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BIORREMEDIAÇÃO DE SOLOS – ESTADO DA ARTE

SOIL BIOREMEDIATION – STATE OF THE ART

Fermiano Martins Fernandes, Giseli Zamberlam de Alcântara


Adesol Produtos Químicos Ltda. São Paulo, SP. Email:vendas@adesol.com.br

Sumário
A utilização de Tecnologias Inovativas de Tratamento (ITT’s) contempla, em suas
formas mais variadas, a utilização de Biorremediação. Por biorremediação
entende-se o uso de microrganismos, indígenos ou não, para a degradação de
contaminantes orgânicos. Estes microrganismos “quebram” esses compostos
orgânicos visando utilizá-los como fonte de alimento. Os produtos oriundos desta
degradação são tipicamente CO2 e H2O. Oxigênio e nutrientes, tais como fósforo
ou nitrogênio, podem ser empregados para implementar o processo de
biodegradação.
O processo de biorremediação de solos compreende a utilização da
tecnologia na camada abaixo da lâmina aparente (subsuperfície), incluindo zona
vazodica situada acima do lençol freático. Nesta subcategoria de aplicação da
biorremediação vários microrganismos, dentre eles bactérias, fungos e lêvedos,
bem como nutrientes e fonte de oxigênio são injetados através de orifícios no solo.
Geralmente é requerida a mistura da subsuperfície, e o solo deve ser
relativamente permeável. A escavação do solo para tratamento em local
específico (ex. reatores, lagoas) utilizando nutrientes e/ou aeração, ou
compostagem e landfarming completam o rol de subcategorias descritas pela
U.S.EPA.
Pesquisas efetuadas em bancos de dados, U.S.EPA Visitt 5.0 dentre
outros, relacionam a existência de 24 empresas que atuam na área de
biorremediação de solos, utilizando como recursos tecnológicos a aplicação de
microrganismos não indígenos, nutrientes, oxigênio, enzimas, aceptor elétrico e
vapor, associados entre si ou não, para a remediação de sítios contaminados.

Mercado Mundial

O mercado mundial de aplicação de modelos denominados biorremediação


segue uma rota direcionada pelas agências ambientais dos próprios países
(Broetzman 1996, Broetzman et al. 1997, Jennings 1997, Glass et al.1997, Parker
and Islam 97, Hadley et al. 1997, Fernandes 1998) que se utilizam das ITT’s. É
sabido que o maior mercado mundial na área de remediações é o norte-
americano, responsável por 35 a 40% do mercado, sendo o mesmo detentor do
mais completo modelo de controle ambiental em execução.
Segundo levantamento realizado pela USEPA, em seu estudo denominado
“Innovative Technology Evaluation Report” (1995), mais de 95,0% dos processos
de biorremediação são empregados para descontaminação de solos e águas
subterrâneas.
Tabela 1. Mercado mundial de biorremediação (1994-2005) em milhões de
dólares.
1994 1997 2000 2005
USA 160-210 220-270 400-500 500-700
Europa 105-175 180-270 450-550 600-800
Mundo 430-460 500-600 1,000-1,300 1,300-1,600
Estimativa dos Autores

Considerando o exposto anteriormente, e segundo modelo difundido pelas


agências ambientais norte-americanas (Task Group, 1996), faz-se necessário
salientar que a execução de estudos de tratabilidade (Tabela 2), em qualquer
escala de aplicação para a remediação específica, deverá preceder
obrigatoriamente sua aplicação em escala de campo.

Tabela 2. Resumo dos Estudos de Tratatabilidade


Seleção de Produtos

Biodegradabilidade

Microcosmo
Shake Flask
Teste/

Biocinética
Toxicidade

Estudo de
Reatores
Parâmetros

Velocidade consumo de O2 * * *
Biodegradabilidade de Compostos * * * * * *
Alvo
Efeitos de Nutrientes * * * * * *
Percentage de Remoção de * * * * *
Material Orgânico
Eficiência de Remoção * * *
Compostos Alvos (ppm) * * *
Toxicidade EC50 *
Concentração Toxica *
Choque de Carga *
Eficiência de Remoção em Curto * *
Tempo
Parâmetros de Design para *
Sistemas
Constante Cinética *
Avaliação da Qualidade do Efluente *
Configuração de Sistemas *
Configuração de Tipos de Sistemas *
Efeitos de Condição Hidráulica *

Biorremediação com injeção de Nutrientes

O design de aplicação deste modelo se baseia na introdução de nutrientes


(micro e macro), associados ou não a aceptor tipo oxigênio, via infiltração em
galerias e/ou buracos (Figura 1). Esta forma de tratamento atua no controle
hidráulico do sistema de biodegradação prevendo a migração dos nutrientes pelo
sítio a ser descontaminado. Este modelo de tratamento contempla em suas mais
variáveis formas a aplicação ou não de microrganismos específicos, bem como a
combinação de uma, ou mais formas disponíveis de biorremediação “In situ”.

