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Orientadores:
Prof. Fernando Manuel Coutinho Tavares de Pinho
Profª. Mónica Sofia Neves de Freitas Oliveira
Agradecimentos:
Prof. Adélio Manuel de Sousa Cavadas
Prof.ª Maria Josefina Figueira Ferreira
Agradecimentos
Índice
1. Objectivos .................................................................................................................................. 4
2. Introdução ................................................................................................................................. 5
3. Metodologia .............................................................................................................................. 6
3.1 Reometria de Corte ............................................................................................................. 7
3.1.1 Regimes de escoamento para um fluido ...................................................................... 7
3.1.2 Lei de Newton da Viscosidade ..................................................................................... 7
3.1.3 Tipos de Fluidos ............................................................................................................ 8
3.1.4 Principais Modelos Usados em Reologia...................................................................... 9
3.1.5. Materiais viscoelásticos............................................................................................. 11
3.1.6- Reometria utilizando geometrias de medição .......................................................... 20
3.1.7- Generalidades sobre o reómetro rotacional usado .................................................. 25
3.2-Reometria extensional ...................................................................................................... 28
4. Generalidades sobre o sangue ................................................................................................ 32
4.1- Hemoreologia................................................................................................................... 32
4.2 Cuidados a ter com o sangue ............................................................................................ 32
4.3 Constituição do sangue ..................................................................................................... 33
4.4 Circulação do sangue......................................................................................................... 35
4.5 Reologia do sangue – Alguns modelos utilizados ............................................................. 38
5 Resultados dos ensaios ............................................................................................................ 42
5.1 Análise reológica ............................................................................................................... 42
5.1.1 Ensaio extensional ...................................................................................................... 42
5.1.2 Ensaio de corte ........................................................................................................... 45
5.2 Análise Electroreológica .................................................................................................... 64
5.2.1- Suspensão de amido de milho em óleo de linhaça ................................................... 69
5.2.2- Suspensão de CarboxiMetilCelulose em óleo de linhaça ......................................... 71
5.2.3- Suspensão de óxido de alumínio em óleo de linhaça ............................................... 73
5.2.4- Efeito da intensidade do campo eléctrico nas suspensões electroreológicas .......... 76
6. Conclusões............................................................................................................................... 79
7. Bibliografia consultada ............................................................................................................ 81
8. Anexos ..................................................................................................................................... 84
1. Objectivos
2. Introdução
Mecânica
dos Fluidos
Reologia
Mecânica Fenómenos
dos Meios de
Continuos Transporte
Figura 1- Representação esquemática da interface existente entre a reologia e a Mecânica dos Fluidos, a
Mecânica dos Meios Contínuos e os Fenómenos de Transporte.
3. Metodologia
Reometria
Análise
Análise reológica
electroreológica
Reometria Reometria
Reometria rotacional
extensional electrorotacional
Ensaio de corte
Ensaio extensional Ensaio de corte sujeito a uma tensão
eléctrica constante
Ensaio oscilatório
Figura 2-
2 Tipos de ensaios realizados na reometria.
Por observações experimentais concluiu-se que, num tubo de secção recta circular,
desde que não haja perturbações ao escoamento, o regime é laminar quando o
número de Reynolds é inferior a 2100 e é turbulento quando é superior a 4000. Entre
estes dois limites, o regime é de transição. Estes valores limites variam conforme a
geometria do tubo confinante, em particular são função da dimensão característica
escolhida para definir o número de Reynolds. (Campos 2008, Massey 2002)
u=u(y)
Esta força F dá origem a uma força com a mesma intensidade, mas de sentido
contrário, que é a força de corte que se desenvolve devido às forças de coesão do
fluido sobre as paredes da placa e entre as camadas de fluido, assumindo que o
escoamento ocorre em regime laminar. Este escoamento tangencial promovido pelo
movimento da parede é designado habitualmente por escoamento de Couette.
du
A força de corte dá origem a um gradiente de velocidade, , entre as placas que,
dy
no caso do escoamento ser laminar, em regime estacionário (escoamento em que a
∂v
velocidade não varia com o tempo, = 0) só depende da ordenada do ponto que
∂t
estamos a estudar, y. Supondo que não haja deslizamento do fluido nas paredes das
placas, a velocidade do fluido nas placas adjacentes a este será igual à velocidade
das mesmas. Logo, a velocidade do fluido na placa inferior será nula e a do fluido na
placa superior terá o valor de U- condição de não-deslizamento. (Bird et al. 2001,
Musson et al. 2002)
O perfil de velocidades segundo o eixo dos xx, u , é somente função da coordenada
transversal y e varia linearmente na forma,
y
u= U (2)
H
Pelo que a taxa de deformação será constante em todo o domínio,
du U
γ = = (3)
dy H
Note-se que esse gradiente de velocidades na direcção do eixo dos xx coincide com a
taxa de deformação de corte. (Munson et al, 2007)
A viscosidade dinâmica define-se, por analogia com a lei de Newton para a
viscosidade, como a razão entre a tensão de corte e a respectiva taxa de
deformação,
τ xy τ xy
µ (γ) = = (4)
du γ
dy
A viscosidade dinâmica ou simplesmente viscosidade, µ, é uma importante
propriedade na caracterização de um fluido, pois dá uma ideia da intensidade da
agitação permanente entre as partículas do fluido em causa, isto é, reflecte o
movimento browniano que cria uma resistência aos fluxos de quantidade de
movimento. (Gray et al. 2007, Pinho 2009)
µ − µ∞ 1
= (6)
µ0 − µ∞ (1 + ( K γ ) 2 )m 2
τ = Kγ n (8)
µ = K γ n −1 (9)
τ = τ 0 + µ pγ (10)
τ = τ 0 + K γ n (11)
Como se pode reparar através da análise das equações (10) e (11), o modelo de
Bingham é um caso particular do modelo de Herschel-Buckley. [Barnes, H., 2000]
Para finalizar a análise dos fluidos com tensão de cedência, também existem o
modelo de Casson que descreve o comportamento dos fluidos de Casson, dado pela
expressão:
τ = τ 0 + µ p γ (12)
τ = τ 0 + µ p γ + 2 τ 0 µ p γ (13)
Figura 7- Modelo físico da deformação viscosa: (a) amortecedor (b) representação esquemática
(c) variação linear da tensão com a taxa de deformação (caso ideal). (Silva 2005)
A expressão (14) é uma junção da lei de Hooke com a lei de Newton da viscosidade,
podendo ser vista como sendo uma equação diferencial que pode ser resolvida,
considerando que a seguinte equação é uma solução particular da equação.
