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I'X9FERIDO PELO Slt.

DEPUTADO

C. H. PINTO COELHO
NA DISGIISSÃO DO PROJECTO DE LEI

DE REFORMA 08 ENSINO
NAS S E S ~ U E S C-iJfARA I)Od 1)EPUTADOS
1),i

D e 14, 1ffS c 4 3 ale aiaaio de g S G a

LISBOA
TTI'OC~II-4PIIIA DA X A $ ~ O
Iiua da Eiicarnaçiio-20
-
1863
Sr. ..;~resi(letc,e-O discurso. com que o meti
illustre amigo, o sr. B<*iriio,ii;cctou cite debate,
foi divcrsurnentli interpretado, pelos dois nobres
oradores, que se Ilie seguiram.
O sr. Casal Xibeiro, relator d a maioria da
commissáo, julgoic vi.r nas palavras eloquentes
do meu iiobre amigo urna adliesuo completa 6
generalidade do projecto que se discute.
O sr. Ferre,., defendendo o parecer que fir-
moir, como minoria da commissão, iriterpretou
aquelle voto em sentido coiitrorio a ambos os pro-
jectos. e sustentou que ambas as frarçòes do com-
missào estavam ejiualmente obrigiidas a varre-
rem, conio S. ex." disse, n sua testada, e a res-
ponderem aos voliosoe argumentos do meu amigo.
Cumpre-me, sr. presidente, esclarecer r firmar
bem n nessa posiçno, para que ambos os illustres
deputados, n carnara. e o pair, saibam perfeita-
mente a opinião, que eu e os meas amigos po-
litieos seguiinos no ol~jcctoimportante que se dis-
cute ; e o modo, e o sentido, em que havemos de
.votar.
Sr. presidente. Examinando o projecto da
maioria, e o da minoria da commissùo, c compa-
rando-os ambos, o nosso desejo seria rejeitar um
e outro.
E se tivcssemos nesta casa uma forte iniciativa,
seria decerto esse o nos50 proceder, coneltiindo
por apresentar uma s u b s t i t u i ~ ~aoambos oli pro-
jectos, na qual consi;nassemos, clara e terminan-
temeote, os nossos principias sobre ;i questão.
Privados pori:m dessa iiiiciativa forte, e attendcndo
alkm d'isso a circumstar~cias ponderosas do rno-
mento, julghmos conveniente approvnr ria gene-
ralidade o menos mau dos dois prqjectos, e reser-
varmo-nos para lhe propor na discusião da erpe-
cialidúde as emendas, que podermos.
Ambos os projectos concordam em confirmar
e ampliar a ezclusào das ordens religiosas. I3 rins,
que lamentamos a e s t i n c ç ~ od'ellos, e desejamos
v4l-as readmittidas ; náo podiamos de nenhnm
modo acompariliur a comrnissno nesse voto de ex-
clusão.
Ambos clles concordam tamhem em escluir os
religiosos d o ensino oficial. E n6s jul-amos in-
conveniente, injusta, inconstitucional, irreligiosa
até, essa exclusão.
X a s o projecto da maioria da eonmissão phra.
ahi,emquanto que o do governo abraçado pela mi-
noria, es tende a esclusào ao ensino, e mesmo aos
serviçosl~ospitalarios,~re~tudos pelos corpos de mão
morta ; e conclue por um voto de confiança ao go-
verno, que, interpretado e explicado pelo sr. Fer-
rei- no seu voto em separado, significa a acção ir-
religi~sano seu maior auge.
E a6s, sr. presidente, não podiamos deixar de,.
neste ponto nos unirmos B maioria da commissão,
e de lhe prestarmos o auxilio dos nofsos votos,
afia d c irnpedirinos, se 6 possivel, n ampliaç8o do
mal,. q.ue reprovamos, e sobretutlo a concessão
de similhante voto d e confianca.
Ap~)rovmospois, na sua o pro-
jecto da maioria da commissio, não porque este-
jamos de acordo, corn clla, no que ella concede a o
goveriio ; mas porque queremos auxilial-a com o s
riossos votos, no que ella lhe nega, rio que ella lhe
recusa.
Estas 4 que si30 as nosras vistas-esta E que 6
a verdadeira significaçùo do nosso voto.

Definidas assim as posiçces - permitta-me


ainda a camara, que antes de entrar na diseussGo
do project3, responda a iirii convite, que nos di-
rigiu o sr. ministro da marinha.
S. e ~ pergiiiitou-nos,
. ~ se ri&, os realistas. na
alliança que, sobre esta questùo haviamos feito
com a opp~siç'loliberal, abdicámos todos, ou al-
guns dos nossos principios politicos ; e muito
especialmente o principio dynastico.
Ilesponderei a S. ex." que nao houve nesta ques-
tão, alliança nem t r a n ~ a c ~ i ialguma
o entre opar-
tido realista e a opposiçBo liberal. (Apoiado$).
Responder-lhe-hei mais qiie mantemos inta-
ctos todos os principios, que eonstitirem o nosso
credo politieo, sem excep~ãode nenhum ; de ne-
nham, repito eu, paro responder inteiramente no
convite, talvez pouco curiíil. de S. ex.'

