Você está na página 1de 30

COSMOVISÃO: ORIGEM E EVOLUÇÃO DA NOÇÃO DE

COSMOVISÃO
Prof. Daniel Justiniano Andrade

E-mail: danieljustinianoandrade@hotmail.com

Whatsapp: (11) 97412-9455


IMMANUEL KANT (1724-1804)

Para Kant a palavra Weltanschauung significava simplesmente a percepçã o


do mundo pelos sentidos [...] empregava Weltanschauung com referência ao
mundus sensibilis; isto é, para se referir a uma “intuiçã o de mundo no
sentido de contemplaçã o do mundo dada aos sentidos” (NAUGLE, 2017, p.
80)
JOHANN GOTTLIEB FICHTE (1762-1814)

O discípulo progressista de Kant, Johann Gottlieb Fichte, adotou o termo


imediatamente com o significado bá sico do termo por Kant como a
percepção do mundo sensível. (NAUGLE, 2017, p. 81)
FRIEDRICH WILHELM JOSEPH VON SCHELLING (1775-1854)

O significado de cosmovisã o muda em Schelling, que lhe empresta seu


significado mais corriqueiro de “uma maneira autorrealizada, produtiva e
consciente de apreender e interpretar o universo dos seres” [..] “a
atividade principal de toda a filosofia consiste em resolver o problema da
existência do mundo” [...] uma resposta para a questão existencial que
Heidegger tomara e desenvolvera como o tema do seu Ser e tempo: “Só ele, o
homem, impeliu-me à desesperada questã o final: Por que existe alguma
coisa? Por que não nada?” [...] As pró prias cosmovisõ es, mesmo que só
tacitamente, sã o uma resposta para o problema da existência e
significado do mundo, e no mínimo esboçam uma resposta subliminar
para a questão última da existência (NAUGLE, 2017, p. 81)
FRIEDRICH WILHELM JOSEPH VON SCHELLING (1775-1854)

O significado de cosmovisã o muda em Schelling, que lhe empresta seu


significado mais corriqueiro de “uma maneira autorrealizada, produtiva e
consciente de apreender e interpretar o universo dos seres” [..] “a
atividade principal de toda a filosofia consiste em resolver o problema da
existência do mundo” [...] uma resposta para a questão existencial que
Heidegger tomara e desenvolvera como o tema do seu Ser e tempo: “Só ele, o
homem, impeliu-me à desesperada questã o final: Por que existe alguma
coisa? Por que não nada?” [...] As pró prias cosmovisõ es, mesmo que só
tacitamente, sã o uma resposta para o problema da existência e
significado do mundo, e no mínimo esboçam uma resposta subliminar
para a questão última da existência (NAUGLE, 2017, p. 81)
FRIEDRICH WILHELM JOSEPH VON SCHELLING (1775-1854)

“A inteligência é de dois tipos: ou cega e inconsciente, ou livre e com


consciência produtiva; a inconsciência produtiva numa cosmovisã o, com
consciência na criaçã o de um mundo ideal”. [161] Assim, Weltanschauung é
o produto de um intelecto inconsciente. Ela se refere a impressões
subterrâneas sobre o mundo concebidas por uma mente anestesiada,
embora funcional. Por outro lado, o intelecto que produz um “mundo ideal”
está plenamente ciente das suas operaçõ es e conteú do. Assim, desde o seu
nascimento em Kant até a sua utilizaçã o por Schelling, o significado
primário do termo mudou de uma percepção sensorial para uma
percepção intelectual do cosmo (NAUGLE, 2017, p. 82)
GEORG WILHELM FRIEDRICH HEGEL (1770-1831)