σ0
ε= (15)
E
A solução dessa equação é:
E
σ0 − t
µ
ε= + Ce (16)
E
Admitindo que para t=t0, a deformação é nula, ε = 0 , obtém-se:
σ0
E
− ( t − t0 )
µ
ε= 1 − e (17)
E
Para um dado instante t=t1 (t1>t0), a deformação é:
σ0
E
− ( t1 − t0 )
µ
ε1 = 1 − e (18)
E
Esta deformação tem características de uma deformação por fluência, uma vez que
aumenta sem variação de tensão e a taxa de deformação diminui com o tempo. (Silva
2005)
Na figura 8 encontra-se representado o comportamento no tempo do modelo de
Kelvin-Voigt.
Sem tensão de
Newtoniano
cedência
Independentes
Fluidos Viscoelásticos Bingham
do tempo
Com tensão de
Não newtoniano
Puramente cedência
viscosos Herschel-Bulkley
(inelásticos)
Reopécticos
Dependentes do
tempo
Tixotrópicos
N1 σ xx − σ yy
ψ1 (γ) ≡ = (21)
γ 2 γ 2
Verifica-se experimentalmente que a generalidade dos fluidos viscoelásticos
apresenta um comportamento reofluidificante em ψ 1 , partindo de um patamar
constante a baixas taxas de deformação. Embora ψ 1 seja usualmente positivo para a
generalidade dos líquidos poliméricos, tem-se constatado experimentalmente que
poderá ser negativo no caso particular dos cristais líquidos. (Alves 2009)
N2 σ yy − σ zz
ψ 2 (γ) ≡ = (22)
γ 2 γ 2
Em que N 2 representa a segunda diferença de tensões normais. A determinação
experimental de ψ 2 não é simples e envolve habitualmente várias medições num
reómetro. Para fluidos viscoelásticos observa-se experimentalmente que ψ 2 é
geralmente negativo, e o seu valor absoluto é significativamente inferior ao de ψ 1
(tipicamente ψ 2 ≤ 0,2 ψ1 ).
Para fluidos newtonianos, as tensões normais num escoamento de corte simples são
nulas ( σ xx = σ yy = σ zz = 0 ) logo as diferenças de tensões normais também o são (
N1 = N2 = 0 ), assim como ambos os coeficientes das diferenças das tensões normais (
ψ 1 = ψ 2 = 0 ).
Concretizando, existem 3 parâmetros independentes que podem ser obtidos através
da reometria de corte e que permitem caracterizar o comportamento de um
material: a viscosidade de corte, µ , e o coeficiente da primeira e da segunda
diferença de tensões normais, ψ 1 e ψ 2 , respectivamente. (Alves 2009)
Figura 12- Desfasamento da tensão de corte relativamente à deformação a que a amostra é sujeita num
escoamento dinâmico de corte.
2
µ
G ω
G′ =
G
2
(32)
µ
1+ ω
G
µ.ω
G′′ = 2
(33)
µ
1+ ω
G
Devido ao aparecimento de escoamentos secundários, provocados por efeitos de
inércia no escoamento, alguns ensaios podem ser seleccionados como válidos,
inválidos ou válidos numa dada região para baixas frequências, tal como mostra a
figura 13. O ensaio diz-se inválido quando se desconhece o tipo de escoamento
secundário que vigora ao longo do ensaio. Logo, todos os ensaios reológicos devem
ser feitos através de escoamentos cinemáticos conhecidos. (Barnes 2000)
Figura 14- Comportamento descrito pelo Modelo de Maxwell num ensaio oscilatório, com o ponto de
intersecção indicado.
1 σ xx
λ= (36)
2 τ xy .γ
3.1.6.1 Prato-Cone
Embora existam reómetros de placas paralelas, o seu uso não é prático, por razões
tecnológicas, uma vez que apenas é possível deformar a amostra de uma forma
limitada. Geralmente utilizam-se reómetros rotativos, os quais promovem o
escoamento da amostra entre dois cilindros concêntricos, discos paralelos, ou entre
um cone e um prato. Na Figura 15 ilustra-se uma geometria cone e prato,
frequentemente usada em reometria, dado que promove uma taxa de deformação
uniforme em toda a amostra. (Alves 2009)
(a) (b)
Figura 16- (a) Aparecimento de escoamentos secundários. (b) Efeito dos escoamentos secundários nos
resultados do ensaio.
R 2ω.α 2
0,5 ≤ (40)
µ
12
ρ
R 2γ tan (α ) .α 2
0,5 ≤ (41)
µ
12
ρ
Como o ângulo é pequeno, α = 1º , pode-se fazer a seguinte aproximação: tan (α ) ≈ α
, substituindo em (42) tem-se:
R 2α 3
µ≤ρ γ (42)
6
Logo, a seguinte expressão permite obter o valor da viscosidade que se pode medir
para um valor da taxa de deformação de corte máximo na zona em o ensaio pode ser
considerado válido.
R 2α 3
µmax = ρ γ (43)
6
R2ω
γ = (44)
R2 − R1
(a) (b)
Figura 17- (a) Cilindro exterior de raio R2 (b) Geometria de encaixo na árvore do reómetro (cilindro
interior de raio R1 ).
Considerando desprezáveis os efeitos do escoamento abaixo do cilindro, a tensão de
corte, τ , é dada pela expressão:
T
τ= (45)
2π R12 H
R
Ta = 1700 1 + 2 (49)
10 R1
Na figura 19, encontra-se representada a geometria de cilindros concêntricos
utilizada.
Figura 20- Escoamentos secundários, vórtices de Taylor, formados pela rotação dos cilindros
concêntricos.
3.1.6.3 Prato-Prato
Considere-se um escoamento torsional, formado entre os dois pratos, tal como
mostrado na figura 21, induzido pelo movimento de rotação do prato de cima. A taxa
de deformação para este escoamento é dada por:
Rω
γ = (50)
h
Em que R é o raio do prato e h é a distância que separa os dois pratos. (Whorlow
1992)
9 M .h
µ= . (51)
8 π R 4ω
(a) (b)
Figura 22- (a) Reómetro rotacional Physica MCR301TM e (b) detalhe de um sistema de pratos paralelos.
Figura 23- Representação esquemática do reómetro rotacional a funcionar com uma geometria Prato-
Prato (PP).