E sabe o nobre ministro, porque motivo nós,


os realistas, nem sequer tentámos alliar-nos com
a opposiçáo iibernl nesta questào 4
Se o niio sabe, eu Ih'o digo.
Sabinmos dc antcrnõo, que u oppocifZo ri50 cs-
tava de acordo conlriorco eix principios ; inbiarnos
portanto, (pie aalliariqíi nao podia ir, seniío em
resultado de uma transac~90.
lilus, para nús, a tr:ins'ucr50 F licita, utE certo
ponto, ern qucilùes politica3 : rijo o i: eiii iluestihs
religiosas.
Il e3ta quest.io, sr. presiJente, diga-se o i!ue
se disser-e cu tieide demor~str;il-op!(.niirncnte-
6 uma questão muito mais religiosa, do qiie poli-
tica.
Vothmos com a opposiçno, quando se tratou de
eleger a commiss50, poriliic previmos, que O* ca-
valheiros. que a opposiçào indigi tava, pns toque
fossem muito mais adiante do que quererinmos,
não haviam de ir tào longe como o governo que-
ria.
Mas depois de eleitos, riem conferenciAmos com
elles ; nem procurhmos saber a s suas opiniòes:
nem de facto soubemos, qual era o seu parecer,
senao quando aqui se apre~eritou,e se leu.
E, o que previmos sitccedeu ; porque S. ex.'.,
permitta-se-me que o diga,nndaram menos errados
que o governo, mas andaram muito mais que o
suficiente para nunca nos podermos pôr de acor-
do nesta questzo.

Em politica, sr. presidente, as transaccóes são


licitas-repi to-o.
Deide o comcço das sociedades, que os povos
se agitam, e se debatem, na inveriçtio, na escglha,
no aperfeiçoamento das Ilirrnas, porque h8ode
ser governados.
E ao cabo de seculos de uma luta incessante,
encorniçeda, e sanguinosa, p6de dizer-se afoita-
mente 1150 harer principio politico, cjuc r150 seja
ainda ho,je fortemente çoritestado.
Nos vimos succeder i'i rcpul>lica o imlierio ; ao
imperio n tyrar~iiiabarl~ura; h tl rnrinia o feudaiis-
mo ; ao feudalismo n iiioiiarcliiii temperada ; de-
generar esta depois, e siicceder-llie a repnblica,
e n arlarchia ; da anarcl~iasurgir o imperio ; 3 0
imperio succeder a moiiiirciiiu legitima ; a esta a
rr;oiiarcliia constitucional ; ii moiiarcliia constitu-
cioiial succeder novamente o rcpublica ; no meio
dos excessos desta levantar-;e, nova e rcpcri ti na-
mente, o imperio; e quando viamos o irnperio
abençoedo pela propriedade e pela fumilia, que
eile resgatúra do abysrno, em qrie iam despenhal-as
o communismo e o sociali.smo, vimol-o tremer
e m suas bases, sobre as Eomhas de Orsiíii ; e vi-
mol-o jh depois ern risco de baquear, porque u m
simples erro em uma parte telegrapliica esteve
por rnomentos a fazer acclamar em um cmpo de
40:000 Iiomens o principio opposto.
Neste estado de duvida ; neste estado de
oscillaçDo e revolução continua e successiva, e m
que todos apregoamos o progresso das luses c da
civilisaçi30, mas em que sentimos todos tremer-
nos a terra debaixo dos pbs, sem segurgnça, sem
idkas fixas sobre ponto nenhum ; em que hoje
se acceita como melhor, aquelle mesmo principio
que ámanhá se repelle, como errado ou caduco ,
e que depois se acceita de riovo, apenas revesti-
do de formulas differentes - neste estado, digo
eu, Sr. presidente; neste estado, e nestes as-
sumptos, a transacção é licita em certos casos:
a tronsacçào pode mesmo ser rrecessaria.
Mas em Keligiiío, Sr. presidente, niío !
Em politica ha direito de seguir opiniùes
differentes ; e podem as differeotes parcialidades
transigir umas com as outras, porqiie L. a rnsáo
d e cada um quem Ilie dieta a sua :)olitica: e a
rasuu pode variar, pode enganar-se, pode errar.
Mas em religiao - não ha o meirno motivo
para a duvida. Nfio andamos ainda em busca da
verdade. A verdilde acliou-se jií. A verdade foi
dita- foi reveladii por De~is: e Dei19 náo enga-
na, nem podia enganar-se.
O que Deus disse i: a verdade : niirlii mais,
nada menos do que a verdade.
Sobre esse ponto nfio ha que discutir; náo ha
em que hesitar; niio ha sobre que transigir.
A Religiao revelada é a palavra d e Deus : e a
palavra Divina é a propria verdade.
Que duvidem ainda os povos riascidos fhra d o
seio, fbra da'luz do cutholicisino, compreheode-
se, e bem.
Mas nós, sr. presidente, que nascemos em
um paiz em qiie essa Religiào Snncta (! procla-
mada, desde seculos, como Keligi;io do Estado ;
q u e desde o berço fomos insiruidos e educados
nella ; que a comprehendemos, que a abraçamos,
que a professamos, em toda a extensa0 de seus
preceitos diviiios- nós declaramos, aberta, e so-
Iemnemente. que nos pontos definidos por essa
Religião nào duvidamos, não hesitamos, oào dis-
cutimos, não tranoigirnos, náo recuamos nem um
passo.

