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TRATAMENTO DA ÁGUA RESIDUÁRIA DE USINA DE CONCRETO COM A

UTILIZAÇÃO DE MORINGA OLEÍFERA – REAPROVEITAMENTO.

Gleidson Soares Araújo1

RESUMO

Entende-se que o concreto é um dos materiais mais importantes dentro da cadeia da construção
civil, pois tem função estrutural. Em contrapartida o betão é um material insustentável, pois há
geração de resíduos na extração da matéria prima, produção do material e durante a sua
utilização na obra. A destinação correta dos resíduos das usinas de concreto é exigida por lei e
a água residuária surge como sendo um dos principais resíduos a serem considerados. O
descarte incorreto dessa água pode acarretar inúmeros prejuízos ao meio ambiente dentre eles
a contaminação do lençol freático e danos aos organismos vivos. Essa pesquisa visa avaliar o
uso da Moringa Oleifera no tratamento de águas de lavagem de caminhões betoneira. Após o
tratamento, objetiva-se utilizar a água reciclada para a limpeza dos caminhões betoneiras e para
fins não potáveis na própria usina de concreto. Com o controle, tratamento da água gerada na
lavagem dos caminhões betoneiras será possível diminuir a quantidade de água potável utilizada
no ciclo do concreto. Com a redução do consumo de água potável na fase de operação das
usinas, será possível destinar uma maior quantidade de água para usos mais nobres, em razão
de que o nordeste vem passando por uma crise hídrica avassaladora. Após aplicação das
sementes de moringa na água residuária a redução da turbidez foi significativa. A utilização da
semente de moringa oleífera (orgânica) no tratamento da água residuárias resultará em um
conceito de produção mais limpa, eficiente, cumprindo as leis vigentes e ser mais sustentável.

Palavras-chave: Efluente. Resíduos. Reutilização.

INTRODUÇÃO

Em usinas de concreto, o uso da água potável é intenso, não somente na produção do concreto
propriamente dito, mas também para a lavagem de resíduos em caminhões betoneira, lavagem
de pisos e aspersão sobre os agregados para a redução de poeira (SEALEY, PHILLIPSE, HILL,
2001).
A indústria de concreto utiliza cerca de 800 litros de água potável para limpeza de um caminhão.
Estima-se que, em média, uma usina tenha capacidade de produzir 400m³ por dia de
concreto.(VIEIRA, 2010). Com um consumo médio de 200 litros/m³, consomem-se 8.000 litros
de água por dia, apenas para processo de produção e ainda, aproximadamente, mais 40.000
litros de água para lavagem dos caminhões, isso representa que mais de 80% da água potável
consumida pelas as usinas de concreto são destinadas a limpeza dos caminhões betoneiras
(VIEIRA, 2010).

Segundo Vieira (2010) a indústria do concreto consume aproximadamente 3 trilhões de litros


de água potável no mundo. Em pesquisa realizada pela associação brasileira de cimento
1 Mestrando em Ciência das Cidades – Universidade de Fortaleza – gleidson.gsa@hotmail.com
Portland (ABCP) estima-se que o consumo de concreto produzido em centrais no ano de 2017
foi de aproximadamente 72,3 milhões m³, ou seja, aproximadamente 9,3 milhões de caminhões
betoneiras. (ABCP, 2013). Com esse volume de concreto previsto, a quantidade de água
destinada para a limpeza dos caminhões betoneiras foi de aproximadamente de 6,3 bilhões de
m³ de água potável.
Segundo pesquisas são necessários 110 litros de água potável por dia para atender as
necessidades básicas de consumo e higiene de uma pessoa, ou seja, com essa quantidade de
água seria possível abastecer aproximadamente 57 milhões de pessoas durante um ano. Diante
desse cenário de crise hídrica, a prática do tratamento das águas residuárias provenientes do
processo de limpeza dos caminhões betoneiras, mostra-se essencial para a redução de consumo
de água potável, conservação do meio ambiente e cumprimento das leis, fazendo assim uma
gestão ambiental mais eficiente.
A utilização da Moringa oleifera será uma solução natural para o processo de tratamento da
água e atuará como um coagulante orgânico. Quando comparada com coagulantes químicos
essa semente apresenta uma série de vantagens, dentre elas: reduzida necessidade de reajuste
de pH, baixo custo de operação e reduzidos volumes de lodo. Essa produção tem o propósito
de progredir com as discussões sobre a utilização da Moringa Oleifera como coagulante natural
para o tratamento da água residual das usinas de concreto.