Weltanschauung [...] um produto cognitivo do Espírito Absoluto no processo


histó rico [...] carrega a força de uma perspectiva prá tica sobre a vida, uma atitude
consciente que é permeada pela tensã o da preocupaçã o e da obrigaçã o moral [...]
“modos de viver e olhar para o Universo” [...] um termo adequado para se referir a
vários estilos de pensamento sobre a natureza da existência, compartilhado
em uma nacionalidade ou etnicidade em comum e influente sobre o intellectus
de um indivíduo em particular [...] “Como homem, a religiã o lhe é essencial, nã o
um sentimento estranho à sua natureza. Contudo, a questã o essencial é a relaçã o
da religiã o com a sua [do homem] teoria geral do Universo [Weltanschauung], e é a
isso que o conhecimento filosó fico se conecta e sobre o qual essencialmente opera.”
(NAUGLE, 2017, p. 90)
GEORG WILHELM FRIEDRICH HEGEL (1770-1831)

[...] o desenvolvimento do fluxo do Espírito manifestado simultaneamente numa


Weltanschauung e na arte que a expressa [...] desenvolvimento espiritual e
universal, visto que a sequência de concepçõ es definidas de mundo
[Weltanschauungen], como a consciência definida, mas abrangente, da natureza, do
homem e de Deus, confere a si mesma uma forma artística” [...] uma cosmovisã o
e sua expressã o na arte serã o diferentes em diferentes épocas histó ricas: “a arte
que expressa uma cosmovisã o difere da que expressa outra cosmovisã o: a arte
grega como um todo difere da arte cristã como um todo. A sequência de diferentes
religiõ es dá origem a uma sequência de diferentes formas de arte” [...] A arte é
invocada para representar “a essência interior do conteú do” de um dado período
[...] Para Hegel, a vocação da arte é exibir o espírito da época. As formas de ver o
mundo sã o tecidas na arte e reveladas por ela. [204](NAUGLE, 2017, p. 91)
GEORG WILHELM FRIEDRICH HEGEL (1770-1831)

[...] as cosmovisõ es sã o fenô menos do Espírito Absoluto na dialética da


histó ria. Antropologicamente, elas se tornam os humores, as percepçõ es,
atitudes e estados da consciência humana, como estruturas da realidade
[...] devem ser distinguidas da filosofia e da religiã o, e sã o mantidas
individual e corporativamente pela estrutura política [...] cosmovisõ es
mantêm uma importante relaçã o com a arte, que serve muitas vezes de meio
pelo qual as vá rias visõ es de vida se manifestam e sã o promovidas.(NAUGLE,
2017, p. 90)
SØREN KIERKEGAARD (1813-1855)
[...] A visã o de vida enfatiza o dever e a importâ ncia do indivíduo de compreender a si
mesmo, tanto suas “premissas” como suas “conclusõ es”, sua condicionalidade e sua
liberdade. Cada homem deve responder por si mesmo sobre o significado da vida, e,
portanto, não pode tomar partido do espírito da época, que tão prontamente
responderá em favor dele. Em adiçã o, a visã o de vida, assim como a filosofia de vida,
desafia a filosofia acadêmica estabelecida que é desenvolvida exclusivamente a
partir do pensamento. A nova filosofia que Kierkegaard sugere pela sua ênfase na visã o
de vida, e a definiçã o que faz dela, nã o é mais um pensamento desvinculado, mas uma
reflexã o sobre o significado da experiência e, por conseguinte, sua articulaçã o numa
visã o coerente. A visã o de vida nã o deve ser o ú nico aspecto do novo filosofar, mas, em
vez disso, encontrará seu lugar no centro da busca pela sabedoria, papel que a filosofia
uma vez arrogou a si (NAUGLE, 2017, p. 93)
SØREN KIERKEGAARD (1813-1855)
[...] A visã o de vida enfatiza o dever e a importâ ncia do indivíduo de compreender a si
mesmo, tanto suas “premissas” como suas “conclusõ es”, sua condicionalidade e sua
liberdade. Cada homem deve responder por si mesmo sobre o significado da vida, e,
portanto, não pode tomar partido do espírito da época, que tão prontamente
responderá em favor dele. Em adiçã o, a visã o de vida, assim como a filosofia de vida,
desafia a filosofia acadêmica estabelecida que é desenvolvida exclusivamente a
partir do pensamento. A nova filosofia que Kierkegaard sugere pela sua ênfase na visã o
de vida, e a definiçã o que faz dela, nã o é mais um pensamento desvinculado, mas uma
reflexã o sobre o significado da experiência e, por conseguinte, sua articulaçã o numa
visã o coerente. A visã o de vida nã o deve ser o ú nico aspecto do novo filosofar, mas, em
vez disso, encontrará seu lugar no centro da busca pela sabedoria, papel que a filosofia
uma vez arrogou a si (NAUGLE, 2017, p. 93)
SØREN KIERKEGAARD (1813-1855)