Eu bem sei, Sr. presidente, que nem para


todos a revelação poz fim 6 discussão.
Vimos discutir o christianismo no seu começo;
combatel-o, persegui\-o, martyrisal-o ate, e m
suas conquistas victoriosas ; e vemol-o hoje ain-
da guerreado, umas vezes abertamente, outras
hypocrita e solapadamente, mas sempre tenaz e
vigorosanien tt~.
Nem entrcu nunca ria5 vi.;tas d~ Redemi~tor
tollier ao$ liorneris a liberdridc de lhe ahra~nrern,
oii ti'?o, a verdade a u ~ u $ t ad a revelaç?~.
Prceiii lielo coiitrnrio q i i e muitos se perderiam
por IIi'a recclsarern ; c do alto do Golgotlia clio-
roti a sorte miseravel desses.
Chorando-os todavin.trntoii de premunir a sua
Egrejn, contra os erros e attentudos dos maus.
E para qiie u Religi.io çacrosarita 1120 podes-
se em neiihum tempo de::enerar, nem confiiodir-
se com as egrejas reprovadas ; dotou-a de um
caracterirtico, que compiitr, s(í e esalusivarnen-
te, á verdade - o cariictt:ristico da unidade.
A verdiide i: sci t~t112: C por isso tilidu s e r
sempre a niesrna. Os erros pelo coritrario miil-
tiplicam-se incessantemente, e variam de dia pa-
ra dia, de nnturesa, e de foi.ina.
Por isso I)e{rs, n3o contente com revelar-nos
a verdade da Religiao sancta. que professamos.
dotou-a ainda de um centro de toiidade, que em
todos 09 tempos, e m todas as epocas, inspirado
e amparado por o proprio Deus, 'separasse a
verdade dos erros, e a levantasse acima das du-
vidas dos tempos, e do embate das opiniòes.
Esse centro, sr. presidente, i! o primado de S.
Pedro.
iU es Petrus (disse Deus) et supcr hanc pe-
fram aedifieabo ecclesiam meam.

O Pontificado 6 por tanto n pedra angular do


cdificio divino.
Quem estiver com o Pontifice está com a Re-
1;giZo sarictu e rtrdudeirn; q u e m se separar del-
le, ceparou-se da Egr(3,ja revelada.
A[inrtarain-se de R d m n os erros de L u l l ~ e r o ,
dc Cal~ino,e de rnuitoç outros ; mas ri \crdade
ficou crn ISoiiia. O cciificio divino pcriiliinecem
iiit;;cto, irilraLaI;~vel, sobre a pedra aiigular do
Pon tilicitdo (iilioiados).
Ecpaiituei-vos clc que quando tudo muda :
quando tudo se agita : quando se enter~de q u e
todos podem tudo ; quando do alto d a triburia,
do alto da imprensa, do alto do governo se pro-
clama a ornnipoieneia yarlamentar ; o Pontifice
responda com um modesto -non posszo~ius-
hs exigencias da reforma !
E não vedes que nessa impotencin snncta está
o proprio caracteristico da verdade t
Niio vedes que para conservar intacta a ver-
dade da Religião sancta 6 que Deus lundoii o pon-
tificado ? !
Porque as constituições politicas tem saido
sempre defeituosas, e imperfeitas, das maos dos
homens, e de dia para dia demandam novas re-
formas ; pertendeir reformar tnmliem o Egreja
fundada, constituida, e revelada por Deus ! i>
Temerario arrojo ! Cegueira desmarcada !
Que tem de commum a intelligencia+do ho-
mcm, com s in telligencia divina 4 !
Igrioraes que a Religião revelada saiu loge
perfeita e completa de seu divino auctor ?!
Ignoraes que nos sagrados principios. que a
constituem, esta rcmedio para todas as eveiitua-
lidades, que as differenças dos temlios possam
suscitar ; e que a todas se pode, e deve occorrer
dentro da esphera dos mesmos principios, e sem
que a verdade deixè de ser urna sd, e immuta-
vel, como o seu proprio auctor? !
Ccirvae, serihores ; curvemo3 todos a cabeça
ante essa i!ilinu!crbilidnde divina, que t? esse o
caracter eipeciiil, ai~qiisto, inimitavel (ia Rcli-
giùo S n n c t u que profes~amos.
Quniitns seitas Icrn nascido do primeiro er-
r o ? Qiiaiiia s refurcins d d primeira reforma?
Qiiaritns rcbcllióei da primeira rebeilião?
EI sempre a mesma! E Roma sempre
abraçada com os principias augustos d a reveln-
cão sancln ! E [torna sempre acatada, sempre
venerada, e sempre obedecida, no seio mesmo
das revnliiçòcs e das machinações dos seus mais
declarados inimigos !
Doininado o cs;:ii.ito do seculo do desejo illi-
mitado da innoviii:ào, parece-llie mal q u e s6
Rorna fique sempre n mesma.
WJS nUo considera que 6 essecnracter immu-
tavcl, é essa unidade constante, que nos revela
a m;io de Deus na edificação sancta do templo
augusto, a qiie serve de base o Pontificado.

