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A LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE


e seus reflexos nos procedimentos correcionais.

FABRÍCIO COLOMBO
CONTEXTUALIZAÇÃO

CRIAÇÃO DA CGE/SC - LC n° 741/2019


 Compõe estrutura do Gabinete do Governador do
Estado;
 órgão central do Sistema Administrativo de
Controle Interno e Ouvidoria;
 organização, estruturação, funcionamento e
competências disciplinadas em lei específica.
CRIAÇÃO DA CGE/SC

Lei Complementar n° 741/2019, atribuições (Art. 25):

• I-tomar as providências necessárias à defesa do


patrimônio público, ao controle interno, à auditoria
pública, à correição, à prevenção e ao combate à
corrupção, às atividades de ouvidoria e ao incremento da
transparência da gestão no âmbito da Administração
Pública Estadual;
• II – instaurar procedimentos e processos administrativos a
seu cargo, constituindo comissões para seu devido
acompanhamento;

• III – realizar inspeções e avocar procedimentos e


processos em curso na Administração Pública Estadual,
para exame de sua regularidade, bem como propor
providências ou correção de falhas;

• IV – requisitar dados, informações e documentos relativos


a procedimentos e processos administrativos já
arquivados por autoridade da Administração Pública
Estadual;
• V – requisitar a órgão ou entidade da Administração
Pública Estadual informações e documentos necessários a
seus trabalhos ou suas atividades;

• VI – propor medidas legislativas ou administrativas e


sugestão de ações para evitar a repetição de
irregularidades constatadas;

• VII – receber reclamações relativas à prestação de


serviços públicos em geral e apurar o exercício negligente
de cargo, emprego ou função na Administração Pública
Estadual, quando não houver disposição legal que atribua
competências específicas a outros órgãos;
• VIII – coordenar o Sistema de Controle Interno do Poder
Executivo Estadual; e

• IX – executar as atividades de controladoria no âmbito da


Administração Pública Estadual.
MARCO REGULATÓRIO CORREICIONAL PRINCIPAL

• CRFB/88 e CESC/89;

• Lei nº 6.745/85 (Estatuto dos servidores - Dto. Material Geral);

• Lei Complementar nº 491/10 (Dto. Processual – agentes públicos


em geral);

• Lei Complementar nº 741/19 (Estrutura básica da administração


estadual – art. 25 - CGE);
MARCO REGULATÓRIO CORREICIONAL PRINCIPAL

• Lei Estadual nº 6.843/86 ( Estatuto da Polícia Civil de SC);

• Lei Estadual nº 6.844/86 ( Estatuto do Magistério de SC);

• Lei Complementar nº 323/06 (Regime disciplinar servidores da


saúde);

• Lei Complementar nº 639/15 (Regime disciplinar dos servidores


do Judiciário);
MARCO HERMENÊUTICO INTEGRATIVO CORREICIONAL

• Aplicação subsidiária por analogia Lei nº 8112/90 (RJU) e demais regimes


disciplinares dos Estados Membros;

• Jurisprudência do TJSC, STJ e STF em matéria disciplinar, incluindo Súmulas


vinculantes (SVSTF n. 5);

• Pareceres da Procuradoria-Geral do Estado (Lei Complementar nº 317/05);

• Entendimentos da Corregedoria-Geral do Estado;

• 0BS: Em tramitação PLC 0013.1/2019 (Definindo normas disciplinares


específicas para Legislativo Estadual - ALESC).
ATIVIDADE DE CORREIÇÃO - NÍVEL NACIONAL

• Controladorias Estaduais com competência correicional, temos:

- 15 no total : SC, PR, MS, MT, GO, DF, RO, MA, AL, PE, RJ, ES, SP,
MG e CE;

- em matéria de Sistema de Correição Rondônia, Ceará e Alagoas


são embrionários.
SISTEMA DE CORREIÇÃO

Poder Executivo Federal (Decreto nº 5.480/05 e IN nº 14/18);

• Corregedoria-Geral da União - Órgão Central (CGU);

Poder Executivo Estadual – SC (NÃO Sistematizado)

• Controladoria-Geral do Estado (CGE) (art. 25 da LC nº 741/19)

• Corregedoria-Geral do Estado - Norma de Regulamentação ainda não


encaminhada à ALESC.

OBS: Estado de SC não é Sistematizado, todavia, prevê diversos regimes


disciplinares e uma só forma de processamento (exceto Celetistas).
ASPECTOS GERAIS DA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE – Lei nº 13.869/2019

Momento histórico

* Crise Ética e Crise política;

* Grandes Operações;

* Revanchismo x Garantismo; (visão dissonante – equilíbrio de


necessidades)

* Vetos e Derrubada de vetos:

- 33 pontos dos 47 tipos penais foram vetados pelo Presidente.

