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1. INTRODUÇÃO

Os santos da igreja católica carregam em sua tragetória, uma vida de santidade e de

entrega a Deus. Devido à vida de santidade que levaram enquanto em vida, acredita-se que

possuem uma proximidade maior com Jesus Cristo, intercedendo junto a ele por alguns

milagres. Os santos não só são reconhecidos por milagres que participaram, mas também por

outras contribuições para a fé cristã, como o caso de São Tomás de Aquino.

Como uma estrutura familiar marcada pela riqueza, Tomás decidiu seguir a Ordem

Dominicana, que contrastava em muito com o estilo de vida ao qual os pais desejavam à ele.

Apesar de sua família manifestar-se contra sua decisão, ele atendeu ao chamado de Deus

para uma vida religiosa. Tomás começou então a aprofundar-se nos estudos filosóficos e

teológicos, o que foi primordial para a confecção de suas obras escritas. Conhecido como o

mais sábio dos, Tomás de Aquino baseou sua obra nos pensamentos aristotélicos, reuinindo

razão, fé, filosofia e teologia, acreditando que cada uma dessas completavam as outras.

Este trabalho objetiva a apresentação do contexto de vida de São Tomás de Aquino,

tal como seus pensamentos e obras, e a contribuição deste para a filosofia e a teologia.
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2. VIDA E OBRA DE SÃO TOMÁS DE AQUINO

2.1 Vida de São Tomás de Aquino

São Tomás de Aquino marcou o ápice da Escolástica medieval, e foi um verdadeiro

gênio metafísico. Nasceu em uma comuna italiana chamada Roccasecca, no sul do Lácio, no

ano de 1221 e faleceu no mosteiro de Fossanova, em 1274. Sua família era nobre, a qual lhe

proporcionou ótima formação. Porém, visava à honra e a riqueza do inteligente jovem, e não

a Ordem Dominicana, que pobre e mendicante atraia o coração de Aquino. Era italiano por

parte de seu pai, Ladolfo, conde de Aquino, e normando por parte de sua mãe, Teodora,

condessa de Aquino.

Recebeu a primeira formação intelectual na abadia de Montecassino, para onde foi

levado na esperança de que contribuísse para o brilho do sobrenome da família. Devido a

contínuos desentendimentos entre papa e imperador, a abadia de Monte Cassino entrou em

estado de abandono, levando a sua decadência. Por essa razão, Tomás prosseguiu seus

estudos em Nápoles, onde estudou lógica e artes liberais, na universidade recentemente

fundada por Frederico II. Em Nápoles conheceu a ordem dos dominicanos, pois eles

dedicavam ao estudo e ao ensino universitário. Atraído pela nova forma de vida religiosa,

decidiu ingressar aos 18 anos na ordem dos dominicanos. Sua família foi contra a sua

decisão e expressou essa oposição de várias formas, porém Tomás não desistiu e atendeu o

chamado à vida religiosa.

Os dominicanos o enviaram a Paris e para Colônia, onde foi discípulo de Alberto

Magno, de 1248 a 1252, completando sob orientação deste seus estudos filosóficos e

teológicos. Tomás era muito reservado e silencioso, o que levou a ser chamado de “boi

mudo”. Ele que já havia mostrado seu talento especulativo para Alberto Magno, quando
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convidado por este para expor seu ponto de vista sobre uma questão em debate, surpreendeu

a todos quando expressou sua opinião com tanta profundidade e limpidez que levou Alberto

a exclamar: “Este moço que nós chamamos de ‘boi mudo’, mugirá tão forte que se fará

ouvir no mundo inteiro!”

Em 1252, indicado por seu mestre, iniciou seu magistério acadêmico na Universidade

de Paris comentando, na qualidade de bacharel, as Sentenças de Pedro Lombardo. Por esse

tempo, redigiu a sua primeira obra monumental, o Comentário aos Quatro Livros das

Sentenças de Pedro Lombardo (1254-1256), e escreveu o opúsculo Contra impugnantes, em

defesa das ordens mendicantes que viam contestado pelos mestres seculares o seu direito de

ensinar na Universidade de Paris.