Lamento, Sr. presidente, que estas verdades


não tenham sido sempre acatadas na discrissão,
que rios occupo.
O i i v i ..., e nào scí ouvi, mas li, no relatorio
da minoria d a cornmisstlo frases inteiras q u e ex-
primem a negaçiío dellas.
Vejo que se perteiide indispnr-nos contra o
Pontifice, porque nào entrega aos revoluciona-
rios o poder temporal ; contra a curiu e o s car-
deaes, porqiir: silotentam o Soberano Pontifice
na sua negativa; contra os prelados portumue-
zes, porqiic sc ri20 separam do centro da unida-
n
ile cntholica: coritra cis parochos, porque se-
guem as pisadas dos seus prelados.
Pretendeis separar-nps do I'ontifice, da cu-
ria, dos prelados, e d o s paroc!ios ? Quereis in-
dispor-iiÓs com os miriistros da Religiào, q u e
professainos ? 0 i i qucreis pelo merios separar-
nos, a nós e a elles, d o centro d a unidade?
Se é isso o q u e qiiereis, permitti que vos di-
ga - niio sois catitolicos (sussiirro).
Esparitnes-vos ? Pois q u e ? Tendes vús o di-
reito de dizer que os que profcssain certas idéas
religiosas deixaram de ser libei-aes ; c não te-
nho e u direito de vos dizer que q u e m quer se-
parar-nos do Pontifice nos quer separar da Egre-
a Cutliolica; e que qiicm trabalha nessa sepa-
ração deixou d e ser catliolico? !
O que, 6 o Ciitholicismo, senão a união da
Egreja Sancta com o Summo Pontifice ?
Obde fica esqa uriiao, quaiido se siisiita o
ciurne, u rivalidade, e o antagonisnio, em vez
do amor, rerpei to, e obedienciu ao PUCcommum
dss fieis?