A amostra a analisar é colocada em cima de um prato fixo (coating, a vermelho),
entretanto a geometria move-se na direcção perpendicular ao prato, prensando a
amostra. Após a fixação da amostra entre o prato fixo e a geometria móvel, a
geometria móvel roda com uma dada velocidade angular, ω , fazendo com que a
amostra seja sujeita a um escoamento de Couette. Deve-se ter cuidado
relativamente ao volume de amostra que se coloca no prato móvel, pois esta deve
ser analisada exactamente na zona delimitada pela geometria móvel e o coating, não
devendo ser ensaiada fora do limite imposto, nem pelo contrário ser analisada muito
antes desse limite ter sido atingido.
Além disso, deve-se ter cuidado para não verter qualquer quantidade de amostra
para a geometria móvel utilizada nessa medição, fazendo com que esta execute o
ensaio rotacional com gotículas presas na sua parte superior. Este descuido provoca
alterações no momento de inércia da geometria e pode afectar significativamente as
medições, principalmente no aparecimento de escoamentos secundários mais cedo
do que o previsto, e consequentemente num aumento inesperado da viscosidade no
caso de um ensaio de corte em regime permanente.
A interface do software Rheoplus usado no comando do reometro Physica MCR301TM
pode ser visualizado na figura 24, em que são mostrados os parâmetros a utilizar para
o ensaio. Nessa janela podem se fazer variar a temperatura do ensaio através do
sistema de arrefecimento Peltier e a gama de taxas de deformação de corte a
utilizar no ensaio. No caso de se utilizar a geometria prato-prato, é possível variar
não só a temperatura e a taxa de deformação de corte, mas também a distância
entre pratos. Se se utilizar a geometria de cilindros concêntricos, por exemplo a que
foi utilizada no capítulo 5.2 CC27-E, também é possível fazer variar a diferença de
potencial que induz o campo eléctrico.
Figura 24- Interface com o Software Rheoplus do reómetro usado, Physica MCR-301.
Status Description
The time settings for the calculation of the mean value could not be
Mea kept; the available time is not sufficient for the pre-set number of
raw values.
Dy The dynamic for the speed controller has been set to xxx % during a
xxx% rotational measurement.
Steady state has been reached for the measuring point (rotational
Sdy
measurements only).
The maximum electrical torque has been reduced due to the level of
TR
the motor temperature.
The dynamic for the stress controller has been set to xxx % during a
CS_xxx
rotational measurement.
3.2-Reometria extensional
Por outro lado, a reometria extensional permite medir funções materiais em
escoamento extensional e é usado para medir o tempo de relaxação ou a diferença
das tensões normais. No caso vertente, apenas o tempo de relaxação é possível ser
medido. Este tipo de ensaio consiste em gerar um escoamento puramente
extensional, sem corte, para medir as propriedades materiais do fluido, para isso são
fixadas ambas as extremidades de uma dada amostra através de duas placas, e de
seguida fazer mover uma das extremidades através do movimento de uma das placas
(ou das duas, tal como representado na figura 25), sujeitando a amostra a um esforço
axial, traccionando-a. (Alves 2009)
Figura 25- Representação esquemática do escoamento extensional. (a) Amostra no instante inicial; (b)
amostra durante o processo de extensão.
No caso da figura 25, o escoamento denomina-se por extensão simples se o campo de
velocidades for expresso por:
− 1 ε x
2
u = − 1 ε y (52)
2
ε z
Em que ε é a taxa de extensão, assumida constante.
Geralmente o filamento de líquido tem forma cilíndrica, sendo portanto
recomendável o uso de coordenadas cilíndricas para o estudo do escoamento.
Logo,
− 1 εr cosθ
2
u = − εrsenθ
1 (53)
2
ε z
E,
1
ur = − u x 2 + u y 2 = − εr (54)
2
Em que θ é o ângulo que o eixo radial, rr, faz com o eixo dos xx.
Considerando um filamento cilíndrico de comprimento L e raio R (ambos função do
tempo), pode-se exprimir a taxa de deformação extensional por:
d ε 1 ∂L
= (55)
dt L ∂t
A deformação extensional, ε, é definida como sendo a relação entre a variação do
comprimento, ΔL, em relação a um dado comprimento de referencia, L. Isto é, um
aumento de comprimento do filamento, dL, traduz-se numa deformação dε, ou seja,
Nuno António Aguiar dos Santos 29
Reologia de Fluidos Análogos ao Sangue BII – 2008/2009
dL
dε = (56)
L
Que se pode escrever:
dL
εdt = (57)
L
Integrando ambos os termos é possível demonstrar que:
L = Lo e εt (58)
Conclui-se, portanto que o comprimento do filamento aumenta exponencialmente
com o tempo.
Dado que o volume da amostra também se conserva é possível enunciar que:
π R02 L0 = π R 2 L (59)
Aplicando a expressão (52), atrás deduzida, tem-se:
− 1 εt
R = R0e 2 (60)
Pelo que se pode inferir que o raio do filamento diminui exponencialmente com o
tempo.
Se integrarmos a equação (50), obtemos a deformação total (real) a que a amostra é
sujeita, denominada por deformação de Hencky que é dada pela seguinte expressão:
L R
ε = ln = 2 ln 0 (61)
L0 R
A tensão σ a que a amostra vai estar sujeita é obtida pelo quociente entre e a força
exercida na amarra, F, e a área de secção recta do filamento,
F F.eεt
σ= = = τ zz −τ rr (62)
π R2 π R02
A viscosidade extensional uniaxial é definida por:
τ zz − τ rr
µE = (63)
ε
Frequentemente utiliza-se na caracterização dos fluidos uma constante designada
por número de Trouton, Tr, que é definida pelo quociente entre a viscosidade
extensional uniaxial e a viscosidade de corte,
µE
Tr ≡ (64)
µ
Um fluido com número de Trouton igual a 3, diz-se Newtoniano.
