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Disciplina: Sociologia

A Cultura do Sertanejo

Uberlândia - 2008
1. O Sertão.

O sertão abrange o Norte de Minas Gerais, o Sudoeste da Bahia, o Sul do Tocantins e o


Nordeste de Goiás.
Com seus ventos bíblicos, calmarias pesadas e noites frias, impressiona. Cortado por
veredas e árvores retorcidas em desespero, todo ele são monótonos caminhos de caatingas e
areais ressequidos. As "pueiras", lagoas mortas, de aspectos lúgubres, são o único oásis do
sertanejo. A serra de Monte Santo, com seus tons azulados, é uma cortina de muralha
monumental. As conformações rochosas, no ermo vazio do Bendegó, dão a ilusão de ruínas
antigas. Os grandes desmoronamentos rochosos do sertão lembram "mares de pedras". Os
rios salgados, quando secam, parecem um fundo de mar extinto, uma impressão acentuada
pelos fenômenos ópticos do calor. Isso reforça a mítica sertaneja de que "um dia o sertão vai
virar mar e o mar vai virar sertão".
No sertão, a começar pelo solo e clima, tudo é adverso. O sertanejo sobrevive porque é uma
raça forte. Assim como o cacto mais resistente, ele foi feito para o sertão. Tem o pêlo, o
corpo e a psicologia próprios para suportar o suplício da seca. Conhece profundamente a flora
e fauna. Sabe o nome e as vantagens de cada cacto, de cada mandacaru, de cada xiquexique.
Seus pássaros: o carcará, o acauã, a asa branca. E a natureza que ele tanto ama é sua aliada na
luta pela sobrevivência. Desidratado como as plantas, consegue viver dias só com o trivial e um
copo d'água. E ama o sertão. Não se habitua a outro lugar. O sertão o destrói e hipnotiza. É o
homem rude e sereno acostumado desde muito novo com a morte. Um resistente num lugar
onde quase só existe deserto e onde a água é uma miragem.

2. O Sertanejo.

Conforme estudos arqueológicos, a ocupação nessa região iniciou-se há cerca de 11 mil anos
e transcorreu até o começo do século XX. Caçadores e coletores tiravam sustento dos
campos, cerrados e matas. Os povos Macro-Jê, herdeiros desses traços culturais, receberam
os Tupi- Guarani que fugiam dos colonizadores europeus. O colonizador escravizou africanos
para a lavra do ouro. O sertanejo nasce, então, da miscigenação de europeus, índios e negros.
O jesuíta, o vaqueiro e o bandeirante foram os primeiros habitantes brancos que migraram
para a região. Deram origem aos tipos populares que compõem o sertão: o beato, o cangaceiro
e o jagunço. Ali estão todos, com suas vestes características, seu apego às tradições mais
remotas, o sentimento religioso levado até o fanatismo e o seu exagerado senso de honra.
Tanto o cangaceiro quanto o jagunço são guerreiros. Homens de armas. O cangaceiro age
em bando e por conta própria, vive como andarilho pelo deserto, obedecendo às leis do chefe
do bando. O jagunço muitas vezes age sozinho. Protege alguém, que tanto pode ser um coronel
como uma pessoa com quem tem uma dívida de honra. O fazendeiro dos sertões vive no litoral,
longe de suas propriedades; quem cuida de suas terras é o vaqueiro, de fidelidade assombrosa
e submissão inconsciente e servil. Mas na adversidade, sua roupa de couro pode se tornar a
armadura de jagunço. Qualquer vaqueiro sabe lutar e lidar com armas. Oculta em si o
guerreiro.
As sertanejas são diferentes das mulheres do litoral: são rezadeiras, rendeiras, mocinhas
ingênuas, bruxas velhas e alcoviteiras (mexeriqueiras). Mulheres de coragem e encrenqueiras.
Descendentes dos antigos jesuítas, os padres, os beatos e os conselheiros dão conselhos e
são beatos da categoria mais alta entre a população. Padres e beatos podem se tornar líderes
messiânicos como o padre Cícero, de Juazeiro do Norte, de grande influência no sertão. Sob
tais influências, o matuto vai da extrema brutalidade ao máximo devotamento. Apesar da
coragem, acredita em todos os mal-assombramentos. Está propenso a ser um "desvairado pelo
fanatismo e um transfigurado pela fé." Por isso é um seguidor de messias fanáticos que o
arrastam e endoidecem.
A cultura do sertanejo é marcada pela lida com o gado, modo de vida simples e não
consumista, observado na organização da família, nas vestimentas, nas festas religiosas, na
religiosidade marcante e na alimentação com seus pratos típicos: a paçoca, o quibebe, o pão de
queijo.
A narrativa dos sertanejos sustenta a mobilização e a ação social e os tira da condição de
bárbaros que não têm domínio do logos, os liberta do “pacto” e de sua modernização
predatória. As raízes que sustentam a sua cultura se abastecem do “sítio simbólico de
pertença sertanejo”. Tal sítio aflora em situações propícias como as promovidas pelas
cooperativas de pequenos produtores rurais.
O sertanejo é o “expert” da sua realidade. Políticas públicas e modelos que não consideram
seu sítio, justamente por não serem situados.

