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Polinização: Análise sob a perspectiva de redes de

interação

Grace Anne Coelho Ferreira

Manaus, 2024
POLINIZAÇÃO BIÓTICA
• As comunidades biológicas são complexas e dinâmicas¹.

• A polinização biótica é uma interação essencial para a reprodução de grande proporção das
angiospermas e também é um importante serviço ecossistêmico 2,3.

Fonte: conexaoplaneta.com.br

Fonte: meusanimais.com.br
Foto: Marcelo Cavalcante
2
1. Souza et al. 2018; 2. Ricklefs, 2010; 3. Yamamoto et al. 2010.
POLINIZAÇÃO BIÓTICA
• A polinização por animais tem caráter mutualista¹.

• Abelhas se destacam dentre os polinizadores, dada a grande dependência dos recursos florais
para sua sobrevivência2.

ABELHAS3 :
PLANTAS4 :
Pólen, néctar e/ou óleos:
Número de sementes formadas.
Alimentação.
Dispersão dos gametas masculinos.
Manter as atividades no
Taxa de fecundação cruzada.
ninho.

3
1. Machado et al. 2005 ; 2. James e Pitts-Singer, 2008; 3. Ferreira, 2015; 4. Pinheiro, 2014.
RELAÇÕES NÃO BENÉFICAS
• Existem também as interações entre animal e planta que não são benéficas para
algum dos envolvidos:

Fonte: livescience.com
Fonte: researchgate.net
Orquídea Satyrium pumilum
Abelha roubando néctar da flor.
atrai moscas carnívoras imitando
cheiro de carniça.

A pilhagem ou roubo consiste em A polinização por engodo consiste


animais que coletam recursos em uma planta que produz imitação
ofertados pelas plantas, mas não química, tátil ou visual de um
promovem a polinização¹. recurso, atraindo o agente
polinizador2,3.
1. Milet-Pinheiro, 2006; 2. Inouye, 1980; 3. Pinheiro 2014
4
REDES DE INTERAÇÕES

• Ampla abordagem da ação dos polinizadores, mas só nas últimas


décadas vem crescendo o uso das redes de interações¹.

• As redes utilizam métricas que avaliam quantitativamente a

Fotos: S. Griffin/conservationcorridor.org/
estruturação e funcionalidade das espécies dentro da
comunidade¹.

• O nível de especialização ou generalização podem diferir no


tempo, de acordo com alterações na composição e abundância
das espécies2 .

5
1. Olesen et al. 2008; 2. Petanidou et al. 2008.
REDES DE INTERAÇÕES¹

• O registro das interações pode ser obtido a


partir de visitação floral e de transporte de
pólen.

Fonte: sobrevivaemsaopaulo.com.br
• A análise polínica amplia o espectro temporal,
fornecendo o histórico de visitas.

• Também modifica a escala espacial de


amostragem, maior que a estipulada na
observação focal.

6
1. Ribeiro et al. 2018.
DECLÍNIO DE POLINIZADORES

• O declínio de polinizadores pode levar a interrupção e ao colapso das interações planta-


polinizador¹.

• Esse fator afeta negativamente plantas e polinizadores 2.


‾ Sucesso reprodutivo.
‾ Disponibilidade de recursos.

• Além disso, em cultivos agrícolas, o manejo agrícola convencional em grandes áreas, também
podem influenciar negativamente redes locais de interação¹.

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1. Ferreira et al. 2013;2. Moreira et al. 2015.
CENÁRIO AGRÍCOLA

• Aumento do uso de agroquímicos contribuem


com mudanças locais na diversidade e
abundância de polinizadores¹.

• Efeitos negativos associados à perda de


biodiversidade são diretamente relacionados

Fonte: beeornottobe.com.br
a prejuízos econômicos2,3 .
⁻ Diminuição ou perda de produtividade.

8
1. Potts et al. 2010; 2. Gallai et al. 2009; 3. Roubik, 2002.
PRÁTICAS AMIGÁVEIS

O que são práticas amigáveis


aos polinizadores?

• Consistem em ações que favorecem a


atração e permanência de polinizadores,

Foto: Evett Kilmartin / ucanr.edu


utilizadas principalmente em cultivos
agrícolas1,2,.