Existem outros parâmetros, para além da viscosidade dinâmica e do número de
Trouton, para avaliar reologicamente o comportamento de alguns materiais nas áreas
da Engenharia, tais como a massa volúmica, a tensão superficial e viscosidade
intrínseca e cinemática, que determinam e justificam a sua selecção para uma dada
aplicação. (Alves 2009, Pinho 2009)
A viscosidade cinemática, ν, é definida como sendo o quociente entre a viscosidade
dinâmica e a massa volúmica do fluido em estudo, ou seja,
µ
υ= (65)
ρ
A viscosidade cinemática pode ser interpretada a viscosidade como uma espécie de
velocidade média especial do movimento browniano. Ora, como o movimento
∆௦
browniano é aleatório e tem uma velocidade aritmética média nula, ∆ = ݒ௧ = 0, é
∆௦
preferível criamos uma velocidade que é ∆× ݏ . Desta forma o que contabilizamos é
∆௧
um somatório de deslocamentos, que é independente das direcções e sentidos, mas
que só mede a intensidade. (Bird 2001, Stewart 2001)
A viscosidade intrínseca, η, é uma viscosidade relativa a uma mistura ou solução e
nunca a substância pura, sendo definida pela expressão:
η − η0 η – Viscosidade da solução.
[η] = lim
φ → 0 η0 × φ
η0 – Viscosidade do solvente puro. (66)
ϕ – Concentração do soluto.
A pequena circulação leva o sangue do coração, através da artéria pulmonar, até aos
alvéolos pulmonares para expelir o dióxido de carbono e receber o oxigénio, voltando
ao coração através das veias pulmonares. Na figura 28 encontram-se representados
os principais orifícios do coração.
Pressão Pressão
Classificação do estado sistólica, diastólica,
de saúde do indivíduo mmHg mmHg
µ = K .γ n −1 (9)
Com K = C1 .e C2 .h e n = 1 − C3 .h .
A constante C1 é dada pela seguinte expressão:
C4 .( PTMA )
* h2
C1 = C .e
1 (70)
Tabela 5- Parâmetros do modelo constitutivo para o sangue com µ0=0,11 Pa.s e µ∞=0,004 Pa.s (Thurston,
1979).
j (μ0)j - Pa.s λj - s
1 0,0930 25
2 0,0033 1
3 0,0050 0,3
4 0,0032 0,1
5 0,0016 0,01
6 0,0007 0,001
A relação entre a tensão e a taxa de deformação que este autor derivou é do tipo
multimodal, com uma componente newtoniana do solvente com viscosidade µ∞ e é
dada pela equação:
6
τ = ∑ τ j + µ ∞ .γ (71)
j =1
∂τ j ( µ0 ) j
τ j + λj = 2
γ (72)
∂t 1 + ( λ j .γ )
Desta equação constitutiva resulta que a viscosidade de corte do fluido é
determinada pela seguinte expressão:
6 −1
µ = µ ∞ + ∑ ( µ 0 ) j 1 + ( λ j .γ )
2
(73)
j =1
6
µ * ( γ ) = µ∞ + ∑ (74)
j =1 1 + iωλ j
A comparação dos resultados deste modelo com valores experimentais realizada por
Thurston (1979) é de boa qualidade.
No mesmo trabalho, Thurston (1979) apresenta um segundo modelo para quantificar
o efeito da tixotropia e recomenda a seguinte expressão:
6 t
− '
µ ( t ) = µinicial + s ∑ wi . 1 − e λi
(75)
j =1
Onde µ se refere quer à componente viscosa (µv) quer à componente elástica (µe) da
viscosidade complexa. Nesta expressão λ i' são constantes de tempo do processo
tixotrópico. O parâmetro s distingue os dois conjuntos de tempo, λ i' e λ j , pois s=-1
quando há ruptura da estrutura e s=+1 quando à formação da estrutura, enquanto wi
são os coeficientes de peso das várias parcelas. Os coeficientes λ i' e wi são
determinados por ajuste a resultados experimentais e devem haver sempre termos
de ruptura e formação de estrutura.
Existe um outro modelo denominado por modelo de Ellis, que embora não seja
normalmente utilizado para representar a reologia do sangue, apresenta uma
característica comum ao modelo de Casson, que é muito utilizado para descrever o
comportamento do sangue. Ambos os modelos são não-lineares na tensão e no caso
do fluido de Ellis isso é ainda mais notório porque a equação é implícita na tensão.
Estas características introduzem uma nuance no cálculo, que no entanto continua a
possuir uma solução analítica.
A equação constitutiva que rege o modelo de Ellis é:
1
σ= γ (76)
A + B.σ α −1
Temperatura Tempo de
do ensaio (ºC) relaxação (ms)
19 4,31
19 3,53
19 3,51
19 3,94
19 3,98
19 4,12
19 4,28
19 3,37
19 3,46
19 3,62
D t
ln =− + ln ( k ) (79)
D0 3λ
D D
Assim, através do traçado do gráfico ln = ln ( t ) é possível determinar o
D0 D0
tempo de relaxação de um dado ensaio extensional.
No nono ensaio, por exemplo, seleccionou-se uma zona linear no gráfico do logaritmo
da razão de diâmetros em função do tempo, de modo a obter um tempo de relaxação
médio da solução. A zona linear é linear é mostrada na figura 30 com um erro de
ajuste (fit quality) de cerca de 0,422%, assim como algumas propriedades da solução,
entre as quais o tempo relaxação.
Figura 30- Gráfico da evolução do logaritmo natural da razão dos diâmetros com o tempo.
O tempo de relaxação obtido foi cerca de 3,46 ms, o que está próximo do valor
obtido na tabela 6.
20 33,8
20 34,5
20 33,7
Taxa de Viscosidade
corte, γ de corte, µ
(s-1) (Pa.s)
0,0103 0,1580
0,0599 0,0997
0,121 0,0743
0,527 0,0362
1,17 0,0237
5,99 0,0112
11,4 0,0086
58,1 0,0054
118 0,0046
230 0,0040
Estes dados podem ser representados de forma gráfica, tal como se pode observar na
figura 31.
1
Viscosidade de corte
0,1
(Pa.s)
Sangue
T=37ºC
0,01
0,001
0,01 0,1 1 10 100 1000
Taxa de corte (s-1)
Figura 31- Dados sobre a reologia do sangue para uma temperatura de 37ºC.
Segue-se uma descrição dos resultados, sob forma gráfica dos dois tipos de ensaios
realizados na caracterização reológica de corte: ensaio de corte e ensaio oscilatório.
Em ambos os ensaios, seguiu-se o protocolo de traçar 50 ou 100 pontos entre gamas
de taxa de corte definidas, sendo que os gráficos obtidos no tratamento dos ensaios
com 100 pontos serão mais pormenorizados do que os que foram obtidos com 50,
notando-se um maior número de irregularidades ao longo do gráfico.
