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João
João
O EVANGELHO SEGUNDO
JOÃO
Autoria e data
O autor do quarto evangelho é João, discípulo por quem Jesus tinha especial carinho, amizade
e respeito (13.23; 19.26; 20.2; 21.7; 20.24). Somente uma testemunha ocular dentre o círculo mais
íntimo dos seguidores do Senhor, como João, poderia fornecer tantos detalhes particulares como
os que são citados nesse livro (12.16; 13.29). Relatos especiais e algumas vezes indiretos da pre-
sença ou participação de João, são outros argumentos que comprovam sua autoria (1.37-40; 19.26;
20.2,4,8; 21.20,24). Os pais da Igreja – como Irineu e Tertuliano – declaram que João escreveu esse
evangelho, e todas as demais evidências corroboram com essa declaração.
O fragmento de uma antiga cópia (datada do segundo século), indica que o original é bem mais
antigo e pertence seguramente ao período em que João vivia.
Teólogos, biblistas e arqueólogos respeitáveis em todo o mundo concordam que a mais provável
data de autoria do evangelho de João esteja entre o final dos anos 50 da era cristã e antes da terrível
destruição de Jerusalém, no ano 70 d.C.
Propósitos
Vários e mundialmente reconhecidos pensadores e estudiosos apresentam diferentes interpretações
quanto aos objetivos de João ao escrever seu evangelho. Clemente de Alexandria chegou a declarar
que João teria escrito para suplementar os relatos dos evangelhos sinóticos. Outros afirmam que João
escreveu para pregar uma mensagem cristã que fosse atraente ao sistema de pensamento helênico. E,
outros ainda, acreditam que João desejava complementar teologicamente as doutrinas apresentadas
nos demais evangelhos, para combater as formas de heresia que começavam a florescer em seu tem-
po, bem como opor-se àqueles que ainda seguiam fanaticamente as orientações de João Batista.
Contudo, o comitê internacional de tradução da Bíblia King James Atualizada, decidiu, simplesmen-
te, dar evidência à própria palavra de João acerca do propósito que teve ao escrever seu evangelho:
“Verdadeiramente Jesus realizou, na presença dos seus discípulos, muitos outros milagres, que não
estão escritos neste livro. Estes, entretanto, foram escritos para que possais acreditar que Jesus é o
Cristo, o Filho de Deus, e para que crendo, tenhais vida em Seu Nome” (Jo 20.30-31).
Desde o prefácio do livro (1.1-18), com seu ponto alto: “Vimos a sua glória...” (v.14), até à confissão
de Tomé: “Meu Senhor e meu Deus!” (20.28), o leitor é constantemente motivado a render-se incon-
dicionalmente em adoração sincera e absoluta a Deus. O Senhor Jesus Cristo surge como mais do
que um simples homem sábio e poderoso, muito mais que uma representação da Divindade na terra.
Jesus é o verdadeiro e único Deus, que se fez pessoa humana e habitou entre nós.
Todavia, os judeus, esperando pelo seu Messias (Cristo), necessitavam de uma prova indiscutível
sobre a reivindicação de Jesus de ser o prometido unigênito do Antigo Testamento. E João, preocu-
pado que a ninguém faltasse essa convicção e a mensagem principal do Evangelho, apresenta es-
sas provas em profusão. Milagres, ensinos e pregações selecionados dentre apenas cerca de vinte
dias dos três anos de ministério público do Senhor são publicados com o objetivo de comprovar a
posição de Jesus Cristo como Filho de Deus. Vários sinais milagrosos realizados pelo Senhor reve-
lam não somente o Seu poder divino, mas igualmente atestam Sua glória como o único e verdadeiro
“Eu Sou” (o nome de Deus em hebraico).
A água transformada em vinho, comerciantes inescrupulosos e animais para sacrifícios expulsos
do Templo; o filho do nobre curado à distância; o paralítico curado no sábado; as multiplicações de
pães e peixes; o caminhar tranqüilo e onipotente sobre as águas revoltas; a vista restaurada ao cego
de nascença; Lázaro chamado novamente à vida dentre os mortos: todos esses milagres e maravi-
lhas revelam quem Jesus Cristo é e o que Ele faz.
Passo a passo, João descreve Jesus como a fonte da nova vida, a água da vida, e o pão dessa
nova e eterna vida. Até seus próprios inimigos batem em retirada e se rendem perante o “Eu Sou”,
que seguiu confiante para Jerusalém, onde se ofereceu voluntariamente, em sacrifício eterno pela
humanidade, por meio do seu sofrimento e crucificação (18.5,6).
O Logos (a Palavra, em grego) eterno se fez carne (humanizou-se) e fez da terra sua habitação
JOÃO
A Palavra se fez carne 11 Ele veio para o que era seu, mas os
1 “Palavra” (em grego, logos). No AT, Jesus é a expressão criadora de Deus. No NT, Jesus é Deus encarnado. Jesus é a Palavra
de Deus em ação. O Verbo Eterno (Sl 33.6; Sl 107.20; Is 55.11).
2 O evangelista deixa claro que a “Palavra”, o “Verbo Eterno” e a “Sabedoria” são a mesma Pessoa: Jesus Cristo; o qual sempre
esteve com Deus (Gn 1.26; Pv 8.22-31; Is 44.24).
3 “Através” (em grego, dia) é a expressão criadora do Pai (Hb 2.10). Deus através do seu Filho, a Palavra (logos), criou tudo o
que há ex-nihilo (do absolutamente nada). O termo egéneto, “feito” ou “fez-se”, não admite qualquer possibilidade de dualismo
metafísico ou de gnosticismo (17.4).
4 Aqui a tradução literal é necessária. Deus é o Criador e sua Palavra, o Agente (Gn 1; Sl 33.6; Pv 3.19, 8.30; Sl 104.24; Cl 1.16s;
Hb 1.2). Em Ap 3.14, o “Amém” é derivado da palavra hebraica âmôn (arquiteto), como em Pv 8.30.
5 “Venceram”: compreenderam, prevaleceram ou derrotaram. A luz de uma pequena vela pode dissipar a escuridão de uma
grande sala. Luz e trevas são forças opostas, mas não de igual energia. A luz é mais poderosa (12.35; 1Jo 2.8).
6 Se alguém permanece nas trevas espirituais não é por falta de luz, mas porque, deliberadamente, prefere o mal (8.12; 9.5).
Jesus é a luz que ilumina a todos os seres humanos (em grego: tôn anthrôpôn).
7 A expressão grega plural ex haimatõn “dos sangues” indica que o nascimento espiritual é um dom de Deus, concedido a
cada crente, em especial, e não pode vir por descendência humana nem pelo cumprimento de qualquer ritual de iniciação à
religião (3.4-6; 6.44).
8 “Excelência”: primazia, superioridade, prioridade, preferência. O Espírito de Deus habitou plenamente (em grego: skenoő
“tabernaculou”) o corpo humano de Jesus, Deus encarnado (v.14;Rm 8.3; 1Jo 4.2,3).
9 “Filho”, assim como no original de King James (1611). No NTG (Novum Testamentum Graece): Deus Unigênito.
unigênito, que está no seio do Pai, é quem 30 Este é aquele do qual eu disse: ‘depois
o revelou. de mim vem um homem que tem a exce-
lência, pois que já existia antes de mim’.
João Batista clama no deserto 31 Eu não o conhecia, mas, a fim de
Is 40.3; Mt 3.1-12; Mc 1.2-8; Lc 3.1-18 que Ele fosse revelado a Israel, vim, por
19 E este é o testemunho de João, quando isso, batizando com água”.
os judeus enviaram de Jerusalém sacerdo-
tes e levitas para o interrogarem: “Quem João batiza Jesus
és tu?”. Mt 3.13-17; Mc 1.9-11; Lc 3.21,22
20 Ele confessou e não negou; mas declarou 32 E João testemunhou, dizendo: “Vi o
francamente: “Eu não sou o Cristo.”.10 Espírito descendo do céu como uma
21 E o q
questionaram: “Quem és, então? És pomba e permaneceu sobre Ele.
tu Elias?”. Ele disse: “Não o sou.” “És tu o 33 Eu não o conhecia; Aquele, entretanto,
Profeta?”. E João afirmou: “Não.”. que me enviou a batizar com água me
22 Então, perguntaram a ele: “Quem és disse: ‘Aquele sobre quem vires descer
tu? Dá-nos uma resposta, para que a e permanecer o Espírito, esse é o que
levemos àqueles que nos enviaram; que batiza com o Espírito Santo’.
dizes a respeito de ti mesmo?”. 34 E eu, de fato, vi e testifico que este é o
23 E João lhes disse: “Eu sou a voz do que Filho de Deus”.
clama no deserto: ‘Fazei um caminho
reto para o Senhor’, como disse o profeta Os primeiros discípulos de Cristo
Isaías”.11 Mt 4.18-22; Mc 1.16-20; Lc 5.1-11
24 Ora, os que haviam sido enviados fa- 35 No dia seguinte, João estava outra vez
ziam parte dos fariseus. na companhia de dois dos seus discípulos
25 E perguntaram-lhe ainda: “Então, por 36 e, observando que Jesus passava, disse:
que batizas, se não és o Cristo, nem Elias, “Eis o Cordeiro de Deus!”.
nem o Profeta?”. 37 Os dois discípulos ouviram o que ele
26 João respondeu-lhes, dizendo: “Eu ba- falou, e se tornaram seguidores de Jesus.
tizo com12 água; mas, no meio de vós, já 38 Então Jesus, voltando-se e vendo que os
está quem vós não conheceis. dois o seguiam, disse-lhes: “Que estais pro-
27 Ele é aquele que vem depois de curando?”. Eles disseram: “Rabi (que quer
mim, cujas correias das sandálias não dizer Mestre), onde estás hospedado?”.
sou digno de desamarrar”. 39 E Jesus disse: “Vinde e vede”.14 Eles fo-
28 Essas coisas aconteceram em Betânia,13 ram e viram onde Jesus estava morando;
do outro lado do Jordão, onde João esta- e ficaram com Ele aquele dia, sendo isso
va batizando. por volta da hora décima.
40 Um dos dois que ouviram João falar
Jesus, o Cordeiro de Deus e seguiram a Jesus, era André, irmão de
29 No dia seguinte, João viu a Jesus, que Simão Pedro.
vinha caminhando em sua direção, e 41 Ele primeiro procurou seu próprio
disse: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o irmão, Simão, e lhe disse: “Encontramos
pecado do mundo! o Messias (que quer dizer, o Cristo)”.15
No AT, essa forma designava o rei de Israel (o ungido do Senhor, como em 1Sm 16.6), o sumo sacerdote (o sacerdote ungido
– Lv 4.3) e, uma vez, no plural, os patriarcas em seu papel de profetas (meus ungidos – Sl 105.15). Jesus cumpriu a profecia
messiânica, exercendo as três funções.
16 “Cefas” (como o apóstolo Paulo o chamava – 1Co 9.5; Gl 1.18): kepha, em aramaico ou keph, em hebraico – rocha (Jó 30.6;
Jr 4.29), ou ainda petros, em grego. Portanto, Pedro significa pedra ou rocha (Is 51.1). Mas, como para o nome de um homem era
necessário usar a forma masculina, permaneceu petros.
17 “Em verdade”, ou com toda a certeza, como em KJA (em grego: amen, de origem hebraica: munã), significa “fiel e digno de
confiança”. Jesus usa essa frase sempre que reivindica sua autoridade messiânica.
Capítulo 2
1 Mulher ou Senhora. Termo respeitoso em aramaico.
2 Gn 41.55.
3 “Duas ou três metretas”: em grego, de 80 a 120 litros no total.
4 Mestre-sala: gerente ou encarregado da festa.
naum, com sua mãe, seus irmãos e seus bem conhecia o que havia na natureza
discípulos; e ficaram ali não muitos dias. humana.
5 Êx 12.1-27.
6 Sl 69.9.
Capítulo 3
1 Esta resposta conclusiva de Jesus vai até o versículo 21.
2 O freqüente uso da palavra testemunho e de expressões jurídicas confere a este Evangelho o caráter de um imenso processo.
5 Assim, chegou a uma cidade de Sama- 18 pois cinco maridos já tiveste, e esse ho-
ria, chamada Sicar, perto das terras que mem com quem tu agora vives não é teu
Jacó dera a seu filho José.1 marido; quanto a isso falaste a verdade.”
6 Havia ali a fonte de Jacó. Jesus, todavia, 19 Reconheceu a mulher: “Senhor, eu
cansado da viagem, sentou-se à beira do percebo que tu és um profeta!
poço. Isso aconteceu por volta da hora 20 Nossos pais adoravam sobre este mon-
sexta.2 te, mas vós, judeus, dizeis que Jerusalém
7 Nisso, uma mulher de Samaria veio é o lugar onde se deve adorar.”
tirar água. Pediu-lhe Jesus: “Dá-me um 21 Declarou Jesus a ela: “Mulher, podes
pouco de água para beber.”. crer-me, está próxima a hora quando
8 Pois seus discípulos haviam ido à cida- nem neste monte, nem em Jerusalém
de comprar alimentos. adorareis o Pai.
9 Então lhe respondeu a mulher de Sa- 22 Vós adorais o que não conheceis; nós
maria: “Como, sendo tu judeu, pedes de adoramos o que conhecemos, porque a
beber a mim, uma mulher samaritana?”. salvação vem dos judeus.
(Pois os judeus não se relacionam bem 23 Mas a hora está chegando, e de fato já
com os samaritanos.)3 chegou, em que os verdadeiros adora-
10 Jesus respondeu a ela: “Se conhecesses dores adorarão o Pai, em espírito e em
o dom de Deus e quem é o que te pede: verdade; pois são esses que o Pai procura
‘dá-me de beber’, tu lhe pedirias, e Ele te para seus adoradores.
daria água viva.”. 24 Deus é espírito, e é necessário que os
11 Indagou-lhe a mulher: “Senhor, tu não seus adoradores o adorem em espírito e
tens com que pegar água, e o poço é fundo; em verdade.”.
onde tu podes conseguir essa água viva? 25 A mulher disse a Jesus: “Eu sei que o
12 Acaso tu és maior do que nosso pai Messias (chamado Cristo) está para vir.
Jacó que nos deu o poço, do qual ele Quando Ele vier, Ele nos esclarecerá
mesmo bebeu e, bem assim, seus filhos sobre tudo.”.
e seu gado?”. 26 Assegurou-lhe Jesus: “Eu, que te falo,
13 Jesus afirmou-lhe: “Quem beber dessa sou o Messias.”.
água terá sede outra vez;
14 aquele, porém, que beber da água que A grande colheita
Eu lhe der nunca mais terá sede. Ao con- 27 Neste ponto, chegaram os seus discí-
trário, a água que Eu lhe der tornar-se-á pulos e se admiraram de que estivesse
nele uma fonte de água jorrando para a conversando com uma mulher; todavia,
vida eterna.”. ninguém lhe perguntou: “Que queres
15 A mulher lhe pediu: “Senhor! Dá-me saber?”. Ou: “Por que falas com ela?”.
dessa água, para que eu não tenha mais 28 A mulher, então, deixou o seu cântaro,
sede, nem precise voltar aqui para tirar foi à cidade e disse aos homens:
água.”. 29 “Vinde e vede um homem que me
16 Pediu-lhe Jesus: “Vai, chama teu marido disse tudo quanto tenho feito. Não seria
e volta aqui.”. esse o Cristo?”.
17 Confessou-lhe a mulher: “Não tenho 30 Saíram, pois, da cidade e foram para
marido.”. Replicou-lhe Jesus: “Respon- onde Jesus estava.
deste acertadamente, ao dizer que não 31 Enquanto isso, os discípulos insistiam
tens marido; com Ele: “Mestre, come!”.
1 Gn 33.19 e Js 24.32.
2 “Hora sexta”: por volta do meio dia.
3 Ou, literalmente, no original hebraico: não usam pratos que os samaritanos já usaram alguma vezz (2 Rs 17.24-41; Ed 4.1-5;
Ne 4.1,2).
32 Mas Ele lhes disse: “Tenho um alimen- 45 Assim, quando chegou à Galiléia, os
to para comer que vós não conheceis.”. galileus o receberam bem, porque viram
33 Então os discípulos disseram uns todas as coisas que Ele fizera em Jeru-
aos outros: “Será que alguém lhe teria salém, por ocasião da festa à qual eles
trazido algo para comer?”. também tinham comparecido.
34 Explicou-lhes Jesus: “A minha comida
consiste em fazer a vontade daquele que A cura do filho de um oficial
me enviou e consumar a sua obra. 46 Então Jesus voltou mais uma vez a Caná
35 Não dizeis vós: ‘Ainda há quatro meses da Galiléia, onde transformara água em
até a colheita?’. Eu, porém, vos afirmo: vinho. E ali havia um oficial do rei, cujo
erguei os olhos e vede os campos, pois já filho estava doente em Cafarnaum.
estão brancos para a colheita. 47 Quando ele ouviu que Jesus havia chega-
36 Aquele que ceifa recebe o seu salário e do à Galiléia, vindo da Judéia, dirigiu-se até
colhe fruto para a vida eterna, e assim se Ele e lhe implorou que descesse para curar
alegram juntos o semeador e o ceifeiro. seu filho, que estava a ponto de morrer.
37 Dessa forma, é verdadeiro o ditado: 48 E Jesus lhe disse: “A menos que vejais
‘Um semeia, e o outro colhe.’. os sinais e maravilhas, nunca crereis.”.
38 Eu vos enviei para ceifar o que não 49 O oficial do rei disse a Jesus: “Senhor,
plantaste. Outros realizaram o cultivo, desce, antes que o meu menino morra!”.
e vós usufruístes do labor deles.”. 50 Assegurou-lhe Jesus: “Pode seguir, o
teu filho vive.”. O homem acreditou na
O salvador do mundo palavra de Jesus e partiu.