Falla-se ria revoluçSo itaiiaria, e leio no rela-


torio do Sr. F e r r c r que Portusal se acha liga-
do a esse faclo por latos estreitos de amisade
e fralernidade de priscipios e scittimcntos politi-
COS.
Q u e o illustre deputado o diga em seu nome,
não posso tolher-lii'o : lamento-o apeiios.
Que o diga em rioine deste reino fidelissirno
de Portugal. contra isso é que eu me levanto,
com toda a força e energia da minha convicçào
e d a rniniia palavra.
Nego-lh'o como catholico.
Nego-lho como portuguez.
Nego-lh'o como hoinem de sentimentos mo-
derados e liumanos.
Sob o aspecto reiifiioio, sabe a c a m a r a o que
t5 a revolriyão da Itiilia ?
Eu vou f~rovar-llio,com as ]troprias palavras
e esçripti,s dos priricipncs c n i i d i l h ~ sdesse acon-
tecimenlo iielusto, que i, a guerra viva c dccla-
rada ao cctthol!'ci?;rno.
Escollieil-sc pura prctcxto dcssa guerra o po-
der temporal do Papa.
Mas quereis saber c o m que fins, e com qiie
intuitos se faz cssl i t t t i n i n ~ a o ao Srtncto Padre?
Esses Tios di5se-os jh 17rcdt)ricc o Grande, em
uma carta a Ióltnire, iiu seciilo passado.
Permitti qiic vos leiir as propriiis palavras
delle, não crn l'rariccz corno as t c ~ i l i odeante de
mim, mas ~ r a t l i ~ z i d nfielmente.
s
«Ye)inur-se-hn, (li/ ellc, n a fncil co~igi~ista dos
aEstndos do Pnpa: e conseyuidc~ ellít, o P A L -
nLIu,lí é nosso e a scma acabou. Cotiko é pro-
nvavel que ncriltzon dos potentados da Europa
«queira reconhecer una Vigario de Christo subdi-
ato de outro soberano, todos qucrerào um pa-
atriarcha para o seu proprio Estado .... Lf>oucoa
((pouco, cada uni se afastarú tln U ~ V I D A D E da
«Egreja, e acabará por ter no reino respectivo
«uma religiào, do mesmo modo que uma lin-
«gua Ú parte.^
Caminhemos um pouco mais para a epoeha
em que vivemos.
Quereis saber o que Nupolcuo, o Grande, es-
crevia ao directorio no anno S."?
Ouvi :
n;l minha opinião, dizin elle, e que Roma,
nprivada q u e seja de Bolonha, de Ferrara, e
«da Rojnanha, e dos trinta aiilliòes, que tiús
ulhe tiramos, ncio pode subsszstir : a aellra ma-
«c/tina desaòaru de per s i ( s e détraqueru toute
aseule). »
Um auctor que tenho deante dos ollios, truii-
screvendo este trecho, accrcscentri: « O Pon-
atifice ainda está e m Roma ; e o desastroso iln-
uperio de Donaparte con~luziua França a IVa-
.
w t erloo)~
Eu nccrescen ta rei que Bonclparte pòdc clia-
m a r velha í i macliinn sanctn d o Poritificado ; mas
os factos provaram-lhe que essa riiacliina, se es-
tava velhn, liem porisso estava enuelliecida.
O imperio desabou : mas a rnaelii~~a ficou.
O imperio desabou, porque era crcaçno do
homem,e fructo da ambição e do erro: rnas a
a m a c h i n a ficou porque foi forjada pela mao de
Deus; porque é a propria virtude, e pa!evra di-
vina.
O imperio desabou, como tem desabado e
hãode desabar ate B consummação dos scciilos
todos os potentados por mais fortes que se os-
tentem. que ousem levantar sacrilegu mno con-
tra a Pedra fundamental , d a Egreja divina.
Mas continuemos :
Duvidnes se a revoluçz~italiana representar5
hoje fielrnrrite as idúiis de fiederico o Grande,
e ,Vopuleito 19
Ouvi ,il.fazsirri. Etn 1860 escrevia elle :
« A aboliçíio do poder temporal significa para
dodos os que coinprehendcm a fundo o segredo da
uaucforidade papal, a ema~icipaçùodo ge~rerohu-
a matzo do poder espiritual. a
Notae bem, scrihoreu. NBo 6 a emoncipaçi!~
-do genero humano de um poder civil, que os
revolucionarios figuram manos livre, menos con-
verliente uos.intererses dos povos : 6 a ex tinc-
çõo do poder espiritual.
E nào é só a destruição do poder espiritual
do Pontifice : é a destruiçào de todo e qiialquer
poder espiritual.
E o sentido comprehende-se bem.
Ataca-se o poder temporal do Papa para o
impedir de exercer o seu podei espiritual.
E impedido este, e destruido o catholicisrno,
uoiea Religieo prornulgada e amparada por Deus,
o resto é facil de combater e destruir.
São erros. filhos da ignorancia, da ambiçao,
ou da rebelli80, que o demonio inventou, c que
o proprio demonio des troe.
E a revoluçào pensa que n8o pode haver com-
pleta liberdade, emquanto o freio religioso Ili'a
limitar e colirctdr.
A laca o catliolicismo como Religi;io ~ ) o : * P s c ~ ! -
lencia : mas ataca no fundo toda e qualquer reli-
gião.
E' por isso que, atacando o poder temporal
do Papa, pensa, e pensa bem, atacar todo e
qualquer poder espiritual.
Duvidaes ainda ? Repugna-vos a franqueza re-
volucionaria de Mozzini, e preferi3 ouvir Gsri-
balài ?
Eu vou ler-vos as opiniòes delle.
Em uma carta dirigida por elle, em 10 de
maio de 1861, t~sociedade uni taria de Palermo,
diz elle :
«Considerando que Christo, pelo facto de con-
«sagrar sobre a terra a eguaklnde entre os ho-
uniens e os povos, feZ jus ao nosso reconheci-
«mento e a m o r - ~ ó s SOMOS os RELIGLZO DE CTIRIS-
« TO.
aConsiderando que o P a p , os cardeaer, os
nos Sanfédistas, todos os rnercenarios da lialia
ue os espiões reunidos em Roinn, são o obdaculo
uprincipal u unificaçiio da Itulia, proeocundo e
s so.,ros DA
«alimentando a guerra c i ~ i l - ~ ~ - d~7'-.io
«RELIGIÃO DO PAP,i.
x E p o r virtude destas cossideraçòes, nós de-
«claravios e queremos :
Art. unico. Que o Papa , os cnrdenes, etc.
mudem imniediatainoite de poiso, e vüo p a r a o
mais longe posaivel da ltul ia, deixaiado que esta
desgruçada naçùo i t u l i a s a , que elles iorturam
ha seculos, se constiiua definitivamenle. n
N6s somos da Religião de Christo: mas não
somos da Keligino do Papa.
Nós somos da Religião de Christo, n50 por-
que essa Religião seja a unica Ileligiiio saucta e
verdadeira ; mas porque um dos principios dclla
proclama a egualdade entre os homens e os po-
vos ;e esse principio, serve depois d e desfigura-
do e isolado, aos nossos intuitos ambiciosos e des-
truidores.
Não somos da Religião do Papa, porque o Pa-
pa significa todo o edificio catholico, tal qual
saiu das mãos de Deus ; toda a verdade da Re-
lig-iao, no seu estado completo e puro ; significa o
principio que agora nos serve, e os principios
que nos n8o setvem; significa a liberdade, mas
a liberdade regrada e sancta ; e n6s nao quere-
mos isso tudo : queremos a unificaçso da Italia,
firmada na aboliçáo de todo o vinculo,. de todo
o freio .. . .. que nao vier de nós, e que não
for imposto por nós.
E para esse fim decretamos e queremos que o
Papo e os sanfedistas nos deixem, por uma vez,
constituir e organisar, sem eIIes, este pobre rei-
no da Italiri.
Quereis mais 1 Ouvi aicda,
1 7 -
Em S de maio de iS61 escre~ia Garibnfdi á
associação operaria de Napoles:
«Nós dcrelnos ser ~ O I L chrisliios;
S ?)tascomi~~et-
a teriamos um sacrilegio, sc prcsistissinaos na reli-
ngi2o dos padres de Roina.
nSito elles os 11iai.s ferozes i~titnigosda ftnliú.
d'c~itrelodos os mais temiueis.
~ ~ F ú pois r a com esta seita contagiosa e perver-
asa !
« . i i d s quereinos que os nossos sacerdotes srjam
« christiios; mas nùo da religiùo dos nossos ini-
«migos.
« O Rei Galantuomo por todo o preço. JWallas
((fura com as viboras da cidade eterria, porque
a coin e!las a unidade italia~zaé iliipossivel.
Nesta carta ainda Gai-ibnitli queria os sacerJo-
tes, comtanto que nùo fossem da religiao de
I i o ma.
K'outra porFm a sua intençào descobre-se me-