Figura 1. Modelo esquemático de biorremediação com nutrientes e/ou


microrganismos.

Biorremediação com microrganismos não indígenos

A utilização deste modelo, com população nativa ou não, no processo de


biorremediação resume-se na aplicação de bactérias e fungos que utilizam os
contaminantes orgânicos do sítio como fonte de alimento. Uma vez comprovada a
capacidade oxidativa de uma determinada cepa, ou ainda da combinação de
várias cepas, deve-se adotar modelo de estudo em microcosmo (Tabela 2) para
verificação do potencial de adaptação/competição para com a microbiota nativa,
comparando-se os resultados e a cinética obtida neste estudo. Também neste
modelo podemos contemplar a utilização de fontes complementares de nutrientes,
agentes químicos além da injeção de ar e/ou oxigênio.

Biorremediação com aplicação de enzimas extracelulares e


bioemulsificantes/surfactantes

A utilização de enzimas, bioemulsificantes, surfactantes e outros agentes


são considerados facilitadores ao desenvolvimento da microbiota existente no solo
contaminado com resíduos. O implemento na atividade microbiana se dá mediante
a presença de contaminantes orgânicos parcialmente oxidados pela adição
química efetuada no sítio. Estes elementos são adicionados ao solo contaminado
via veículo líquido (água) sendo possível a utilização de sistemas aeróbios e/ou
anaeróbios (Figura 2) mediante a exigência da microbiota existente. Estes agentes
não devem apresentar características tóxicas, à qualquer nível trófico, além de
serem biodegradáveis. Via de regra pode-se utilizar outros modelos de
biorremediação, do tipo bioventilação, “Air Sparging”, extração a vácuo como
processos coadjuvantes e/ou aceleradores do processo químico.

Figura 2. Modelo de biorremediação com adição de agentes químicos.

Fitorremediação

Neste processo empregamos plantas para descontaminar sítios com resíduos


químicos orgânicos em sua porção superficial. Áreas contendo plantas
apresentam uma biodegradabilidade mais acelerada e completa se comparada
com áreas não plantadas devido à:

- Expansão da população ativa dos microrganismos no solo (rizosfera) que se


utilizam da fração “exudata” das raízes como fonte de alimento.
- O exudato das raízes também estimula transformações cometabólicas, assim
sendo, muitos contaminates são degradados via estimulação da microbiota
pela presença do exudato.
- Algumas plantas produzem enzimas que transformam metabolicamente os
contaminantes orgânicos contribuindo desta forma para sua oxidação mais
rápida pelos microrganismos presentes no solo.

Biorremediação com aplicação de ar - modelos Air Sparging e Bioventilação

A eficácia deste modelo reside na capacidade que a mesma apresenta de


estar em contato direto com a massa do contaminante. A tecnologia de “Air
Sparging” é um importante meio de remoção, através de volatilização, da massa
do contaminante e sua destruição “In situ”. O vapor utilizado na camada logo
acima do lençol freático, sob a forma de pressão positiva, “empurra” os
contaminantes do solo para a atmosfera, sendo então estes gases “aprisionados”
e tratados mediante emprego de sistema biológico e/ou físico-químico (Figura 3).
O modelo de biorremediação contemplado na bioventilação se constitui da
utilização do mesmo procedimento descrito para o sistema anterior, entretanto
sem a adição de vapor. A aplicação de ar e/ou oxigênio puro, à camada de
subsuperfície, estimula o crescimento da população existente (Figura 3)
resultando na redução, via potencial oxidativo da microbiota, dos contaminantes
no sítio. Vale a pena lembrar que esta tecnologia pode contemplar a aplicação do
modelo com nutrientes e demais modelos descritos anteriormente.

Figura 3. Biorremediação por ventilação

Biorremediação eletroquímica e eletrosmótica

O modelo de biorremediação eletrosmótica se baseia nos princípios da


osmose reversa, ou migração eletroquímica, para iniciar ou implementar o
processo de biorremediação “In situ”. Este mecanismo produz uma aceleração do
fluxo de água subterrânea ao solo arenoso proporcionando a
movimentação/migração dos fatores biológicos da interface do lençol freático para
a área contaminada acelerando o evento migratório natural, implementando a
eficiência do processo de biodegradação natural.
No modelo de migração eletroquímica o princípio utilizado é o de dispersão
de campo elétrico disponibilizando nutrientes orgânicos de forma uniforme para
toda a microbiologia, disponibilizando o contaminante/alimento de maneira
uniforme à microbiota existente no solo contaminado.