9
1. Maia et al. 2012; 2. Carvalheiro et al. 2012; Ferreira, 2015.
PRÁTICAS AMIGÁVEIS

Fonte: alexuchoa.com.br
• Pequenas áreas de flora nativa próximo a
cultivos de mangas, aumentam a
abundância e diversidade de visitantes
nessa cultura¹.

• Plantas que fornecem recursos aos


polinizadores quando o cajueiro não está
florescendo, competem com ele pelos

Foto: Ricardo Moura / embrapa.com


mesmos polinizadores durante o seu
florescimento².

10
1. Carvalheiro et al. 2012; 2. Freitas et al. 2014.
• Espécies de interesse econômico-ecológico na Amazônia:
Myrciaria dubia (Myrtaceae) camu-camu

• Alto potencial econômico do fruto:


• importância na alimentação, com grandes concentrações de ácido
ascórbico (1600 a 2900 mg/100g), β-carotenos, compostos
fenólicos, alguns aminoácidos e minerais¹.

Fonte: Divulgação/Embrapa
• A partir da polpa:
• sucos, sorvetes, licores, alguns doces e até pratos mais
elaborados².

• Possui ação antioxidante


• cremes hidratantes, shampoos, condicionadores e diversos
cosméticos³.

11
1. Barros et al. 2018; 2. Teixeira et al. 2004; 3. Silva e Oliveira, 2018
DISTRIBUIÇÃO
• No Brasil é encontrado nos estados de Roraima, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia e Mato
Grosso¹.

12
1. Maués e Couturier, 2002.
CAMU-CAMU EM IGAPÓ
Regiões alagadas por rios de águas pretas
recebem a denominação local de igapó4

• Ocorre naturalmente em ambientes


alagados e se desenvolve bem em
igapó1.

• Esses locais passam por inundações


periódicas de 50 a 270 dias por ano2.

• Devido as características hidrológicas


sazonais, abriga animais e plantas com

Foto: Cristiane Krug


mecanismos para tolerar tal condição3.

13
1. Maués e Couturier, 2002 ; 2. Ferreira et al. 2005; 3. Gama et. al 2005; 4. Junk et al. 2011.
CAMU-CAMU EM TERRA FIRME
Regiões não alagadas recebem a
denominação de terra firme3

• O camu-camu foi introduzido em cultivos de


terra firme¹.

• Esse ecossistema é caracterizado pela


heterogeneidade florística2.

• A mudança na comunidade de plantas são


decisivas para o entendimento preditivo de

Foto: Cristiane Krug


interações polinizador-planta2.

14
1. Silva e Oliveira, 2018; 2. Walter, 2020; 3. Junk et al. 2011.
CARACTERÍSTICAS BOTÂNICAS
• Camu-camu é constituído de arbustos com até 7 m¹.
• Flores: hermafroditas, polistêmones, pétalas brancas, aromáticas,
ovário ínfero²;
• Antese ocorre aproximadamente as 05:00 h²;
• Pólen pequeno com superfície granulosa e seca².

Fotos: Cristiane Krug


A B C
Morfologia de camu-camu. A: Botões Florais; B: botões florais e flor aberta; C: Indivíduo adulto.

15
1. Barros et al. 2018; Maués e Couturier, 2002.
CARACTERÍSTICAS BOTÂNICAS
• O fruto1:
tem 10 a 32 mm de diâmetro;
tipo baga;
formato arredondado;
tonalidade de vermelho a púrpura quando maduro;

• Existe variabilidade no período de frutificação.


Chuva e temperatura.
A

• Em cultivo não não há influência do nível das águas e a


produção é mais extensa.

Fotos: Cristiane Krug


B
Frutos de camu-camu em diferentes estágios
de desenvolvimento. A: Frutos Verdes; B: 16
1. Barros et al. 2018. Frutos Maduros.
CAMU-CAMU (Myrciaria dubia (KUNTH) MCVAUGH) E
SEUS POLINIZADORES: PRODUTIVIDADE,
DIVERSIDADE E INTERAÇÕES NA AMAZÔNIA
CENTRAL, BRASIL

17
ÁREAS DE ESTUDO
A: Igapó (nativo) na Chácara Mariju, Iranduba B: Terra firme (cultivo) na KXK Agroindústria, Manacapuru

Mapa das regiões de estudo do camu-camu na AM-070.


