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1. INTRODUÇÃO
A desigualdade social é um problema histórico no Brasil. Desde seu Descobrimento, há mais de 500 anos, o
modelo de desenvolvimento adotado em nosso país tem privilegiado as elites econômicas. A própria
organização da colonização se iniciou com a criação das 14 Capitanias Hereditárias, em 1534, as quais
foram cedidas pelo governo português a investidores privados. Cada detentor de uma das Capitanias, por
sua vez, passava a ser dono de 20% do total do território da Capitania para si próprio. Assim se inicia a
desigualdade da Terra no Brasil, dando origem ao problema crônico que persiste até hoje.
Embora tenhamos tido uma pequena melhora na distribuição de renda da população brasileira com a
implementação do Plano Real e com a ampliação do Programa Bolsa Família, pelo Governo Lula, o quadro
de desigualdade social no Brasil permanece extremamente ruim. Os cientistas sociais costumam dizer, e
com razão, que o Brasil abriga ao mesmo tempo, traços de um país riquíssimo como os Estados Unidos,
convivendo também com Bolsões de Pobreza, semelhantes à África.
Toda essa desigualdade explica em grande parte os demais problemas sociais que tanto nos afetam:
violência, baixa educação, corrupção e etc. Mais do que apresentar os problemas, este texto se propõe a
demonstrar soluções já adotadas com sucesso em algumas regiões de nosso país, afinal a desigualdade é
um problema que terá que ser resolvido a qualquer custo pela sociedade brasileira.
Embora as estatísticas tenham apresentem algumas divergências, a faixa da população brasileira que
abrange os 50% mais pobres detém apenas cerca de 13% da total da renda, enquanto que a faixa dos 10%
mais ricos possui cerca de 47% da renda total (Fonte: IETS, Pnud 2005 e FGV). Outro fator dramático, é
que este quadro está praticamente inalterado nos últimos anos.
Esta situação se deve a uma série de motivos, dentre os quais podemos destacar:
- Modelo Econômico Brasileiro: desde meados dos anos 80, o Brasil tem adotado o chamado modelo
Neoliberal de desenvolvimento, o qual determina que o governo deve diminuir sua presença, através
de privatizações, redução do quadro de funcionários e controle dos gastos visando o pagamento
das dívidas interna e externa. A grande conseqüência da aplicação deste modelo é a redução dos
investimentos sociais em Educação, Saúde, Segurança, Moradia, em detrimento do pagamento das
dívidas do governo, além de um favorecimento da iniciativa privada.
- Programas Sociais Assistencialistas: o Governo Fernando Henrique Cardoso criou uma séria de
programas sociais que tinham como objetivo inicial combater a pobreza e reduzir a desigualdade
social no Brasil. Muitos destes programas, como por exemplo o Bolsa Escola, no qual a família
pobre recebe uma determinada quantia em dinheiro para manter suas crianças na escola, são
altamente inovadores, diante da insistência dos governos brasileiros em ignorar os problemas
ligados à desigualdade social. No Governo Lula, a maioria destes programas sociais foi unificado e
recebeu o nome de “Bolsa Família”, no qual cada família pobre recebe uma quantia mensal em
dinheiro (em torno de R$ 100 – valores de 2006), em troca do cumprimento de determinadas
- Falta de organização da Sociedade Civil: nos mais de 180 anos de independência do Brasil,
somente pouco mais de 40 foram passados sob regimes democráticos. Isso explica em parte a
cultura de não participação social do brasileiro. A Sociedade Civil praticamente só começou a se
organizar no sentido de lutar contra as desigualdades nos anos 80, com a criação do MST
(Movimento dos sem-terra) e do PT (Partido dos Trabalhadores), dentre outros movimentos
inicialmente vindos “do povo”. No entanto, a grande revolução da Sociedade Civil se deu com a
explosão na quantidade de Ong’s (Organizações não Governamentais), a partir dos anos 90. Em
função da falta de transparência de parte considerável destas entidades, e da falta de compromisso
do PT e do MST com suas propostas originárias, a Sociedade Civil volta a se encontrar
desarticulada no sentido de lutar contra as desigualdades e pressionar os governos por soluções.
100
1% mais rico
90
80
Porcentagem da renda apropriada
9% seguintes
70
60
50
40 40 % seguintes
30
20
10
50 % mais pobres
0
1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001
Anos
Fonte: IETS, a partir de tabulações especiais da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE) de 1981 a 2001.
Nota: Nos anos de 1991 , 1994 e 2000 a PNAD não foi a campo.
Embora tenha melhorado seus indicadores nas últimas décadas, o Brasil continua sendo um dos países
mais desiguais do mundo. Veja nos dois artigos que seguem os conceitos de IDH e índice Gini, além da
posição do Brasil no ranking da desigualdade em relação ao mundo:
07/09/2005 - 07h01
IDH sobe pouco e Brasil permanece na 63ª posição em ranking da ONU
PATRICIA ZIMMERMANN
CLARICE SPITZ
da Folha Online, em Brasília e SP
O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) subiu no Brasil em 2003, mas não foi suficiente
para elevar a posição brasileira no ranking de 177 países avaliados pelo PNUD (Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento). O índice reúne os indicadores de educação, esperança
de vida ao nascer e PIB per capita (por pessoa) dos países.
De acordo com o relatório das Nações Unidas referente ao primeiro ano do governo Lula, a
avaliação dos setores de saúde e educação no país melhorou, mas a renda per capita da
população caiu.