39 Muitos samaritanos daquela cidade 51 E, quando estava descendo, a caminho,
creram nele, em virtude da palavra da- seus servos vieram ao seu encontro e lhe
quela mulher que testemunhara: “Ele deram a notícia: “Teu filho vive!”.
me disse tudo quanto tenho feito.”. 52 Então, inquiriu deles a hora em que
40 Assim, quando os samaritanos se o menino havia melhorado, e eles lhe
encontraram com Jesus, insistiram em disseram: “Ontem, à hora sétima5, a febre
que se hospedasse com eles, e Ele ficou o deixou.”.
dois dias. 53 Assim, o pai reconheceu ser aquela a
41 E muitos outros creram, por causa da mesma hora em que Jesus lhe dissera: “O
sua Palavra. teu filho vive.”. E creu ele e todos os que
42 Então disseram à mulher: “Agora viviam em sua casa.
cremos, não somente por causa do que 54 Esse foi o segundo sinal6 realizado por
tu falaste, mas porque nós mesmos o Jesus, depois que veio da Judéia para a
ouvimos e sabemos que este é verdadei- Galiléia.
ramente o Cristo,4 o Salvador do mundo.”.
A cura do homem de Betesda
Jesus é bem recebido na Galiléia
43 Depois daqueles dois dias, Ele partiu
dali para a Galiléia.
5 Algum tempo depois, havia uma
festa dos judeus, e Jesus subiu para
Jerusalém.
44 O próprio Jesus havia testemunhado 2 Existe em Jerusalém, perto da Porta das
que um profeta não tem honra em sua Ovelhas, um tanque, chamado em he-
própria terra. braico Betesda,1 tendo cinco pavilhões.
3 Nestes, ficava grande multidão de 15O homem partiu e disse aos judeus
enfermos, cegos, mancos e paralíticos, que fora Jesus quem o havia curado.
esperando pelo movimento nas águas.2
4 De certo em certo tempo, descia um Honra o Pai e o Filho
anjo do Senhor e agitava as águas. O pri- 16 Por essa razão, os judeus perseguiam
meiro que entrasse no tanque, depois de a Jesus e tentavam matá-lo,6 pois Ele
agitadas as águas, era curado de qualquer estava fazendo essas coisas durante o
doença que tivesse. sábado.
5 Estava ali um certo homem, enfermo 17 Mas Jesus respondeu a eles: “Meu Pai
havia trinta e oito anos. continua trabalhando até agora, e Eu
6 Quando Jesus o viu deitado, e sabendo também estou trabalhando.”.
que estava assim havia muito tempo, 18 Por isso, os judeus ainda mais procu-
perguntou-lhe: “Queres ser curado?” ravam matá-lo, porque não somente
7 O homem enfermo queixou-se: “Se- violava o sábado, mas também dizia que
nhor, não tenho ninguém que me ponha Deus era seu Pai, fazendo a si próprio
no tanque, quando a água é agitada; pois, igual a Deus.
enquanto estou indo, desce outro antes 19 Retomando a palavra, explanou Jesus:
de mim.” “Em verdade, em verdade vos asseguro,
8 Ordenou-lhe Jesus: “Levanta-te, apanha que o Filho nada pode fazer de si mesmo,
o teu leito3 e anda.”. mas somente pode fazer o que vê o Pai
9 Imediatamente o homem ficou curado, fazer, pois o que este fizer, o Filho seme-
pegou seu leito e andou. E aquele dia era lhantemente o faz.
sábado.4 20 Porque o Pai ama o Filho, e lhe mostra
10 Por isso, disseram os judeus
j ao qque todas as coisas que realiza. E maiores
fora curado: “É sábado e não te é permi- obras do que estas lhe mostrará, para
tido carregar o leito.” que vos maravilheis.
11 O homem respondeu a eles: “Aquele 21 Pois, assim como o Pai ressuscita os
que me curou ordenou-me: ‘Apanha o mortos e os faz viver, assim também o
teu leito e anda’!” Filho dá a vida a quem Ele desejar.
12 Então lhe perguntaram: “Quem é o 22 Assim, o Pai a ninguém julga, mas
homem que te disse: ‘Apanha o teu leito confiou todo o julgamento ao Filho,
e anda’?”. 23 a fim de que todos honrem o Filho
13 Mas o homem que havia sido curado exatamente como honram o Pai. Aquele
não sabia quem era; pois Jesus tinha se que não honra o Filho não honra o Pai
retirado, sendo que havia uma multidão que o enviou.
naquele lugar. 24 Em verdade, em verdade vos asseguro:
14 Mais tarde, Jesus o encontrou no quem ouve a minha Palavra e crê naquele
templo e lhe disse: “Veja que já estás que me enviou tem a vida eterna, não
curado; não voltes a pecar, para que entra em juízo, mas passou da morte
não te aconteça coisa pior.”.5 para a vida.
João se refere a “festas dos judeus” com o desejo de informar os gentios (não judeus) sobre as tradições judaicas. Os capítulos
centrais deste Evangelho são cronologicamente relacionados com as diversas festas do ano judaico. Páscoa (6.4), Tabernáculos
(7.2), Dedicação (10.2). A festa aqui se refere ao Ano Novo (Trombetas – Lv 23.23-25). Os pavilhões são cinco arcadas com
grandes colunas em torno de um tanque duplo.
2 O NTG omite essa última frase do texto e todo o versículo 4.
3 Uma espécie de maca ou esteira. Em grego krabattos, como em Mc 2.9-12.
4 Sabbath em KJ. O dia do descanso conforme a Lei (Gn 2.2; Êx 20.8-11; Gl 4.1-10; Hb 4.4-11).
5 Jesus sabia que a causa da enfermidade daquele homem fora seu pecado, entretanto não quis revelá-la ao público; mas
advertiu o homem de que a repetição ou permanência no pecado poderia levá-lo a coisa pior: a morte eterna.
6 O NTG omite a frase: “e tentavam matá-lo”, mantida nas revisões de KJ.
25 Mais uma vez, verdadeiramente vos 38 Igualmente não tendes a sua Palavra
afirmo: vem a hora, e já chegou, em que habitando em vós, porque não credes
os mortos ouvirão a voz do Filho de naquele a quem Ele enviou.
Deus; e os que a ouvirem viverão. 39 Vós examinais criteriosamente as Es-
26 Pois, assim como o Pai tem a vida em crituras,9 porque julgais ter nelas a vida
si mesmo, igualmente outorgou ao Filho eterna, e são elas mesmas que testemu-
ter vida em si mesmo. nham acerca de mim.
27 E também lhe deu autoridade para 40 Todavia, vós não quereis vir a mim
executar julgamento, porque é o Filho para terdes a vida.
do homem. 41 Eu não aceito honra que procede dos
28 Não vos admireis quanto a isso, pois está homens.
chegando a hora em que todos os que re- 42 Mas Eu vos conheço bem e sei que não
pousam nos túmulos ouvirão a sua voz tendes em vós o amor de Deus.
29 e sairão; os que tiverem feito o bem, 43 Eu vim em Nome de meu Pai, e vós não
para a ressurreição da vida, e aqueles que me recebeis. Se outro vier em seu próprio
tiverem praticado o mal, para a ressur- nome, declaro-vos que o recebereis.
reição da condenação.7 44 Como podeis crer, vós que recebeis
30 Por mim mesmo, nada posso fazer; honra uns dos outros, mas não buscais a
conforme ouço, assim julgo; e o meu jul- glória que vem do Deus único?
gamento é justo, porque não busco agra- 45 Não penseis que Eu vos acusarei diante
dar a meu próprio desejo, mas satisfazer do Pai. Quem vos acusa é Moisés, em quem
a vontade do Pai que me enviou. tendes depositado a vossa esperança.
31 Se Eu der testemunho acerca de mim 46 Todavia, se de fato crêsseis em Moisés,
mesmo, o meu testemunho não será de igual modo haveríeis de crer em mim,
válido.8 pois foi a meu respeito que ele escreveu.
32 Há outro que testemunha a meu favor, 47 Mas, se não credes em seus escritos,
e Eu sei que o seu testemunho acerca de como crereis em minhas palavras?”.
mim é verdadeiro.
33 Vós enviastes representantes a João, e A multiplicação dos pães e peixes
ele deu testemunho da verdade. Mt 14.13-21; Mc 6.30-44; Lc 9.10-17
34 Eu, entretanto, não busco o testemu-
nho dos homens, mas digo essas verda-
des para que sejais salvos.
6 Passado algum tempo, Jesus foi para
a outra margem do mar da Galiléia,
que é o mar de Tiberíades.
35 Ele era uma candeia que queimava e 2 Então, uma grande multidão o seguia,
iluminava, e vós quisestes, por um mo- porque tinham visto os sinais que Ele
mento, rejubilar-vos na sua luz. realizava nos enfermos.
36 Todavia Eu tenho um testemunho 3 E Jesus subiu ao monte, e sentou-se ali
maior do que o de João; a própria obra com seus discípulos.
que o Pai me deu para consumar, e que 4 Ora, a Páscoa, uma festa dos judeus,
estou realizando, testemunha que o Pai estava próxima.
me enviou. 5 Jesus ergueu os olhos e, vendo uma
37 E o Pai que me enviou, Ele mesmo tes- grande multidão que vinha em sua dire-
temunhou sobre mim. Jamais ouvistes a ção, disse a Filipe: “Onde compraremos
sua voz, nem contemplastes a sua face. pães para lhes dar a comer?”
7 As almas dos que morreram, repousam ou dormem (Dn 12.2). A decisão judicial suprema é tomada em vida: os que tiverem
feito o bem são os que vieram à Luz; esses já estão vivendo a vida eterna como salvos. Os que tiverem praticado o mal são os que
“amaram mais as trevas do que a Luz” (3.19-21). Essas pessoas, a não ser que, em vida, se arrependam e recebam a Jesus em seus
corações, já estão condenadas para sempre (3.18). Não há bem maior do que entregar a vida aos cuidados de Cristo (Ef 2.8-10).
8 A lei judaica exigia mais de um testemunho para validar uma declaração.
9 Graphe em grego. A carta de Deus. Todo o AT e o NT (2 Pe 3.16).
6 Mas disse isso apenas para o provar, 18 O mar agitava-se devido ao forte vento
pois Ele bem sabia o que ia fazer. que soprava.
7 Filipe lhe respondeu: “Duzentos de- 19 Quando eles haviam remado uns vinte
nários1 não seriam suficientes para que e cinco a trinta estádios,4 viram Jesus
cada um recebesse um pequeno pedaço aproximando-se do barco, andando so-
de pão.”. bre o mar, e ficaram amedrontados.
8 Um de seus discípulos, André, irmão de 20 Mas Ele tranqüilizou-os dizendo: “Sou
Simão Pedro, disse a Jesus: eu! Não temais.”.
9 “Há aqui um rapaz com cinco pães de 21 Então, eles, de boa vontade, o recebe-
cevada e dois peixes pequenos; mas de ram no barco, e imediatamente chega-
que servem no meio de tanta gente?”. ram à praia para a qual se dirigiam.
10 Então Jesus disse: “Fazei que o povo se
assente”; pois havia muita grama naque- Jesus é o pão do céu
le lugar. Assim, assentaram-se os homens 22 No dia seguinte, as pessoas que fica-
em número de quase cinco mil.2 ram do outro lado do mar viram que ali
11 Jesus pegou os pães e, tendo dado não havia senão um barco e Jesus não
graças, repartiu-os entre os discípulos,3 havia entrado nele com seus discípulos,
e para os que estavam assentados; e da mas que eles tinham partido sós.
mesma maneira se fez com os peixes, 23 Entretanto, outros barcos chegaram
tanto quanto desejaram. de Tiberíades, próximo do lugar onde o
12 E quando estavam fartos, disse Jesus povo havia comido o pão, após o Senhor
aos seus discípulos: “Recolhei os pedaços haver dado graças.
que sobraram, para que nada se perca.”. 24 Quando as pessoas da multidão perce-
13 Assim sendo, eles os ajuntaram e beram que Jesus não estava ali nem seus
encheram doze cestos com os pedaços discípulos, entraram em seus barcos e
dos cinco pães de cevada, deixados por partiram para Cafarnaum à procura de
aqueles que haviam comido. Jesus.
14 Então, vendo aqueles homens o sinal 25 E, tendo-o encontrado do outro lado
que Jesus havia realizado, disseram: “Este do mar, perguntaram-lhe: “Mestre, quan-
é, verdadeiramente, o Profeta que devia do chegaste aqui?”
vir ao mundo.”. 26 Jesus respondeu a eles assim: “Em
verdade, em verdade vos afirmo: vós me
Jesus caminha sobre o mar buscais não porque vistes os sinais, mas
Mt 14.22-33; Mc 6.45-52 porque comestes os pães e vos fartastes.
15 Percebendo, então, Jesus, que estavam 27 Trabalhai, não pelo alimento que se
prestes a vir e levá-lo à força para o perde, mas pela comida que permanece
proclamarem rei, retirou-se novamente, para a vida eterna, alimento que o Filho
sozinho, para o monte. do homem vos dará; pois Deus, o Pai,
16 Ao anoitecer, seus discípulos desceram colocou o seu selo5 sobre Ele.”
para o mar. 28 Então, eles questionaram a Jesus: “O que
17 Entraram num barco e passaram para faremos para realizar as obras de Deus?”
o outro lado, rumo a Cafarnaum. Já 29 Jesus lhes asseverou: “A obra de Deus
estava escuro, e Jesus ainda não havia é esta: que creiais naquele que por Ele foi
chegado até eles. enviado.”
30 Por esse motivo o desafiaram: “Que cemos? Como pode então Ele dizer: ‘Eu
sinal poderás realizar para que o vejamos desci do céu’?”.
e creiamos em ti? Que obra farás? 43 Por essa razão Jesus assim respondeu-
31 Nossos pais comeram o maná no de- lhes: “Não murmureis entre vós.
serto; como está escrito: ‘Ele lhes deu a 44 Ninguém pode vir a mim a menos que
comer pão do céu’.”.6 o Pai, o qual me enviou, o atrair; e Eu o
32 Respondeu-lhes, então, Jesus: “Em ressuscitarei no último dia.
verdade, em verdade vos asseguro: não 45 Está escrito nos Profetas: ‘E serão todos
foi Moisés quem vos deu o Pão do céu; ensinados por Deus’.9 Sendo assim, todo
mas é meu Pai quem vos dá o verdadeiro aquele que ouve o Pai e dele aprende,
pão do céu. vem a mim.
33 Pois o pão de Deus é o que desce do 46 Não que alguém tenha visto o Pai, a
céu e dá vida ao mundo.” não ser Aquele que vem de Deus. Só Ele
34 Então, eles pediram a Jesus: “Senhor, viu o Pai.
dá-nos sempre desse pão.” 47 Em verdade, em verdade vos assegu-
35 Diante disso, Jesus ministrou-lhes: “Eu ro: aquele que crê em mim10 tem a vida
sou o Pão da Vida; aquele que vem a mim eterna.
jamais terá fome, e aquele que crê em 48 Eu sou o Pão da Vida.11
mim jamais terá sede. 49 Vossos pais comeram o maná no de-
36 Todavia, como Eu vos disse, embora serto e estão mortos.
me tenhais visto, ainda não credes. 50 Este é o pão que desce do céu, para que
37 Todo aquele que o Pai me der, esse virá todo o que dele comer não morra.
a mim; e o que vem a mim, de maneira 51 Eu sou o Pão Vivo que desceu do céu;
alguma o excluirei.7 se alguém comer deste pão, viverá eter-
38 Pois Eu desci do céu, não para fazer a namente; e o pão que deverei dar pela
minha própria vontade, mas a vontade vida do mundo é a minha carne.”.
daquele que me enviou. 52 Houve, então, grande discussão entre
39 E esta é a vontade do Pai, o qual me os judeus e esbravejavam uns com os ou-
enviou: que Eu não perca nenhum de tros: “Como pode este homem dar-nos a
todos os que Ele me deu, mas que Eu os comer a sua própria carne?”.
ressuscite no último dia.8 53 Então Jesus os advertiu: “Em verdade,
40 De fato, esta é a vontade daquele que em verdade vos afirmo: se não comerdes a
me enviou: que todo aquele que vir o carne do Filho do homem e não beberdes o
Filho e nele crer tenha a vida eterna, e seu sangue, não tereis a vida dentro de vós.
Eu o ressuscitarei no último dia.”. 54 Todo aquele que comer a minha carne
e beber o meu sangue tem vida eterna, e
Jesus não é compreendido Eu o ressuscitarei no último dia.
41 Então, os judeus começaram a se quei- 55 Pois a minha carne é verdadeira comi-
xar dele, porque dissera: “Eu sou o pão da, e meu sangue é verdadeira bebida.
que desceu do céu.”. 56 Aquele que come a minha carne e bebe
42 E comentavam: “Não é este Jesus, o meu sangue permanece em mim, e Eu
filho de José? Cujo pai e mãe nós conhe- nele.
6 Maná: Pão do céu; a Torá (Lei de Moisés). Veja: Êx 16.4; Ne 9.15; Sl 78.24,25.
7 Excluir, lançar fora ou rejeitar, como em KJ. Veja: Jo 17.6-12.
8 Todo o que crê em Jesus recebe o Selo da Redenção Eterna: o Espírito Santo (2Co 1.21-22; Ef 1.13; Ef 4.30).
9 Veja: Is 54.13; Jr 31.31-34; Hb 8.6-18. Cristo é a redenção de Israel e de todos os povos.
10 O NTG omite “em mim”. Entretanto, já havia ficado claro que só aquele que crê em Jesus está salvo: agora e para sempre.
11 “Eu sou.” A expressão em grego egô eimii evoca o nome de Deus (Êx 3.14), transliterado Jeová Yahweh, e Jesus a repete
sete vezes. O “Eu sou” é o próprio “Pão da Vida” (Pv 9.5). Jesus é Deus!