[...] Uma visã o de vida é mais que uma ideia pura ou soma de proposiçõ es mantidas
em neutralidade abstrata; é mais que a experiência que, como tal, é sempre
atomística; é, em outras palavras, a transubstanciação da experiência, uma
certeza inabalável que uma pessoa tem, alcançada por toda a experiência [dela]
— a visã o de vida ou se torna familiarizada com todas as relações mundanas (um
mero ponto de vista humano, por ex., o estoicismo), que ao fazê-lo se torna alheia a
uma experiência mais profunda — ou, voltada para o céu (o religioso), encontra nisso
o que é crucial tanto para a sua existência celestial como terrena, alcançando a
verdadeira convicçã o de que “nem morte nem vida, nem anjos nem demô nios, nem o
presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem
qualquer outra coisa na criaçã o será capaz de nos separar do amor de Deus que está
em Cristo Jesus, nosso Senhor” (NAUGLE, 2017, p. 93)
SØREN KIERKEGAARD (1813-1855)

[...] “Se agora perguntarmos como uma visã o de vida surge, responderemos que para
aquele que não permite a sua vida fracassar, mas, tanto quanto possível, tenta
equilibrar os eventos individuais na vida — para ele deve chegar necessariamente um
momento de iluminação incomum sobre a vida, sem que tenha precisado compreender
todas as possíveis especificidades para o subsequente entendimento de que ele,
entrementes, tem [venha a ter] a chave: quero dizer, deve chegar o momento em que a
vida será entendida retroativamente por meio da Ideia” [...] Aqui, uma visã o de vida é
descrita como uma “iluminação incomum sobre a vida” que é concedida num momento
kairos na experiência de uma pessoa. Isso não consiste de uma compreensão de tudo,
mas, antes, fornece a chave (isto é, a estrutura ou esboço) pela qual todas as coisas podem
ser realmente entendidas. Embora a vida se mova para o futuro, ela só pode ser entendida
retroativamente, e a posse de uma visã o de vida — a Ideia — é o meio para a iluminaçã o
pú blica e privada. ” (NAUGLE, 2017, p. 95)
SØREN KIERKEGAARD (1813-1855)

[...] Você nã o acha que ser pai requer que se tenha alcançado a maturidade de
realmente ter uma visão de vida da qual se ousa dar testemunho e ousa
recomendar ao próprio filho quando, com o direito que tem de ser criança e de
dever a você a própria vida, ele lhe pergunta do sentido da vida? Ou supondo que
aquilo de que a natureza se encarrega, leite materno etc., ocorre ser da mulher a tarefa
especial de cuidar — nã o seria repulsivo querer ser uma mã e para satisfazer o desejo
pessoal, mas nã o ter à disposiçã o o que a criança precisa? Mas o filho tem o direito
de exigir uma visão de vida do pai e que este realmente tenha uma visão de vida
[...] [...] “A soluçã o é uma visã o de vida religiosa construída sobre pressupostos éticos
[...] A visã o religiosa nã o substitui as esferas anteriores da existência, mas a todas
absorve e redime. Assim, nos estágios ao longo dos caminhos da vida, a visão de
vida religiosa é final e inclui todas as coisas (NAUGLE, 2017, p. 97)
WILHELM DILTHEY (1833-1911)

