindas do corpo: calor, dor, fome, sede
- Percepções vindas de objetos externos: sons, odores,
sabores,
3) NIETZSCHE - Paixões no âmbito da corporeidade
As paixões são corpóreas, inclusive o modo como o
intelecto humano funciona – as ciências e todas as
sensações estão no âmbito da vontade, enquanto tal,
corpórea (“Há mais razão em teu corpo do que em tua
melhor sabedoria”).
Novo orgulho e nova vontade:
- Uma cabeça terrena, que cria sentido na terra (homem
saudável, convalescente – criança – além-do-homem).
- Uma virtude terrena, dadivosa, sacrossanto egoísmo:
“símbolos são todos os nomes de bem e de mal: nada
enunciam, apenas acenam (winken)” – METAFÍSICA
DO SÍMBOLO (?)
ESPÍRITO DE ARTISTA
DA VIRTUDE QUE DOA (AFZ, Primeira parte)
(Doação como economia de violência)
Dizei-me: como alcançou o ouro o mais alto valor? E porque é raro e
inútil, de brilho cintilante e brando: doa-se sempre. Só como símbolo da
mais alta virtude o ouro alcançou o mais alto valor. É como o ouro,
reluzente, o olhar daquele que doa. O brilho do ouro firma a paz entre a
lua e o sol.
A mais alta virtude é rara e inútil: é resplandecente e de um brilho
brando: uma virtude dadivosa é a mais alta virtude.
Em verdade vos adivinho, meus discípulos: vós aspirais como eu à
virtude dadivosa. Que podereis ter de comum com os gatos e com os
lobos?
A vossa ambição é querer converter-vos, vós mesmos, em oferendas e
presentes. Por isso desejais acumular todas as riquezas em vossas almas.
A vossa alma anela insaciavelmente tesouros e joias, porque é
insaciável a vontade de doar da vossa virtude.
Obrigais todas as crises a aproximarem-se de vós e a penetrar
em vós outros, para tornarem a emanar da vossa fonte como os
dons do vosso amor.
Em verdade, é preciso que tal amor dadivoso se faça
saqueador de todos os valores; mas eu chamo são e sagrado
esse egoísmo.
Há outro egoísmo, um egoísmo demasiado, pobre e famélico,
que quer roubar sempre: o egoísmo dos doentes, o egoísmo
enfermo.
Com olhos de ladrão olha tudo o que reluz, com a aridez da
fome mede o que tem abundantemente que comer, e sempre
se arrasta à roda da mesa do que doa.
A doença é uma invisível degeneração, eis o que tal
apetite demonstra; a avidez de roubo desse egoísmo
apregoa um corpo valetudinário.
Dizei-me, meus irmãos: qual é a coisa que nos parece
má, a pior de todas? Não é a degeneração? E
pensamos sempre na degeneração quando falta a
alma que doa.
O nosso caminho é para cima: da espécie à espécie
superior; mas o sentido que degenera, o sentido que
diz: “Tudo para mim”, assombra-nos.
O nosso sentido voa para cima, assim o símbolo do
nosso corpo é símbolo de uma elevação. Os símbolos
dessas elevações são os nomes das virtudes.
Assim atravessa o corpo a história, lutando e elevando-
se. E o espírito que é para o corpo? É o arauto das suas
lutas e vitórias, o seu companheiro e o seu eco.
Todos os nomes do bem e do mal são símbolos; não
falam, limitam-se a fazer sinais. Louco é o que lhes quer
pedir o conhecimento.
Meus irmãos, estai atentos às ocasiões em que o vosso
espírito quer falar em símbolos: assistis então à origem
da vossa virtude.
Então é quando o vosso corpo se elevou e ressuscitou;
então arrebata o espírito com os seus transportes para
que se faça criador e apreciador e amante, benfeitor de
todas as coisas. Assim falou Zaratustra