57 Assim como o Pai, que vive, me enviou 68 Mas Simão Pedro respondeu a Ele:
e Eu vivo por causa do Pai, assim aquele “Senhor14, para quem iremos? Tu tens as
que se alimenta de mim viverá por mi- palavras de vida eterna.
nha causa. 69 Sendo assim, nós temos crido e
58 Este é o pão que desceu do céu. De reconhecido que Tu és o Cristo, o Filho
modo algum comparável ao maná do Deus Vivo.”.15
comido por vossos pais, que agora estão 70 Então Jesus acrescentou: “Não vos esco-
mortos. Aquele que comer deste Pão lhi, Eu, aos doze? Todavia, um dentre vós
viverá para sempre.”. é um diabo.”.16
59 Essas verdades disse Jesus, enquanto 71 Falava de Judas, o filho de Simão Is-
ensinava na sinagoga em Cafarnaum. cariotes.177 Este, ainda que fosse um dos
doze, mais tarde o haveria de trair.
Muitos discípulos deixam Jesus
60 Portanto, muitos dos seus discípulos, A falta de fé dos irmãos de Jesus
ao ouvirem isso, disseram: “Dura é essa
declaração.Quempoderácompreendê-la?”.
61 Quando Jesus percebeu, em seu ínti-
7 Depois desses fatos, Jesus andou pela
Galiléia, porque não queria passar
pela Judéia, pois os judeus1 procuravam
mo, que seus discípulos estavam mur- matá-lo.
murando por causa de suas palavras, 2 Nessa ocasião, a festa judaica dos Taber-
inquiriu-os: “Isso vos escandaliza?12 náculos estava próxima.
62 O que acontecerá quando virdes o 3 Sendo assim, os irmãos de Jesus lhe
Filho do homem ascender13 para o lugar disseram: “Parte deste lugar e vai para
onde estava antes? a Judéia, para que os teus discípulos,
63 É o Espírito quem dá vida; a carne em semelhantemente, vejam as obras que
nada se aproveita; as palavras que Eu vos fazes.
tenho dito são Espírito e são vida. 4 Porque ninguém age às ocultas enquan-
64 Entretanto, existem alguns de vós que to procura ser publicamente reconheci-
não crêem.”. Pois Jesus sabia, desde o do. Se realizas estas obras, manifesta-te
princípio, quais eram os que não criam ao mundo.”.
e quem
q o iria trair. 5 Pois nem mesmo seus irmãos acredita-
65 E continuou: “É por isso que Eu vos vam nele.
tenho dito que ninguém pode vir a mim, 6 Então Jesus lhes afirmou: “O meu tem-
a não ser que isso lhe seja concedido por po ainda não chegou; para vós, porém,
meu Pai.”. qualquer hora é correta.
66 Daquele momento em diante, muitos 7 O mundo não pode odiar-vos, mas
dos seus discípulos recuaram e não mais odeia a mim, pois Eu dou testemunho de
andaram com Ele. que suas obras são más.
67 Então Jesus interpelou os doze: “Vós 8 Podeis vós subir à festa. Eu, neste mo-
também desejais ir embora?”. mento, não subo para essa festa, porque
12 A palavra escandalizar (ofender, como em KJ) é derivada de um vocábulo grego skadalizei que significa “fazer tropeçar”.
Assim, Cristo serviu de “pedra de tropeço” para Israel como fora profetizado (Is 8.14,15).
13 “Ascender” (voltar à fonte ou origem) como em KJ. A ascensão de Cristo (3.13).
14 Senhor (kurios em grego). Na Septuaginta, a autoridade e o poder de Deus (Yahweh).
15 O NTG traz: “Tu és o Santo de Deus.” A KJ acompanha, neste caso, o Textus Receptus como está em Mt 16.16.
16 Diabo; em grego, diabolos: difamador, caluniador ou falso acusador. Aqui é provável que Jesus tenha usado o termo
hebraico/aramaico, um servo (demônio) de Satanás: sattan (adversário).
17 Jesus e sua Igreja sofrem com os traidores (6.64; 13.27). Iscariotes (em hebraico‘îsh qe riyyôth) significa simplesmente “o
homem de Queriote”, uma localidade da Judéia (Js 15.25), de onde Judas e seu pai Simão vieram.
Capítulo 7
1 Judeus aqui se refere aos habitantes da Judéia (ioudaioi). As autoridades governantes.
o meu tempo apropriado aindaa2 não che- demônio! Quem está procurando ma-
gou por completo.”. tar-te?”
9 E tendo dito essas palavras a eles, per- 21 Jesus respondeu a eles, dizendo:
maneceu na Galiléia. “Realizei só uma obra,7 e todos vos
assombrais.
O Mestre celeste 22 Por causa de Moisés vos haver dado a
10 Mas, após seus irmãos terem subido, circuncisão (embora ela não tenha vindo
então, Ele também subiu para a festa, de Moisés, mas sim, dos patriarcas), vós
não abertamente, mas em segredo. circuncidais um homem no sábado.
11 Então, os judeus o procuravam na fes- 23 E, se um homem8 pode receber a cir-
ta e especulavam: “Onde estará Ele?” cuncisão no sábado, para que a Lei de
12 E havia grande murmuração entre o Moisés não seja quebrada, por que vos
povo a respeito dele. Alguns comentavam: irais contra mim por Eu ter curado com-
“Ele é bom.”. E outros: “Não, ao contrário, pletamente um homem no sábado?
Ele ilude o povo.”. 24 Não julgueis de acordo com a aparên-
13 Todavia, ninguém falava dele em pú- cia, mas decidi com justos julgamentos.”
blico, por medo dos judeus.
14 Assim, próximo ao meio da festa, Jesus Jesus é o Messias!
subiu ao templo e ensinava. 25 Então, alguns de Jerusalém diziam: “Não
15 E os judeus, maravilhados, diziam: é este aquele a quem procuram matar?
“Como sabe este homem letras,3 sem 26 Mas observai! Ele fala atrevidamente,
nunca ter estudado?” e eles não lhe dizem nada. Será que as
16 Respondeu-lhes Jesus: “A minha dou- autoridades reconhecem que Ele é verda-
trina4 não é minha, e sim, daquele que deiramente9 o Messias?
me enviou. 27 Entretanto, nós sabemos de onde é este
17 Se alguém desejar fazer a vontade dele, homem; quando o Cristo vier, ninguém
conhecerá a respeito da doutrina, se ela saberá de onde Ele é.”
vem de Deus ou se Eu falo por minha 28 Então Jesus, enquanto ensinava no
própria autoridade.5 templo, proclamou: “Vós não somente
18 Aquele que fala por si mesmo está pro- me conheceis, como também sabeis de
curando a sua própria glória; mas o que onde Eu Sou; e não vim porque Eu, de
procura a glória de quem o enviou, esse é mim mesmo, o desejasse, mas Aquele
verdadeiro, e nele não há injustiça.6 que me enviou é verdadeiro; Aquele a
19 Não foi Moisés quem vos deu a Lei? quem vós não conheceis.
Entretanto, nenhum de vós pratica a Lei. 29 Mas10 Eu o conheço, porque venho
Por que procurais matar-me?” dele e por Ele fui enviado.”.
20 Contestou o povo: “Tu estás com um 30 Por isso, procuravam prendê-lo; mas
2 O NTG omite a palavra “ainda”. A expressão “meu tempo apropriado” deriva da expressão grega kairos (literalmente, “opor-
tunidade” – o momentum, certo e predeterminado de Deus).
3 Jesus não estudou em escola rabínica, mas conhecia bem “as letras” (grammala, em grego) ou “escritos”, como em 5.47.
4 Mais que “ensino”. A doutrina de Jesus é o conjunto de princípios básicos do sistema filosófico e religioso de todo o
Cristianismo.
5 Os profetas de Deus falavam: “Assim diz o Senhor”; enquanto Jesus, exercendo a autoridade do Pai, dizia: “Eu vos digo” (3.34;
5.36). A vontade de Deus só é perfeitamente conhecida através do “desejar fazer” (thelei, verbo no presente contínuo em grego).
6 Adikia (em grego: o oposto a certo, justo e verdadeiro). O mundo tenta relativizar a moral e a justiça. Em Jesus não há qual-
quer falsidade. Ele é a verdade (14.6).
7 Obra (ou milagre), como em KJ e nos melhores textos em grego. Refere-se ao milagre de 5.8-10.
8 Homem como em KJ, ou “menino”. Os rabinos acreditavam que o rito da circuncisão podia curar uma parte do corpo do
homem e melhorar sua capacidade reprodutora.
9 O NTG omite a palavra: “verdadeiramente”. Cristo é a tradução grega da palavra hebraica Messias.
10 O NTG omite a palavra: “mas”.
ninguém lhe pôs a mão, pois ainda não pois o Espírito Santo15 até aquele mo-
era chegada a sua hora. mento não fora concedido, porque Jesus
31 E muitos que estavam na multidão, não havia sido ainda glorificado.
acreditaram nele e afirmaram: “Quando
o Cristo vier, fará, porventura, mais sinais Quem é Jesus Cristo?
do que esses feitos por este homem?”. 40 Então, muitos16 dentre a multidão,
quando ouviram essas palavras, disse-
Jesus e os líderes religiosos ram: “Verdadeiramente este é o Profeta.”
32 Os fariseus ouviram a multidão fo- 41 Outros concluíram: “Este é o Messias.”
mentando esses comentários a respeito Mas, alguns divergiram: “Como pode o
dele. Então os chefes dos sacerdotes e os Cristo vir da Galiléia?
fariseus11 enviaram guardas do templo 42 Não diz a Escritura que o Cristo virá da
para o prenderem. semente177 de Davi, da cidade de Belém, de
33 Exclamou, então, Jesus: “Eu ainda onde era Davi?”.
estarei convosco por pouco tempo e logo 43 Assim houve uma divisão entre o povo
irei para Aquele que me enviou. por causa dele.
34 Vós procurareis por mim, mas não me 44 E alguns dentre o povo quiseram pren-
encontrareis; e onde Eu estou vós não dê-lo, mas ninguém lhe pôs as mãos.
podeis chegar.”
35 Então os judeus comentaram entre si: Rejeitado pelas autoridades
“Para onde Ele pretende ir, que não o pos- 45 Então, os guardas do templo voltaram
samos encontrar? Planeja ir para a Disper- aos chefes dos sacerdotes e aos fariseus,
são12 entre os gregos, para ensinar a eles? os quais lhes inquiriram: “Por que não o
36 Qual é o significado do que Ele disse: trouxestes?”.
‘Vós procurareis por mim, mas não me 46 Os guardas explicaram: “Nenhum ho-
encontrareis; e onde Eu estou vós não mem jamais falou como este Homem!”.18
podeis chegar’?”. 47 Replicaram-lhes os fariseus: “Será pos-
sível que fostes vós também iludidos?
A promessa do Espírito Santo 48 Porventura, acreditou nele alguém das
37 No último dia, o mais solene dia da autoridades ou dos fariseus?
festa, Jesus colocou-se em pé e clamou 49 E, quanto a esse povo comum, que
em pranto: “Se alguém tem sede, deixai- nada sabe da Lei, são uns malditos!”.
o vir a mim para que beba.13 50 Nicodemos, sendo um dos sacerdotes,
38 Aquele que crê em mim, como diz a o qual estivera com Jesus à noite,19 ques-
Escritura, do seu interior fluirão rios de tionou-os:
água viva.”. 51 “Acaso a nossa lei julga um homem,
39 Mas Ele se referiu ao Espírito que, mais sem primeiro ouvi-lo e saber o que ele
tarde, receberiam os que nele cressem;14 está fazendo?”.
11 Os chefes dos sacerdotes (em grego: archiereis) faziam parte das famílias sacerdotais mais ricas e poderosas e formavam o
Sinédrio. Os fariseus pertenciam a uma seita política radical na observância da Lei, e eram inimigos dos saduceus (sacerdotes).
12 Dispersão: regiões a norte e oeste da Judéia onde havia colônias judaicas em terras gregas.
13 O último dia era o oitavo dia da festa dos Tabernáculos e era sagrado como um sábado. Em todo o tempo da festa, um jarro
de ouro com água do tanque de Siloé era derramado, como libação, sobre o altar do sacrifício matinal. Cristo se apresenta como
a Rocha da qual flui água salvadora (Nm 20.2-13; 1Co 10.4). Uma profecia sobre sua morte expiatória (19.34).
14 O TM (Texto Majoritário) traz: “que creram”.
15 O NTG omite “Santo”, como está em KJ.
16 O NTG traz: “alguns”.
17 “Semente”, como nos originais e em KJ, ou “descendência”, como em algumas traduções.
18 “Homem!”: ênfase ao ser humano especial que os guardas viram em Jesus; como aparece nas novas versões de KJ.
19 “À noite” como em KJ, ou “antes” como no NTG.
“Vós não conheceis nem a mim nem a cumpro a sua vontade como lhe agrada.”.
meu Pai. Se conhecêsseis a mim, da mes- 30 Tendo proferido essas palavras, muitos
ma forma conheceríeis a meu Pai.”. creram nele.
20 Essas palavras Jesus proclamou no lu-
gar do gazofilácio,11 enquanto ainda en- A verdade que liberta
sinava no templo; e ninguém o prendeu, 31 Então, disse Jesus aos judeus que
pois ainda não era chegada a sua hora. haviam crido nele: “Se permanecerdes na
minha Palavra, verdadeiramente sereis12
Jesus anuncia a sua partida meus discípulos.
21 Uma vez mais, disse-lhes Jesus: “Estou 32 E conhecereis a verdade, e a verdade
partindo, e vós procurareis por mim, vos libertará.”
mas morrereis em vossos pecados; para 33 Eles responderam-lhe: “Somos des-
onde Eu vou, vós não podeis ir.” cendência de Abraão e jamais fomos
22 Então, os judeus comentaram: “Terá escravos de ninguém. Como podes tu
Ele a intenção de se matar? E, por isso diz: afirmar que seremos libertos?”
‘Para onde Eu vou, vós não podeis ir’?”. 34 Jesus explicou-lhes: “Em verdade, em
23 Mas Ele seguiu dizendo-lhes: “Vós verdade vos asseguro: todo aquele que
sois daqui de baixo; Eu Sou lá de cima. pratica o pecado é escravo do pecado.
Vós sois deste mundo; Eu deste mundo 35 O escravo não fica em casa para sempre,
não sou. mas o filho permanece para sempre.13
24 Por isso, Eu vos afirmei que morrereis 36 Assim sendo, se o Filho vos libertar,
em vossos pecados. Se vós não crerdes sereis verdadeiramente livres.
que Eu Sou, certamente morrereis em
vossos pecados.”. A semente de Abraão e de Satanás
25 Então, indagaram-lhe: “Quem és 37 Eu sei que sois a descendência de
tu?” E Jesus lhes afirmou: “Exatamente Abraão, entretanto, procurais matar-me,
o mesmo que vos tenho dito desde o porque a minha Palavra não tem lugar
princípio. dentro de vós.
26 Eu tenho muito mais a declarar e 38 Eu falo do que tenho visto com meu
julgar a respeito de vós. Pois Aquele que Pai, e vós fazeis o que ouvistes14 de vosso
me enviou é digno de toda a confiança, pai.”
assim, transmito ao mundo as palavras 39 Eles contestaram a Jesus, dizendo:
que dele ouvi.”. “Abraão é nosso pai.”. Mas Jesus os cor-
27 Os judeus, contudo, não entenderam rigiu: “Se fôsseis filhos de Abraão, vós
que lhes falava acerca do Pai. faríeis as obras de Abraão.
28 Então Jesus preveniu-os: “Quando ti- 40 Mas, ao contrário, agora procurais
verdes elevado o Filho do homem, então matar a mim, um homem que vos tem
sabereis que Eu Sou, e que nada faço de declarado a verdade, a qual ouviu de
mim mesmo, mas transmito tudo con- Deus. Abraão não procedeu assim.15
forme o meu Pai me ensinou. 41 Vós fazeis as obras de vosso pai.”. Então
29 E Aquele que me enviou está comigo. lhe asseveraram: “Nós não nascemos de
O Pai não me deixou só, pois Eu sempre fornicação;16 nós temos um só Pai, Deus.”.
11 “Lugar do gazofilácio” ou “tesouro”, como em KJ: ficava no pátio das mulheres, onde havia treze recipientes em forma de trom-
beta para receber as ofertas; seis deles para ofertas voluntárias. Onde Jesus viu a viúva depositar suas moedas (Mc 12.41-44).
12 “Sois”, como em KJ. Só os verdadeiros discípulos permanecem em Jesus, e vivem a fé cristã como estilo de vida.
13 O escravo não tem ligação de sangue com a família, mas o filho pertence a ela para sempre.
14 Embora apareça “visto” em KJ, o mais correto é como no NTG: “ouvistes de”.
15 Abraão é exemplo de obediência a Deus (Gn 26.5; Hb 11.8-12).
16 No NTG: “não nascemos de pornéia”, ou seja, de ato sexual ilícito; “não somos bastardos”.
42 Replicou-lhes Jesus: “Se Deus fosse 53 És tu maior do que o nosso pai Abraão,
vosso Pai, vós me amaríeis, pois Eu pro- que morreu? Da mesma forma, os profe-
cedo de Deus e estou aqui. Eu não vim tas morreram. Quem pretendes ser?”.
por mim mesmo, mas Ele me enviou. 54 Jesus declarou-lhes: “Se eu me glorifi-
43 Por q que vós não p podeis entender co a mim mesmo, a minha glória nada é;
minha linguagem? É porque vós sois quem me glorifica é meu Pai, o qual vós
incapazes de ouvir a minha Palavra. dizeis que é vosso18 Deus.
44 Vós pertenceis ao vosso pai, o Diabo; e 55 Todavia, vós ainda não o tendes co-
quereis realizar os desejos de vosso pai. Ele nhecido, mas Eu o conheço. E se Eu
foi assassino desde o princípio, e jamais disser que não o conheço, Eu serei um
se apoiou na verdade, porque não existe mentiroso, assim como vós. No entanto,
verdade alguma nele. Quando ele profere Eu verdadeiramente o conheço e obede-
uma mentira, fala do que lhe é próprio, ço a sua Palavra.
pois é um mentiroso e pai da mentira. 56 Vosso pai Abraão muito se alegrou,
45 Mas, porque Eu digo a verdade, vós pois veria o meu dia; e ele o viu e ficou
não credes em mim. feliz.”.