3. Caipira X Sertanejo.

Há uma proximidade entre o caipira e o sertanejo. No dicionário, a palavra caipira aparece


como sinônimo na definição de sertanejo. Através disso, poderíamos entender que “sertaneja”
é uma canção ou cantiga do sertão e pode ser uma canção caipira. E quando se diz que sertão é
a zona pouco povoada do interior do país, podemos entender que a roça também faz parte do
sertão. Muitos entendem que sertanejo só possa ser o habitante do sertão nordestino e que a
música sertaneja seja o baião ou o forró.
Apesar de poderem ser considerados idênticos, o caipira e o sertanejo têm as suas
diferenças, e isso pode ser evidenciado pelas suas músicas. A música sertaneja é produzida no
meio urbano-industrial pela indústria do disco e é apenas um produto a mais a disposição do
consumidor. Enquanto a música caipira é meio em si mesma, a sertaneja é fim cujo objetivo é o
lucro. Pelas transformações por que passou, esta música tornou-se mais melódica e menos
rítmica, alterando seus componentes formais, substituindo alguns instrumentos musicais de
percussão por outros de maior sonoridade. Saíram a caixa, o surdo, o tarol, o adufe e
entraram a sanfona, o prato de metal, a bateria, o violão e recentemente, a guitarra elétrica.
Além disso, seu tempo de duração dificilmente ultrapassa os três minutos, considerados ideais
para a canção comercial. Enquanto a poesia da música caipira é essencialmente religiosa, a
música sertaneja apresenta um discurso profano, da condução, do progresso da cidade grande,
e assim por diante. A música sertaneja tornou-se uma força altamente expressiva da indústria
do disco no Brasil. Consequentemente, seu alcance ultrapassou a área de influência da cultura
caipira. Além disso, as gravadoras, usando técnicas de marketing nem sempre verdadeiras,
exportam essa modalidade musical apresentando-a como folclore brasileiro. É claro, só compra
quem for realmente desinformado. Enquanto isso, a música caipira permanece em seu estado
original (em certos casos com pequenas transformações) na condição de folclore das regiões
Sudeste, Sul e Centro do país.
Apesar de todas estas diferenças, tanto a música sertaneja quanto a caipira possuem o
mesmo público. O caipira é um dos principais consumidores da música sertaneja. Quando não o
faz através da compra de discos, o consumo se dá pela audição de programas de rádio,
principalmente, de televisão, de shows ao vivo em circos ou teatros.
4. Conclusão.

O Sertão é um lugar muito difícil de viver, estando adaptado a ele apenas aqueles que
nasceram em seu seio. Estes possuem sua própria maneira de ver o mundo e de agir nele. Com
sua fé fervorosa e noção de honra exacerbada, vão tocando a vida naquela aridez.
Apesar das singularidades dos sertanejos, a sua cultura se espalhou pelo Brasil,
principalmente no Centro-oeste. Aí, come-se pão-de-queijo e ouve-se música sertaneja. Mas,
será que essa música realmente remonta àqueles antigos sertanejos que alegravam seus
conterrâneos com suas melodias? Não. A música sertaneja que se ouve em São Paulo e em
Minas Gerais, por exemplo, é nada mais que uma forma distorcida utilizada pela indústria
cultural para alastrar a música caipira do sertão no Brasil, a fim de que possa vender um
produto como sendo um “símbolo” da cultura brasileira. Entretanto, na verdade, o símbolo, o
folclore é a música caipira do sertão e não a música “sertaneja” (que nada tem de sertaneja)
de São Paulo.
Desta forma, a despeito de todas as controvérsias, e, principalmente pela ação da indústria
cultural, hoje se pode dizer que o brasileiro, em geral, tem alguma noção de o que a cultura do
sertanejo é, apesar de esta noção ser bastante distorcida.

5. Bibliografia.

5.1. http://www.pagina22.com.br/index.cfm?fuseaction=artigoEnsaio&id=52
5.2. http://www.tvcultura.com.br/aloescola/esTudosbrasileiros/sertoes/sertoes2.htm
5.3. http://74.125.113.132/search?q=cache:XR7xgNj-
gZoJ:screamyell.com.br/outros/monografia_mac.pdf+a+cultura+do+sertanejo&hl=pt-
BR&ct=clnk&cd=5

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