lhor, e o seu odio religioso leva-o a proscrever to-
do e qualquer padre.
É na proclamação aos jovens estudantes d s
Pavia, que elle diz o seguinte:
Todo o homem nascido sobre esta terra deve-
«ria lançar mào dasproprias pedras das calça-
...
s das e vingar nos miseraveis hypocritas de so-
aluina preta, raça maldita, as desgraças, as iri-
ajudas, os soflimtntos devinte gerações passa-
a &«&ias
,. um inimigo tcrrivel existe altida,..o mais
«t omivel.
a Temiwel ...
porque eslá disseininado por entre
nas niassns ignorantes, eni que elle doinisa po-
«lu mentira.
n Temiael, porqlae está sacrileqatno~tteco5o.to
aeom o niaato da rellgicio.
2
« Tenlivel, porque vos sorri c o m o sorriso de Sa-
'cctanaz; e se melte, corno a serpente, quando Quer
«morder.
E este i n i ~ ~ i i tctrivel
go ... e tfio temiucl ... é o sn-
ccerdote, é o p a d r e , sob q u a l q u e r forma que ellc
«se apresente !
Sr. residente ...Aqui tem v. ex.", aqui tem a
€amara, aqui tem o paiz, o que 6 a revolução ita-
liano sob u a ~ p e c t oreligioso.
O podcr temporal do P a p a i:o pretexto: opo-
der espiritual 6 o verdatleiro alvo a qiie se diri-
gem os tiros da revoluç~o.
Atacam o Pontifice, ataca rn a criria, e, descen-
do por todos o s gráos da Iiicrarchia ecclesiastica,
proscrevem o padre, sob qualquer forma q u e elle
se apresente.
Dizem-si! ehristfios, para illudir os incautos: e
cospem injurias indecentes s o l ~ r ca fece dos mi-
nistros de Cliristo.
Procuram iudispor-rios contra elles, porque sa-
bem que nao Iiu religiáo sem culto; nem culto.
sem ministros; e que desucreditando e proscreveii-
do os ministros, desacreditam e proscrevem a Re-
ligião.
E tudo, já se sabe, a sombra da liberdade. e
para qiie n liberdade triuinphe, e porque a liber-
dgde, como elles a entendem, É incompa~ive1com
a Religiào, e com os s c p ministros.
i$a esio id6a falsa (]:I liberdade entendem que
pode, e deve sacrificar-se tudo.
Amemos, disse o sr. ministro da marinha, ame-
mos o Deus de nossos paes, a religião d e nossos
maiares: mas amemos ainda mais a liberdade.
O sr. ministro da marinha-c~njuncta mente.
O O,+ador-Ainda mais-disse Y. ex."; invo-
co n testimuiilio de 300 pessoas, que lll'o onviram
táo claramente como eu.
S e v . el.qtem coragem para dizer palavras~i-
millinntef, tenlin coragem para as sustentar (apoia-
dos).
AiihJa i i i a i s a liberdade foi o que todos ouvi-
ram.
Eu ponho a questiío religioso sempre acima da
questào politica ...
O sr. ministro da marinlm - O illustre de-
putado db-me licenya?
O Br*ndor-Sim senhor.
O sr. r>,iiri,stro d a marittha-Eu protesto SO-
lemnerneiite periirite esta cnrniira toda, e p e r n n te
o pais, contra n interpretaçâo atroz, que o iiius-
tre dcpiitado dii : ~ srniriiias palavras.
O Ornclor -Se ha iiiteryretaçno, e ella 6 má,
tem direito de a rectificar.
O sr. ministro da tnarinha -Queria dizer-
ainda; conjunclamcntc: nao queria dizer que
amava a liberdade mais do que a Religião.
Dada esta explicação o illustre deputado pode
continuar.
O Orador - Estimo e ncceito a rectificação;
mas siri to que seja preciso faze!-a do banco d o s
minLtroi, oiide as palavras deviam Fer, mormen-
te em clucstòcs desta ordem, t e ~pensadas, e tùo
pesadus qiie iiào carecessem de rectificuçõcs.
At!ihilti o illustre ministro n explicar-se por-
qne eu, rcaccionnrio, e parlidario decidido d a s
idba; n r; tigas, n5o professo a liberíladc do Sr. Jo-
sé E.S.>I{JCGO que a uma iriterrup~no, qrte lhe diri-
gi, com totlu a ~lelieadcsa, mi: respondeu, com o
cntono dc trii)iirio descabellado: sente-se-sente-se,
que lk'o m«il(lo cu: não lhe eonsilito senilo qcte
Inc vica, e qtre tit'escute.
O s liberacs da rriinoria da commiss~oS ~ tissim.
O
Liberdade por fora: despotismo por dentro.
Quando o illustre deputado antes de lariçar a
m8o ao poder rios quer fazer j h emmudecer; qurn-
do ainda a força publica não está B sua dieposi-
cão, nos riianda jb calar, e nem consente sequcr
que expliqiiemos um facto que S. ex.qinterpre-
tou mal; veja a cnmara, e veja o paii! o que de-
vemos esperar que faça o governo, se o voto d e
confiança passar-o governo, que toma por con-
selheiro e defensor nato o illustre deputado!
N'esta discrissão, como em todas, o illustre de-
putado tem interrompido todos os oradore9;iem fal-
lado sempre.
Cornmentn e auxilia, com cis seus ópartes, os
amigos: interrompe, e contradiz a cada passo os
contrarios (apoiados).
E nós consentimos-lh'o: consentimos-lh'o to-
dos; eu mesmo, apesar do exemplo, que me deu, e
que eu n3o atccito se me elle iriterromper; s e
com delicadesu, como eu o fiz, me pedir que lhe
deixe explicar uma phrase ou um facto qualquer,
hei de consentir-lh'o (apoiados).
O sr. JoséZslev60:- Se quer que raça isso ji,
faço tudo.
O Orador- Mas isso que elle faz, que n6s to-
dos lhe consentimos, entende elle qne é direito
36 delle, porque a liberdade que hoje se apregoa
é assim: libertlade para n6s; e liberdade para
mais ninguem.
Pois nùo ouviram ainda agora o decreto de Gn-
ribnldi? O illustre deputado se chegasse ao poder
decretava como elle (riso.)
Chegou um momento em que o Papa, os car-
deoes, os padres todos se lembraram de pensar
de um modo diverso delle.
l ) e r r c t o i ~ . Artigo iinico. Ordenamos que o Pa-
pa, ~ I I cardeaes
~ S e os sanfedistus miitlem im-
mediat:iiiiri~tc de poiso, e v30 para 1oi;çt: da Ita-
lia (riso!.
0,iliii\ires deputados riem? E u tarubem me
rl.
:;o inc ri da questiio em si, porque ellu 6, a
tod,:q 0s respeitos, çraride, immensa, irn;jortantis-
si~nn.
Ki-rnc destes microscopicos estadistns.qiie quan-
do che;;lrn n lançar a rnùo á vara do ~ o r l c r ,se em-
hl-i +l;iliii cwin elle nt6 ao poNo d'imagirinrem que
rr urn só aceno dclles tremerá o ceu, e a terra!
Ri-me desses onòes da liberdade, quc sú a in-
V O C ~ + I ~liílra
I empolgar o mando; e que, !ngo que o
conqt~istilm, deixam Iêr Bs claras no seu corii~ão,
qiic o que realmente tinham nelle, era o despo-
tismo feroz de Narat e de Robespierrc.
Ili-me da fatuidade com que esse aventiireiro
se pw.~uadiade que um decreto. redigido crr. ter-
mos facetos, e estylo baixo e ridiculo, era SUE-
cienio para expulsar e abolir do solo da Italia
a Iteligi~oSancta e verdadeira, e os seus minis-
tros!!!
13sse decreto inqualificnvcl resume as aspira-
cães dqrevoluy80 italiana sob o aspecto religio-
so.
De futuro-nenhuma Religiao.
Por agora-abaixo .
o eatholicitmo
Para o protestantismo-liberdode completa e
...
prot-crGo decidida por agora, para que nos zu-
d i e a derribsr o catholicismn!
a r a i s tarde, nem mesmo o protestantismo!
E de facto. sr. presidente, ao posso que os
mini.tr-05 da Religião Sancta s ~ notrozmon te per-
.seguidos nesse chamado reino da Italia: sao elo-
giados, protegidos, e auxiliados os exrorços da
propaganda protestante.
Ainda no anrio passado Sir Cullitig-Eardley,
presidente da sociedade protestairte deiiominada Al-
liatjça E'va~zgelica,agradecia a Guribnlili os seus
serriços. e Itie mandava de presente urnii biblia-
poliglota.
E e3se ca i dillio respondeu-lhe, nnim;i!ido-o e
exhortaiido-o, com a esperança de resiiitndo.
« A grande maioria dopono italiano (diz elle)
ase não é protestante de nonte, é-o contrudo de
facto.
« Pertsuada-se v. que os italianos siio ;)arzito
1

