Você está na página 1de 3

Homenagem a Rachel de Queiroz

Quando no Comando do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará,


conversando com o amigo Djalma Pinto, e sua opinião sobre Rachel de Queiroz eis
que o destino nos permitiu uma homenagem em vida a nossa querida imortal!

No dia 17 de novembro de 2003, data em que completaria 93 anos de idade, mais


uma homenagem foi realizada para a escritora cearense.

No próprio Quartel do Comando Geral do


Corpo de Bombeiros Militar do Ceará, o
governador Lúcio Alcântara, o
Comandante dos Bombeiros, Cel Duarte
Frota junto com familiares da escritora,
descerrou placa alusiva ao aniversário da
escritora. As homenagens tiveram
continuidade quando o governador
assinou decreto que dá o nome da
escritora ao Colégio Militar do Corpo de
Bombeiros.

Nos dizeres da placa em alusão à escritora, um protesto contra o autoritarismo:


''Nesse quartel, quando a força bruta suplantou a lei, esteve presa a escritora Rachel
de Queiroz. O povo do Ceará ardentemente deseja que nunca mais corporação
militar no Brasil seja transformada em cárcere para quem pensa diferente do poder
dominante'', frases do advogado Djalma Pinto, ex-procurador Geral do Estado e um
dos idealizadores das homenagens.

A homenagem pelos 93 anos da escritora foi comunicada por telefone pelo


comandante do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará, Coronel Duarte Frota no mês
de agosto de 2003, para Rachel de Queiroz. “Essa foi uma das homenagens que
mais emocionou a Rachel”, revela Maria Luiza de Queiroz Salek, irmã da escritora.

Durante a solenidade, Lúcio Alcântara lembrou que Rachel foi presa por causa de
divergências de natureza política com o governo de então. Ressaltou que ela foi
detida por defender suas convicções. “Este é também um monumento à democracia;
à liberdade de idéias e defesa das convicções”, afirmou o governador.

As honrarias em memória da jornalista, que faleceu no dia 04 de


novembro de 2003, no Rio de Janeiro, tiveram continuidade na
unidade de ensino do Corpo de Bombeiros. Lá, também houve
descerramento da placa e assinatura do decreto que dá o nome da
escritora ao Colégio Militar do Corpo de Bombeiros. A nova
denominação é um estímulo para que a juventude fortaleça a
democracia.

1
No Colégio Militar do Corpo de Bombeiros
Escritora Rachel de Queiroz, a amiga de
infância da jornalista, Ayla Braveza Caminha,
e Maria Luiza de Queiroz receberam do
Comandante Duarte Frota a medalha
Desembargador Moreira. “Estou muito
emocionada, pois o meu pai foi o primeiro
comandante do Corpo de Bombeiros”, disse
Ayla. Ela lembra que Rachel, enquanto ficou
no quartel dos bombeiros, foi tratada pelo seu
pai como uma pessoa da família. “Rachel era
como uma irmã para mim”, disse.

A direita Maria Luiza (vestido preto) e Marise Frota

DECRETO Nº 27.251, DE 17 DE NOVEMBRO DE 2003


DOE nº 221, 18 de novembro de 2003
Denomina escritora Rachel de Queiroz o Colégio Militar do Corpo de
Bombeiros Militar do Estado do Ceará

O GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ, no uso da atribuição que lhe


confere o Art. 88, incisos IV e VI, da Constituição Estadual, combinado com o
artigo 46 da Lei nº 13.370, de 22 de setembro de 2003 e,
CONSIDERANDO o grande destaque cultural no país da escritora RACHEL DE
QUEIROZ, com talentosa atuação como romancista, cronista, teatróloga,
jornalista e professora;
CONSIDERANDO a importância da obra intelectual legada pela escritora
RACHEL DE QUEIROZ, cujo valor proporcionou o pioneirismo, como mulher e
cearense de conquistar uma Cadeira Imortal da Academia Brasileira de Letras;
CONSIDERANDO ainda os exemplos de coragem cívica, de amor ao Brasil e ao
povo brasileiro e a contribuição que teve na formação de uma nova
mentalidade de cidadania no país;
DECRETA:
Art.1º - O Colégio Militar do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará, com sede
em Fortaleza, passa a ter denominação histórica da imortal RACHEL DE
QUEIROZ.
Art.2º - Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as
disposições em contrário.
PALÁCIO DO GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ, em Fortaleza, aos 17 de
novembro de 2003.
LÚCIO GONÇALO DE ALCÂNTARA- GOVERNADOR DO ESTADO
CARLOS MAURO BENEVIDES FILHO- SECRETÁRIO DE ADMINISTRAÇÃO
FRANCISCO WILSON VIEIRA DO NASCIMENTO-SECRETÁRIO DE DEFESA SOCIAL
JOSÉ ANANIAS DUARTE FROTA- COMANDANTE GERAL DO CORPO DE BOMBEIROS

2
A INCÊNDIÁRIA E OS BOMBEIROS!

Em 1937, quando Getúlio Vargas preparava seu golpe de


estado, todos os possíveis opositores que se espalhavam
pelo território nacional foram apanhados.

No Ceará, mandaram os jornalistas para a cadeia pública.


Mas comigo, tiveram consideração, pois eu era uma
senhora de boa família. Fui presa no quartel do Corpo de
Bombeiros em Fortaleza.

No início de outubro, trabalhava em uma firma que


embarcava algodão para Europa. Fui surpreendida por um
delegado de polícia, que me conduziu a uma viatura para
o Quartel do Corpo de Bombeiros, onde fui entregue não
aos soldados, mas a Senhora do Comandante, que
praticamente me pedia desculpas ao mostrar as precárias
comodidades do local: uma cama de solteiro, uma mesa e
duas cadeiras.
Levou-me a uma das janelas e disse que bastava eu chegar ali e dar um grito que
ela imediatamente seria chamada. Assim, morando com os bombeiros, passei cerca
de um mês, enquanto Getúlio dava e consolidava seu golpe.

Praticamente, tornei-me bombeira. Da minha janela assistia aos exercícios. É


impressionante como aqueles homens arriscavam a vida, adestrando-se para salvar
a vida de outros. Eles vinham marchar debaixo das minhas janelas. A Senhora do
comandante me mandava, por eles, guloseimas da sua mesa. Sua fila adolescente
que me chamava de "Tenente", também me visitava. Era uma menina bonita a quem
às vezes ajudava com problemas da escola.

Era como se eu tivesse uma família afetuosa ao alcance das mãos. Já a minha
família não tinha o direito de me visitar. Afinal, Getúlio deu seu golpe, o Brasil voltou
à normalidade possível, e nós, presos políticos, fomos soltos. Voltei para casa, mas
confesso senti saudades das serenatas dos músicos sob minhas janelas, das
ocasiões em que eu ajudava os bombeiros estudantes aflitos, em hora de exames
que mandavam bilhetinhos das questões mais difíceis de português; bilhetinhos que
devolvia com as respostas.

Saí afinal, mas fiquei amiga da família do Comandante, principalmente fiquei amiga
dos bombeiros. Alguns vinham me visitar nas folgas e infalivelmente ao me
encontrar na rua assumiam posições de sentido e batiam solene continência e eu
confesso ficava morrendo de orgulho.

E o carinho se renovou no coração da velha senhora.

Rachel de Queiroz

Você também pode gostar