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AS CATEGORIAS DA NARRATIVA

1. A acção : conjunto de acontecimentos que se desenrolam num determinado espaço e num tempo
mais ou menos extenso.

1.1. O relevo

• Acção principal / central : integra o conjunto de sequências narrativas que detém maior
importância ou relevo.
• Acção secundária : a sua importância define-se em relação à acção principal, de que depende,
por vezes. Relata acontecimentos de menor relevo.

1.2. A organização das sequências narrativas

• Estrutura da acção : é constituída por um número variável de sequências (segmentos narrativos


com princípio, meio e fim), que podem aparecer articuladas de três modos :

 encadeamento ou organização por ordem cronológica :

Situação inicial → S2 → S3 → S4 → Situação final

 encaixe, em que uma acção é introduzida numa outra que estava a ser narrada e que
epois se retoma :

S1 → S2 → S1

 alternância, em que várias histórias ou sequências vão sendo narradas alternadamente :

S2 S2

S1
S1 S1 S2

As narrativas ou sequências narradas alternadamente podem fundir-se no mesmo plano,


designadamente no final. É o que acontece com frequência nas telenovelas.

1.3. A delimitação

• Narrativa fechada - acção solucionada até ao pormenor.


• Narrativa aberta - a sorte das personagens não é revelada.

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2. As personagens
2.1. O relevo
• Protagonista, personagem principal ou herói - desempenha um papel central. A sua actuação é
fundamental para o desenvolvimento da acção.
A personagem principal pode ter um carácter individual : um herói ou uma heroina que muitas vezes dá
o nome à própria história. Exemplos : O Cavaleiro da Dinamarca, A Salvação de Wang-Fô.
A personagem principal pode ter um carácter colectivo. Exemplos : o povo, os estudantes.
• Personagem secundária - assume um papel de menor relevo que o do protagonista, sendo ainda
importante para o desenrolar da acção.
• Figurante - tem um papel irrelevante no desenrolar da acção, cabendo-lhe, no entanto, o papel
de ilustrar um ambiente ou um espaço social de que é representante.

2.2. A composição
• Personagem modelada ou redonda - dinâmica, dotada de densidade psicológica, capaz de
alterar o seu comportamento e, por conseguinte, de evoluir ao longo da narrativa.
• Personagem plana ou desenhada - estática, sem evolução, sem grande vida interior ; por outras
palavras : a personagem plana comporta-se da mesma forma previsível ao longo de toda a
narrativa.
• Personagem-tipo - representa um grupo profissional ou social.

2.3. As Funções
As funções narrativas ou actantes da narração podem resumir-se neste esquema :
destinador objecto destinatário

adjuvante sujeito oponente

Destinador : personagem, entidade ou força superior que decide a favor ou contra a obtenção do objecto pelo sujeito.
Destinatário : personagem ou entidade sobre quem recai a decisão favorável ou desfavorável do destinador.
Sujeito : personagem ou entidade empenhada na procura ou consecução de um objectivo, representado no objecto.
Objecto : personagem, entidade ou o que o sujeito procura obter ou atingir.
Adjuvante : personagem, entidade ou o que quer que facilite a obtenção do objecto por parte do sujeito.
Oponente : personagem, entidade ou o que quer que dificulte a obtenção do objecto por parte do sujeito.

O actante não é, necessariamente, uma personagem humana ; pode ser uma força superior, um
animal, um objecto, um conceito, um valor moral. Assim, por exemplo, o «Destino» pode ser o
destinador ; o «auxiliar mágico» ou a «astúcia», adjuvantes ; a «noite» dependendo do contexto,
pode ser oponente, como o rival do herói, etc.

2.4. A caracterização
• Directa
- Autocaracterização - a própria personagem refere as suas características.
- Heterocaracterização - a caracterização da personagem é-nos facultada pelo narrador ou por
outra personagem.

• Indirecta
O narrador põe a personagem em acção, cabendo ao leitor, através do seu comportamento e/ou
da sua fala, traçar o seu retrato.
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3. O espaço

• Espaço físico e geográfico - é o espaço real, interior ou exterior, que serve de cenário à acção,
onde as personagens se movem (localidades, ruas, paisagens, montanhas, ...).

• Espaço social e cultural - é constituído pelo ambiente social e económico, representado, por
excelência, pelas personagens figurantes.

• Espaço psicológico - espaço interior da personagem, abarcando as suas vivências mais íntimas,
os seus pensamentos e sentimentos.

4. O tempo

• Tempo cronológico ou tempo da história - determinado pela sucessão cronológica dos


acontecimentos narrados.

• Tempo histórico - refere-se à época ou momento histórico em que a acção se desenrola.


Exemplo : quando o autor procura fazer reviver uma época, uma personalidade, um acontecimento cultural.

• Tempo psicológico - é um tempo subjectivo, vivido ou sentido pela personagem, que flui em
consonância com o seu estado de espírito.

• Tempo do discurso - resulta do tratamento ou elaboração do tempo da história pelo narrador.


Este pode escolher narrar os acontecimentos :

- por ordem linear ;

- com alteração da ordem temporal (anacronia), recorrendo à :


- analepse (flash-back, recuo a acontecimentos passados) ;
- prolepse (antecipação de acontecimentos futuros) ;

- ao ritmo dos acontecimentos (isocronia), como, por exemplo, na cena dialogada ;

- a um ritmo diferente (anisocronia), recorrendo ;


- ao resumo ou sumário (condensação dos acontecimentos) ;
- à elipse (omissão de acontecimentos) ;
- à pausa (interrupção da história para dar lugar a descrições ou divagações).

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5. O narrador

5.1. A presença :
• não-participante
Narrador heterodiegético.
• participante
Narrador autodiegético - personagem principal.
Narrador homodiegético - personagem secundária.

5.2. A Focalização / a ciência : ~


É a perspectiva adoptada pelo narrador em relação ao universo narrado.

• Focalização / visão omnisciente : colocado numa posição de transcendência, o narrador mostra


conhecer toda a história, manipula o tempo, devassa o interior das personagens.
(narrador > personagem)
• Focalização / visão interna : o narrador adopta o ponto de vista de uma ou mais personagens,
daí resultando uma diminuição ou restrição de conhecimento. (narrador = personagem)
• Focalização / visão externa : o conhecimento do narrador limita-se ao que é observável do
exterior. (narrador < personagem)

5.3. A posição :
• Objectivo - limita-se a narrar friamente os acontecimentos sem tomar posição.
• Subjectivo - narra os acontecimentos declarando ou sugerindo a sua posição.

6. O narratário

Entidade fictícia a quem o narrador se dirige de forma expressa ou táctica. Pode ser uma entidade
intrínseca à narração (narratário intradiegético) e, como tal, identificável no texto, ou um sujeito não
explicitamente mencionado (narratário extradiegético). Não se pode confundir com o leitor, tal
como não se pode confundir com o autor.

Comunicação narrativa

Discurso
Narrador → Mensagem → → Narratário
História

Competência
narrativa

O narrador, fonte de origem da comunicação narrativa, transmite uma mensagem (através do


seu discurso que recria a história) ao narratário, que, para entender, tem de estar na posse de uma
certa competência narrativa, em parte coincidente com a do narrador. Dessa competência
narrativa faz parte, por exemplo, entre outros códigos, a língua e os códigos narrativos (que
integram os conhecimentos acima explorados).

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