18
IGAPÓ

Fotos: Cristiane Krug


Localização da população nativa de camu-camu,
B demarcada
em amarelo, na Chácara Mariju em Iranduba. A: Período de
seca; B: Período de cheia.
B
19
TERRA FIRME

Foto: Cristiane Krug


B
Localização do cultivo de camu-camu, demarcado em amarelo, na KXK Agroindústria em Manacapuru.

20
21
COLETA DE DADOS
Coleta dos visitantes florais e polinizadores de camu-camu

• Foram realizadas coletas mensais de visitantes florais de M. dubia em terra firme e


igapó entre Setembro/2018 e Setembro/2019.

• No auge da floração foram realizadas 5 coletas adicionais em cada área.

• Em cada evento de coleta foram amostrados os visitantes de duas plantas, cada


uma por uma dupla de coletores, totalizando 68 coletas.

22
1. Lima, 2009

COLETA DE DADOS
• 2 plantas floridas na área de estudo tiveram os visitantes florais coletados durante 15
minutos a cada meia hora, entre 06:00 e 10:00 h¹.

06:00 – 06:15 h
06:30 – 06:45 h
07:00 – 07:15 h
07:30 – 07:45 h
08:00 – 08:15 h
08:30 – 08:45 h
09:00 – 09:15 h
09:30 – 09:45 h

23
COLETA DE DADOS
Acondicionamento
individual em Posteriormente
Captura dos visitantes com rede eppendorf e foram
entomológica. submetidos a devidamente
vapores de acetato etiquetados.
de etila.

Foto: Grace Ferreira


Foto: Grace Ferreira
Foto: Cristiane Krug

24
COLETA DE DADOS
Insetos montados
Pólen Identificação por
Remoção do pólen em alfinete
acondicionado equipe
entomológico e pré-
do corpo do em eppendorf
classificados com
especializada do
visitante. com 1ml de curador Dr. Marcio
auxílio de literatura Oliveira do INPA.
álcool.
específica1,2.

Fotos: Grace Ferreira


25
1. Silveira et al. 2002; 2. Michener, 2000
ANÁLISE DE DADOS
A B C D E
Análises palinológicas
• Amostras de pólen do corpo das
F G H
abelhas coletadas no auge da
floração.

• Amostras de pólen de 71 espécies


vegetais foram acetolisadas e os tipos I J L
polínicos fotografados.

• Identificação:
• Projeto POLINET (EMBRAPA); RCPol.
B Exemplos de tipos polínicos amostrados.
A: Myrciaria dubia (Myrtaceae); B: Eugenia sp. (Myrtaceae);
C: Emilia sp. (Asteraceae); D: Clidemia sp. (Melastomataceae); E: Byrsonyma sp.
(Malpighiaceae); F: Stigmaphylon sp. (Malpighiaceae); G: Xylopia sp. (Annonaceae); H:
Borreria sp. (Rubiaceae); I: Stachyarrhena sp. (Rubiaceae) ); J: Croton sp. (Rubiaceae);
L: Euphorbia sp. (Euphorbiaceae).

26
ANÁLISE DE DADOS

• Os dados de indivíduos coletados nas flores geraram uma matriz


de dados.
R Program¹

• Os dados binários (presença/ausência) de pólen encontrado no


corpo dos visitantes geraram uma matriz de dados.

27
1. R Development Core Team, 2012.
ANÁLISE DE DADOS

• A partir dos dados:


⁻ Tamanho da rede de polinizadores: Número de nós e conexões ocorridas
entre as espécies;
⁻ Número de conexões possíveis: Total de interações que podem acontecer na R Program¹
rede;
⁻ Conectância: razão entre o número de interações interespecíficas existentes
e o número total dessas interações possíveis²;
⁻ Aninhamento (padrão estrutural): métrica onde se nota uma progressão de
conjuntos inclusivos²;
⁻ H2 (especialização complementar): Avalia o quanto as interações de cada
espécie diferenciam-se das outras na rede de interação e varia de 0 (todas as
abelhas interagindo com asBmesmas plantas) a 1 (cada abelha interagindo
com um subconjunto de plantas).