As reflexõ es de Dilthey sobre a cosmovisã o eram parte da sua tentativa geral de


formular uma epistemologia objetiva para as ciências humanas, a exemplo do
que fez Immanuel Kant para as ciências naturais [...] “Toda verdadeira
cosmovisã o”, argumentou Dilthey, “é uma intuiçã o que emerge de um “estar-em-
meio-à -vida [...] O papel bá sico de uma cosmovisã o é “apresentar o
relacionamento da mente humana com o enigma do mundo e da vida”. Essas
soluções mudam com a pessoa e com o tempo [...] “A raiz fundacional de
qualquer cosmovisã o é a própria vida” [...] cada cosmovisã o específica é
moldada pelo cará ter e temperamento de cada pessoa [...] mas há uma estrutura
comum à sua vida psicoló gica [...] “a certeza da morte, a crueldade do processo
natural, uma transitoriedade em geral” [...] Sã o as inescapáveis realidades
vividas, os enigmas da vida, que uma cosmovisã o soluciona (SIRE, 2012, p. 31)
WILHELM DILTHEY (1833-1911)

O enigma da existência encara todas as eras da humanidade com o mesmo


semblante misterioso; nós avistamos suas características, mas temos de
adivinhar a alma por detrás dela. Esse enigma sempre está ligado
organicamente ao do mundo em si e com a pergunta do que devo, afinal, fazer
neste mundo, por que estou nele e como minha vida findará nele. De onde eu
vim? Por que existo? O que será de mim? Esta é a pergunta mais geral de todas
e a que mais me preocupa. A resposta a ela é buscada em comum tanto pelo
gênio poético, pelo profeta como pelo pensador (NAUGLE, 2017, p. 95)
WILHELM DILTHEY (1833-1911)

O papel bá sico de uma cosmovisã o é “apresentar o relacionamento da


mente humana com o enigma do mundo e da vida”. Essas soluções
mudam com a pessoa e com o tempo [...] “A raiz fundacional de
qualquer cosmovisã o é a própria vida” [...] cada cosmovisã o
específica é moldada pelo cará ter e temperamento de cada pessoa [...]
mas há uma estrutura comum à sua vida psicoló gica [...] “a certeza
da morte, a crueldade do processo natural, uma transitoriedade
em geral”. [13] Sã o as inescapáveis realidades vividas, os enigmas
da vida, que uma cosmovisã o soluciona (SIRE, 2012, p. 31)
WILHELM DILTHEY (1833-1911)

Cosmovisã o, assim, é a estrutura modeladora do nosso pró prio eu


autô nomo. Vemos o que nó s vemos. Entendemos o que nó s
entendemos. Embora Dilthey sustentasse que há uma natureza
humana em comum e uma realidade em comum, nã o é menos
verdade que a nossa cosmovisão é nossa, uma cosmovisã o que pode
ser mantida em comum com os outros, mas apenas porque sã o
como nó s (SIRE, 2012, p. 32)
WILHELM DILTHEY (1833-1911)