nmenos papistas do que se iimagina..r


O povo da Italia está hoje desmentiodo a asser-
ção ousada de Garibaldi, como eu estou aqui des-
mentindo a asçerção do relatorio do sr. Ferrer
&cerco do povo fidelissimo de Portugal.
Mas, sr. presidente, ii mister que cornprclienda-
mos todos; que toda a camorn, que o paiz saiba
todo, o que significa a revolução italiana sob
o ponto de vista religioso ; para que, de uma vez
por todas deixe de se invocar aqui, como modelo,
esse acontecimento lamen thvel.
O poder temporal do Papa n8o 4 ponto de do-
gma. Ainda ha pouco o Summo Pontifice o decla-
rou urbi et orbi.
Mas o eatholicismo não comprehende só a par-
t e dogmatica da Keligiáo :. comprehende tam-
bem a parte disciplioar da Egreja.
E o poder temporal está declarado pela dtki-
?lina dá Egreja, neeessario á independencia e li-
berdade de acçóo do Summo Pontifice.
Nem a revoluçào o ataca, senào com o fim,
por ella propria declarado e muiiiiestado, de des-
truir, impossibilitar e abolir o poder espiritual.
-24-
(O orador foi c ~ r n ~ r i m e i i t a dpor
o muitos sc-
nhores deputodos dos diversos Isdos da c a n r r a ) .