28
1. R Development Core Team, 2012; Lewinsohn et al. 2006.
MAS COMO EU MONTO UMA REDE DE INTERAÇÕES? POR ONDE COMEÇAR?
Scaptotrigona sp 1

Croton lundianos

29
RESULTADOS

CAMU-CAMU E ENTORNO
Igapó (nativo) Terra firme (cultivo)
1802 2835
TOTAL: 4637

• 4412 abelhas:
• 104 espécies (Colletidae, Halictidae e Apidae).

• Halictidae e Apidae são as mais representativas em outras regiões do Brasil¹.

• Outros insetos: Coleoptera, Diptera, Hymenopotera e Lepidoptera.

30
1. Pinheiro-Machado et al. 2002
RESULTADOS
NATIVO 40
CULTIVO 900
40 900
35 800
35 800
700
700 30
30
600 600
25 25

nº de indivíduos
nº de indivíduos
nº de espécies

nº de espécies
500 500
20 20
400 400
15 15
300 300
10 10
200
200
5 100 5 100
0 0
S O N D J F M A M J J A S 0 0
S O N D J F M A M J J A S

Riqueza Abundância
Riqueza Abundância

• Diferenças na comunidade de abelhas em população nativa e cultivo.

• Maior riqueza e abundância de abelhas em cultivo.

• Maior atividade das abelhas coincide com a floração do camu-camu. 31


RESULTADOS
ABUNDÂNCIA
• População nativa de camu-camu e vegetação
adjacente:
– Scaptotrigona nigrohirta (9,98%)
– Trigona williana (6,69%)
– Melipona (Michmelia) seminigra merrillae (4,24%)
– Trigona guianae (3,72%).
– Apis mellifera (3,24%).

Foto: Cristiane Krug


• Cultivo de camu-camu e vegetação adjacente:
– Apis mellifera (21,21%).
– Melipona (Michmelia) seminigra merrillae (7,96%).
– Frieseomelitta longipes (6,64%).

32
REDES QUANTITATIVAS DE VISITAÇÃO

33
Scaptotrigona sp 1

Croton lundianos

34
RESULTADOS

Valores e Métricas Nativo Cultivo


Espécies plantas (p) 34 35
Espécies abelhas (a) 68 70
Tamanho da rede 213 263
Conexões Possíveis (m) 2312 2450
Conectância 0,092 0,106
Aninhamento 4,16 7,52
H2’ 0,521 0,323
Similaridade Abelhas (j) 0,336
Similaridade Plantas (j) 0,123

35
RESULTADOS

• Conectância maior para ambiente natural, com maior número de


espécies interagindo entre si.

36
1. Lewinsohn et al. 2006
RESULTADOS
• O padrão de estruturação aninhada foi o mesmo em ambas as redes,
plantas com menos interações tenderam a estar ligados às espécies
de abelhas que interagiram com muitas espécies de plantas.

37
REDES QUALITATIVAS DE PÓLEN

38
Scaptotrigona sp 1

39
RESULTADOS

• Em ambiente nativo Trigona williana teve maior frequência de diferentes tipos


polínicos.
• Visitantes se utilizam de características florais como cor, odor, tamanho e padrões para
definir as recompensas, como o pólen¹, atraídos por diferentes plantas.
• Outras espécies do gênero tem comportamento de pilhadoras², o que contribui para alta
diversidade de pólen.

• Em cultivo Apis mellifera teve maior frequência de diferentes tipos polínicos.

40
1. Novais et al. 2014; 2. Oda e Oda, 2007; 3. Ramalho et al. 1990.
CONCLUSÃO

• O camu-camu é um importante recurso floral para as abelhas da região Amazônica, tanto


em ambiente natural quanto cultivado, mas não é o único recurso utilizado pelas abelhas.

• As redes de interação apresentarem propriedades semelhantes entre área cultivada e


natural, mas houve uma diferença importante nas espécies mais frequentes.

41
AGRADECIMENTOS E FONTES DE FINANCIAMENTO

Projeto PoliNet - Redes de Interação de


Abelhas com Frutíferas do Norte e
Nordeste

42
OBRIGADA!
graceanne7@gmail.com

43

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