“As cosmovisõ es se desenvolvem sob diferentes condiçõ es, ambientes,


raças, nacionalidades; sã o determinadas pela histó ria e através da
organizaçã o política, nos limites temporais de épocas e eras” [...]
Assim, há uma multiplicidade de cosmovisões. “Em resumo, as
cosmovisõ es brotam da totalidade da existência psicológica
humana, intelectualmente na cognição da realidade, afetivamente
na valorização da vida e volitivamente no exercício ativo da
vontade”. [17] A meta de tudo isso é a estabilidade — uma soluçã o
para os enigmas da vida que fornece um modo de pensar e agir no
mundo de forma bem sucedida (SIRE, 2012, p. 32)
WILHELM DILTHEY (1833-1911)
Uma cosmovisã o começa como um “quadro có smico” e, entã o, de uma
complexa inter-relaçã o da consciência humana com o mundo
externo, emerge um senso mais sofisticado e detalhado de quem
somos e da natureza do que existe à nossa volta. A isso se soma um
crescente senso de valores. Na medida em que camadas sobre
camadas de consciência vã o surgindo, a pessoa finalmente encontra
no nível mais elevado “uma ordem mais elevada de nosso
comportamento prático — um plano abrangente de vida, um bem
mais elevado, as normas mais elevadas de açã o, um ideal de
modulação da vida pessoal bem como da sociedade” (SIRE, 2012, p.
31).
FRIEDRICH NIETZSCHE (1844- 1900)
Para Nietzsche, a histó ria intelectual nã o é a estó ria em
desenvolvimento de como as pessoas se aproximam cada vez mais da
verdade da realidade. Antes, é uma estória de ilusões mutantes. Que é
então a verdade? Um exército móvel de metáforas, metonímias e
antropomorfismos — numa palavra, uma soma de relações humanas que
foram intensificadas, transpostas e adornadas poética e retoricamente, e
que depois de longo uso parecem fixas, canônicas e obrigatórias às
pessoas: as verdades são ilusões que foram esquecidas enquanto tais;
metáforas que foram gastas e ficaram vazias de sentido; moedas que
perderam seu cunho e valem agora apenas como metal, não mais como
moedas.(SIRE, 2012, p. 31).
FRIEDRICH NIETZSCHE (1844- 1900)

“Um total perspectivismo é encontrado no â mago da filosofia de


Nietzsche”. Nietzsche via toda cosmovisã o como um produto de seu
tempo, lugar e cultura [...] acredita que cosmovisõ es sã o entidades
culturais das quais as pessoas numa dada localidade geográ fica e num
dado contexto histó rico dependem, à s quais se subordinam e das quais
são produtos [...] para seus proponentes, cosmovisão é algo
incontestável e fornece o conjunto final de padrõ es pelos quais as coisas
sã o medidas. Ela fornece o critério para todo pensamento e produz um
entendimento bá sico do verdadeiro, do bom e do belo (SIRE, 2012, pp.
33-35)
FRIEDRICH NIETZSCHE (1844- 1900)

Cosmovisõ es nã o passam de reificações. Sã o as criações subjetivas


de conhecedores humanos em contextos sociais formativos que
imputam a sua visã o à natureza, a Deus, à lei ou a alguma outra
suposta autoridade. Mas esses conhecedores se esquecem de que sã o
os criadores do seu próprio modelo de mundo. A suposta “verdade”
de uma cosmovisã o é apenas uma convenção estabelecida ― o
produto de costumes e hábitos linguísticos (SIRE, 2012, pp. 33-35)
FRIEDRICH NIETZSCHE (1844- 1900)

Como tal, a concepçã o de cosmovisã o de Nietzsche nã o é uma exceçã o.


O que é significativo é a sua insistência radical que todas as
cosmovisões são relativas a seu tempo, lugar e circunstância. Em
alguns aspectos, o historicismo de Nietzsche nã o difere daquele
descrito por Dilthey, mas em Dilthey se percebe um anseio por
estabilidade que é totalmente ausente em Nietzsche, que, ao
contrá rio, toma para si o controle de um trem que, entrando num
tú nel, jamais virá à luz. Com a vontade de Nietzsche sendo o farol, o
trem mergulha cada vez mais fundo em uma inexistência cavernosa
(SIRE, 2012, pp. 33-35)
LUDWIG WITTGENSTEIN (1889-1951)

