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Vila Velha – ES

1. INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas verificou-se um acelerado processo de urbanização,


aliado ao consumo crescente de produtos menos duráveis, o que provocou sensível
aumento de volume e diversificação dos resíduos sólidos e líquidos gerados e sua
distribuição espacial. Desse modo, o encargo de gerenciar os resíduos tornou-se
uma tarefa que demanda ações diferenciadas e articuladas, as quais devem ser
incluídas entre as prioridades dos órgãos públicos (BRAGA, 2005).
O setor químico foi o pioneiro na elaboração de diretrizes para a gestão
ambiental corporativa. A Canadian Chemical Producers Association (CCPA) lançou,
em 1984, um documento denominado Statement of Responsible Care and Guiding
Principles, contendo princípios específicos para a gestão responsável do processo
de produção em todo o ciclo de vida do produto, dando ênfase à proteção da saúde
humana e do meio ambiente e à segurança industrial e do produto (BORDIN, 2005).
O documento, além de detalhar as iniciativas que as empresas precisam tomar para
atender aos princípios do Responsible Care, destaca a necessidade de
comprometimento de todos os envolvidos na produção, na distribuição e no

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recebimento dos produtos das respectivas empresas, assim como da troca
permanente de informações com a comunidade vizinha (BORDIN, 2005).

O Instituto Brasileiro de Estatísticas, no Atlas do Saneamento do IBGE de


2011, constata que no Brasil apenas 29% dos municípios contam com uma rede de
coleta e tratamento adequados de esgotos sanitários. Em termos populacionais,
quase 90% da população não dispõe de tratamento adequado a seus efluentes
(IBGE, 2011). No caso de efluentes industriais, a dificuldade de uso de estações é
maior. Cada tipo de indústria utiliza matérias-primas diversas e produz resíduos
químicos e fisicamente diferentes, os quais necessitam de tipos específicos de
tratamento (KRIEBEL, 2012). Dessa forma, a escolha do melhor método ou da
melhor tecnologia para tratamento dos efluentes é um processo que demanda muito
estudo (BORDIN, 2005).

O efluente final tratado pode ser despejado em cursos de águas naturais,


depende de sua classificação, que é dada pela Resolução CONAMA n o 357/05 que
aborda a classificação dos corpos d’água e estabelece as condições e padrões de
lançamento. Além dessa Resolução Federal, existe ainda, no Estado do Rio Grande
do Sul, a Resolução CONSEMA no 128/2006 que estabelece padrões de emissão
de efluentes industriais e domésticos. De modo geral, indústrias de produtos de
limpeza geram um efluente com características biodegradáveis, sendo de fácil
tratamento através de processos biológicos (KRIEBEL, 2012).

Após todos esses processos, o efluente líquido tratado adquire uma


qualidade que torna possível o seu descarte nos corpos hídricos, segundo a
legislação CONAMA 357/05. Uma vez que o setor industrial é um importante usuário
de água, muitas empresas já estão reutilizando a água reciclada em seus
processos, o que diminui os custos referentes à captação, seja da rede de
abastecimento, seja da natureza – o que vem se tornando uma prática quase
inexistente (LEME, 2010). Segundo Leme (2010) o uso da água reciclada pode
ocorrer na irrigação paisagística de parques, cemitérios, campos de golfe, faixas de
domínio de auto estradas, campus universitários, cinturões verdes, gramados
residenciais. Irrigação de campos para cultivos de forrageiras, plantas fibrosas e de
grãos, plantas alimentícias, viveiros de plantas ornamentais, proteção contra
geadas.

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No caso da poluição da água por resíduos industriais o fator implicante é a
degradação por processos naturais. Sua composição geralmente inclui substâncias
químicas tóxicas, como metais pesados (chumbo, cobre etc.), pesticidas, que acima
dos níveis de concentração podem trazer sérios riscos tanto para a humanidade,
como para o meio ambiente, visto que a contaminação pode se estender também
aos solos (SHREVE, 2007).