Nos ensaios de corte foram utilizadas as geometrias Cone-Prato (CP-75-1) e Prato-
Prato (PP-75). Enquanto nos ensaios oscilatórios foi apenas utilizada a geometria
Cone-Prato (CP-75-1).
10
Viscosidade de corte (Pa.s)
0,1 15ºC
20ºC
0,01 25ºC
0,001
0,01 0,1 1 10 100 1000 10000
Taxa de corte (s-1)
Figura 32- 1º Conjunto de Curvas obtidas para o ensaio de corte da solução aquosa da goma de xantano a
500ppm.
2º Conjunto:
10
Viscosidade de corte (Pa.s)
1
0,1 15ºC
20ºC
0,01 25ºC
0,001
0,01 0,1 1 10 100 1000 10000
Taxa de corte (s-1)
Figura 33- 2º Conjunto de curvas obtidas para o ensaio de corte da solução aquosa da goma de xantano a
500ppm.
0,1 1,8121340
1 0,1812134
10 0,0181213
100 0,0018121
10
Viscosidade de corte
Resolução
1 Minima
(Pa.s)
0,1
0,01
0,001
0,1 1 10 100
Taxa de corte (s-1)
Figura 34- Condição de validação dos ensaios devido à sensibilidade do momento torsor do
aparelho.(válida unicamente para a geometria de cone-prato).
10 1,25E-05
100 1,25E-04
1000 1,25E-03
10000 1,25E-02
Viscosidade de corte
0,01
(Pa.s)
0,001
0,0001
1E-05
10 100 1000 10000
Taxa de corte (s-1)
Figura 35- Condição de validação dos ensaios devido ao aparecimento de instabilidades
inérciais (válida unicamente para a geometria de cone-prato).
10 Vórtices Taylor
Viscosidade de corte (Pa.s)
Resolução Minima
1
15ºC
20ºC
0,1
25ºC
0,01
0,001
0,1 1 10 100 1000 10000
Taxa de corte (s-1)
15ºC
1
20ºC
Resolução
minima
0,01
0,001
0,1 1 10 100 1000 10000
Taxa de corte (s-1)
Figura 37- Resultados do 2º conjunto de ensaios limitados pelas duas fronteiras
0,1
Viscosidade de corte (Pa.s)
15ºC
0,01
20ºC
25ºC
0,001
10 100 1000
Taxa de corte (s-1)
0,1
Viscosidade de corte (Pa.s)
15ºC
0,01
20ºC
25ºC
0,001
10 100 1000
Taxa de corte (s-1)
µ (T ) .Tref ρ ref
aT = (83)
µ (Tref ) .T ρ
Por sua vez, o parâmetro aT é dado pela seguinte expressão que deriva da equação
de Arrhenius:
∆H 1 1
aT = exp − − (85)
R T Tref
Em que ∆H é a energia de activação e R é a constante dos gases ideais.
∆H 1 1
ln ( aT ) = − − (86)
R T Tref
E consequentemente que,
∆H ln ( aT )
=− (87)
R 1 1
−
T Tref
Assim sendo, para além de ser possível obter uma curva mestre para cada conjunto
de três ensaios a diferentes temperaturas, é possível quantificar o valor de ∆ H ,
R
que pela análise dimensional da equação (87) possui unidades de temperatura.
0,1
Viscosidade reduzida (Pa.s)
0,001
8 80 800
aT*Taxa de corte (s-1)
Figura 40- Curva mestre (1º conjunto).
Fazendo uma interpolação linear entre os pontos retirados dos gráficos representados
na figura 40, é possível determinar o quociente entre a energia de activação e a
constante dos gases ideais. A interpolação obtida encontra-se representada na figura
41 e possui um factor de correlação quadrático de 0,9998.
0,04
ln(aT)
-0,01
-6E-05 -3E-05 1E-20 3E-05 6E-05
-0,06
-0,11 1º Conjunto
(1/T)-(1/Tref) (K-1) Linear (1º Conjunto)
Figura 41- Interpolação linear obtida através dos três pontos retirados do gráfico anterior e que permite
determinar o quociente entre a energia de activação e a constante dos gases ideais.
Dado que a recta que interpola os três pontos obtidos em cada gráfico é dada pela
seguinte expressão:
1 1
ln ( aT ) = 1801,5. − − 0, 0015 (88)
T T
ref
∆H
Então o seu declive é = 1801, 5 K
R
Efectuando o mesmo procedimento para o segundo conjunto, tem-se:
0,1
Viscosidade reduzida (Pa.s)
15ºC aT=1,10
20ºC aT=1,00
25ºC aT=0,83
0,01
0,001
8 80 800
aT*Taxa de corte (s-1)
Fazendo uma interpolação linear entre os pontos retirados dos gráficos representados
na figura 42, determina-se o quociente entre a energia de activação e a constante
dos gases ideais. A interpolação obtida encontra-se representada na figura 43 e
possui um factor de correlação quadrático de 0,9627.
0,1
y = 2414,9x - 0,0319
R² = 0,9627
0
ln(aT)
-0,1
2º Conjunto
-0,2 Linear (2º Conjunto)
(1/T)-(1/Tref) (K-1)
Figura 43- Interpolação linear obtida através do três pontos retirados do gráfico anterior e que permite
determinar o quociente entre a energia de activação e a constante dos gases ideais.
1 1
ln ( aT ) = 2414,9. − − 0, 0319 (89)
T T
ref
∆H
De onde se pode concluir que o declive é = 2414,9 K
R
Segue-se o estudo da dependência da reologia da solução de PAA com a temperatura,
a determinação da curva mestre e o valor do quociente entre a sua energia de
activação e a constante dos gases ideais.
Analogamente à solução de goma de xantano, obtém-se os gráficos que podem ser
observados nas figuras 44 e 45.
Resolução minima
0,01
Vórtices Taylor
Viscosidade de corte (Pa.s)
PAA 15ºC
PAA 20ºC
PAA 25ºC
0,001
20 200 2000
Taxa de corte (s-1)
Figura 44- Conjunto de Curvas obtidas para o ensaio de corte da solução aquosa da poliacrilamida a
diferentes temperaturas.
0,01
PAA 15ºC
Viscosidade de corte(Pa.s)
PAA 20ºC
PAA 25ºC
0,001
30 300
Taxa de corte (s-1)
Figura 45- Ampliação da zona válida do conjunto de Curvas obtidas para o ensaio de corte da solução
aquosa da poliacrilamida a 125ppm.