METODOLOGIA

No Brasil, as leis ambientais determinam a eliminação de resíduos na água residuária, havendo


regulamentos para controlar a qualidade da água e fornecer proteção da saúde ambiental. Nesse
sentido, sabe-se que a água de lavagem de caminhão contém materiais cimentícios e outras
impurezas. Essa água não pode ser despejada nos esgotos urbanos, devido ao seu alto teor de
sólidos dissolvidos e seu alto pH. Na maioria das situações a água é tratada e após seu
tratamento, destinada ao esgoto.
Com a finalidade de se demostrar a eficiência do tratamento de forma natural das águas
residuárias das usinas de concreto. No processo de tratamento utilizou a semente da moringa
oleifera, por ser considerada um dos métodos mais eficazes para remoção da turbidez da água
é através do processo de coagulação e essa semente tem essa capacidade. A moringa oleifera
pertence à família Moringaceae (Figura 1), composta de apenas um gênero (Moringa) e
quatorze espécies conhecidas, nativa do norte da Índia, ela cresce em vários países dos trópicos;
seu fruto é uma espécie de vagem com três faces (diferentes de uma vagem normal, que tem
duas faces), e grande número de sementes.(PATERNIANI; MANTOVANI; ANNA, 2009),
conforme Figura 1:

FIGURA 1 – Moringa Oleifera

Fonte – Autor (2018)


Durante a realização do ensaio utilizou-se quatro litros de água bruta, sendo dois litros
destinados ao processo de decantação simples sem a utilização de nenhum tipo de substância
externa e os outros dois litros foram utilizadas as sementes de moringa oleifera. O método
adotado para purificação da água residuária com o uso da moringa oleifera consiste em se
colocar cada litro de água bruta em contato com 2 a 3 sementes, sendo a quantidade de sementes
utilizadas depende da turbidez da mesma.
As amostras em estudo foram coletadas durante o processo de limpeza de uma betoneira e
armazenadas em vasilhames de plásticos. O processo de agitação da água bruta ocorreu de
maneira manual durante aproximadamente dois minutos nas duas amostras. No recipiente em
que utilizou-se a semente de moringa foram empregados seis grãos, esse quantidade respeitou
o que a literatura sugere. As sementes estavam secas, descascadas e foram esmagadas e
adicionadas a água residuária. As amostras ficaram armazenadas em condições de igualdade
durante duas horas. Após esse intervalo a redução da turbidez da água foi visível a olho nu
(Figura 2). Não ocorreu nenhum teste em laboratório para a verificação do pH e da turbidez da
água.

FIGURA 2 - Aplicação do uso da moringa na redução da turbidez e redução de pH da


água residuária.

Fonte – Autor (2018)

O mesmo ensaio foi realizado por três vezes utilizando o mesmo procedimento e os resultados
obtidos são praticamente idênticos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A aplicação do coagulante natural no transcurso de produção do concreto representa um avanço


fundamental para o cumprimento das leis ambientais vigentes e o favorecimento de uma gestão
ambiental mais eficaz. O uso de tecnologia ambientalmente sustentável a partir de recursos
renováveis está diretamente ligado a melhoria da qualidade dos processos industriais.
Desde 1979, já discutia a possibilidade de reuso de água para diferentes tipos de indústria,
dando enfoque no ciclo fechado de águas residuárias, além disso, destacava que não é só uma
forma de realizar a conservação dos recursos naturais, mas também um método de controle de
poluição. Os resultados mostraram que a utilização da moringa oleifera, obtém uma redução
significativa da turbidez da água, o que viabiliza o reuso da água tratada para lavagem de
veículos, rega de jardins, pátios, descarga de bacias sanitárias e diversos fins não potáveis.

CONCLUSÕES

Observou-se que a eficiência da moringa oleifera como coagulante natural no tratamento da


água residuária produzida em usinas de concreto com o intuito de reutiliza-la para a limpeza
dos caminhões betoneiras e para fins não potáveis.

A inclusão de um coagulante natural contribuiu para desenvolvimento de um ciclo sustentável


na produção do concreto, reduzindo o consumo de água potável nas centrais de concreto e
cumprimento das leis ambientais. Faz-se necessário que as usinas de concretos tenham a
capacidade de serem resilientes, pois é imprescindível fazer o gerenciamento correto dos
recursos hídricos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABCP. Pesquisa inédita e exclusiva revela cenário do mercado brasileiro de concreto.


Disponível em: <http://www.abcp.org.br/conteudo/imprensa/pesquisa-inedita-e-exclusiva-
revela-cenario-do-mercado-brasileiro-de-concreto>. Acesso em: 3 ago. 2017.

PATERNIANI, J. E. S.; MANTOVANI, M. C.; ANNA, M. R. S. de águas superficiais The


use of Moringa oleifera seeds for treatment of surface water. n. 19, p. 765–771, 2009.

SEALEY, B.J; PHILLIPS, P.S; HILL, G.J. Waste management issues for the UK ready-
mixed concrete industry. Resources, Conservation and Recycling, 2001.

TSIMAS, S; ZERVAKI, M. Reuse of waste water from ready--mixed concrete plants.


Management of Environmental Quality: An International Journal, v. 22, n. 1, p. 7–17. DOI
10.1108/14777831111098444, 2011.

VIEIRA, L. DE B. P. Construção Civil x Meio Ambiente. v. d, 2010.

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