Segundo Shreve (2007) toda essa poluição gerada é eliminada diretamente


em cursos d’água, em canais subterrâneos ou a céu aberto, para então, chegar a
córregos, causando grandes problemas ambientais e epidemiológicos. A
recuperação dos prejuízos causados pelo descarte inadequado de efluentes gera
despesas muito maiores do que o tratamento o qual nos últimos anos tornou-se
indispensável.

Deste modo, a água proveniente destes mananciais passa por Estações de


Tratamento de Água (ETAs) antes de ser enviada para as residências. O tratamento
de água para abastecimento é considerado uma operação de extrema importância,
visto que ele é responsável pela qualidade da água consumida pela população nas
mais diversas tarefas diárias.
A qualidade da água é importante tanto para se comprovar uma determinada
atividade poluidora, quanto para estabelecer meios para seu uso. Pode ser avaliada
através de diversos parâmetros, os quais traduzem suas principais características
físicas, químicas e biológicas (SHREVE, 2007).

Dentre as características físicas, são analisados parâmetros de cor, turbidez


e odor. Características químicas são dadas através da dureza, corrosividade,
alcalinidade, entre outras. E, por fim, as biológicas são aplicadas à presença de
microrganismos patogênicos, algas e bactérias (BRAGA, 2007).

Surgem, então, ensaios realizados em bancada com aparelhos denominados


Jar-Test ou Teste dos Jarros. Este é uma alternativa de baixo custo, manuseio
prático e fácil otimização de parâmetros como coagulante, tempo e gradiente de
velocidade.

1.2 O equipamento Jar-Test

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O "Jar-Test" é um equipamento usado principalmente em testes utilizados no
tratamento de água. Sua função é promover agitação rápida e moderada nas
amostras facilitando assim, a floculação dos resíduos presentes na água analisada.
A técnica conhecida como Teste de Jarro é usada, por exemplo, nas Estações de
Tratamento de Água para a determinação do pH ótimo de coagulação e da dosagem
certa de coagulante.
O equipamento de ensaio pode receber o mesmo nome deste (“Jar -Test”),
“Turb-Floc”, ou, simplesmente misturador, que consiste de seis pás capazes de
operar com velocidade variável de 0 a 100 rpm (rotações por minuto). Quando se
realiza o ensaio, são colocados dois litros de água em cada jarro, ou becker, os
quais são dosados quantidades de coagulante, simultaneamente, sob agitação
máxima (100 rpm), por cerca de um minuto. Após a mistura rápida para dispersar o
coagulante, as amostras são agitadas vagarosamente para a formação dos flocos e,
depois, deixam -se decantar.
O tempo e intensidade de agitação podem ser variáveis, de modo a
reproduzir a situação real da estação de tratamento de água, ou a buscar a melhor
condição física operacional, se houver possibilidade de ajuste de tempo de
detenção e gradiente de velocidade nas diversas fases de tratamento na estação.
Depois de algum tempo desliga-se o equipamento, aguardando um tempo
correspondente ao tempo de detenção na etapa de decantação. São observadas e
anotadas, então, a natureza e as características de decantabilidade dos flocos, em
termos qualitativos, ou seja, pobre, regular, boa ou excelente. Uma amostra
nebulosa indica coagulação pobre, enquanto que a coagulação satisfatória contém
flocos que são bem formados, com o líquido apresentando -se claro entre partículas.
A menor dosagem que fornece boa remoção de turbidez durante o “Jar-Test” é
considerada como a primeira dosagem experimental na operação da estação de
tratamento.

Geralmente, a estação de tratamento fornece melhores resultados que um


“Jar-Test”, com a mesma dosagem. Para pesquisas ou estudos especiais, os jarros
usados no ensaio podem ser modificados para produzirem mais aproximadamente
às unidades de mistura construídas nas estações de tratamento. Tendo em vista a
influência das características da água a ser tratada na dosagem de coagulante a ser
aplicada, podem ser conduzidos estudos adicionais para a determinação da

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aplicação ótima de produtos auxiliares de coagulação/floculação, em conjunto com o
coagulante primário.