Em 1257, por intervenção do Papa Alexandre IV, recebeu do chanceler Aimérico, ao

mesmo tempo que Boaventura, a licentia docendi; e passou a exercer com grande dedicação

sua atividade de mestre de teologia. Em 1259, foi chamada a Itália na qualidade de teólogo

da corte pontifícia, onde durante dez anos, acompanhou o Papa em Roma, Orvieto e Viterbo.

Em Viterbo, solicitou a Guilherme de Moerbeke uma nova versão latina das obras de

Aristóteles, que serviu de texto para os seus numerosos comentários, designadamente à

Física, à Metafísica, ao Deanima, à Ética a Nicómaco e à Política. Pertencem também a este

período quase todas as suas obras maiores, desde a Summa Contra Gentiles até às

Quaestiones disputatae e à Summa Theologiae, esta última considerada a sua maior obra que

fora iniciada em sua estadia em Roma e Viterbo, continuada em Paris e depois em Nápoles,

mas não chegou a ser concluída.

No Outono de 1269, foi chamado pela segunda vez a ensinar na Universidade de

Paris e defender Aristóteles das acusações de paganismo por parte de agostinianos

conservadores e das interpretações averroístas de alguns professores da Faculdade de Letras

(Siger de Brabante e Boécio de Dácia). Em Janeiro de 1274, foi convidado por Gregório X a
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partir para Lião, a fim de tomar parte no próximo Concílio ecuménico. Sua saúde estava em

declínio e durante a viagem passou muito mal, sendo acolhido na abadia cisterciense de

Fossanova, onde faleceu no dia 7 de março de 1274. Foi canonizado por João XXII, em

1323. Nos séculos XV-XVI, foi-lhe dado o título de Doutor Angélico, mas já no final do

século XIII era conhecido como doutor comum, título que encontrou eco em tempos mais

recentes. Em 1567, Pio V proclamou-o Doutor da Igreja e, Leão XIII, em 1880, patrono das

escolas católicas.

A vida de santidade de Santo Tomás de Aquino foi caracterizada pelo esforço em

responder, inspiradamente para si, para os gentios e a todos sobre os Mistérios de Deus. No

seguimento de seu mestre Alberto Magno, Tomás de Aquino repensou Aristóteles,

construindo uma vigorosa síntese a partir do pensamento aristotélico que tinha penetrado na

Idade Média através dos grandes comentadores árabes e judeus. Deu diretrizes novas ao

pensamento de Platão. Deus é para Tomás o Criador de tudo, noção não atingida pela

filosofia grega. O dualismo inexplicável entre o mundo ideal e o mundo fenomenal, entre

Deus e a matéria foi inteiramente superado por Tomás de Aquino.


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2.2 Obra de São Tomás de Aquino

São Tomás de Aquino é dito o mais sábio de todos os santos e o mais santo de todos

os sábios. Sua obra se baseia nas idéias de Aristóteles, ele uniu com seu pensamento razão e

fé, filosofia e teologia. Acreditava que a fé não entrava em contradição com a verdade

racional. De acordo com Tomás, a fé melhora a razão e a teologia melhora a filosofia. Isso

significa que a teologia retifica a filosofia, não a substitui, assim como a fé orienta a razão,

não a elimina. São Tomás de Aquino possuía esse pensamento pois estava claro para ele que

teologia e filosofia não tratam de coisas diferentes, pois ambas falam de Deus, do homem e

do mundo, pra ele a segunda oferece um conhecimento imperfeito daquelas coisas, e nesse

caso a teologia possui condições de esclarecer as lacunas deixadas pela filosofia.