46 Quem de vós pode me condenar por al- 57 Então os judeus disseram a Jesus: “Tu
gum pecado? E, se Eu estou dizendo a ver- ainda não tens cinqüenta anos, e viste a
dade, por que vós não credes em mim? Abraão?”.
47 Aquele que é de Deus, ouve as palavras 58 Respondeu-lhes Jesus: “Em verdade,
de Deus. Entretanto, vós não ouvis; em verdade vos asseguro: antes que
porque não sois de Deus.”. Abraão existisse, Eu Sou.”.
59 Então, pegaram pedras para apedrejá-
Antes de Abraão, Eu Sou lo, mas Jesus esquivou-se e, passando por
48 Então os judeus, em resposta, lhe entre eles,19 saiu do templo.
disseram: “Não dissemos acertadamente
que tu és samaritano e tens um demônio?”. Jesus cura um homem cego
49 Replicou-lhes Jesus: “Eu não tenho um
demônio; ao contrário, Eu honro a meu
Pai, e vós me desonrais.
9 Ao caminhar, Jesus viu um cego de
nascença.
2 E seus discípulos lhe perguntaram:
50 E além do mais, Eu não estou buscan- “Rabi,1 quem pecou, este homem ou
do minha própria glória; existe Um que a seus pais, para que nascesse cego?”.
busca por mim e a tudo julga.17 3 Jesus lhes respondeu: “Nem ele pecou,
51 Em verdade, em verdade vos asseguro: nem seus pais; mas foi para que as obras
se alguém obedecer a minha Palavra, ja- de Deus fossem reveladas na vida dele.
mais experimentará a morte.”. 4 Eu2 devo fazer as obras daquele que
52 Ao ouvirem isso, exclamaram os ju- me enviou, enquanto é dia; a noite vem,
deus: “Agora estamos certos de que tens quando ninguém pode trabalhar.
um demônio. Abraão morreu, e também 5 Durante o tempo em que estiver no
os profetas, e tu afirmas: ‘se alguém mundo, sou a luz do mundo.”.
obedecer à minha palavra, jamais expe- 6 Então, tendo dito essas palavras, cuspiu
rimentará a morte’. no chão e fez barro com saliva; em segui-
17 Jesus não temia o julgamento dos homens. Ele sabia que o Pai o glorificaria.
18 O NTG e o TM trazem: “nosso”.
19 O NTG omite: “passando por entre eles”.
Capítulo 9
1 “Rabi”, como em KJ, significa “Mestre”.
2 Os originais registram “Eu faço”, como em KJ.
da ungiu3 os olhos do cego com aquela 17 Uma vez mais, perguntaram ao ho-
mistura. mem que fora cego: “Que dizes tu a res-
7 E ordenou ao homem: “Vai, lava-te no peito dele, pelo fato de que abriu os teus
tanque de Siloé”4 (que significa: Envia- olhos?”. O homem asseverou-lhes: “Ele é
do). O cego foi, lavou-se e voltou vendo. um profeta.”.
8 Portanto, os vizinhos e aqueles que o 18 Contudo, os judeus não acreditaram
conheciam como cego, diziam: “Não que ele fosse cego e havia recebido a
é este o mesmo homem que costuma visão, até que fossem chamados os pais
ficar sentado, mendigando?”.
g daquele
q que
q recebera a visão.
9 Alguns afirmavam: “É ele mesmo.” Ou- 19 Então os interrogaram: “É este o vosso
tros comentavam: “Apenas se parece com filho, o qual vós dizeis que nasceu cego?
ele.”5 Ele mesmo, entretanto, assegurava- Como, então, ele pode ver agora?”.
lhes: “Sou eu o homem.”. 20 Os pais lhes responderam: “Sabemos6
10 Por esse motivo, indagaram-lhe: “Co- que ele é nosso filho e que nasceu cego.
mo te foram abertos os olhos?”. 21 Mas não sabemos o significado de
11 Ele respondeu: “Um homem chamado ele estar vendo agora, e também não
Jesus misturou terra com saliva, ungiu sabemos quem lhe abriu os olhos. Per-
meus olhos e disse-me: ‘vai, lava-te no guntai a ele, já tem idade.7 Ele falará de
tanque de Siloé.’ Então eu fui, lavei-me, si mesmo.”.
e recebi a visão.”. 22 Seus pais responderam dessa maneira
12 Em seguida lhe perguntaram: “Onde porque estavam com medo dos judeus;
está Ele?” Ao que respondeu: “Não sei.”. pois estes já haviam acordado que, se al-
guém confessasse que Jesus era o Cristo,
O homem curado é expulso seria expulso da sinagoga.
13 Então, levaram o homem que fora 23 Foi por isso que seus pais disseram:
cego à presença dos fariseus. “Perguntai a ele, já tem idade.”.
14 E era sábado, quando Jesus fez aquela 24 Então, eles chamaram de novo o ho-
mistura de barro e abriu os olhos do mem que fora cego e lhe ordenaram:
homem cego. “Dá glória a Deus!8 Pois nós sabemos
15 Então, os fariseus também lhe inquiri- que esse homem é pecador.”.
ram como recebera a visão. E o homem 25 Ao que ele retorquiu: “Se ele é um
tornou a explicar: “Ele aplicou barro aos pecador ou não, eu não sei. Todavia, uma
meus olhos, lavei-me e vejo.”. verdade eu sei: eu era cego; agora vejo.”.
16 Por esse motivo, alguns dos fariseus 26 E, novamente lhe indagaram: “O que
alegavam: “Esse homem não é de Deus, Ele te fez? Como abriu teus olhos?”.
porque não guarda o sábado.” Outros 27 O homem lhes respondeu: “Eu já o dis-
murmuravam: “Como pode um homem, se, mas vós não credes. Por que desejais
sendo pecador, realizar milagres como ouvir tudo uma vez mais? Acaso também
esses?”. E, novamente, houve divisão quereis tornar-vos discípulo dele?”.
entre eles. 28 Por isso, o insultaram e disseram: “Tu,
3 “Ungir”: passar, friccionar, aplicar, investir de autoridade, purificar, curar. Deus criou o homem do barro (Gn 2.4; 3.19), portanto,
pode curá-lo de todos os males.
4 “Siloé” (em hebraico shilôah “águas enviadas”, expressão derivada do verbo shâlah “enviar” e se refere a Jesus, o enviado;
(em grego, apestalmenos). Assim como os judeus rejeitaram as águas de Siloé, estavam rejeitando o Messias (Is 8.6,7).
5 O NTG traz: “Não, mas se parece com ele.”
6 “Sabemos” (em grego: oidamen) é usado 11 vezes neste capítulo; numa evidência de quanto os judeus estavam longe de
reconhecerem Jesus como Deus (4.22,32).
7 Uma pessoa era aceita como testemunha num tribunal somente após os treze anos de idade.
8 Esta expressão pode ser usada em dois sentidos. Como agradecimento (Lc 17.15-18), e como uma intimação a que se “diga
a verdade” (Js 7.19).
sim, és um discípulo dele; mas nós so- 40 Alguns fariseus que estavam com Ele,
mos discípulos de Moisés. ao ouvirem essas palavras, perguntaram
29 Sabemos que Deus falou a Moisés; a Jesus: “Porventura, nós também somos
mas quanto a esse sujeito, nem sabemos cegos?”.
de onde vem.”. 41 Afirmou-lhes Jesus: “Se vós fôsseis
30 O homem questionou: “Ora, isso é cegos, não seríeis culpados; mas uma vez
surpreendente! Vós não sabeis de onde que alegais: ‘Nós vemos!’, por essa razão,
Ele vem, e mesmo assim, abriu-me os o pecado persiste dentro de vós.
olhos!
31 É sabido que Deus não ouve pecado- Eu Sou o bom pastor
res; mas a todo adorador9 de Deus, e a
todo que faz a sua vontade, a esse Ele
atende.
10 Em verdade, em verdade vos as-
seguro: aquele que não entra no
aprisco das ovelhas1 pela porta, mas sobe
32 Desde o início do mundo, jamais se o muro à procura de outra passagem,
ouviu que alguém tenha aberto os olhos esse é ladrão e assaltante.
de um cego de nascença. 2 Aquele que entra pela porta é o pastor
33 Se esse homem não viesse de Deus, das ovelhas.
não poderia fazer obra alguma.”. 3 Para esse, o porteiro2 abre a porta do
34 Então, concluíram: “Tu que nasceste aprisco, e as ovelhas ouvem a sua voz. Ele
repleto de pecados, pretendes nos ensi- chama cada uma das suas ovelhas pelo
nar?”. E o excluíram.10 nome, e as guia3 para fora.
4 E depois de conduzir para fora todas as
Os cegos receberão a visão que lhe pertencem, vai adiante delas, e elas
35 Jesus ouviu que o haviam expulsado, e, o seguem, porque reconhecem a sua voz.
quando o encontrou, lhe disse: “Acredi- 5 Todavia, de modo algum seguirão a um
tas tu no Filho de Deus?”.11 estranho; ao contrário, fugirão dele, por-
36 O homem respondeu: “Quem é Ele, que não conhecem a voz de estranhos.”.
Senhor, para que eu possa nele crer?”. 6 Jesus falou de forma proverbial,4 mas
37 E Jesus lhe assegurou:
g “Tu o estás eles não compreenderam o significado
vendo. É este que te fala.”. do que lhes havia falado.
38 Então, declarou o homem: “Senhor, eu 7 Sendo assim, Jesus lhes disse de novo:
creio!”. E prostrando-se diante de Jesus, “Em verdade, em verdade vos asseguro:
o adorou. Eu Sou a porta das ovelhas.
39 Então revelou Jesus: “Eu vim a este 8 Todos quantos vieram antes5 de mim
mundo para julgamento, a fim de que são ladrões e assaltantes; porém as ove-
os cegos vejam e os que vêem se tornem lhas não os ouviram.
cegos.”. 9 Eu Sou a porta. Qualquer pessoa que en-
trar por mim, será salva. Entrará e sairá; e não são de alguém que tem um demônio.
encontrará pastagem.6 Pode, porventura, um demônio abrir os
10 O ladrão não vem, senão para roubar, olhos dos cegos?”.
matar e destruir. Eu vim para que as ove-
lhas tenham vida, e vida em plenitude. O pastor conhece suas ovelhas
11 Eu Sou o bom pastor. O bom pastor dá 22 Naquela ocasião, celebrava-se a Festa
a sua vida pelas ovelhas. da Dedicação em Jerusalém, e era in-
12 O mercenário, que não é o pastor a verno.
quem as ovelhas pertencem, vê a apro- 23 E Jesus caminhava dentro do templo,
ximação do lobo, abandona as ovelhas e pelo Pórtico de Salomão.
foge. Então, o lobo as apanha e dispersa 24 Então, os judeus rodearam a Jesus para
o rebanho. indagar-lhe: “Até quando nos deixarás
13 O mercenário foge, porque é um mer- em dúvida? Se és o Cristo, dize-nos cla-
cenário e não tem zelo pelas ovelhas. ramente.”.
14 Eu Sou o bom pastor. Conheço as mi- 25 Respondeu-lhes Jesus: “Eu já vo-lo
nhas ovelhas e sou conhecido por elas; disse, e vós não acreditais. As obras que
15 assim como o Pai me conhece e Eu realizo em Nome de meu Pai testemu-
conheço o Pai; e entrego minha vida nham a meu favor.
pelas ovelhas. 26 Mas vós não credes, porque não sois
16 Ainda tenho outras7 ovelhas que não das minhas ovelhas, como já vos afir-
são deste aprisco,8 as quais devo da mesma mei.10
maneira trazer; elas ouvirão minha voz, e 27 As minhas ovelhas ouvem a minha
haverá um só rebanho e um só pastor. voz; Eu as conheço, e elas me seguem.
17 Por esse motivo o Pai me ama; porque 28 Eu lhes dou a vida eterna, e elas nunca
Eu entrego a minha vida para retomá-la. perecerão; tampouco ninguém as poderá
18 Ninguém a tira de mim; antes Eu a arrancar da minha mão.
entrego de espontânea vontade. Tenho 29 Meu Pai, que as deu a mim, é maior do
poder9 para entregá-la, e poder para que todos,11 ninguém é capaz de arrancá-
retomá-la. Esse é o mandamento que las da mão de meu Pai.
recebi de meu Pai.”. 30 Eu e o Pai somos um.”.
31 E por isso, uma vez mais, os judeus
Mais uma divisão entre os judeus pegaram pedras para apedrejá-lo.
19 Por causa dessas palavras, houve nova- 32 Mas Jesus os interpelou: “Eu tenho vos
mente divisão entre os judeus. revelado muitas obras boas da parte do
20 E muitos deles murmuravam: “Ele tem meu Pai. Por qual dessas obras vós que-
um demônio e enlouqueceu. Por que vós reis lapidar-me?12.
o escutais?”. 33 Os judeus responderam-lhe assim: “Por
21 Outros ponderavam: “Essas palavras nenhuma boa obra nós te lapidaremos,
6 Em aramaico (a língua que Jesus falava), tem o sentido de “permanecer em segurança”. A proteção de Deus (Sl 23; Sl 91).
7 “Outras ovelhas”: (em grego alla – outras da mesma espécie). Refere-se aos crentes gentios, em todo o mundo, que se unirão
a Cristo e formarão o novo e verdadeiro Israel.
8 As ovelhas judias precisavam ser tiradas do primeiro aprisco (em grego aule),
) antes de serem reunidas às outras e formarem
um novo e único rebanho (em grego poimnê).
9 “Poder” como em KJ ou “autoridade”. É pela autoridade do Pai que o Filho age com independência (5.19-30); um paradoxo
próprio do relacionamento único entre Deus-Pai e Deus-Filho.
10 O TM (Texto Majoritário) omite “como já vos afirmei”.
11 O Texto Bizantino, com o apoio do antigo Papiro 66, reforça essa melhor tradução, como em KJ.
12 “Lapidar”, açoitar ou matar por apedrejamento, em função de condenação sumária por pecados considerados hediondos,
como blasfêmia, violação do sábado ou adultério. É interessante notar que a expressão “obras boas” (em grego, erga kala)
significa literalmente: “obras belas ou lindas”.
mas sim por blasfêmia, e porque, sendo 4 Ao saber do ocorrido, disse Jesus: “Essa
tu um simples homem, te fazes passar enfermidade não terminará em morte; mas
por Deus.”. sim, para a glória de Deus, para que o Filho
34 Jesus lhes contestou: “Não está escrito de Deus seja glorificado por meio dela.”.
na vossa Lei: ‘Eu disse: sois deuses?’13 5 E Jesus amava Marta, a irmã dela, e a
35 Se Ele chamou ‘deuses’ àqueles a quem Lázaro.
veio a Palavra de Deus (e a Escritura não 6 Contudo, quando soube que Lázaro
pode ser quebrada), estava doente, ficou mais dois dias no
36 como vós dizeis daquele a quem o Pai lugar onde estava.
santificou e enviou a esse mundo: ‘Tu 7 Depois disso, falou a seus discípulos:
blasfemas!’, porque vos declarei: ‘Eu Sou “Vamos voltar para a Judéia.”.
o Filho de Deus?’ 8 Ao que lhe advertiram os discípulos:
37 Se não faço as obras de meu Pai, não “Rabi, há pouco os judeus tentaram ape-
acreditais em mim. drejar-te, e mesmo assim estás indo para
38 Mas se as faço, mesmo que não acredi- lá outra vez?”.
tais em mim, crede nas obras, para que 9 Jesus lhes respondeu: “Não são doze
possais saber e compreender que o Pai as horas do dia? Se alguém caminhar de
está em mim, e Eu estou no Pai.”. dia, não tropeça, porque vê a luz deste
39 Contudo, uma vez mais tentaram pren- mundo;
dê-lo, mas Ele se livrou das mãos deles. 10 mas, se caminhar na noite, tropeça,
porque a luz não está nele.”.
Os crentes além do Jordão 11 Tendo dito essas palavras, prosseguiu ex-
40 Sendo assim, novamente Jesus atra- plicando-lhes: “Nosso amigo Lázaro dor-
vessou o Jordão e foi para o lugar onde me, mas Eu vou até lá para despertá-lo.”.
João batizava no início do seu ministério, 12 Então seus discípulos lhe disseram:
e ali ficou. “Senhor, se ele está dormindo, vai ficar
41 Então, muitos vinham até Jesus, exal- melhor.”.
tando: “João não realizou nenhum sinal; 13 Entretanto, Jesus lhes havia falado da
todavia, tudo quanto falou a respeito morte de Lázaro; mas os discípulos pen-
deste Homem era verdade.”. saram que Jesus estivesse se referindo ao
42 E, naquele povoado, muitos creram em repouso do sono.
Jesus. 14 Ao que Jesus lhes disse claramente:
“Lázaro morreu;
A morte do amigo Lázaro 15 e, para o vosso bem, estou alegre por
13 Sl 82.6. Deus se refere aos homens como “deuses” ou juízes (em hebraico ‘elohim).
Capítulo 11
1 O mesmo que bálsamo (Mc 14.3; Lc 10.38-42).
2 Tomé (em aramaico t’ômâ) significa gêmeo (o mesmo que Dídimo em grego). Tomé expressa lealdade a ponto de oferecer
sua vida por Cristo; e prenuncia a morte de Jesus na Judéia.
18 Ora, Betânia ficava próxima de Jerusa- onde Jesus estava, vendo-o, prostrou-se
lém, cerca de quinze estádios.3 aos seus pés e desabafou: “Senhor, se
19 E muitos, dentre os judeus, tinham estivesses aqui, meu irmão não teria
vindo juntar-se ao grupo de mulheres morrido.”.
que procuravam confortar Marta e Ma- 33 Sendo assim, ao ver Maria chorando,
ria, pela morte do irmão. bem como os judeus que vieram com ela,
20 Assim que Marta ouviu que Jesus esta- Jesus indignou-se no espírito5 e compa-
va a caminho, saiu ao seu encontro; Ma- deceu-se.
ria, no entanto, ficou sentada em casa. 34 Perguntou-lhes Jesus: “Onde o colo-
21 Disse Marta a Jesus: “Senhor, se estives- castes?”. E eles indicaram-lhe: “Senhor,
ses aqui, meu irmão não teria morrido. vem e vê!”.