0,1
15ºC (aT=1,10)
Viscosidade reduzida (Pa.s)
20ºC (aT=1,00)
25ºC (aT=0,96)
0,01
0,001
1 10 100 1000
aT*Taxa de Corte (s-1)
Fazendo uma interpolação linear entre os pontos retirados dos gráficos representados
na figura 46, determina-se o quociente entre a energia de activação e a constante
dos gases ideais. A interpolação obtida encontra-se representada na figura 47 e
possui um factor de correlação quadrático de 0,9535.
ln(aT) 0,04
1E-17
-6E-05 -3E-05 1E-20 3E-05 6E-05
-0,04
PAA 125ppm
-0,08
(1/T)-(1/Tref) (K-1)
Figura 47- Interpolação linear obtida através do três pontos retirados do gráfico anterior e que permite
determinar o quociente entre a energia de activação e a constante dos gases ideais.
1 1
ln ( aT ) = 1172,1. − − 0, 0174 (90)
T T
ref
∆H
De onde se pode concluir que o declive é = 1172,1K
R
XG 15ºC (aT=1,11)
0,1
XG 20ºC (aT=1,00)
Viscosidade reduzida (Pa.s)
XG 25ºC (aT=0,90)
PAA 15ºC (aT=1,10)
PAA 20ºC (aT=1,00)
0,001
1 10 100 1000
aT*Taxa de corte (s-1)
Figura 48- Comparação da curva mestre do 1º Conjunto de ensaios da goma de xantano a 500ppm com a
da solução de PAA a 125ppm.
10
Viscosidade de corte (Pa.s)
Tamb=22ºC
0,1
Tamb=23ºC
0,01
0,001
0,01 0,1 1 10 100 1000 10000
Figura 49- Repetibilidade dos resultados da reometria de corte para duas soluções de goma de xantano a
500ppm ensaiadas no mesmo dia.
Existem dois factores que podem influenciar as medições: a precisão do aparelho que
se reflecte mais intensamente a baixas taxas de deformação de corte e a degradação
das moléculas que afecta todo o ensaio.
Do gráfico da figura 49 pode-se concluir que existe repetibilidade das propriedades
reológicas das soluções quando submetidas aos mesmos parâmetros de ensaio, pois as
curvas são praticamente coincidentes, não se verificando diferenças significativas. A
única diferença que se poderia apontar ocorre para baixas taxas de deformação de
corte.
0,01 XG 1
XG 2
0,001
1 10 100 1000 10000
Taxa de corte (s-1)
0,01 XG 1
XG 2
0,001
6 60 600 6000
Taxa de corte (s-1)
1
Viscosidade de corte (Pa.s)
PAA 125ppm
XG 500ppm
0,1
Dados do sangue a 37ºC
0,01
0,001
0,01 0,1 1 10 100 1000
Taxa de corte (s-1)
Figura 52- Comparação dos resultados obtidos no ensaio de corte das soluções de XG 500ppm
e PAA 125ppm a uma temperatura constante de 20ºC, com os dados sobre a reologia de corte
do sangue a 37ºC.
XG 500ppm
Dados do sangue a
37ºC
0,01
0,001
10 100 1000
Taxa de corte (s-1)
Figura 53- Comparação dos resultados obtidos no ensaio de corte das soluções de XG 500ppm
e PAA 125ppm a uma temperatura constante de 20ºC, com os dados sobre a reologia de corte
do sangue a 37ºC.
1
armazenamento e de
dissipação (Pa)
Módulo de
G' XG
G'' XG
0,1
0,1 Amplitude (%) 1
1
Módulo de armazenamento
e dissipação (Pa)
0,1 G' XG
G'' XG
0,01
0,1 1
Frequência (Hz)
Figura 55- Frequency sweep a 20ºC para uma amplitude de 10%.
Pode-se concluir que o ensaio foi realizado a uma frequência elevada (10%) e por isso
a curva de pontos relativa ao módulo de armazenamento (G’) e a relativa ao módulo
de dissipação (G’’) não se intersectam, embora se note umas tendências de
aproximação relativa. Deve-se no futuro realizar ensaios a uma frequência mais
baixa, por exemplo 1 Hz, e com uma taxa de deformação de corte compreendida
entre os 0,1 e os 1000 s-1.
1 dM M
µ= 3
+3
2π R dγ γ
(91)
dM M 3M 1 γ dM
+3 = 1+
γ 3 M dγ
Sendo (Whorlow, 1992), então é possível escrever a
dγ γ
expressão (91) na seguinte forma:
dM M 3M 1 d ln ( M )
+3 = 1 + (92)
d γ γ γ 3 d ln ( γ )
O gráfico do logaritmo natural do momento aplicado em função do logaritmo da taxa
de deformação de corte encontra-se representado na figura 59 e a partir dele é
possível determinar a equação que interpola melhor o conjunto de pontos e calcular
d ln ( M )
d ln ( γ )
a sua derivada, de modo a obter o parâmetro da equação (92).
y = 0,0006x4 - 0,0048x3 - 0,0053x2 + 0,6906x + 1,4557
8 R² = 0,9942
Logaritmo natural do
momento aplicado
4 XG 500ppm
Logarítmica (XG
2 500ppm)
0
-4 -2 0 2 4 6 8
-2
Logaritmo natural da taxa de deformação de corte
Figura 59- Gráfico que permite determinar o valor da derivada do logaritmo natural do momento em
ordem ao logaritmo natural da taxa de deformação de corte.
0,1
Viscosidade de corte (Pa.s)
0,01
XG 500ppm
0,001
0,1 1 10 100 1000
Taxa de corte (s-1)
Figura 61- Escoamento Couette promovido pelo movimento da placa superior num fluido
electroreológico.
A força F necessária para promover o escoamento do fluido com uma dada velocidade
v na placa superior é:
∂u v
F = µA ⇔ F = µA (96)
∂y h
Em que µ é a viscosidade do fluido, A é a área de contacto do fluido com a placa, v é
a velocidade da placa superior (que se move) e h é a distância entre as duas placas.
Seja V = V ( x, y, z ) a função potencial de campo eléctrico, então o campo eléctrico
gerado pela variação de potencial no espaço é dado genericamente pela expressão:
∂V ∂V ∂V
E = −∇.V ⇔ E = − i+ j+ k (97)
∂x ∂y ∂z
Desta expressão pode-se concluir que sempre que há variação da função potencial no
espaço, gera-se um campo eléctrico, e esse campo eléctrico tem o sentido dos
potenciais decrescentes.