Suas obras, consideradas mais importantes, são: Suma Contra os Gentios e a Suma

Teológica. As obras de São Tómas de Aquino podem se dividir em 4 grupos:

1. Comentários: à lógica, à física, à metafísica, à ética de Aristóteles; à Sagrada

Escritura; à Dionísio pseudo-areopagita; aos quatro livros das sentenças de Pedro

Lombardo.

2. Sumas: Suma Contra os Gentios , baseada substancialmente em demonstrações

racionais; Suma Teológica , começada em 1265, ficando inacabada devido à morte

prematura do autor.

3. Questões: Questões Disputadas (Da verdade , Da alma , Do mal , etc.); Questões

várias .

4. Opúsculos: Da Unidade do Intelecto Contra os Averroístas ; Da Eternidade do

Mundo , etc.

2.2.1 Suma Contra os Gentios


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Foi escrita em 1259 e trata-se de uma obra que abarca o pensamento de Aristóteles.

A teologia cristã nessa época estava enfrentando dificuldades e grande pressão devido à

redescoberta da cultura grega, a cultura grega enfatiza a razão, e a ciência. Com sua obra,

São Tomás de Aquino conseguiu manter o pensamento teológico. Nessa suma, através de

pensamentos filosóficos Tomás de Aquino mostra as verdades das crenças cristãs. Essa

suma trata-se de Deus e suas obras, da fé e do mistério da santíssima trindade, da

encarnação, dos sacramentos e da vida eterna. No seu pensamento Deus é a verdade pura,

ele faz distinção entre a filosofia e a teologia. Ele inicia sua obra explicando sobre o

entendimento da ordem das coisas e daquele a quem cabe ordenar. Baseando a sua

argumentação no pensamento de Aristóteles, vinculando a busca da filosofia pela verdade

cristã. Ele continua sua obra argumentando de que o sábio deve meditar sobre a verdade e da

mesma forma ele deve combater os erros contrários à verdade, e que a filosofia seria uma

ferramenta que pode ser utilizada contra esses erros. Ele expõe a justificativa o fato de

escrever essa Suma, e explica a utilidade da argumentação filosófica.

“... A segunda razão que nos impede de refutar todos os erros contrários à fé
católica é que alguns dos autores destes erros, como os maometanos e os
pagãos, não concordam conosco no reconhecimento da autoridade das
Sagradas Escrituras, mediante as quais poderíamos convencê-los, ao passo
que com respeito aos judeus, podemos discutir com base no Antigo
Testamento e com respeito aos cristãos, podemos discutir com base nos
escritos do Novo Testamento. Assim sendo, somos obrigados a recorrer à
razão natural, à qual todos devem necessariamente aderir. Acontece, porém,
que a razão natural pode enganar-se nas coisas de Deus....”

Ele termina o capítulo dizendo que: “ (..) tudo aquilo que é dito acerca de Deus, e

que a razão humana em si mesma é incapaz de descobrir, não deve ser de imediato

considerado como falso, como acreditam os maniqueus e a maior parte dos infiéis.(...)”.

Tomás de Aquino diferencia os homens que realmente seguem e se dedicam ao conhecer e

ter o conhecimento de Deus, que segundo ele são poucos, uma vez que se exige uma longa

busca, que torna-se impraticável para a grande maioria.


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Com esse pequeno trecho da Suma dos gentios, é fácil observar que Tomás de

Aquino estava escrevendo para a elite intelectual, não crentes, intelectuais de outras

religiões e pessoas formadoras de opinião. Ele possuía o intuito de fornecer auxílio

suficientemente intelectual que fossem capazes de apresentar a quem não participava da fé

difundida por ele.

Isso retrata a necessidade da igreja contemporânea em oferecer respostas aos

questionamentos científicos, filosóficos e intelectuais da sociedade moderna, e estas

respostas apenas se darão quando a igreja retomar o seu papel como difusora dos preceitos

cristãos dentro da discussão nos meios intelectuais da sociedade.