22 Mas sei que, mesmo agora, seja o que 35 Jesus chorou.
for que pedires a Deus, Ele te dará.” 36 Então os judeus comentaram: “Vede
23 Jesus então assegurou-lhe: “O teu ir- como Ele o amava!”.
mão ressuscitará!” 37 Mas alguns deles questionaram: “Não
24 E Marta lhe disse: “Eu sei que ele vai res- poderia este homem, que abriu os olhos
suscitar na ressurreição, no último dia.” do cego, ter evitado que seu amigo mor-
25 Esclareceu-lhe Jesus: “Eu Sou a ressur- resse?”.
reição e a vida. Aquele que crê em mim,
mesmo que morra, viverá; Jesus ressuscita seu amigo
26 e todo o que vive e crê em mim, não 38 Então, novamente Jesus se indigna em
morrerá eternamente. Tu crês nisso?” seu espírito, e comovido dirige-se ao se-
27 Ela lhe afirmou: “Sim, Senhor, eu pulcro. Era uma gruta na rocha com uma
creio que Tu és o Cristo, o Filho de pedra fechando a entrada.
Deus, que devia vir ao mundo.”. 39 Determinou Jesus: “Tirai a pedra!”
Preveniu-lhe Marta, irmã do falecido:
Jesus vence a morte “Senhor, ele já cheira mal, pois já se pas-
28 Depois de dizer essas palavras, Marta saram quatro dias.”.6
seguiu seu caminho e chamou Maria, 40 Encorajou-a Jesus: “Eu não te falei que,
sua irmã, e lhe disse em particular: “O se creres, verás a glória de Deus?”.
Mestre chegou, e chama por ti.”. 41 Então, tiraram a pedra da entrada
29 Assim que Maria ouviu isso, levan- do lugar onde o homem morto estava
tou-se apressadamente e foi ao encontro deitado.7 E Jesus, levantando seus olhos
dele. aos céus, agradeceu:8 “Pai, dou-te graças
30 Jesus ainda não havia entrado no porque me ouviste.
povoado, mas estava4 onde Marta o en- 42 Eu sei que sempre me ouves, mas disse
contrara. isso por causa da multidão que está ao
31 Os judeus que estavam com Maria meu redor, para que creiam que Tu me
em casa e a consolavam, vendo que enviaste.”.
ela se levantou apressadamente e saiu, 43 E, tendo dito essas palavras, clamou
seguiram-na, julgando que ela fosse ao em alta voz: “Lázaro, vem para fora!”.
sepulcro para ali chorar. 44 Então, o homem que havia morrido,
32 Então, quando Maria chegou ao lugar saiu da gruta, tendo os pés e as mãos ata-
dos com faixas de linho e o rosto envolto para o interior, próximo ao deserto, che-
com um pano. E Jesus orientou-os: “Re- gando a uma cidade chamada Efraim; e
tirai as faixas dele e deixai-o seguir.”. ali permaneceu com os seus discípulos.
55 A Páscoa dos judeus estava próxima, e
A trama para matar Jesus muitos daquela região do interior subi-
45 Assim, muitos dentre os judeus, que ram para Jerusalém, a fim de participa-
tinham vindo consolar Maria, vendo o rem das cerimônias de purificação antes
que Jesus fizera, creram nele. da Páscoa.
46 Mas alguns deles foram até os fariseus 56 Então, procuravam Jesus, e comenta-
e os informaram de tudo quanto Jesus vam uns com os outros, dentro do tem-
havia feito. plo: “Que pensais? Virá Ele à festa?”.
47 Então, os chefes dos sacerdotes e os 57 Por outro lado, os chefes dos sacer-
fariseus convocaram uma reunião do Si- dotes e os fariseus haviam dado ordem
nédrio.9 E disseram: “O que poderemos para que, se alguém soubesse onde Ele
fazer? Pois esse homem realiza muitos estava, o denunciasse, a fim de poderem
sinais. prendê-lo.
48 Se o deixarmos seguir livre, todos acre-
ditarão nele, e então virão os romanos e Jesus ungido para a Páscoa
tomarão tanto o nosso lugar,10 como a Mt 26.6-13; Mc 14.3-9
nossa nação.”.
49 Entretanto, um dentre eles, chamado
Caifás, que naquele ano era o sumo sa-
12 Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi
para Betânia, onde estava Lázaro,
que havia morrido e fora ressuscitado
cerdote, disse a eles: “Vós falais do que dentre os mortos.
não compreendeis. 2 Então, ofereceram-lhe um jantar; Mar-
50 Nem considerais que é do vosso ta servia,1 enquanto Lázaro era um dos
interesse que morra um só homem pelo convidados,2 sentado à mesa com Jesus.
povo,11 e não pereça toda a nação.”. 3 Maria pegou uma libra3 de bálsamo de
51 Por outro lado, ele não revelou isso de nardo puro, um óleo perfumado muito
si mesmo, mas sendo o sumo sacerdote caro, ungiu os pés de Jesus e os enxugou
naquele ano, profetizou12 que Jesus mor- com seus cabelos. E a casa encheu-se
reria pela nação judaica. com a fragrância daquele bálsamo.
52 E não somente por aquela nação, mas 4 Mas um de seus discípulos, Judas Isca-
também para congregar em um só povo riotes, filho de Simão, que mais tarde iria
os filhos de Deus que andam espalhados traí-lo, objetou:
pelo mundo. 5 “Por que este bálsamo perfumado não
53 Assim, daquele dia em diante, pactua- foi vendido por trezentos denários4 e
ram em tirar a vida de Jesus. dado aos pobres?”.
54 Por isso, Ele já não andava livremente 6 Ele não disse isso por se importar com
entre os judeus. Em vez disso, retirou-se os pobres, mas porque era ladrão; sen-
9 Sinédrio, ou Conselho, era a corte suprema da nação judaica: composto de 75 pessoas, presidido pelo sumo sacerdote.
10 O “nosso lugar” era o templo; o “lugar santo” (At 6.13-28).
11 Caifás pertencia ao partido dos saduceus, conhecidos por sua rudez mesmo entre eles próprios. Ele aconselha o Sinédrio a
oferecer um homem por toda a nação; como “bode expiatório” (Lv 9.3; 16.22).
12 Tradicionalmente o sumo sacerdote deveria ser o portador da voz de Deus. Uma vez por ano fazia a expiação (sacrifícios com
sangue de animais) pela nação, no Santo dos Santos (Hb 9). Sem perceber, anunciou o sacrifício expiatório de Jesus pelo mundo.
Capítulo 12
1 Marta dedicava-se mais ao serviço e Maria, à adoração (Lc 10.38-42).
2 O jantar ou ceia celebrava a nova vida de Lázaro, sendo, ele e Jesus, convidados de honra.
3 A libra (em grego litra) equivale a pouco mais de 300 gramas.
4 Um denário era uma moeda de prata equivalente a um dia de trabalho braçal.
5 A bolsa (em grego glôssokomon) era onde se guardava o dinheiro oferecido a Jesus e aos discípulos por pessoas que
queriam ajudá-los (Lc 8.2,3).
6 “Hosana” (em hebraico hôshi ah-nnâ) quer dizer: “dá salvação agora” ou “dá a vitória agora”; tornou-se uma expressão de
louvor e gratidão.
7 “Bendito o que vem” (em hebraico barûkh habbâ) é uma expressão judaica de boas-vindas (Sl 118.25-27).
8 “Filha” (em grego) ou “Cidade”.
9 Jesus cumpre a promessa divina (Zc 9.9).
10 Com a expressão “o mundo” (em grego kosmos), os fariseus queriam dizer “todas as pessoas de Jerusalém”. João, contudo,
ressalta a obra salvadora de Cristo por toda a humanidade (3.16,17).
Eu vim precisamente com esse propósito gem, e a quem foi revelado o braço do
e para esta hora.11 Senhor?”.14
28 Pai, glorifica o teu Nome!”. Então, veio 39 Contudo, não podiam crer, porque
uma voz dos céus,12 dizendo: “Eu já o glo- como reafirmou Isaías:
rifiquei e o glorificarei uma vez mais.”.13 40 “Cegou-lhes os olhos e endureceu-
29 Todavia, a multidão que estava ali, lhes o coração, para que não vejam com
tendo ouvido a voz, dizia ter trovejado. os olhos nem entendam com o coração,
Outrosgarantiam:“UmanjofaloucomEle.”. nem se convertam e Eu os cure.”.15
30 Jesus lhes esclareceu: “Essa voz não 41 Isso disse Isaías porque viu a glória
veio por minha causa, e sim para vosso dele e falou a seu respeito.
benefício.
31 Chegou a hora de este mundo ser Caminhando na luz
julgado, e agora o príncipe deste mundo 42 Apesar disso, muitos dentre as próprias
será expulso. autoridades acreditaram nele, mas devido
32 Mas Eu, quando for levantado da terra, aos fariseus, não declaravam sua fé, para
atrairei todas as pessoas para mim.”. não serem excluídos da sinagoga;
33 Ele disse isso para expressar o tipo de 43 pois amaram mais a honra dos ho-
morte que haveria de sofrer. mens do que a glória de Deus.16
34 O povo lhe replicou: “Nós temos 44 Então Jesus exclamou: “Quem acredita
ouvido da Lei que o Cristo permanecerá em mim, não crê somente em mim, mas
para sempre, como podes afirmar: ‘o naquele que me enviou.
Filho do homem precisa ser levantado’? 45 Quem vê a mim, vê Aquele que me
Quem é afinal esse Filho do homem?”. enviou.
35 Então Jesus lhes explicou: “Ainda por 46 Eu vim como luz para o mundo; a fim
mais um pouco de tempo a luz estará en- de que todo aquele que crê em mim não
tre vós. Caminhai enquanto tendes a luz, permaneça nas trevas.
para que as trevas não vos surpreendam, 47 Se alguém ouvir as minhas palavras
pois aquele que anda nas trevas não sabe e não obedecer a elas, Eu não o julgo;
para onde vai. porque Eu não vim para julgar o mundo,
36 Enquanto vós tendes a luz, crede na mas sim, para salvá-lo.
luz, para vos tornardes filhos da luz.”. E, 48 Aquele que me rejeita e não acolhe as
terminando de falar, partiu e ocultou-se minhas palavras tem quem o julgue; a
deles. Palavra que proclamei, essa o julgará no
último dia.
Nem todos creram nos milagres 49 Pois Eu não tenho falado por mim
37 Mas, embora tivesse realizado tantos mi- mesmo, mas o Pai, que me enviou, esse
lagres diante deles, não creram em Jesus, me deu ordens sobre o que Eu deveria
38 para cumprir a palavra do profeta Isaí- dizer e o que proclamar.
as, que disse: 50 Eu sei que o seu mandamento é a vida
“Senhor, quem creu em nossa mensa- eterna. Sendo assim, tudo o que Eu falo,
11 A hora (em grego kairós). O tempo oportuno (certo, escolhido) de Deus para seus filhos.
12 Pela terceira vez (batismo, transfiguração e nesta passagem) Deus glorifica seu nome, em Jesus, perante o mundo. Esse
fenômeno (em grego bath gôll ou “eco de Deus”) era conhecido dos rabinos. Jesus podia ouvir perfeitamente a voz de Deus, mas
as demais pessoas apenas ouviam um som estrondoso, como o de trovões.
13 O nome de Deus é glorificado ou santificado quando se faz a sua vontade.
14 Is 53.1.
15 Is 6.10.
16 A “glória de Deus”, neste caso, é a aprovação do Pai para aqueles que, uma vez crendo em Jesus, agem diante dos homens
como verdadeiros (cristãos) discípulos.
como o Pai me mandou dizer, assim 11 Pois Jesus sabia quem iria traí-lo, e
falo.”. por isso disse: “Nem todos vós estais
limpos.”.
Os pés dos discípulos são lavados 12 Após haver lavado os pés dos seus dis-
1 Amou os seus de maneira extrema e completa, até às últimas conseqüências. “Amou-os até o fim” (em grego eis telos). Uma
frase muito rica, que reúne os sentidos de “até o fim” e “de modo absoluto” (3.16). Os discípulos tiveram o privilégio de experi-
mentar, de forma concentrada, o grande amor que Deus tem pela humanidade.
2 O plano da morte de Cristo (Deus) foi concebido no coração do Diabo. Judas Iscariotes foi um agente, manipulado e influen-
ciado pelas forças satânicas. O Diabo tenta a todos com suas inúmeras propostas mentirosas, cujo fim é sempre a morte. Cabe
ao discípulo de Cristo seguir o comando do Espírito Santo, abraçar a Palavra e fugir das paixões da carne.
3 Ter comunhão com Jesus ou vida em Cristo.
4 Mensageiro ou apóstolo (em grego apostellõ).
5 Bem-aventurados ou felizes (Mt 7.24; Lc 6.47s; Mc 3.35; Mc 8.31).
6 Sl 41.
7 “Eu Sou” é mais uma alusão ao sentido oculto do nome inefável de Deus (Êx 3.14; Is 41.4). Ou, em grego, egô eimi
21 Após haver dito essas palavras, pertur- conhecerão que sois meus discípulos: se
bou-se Jesus em espírito e declarou: “Em tiverdes amor uns pelos outros.”.
verdade, em verdade vos afirmo que um
dentre vós me trairá.”. Pedro nega a Jesus por três vezes
22 Os discípulos olharam uns para os 36 Simão Pedro pergunta a Jesus: “Se-
outros, perplexos sobre a quem Ele se nhor, para onde vais?”. Jesus respon-
referia. deu-lhe: “Para onde Eu vou não podes
23 Enquanto isso, um deles, o discípulo seguir-me agora; entretanto, me seguirás
a quem Jesus amava, estava reclinado ao mais tarde.”.
seu lado. 37 Inquiriu-lhe Pedro: “Senhor, por
24 Simão Pedro fez alguns sinais a esse, que não posso seguir-te agora? Pois eu
como querendo dizer: “Pergunta a quem darei a minha vida por ti!”.
Ele se refere.”. 38 Jesus adverte-o: “Darás a tua vida por
25 Então, aquele discípulo, reclinando-se mim? Em verdade, em verdade te afirmo
sobre o peito de Jesus, perguntou-lhe: que antes que o galo cante, tu me negarás
“Senhor, qquem é?” três vezes!
26 Respondeu-lhe Jesus: “É aquele a
quem Eu der este pedaço de pão molha- Jesus, o único caminho
do no prato.”. E tendo molhado o pedaço
de pão, deu-o a Judas Iscariotes, filho de
Simão.
14 Não permitais que o vosso cora-
ção se preocupe. Credes em Deus,
crede também em mim.
27 Assim que Judas comeu o pão, Satanás 2 Na casa de meu Pai há muitos aposentos;
entrou nele. Então disse-lhe Jesus: “O se não fosse assim, Eu o teria dito a vós.
que tens para fazer, faze-o logo.”. Portanto, vou para preparar-vos lugar.
28 Todavia, nenhum dos que estavam à 3 E, quando Eu me for e vos tiver prepa-
mesa entendeu por qual razão Jesus lhe rado um lugar, virei de novo e vos levarei
disse isso. para mim, a fim de que, onde Eu estiver,
29 Considerando que Judas era responsá- estejais vós também.
vel pelo dinheiro, alguns pensaram que 4 Vós sabeis para onde Eu vou, e conhe-
Jesus havia dito: “Compra o necessário ceis o caminho.”.
para a festa.”. Ou que desse algo aos po- 5 Indagou-lhe Tomé: “Senhor, não sabe-
bres. mos para onde vais; e como poderemos
30 Judas, assim que comeu o pedaço de conhecer o caminho?”.
pão, saiu apressadamente. E era noite. 6 Assegurou-lhes Jesus: “Eu Sou o Cami-
nho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem
Os discípulos devem se amar ao Pai senão por mim.
31 Quando ele saiu, Jesus disse: “Agora o 7 Se vós, de fato, tivésseis me conhecido,
Filho do homem é glorificado, e Deus é teríeis conhecido também a meu Pai; e
glorificado nele. desde agora vós o conheceis e o vistes.”.
32 Sendo Deus glorificado nele, também 8 Solicitou-lhe Filipe: “Senhor, mostra-
Deus o glorificará nele mesmo; e o glori- nos o Pai, e isso é suficiente para nós.”.
ficará muito em breve. 9 Então Jesus ministrou-lhes: “Há tanto
33 Filhinhos, Eu ainda permanecerei tempo estou convosco, e tu não me tens
convosco por pouco tempo. Vós me pro- conhecido, Filipe? Aquele que vê a mim,
curareis, mas como Eu disse aos judeus, vê o Pai; como podes dizer: ‘mostra-nos
agora vos digo: ‘para onde Eu vou, vós o Pai’?
não podeis ir’. 10 Não crês que Eu estou no Pai e que o
34 Um novo mandamento vos dou: que Pai está em mim? As palavras que Eu vos
vos ameis uns aos outros; assim como digo não as digo em minha própria au-
Eu vos amei; que dessa mesma maneira toridade; mas o Pai, que habita em mim,
tenhais amor uns para com os outros. realiza as suas obras.
35 Através deste testemunho todos re- 11 Crede-me quando digo que estou no
Pai e que o Pai está em mim; crede-o, ao Iscariotes): “Senhor, mas por que te reve-
menos por causa das mesmas obras. larás a nós e não ao mundo?”.
12 Em verdade, em verdade vos asseguro 23 Jesus respondeu-lhe: “Se alguém me
que aquele que crê em mim fará também ama, obedecerá à minha Palavra; e meu
as obras que Eu faço e outras maiores Pai o amará, e nós viremos até ele e
fará, pois eu vou para o meu Pai. faremos nele nosso lar.3
13 E assim, seja o que for que vós pedirdes 24 Quem não me ama não obedece às
em meu Nome,1 isso Eu farei, a fim de minhas palavras; e a Palavra que vós
que o Pai seja glorificado no Filho. estais ouvindo não é minha, mas do Pai,
14 Se vós pedirdes algo em meu Nome, que me enviou.
Eu o farei.