- dos 33 vetos feitos pelo Presidente, 18 foram derrubados pelo CN.


ASPECTOS GERAIS DA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE

Lei nº 13.869/2019

* Início vigência 03 de janeiro de 2020 (revogou a Lei nº


4898/65);

* ação penal pública incondicionada e ação privada


subsidiária;

• Rito segue CPP e Lei nº 9.099/95.


ASPECTOS GERAIS DA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE
Lei nº 13.869/2019

* Independência de instâncias (regra);


• EXCEÇÃO: prevalência criminal apenas sobre a existência
ou a autoria do fato e reconhecimento de estado de
necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de
dever legal ou no exercício regular de direito.
• 36 tipos penais em geral;
• 7 tipos penais (15, 25, 27, 30, 31, 32 e 38) com alguma
implicação na atividade correcional.
ASPECTOS PROCESSUAIS - LEI nº 13.869/2019

A Lei exige:

•dolo específico, descartando dolo eventual;

•elemento subjetivo especial:

- visar ao prejuízo de terceiro;


- visar ao benefício de terceiro ou de si mesmo;
- visar à satisfação pessoal ou ao mero capricho.
ASPECTOS PROCESSUAIS DA LEI nº 13.869/2019

* Modalidade de ação que exige participação do Ministério


Público e Juiz, mesmo na ação privada subsidiária;

* A parte “vítima” do crime de abuso de autoridade sujeitar-


se-á ao juízo de admissibilidade do MP e do Estado Juiz;

* O agente autor do crime exercerá defesa com suas


garantias.
ASPECTOS PROCESSUAIS DA LEI nº 13.869/2019

* SUJEITO ATIVO DO CRIME


- servidores públicos e militares ou pessoas a eles equiparadas;
- membros do Poder Legislativo;
- membros do Poder Executivo;
- membros do Poder Judiciário;
- membros do Ministério Público;
- membros dos Tribunais ou Conselhos de Contas.

OBS: autoridades instauradoras, membros de comissões


disciplinares, autoridades julgadoras.
EMBATES JUDICIAIS EM RELAÇÃO À

LEI nº 13.869/2019

* Ações no STF (6)

* Debate na OCDE
Reflexo penal nos procedimentos disciplinares

Art. 15. Constranger a depor, sob ameaça de prisão, pessoa que, em


razão de função, ministério, ofício ou profissão, deva guardar segredo ou
resguardar sigilo:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem prossegue com o


interrogatório:

I - de pessoa que tenha decidido exercer o direito ao silêncio; ou


II - de pessoa que tenha optado por ser assistida por advogado ou
defensor público, sem a presença de seu patrono.

Sujeito ativo: agente responsável pelo ato.

Sujeito passivo: pessoa submetida ao interrogatório.


Reflexo penal nos procedimentos disciplinares

Art. 25. Proceder à obtenção de prova, em procedimento de investigação


ou fiscalização, por meio manifestamente ilícito:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.


Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem faz uso de prova, em
desfavor do investigado ou fiscalizado, com prévio conhecimento de sua
ilicitude.

Sujeito ativo: agente responsável pelo ato em que a prova ilícita foi
utilizada.
Sujeito passivo: investigado ou fiscalizado.

Obs: Exige cuidado da CPAD devendo motivar a juntada e indicar a


origem de cada elemento de prova trazido aos autos .
Reflexo penal nos procedimentos disciplinares

Art. 27. Requisitar instauração ou instaurar procedimento


investigatório de infração penal ou administrativa, em desfavor de
alguém, à falta de qualquer indício da prática de crime, de ilícito
funcional ou de infração administrativa:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Não há crime quando se tratar de sindicância ou


investigação preliminar sumária, devidamente justificada.

Sujeito ativo: agente com atribuição para instaurar ou requisitar a


instauração de processo.

Sujeito passivo: investigado, pessoa física ou jurídica, que sofra a


investigação.
Reflexo penal nos procedimentos disciplinares

Mesmo na hipótese de Sindicância (investigativa) ou


Investigação Preliminar sumária exige-se justificativa formal,
ou seja, elementos mínimos, despacho fundamentado e
razões motivadas.

Portanto, CONSTITUI CRIME:

- instaurar para “descobrir algo contra ele”;


- instaurar para ver se tem “algo errado”;
- instaurar para “parar de incomodar e falar da gestão”;
- instaurar para “dar um susto e incomodar um pouco”.
Reflexo penal nos procedimentos disciplinares

DECRETO Nº 1.106, DE 31 DE MARÇO DE 2017

Art. 4º A autoridade de que trata o art. 3º deste Decreto, ao


tomar ciência da possível ocorrência de ato lesivo à Administração
Pública Estadual, no momento do juízo de admissibilidade e
mediante despacho fundamentado, decidirá:

I – pela abertura de investigação preliminar;

II – pela instauração de PAR; ou

III – pelo arquivamento da matéria.