Suponha-se agora que as placas são constituídas por um material conductor, por
exemplo, um metal. É possível criar um campo eléctrico constante, através do
estabelecimento de uma diferença de potencial (tensão eléctrica) entre as duas
placas, por exemplo com uma fonte de alimentação ligada com os terminais ligados a
cada uma das placas.
Considere-se que as placas se encontram ligadas a uma fonte de alimentação, que a
direcção xx é a direcção da força F e que a direcção yy é a direcção perpendicular às
placas, então com a aplicação de um campo eléctrico constante, E, entre as duas
Figura 62- Aplicação de um campo eléctrico numa direcção perpendicular à direcção do escoamento.
Também foi seleccionada uma solução nesse conjunto de seis pelo critério de ser a
que foi mais influenciada electroreologicamente (solução de amido de milho em óleo
de linhaça a 2000ppm), e foi ensaiada para tensões de 0, 2, 4, 6 e 8 KV a fim de
visualizar o efeito da tensão eléctrica no aumento da viscosidade, e
consequentemente no aumento da tensão de cedência. (Bombard 2000, Ren 2006)
Relativamente à análise dos dados, da mesma forma que os gráficos relativos à
medição na geometria prato-cone se encontravam limitados à esquerda por uma
fronteira devida ao momento torsor mínimo que o sistema consegue medir e à direita
por outra fronteira devida à ocorrência de instabilidades inerciais, também é possível
fazer um raciocínio análogo para a geometria de cilindros concêntricos.
Recorrendo à expressão (47):
R2 − R1 T
µ= (47)
ω R2 2π R12 H
Em que R2 é o raio do cilindro externo, R1 é o raio do cilindro interno, ω é a
velocidade angular, H é o comprimento da secção recta da geometria de cilindros
concêntricos e M é o momento torsor aplicado à geometria.(Whorlow 1992)
R2
Sendo γ = ω , então:
R2 − R1
1 M
µmin = . min
(99)
γ 2π R12 H
Como H=39,9740mm e R1=13,3240mm, R2=14,4600mm e Mmin=0,00002Nm, então:
0, 4485421611
µmin = (100)
γ
Tabela 11- Fronteira à esquerda.
Taxa de corte, Viscosidade de
γ (s-1) corte, µ (Pa.s)
0,1 4,485421611
1 0,448542161
10 0,044854216
100 0,004485421
10
Resolução
0,1 Minima
0,01
0,001
0,1 1 10 100
2 4 2
R ( R2 − R1 ) ρω
Ta = 2 1 (49)
2
R2 R1 µ
1 −
R2
Fazendo Ta=Tcritico=1700, obtém-se:
3
µ max =
1 R1
.
( R2 − R1 ) γ (101)
850 R2 R
2
R2 1 − 1
R2
Substituindo R1=13,3240mm, R2=14,4600mm, tem-se:
1 0,00316
10 0,03161
100 0,31605
1000 3,16050
10000 31,6051
100
1 Vórtices de
Taylor
0,1
0,01
0,001
1 10 100 1000 10000
Taxa de corte (s-1)
1 Maizena 500ppm
Maizena 2000ppm
0,1
1 10 100
Taxa de corte (s-1)
Figura 65- Gráfico τ = τ ( γ ) para duas suspensões de maizena em óleo de linhaça, com concentrações
de 500 e 2000ppm, sujeitas a uma tensão eléctrica de 2KV.
10
Viscosidade de corte (Pa.s)
Maizena 500ppm
Maizena 2000ppm
0,1
0,01
0,1 1 10 100 1000
Taxa de corte (s-1)
Figura 66- Gráfico µ = µ ( γ ) para duas suspensões de maizena em óleo de linhaça, com concentrações
de 500 e 2000ppm, sujeitas a uma tensão eléctrica de 2KV.
10
Maizena 500ppm
Fronteira M
minimo
0,1
0,01
0,1 1 10 100 1000
Taxa de corte (s-1)
Figura 67- Gráfico µ = µ ( γ ) limitado na região válida para duas suspensões de maizena em óleo de
linhaça, com concentrações de 500 e 2000ppm, sujeitas a uma tensão eléctrica de 2KV.
Viscosidade de corte (Pa.s)
1
Maizena 500ppm
Maizena 2000ppm
0,1
0,5 Taxa de corte (s-1) 5
Figura 68- Gráfico µ = µ ( γ ) limitado na região válida para duas suspensões de maizena em óleo de
linhaça, com concentrações de 500 e 2000ppm, sujeitas a uma tensão eléctrica de 2KV.
1
CMC 2000ppm
CMC 500ppm
0,1
1 10 100
Taxa de corte (s-1)
Figura 69- Gráfico τ = τ ( γ ) para duas suspensões de carboximetilcelulose em óleo de linhaça, com
concentrações de 500 e 2000ppm, sujeitas a uma tensão eléctrica de 2KV.
10
Viscosidade de corte (Pa.s)
CMC 2000ppm
CMC 500ppm
0,1
0,01
0,1 1 10 100 1000
Taxa de corte (s-1)
Figura 70- Gráfico µ = µ ( γ ) para duas suspensões de carboximetilcelulose em óleo de linhaça, com
concentrações de 500 e 2000ppm, sujeitas a uma tensão eléctrica de 2KV.
10
0,01
0,1 1 10 100 1000
Taxa de corte (s-1)
Figura 71- Gráfico µ = µ ( γ ) limitado na região válida para duas suspensões de maizena em
óleo de linhaça, com concentrações de 500 e 2000ppm, sujeitas a uma tensão eléctrica de
2KV.
1
Viscosidade de corte (Pa.s)
CMC 2000ppm
CMC 500ppm
0,1
0,9 Taxa de corte (s-1) 9
Figura 72- Gráfico µ = µ ( γ ) limitado na região válida para duas suspensões de maizena em
óleo de linhaça, com concentrações de 500 e 2000ppm, sujeitas a uma tensão eléctrica de
2KV
10
Tensão de corte (Pa)
1 Al2O3 2000ppm
Al2O3 500ppm
0,1
1 10 100
Taxa de corte (s-1)
Figura 73- Gráfico τ = τ ( γ ) para duas suspensões de óxido de alumínio em óleo de linhaça, com
concentrações de 500 e 2000ppm, sujeitas a uma tensão eléctrica de 2KV.
