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DA ESCOLA
Teoria e Práctica
Por
José Carlos Libâneo
Editora Alternativa
1ª ediçao: 2001
5ª edição: 2004
9 Apresentação a 5ª edição
19 Apresentação
CAPITULO I
27 A escola como organização de trabalho e lugar de aprendizagem do professor
CAPITULO II
43 Uma escola para novos tempos
CAPITULO III
63 Buscando a qualidade social do ensino
CAPITULO IV
73 A identidade profissional dos professores e o desenvolvimento de competencias
CAPITULO V
95 Os conceitos de organização, gestao, participação e cultura organizacional
CAPITULO VI
117 O sistema de organização e gestao da escola
CAPITULO VII
135 Princípios e características da gestao escolar participativa
CAPITULO VIII
147 O planejamento escolar e o projeto pedagógico-curricular
CAPITULO IX
203 Organização geral do trabalho escolar
CAPITULO X
213 As atividades de direção e coordenação
CAPITULO XI.
225 Formação continuada
CAPITULO XII
235 Avaliação de sistemas escolares e de escolas
CAPITULO XIII
261 As áreas de atuação do sistema de organização e gestao escolar -Ações,
procedimentos e técnicas de coordenação do trabalho escolar.
313 Bibliografia
C A P Í T U L O
IV
A IDENTIDADE
PROFISSIONAL DOS
PROFESSORES E O
DESENVOLVIMENTO
DE COMPETÊNCIA
CAPÍTULO IV
O professor é um profissional cuja atividade principal é o ensino. Sua formação inicial visa
a propiciar os conhecimentos, as habilidades e as atitudes requeridas para levar adiante o
processo de ensino e aprendizagem nas escolas. Esse conjunto de requisitos profissionais que
tornam alguém um professor, uma professora, é denominado profissionalidade. A conquista da
profissionalidade supõe a profissionalização e o profissionalismo.
A profissionalização refere-se às condições ideais que venham a garantir o exercício
profissional de qualidade. Essas condições são: formação inicial e formação continuada nas
quais o professor aprende e desenvolve as competências, habilidades e atitudes profissionais;
remuneração compatível com a natureza e as exigências da profissáo; condições de trabalho
(recursos físicos e materiais, ambiente e clima de trabalho, práticas de organização e gestão).
O profissionalismo refere-se ao desempenho competente e compromissado dos deveres e
responsabilidades que consti, tuem a especificidade de ser professor e ao comportamento ético e
político expresso nas atitudes relacionadas a prática profissional. Na prática, isso significa ter o
domínio da matéria e dos métodos de ensino, a dedicação ao trabalho, a participação na
construção coletiva do projeto pedagógico-curricular, o respeito à cultura de origem dos alunos,
a assiduidade, o rigor no preparo e na conducção das aulas, o compromisso com um projeto
político democrático.
As duas noções apresentadas se complementam. O profissionalismo requer
profissionalização, a profissionalização requer profissionalismo. Um professor
profissionalmente despreparado, recebendo salários baixos, trabalhando em precárias condições,
terá dificuldades de atuar com profissionalismo. Por outro lado, um professor muito dedicado,
que ama sua profissao, respeita os alunos, é assíduo ao trabalho e terá muito pouco êxito na sua
atividade profissional se não apresentar as qualidades e competências consideradas ideais a um
profissional, isto é, os requisitos da profissionalização.
Não se trata, certamente, de lidar com essas duas noções de forma que a ausencia de uma
comprometa irremediavelmente a outra. Um professor pode compensar uma fraca
profissionalização estudando mais, investindo na sua formação continuada, lutando por
melhores salários. Pode, ao mesmo tempo, mudar suas atitudes, suas convicções, seus valores
em relação a prática profissional, o que pode levá-lo, inclusive, a buscar melhor qualificação. O
que justifica essa atuação comprometida é a natureza da profissao de professor, é a
responsabilidade que a tarefa educativa traz consigo.
É verdade que a profissão de professor vem sendo muito desvalorizada tanto social quanto
economicamente, interferindo na imagem da profissao. Em boa parte isso se deve às condições
precárias de profissionalização -salários, recursos materiais e didáticos, formação profissional,
carreira- cujo provimento é, em boa parte, responsabilidade dos governos. É muito comum as
autoridades governamentais fazerem autopromoção mediante discursos a favor da educação,
alardeando que a educação é a prioridade, que os professores são importantes etc. No entanto,
na prática, os governos têm sido incapazes de garantir a valorização salarial dos professores,
levando a uma degradação social e econômica da profissão e a um rebaixamento evidente da
qualificação profissional dos professores em todo o país. Em outros termos, ao mesmo tempo
em que se fala da valorização da educação escolar para a competitividade, para a cidadania, para
o consumo, continuam vigorando salários baixos e um reduzido empenho na melhoria da
qualidade da formação profissional dos pçãrofessores.