Reflexo penal nos procedimentos disciplinares

LEI COMPLEMENTAR Nº 491, DE 20 DE JANEIRO DE 2010

Art. 3º A autoridade que de qualquer modo tiver conhecimento de irregularidade no


serviço público é obrigada a promover sua apuração imediata, pelos procedimentos
previstos nesta Lei Complementar, assegurado ao acusado a ampla defesa.

Art. 17. A sindicância se divide nas seguintes espécies:


I - investigativa ou preparatória;
II - acusatória ou punitiva com penalidade de suspensão de até 30 (trinta) dias; e
III - patrimonial.

§ 1º A sindicância investigativa será instaurada quando o fato ou a autoria não se


mostrarem evidentes ou não estiver suficientemente caracterizada a infração.
Reflexo penal nos procedimentos disciplinares

Art. 30. Dar início ou proceder à persecução penal, civil ou administrativa


sem justa causa fundamentada ou contra quem sabe inocente:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Sujeito ativo: agente que dá início ou procede à persecução administrativa.

Sujeito passivo: investigado constrangido pela persecução.

Aqui se refere a iniciar o processo contraditório/sancionatório diretamente sem


investigação preliminar ou sindicância investigativa, nos casos em que os
elementos não configuram fundamentadamente materialidade ao menos
potencial, ou contrariar decisão de arquivamento de procedimento preparatório
sem justificada motivação.
Reflexo penal nos procedimentos disciplinares

Chamamento ao debate:

E como fica a instauração de processo sancionatório no


caso em que a Lei permitia a solução consensual mediante o
ajustamento de conduta, o investigado preenchia todos os
critérios e requisitos da Lei e a autoridade optou por instaurar
assim mesmo???
A opção pelo TAC ou a recusa em fazê-lo exige
motivação.
Reflexo penal nos procedimentos disciplinares

Art. 31. Estender injustificadamente a investigação, procrastinando-a em


prejuízo do investigado ou fiscalizado:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, inexistindo prazo para


execução ou conclusão de procedimento, o estende de forma imotivada,
procrastinando-o em prejuízo do investigado ou do fiscalizado.

Sujeito ativo: agente responsável pela condução do procedimento.

Sujeito passivo: pessoa investigada, física ou jurídica.

OBS: configura prejuízo a vedação para aposentadoria de quem responde


a processo disciplinar? (justificar continuidade além do prazo legal)
Reflexo penal nos procedimentos disciplinares

Art. 32. Negar ao interessado, seu defensor ou advogado acesso aos


autos de investigação preliminar, ao termo circunstanciado, ao
inquérito ou a qualquer outro procedimento investigatório de
infração penal, civil ou administrativa, assim como impedir a
obtenção de cópias, ressalvado o acesso a peças relativas a
diligências em curso, ou que indiquem a realização de diligências
futuras, cujo sigilo seja imprescindível:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Sujeito ativo: autoridade que preside a investigação ou responsável


pela análise do pedido de acesso/cópia.

Sujeito passivo: pessoa constrangida pela indevida recusa.


Reflexo penal nos procedimentos disciplinares

Súmula Vinculante 14 – STF

É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos


elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório
realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao
exercício do direito de defesa.

(...) Os atos de instrução, enquanto documentação dos elementos retóricos


colhidos na investigação, esses devem estar acessíveis ao indiciado e ao
defensor, à luz da Constituição da República, que garante à classe dos
acusados, na qual não deixam de situar-se o indiciado e o investigado
mesmo, o direito de defesa. O sigilo aqui, atingindo a defesa, frustra-lhe, por
conseguinte, o exercício. (...)
Reflexo penal nos procedimentos disciplinares

Art. 38. Antecipar o responsável pelas investigações, por meio de


comunicação, inclusive rede social, atribuição de culpa, antes de
concluídas as apurações e formalizada a acusação:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Sujeito ativo: autoridade responsável pela investigação.


Sujeito passivo: pessoa investigada, física ou jurídica.

OBS1: Qualquer comunicação - abordagem midiática, quebra de sigilo


da CPAD, antecipação de sugestão em relatório final.

OBS2: atenção às comunicações formais com indicação de investigado

OBS3: como fica a Portaria instauradora da LC 491?


SUGESTÕES CONCLUSIVAS

• Necessidade de adequação das normas processuais


disciplinares;
• Introjeção da cultura de aprimoramento do juízo de
admissibilidade;
• Capacitação e especialização das comissões e autoridades
instauradoras e julgadoras;
• Percepção de que a sistematização correicional visa a
proteger a ocorrência do crime.
FABRÍCIO COLOMBO

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