15 Se vós me amais, obedecereis aos meus O dom da paz de Cristo
mandamentos. 25 Esses ensinamentos vos tenho minis-
trado enquanto ainda estou presente
Jesus promete o Espírito Santo entre vós.
16 E Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará 26 Mas o Advogado, o Espírito Santo, a
outro Advogado,2 a fim de que esteja para quem o Pai enviará em meu Nome, esse
sempre convosco, vos ensinará todas as verdades e vos fará
17 o Espírito da verdade, que o mundo lembrar tudo o que Eu vos disse.
não pode receber, porque não o vê, nem 27 Deixo-vos a paz; a minha paz vos dou.
o conhece; vós o conheceis, porque Ele Não vo-la dou como o mundo a dá. Não
vive convosco e estará dentro de vós. permitais que vosso coração se preocupe,
18 Não vos deixarei órfãos; voltarei para nem vos deixeis amedrontar.
vós. 28 Vós ouvistes o que Eu disse: ‘vou, mas
19 Dentro de pouco tempo o mundo não retorno para vós.’ Se me amásseis, fica-
me verá mais; entretanto, vós me vereis. ríeis alegres com o fato de que Eu vou
Porque Eu vivo, e vós da mesma forma para o Pai, pois o Pai é maior do que Eu.
vivereis. 29 Eu vo-lo disse agora, antes que aconte-
20 E naquele dia, entendereis que Eu ça, para que, quando acontecer, creiais.
estou no meu Pai, e vós, em mim, e Eu, 30 Eu não vou continuar a falar muito
em vós. mais convosco, pois o príncipe deste
21 Aquele que tem os meus mandamen- mundo está chegando. Ele não tem direi-
tos e obedece a eles, esse é o que me to e nada pode sobre mim;4
ama; e aquele que me ama será amado 31 ainda assim, é vital que o mundo
por meu Pai, e Eu também o amarei e me saiba que Eu amo o Pai, e cumpro as
revelarei a ele.”. ordens que o Pai me deu. Levantai-vos
22 Então, perguntou-lhe Judas (não o e partamos daqui!
1 O cristão tem a mesma autoridade de Cristo para orar a Deus Pai. Por isso, deve eliminar toda petição egoísta e que não traga
glória ao Senhor (Mt 6.10; Mc 14.36).
2 A palavra “Advogado” vem do latim advocatus, que é o equivalente exato do adjetivo verbal passivo grego parakletos (1Jo
2.1), formado pelas palavras gregas para (ao lado de) e kletos (chamado). Usado de forma única por João para se referir ao
Espírito Santo, e cujo amplo significado inclui: Conselheiro, Ajudador, Consolador, Encorajador. Quando Jesus se refere a outro
(em grego allos – outro da mesma espécie e tipo), quer dizer que o outro Advogado é igual a Ele em tudo, mas viverá dentro dos
crentes para orientá-los e defendê-los para sempre. Na edição King James de 1611, base desta edição em português, parakletos
foi traduzido para o inglês como “Comforter” (Confortador ou Consolador). Nas edições KJ modernas aparece como “Helper”
(Ajudador). O comitê de tradução da KJ para a língua portuguesa entendeu que o termo “Advogado” é o que mais se aproxima
do sentido bíblico e original da palavra.
3 Lar ou morada (em grego mone conforme 14.2; que deriva-se de menõ “permanecer”). O Deus Triúno habita no crente.
Quando a Trindade vive no crente; e, portanto, na Igreja, torna ambos templos santificados (1Co 3.16; 6.19).
4 Os discípulos de Cristo têm os privilégios do Reino de Deus, mas são odiados pelo Diabo e o mundo. O príncipe deste mundo
não pode acusar Jesus de nada. Por isso, onde Jesus está, o pecado e o Diabo não podem permanecer.
1 “Agricultor” ou, mais propriamente, vinicultor. A videira é usada no AT como ilustração do povo de Israel (Sl 80.8-19). Cristo e
os filhos de Deus são o verdadeiro Israel (1.12).
2 Jesus faz um jogo de palavras. Em grego, kathaireii (limpa) pode ser também a poda, que tem o sentido de “puros” ou
“limpos” (katharoi).
3 Os ramos da videira nada produzem, só servem para dar e sustentar as uvas. Sua madeira seca para nada é útil, a não ser
para queimar (Ez 15.1-8).
4 Em grego, logos é o ensino completo de Cristo e rhêmata são seus pronunciamentos individuais que compõem o todo. O
verdadeiro discípulo tem suas orações atendidas e o Pai é glorificado (14.13).
5 O “fruto” é viver à semelhança de Jesus (Gl 5.22).
6 A felicidade ou alegria eram consideradas no AT como características do tempo da salvação e da paz escatológica (Is 9.2;
35.10; 55.12; 65.18; Sf 3.14; Sl 126.3-5). Os discípulos de Cristo vivem a alegria da salvação e da nova vida, mesmo sob as ondas
de sofrimento deste mundo (16.20-24; 14.28).
7 O verbo grego tithenaii (designar) exprime o estabelecimento de alguém em um cargo, assegurando-lhe todos os meios de
o exercer eficazmente.
8 O mundo é o sistema econômico, político, cultural, tecnológico e religioso que determina o estilo de vida dos povos. Os
crentes são como Jesus: estrangeiros em sua própria terra.
20 Recordai-vos das palavras que Eu mais: chegará o tempo quando quem vos
vos disse: ‘nenhum escravo é maior do matar pensará que está prestando um
que o seu senhor’.9 Se me perseguiram, culto a Deus.
também vos perseguirão. Se obedeceram 3 Cometerão essas atrocidades porque
à minha Palavra, igualmente obedecerão não conhecem o Pai, tampouco a mim.
à vossa orientação. 4 Entretanto, tudo isso vos tenho dito
21 Contudo, o mundo vos tratará mal para que, quando o momento chegar,
por causa do meu Nome, pois eles não vos lembreis de que Eu vos adverti. Não
conhecem Aquele que me enviou. vos disse isso desde o começo, porque Eu
22 Se Eu não tivesse vindo e falado ao estava convosco.
mundo, eles não seriam culpados. Mas,
agora, eles não têm qualquer desculpa A obra do Espírito Santo
pelos pecados que cometeram. 5 Agora, porém, Eu vou para junto da-
23 Aquele que me odeia, da mesma forma quele que me enviou, e nenhum de vós
odeia a meu Pai. me pergunta: ‘Para onde vais?’
24 Se Eu não tivesse realizado entre eles 6 Sei que, ao dizer-vos sobre o que
obras que ninguém jamais fez, eles não ocorrerá, o vosso coração foi tomado de
seriam culpados de pecado. Mas agora tristeza.
eles viram e presenciaram tudo, e mesmo 7 Todavia, Eu vos asseguro que é para o
assim odiaram a mim e a meu Pai. vosso bem que Eu parta. Se Eu não for, o
25 Mas isso aconteceu para se cumprir o Advogado não poderá vir para vós; mas
que está escrito na Lei deles: ‘odiaram- se Eu for, Eu o enviarei.
me sem razão’.10 8 Quando, então, Ele vier, convencerá2
26 Quando, porém, vier o Advogado que o mundo do seu pecado, da justiça e do
Eu enviarei para vós da parte do Pai, o juízo.
Espírito da verdade que provém do Pai, 9 Do pecado, porque a humanidade não
Ele testemunhará a meu respeito. crê em mim;
27 E vós, também, dareis testemunho, 10 da justiça, porque vou para o Pai e vós
pois estais comigo desde o princípio. não me vereis mais;3
11 e do juízo, porque o príncipe deste
Jesus prediz perseguições mundo já está condenado.4
9 Escravo ou servo (em grego douloi), como em 13.16. O mundo reagirá contra Cristo, seus discípulos e sua Igreja com ódio,
desconfiança, alienação, insensibilidade, perseguição, sordidez e crueldade.
10 O mundo já tinha a Palavra de Deus, mas não obedeceu a ela (Sl 35.19; 69.4).
Capítulo 16
1 “Vacileis na fé”, “vos escandalizeis”. O termo grego skandalon designava uma cilada e, mais amplamente, tudo o que faz
alguém cair ou vacilar em suas convicções. Na linguagem bíblica, tem a ver com colocar a fé em risco. O verbo grego skandalizõ
foi usado em 6.61 em relação à atitude de revolta dos habitantes de Cafarnaum com o discurso de Jesus.
2 O Espírito Santo vem como Advogado (em grego clássico e, depois, neotestamentário parakletos) para orientar e defender
os crentes; mas age como promotor, condenando os ímpios. O verbo grego elencho significa, no contexto, convencer de culpa,
expor, refutar ou condenar.
3 A ressurreição de Jesus é a evidência da sua retidão e vitória, da justiça de Deus (17.25) e da justificação dos crentes (Rm
4.25). A presença física de Jesus é substituída por sua presença através do Espírito Santo, nosso Advogado.
4 Manipulando os acusadores de Jesus, estava o príncipe deste mundo. A vinda do Espírito é o sinal de que, na Suprema Corte
de Justiça de Deus, todo o processo e julgamento resultaram favoráveis a Jesus Cristo, contra o mundo e o espírito que governa
a humanidade, cuja sentença é condenatória (12.31; 14.30).
dade vier, Ele vos guiará em toda a ver- então muito vos alegrareis; e mais, nin-
dade;5 porque não falará por si mesmo, guém tirará a vossa alegria.
mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos 23 E naquele dia não me pedireis6 mais
revelará tudo o que está por vir. nada. Pois Eu verdadeiramente vos asse-
14 O Espírito me glorificará, porque rece- guro que, tudo o que pedirdes ao Pai, Ele
berá do que é meu e vos anunciará. o concederá a vós, em meu Nome.
15 Tudo quanto o Pai tem, pertence a mim. 24 Até agora nada pedistes em meu No-
Por isso é que Eu disse que o Espírito me. Pedi e recebereis, para que a vossa
receberá do que é meu e o revelará a vós. felicidade seja completa.
5 Jesus é a personificação da verdade (14.6). O Espírito orienta os crentes a entenderem e obedecerem à Verdade (Jesus). O
Advogado revelará (em grego anangelei – anunciar tudo), aos povos de todas as culturas e gerações, os aspectos mais profun-
dos da mensagem do Messias.
6 Embora o verbo grego erotao signifique “fazer uma pergunta”, no NT ele é usado diversas vezes, como aqui, no sentido
de “pedir algo a alguém”. É o início de uma nova ordem, em que o crente ora diretamente a Deus, em Nome de Jesus, sob a
orientação do Espírito Santo (Mt 6.9; 7.7-11;Lc 11.2-13).
7 O Pai ama (em grego, philei – ter afeição, ser amigo) a todos que amam o Filho, assim como o Filho ama àqueles que amam
a seus discípulos (Mt 25.31ss).
8 “Cada um para sua casa” (em grego, eis ta idia), ou “para seu lado”. É o cumprimento da profecia registrada em Zc 13.7.
Neste mundo sofrereis tribulações;9 mas mundo, mas por aqueles que me deste,
tende fé e coragem! Eu venci o mundo.”. pois são teus.
10 Tudo o que tenho é teu, e tudo o que
Jesus clama ao Pai por sua hora tens é meu; e neles Eu Sou glorificado.
17 Tendo dito essas palavras aos seus
discípulos, Jesus levantou seus
olhos para o céu e orou: “Pai, é chegada
11 Agora, não ficarei muito mais no mun-
do, mas estes ainda estão no mundo, e Eu
vou para Ti. Pai santo, protege-os em Teu
a hora. Glorifica1 o teu Filho, para que o Nome,3 o Nome que me deste, para que
teu Filho te glorifique, sejam um, assim como somos um.
2 assim como lhe outorgaste autoridade 12 Enquanto Eu estava com eles, protegi-os
sobre toda a carne, para que conceda a e os defendi em teu Nome. E nenhum de-
vida eterna a todos os que lhe deste. les se perdeu, exceto o filho da perdição,4
3 E a vida eterna é esta: q
que te conheçam
ç para que se cumprisse a Escritura.
a Ti, o Único Deus verdadeiro, e a Jesus 13 Mas, agora, vou para Ti. Digo dessa
Cristo, a quem enviaste. forma, enquanto ainda estou no mundo,
4 Eu te glorifiquei na terra, finalizando a para que eles recebam a minha plena
obra que me entregaste para realizar. felicidade em seus corações.
5 E agora, Pai, glorifica-me junto a Ti, 14 Eu lhes tenho transmitido a tua Pala-
com a glória que Eu tinha contigo antes vra, e o mundo os odiou, porque eles não
que o mundo existisse. pertencem ao mundo, como Eu não sou
do mundo.
Jesus ora ao Pai pelos discípulos 15 Não oro para que os tires do mundo,
6 Eu revelei o teu Nome àqueles2 que do mas sim, para que os protejas do prínci-
mundo me deste. Eles eram teus; Tu os pe deste mundo.5
confiaste a mim, e eles têm obedecido à 16 Eles não são do mundo, como também
tua Palavra. Eu não sou.
7 Agora, eles entendem que tudo o que 17 Santifica-os pela tua verdade; a tua
me deste vem de Ti. Palavra é a verdade.
8 Pois Eu compartilhei com eles as pa- 18 Da mesma maneira como me enviaste
lavras que me deste, e eles as aceitaram. ao mundo, Eu os enviei6 ao mundo.
Eles reconheceram, de fato, que vim de 19 Em benefício deles Eu me consagro,7
Ti e creram que me enviaste. para que igualmente eles sejam consa-
9 Eu rogo por eles. Não estou orando pelo grados pela verdade.
9 “Tribulação”
ç ((em ggrego,
g thlipsis
p – aflição,
ç opressão,
p adversidades).) O cristão fiel está em Cristo e, pportanto, desfruta da mesma
paz que há em Jesus. É capaz de se alegrar em meio às provações (Rm 8.17; Fp 1.28) e de ter bom ânimo para vencer o mundo,
como Jesus venceu.
Capítulo 17
1 A temática dos discursos do cenáculo é concluída nesta “oração sacerdotal”, pois é neste momento que Jesus se consagra
para o sacrifício em que Ele é, simultaneamente, sacerdote e vítima. Jesus sabe que só o Pai pode glorificá-lo e a cruz será o
instrumento dessa glorificação.
2 Jesus é o revelador do Pai aos discípulos, um grupo escolhido de pessoas (em grego anthrôpo) que comprovaram serem de
Jesus, crendo e obedecendo à Palavra de Deus em Cristo.
3 No AT, o nome de Deus denota o seu caráter, poder e majestade (Sl 20.1; Sl 54.1; Pv 18.10). Deus guarda os seus, aqueles
nos quais o Pai colocou seu selo (Cristo, nosso Salvador e Advogado).
4 Sl 41.9-12; 109.4-13. “O filho da perdição ou destruição” era Judas Iscariotes; esse mesmo título será dado ao anticristo
(2Ts 2.3).
5 Todo o poder do mal, que ameaça a humanidade, é personalizado no “príncipe deste mundo” ou “maligno” (12.31; 14.30;
16.11; Mt 6.13; 13.19,38; 2Ts 3.3; Ef 6.16; 1Jo 2.13,14; 3.12; 5.18,19).
6 Jesus fala do futuro próximo (20.21). A graça eletiva de Deus não é dada de modo a fazer perder os “não eleitos”, mas com o
propósito de que, através dos eleitos, aqueles recebam a bênção salvadora de Deus em Cristo, assim como Abraão foi escolhido
para abençoar o mundo (Gn 12.2,3; Gl 3.6-9,14; Is 42.1; 53.11,12).
7 Para que os discípulos pudessem ser devidamente separados para o ministério, Jesus, o Justo, precisava sacrificar-se volun-
tariamente (Hb 10.1-14). Jesus é a perfeita revelação da verdade.
8 O amor e a unidade entre os discípulos por causa de Cristo, em torno da verdade, confirmariam publicamente o relaciona-
mento deles com Jesus e deste com o Pai, evangelizando o mundo (13.35; 1Jo 4.14).
9 Esta é uma das obras do Espírito Santo no crente (1Jo 4.13).
10 Os discípulos e a Igreja glorificada, unidos completamente a Cristo no futuro, contemplarão a glória do Senhor (At 7.55,66;
2Co 4.18; 1Co 13.12).
11 Tem a ver com proclamação e ensino da verdade (Sl 22.22; Hb 2.12).
Capítulo 18
1 “Quidrom” (Cedrom, em outras versões), é a exata expressão hebraica, cuja raiz significa “escuro”, da qual vem o nome de
uma comunidade árabe, chamada “Quedar”, por suas tendas negras (Ct 1.5).
2 Marcos (14.32) e Mateus (26.36) chamam este lugar de Getsêmani, “o lugar da prensa de azeite”, onde, durante a Semana
Santa (Páscoa), Jesus se encontrou com seus discípulos (Lc 21.37).
3 Um destacamento ou pelotão era composto, em geral, por 760 homens da infantaria e 260 da cavalaria para justificar a presença
de um oficial comandante (18.12; At 21.31). Os judeus esperavam resistência armada, por isso pediram ajuda aos romanos.
4 Jesus apresenta-se com seu nome divino egô eimi, o nome do Pai (Êx 3.13,14).
5 Embora a profecia sobre a dispersão dos discípulos (16.32) também estivesse sendo cumprida, João destaca a profecia
sobre a proteção espiritual que acompanhará seus discípulos para sempre (17.12).
cepando-lhe a orelha direita.6 E o nome Jesus sobre seus discípulos e sua doutrina.
daquele servo era Malco.7 20 Declarou-lhe Jesus: “Eu tenho falado
11 Então Jesus ordenou a Pedro: “Embai- francamente ao mundo; ensinei freqüen-
nha a tua espada! Acaso não haverei de temente nas sinagogas e no templo, onde
beber o cálice8 que o Pai me deu?”. todos os judeus se reúnem, e nada disse
em segredo.