As condições de trabalho e a desvalorização social da profissão de professor, de fato,
prejudicam a construção da identidade dos futuros professores com a profissão e de um quadro
de referência teórico-prático que defina os conteúdos e as competências que caracterizam o ser
professor. Isso acontece porque a identidade com a profissão diz respeito ao significado pessoal
e social que a profissão tem para a pessoa. Se o professor perde o significado do trabalho tanto
para si próprio como para a sociedade, ele perde a identidade com a sua profissão. O mal-estar,
a frustração, a baixa auto-estima são algumas conseqüências que podem resultar dessa perda de
identidade profissional. Paradoxalmente, no entanto, a ressignificação de sua identidade -que
passa pela luta por melhores salários e pela elevação da qualidade da formação- pode ser a
garantia da recuperação do significado social da profissão. Apesar dos problemas, os
professores continuam sendo os principais agentes da formação dos alunos e, portanto, a
qualidade dos resultados de aprendizagem é inseparável da sua qualificação e competência
profissionais.
Por isso, a construção e o fortalecimento da identidade profissional precisam fazer parte
do currículo e das práticas de formação inicial e continuada. Nos últimos anos, os estudiosos da
formação de professores vêm insistindo na importância do desenvolvimento pessoal e
profissional no contexto de trabalho, mediante a educação ou formação continuada. Os cursos
de formação inicial tem um papel muito importante na construção dos conhecimentos, atitudes e
convicções dos futuros professores necessários à sua identificação com a profissão. Mas é na
formação continuada que essa identidade se consolida, uma vez que ela pode desenvolver-se no
próprio trabalho.
A formação continuada é uma maneira diferente de ver a capacitação profissional de
professores. Ela visa ao desenvolvimento pessoal e profissional mediante práticas de
envolvimento dos professores na organização da escola, na organização e articulação do
currículo, nas atividades de assistência pedagógico-didática junto com a coordenação
pedagógica, nas reuniões pedagógicas, nos conselhos de classe etc. O professor deixa de estar
apenas cumprindo a rotina e executando tarefas, sem tempo de refletir e avaliar o que faz. Ainda
tem sido muito comum nas Secretarias de Educação promover a capacitação dos professores por
meio de cursos de treinamento ou de reciclagem, de grandes conferências para um grande
número de pessoas. Nesses cursos são passadas propostas para serem executadas ou os
conferencistas dizem o que os professores devem fazer. O professor não é instigado a ganhar
autonomia profissional, a refletir sobre sua prática, a investigar e construir teorias sobre seu
trabalho.
Na nova concepção de formação do professor como intelectual crítico, como profissional
reflexivo e pesquisador e elaborador de conhecimentos, como participante qualificado na
organização e gestao da escola- o professor prepara-se teoricamente nos assuntos pedagógicos e
nos conteúdos para poder realizar a reflexão sobre sua prática; atua como intelectual crítico na
contextualização sociocultural de suas aulas e na transformação social mais ampla; torna-se
investigador analisando suas práticas docentes, revendo as rotinas, inventando novas soluções;
desenvolve habilidades de participação grupal e de tomada de decisões seja na elaboração do
projeto pedagógico e da proposta curricular seja nas várias atividades da escola como execução
de ações, análise de problemas, discussão de pontos de vista, avaliação de situações etc. Esse é o
sentido mais ampliado que assume a formação continuada.
Isso não quer dizer que o professor não necessita da teoria, do conhecimento científico.
Significa que o professor analisa sua prática à luz da teoria, revê sua prática, experimenta novas
formas de trabalho, cria novas estratégias, inventa novos procedimentos. Tematizando sua
prática, isto é, fazendo coro que sua prática se transforme em conteúdo de reflexão, ele vai
ampliando a consciencia sobre sua própria prática.
Em que consiste a profissão de professor? O que significa ser professor? Como vimos.,
identidade profissional é o conjunto de conhecimentos, habilidades, atitudes, valores que
definem e orientam a especificidade do trabalho de professor. Sabemos que a profissão de
professor vai assumindo determinadas características, vale dizer, determinada identidade
profissional, conforme necessidades educacionais colocadas em cada momento da história e em
cada contexto social (Pimenta, 1998).
A sociedade brasileira está passando por intensas transformações econômicas, sociais,
políticas, culturais. As novas exigências educacionais diante dessas transformações pedem um
professor capaz de exercer sua profissão em correspondência às novas realidades da sociedade,
do conhecimento, do aluno, dos meios de comunicação e informação. Há uma nítida mudança
no desempenho dos papéis docentes, novos modos de pensar, agir e interagir. Com isso, surgem
novas práticas profissionais, novas competências. Libâneo e Pimenta (1999, p. 41) apontam
duas dimensóes da identidade profissional de professor: