da casa de meus pais disposto a viajar eu conhecia j o rebentar do mar das pginas dos livros que j tinha lido
Chegava o ms de maio era tudo florido o rolo das manhs punha-se a circular e era s ouvir o sonhador falar da vida como se ela houvesse acontecido
E tudo se passava numa outra vida e havia para as coisas sempre uma sada Quando foi isso? Eu prprio no o sei dizer
S sei que tinha o poder duma criana entre as coisas e mim havia vizinhana e tudo era possvel era s querer
Ruy Belo, Homem de Palavra[s]Lisboa, Editorial Presena, 1999 (5 ed.)
Escolhi este poema porque ao l-lo achei que aquilo que ele transmite tambm se adequa quilo que eu sinto em relao idade da infncia e idade mais adulta. Considero que o poeta soube espressar as diferenas entre estas duas idades, entre o sonho e a felicidade da infncia e a inexistncia destes aspectos quando somos mais velhos. Neste poema est expressa a dicotomia antes e agora. O antes corresponde idade da infncia e da juventude, que terminou no momento em que o sujeito potico decidiu sair de casa e viajar. Antes deste acontecimento, o eu conhecia a vida atravs da leitura e do acto de sonhar. Nesta idade, no havia preocupaes e tudo era possvel, bastava sonhar. O rolo das manhs smbolo de todos os possveis e este existia na juventude do sujeito lrico. Tudo isto surge por oposio idade adulta, pois o antes tudo era deixa implcito que agora j nada possvel como era antigamente. Esta ideia reforada atravs do emprego do pretrito imperfeito, que refora o sentido de felicidade durvel, constante e ao mesmo tempo aproxima o sujeito do reino do era uma vez. Este tempo verbal utilizado na referncia juventude, pois a idade adulta traz a instabilidade e no a constncia. Depois de viajar, o sujeito potico quase no consegue precisar o tempo da sua juventude dourada. No entanto, sabe que tinha o poder de uma criana, o poder de transformar toda a realidade. A viagem marca a transio para a idade adulta e, do ponto de vista simblico, representa um trajecto de experincia activa, um momento de descoberta, de aprendizagem e de conhecimento. Descoberta e conhecimento de um mundo que nos rodeia, dos outros e de ns mesmos. Em concluso, neste poema, a ideia de viagem est ligada ao prprio acto de crescer, de descoberta de uma realidade que no era visvel no mundo fantasioso da infncia e da juventude: uma realidade bem mais amarga, onde o homem se conforta com as suas prprias limitaes.