Jesus diante das autoridades 21 Por que me interrogas? Pergunta àque-
12 Assim, o destacamento de soldados com les que me ouviram o que lhes falei; eles
o seu comandante e os guardas dos judeus bem sabem o que Eu disse.”.
prenderam Jesus e o amarraram. 22 Assim que Jesus disse isso, um dos
13 E o conduziram primeiramente a guardas que ali estavam bateu-lhe for-
Anás;9 pois era sogro de Caifás, sumo temente no rosto, com a palma da mão,
sacerdote naquele ano. dizendo: “Isso é maneira de responder ao
14 Ora, Caifás era quem havia sugerido sumo sacerdote?”
aos judeus ser conveniente morrer um 23 E Jesus respondeu ao guarda: “Se Eu
homem pelo povo. disse algo de mal, revela o mal. Mas se
disse a verdade por que me agrediste?”.
Pedro nega ser discípulo de Cristo 24 Sendo assim, Anás mandou Jesus,
Mt 26.69-75; Mc 14.66-72; Lc22.54-62 de mãos amarradas, a Caifás, o sumo
15 Simão Pedro e outro discípulo esta- sacerdote.
vam seguindo Jesus. Por ser conhecido
do sumo sacerdote,10 este discípulo en- Cristo é negado pela terceira vez
trou com Jesus no pátio da casa do sumo Mt 26.71-75; Mc 14.69-72; Lc 22.58-62
sacerdote. 25 Enquanto isso, Pedro estava em pé, se
16 Entretanto, Pedro teve de ficar esperan- aquecendo, quando alguém lhe pergun-
do do lado de fora da porta. O outro discí- tou: “Não és, tu também, um dos discí-
pulo, que era conhecido do sumo sacerdo- pulos dele?”. Pedro nega dizendo: “Não,
te, voltou, falou com a criada encarregada eu não sou!”.
da porta e levou Pedro para dentro. 26 Um dos criados do sumo sacerdote,
17 Então, a jovem criada, encarregada parente daquele a quem Pedro havia
da porta, perguntou a Pedro: “Não és, decepado a orelha, perguntou: “Não te vi
tu também, um dos discípulos deste no olival com Ele?”.
homem?” Pedro respondeu: “Eu não sou.”. 27 Mais uma vez Pedro negou, e naquele
18 Fazia frio, e os servos e os guardas es- exato momento, um galo cantou.
tavam ali; tendo acendido uma fogueira,
esquentavam-se. E Pedro estava em pé Jesus diante da corte de Pilatos
entre eles, aquecendo-se também. Mt 27.1,2; Mc 15.1; Lc 23.1
28Então os judeus levaram Jesus da casa
Jesus diante do sumo sacerdote de Caifás para o Pretório.11 E já estava
19 Então, o sumo sacerdote interrogou a amanhecendo. Mas eles não entraram
6 Lucas informa-nos que Jesus ainda curou Malco (Lc 22.49,50) e evitou que os demais discípulos puxassem suas espadas.
7 João tinha grande familiaridade com o sumo sacerdote e sua criadagem (18.16), por isso conhecia Malco.
8 Jesus estava convicto quanto a fazer a vontade do Pai e cumprir sua missão até às últimas conseqüências (Mt 26.37-39).
9 Anás tinha sido sumo sacerdote de 6 a 15 a.C, porém mesmo como ex-sumo sacerdote ostentava grande poder, além dos
seus cinco filhos também terem sido sacerdotes.
10 O sumo sacerdote aqui é o próprio Anás, que tinha esse título no sentido emérito (Lc 3.2). Quanto ao “outro”, parece ser
um discípulo de Jerusalém com algum parentesco com o sumo sacerdote; devido ao uso da palavra grega gnôstos (conhecido
íntimo, parente).
11 O Pretório era o quartel-general (quando em acampamento) do governador militar romano, ou, como neste caso, uma de
suas residências (18.33).
no Pretório, para evitar a contaminação Por esta causa Eu nasci e para isto vim
cerimonial,12 pois desejavam comer a ao mundo: para testemunhar da verdade.
Páscoa. Todos os que pertencem à verdade ouvem
29 Assim, Pilatos saiu para falar com a minha voz.”.
eles e perguntou-lhes: “Que acusação 38 Então Pilatos questionou a Jesus: “Que
trazeis contra este homem?”. é a verdade?”. E assim que disse isso, saiu
30 Responderam-lhe: “Se Ele não fosse de novo para onde estavam reunidos
um malfeitor, não o teríamos entregado os judeus, e disse-lhes: “Não encontrei
a ti.”. qualquer falta neste homem.
31 Entretanto, replicou-lhes Pilatos: “Le-
vai-o vós mesmos e julgai-o conforme Jesus no lugar de um bandido
a vossa Lei.” Ao que lhe contestaram os 39 Entretanto, sei que é tradição14, entre
judeus: “Mas nós não somos autorizados vós, que devo dar liberdade a um pri-
a matar ninguém.”. sioneiro por ocasião da Páscoa. Sendo
32 Isso ocorreu para que se cumprissem assim, quereis que eu vos liberte o Rei
as palavras que Jesus havia dito, reve- dos Judeus?”.
lando o tipo de morte que estava para 40 Então os judeus exclamaram outra
sofrer. vez, dizendo: “Não! Esse homem não,
33 Então Pilatos entrou novamente no mas sim Barrabás!”. Ora, Barrabás era
Pretório, chamou a Jesus e interrogou- um conhecido bandido.15
lhe: “És tu o rei dos judeus?”.13
34 Jesus lhe respondeu: “Essa questão Jesus é humilhado e espancado
é tua, ou outros te falaram a meu res-
peito?”.
35 Replicou-lhe Pilatos: “Porventura sou
19 Sendo assim, Pilatos tomou a Jesus
e o mandou flagelar.
2 Os soldados trançaram uma coroa de
judeu? A tua própria gente e os chefes espinhos e a puseram na cabeça de Jesus;
dos sacerdotes é que te entregaram a e ainda vestiram-no com uma capa de
mim. Que fizeste?”. púrpura.1
36 Ao que lhe afirmou Jesus: “Meu Reino 3 Aproximavam-se dele e diziam: “Salve,
não é deste mundo. Se fosse, os meus rei dos judeus!”. E esbofeteavam2 seu
servos lutariam para impedir que os rosto.
judeus me prendessem. Mas, agora, meu 4 Mais uma vez, Pilatos saiu e afirmou
Reino não é daqui.”. aos judeus: “Vede! Eu o trago à vossa
37 Contudo, Pilatos lhe inquiriu: “Então, presença, para saberdes que não encon-
tu és rei?”. Ao que lhe respondeu Jesus: tro neste homem motivo algum que o
“Tu dizes acertadamente que sou rei. possa condenar.”.
12 Os cordeiros pascais tinham de ser sacrificados no templo, à tarde do mesmo dia em que haviam nascido. Seriam comidos
pelas pessoas que se mantivessem cerimonialmente puras, logo após o pôr-do-sol. O contato com a presença de fermento na
casa de um gentio poderia excluir um judeu da Páscoa (Êx 12.19; 13.7). João contrasta esse zelo dos judeus com o que estão
fazendo ao Filho de Deus.
13 Com a morte de Herodes em 4 a.C., a Judéia viveu um clima político de anarquia, em que qualquer rebelde podia se autoprocla-
mar rei. Se Jesus fosse um rei desse tipo, teria havido uma batalha sangrenta, quando os soldados vieram prendê-lo no olival.
14 Uma passagem na Mishna (lei escrita dos judeus) indica que o cordeiro pascal podia ser sacrificado em favor de pessoas
que não teriam condições de comê-lo. A lista incluía um prisioneiro gentio.
15 “Bandido” ou “salteador” (em grego lestes, assaltante de estrada). O termo significa “um rebelde zelote”. O mesmo termo é
usado em Mc 15.27 e Mt 27.38 para identificar os dois homens crucificados com Jesus. Barrabás era líder de bandidos (em grego
archilestes) Mc 15.7; e muito conhecido (em grego episêmos) Mt 27.16.
Capítulo 19
1 Para ridicularizar a Jesus, os soldados o vestiram com uma capa do exército, à guisa de manto real. Teceram uma coroa de
ramos de tamareira, cujos espinhos causavam dores terríveis.
2 Os soldados se perfilavam e cada um, zombando, o agredia com um violento tapa no rosto (em grego rhapisma).
3 Pilatos percebe em Jesus o que os romanos chamavam de theios anêrr (homem com qualidades divinas) e tenta camuflar sua
insegurança com autoritarismo. Todo poder tem procedência divina (em grego anothen – de cima) Pv 8.15. O verbo “entregar”
(em grego paradidomi) foi usado para descrever o ato traidor de Judas, e agora, de Caifás, que recebera de Deus, privilégios e
responsabilidades de um sumo sacerdócio.
4 O tribunal era uma plataforma mais alta (em grego bêma) com uma cadeira vistosa em que o magistrado romano se sentava
quando exercia suas funções judiciais. Pilatos teria presidido todo o julgamento desse local, não fosse a insistência dos religiosos
judeus para não entrarem no Pretório a fim de evitarem a contaminação.
5 Próximo ao meio-dia. Na época, romanos, gregos e judeus, calculavam as horas a partir do nascer do sol. Parasceve (em
grego judaico, paraskevê) recebeu o significado de “véspera do sábado”; sexta-feira.
6 Pilatos conseguiu fazer os judeus mais religiosos exclamarem que não tinham outro rei, senão o imperador romano César.
Mas João enfatiza que coube ao próprio Pilatos proclamar para a História que Jesus é o Rei. Além disso, João vê um profundo
significado nas muitas coincidências ocorridas; por exemplo, na época e hora do julgamento, condenação e execução de Jesus.
Segundo a Mishna (lei codificada e escrita dos judeus), quando a Páscoa caía na véspera de um sábado, o holocausto da tarde
era realizado às 12h30 e oferecido às 13h30 (duas horas antes do tradicional); depois disso, era sacrificado o cordeiro pascal.
7 “Calvário” vem do latim calvaria e significa caveira, o uso desse termo procede da Vulgata. No original, a expressão é aramaica
gulgotta, mas em hebraico é gulgoleth. Os “pais da Igreja” viram, no ato de Isaque carregando a lenha para o holocausto (Gn 22.6),
o antítipo (tipo ou figura) de Jesus carregando sua cruz. Ao afirmar que o próprio Jesus carregou sua cruz, João não contradiz os
demais Evangelhos (Sinóticos), ao contrário, ele enfatiza que Jesus foi senhor da situação, o tempo todo. Embora conduzido para o
local da execução, Ele caminha com seus carrascos como quem está cumprindo uma missão e não como vítima relutante.
placa8 e pregá-la no alto da cruz, com os mãe, a irmã dela, Maria, mulher de Clo-
seguintes dizeres: pas, e Maria Madalena.
JESUS NAZARENO, 26 Quando Jesus, contudo, viu sua mãe
O REI DOS JUDEUS. e junto a ela o discípulo a quem Ele
20 Muitos dos judeus leram a placa de amava, disse à sua mãe: “Mulher, eis aí
Jesus, pois o lugar em que Ele foi cruci- teu filho!”.11
ficado ficava próximo da cidade, e a placa 27 Em seguida, disse Jesus ao seu discí-
estava escrita em aramaico, latim e grego. pulo: “Eis aí a tua mãe!”. E daquele mo-
21 Os chefes dos sacerdotes dos judeus mento em diante, o discípulo amado a
discordaram de Pilatos, dizendo: “Não recebeu como parte de sua família.12
escrevas: ‘O Rei dos Judeus’, mas sim que
esse homem se dizia rei dos judeus.”. Está tudo consumado
22 Todavia Pilatos lhes asseverou: “O que Mt 27.45-56; Mc 15.33-37; Lc 23.44-46
escrevi, escrevi.”.9 28 Mais tarde, sabendo Jesus que tudo já
23 Após haver crucificado Jesus, os solda- estava concluído, para que a Escritura se
dos tomaram-lhe as vestes e as dividiram cumprisse, disse: “Tenho sede!”13
em quatro partes, uma para cada um de- 29 Próximo havia um cântaro cheio de
les, sobrando a túnica. Esta, entretanto, vinagre; então embeberam uma esponja
era sem costura, tecida numa única peça, com vinagre, a colocaram na ponta de
de alto a baixo. uma vara de hissopo,14 e a ergueram até à
24 Comentaram, assim, uns com os ou- boca de Jesus.
tros: “Não convém rasgá-la, mas vamos 30 Então, assim que experimentou o
decidir, por sorteio, quem ficará com vinagre, exclamou Jesus: “Está consuma-
ela.”. Isso aconteceu para que se cumpris- do!”. E, inclinando a cabeça, entregou seu
se a Escritura ao declarar: “Dividiram as espírito.15
minhas vestes entre si, e tiraram sortes
pela minha túnica.”.10 Jesus foi traspassado
E assim procederam os soldados. 31 E, porque era o Dia da Preparação da
Páscoa, véspera de um Sábado especial-
A mãe e os amigos junto à cruz mente sagrado,16 os judeus não admitiam
25 Próximo à cruz de Jesus estavam sua que os corpos ficassem na cruz durante
8 Era costume escrever numa placa o crime do qual o condenado fora culpado e afixá-la sobre a cabeça ou prendê-la ao redor
do pescoço. “Placa” em latim é titulus. Pilatos pensou em uma frase que irritasse os sacerdotes judeus, e ordenou a confecção da
placa de Jesus nas principais línguas do mundo na época: o hebraico (ou aramaico), língua comum dos judeus da Palestina; o
latim, língua do poder militar romano; e o grego, língua de comunicação cultural entre as províncias orientais do Império Romano
e o restante do mundo.
9 João ressalta o caráter simbólico da inscrição na placa: é pela cruz que Jesus se torna o Rei Messiânico, e esse fato deve ser
anunciado ao mundo. Os sumo sacerdotes judeus não conseguiram compreender o que estava ocorrendo, e Pilatos transformou-
se em “profeta inconsciente” ao reafirmar majestosamente: “O que escrevi, escrevi” (o que disse, está dito para sempre).
10 (Sl 22.18). A túnica sem costura (em grego chitôn) tem sido interpretada de maneira alegórica, desde Josefo e Fílon, como
uma referência à unidade dos homens em Cristo. João admira-se da riqueza de acontecimentos relacionados ao que Jesus havia
predito e às profecias registradas nas Escrituras.
11 O vocativo grego gynaii usado por Jesus ao dirigir-se à sua mãe é de difícil tradução. Entretanto, como em 2.4, é claro o amor
e respeito de Jesus por sua mãe.
12 A tradição da Igreja indica que o “discípulo amado” foi João, o autor deste Evangelho; e que José, marido de Maria, já
havia morrido.
13 Jesus tinha consciência de que estava cumprindo mais uma profecia (Sl 69.21; Sl 22.15).
14 “Vara de hissopo”:
p pplanta de folhas aveludadas, qque crescem em varas com cerca de um metro, identificada com a manjedoura
j e
usada nas aspersões rituais (Lv 14.4; Sl 51.9). É mais um simbolismo litúrgico-pascal, que João faz questão de destacar (Êx 12.22).
15 Jesus “entregou” seu espírito, morrendo voluntariamente (10.18). Não como apenas mais um mártir da História, mas como
sacrifício aceitável a Deus (Is 53.10).
16 Era a coincidência do sábado da semana com o dia da Páscoa, que ainda ocorre no calendário judaico, de tempos em
tempos. Segundo a Lei dos judeus, um corpo não poderia ficar exposto em um poste depois do pôr-do-sol (Dt 21.22ss).
o sábado. Pediram, então, a Pilatos que Jesus. E Pilatos concedeu a ele permissão.
mandasse quebrar as pernas dos crucifi- Então José de Arimatéia veio e retirou o
cados e retirar seus corpos. corpo de Jesus.
32 Sendo assim, vieram os soldados e 39 Nicodemos, aquele que havia dialo-
quebraram as pernas do primeiro e em gado com Jesus durante a noite, veio
seguida do outro homem que com Jesus também, trazendo cerca de cem libras21
haviam sido crucificados. de uma mistura de mirra e aloés.
33 Mas quando se aproximaram de Jesus 40 Assim, pegaram o corpo de Jesus e o
e viram que Ele já estava morto, não lhe envolveram em faixas de linho, juntando
quebraram as pernas. as especiarias, conforme a tradição ju-
34 Contudo, um dos soldados perfurou o daica22 de sepultamento.
lado de Jesus com uma lança, e imediata- 41 No lugar onde Jesus fora crucificado,
mente brotou sangue e água.17 havia um jardim, e no jardim, um sepul-
35 E aquele que a isso presenciou, disso cro novo, onde ninguém jamais havia
deu seu testemunho; e o seu depoimento sido colocado.
é verdadeiro. Pois ele está consciente de 42 E assim, sepultaram Jesus ali, por ser o
que está relatando a verdade para que Dia da Preparação dos judeus, e conside-
também vós creiais.18 rando que o sepulcro ficava próximo.23
36 E todas essas coisas ocorreram para
que se cumprisse a Escritura: “Nenhum Jesus não está no sepulcro
dos seus ossos será quebrado.”19 Mt 28.1-10; Mc 16.1-8; Lc 24.1-12
37 E mais ainda, como diz a Escritura em
outra passagem: “Olharão para Aquele a
quem traspassaram.”.20
20 Ao amanhecer o primeiro dia
da semana,1 estando ainda meio
escuro, Maria Madalena foi ao sepulcro
e viu que a pedra que fechava a entrada
Jesus é sepultado havia sido removida.
Mt 27.57-60; Mc 15.42-46; Lc 23.50-54 2 Então saiu correndo em busca de Si-
38 Algum tempo mais tarde, José de Ari- mão Pedro e do outro discípulo, a quem
matéia, que era um discípulo de Jesus, Jesus amava, e disse-lhes: “Eles tiraram o
ainda que secretamente, por causa do Senhor do sepulcro, e não sabemos onde
medo que tinha dos judeus, rogou a Pi- o colocaram!”.
latos que lhe permitisse tirar o corpo de 3 Imediatamente Pedro saiu em direção
17 Essa é uma das evidências da completa humanidade de Jesus e que, simbolicamente, aponta para a água batismal e o
vinho-sangue da Ceia (1Jo 1.7; 5.6-8).