Biorremediação “In situ”


Como a própria expressão diz, a biorremediação “In situ” visa tratar o solo
no local de contaminação utilizando-se de tecnologias que vão desde a introdução
de oxigênio e nutrientes até a adição de organismos selecionados para cada tipo
de contaminante - organismos não indígenos -, controlando sempre as condições
de temperatura, umidade e pH (fatores considerados limitantes para se obter bons
resultados de remoção dos contaminantes).
As limitações cruciais para a biodegradação “In situ” de hidrocarbonetos,
por exemplo, e outros contaminantes orgânicos são supridas por doadores de
elétrons e nutrientes como nitrogênio e fósforo; contudo, a biodisponibilidade e a
variabilidade espacial são também considerações importantes. A injeção de H2O2
em superfície de sedimentos contaminados tem sido usada com sucesso para
sítios para estimular a biodegradabilidade “In situ” de hidrocarbonetos.
O fato de que a atenuação dos contaminantes por microrganismos
indígenos pode ocorrer sem qualquer manipulação ainda é contemplado. Em
algumas situações deve ser mais econômico permitir à biorremediação ocorrer
naturalmente para o sacrifício das grandes taxas de remoção e maior efetividade
que encontrada com a adição de aceptores de elétrons e outros nutrientes
(Fredrickson et al, 1993).
Têm sido dado ênfase ao desenvolvimento da biorremediação “In situ”
denominada bioventilação (Figura 4) e extração de vapores para a zona não
saturada, e “Air Sparging” para a zona saturada. Em geral estas e outras técnicas
encontram-se associadas à injeção de nutrientes e ajustes de pH (Spilborgs &
Casarini, 1998).

Figura 4. Modelo de Biorremediação “In situ”.

Biorremediação “Ex situ”

Neste processo, onde o resíduo a ser tratado é transportado a outro local,


desenvolvem-se reatores que são projetados para sítios específicos (usualmente
culturas suspensas, seqüências em batelada ou reatores de filme fixo). Alguns
sistemas são desenvolvidos para resultar em zero as emissões para auxiliar a
permissão do processo.
Para esta tecnologia existe uma abrangência maior no que diz respeito ao
controle e manuseio das técnicas, pois permite uma gama maior de recursos
quando comparado ao processo “In situ”, não correndo riscos de danos ao meio
ambiente.
Os processos utilizados nesta biorremediação se iniciam com a
redistribuição do solo em camadas. O solo contaminado é mecanicamente
distribuído e irrigado com nutrientes e bactérias.
Outro sistema a ser importantemente citado é o landfarming, bastante
utilizado para degradar compostos de hidrocarbonetos de petróleo em refinarias.
Este sistema pode ser citado com “In situ” ou “Ex situ” quando há a escavação de
células para tratamento segundo modelo específico (Figura 5).

Figura 5. Modelo de biorremediação “Ex situ”.

Comentários

O mercado de tecnologias ambientais disponível hoje é bastante amplo,


sendo que uma atenção maior tem sido dispensada aos tratamentos e
remediações de solos e águas subterrâneas. Este fato pode ser entendido por
razão da geração de resíduos sólidos estar sendo cada vez maior e também pela
existência de políticas ambientais cada vez mais restritivas nos últimos anos. Com
isso, os pesquisadores da área se vêem obrigados a desenvolver técnicas menos
dispendiosas e tão eficientes quanto tecnologias consolidadas como a
incineração.
Tanto na biorremediação “In situ” como na “ex situ”, a contribuição externa
de microrganismos deve ser avaliada de acordo com o tipo de solo, do
equipamento a ser empregado, e principalmente os tipos de contaminantes
orgânicos presentes, assim sendo vários estudos de laboratório e campo mostram
que para se obter bons resultados faz-se necessária a aplicação de duas ou mais
tecnologias em associação.
A determinação desta ou daquela tecnologia a ser aplicada ao sítio
dependerá das características dos contaminantes e principalmente do local onde
ocorreu a contaminação. Estas respostas podem ser obtidas mediante testes em
escala piloto e principalmente no estudo detalhado das várias características
envolvidas no processo.
Referências Bibliográficas

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