Com um IDH de 0,792 ponto, o Brasil ficou em 63º lugar no ranking, mantendo a mesma
posição do ano anterior em relação aos demais países.
O IDH para o ano de 2003 manteve o Brasil entre as nações com médio desenvolvimento
humano, abaixo de países como a Macedônia (59º lugar) e a Malásia (61º). Essa classificação
inclui todos os países com índices de 0,500 a 0,799.
Evolução
O relatório aponta para uma evolução constante no IDH do Brasil desde 1975. Apesar de ter sido
publicado pela primeira vez em 1990, o índice foi recalculado para os anos anteriores, a partir de
1975.
Na comparação entre 2002 e 2003, a expectativa de vida ao nascer no país passou de 70,2 anos
para 70,5 anos. A taxa de alfabetização se manteve em 88,4% e a taxa de matrícula (relação
entre a população em idade escolar e o número de matrículas no ensino fundamental, médio e
superior) subiu de 90% para 91%.
Já o PIB (Produto Interno Bruto) per capita, avaliado também sob o ponto de vista do poder de
compra, recuou 1,6%, passando de US$ 7.918 para US$ 7,790 de um ano para outro.
A explicação para esse desempenho, segundo ele, está no fraco crescimento da economia em
2003 (0,5%), na alta taxa de juros (passou de 25% sem descontar a inflação) e na forte
desvalorização do real frente ao dólar no período, quando a moeda americana chegou a custar
R$ 4.
07/09/2005 - 07h02
Brasil é oitavo país em desigualdade social, diz pesquisa
PATRICIA ZIMMERMANN
CLARICE SPITZ
da Folha Online, em Brasília e SP
O coeficiente de Gini varia de zero a 1,00. Zero significaria, hipoteticamente, que todos os
indivíduos teriam a mesma renda e 1,00, mostraria que apenas um indivíduo teria toda a renda
de uma sociedade.
O índice brasileiro foi de 0,593 em 2003, segundo o relatório do PNUD (Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento) sobre o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) em 177
países.
De acordo com o documento, no Brasil 46,9% da renda nacional concentram-se nas mãos dos
10% mais ricos. Já os 10% mais pobres ficam com apenas 0,7% da renda. Na Guatemala, por
exemplo, os 10% mais ricos ficam com 48,3% da renda nacional, enquanto na Namíbia, o país
com o pior coeficiente de desigualdade, os 10% mais ricos ficam com 64,5% da renda.
Economia
O documento destaca ainda que a desigualdade social pode travar a expansão econômica e
tornar mais difícil que os pobres sejam beneficiados pelo crescimento. "Altos níveis de
desigualdade de renda são ruins para o crescimento e enfraquecem a taxa em que o crescimento
se converte em redução de pobreza: eles reduzem o tamanho do bolo econômico e o tamanho
da fatia abocanhada pelos pobres", diz o relatório.
Segundo ele, os progressos não tem sido suficientes, e o relatório do PNUD servirá como um
alerta para a Assembléia Geral das Nações Unidas marcada para este mês. "Vai chamar a
atenção dos chefes de Estado para estes que são problemas do mundo", disse.
Segundo ele, a "extrema desigualdade" limita até mesmo a legitimidade política de alguns
governos, e deve ser objeto de políticas públicas específicas.
Simulação
Uma simulação do PNUD revela que o Brasil cairia 52 posições no ranking do IDH caso o índice
fosse calculado com base na renda dos 20% mais pobres e não no PIB (Produto Interno Bruto)
per capita. O país passaria, então da 63ª colocação para o 115º lugar entre os 177 países
avaliados. Esse resultado seria obtido mudando somente a variável renda, sem alterar os
indicadores de educação e longevidade.
O estudo revela ainda que a transferência de 5% da renda dos 20% mais ricos do país para os
mais pobres seria capaz de retirar 26 milhões de pessoas da linha da pobreza e reduzir a taxa de
pobreza de 22% para 7%.
Na avaliação do PNUD, segundo o relatório, para que as "Metas do Milênio" sejam atingidas é
preciso uma ampliação substancial da qualidade e quantidade de ajuda ao desenvolvimento,
além de bases mais justas para o comércio internacional e a redução de conflitos violentos entre
os povos.
Entre as chamadas "Metas do Milênio", estão a de reduzir pela metade, entre 1990 e 2015, tanto
a porcentagem de pessoas cujo rendimento é inferior a US$ 1 por dia quanto o percentual da
população que sofre de fome. Também fixa a meta de reduzir o índice de mortalidade de
crianças com menos de cinco anos em dois terços e o índice de mortalidade de mães, em três
quartos até 2015.
Nos últimos anos, com o aprofundamento do caos social brasileiro em função da desigualdade, tem se
aprofundado o debate sobre alternativas reais para resolver a desigualdade social no Brasil. De uma forma
geral, tem se chegado a um consenso em torno dos seguintes pontos:
- Revisão da política de pagamento de juros das dívidas interna e externa (em 2005 o Brasil pagou
cerca de R$ 180 bilhões em juros – o valor investido no programa Bolsa Família foi de R$ 11 bilhões
ou 6,1% deste valor), priorizando os investimentos sociais e não o pagamento das dívidas;
- Criação de programas sociais que contenham “portas de saída”, ou seja, mecanismos que ajudem
os pobres a deixarem de dependerem da ajuda governamental, como por exemplo a geração de
empregos e renda para tais famílias;
Atualidades / Daniel Santos 5
www.opensador.net
- Realização de reformas estruturais que possibilitariam o crescimento econômico com igualdade:
reforma agrária, tributária, política e previdenciária.