18 Conforme a tradição judaica, João poderia ter considerado o aval de uma segunda testemunha, para reconhecer a total
veracidade dos fatos narrados. É possível que Tiago, irmão de João, martirizado por Herodes Agripa em 44 a.D. (At 12.2), tenha
sido co-autor desse testemunho.
19 Êx 12.46; Nm 9.12; Sl 34.20.
20 Assim como percebe o cumprimento de uma profecia no fato de as pernas de Jesus não terem sido quebradas, João cita o texto
profético de Zc 12.10, ao ver os soldados perfurarem o lado de Jesus. Leia Zc 9 a 14 e note a alternância dos pronomes “eu” e “ele”.
21 Ou cerca de 34 quilos. A libra (em grego litra) equivale a pouco mais de 300 gramas. Tanto José de Arimatéia como Nicode-
mos eram ricos, fariseus e membros do supremo tribunal dos judeus.
22 Os romanos só entregavam o corpo de um executado aos parentes mais próximos, entretanto, jamais quando a condenação
fosse por sedição, como no caso de Jesus. Por outro lado, mesmo que essas especiarias não fossem tão caras quanto o “nardo
puro” usado por Maria de Betânia (12.3-5), uma quantidade tão grande só era vista em sepultamentos da realeza.
23 O tempo urgia, foi preciso fazer o sepultamento de Jesus muito rápido, pois o pôr-do-sol daria início ao sábado. Constantino
descobriu esse túmulo em 325 a.D. e o chamou de “edícula”, que significa “caverna”.
Capítulo 20
1 O domingo, “dia do Senhor” (Ap 1.10), pois Cristo ressuscitou nesse dia (At 20.7; 1Co 16.1,2). Maria Madalena ou Magdala,
por ser dessa cidade, localizada no lado ocidental do lago da Galiléia; mulher de posses, tornou-se uma discípula líder desde que
foi salva por Jesus (Lc 8.2; 23.49,55; 24.10).
ao sepulcro, acompanhado pelo outro “Porque levaram o meu Senhor, e não sei
discípulo. onde o colocaram.”.
4 Ambos corriam juntos, entretanto, o 14 Assim que disse isso, olhou para trás
outro discípulo correu mais do que Pe- e viu Jesus em pé, mas não reconheceu
dro e chegou primeiro ao sepulcro. que era Ele.
5 E inclinando-se, viu as faixas de linho 15 E Jesus perguntou-lhe: “Mulher,5 por
ali, mas não entrou. que estás chorando? A quem procuras?”.
6 Em seguida, chegou Simão Pedro, Maria, imaginando que fosse o jardinei-
que vinha logo atrás dele. Pedro entrou ro, rogou-lhe: “Se tu o tiraste daqui, dize-
no sepulcro e também viu as faixas de me onde o colocaste, e eu o levarei.”.
linho, 16 Então Jesus a chamou: “Mariâm!”
7 bem como o lenço2 que estivera em Ela, voltando-se, exclamou também em
volta da cabeça de Jesus, e que não estava aramaico: “Rabôni!” (que quer dizer
com as faixas de linho, mas dobrado à Mestre).6
parte. 17 Recomendou-lhe Jesus: “Não me segu-
8 Então o outro discípulo, que chegara res, pois ainda não voltei para o Pai. Mas
primeiro ao sepulcro, também entrou. vai, e ao encontrar meus irmãos, dize-lhes
Este viu e creu. assim: ‘estou ascendendo ao meu Pai e
9 Contudo, eles ainda não haviam en- vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus’.”.
tendido que, de acordo com a Escritura,3 18 E assim foi Maria Madalena e anunciou
era necessário que Jesus ressuscitasse dos aos discípulos: “Eu vi o Senhor!”. E con-
mortos. tou-lhes tudo o que o Senhor lhe dissera.
10 E assim foram os discípulos outra vez
para suas casas.4 Cristo abençoa com seu Espírito
Lc 24.36-49
Jesus ressuscitou e vive! 19 Então, ao entardecer daquele dia,
11 Por outro lado, Maria continuava do o primeiro da semana, os discípulos
lado de fora do sepulcro, chorando. En- estavam reunidos a portas trancadas,
quanto chorava, inclinou-se, para olhar por medo das autoridades judaicas.
dentro do sepulcro, Jesus apareceu, pôs-se no meio deles e
12 e viu dois anjos vestidos de branco, disse: “A paz seja convosco!”.7
sentados onde estivera o corpo de Jesus, 20 Enquanto falava aos discípulos, mos-
um à cabeceira e outro aos pés. trou-lhes as mãos e o lado. Então os dis-
13 Então os anjos perguntaram: “Mulher, cípulos ficaram muito alegres ao verem
por que choras?”. Ela lhes respondeu: o Senhor.
2 A palavra grega traduzida por “lenço” (soudarion) é um estrangeirismo procedente do latim (sudarium) e identifica uma peça
de pano usada para enxugar o suor (Lc 19.20; At 19.12) do rosto e envolver a cabeça dos mortos, como ocorreu com Lázaro
(11.44).
3 A Escritura (em grego, graphê).
4 “Para casa” (em grego, pros autous – “para eles”), praticamente sinônimo de eis ta idia (19.27).
5 “Mulher” (em grego gynai, vocativo de gynê) era uma forma gentil e respeitosa de se dirigir a uma jovem senhora; algo como
“cara senhora” ou “madame”.
6 Maria (em aramaico Mariâm). Ela o saúda em aramaico (Rabônii – Mestre), uma forma mais enfática e honrosa do que o
tradicional “rabino”. O mesmo título dado por Bartimeu a Jesus em Mc 10.51. A atitude de Maria em cuidar, logo ao alvorecer,
para que o corpo de Jesus recebesse um lugar digno de descanso, mostra que ela era uma mulher de iniciativa e posses (como
sugere Lc 8.2s); ela estava disposta a pagar pelo trabalho e outras despesas necessárias.
7 “A paz seja convosco” (em hebraico, Shâlôm âleikhem; e em árabe, Salaam ‘alaikum). Uma saudação comum entre amigos,
mas que agora fazia todo o sentido, e fez que os discípulos recordassem as promessas de Jesus (14.27; 16.22; Lc 24.36ss). O
novo corpo de Jesus lhe permitia atravessar a matéria sem ser um fantasma. Jesus preocupou-se em demonstrar aos discípulos
que eles não estavam sofrendo uma alucinação coletiva.
21 E Jesus lhes disse mais uma vez: “A Creia em Jesus, o Filho de Deus
paz seja convosco! Assim como o Pai 30 Verdadeiramente Jesus realizou, na
me enviou, Eu também vos envio.”. presença dos seus discípulos, muitos
22 E, tendo dito isso, soprou sobre eles e outros milagres, que não estão escritos
disse-lhes: “Recebei o Espírito Santo. neste livro.
23 Aqueles a quem perdoardes os pecados 31 Estes, entretanto, foram escritos para
ser-lhes-ão perdoados; aqueles aos quais que possais acreditar que Jesus é o Cris-
mantiverdes ser-lhes-ão mantidos.”.8 to, o Filho de Deus, e para que, crendo,
tenhais vida em Seu Nome.10
Felizes os que não viram e creram
24 Contudo, Tomé, um dos doze, chama- Jesus aparece na praia e ensina
do Dídimo, não estava com eles quando
Jesus apareceu.
25 Os outros discípulos, no entanto,
21 Algum tempo depois, Jesus apa-
receu de novo aos seus discípulos,
à margem do mar de Tiberíades.1
anunciaram-lhe: “Nós vimos o Senhor!”. 2 Simão Pedro, Tomé, chamado Dídimo,
Mas ele respondeu-lhes: “Se eu não vir as Natanael, que era de Caná da Galiléia, os
marcas dos pregos nas suas mãos, não filhos de Zebedeu e mais dois dos seus
colocar o meu dedo onde estavam os pre- discípulos, estavam juntos.
gos e não puser a minha mão no seu lado, 3 Simão Pedro disse-lhes: “Vou pescar.”. E
não acreditarei.”. eles o encorajaram: “Nós vamos contigo
26 Após oito dias, os discípulos estavam também.”. Saíram, e logo entraram no
reunidos ali outra vez, e Tomé estava barco, mas naquela noite nada pegaram.
com eles. As portas estavam trancadas; 4 Entretanto, ao clarear da manhã, estava
quando Jesus apareceu, pôs-se no meio Jesus na praia; mas os discípulos não
deles e disse: “A paz seja convosco!”. perceberam que era Ele.
27 Então dirigiu-se a Tomé, dizendo: 5 E Jesus lhes perguntou: “Moços!2 tendes
“Coloca o teu dedo aqui; vê as minhas aí alguma coisa para comer?”. E eles lhe
mãos. Estende tua mão e coloca-a no responderam: “Não!”.
meu lado. Agora não sejas um incrédulo, 6 Então Jesus orientou-os: “Lançai a rede
mas crente.”. do lado direito do barco e encontrareis.”.
28 E Tomé confessou a Jesus: “Meu Assim eles o fizeram, e logo não con-
Senhor e meu Deus!”.9 seguiam recolher a rede, por causa da
29 Ao que Jesus lhe afirmou: “Tomé, por- abundância de peixes.
que me viste, acreditaste? Bem-aventu- 7 Diante disso, o discípulo
p a quem
q Jesus
rados os que não viram e creram!”. amava disse a Pedro: “É o Senhor!”. Assim
8 João usa o verbo grego apostellõ, indicando que os discípulos, agora, são efetivamente apóstolos, no sentido de “enviados”
(17.18). A missão do Filho é confiada a eles, pois Jesus está retornando ao Pai. A plenitude do Espírito de Cristo para o desem-
penho da missão agora é entregue a eles através do “sopro” (em grego, emphysaô) de Jesus. É o mesmo verbo usado quando
Deus soprou o fôlego da vida no homem (Gn 2.7) e também na ordem dada ao Espírito (em grego, pneuma) em Ez 37.9. Essa não
foi uma antecipação do Pentecostes (At 2.1-21), mas uma dádiva real do Espírito Santo com o objetivo de capacitar os discípulos,
para o ministério a seguir. Quanto aos pecados, estes serão mantidos (ou retidos), se as pessoas que ouvirem a proclamação do
Evangelho não se arrependerem e não receberem o Espírito Santo.
9 Expressão de convicção absoluta. O Homem da Palavra era Deus! O mesmo clímax de Mc 15.39.
10 João foi testemunha ocular da vida e obra de Jesus de Nazaré, o Cristo (o Messias), Filho de Deus. A paixão e missão de
João foi ver o mundo compreendendo essa verdade e vivendo, com fé em Jesus, pelo poder do Espírito Santo, nosso Advogado
(3.36; 14.15-21).
Capítulo 21
1 Somente neste Evangelho, o lago conhecido como mar da Galiléia é chamado de Tiberíades. João entregou este epílogo à
Igreja como seu magnum opus.
2 “Moços” (em grego, paidia), uma expressão coloquial de companheirismo, assim como “filhos”, “jovens” ou “rapazes”.
que Simão Pedro ouviu que era o Senhor, 16 Outra vez Jesus lhe perguntou: “Simão,
vestiu sua túnica,3 pois a havia tirado, e filho de João, tu me amas?”. Ele afirmou:
lançou-se ao mar. “Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo.”
8 Mas os outros discípulos vieram no Jesus lhe confiou: “Pastoreia as minhas
pequeno barco, arrastando a rede com os ovelhas.”.
peixes; pois não estavam longe da praia, 17 Pela terceira vez Jesus perguntou: “Si-
senão uns duzentos côvados.4 mão, filho de João, tu me amas?”. Pedro
9 Então, assim que saltaram em terra vi- ficou angustiado por Jesus haver-lhe per-
ram ali uma fogueira, peixe sobre brasas, guntado pela terceira vez “tu me amas”,
e um pouco de pão. e assegurou-lhe: “Senhor, Tu conheces
10 E Jesus lhes pediu: “Trazei alguns dos todas as coisas e sabes que eu Te amo!”.
peixes que acabastes de pegar.”. Comissionou-o Jesus: “Apascenta as mi-
11 Simão Pedro entrou no barco e arras- nhas ovelhas.
tou a rede para a terra. Ela estava cheia, 18 Em verdade, em verdade Eu te afirmo:
com cento e cinqüenta e três grandes quando eras mais jovem, tu te vestias a
peixes. E mesmo com tantos peixes, a ti mesmo e ias para onde desejavas; mas
rede não se rompeu. quando chegares à velhice, estenderás as
12 Então Jesus os convidou: “Vinde e tomai mãos e outra pessoa te vestirá e te condu-
vosso desjejum.”.5 E nenhum dos discípu- zirá para onde tu não queres ir.”.
los tinha coragem de indagar-lhe: “Quem 19 Isso falou Jesus, significando o tipo de
és tu?”, pois sabiam que era o Senhor. morte7 com a qual Pedro iria glorificar a
13 Jesus aproximou-se, pegou o pão e o deu Deus. E assim que terminou de proferir
a eles, tomou um peixe e fez o mesmo. essas palavras, acrescentou: “Segue-me!”.
14 E essa foi a terceira vez que Jesus apa-
receu aos seus discípulos, depois de haver O discípulo amado e este livro
ressuscitado dos mortos. 20 Pedro voltou-se e viu que o discípulo
a quem Jesus amava os acompanhava.
Pedro é restaurado por Jesus (Este era o que estivera ao lado de Jesus
15 Assim, após tomarem o desjejum, durante a ceia e perguntara: “Senhor,
Jesus questionou a Simão Pedro: “Simão, quem te irá trair?”).
filho de João, tu me amas mais do que 21 Assim que Pedro o viu, perguntou a
estes outros?”6 Respondeu ele: “Sim, Jesus: “Senhor, mas quanto a este ho-
Senhor, Tu sabes que te amo.” Jesus o mem?”.8
encarregou: “Cuida dos meus cordeiros.”. 22 Então Jesus lhe respondeu: “Se Eu de-
3 Pedro havia tirado sua capa externa; uma espécie de casaco de linho, típico dos pescadores da região naquele tempo, usado
por cima das vestes internas.
4 O côvado era uma medida linear equivalente a 45 cm. Portanto, o barco estava a menos de 100 metros da praia.
5 A palavra grega ariston (desjejum) indica que os discípulos ainda não haviam tomado uma refeição. Jesus alimenta seus
discípulos da mesma maneira como alimentara a multidão à beira desse lago (6.8-10). Diz a tradição que as letras da palavra
grega ICHTHYS (peixe) eram consideradas um acróstico para a expressão Iesous CHristos Theou HYos Sõter, “Jesus Cristo, de
Deus o Filho, Salvador”.
6 A pergunta de Jesus é reflexiva: “Tu me amas mais do que estes outros me amam?” A resposta lógica seria “não”, pois como
Pedro poderia saber o quanto os outros discípulos amavam a Jesus? Entretanto, Pedro havia pensado, no cenáculo, diante da
perplexidade dos demais, que amava a Jesus mais do que todos, e havia assegurado que daria a própria vida por Jesus. Mas
depois se acovardou; e ressentia-se profundamente disso. Jesus o perdoa, ensina-o a ser um “subpastor” por amor ao Supremo
Pastor e ao rebanho (Igreja) de Cristo (1Pe 2.23; 5.2-4) e o reconduz ao ministério.
7 Pedro seguiria Jesus até na maneira como glorificaria o Pai (12.33). De fato, Clemente de Roma (96 d.C.) afirma que Pedro foi
martirizado. Tertuliano (212 a.D.) acrescenta que, quando Pedro estava para ser amarrado na cruz, fora vestido por outra pessoa;
e Eusébio escreve que Pedro insistira em que não era digno de ser crucificado do mesmo modo que Jesus e pedira que o fosse
de cabeça para baixo. Enfim, Pedro conseguiu cumprir sua atestação em 13.37.
8 Agora, espiritualmente restaurado e com uma nova missão, Pedro olha para trás e preocupa-se com o futuro do seu amigo.
sejar que ele fique vivo até que Eu volte,9 24 Este é o discípulo que testemunha a
o que te importa? Entretanto, quanto a respeito desses acontecimentos e que os
ti, segue-me!”. escreveu; e sabemos que o seu testemu-
23 Por esse motivo, tornou-se conhecido nho é conforme a verdade.11
entre os irmãos o rumor de que aquele 25 Jesus realizou ainda muitas outras
discípulo não passaria pela morte. Ora, maravilhas. Se todas elas fossem escri-
Jesus não disse que ele não morreria, mas tas uma por uma, acredito eu que nem
sim: “Se Eu desejar que ele fique vivo até mesmo o mundo inteiro seria capaz de
que Eu volte, o que te importa?”.10 conter os livros que se escreveriam.12
9 Jesus não prometeu que João permaneceria com vida até sua “volta” (em grego, parousia – a Segunda Vinda); mas sim,
que se essa fosse a sua vontade, ou se Ele prolongasse os anos de vida de João na terra, isso não deveria ser do conhecimento
de João, muito menos de Pedro. Por sua vez, Jesus ensinou os discípulos e a Igreja a se prepararem para a parousia, que pode
ocorrer a qualquer momento (1Ts 4.13-18; 1Jo 3.3).
10 Por volta de 95 d.C., João foi exilado pelo imperador Domiciano na Ilha de Patmos, onde escreveu o livro de Apocalipse (Ap
1.9). Morreu em idade avançada e foi sepultado em Éfeso.
11 A comunidade que recebeu o escrito testemunha e afiança a vida e a obra do autor deste Evangelho: João, o discípulo a
quem Jesus amava.
12 A intenção do evangelista é levar seus leitores para muito além das letras e dos registros históricos, a fim de que
reconheçam em Jesus o Verbo (Palavra) de Deus, feito pessoa humana, para a salvação eterna de todo aquele que nele crer
(1.14; 3.16; Ap 12.10).