2. OBJETIVO

Determinar em uma amostra de água bruta a alcalinidade pelo método titulométrico,


cor, turbidez, a concentração ótima de coagulante ( Al2(SO4)3 ) e o pH ideal de
coagulação através do ensaio Jar-Test.

3. MATERIAIS E MÉTODOS

Materiais:

Alcalinidade
● Pipeta volumétrica 100 mL e 5
● Água destilada mL
● Amostra de água bruta ● Solução de H2SO4 0,02N
● Becker 100 mL ● Suporte universal
● Bureta 25 mL
● Erlenmeyer 250 mL
● Garra para bureta
● Indicador Fenolftaleína
● Indicador verde de Bromocresol

Turbidez
● Papel absorvente
● Água destilada ● Solução Formazina
● Amostra de água bruta ● Turbidímetro (kit)
● Becker
● Cubetas

Cor
● K2PtCl6
● Água destilada ● Medidor de cor
● Amostra de água bruta Microprocessado
● CoCl2.6H2O
● Cubetas
● HCl

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Jar- Test

● Amostra de água bruta


● Equipamento com 6 jarros (2 L cada)
● Proveta 1L

Métodos:

Alcalinidade

Inicialmente transferiu-se para a bureta 25 mL da solução de H2SO4 0,02 N com


fator de correção sendo 1,07.
Com uma pipeta volumétrica, transferiu-se 100 mL da amostra de água bruta para
um erlenmeyer de 250 mL.
Adicionou-se 3 gotas do indicador fenolftaleína e observou-se possíveis mudanças.
Como a amostra não teve alteração na cor, adicionou-se 4 gotas do indicador verde
de bromocresol e titulou-se com H2SO4 0,02 N até o aparecimento da cor amarela.
Determinou-se então o volume total gasto na titulação e posteriormente calculou-se
a alcalinidade (A) da amostra pela fórmula:
(𝑉𝑡 ×𝑓𝑐÷𝑁𝐻2𝑆𝑂4 × 50.000)
𝐴= 𝑉𝑎𝑚𝑜𝑠𝑡𝑟𝑎

Sendo a alcalinidade expressa por mgCaCO3/L.

Turbidez

Para início de análise calibrou-se o turbidímetro.


Posteriormente enxaguou-se a cubeta com a amostra de água e em seguida a
mesma foi descartada.
Encheu-se novamente a cubeta com a amostra até a marca recomendada, e com
um papel absorvente limpou-se a cubeta com o cuidado devido.
Em seguida inseriu-se a cubeta no turbidímetro e após sua leitura anotou-se o
resultado obtido.

Cor

Após a calibração do colorímetro,enxaguou-se a cubeta com a amostra de água.

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Em seguida adicionou-se a amostra na cubeta limpando-a com papel absorvente.
Inseriu-se a cubeta no medidor de cor fechando-a com a tampa e realizou-se a
leitura.
O valor indicado pelo colorímetro foi registrado para devidos cálculos
posteriormente.

Jar-Test

Inicialmente com a ajuda de uma proveta 1L encheu-se os 6 jarros com 2 litros de


água bruta cada.
Em seguida para a simulação da coagulação, iniciou-se a agitação rápida de 150
rpm e adicionou-se simultaneamente os volumes do coagulante (Al2(SO4)3). A
agitação rápida durou 2 min.
Para a simulação da floculação, diminuiu-se a agitação para 25 rpm e deixou-se sob
agitação por 20 min.
Após os 20 min, o equipamento foi desligado para a simulação da decantação e
deixou-se descansar por 20 min.
Posteriormente coletou-se alíquotas da amostra em todos os jarros
simultaneamente.
Tais coletas são necessárias para novas análises de pH, cor, turbidez e assim
prosseguir com os ensaios. No entanto, com o intuito de apenas mostrar o
funcionamento do Jar-Test, a prática foi encerrada na coleta das alíquotas.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a realização das análises de alcalinidade, pH, turbidez e cor

obteve-se os seguintes resultados, respectivamente: 22,47 mg/L, 6,5, 9,63 NTU e

75,82 mg Pt/L. Sendo assim, com os resultados iniciais de turbidez e cor da água

bruta é possível definir a faixa de concentração de coagulante com auxílio das

tabelas de dosagem de sulfato de alumínio em mg/L.

