Numa manhã soalheira de outono, o Luís entrou radiante no autocarro. Depressa descobriu um lugar livre ao lado da Maria e correu a ocupá-lo. – Estás muito ansioso por chegar à praia? – perguntou-lhe a menina. – Sim – respondeu ele – , esta ideia da professora Rita Bonita foi espetacular. Minutos depois, comos meninos já sentados e de cinto de segurança apertado, o motorista pôs o autocarro em marcha rumo à costa. Duas semanas antes, quando a professora Rita Bonita anunciou à turma que iam participar numa ação de limpeza da praia, todos explodiram de felicidade! Decidiram em conjunto que seria o Jaime a tomar conta das operações. O primeiro passo foi dividir o grupo em equipas de três elementos e distribuir os sacos: azuis para o papel, verdes para o vidro e amarelos para o plástico e metal. Com tudo tão bem combinado, assim que chegaram à praia, desataram a correr até ao areal! A equipa do Luís, do Pedro e da Joana, foi a primeira a começar. O Pedro e a Joana, por muito que se esforçassem, dificilmente conseguiam acompanhar o ritmo do amigo, que saltava e corria com uma energia sem fim. - Luís, tem calma! Estamos a afastar-nos muito das outras equipas – disse a Joana, quando já mal o via.
Mas, em vez de parar, o Luís começou a esbracejar
energicamente para chamar os amigos. - Venham cá ver, depressa!! E, quando se aproximaram, nem queriam acreditar no que os seus olhos viam: uma tartaruga parecia dormir na areia junto à água! – Uau, uma tartaruga de verdade! – exclamou o Pedro. – Vamos chamar a professora? – perguntou a Joana. – Sim, eu vou lá – prontificou-se o Luís. E correu à máxima velocidade na direção da professora Rita Bonita que, ao vê-lo tão excitado, veio ao seu encontro. – Calma, Luís. O que se passa? – Está uma tartaruga, ali, à beira-mar! – respondeu o menino, enquanto abria os braços para mostrar o tamanho do animal. A professora Rita Bonita nem hesitou e seguiu o Luís, tal como os outros colegas, para verem a tartaruga de que ele falava. Assim que chegaram, a professora reparou que a tartaruga não se mexia e fazia um grande esforço para respirar. Parecia doente. Sem perder tempo, afastou-se um pouco do grupo, tirou o telemóvel do bolso e fez uma chamada. Quando terminou, explicou: – Sempre que encontramos um animal marinho em terra, é muito importante não lhe mexermos, nem o tentarmos alimentar ou molhar, e ligar para as autoridades. Telefonei para um centro de resgate e recuperação de animais selvagens e já vem uma equipa a caminho. De repente, o entusiasmo da turma deu lugar à preocupação pelo bem-estar da tartaruguinha, que parecia cada vez mais cansada. Felizmente, os veterinários não demoraram. Depois de observarem a tartaruga, informaram o grupo que teriam de a levar para o centro de recuperação. – Mas o que é que ela tem afinal? – perguntou a Joana. – Parece-nos que tem um problema comum – disse o veterinário Miguel com ar triste. – Cada vez há mais plástico nos oceanos e os animais, com fome, acabam por comê-lo, por acharem que é comida. – E isso faz-lhe mal? – perguntou a Leonor. – Faz, pois. Com a barriguinha cheia de plástico, continuam com fome, mas não são capazes de comer mais nada. Ficam fracas e, se não forem ajudadas, adoecem gravemente. – Bolas – disse o Pedro com tristeza –, não imaginava que a poluição pudesse ser tão perigosa para os animais marinhos…
– Mas graças a vocês, esta tartaruga foi encontrada a tempo.
Querem escolher um nome para ela? – Sim! – gritou o Luís. – Vamos ser padrinhos de uma tartaruga! Enquanto a equipa de resgate preparava o transporte até ao centro, a Leonor, que gostava de cuidar de todos, acercou-se da professora e perguntou-lhe baixinho: – Podemos ir com os senhores doutores? Ao reparar na preocupação da menina e do grupo, a professora falou com o veterinário Miguel, que prontamente acedeu ao pedido e lhe disse para o seguirem. Desta vez, no autocarro, o ambiente era mais contido. Todos os pensamentos estavam concentrados na nova amiga. Como a viagem ainda iria demorar alguns minutos, para se animarem, decidiram escolher o nome para a tartaruga. Depois de uma votação muito disputada, o nome vencedor foi Guiomar. Quando chegaram ao Centro de Recuperação, o veterinário Miguel fez sinal à professora para esperarem numa salinha à entrada. Enquanto a Guiomar era assistida, uma veterinária do centro veio ter com eles para falar um bocadinho sobre o trabalho que ali faziam, de resgate e salvamento de muitas espécies de animais. A turma ficou a saber que, todos os anos, mais de oito milhões de toneladas de lixo, na maioria plásticos, vão parar aos oceanos. E que é por isso que reciclar e reduzir o consumo de produtos com muitas embalagens é uma urgência. Entretanto, o veterinário Miguel apareceu radiante à porta da sala: – A Guiomar está livre de perigo e vai ficar bem. Retirámos o plástico que tinha no estômago e estamos a alimentá-la com uma pequena sonda. Querem espreitar só um bocadinho para o tanque para verem como está melhor? Os amigos ficaram super felizes com a notícia! No final da visita, quando já todos se sentiam aliviados, o Luís não resistiu a olhar uma última vez para a sua nova amiga e a dizer-lhe baixinho: – Obrigado, Guiomar, por nos teres ensinado esta lição vinda do mar! E tu, aprendeste a lição da nossa amiga Guiomar?