“Ao passo que Platão defendia a ontologia e Descartes apresentava a


epistemologia como preocupação primária, Wittgenstein lançava a
gramática e a linguagem como princípios reguladores”. [...] Em resumo,
Wittgenstein rejeitava a validade de qualquer cosmovisão como tal, pois
toda e qualquer cosmovisão aspira ao que é impossível — uma
compreensão intelectual da realidade como ela realmente é. O que temos
em vez disso é “uma abordagem para o mundo que consiste em modelos
inverificáveis da vida, da linguagem, da cultura e do significado” (SIRE,
2012, pp. 35-37)
LUDWIG WITTGENSTEIN (1889-1951)

Colocando de outra forma, Wittgenstein rejeita a noção de que uma pessoa


pode ter conhecimento sobre qualquer realidade não linguística. Em outras
palavras, Wittgenstein não tem nenhuma “visão” de ontologia (“o que é”) ou
epistemologia (“como alguém pode saber”); tem apenas uma hermenêutica
(“como alguém pode entender e usar a linguagem”). Talvez possamos afirmar
a cosmovisão de Wittgenstein (ainda que ele não chamasse isso de
cosmovisão) da seguinte forma: Cosmovisão é um modo de pensar sobre a
realidade que rejeita a noção de que uma pessoa pode ter “conhecimento” da
realidade objetiva (isto é, conhecer qualquer “verdade” sobre qualquer
realidade não linguística) e limita, assim, a realidade cognoscível à linguagem
que a pessoa considera útil para obter o que deseja.” (SIRE, 2012, pp. 35-37)
MICHEL FOUCAULT (1926-1984)

usa os termos episteme e cosmovisão às vezes em contraste, às vezes quase


como sinônimos [...] Ele escreve: “A episteme pode ser imaginada como algo
parecido com uma cosmovisão, uma fatia da história comum a todos os ramos
do conhecimento, impondo a cada um destes as mesmas normas e postulados,
um estágio geral da razão, certa estrutura de pensamento da qual os homens
de uma época particular não podem escapar — um grande corpo de legislação
escrita definitivamente por alguma autoridade autônoma”. [28] Uma episteme
envolve “um conjunto inescapável de regras e regulamentos, um modo de
raciocinar, um padrão de pensamento, um corpo de leis que geram e governam
todos os padrões do conhecimento” (SIRE, 2012, pp. 38-39)
MICHEL FOUCAULT (1926-1984)

A “verdade” deve ser entendida como um sistema de procedimentos


ordenados para a produção, regulação, distribuição, circulação e operação de
declarações. A “verdade” está ligada a uma relação circular com sistemas de
poder que a produzem e a sustentam e aos efeitos do poder que ela induz e
que a ampliam. Um “regime” da verdade [...] “Em termos céticos foucaultianos,
cosmovisões são meramente construções linguísticas de uma elite de poder.
São as fachadas de uma realidade ausente e funcionam como meios eficazes
de opressão social” [...] Ou, em outras palavras, “Cosmovisões são nada mais
que pseudo interpretações de uma realidade última revestidas de um
poderoso traje linguístico” (SIRE, 2012, pp. 38-39)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CLARK. Gordon H. Três tipos de filosofia religiosa. Brasília,


Distrito Federal: Editora Monergismo, 2013.

MORELAND. J. P.; CRAIG, William Lane. Filosofia e cosmovisão


cristã. Sã o Paulo: Vida Nova, 2005.

MORELAND. J. P. Ensaios apologéticos: um estudo para a


cosmovisão cristã. Sã o Paulo: Hagnos, 2006.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

NAUGLE, David K. Cosmovisão: a história de um conceito.


Brasília, DF: Editora Monergismo, 2017.

NASH, Ronald. Questões últimas da vida: uma introdução à Filosofia. Sã o


Paulo: Cultura Cristã , 2008.

SIRE, James W. Dando Nome ao Elefante. Brasília, DF: Editora Monergismo,


2012.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SIRE, James W. O Universo ao Lado: A Vida Examinada, Um


Catálogo Elementar de Cosmovisões. Sã o Paulo: Editora United
Press.

Você também pode gostar