10
0,1
0,01
0,1 1 10 100 1000
Taxa de corte (s-1)
Figura 74- Gráfico µ = µ ( γ ) para duas suspensões de óxido de alumínio em óleo de linhaça, com
concentrações de 500 e 2000ppm, sujeitas a uma tensão eléctrica de 2KV.
10
Viscosidade de corte (Pa.s)
Al2O3 2000ppm
1
Al2O3 500ppm
Fronteira Taylor
0,1 Fronteira M
minimo
10
1 Al2O3 500ppm
0,1
0,01 0,2 2 20
Taxa de corte (s-1)
Figura 76- Gráfico µ = µ ( γ ) para duas suspensões de óxido de alumínio em óleo de linhaça, com
concentrações de 500 e 2000ppm, sujeitas a uma tensão eléctrica de 2KV.
100
Tensão de corte (Pa)
10
0KV
2KV
4KV
1 6KV
8KV
0,1
0,1 1 10 100 1000
Taxa de corte (s-1)
Figura 77- Gráfico τ = τ ( γ ) para cinco ensaios de cinco suspensões de maizena em óleo de linhaça
com uma concentração de 2000ppm, sujeitas a uma tensão eléctrica de 2KV.
100
Viscosidade de corte (Pa.s)
10
0KV
2KV
1 4KV
6KV
8KV
0,1
0,01
0,1 1 10 100 1000
Taxa de corte (s-1)
Figura 78- Gráfico µ = µ ( γ ) para cinco ensaios de cinco suspensões de maizena em óleo de linhaça
com uma concentração de 2000ppm, sujeitas a uma tensão eléctrica de 2KV.
Note-se que, através de uma análise ao gráfico da figura 77, a tensão de corte
aumenta com a diferença de potencial estabelecida, e assim o fluido que
inicialmente descrevia um comportamento newtoniano passou a descrever um
comportamento de um fluido de Bingham, com tensão de cedência.
Pela observação do gráfico representado na figura 78, a viscosidade aumenta com o
aumento da diferença de potencial, excepto para taxas de deformação de corte
elevadas.
3
0KV
2,5 2KV
4KV
Tensão de corte (Pa)
2 6KV
8KV
1,5
0,5
0
0 1 2 3 4 5
Taxa de corte (s-1)
Figura 79- Gráfico τ = τ ( γ ) para cinco ensaios de cinco suspensões de maizena em óleo de linhaça
com uma concentração de 2000ppm, sujeitas a uma tensão eléctrica de 2KV.
100
0KV
Viscosidade de corte (Pa.s)
2KV
10
4KV
6KV
1 8KV
0,1
0,01
0 1 2 3 4 5
Taxa de corte (s-1)
Figura 80- Gráfico µ = µ ( γ ) para cinco ensaios de cinco suspensões de maizena em óleo de linhaça
com uma concentração de 2000ppm, sujeitas a uma tensão eléctrica de 2KV.
6. Conclusões
Os fluidos considerados análogos ao sangue por Thurston (1979) são a solução aquosa
de goma de xantano a 500ppm e a solução aquosa de poliacrilamida a 125ppm.
As soluções de goma de xantano e poliacrilamida à temperatura de 20ºC apresentam
uma viscosidade de corte ligeiramente superior aos dados do reológicos do sangue
obtidos para uma temperatura de 37ºC, sendo a solução de poliacrilamida a que
apresenta um melhor ajuste.
Outro facto a ter em conta é que a energia de activação da solução de goma de
xantano é superior à da solução de poliacrilamida, o que significa que as cadeias
poliméricas da primeira solução encontram-se mais fortemente ligadas, garantindo
uma menor degradação das suas moléculas durante o ensaio, isto é, um
comportamento mais estável. Esse comportamento estável resulta na existência de
repetibilidade em ensaios realizados sob as mesmas condições.
Relativamente à dependência das soluções no tempo, embora o sangue exiba no
tempo uma dependência tixotropica, as soluções de goma de xantano e de
poliacrilamida não apresentam qualquer dependência no tempo, apenas se
verificando o aparecimento ligeiro de histerese para baixas taxas de deformação de
corte.
Um outro resultado a considerar é o resultado do ensaio de ruptura capilar, em que
se obteve a informação que a solução de goma de xantano apresenta um tempo de
relaxação médio de 3,81±0,35 ms, enquanto a solução de poliacrilamida apresenta
um tempo de relaxação médio de 34,00±0,44 ms. De onde se pode concluir que a
solução de poliacrilamida apresenta uma viscosidade oito a nove vezes superior À
viscosidade da solução de goma de xantano. Assim, embora estes fluidos sejam
considerados análogos ao sangue, em termos de reologia de corte, por Thurston
(1979), estes não o são em termos de reologia extensional.
Dados estes factos, pode-se inferir que se objectivo for uma solução com um
comportamento reológico próximo do sangue para baixas taxas de deformação de
corte, a solução de poliacrilamida a uma concentração de 125 ppm apresenta um
bom ajuste. A solução de goma de xantano com uma concentração de 500ppm
apresenta uma viscosidade superior à do sangue, mas apresenta um comportamento
mais estável que a solução de poliacrilamida durante todo o ensaio.
Para se conseguir uma representação mais fidedigna dos dados do sangue, dever-se-á
proceder a uma diluição da solução de goma de xantano, de modo a se obter um
melhor ajuste.
Sobre a análise electroreológica, das três suspensões de partículas em óleo de
linhaça ensaiadas (amido de milho, óxido de alumínio e carboximetilcelulose), a que
apresentou um maior efeito electroreológico foi a de amido de milho sob uma tensão
eléctrica constante igual a 2KV. Verificou-se nesses três ensaios que sob a acção de
um campo eléctrico constante, as suspensões apresentaram um aumento de
viscosidade, e consequentemente um aumento da tensão de corte, adquirindo uma
tensão de cedência. Pode-se também concluir que o aumento da concentração da
suspensão, intensifica a sensibilidade da mesma à presença de campos eléctricos.
A suspensão de amido de milho em óleo de linhaça com uma concentração de
2000ppm foi testada em cinco ensaios realizados a cinco diferenças de potencial
diferentes (0, 2, 4, 6 e 8KV), podendo-se concluir que o aumento da tensão eléctrica
7. Bibliografia consultada
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8. Anexos
Média 19,98 μm
Moda 14,45 μm
Mediana 31,5 μm
Desvio-padrão 19,4 μm