2.2.2 Suma Teológica


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A Suma Teológica é a principal obra de São Tomás de Aquino, foi escrita entre

1265 a 1273, ela é divida em 3 partes, onde se encontram 512 questões. Nessa obra, ele

sistematiza as teologias, baseando-se na bíblia, na igreja e na filosofia de Aristóteles.

Na Suma Teológica São Tomás de Aquino, relaciona os sete pecados capitais,

organizados hierarquicamente como se fossem um grande exército: o ORGULHO exercia a

função de comandante supremo, seguido por outros seis vícios, INVEJA, IRA,

PREGUIÇA, AVAREZA, A GULA E A LUXURIA. E esses pecados levavam a uma

multidão de outros pecados secundários. Ou seja vícios capitais que seriam como sete

“chefões” comandando outros vícios subordinados.

Nessa mesma suma, Tomás de Aquino, escreve as cinco vias para provar a

existência de Deus:

1º Via: Do movimento, parte da consideração de que tudo o que se move é movido por

outro e que, portanto, para não terminar em um regresso ao infinito que nada explicaria, é

preciso admitir um primum movens que não é movido por nada: e este é Deus.

2º Via: Da causa, a partir da constatação de que nenhuma coisa pode ser causa de si mesma,

deduz o fato de que deve existir uma causa primeira e não-causada, que produz e não é

produzida, que se identifica com o ser que se chama Deus.

3º Via: Da contingência, parte do princípio de que o que pode não ser, um tempo não

existia. Se, portanto, todas as coisas podem não ser (são contingentes), em dado momento

nada existia na realidade. Porém, se isso for verdade, também agora não existiria nada

(porque o que não existe não começa a existir a não ser por causa daquilo que já existe), a

menos que não exista alguma coisa necessariamente existente. Concluindo: nem tudo pode

ser contingente, mas é preciso que haja algo necessário, e é aquilo que costumeiramente se

chama Deus.
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4º Via: Dos graus da perfeição, deduz, da constatação empírica de uma gradação de

perfeições, a existência de uma suma perfeição, que é justamente chamada Deus.

5º Via: Do finalismo, parte da constatação de que os corpos físicos operam para um fim e

deduz que eles agem de tal modo porque são dirigidos por um ser inteligente, como a flecha

do arqueiro. Ora, este ordenador supremo é aquele que chamamos Deus.

3. CONCLUSÃO
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Santo Tomás de Aquino foi o expoente máximo entre os escolásticos. Doutor da

igreja e um dos maiores teólogos da história do cristianismo, construiu uma vigorosa síntese

filosófico-teológica a partir do pensamento aristotélico, realizando uma releitura da obra de

Aristóteles dentre de uma perspectiva cristã. Uniu com seu pensamento razão e fé, filosofia e

teologia, sendo este pensamento a base fundamental da filosofia cristã. São Tomás de Aquino

é admirável pelas suas obras, por seus conceitos e pensamentos, por sua sabedoria, fé e

perseverança, que mesmo com a oposição de muitas pessoas, principalmente de seus

familiares, não desistiu do chamado de Deus.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Estudos sobre São Tomás de Aquino. Disponível em


<http://rrohreg.vilabol.uol.com.br/Estudos/Sumula_Gentios.htm#_ftn5>. Acesso em 17 de
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FREITAS, M. B. C. São Tomás de Aquino. Universidade da Beira Interior


Covilhã, 2008. Disponível em
<http://www.lusosofia.net/textos/costa_freitas_sao_tomas_aquino.pdf>. Acesso em 17 de
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REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario; História da Filosofia: Patrística e Escolástica; São


Paulo: Paulus, 2003; vol. 2.

São Tomás de Aquino. Canção Nova. Disponível em


<http://www.cancaonova.com/portal/canais/liturgia/santo/index.php?
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São Tomás de Aquino. Disponível em


<http://www.mundodosfilosofos.com.br/aquino.htm>. Acesso em 17 de outubro de 2010.

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Disponível em < http://www.sca.org.br/biografias/SaoTomasAquino.pdf >. Acesso em 17 de
outubro de 2010.

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