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O Uso do Filtro
Anaeróbio para Pós-Tratamento de Efluentes de Reatores Anaeróbios no Brasil. In: X
SIMPÓSIO LUSO-BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL,
2002, Braga, Portugal. Anais do X Simpósio Luso-Brasileiro de Engenharia Sanitária
e Ambiental. Braga: APESB/APRH/ABES, 2002. CD-ROM.
Cícero O. de ANDRADE NETO (1) ; Adrianus van HAANDEL(2); Henio N. S. MELO (3)
RESUMO
O Brasil é certamente o pais que mais tem aplicado reatores anaeróbios para o
tratamento de esgotos sanitários. A tecnologia anaeróbia encontra-se praticamente
consolidada e, nos últimos anos, as análises de alternativas de tratamento
geralmente incluem reatores anaeróbios.
Porém, embora apresente grandes vantagens, um reator anaeróbio dificilmente tem
um efluente que atende aos padrões de qualidade estabelecidos pela legislação
ambiental brasileira. É quase sempre necessário o pós-tratamento do efluente de
reatores anaeróbios, para atender aos requisitos da legislação e preservar o meio
ambiente.
Quando o corpo receptor apresenta boa capacidade de diluição, ou quando o
efluente da estação de tratamento de esgotos (ETE) é disposto no solo, alguns
órgãos estaduais de controle ambiental têm aceito a DBO no efluente com até 60
mg/L, o que permite a implantação de ETEs mais simples e mais econômicas.
Mesmo assim, os reatores anaeróbios usuais não dispensam o pós-tratamento.
Apenas o uso de sistemas compostos por tanque séptico seguido de filtro anaeróbio,
que só é viável para pequenas populações, ou de reator UASB seguido de filtro
anaeróbio, para populações maiores, dispensaria o uso de sistemas aeróbios para
atender o limite de DBO de 60 mg/L (CHERNICHARO et al, 2001).
Os filtros anaeróbios apresentam as vantagens dos reatores anaeróbios com fluxo
através do lodo ativo, inclusive na remoção da matéria orgânica dissolvida,
produzindo pouco lodo e sem consumir energia elétrica. Ademais: resistem bem às
variações de vazão afluente e propiciam boa estabilidade ao efluente; perdem muito
pouco dos sólidos biológicos ativos; permitem grande liberdade de projeto; e têm
construção e operação muito simples.
Tanto podem ser aplicados para tratamento de esgotos concentrados como diluídos,
mas são mais indicados para esgotos predominantemente solúveis. Portanto,
embora possam ser utilizados como unidade principal no tratamento dos esgotos,
são mais adequados para pós-tratamento (polimento).
Filtros anaeróbios são utilizados para pós-tratamento de outras unidades anaeróbias
porque, além de complementar o tratamento, sua capacidade de reter sólidos e de
recuperar-se de sobrecargas qualitativas e quantitativas confere elevada segurança
operacional ao sistema e maior estabilidade ao efluente, mantendo as vantagens do
tratamento anaeróbio – produz pouco lodo, não consome energia, tem operação
simples e baixo custo.
Enquanto o custo de implantação de uma ETE convencional com lodos ativados
situa-se entre R$100,00 e R$180,00 por habitante e o de uma ETE com reator
UASB seguido de sistema de lodos ativados situa-se entre R$70,00 e R$110,00 por
habitante, uma ETE com reator UASB seguido de filtro anaeróbio tem uma faixa
usual de custo de implantação entre R$40,00 e R$60,00 por habitante atendido
(ALEM SOBRINHO e JORDÃO, 2001). Sistemas compostos por decanto-digestor
seguido de filtro anaeróbio, geralmente têm custo de implantação entre R$20,00 e
R$50,00 por habitante. Ademais, os sistemas totalmente anaeróbios têm custo de
operação baixíssimo.
O efluente de um filtro anaeróbio é geralmente bastante clarificado e tem
relativamente baixa concentração de matéria orgânica, inclusive dissolvida, porém é
rico em sais minerais. É muito bom para a disposição no solo, seja para infiltração
ou para irrigação com fins produtivos. As baixas concentrações de sólidos
suspensos também facilitam a desinfecção por processos físicos ou químicos.
Reatores anaeróbios não removem satisfatoriamente microrganismos patogênicos
nem nutrientes eutrofizantes. Mas os reatores aeróbios compactos, a custa de
mecanização e energia elétrica, geralmente também não são eficientes na remoção
de patogênicos e sais eutrofizantes. (CAMPOS et al, 1999).
Não se pretende que o filtro anaeróbio propicie um efluente final com a mesma
qualidade do efluente de um bom reator aeróbio, mas sistemas completamente
anaeróbio, compostos com filtro anaeróbio, podem remover, na prática, mais de 80%
da matéria orgânica, e, dependendo da capacidade do corpo receptor ou do uso
dado ao efluente, em muitos casos são suficientes para resolver os problemas
causados pelos esgotos.
Quanto à segurança sanitária, afora lagoas de estabilização adequadas e alguns
casos de disposição no solo, qualquer forma de tratamento, independentemente se
aeróbia ou anaeróbia, requer desinfecção do efluente para garantir total proteção à
saúde pública. E se houver desinfecção, em muitos casos a qualidade dos efluentes
de um bom sistema anaeróbio ou aeróbio será semelhante do ponto de vista prático,
pois a amônia que diferencia os efluentes anaeróbios e aeróbios também será
removida.
Pesquisas recentes têm indicado que doses de cloro da ordem de 10 mg/L aplicadas
em efluentes de filtros anaeróbios com tempo de contato superior a 25 minutos pode
propiciar alta eficiência na remoção de E. coli e baixos valores de cloro residual,
simultaneamente.
Embora venham sendo utilizados para tratamento de esgotos desde a década de
1950, os filtros anaeróbios tornaram-se populares no Brasil somente a partir de
1982, quando a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) revisou a Norma
sobre construção e instalação de tanques sépticos e disposição dos efluentes finais,
recomendando o uso de filtros anaeróbios para pós-tratamento dos efluentes de
tanques sépticos.
Muitos dos filtros anaeróbios implantados com base nas diretrizes para projeto e
construção de filtros anaeróbios da Norma da ABNT de 1982 tiveram problemas
operacionais, mas a Norma teve o mérito de difundir a alternativa e provocar sua
evolução tecnológica.
A atual Norma da ABNT sobre pós-tratamento de efluentes de tanques sépticos
(NBR 13969, de 1997) ainda é bastante limitada no que se refere ao emprego de
filtros anaeróbios para tratamento de esgotos, mas, mesmo assim, incentiva o uso
de filtros anaeróbios.
Evidentemente o filtro anaeróbio não se presta apenas para pós-tratamento dos
efluentes de pequenos tanques sépticos. Mais recentemente os filtros anaeróbios
vêm sendo aplicados no Brasil para pós-tratamento de efluentes de grandes
decanto-digestores e de reatores anaeróbios de manta de lodo com vazões de até
mais de 40 l/s. (GONÇALVES et al, 2001).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
CONCLUSÃO