Imagem 1: Dosagem de Sulfato de Alumínio em mg/L

Turbidez (NTU) Mínima Média Máxima

10 5 10 17

7
15 8 14 20

20 11 17 22

40 13 14 25

60 14 21 28

80 15 22 30

100 16 24 32

150 18 27 37

200 18 30 42

300 21 36 51

400 22 39 62

500 23 42 70

Cor (mg PtL) Dosagem de sulfato de alumínio (mgL)

10 8

20 10

30 13

40 16

50 18

60 21

70 24

80 26

90 29

100 32

140 42

180 53

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Fonte: Funasa

Ao comparar o valor da turbidez obtida de aproximadamente 10 NTU é possível

identificar uma dosagem de coagulante mínima de 5 mg/L, além disso ao comparar o

valor da cor de aproximadamente 75 mg Pt/L, observa-se um valor máximo de 25 mg/L

para a faixa de concentração de sulfato de alumínio.

Para calcular os intervalos de concentração de coagulante em cada jarro usa-se a

fórmula:

Logo, as respectivas concentrações nos jarros de 1 a 6 são 5 mg/L, 9 mg/L, 13

mg/L, 17 mg/L, 21 mg/L e 25 mg/L.

É necessário verificar se a alcalinidade da água bruta é suficiente, uma vez que a

cada 1 mg/L de coagulante adicionado consome-se 0,45 mg/L de alcalinidade (Funasa,

2004). A concentração máxima de coagulante adicionado será de 25 mg/L, portanto a

alcalinidade máxima necessária para o pH não desviar da faixa ideal é de 11,25 mg/L.

Sendo assim, não será necessário adicionar alcalinizante, visto que a alcalinidade da

água bruta (22,47 mg/L) é suficiente para manter o pH.

Após as análises acima, foi-se calculado a quantidade necessária em mL de

coagulante em cada jarro, por meio do cálculo abaixo.

Exemplo de cálculo para o jarro 1:

O cálculo foi efetuado para cada jarro, obtendo os volumes abaixo.

Tabela 1: Volume de Sulfato de Alumínio nos Jarros.

9
Fonte: Autores.

Após realização do ensaio do Teste de Jarros descrito nos métodos, obteve-se os

seguintes resultados:

Tabela 2: Resultado do Teste de Jarros

Fonte: Autores.

5. CONCLUSÃO

Conclui-se a partir dos resultados que o teste de jarros utilizando o sistema


Jar-test foi satisfatório, e que segundo os limites determinados pela resolução
CONAMA N° 357 para padrões de qualidade da água referentes aos limites de
cor e turbidez o jarro com concentração que melhor se enquadra no padrão de
qualidade analisando também a viabilidade econômica referente ao volume de
coagulante gasto é o jarro 4.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

10
RICHTER, Carlos A. Água; métodos e tecnologia de tratamento. São Paulo:
Edgar Blucher,2009.

VON SPERLING, M. Princípios do Tratamento biológico de águas residuárias.


v2 – Princípios básicos de tratamento de esgoto. Belo Horizonte: DESA/UFMG,
2003.

APÊNDICES

Apêndice A – Anotações de dados e observações no momento da prática

Imagem 2: Dados da Prática.

Fonte: Autores.

Apêndice B – Planilha eletrônica utilizada para o Teste de Jarros

Imagem 3: Planilha eletrônica de cálculos.

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Fonte: Autores.

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