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Rios sem discurso Quando um rio corta, corta-se de vez o discurso-rio de gua que ele fazia; a gua se quebra

em pedaos, poos de gua, em gua paraltica. Em situao de poo, a gua equivale a uma palavra em situao dicionria: isolada, estanque no poo dela mesma, e porque assim estanque, estancada; e mais: porque assim estancada, muda, e muda porque com nenhuma comunica, porque cortou-se a sintaxe desse ro o fio de gua por que ele discorria. O curso de um rio, seu discurso-rio, chega raramente a se reatar de vez; um rio precisa de muito fio de gua para refazer o fio antigo que o fez. Salvo a grandiloqncia de uma cheia lhe impondo interina outra linguagem, um rio precisa de muita gua em fios para que todos os poos se enfrasem: se reatando, de um para outro poo, em frases curtas, ento frase e frase, at a sentena-rio do discurso nico em que se tem voz a seca ele combate. 1. Cortar apresenta o mesmo significado em suas duas ocorrncias no primeiro verso? Comente. 2. Comente a imagem "gua paraltica" (primeira estrofe, quarto verso). 3. O que a "situao dicionria" de uma palavra? (primeira estrofe, sexto verso). 4. Explique a relao entre a sintaxe do rio e a sintaxe das palavras. 5. Por que o texto chama de interina linguagem das cheias (segunda estrofe, sexto verso)? O texto afirma que o rio pode combater a seca se tiver voz (segunda estrofe, ltimo verso). Em que consiste a "voz" de um rio? 6. Curso, discurso e discorrer so palavras que mantm estreita ligao semntica e morfolgica. Explique. 7. Releia a segunda estrofe do poema e explique como se constitui o discurso-rio. 8. Qual a relao entre ele e os discursos que formamos com as palavras?

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