SESSAO DE 16 DE MAIO

Sr. presidenle- Eu disse antes de hontem


que considerava o projecto em discussiío muito
mais importante pelo lado religioso, do que pelo
lado poli tico.
E porque o proprio illustre signatario do voto
em separado alliava esse projecto com um succes-
so importante, a que a Europa tem assistido, es-
pantada. e como que envergonhada e confuso ;
tratei dc avaliar esse successo, Fura que a upre-
ciaçáo d'elle me desse luz na disciissão.
Dissc que, corno catl~olico, nao podia deixar
de indignar-me ao ver escripto, como rotulo,
como idéa capital e dominante desse scto revolii-
cionario, a heresia conti*n a palavra Divina : o
prokeutantismo contra o catholicismo ; o indiffo-
reritisrno, e o atheismo.
Mostrei,como documentos irrecusavcis,qire a in-
tirnoçào no Summo Pontifice para qiie 1ar;;asse
o poder temporal, nào significava uma pertciiqno
de hoje, mas pertencáo muito mais antiga.
E mostrei, pelos proprios escriptos dos propu-
gnnùores, aiitigos e modernos dessa i&a, que o
fim a que elles se propõem com a aboliçuo do
poder temporal, 6, nem mais nem inenos do que
a abolir.òo do poder espiritual.
Disse-o Frederico o Grande, e m carta a Vol-
tairc : repi tiu-o Napoleùo,escrevendo no directo-
r i o : apregoam-no, c proclamam-no hoje, aberta
e ousadarnen te, ;Ilazzitzi e Garibaldi.
H o j e sr. presidente, e ar~tesde passar adiuritc,
permitta-me a camara que, e m apoio d'esta rni-
nhn apreciacào, Jtie leia a i palavras eloquentes
de um grande escriptor.
Fallo de Guizot. Na sua obra intitulada -
L'Eglise et lu Sociefé Cltreriénrae-diz elle :
a A u~ailio do pode^ e s p i ~ i t u a le do poder tem-
~ p o l * a 2do Papa ndo tena sido zcnz fucto spstcma-
aticamente procurado e co~asegz~icloem 92on2e de
« 2tva 27rUacipio ~acio?zal, ou de qcn2a yertelzgüo
.
a ambiciosa. .
a F o i a necessidade, uma nccessiclnde intima e
ucolztkua, que cerdacleirn~nentep ~ o d u z i u , C tem
amantido ~ s t facto,
e atracez cle toda n sorte de
aobstaculos ...
a A s possess8es e o gsaerqo wieram a o Papa
acomo unz appendice natural, e zlln apoio qlecss-
asario ds sua grande situagão ~ e i i g k s a ,e á me-
a d i d a que esta s i t u a ~ ã ese desenuoluia.
.As doações d e Pepino e cle Carlos Jf'gno fo-
aTam apenas incidentes impo~tnntesd7este dcselz-
avoll;Êmento, a o mesmo tempo espivituul c tcnapo-
.pai, começado de Zanga data, e fuuo~*ecidoegual-
razénte pelos Uisth2ctcjs dos povos e fuuores dos
«reis.
u Foi tornando-se Chefe da Egreja, e pulga o
aser realnlente, que o Papa se ~ O I - I Z O Z Lsoberano
a de tini Estado.
a Produzida assim pelo curso natriral das coi-
cscrs, e yéla forca das sitzlacu"es, a uni20 dos doi8
apoderes no Papcl ; ceizc essa '1t12iÜoa produzir
um o u t ~ oresultado, tão natural, conio in~previs-
ato ; e foi O de separar e dividir esses dois po-
aderes em todos os demais Estados.
-a6 PRECISO, disse com grande ~ w ü Mr. o
a Oclillon Barrot na assemlléa legislatira, 1; PRE-
aCISO QUE OS DOIS PODERES ESTEJAM CONFUNDI-
aDOS NOS ESTADOS HOMAKOS PARA QUE ESTEJAM
aSEPARADOS NO RESTO DO MUNDO.-
aBastantes seculos antes de OcíiElon Barrot, O
ainstincto das sociedades christcls, e o interesse
cgeral da civil isação europeu tifil~amdito jci este
-k PRECISO. -
aComo soberano tempo~alo Papa ~zcFo é temi-
uvel para nhzguena; mas a sua soberania da.lhe
auma @caz garantia da sua i?~dependencia,ce da
usua aucto~idade9noral : s o egual dos reis em
rd.ignidade, sena ser rival d'etles no poder tem-
upo~*al,pdde assim defender em toda a parte a
edignidade e os direitos da ordenz espiritwd,
ave~dadezi*afonte, e verdadeira base do sezc po-
u der. D

Sr. presidente. Para Guisot a uaião do poder


temporal com o poder espiritual nos Estados
Pontifieios tem a mesma signilicaçào que tinha
já, no seculo passado, para Frederico, o-Grande.
Essa uniiro e precisa, nos Estados PontiTicios,
para assegurar ao Siimmo Pontifie a sua inde-
pendencia e liberdade.
É preci~a,nos outros Estados, para qiic! estes
possam su'3jvitnr-se ao poder espiritual do Poiiti-
fice, scm se siibjeitarem a nenhum poder cjtra-
nho.
Privado o Papa da sua soberania temporal, c
reduzido h condiçùo de subdito de ?ualquer rei
não sb a sua dignidade moral soffrerá nas rela-'
çùes diplomaticas com os outros pnizes; iniis pro-
curar-se-hia minar a obedieocia ao poder espi-
ritual da Egreja, excitando o ciiime e a rivali-
dade com o paiz, de que o Papa fosse subdito.
Nem o poder tcniporal d'elle se guerreou nun-
ca, ou se guerrGri hoje com outras vistas, com
outros intuitos.
O fim na0 6 a ZiEcrclads: o fim 6 a dcstrui-
qão do catliolicismo.
Aqui mesmo, sr. presidente, tenho ouvido já
dizer, que não precisamos de entender-nos com
o Summo Pontifice sobre ncgocios que respeitem
d Egreja.
Tem-se dito, que siibjeitarrnos a nossa delibe-
racáo ao que se acordar com a Sancta Sé em si-
milhnntes aasilrnptos, a pòr o governo do reino
na dependenciii de u m governo extrangeiro.
E se essas i&os se espallinm, e se apreguam
quando o podèr temporal de Roma, por sua pe-
quenez material, nem de pretexto p6de servir a
esse falso zblo da iiidependencia nacional ; irna-
gine a eamarn o que se diria se o Sancto Podre
fosse subdito de iima nação poderosa, e nessa po-
sipáo governasse a Egreja:
O pontificado nilo morria, porque n30 Iia-de
morrer nunca. Opontificado é a Egreje, e contra
a Egrpja, disse Deus, lima r c z por todas, que nunca
o geiiio do mal hníia de prevalecer.
Mas a sua a c ~ z ohavia de encontrar serios es-
torvo$ e obstaculos ; e a esse alvo se dirigem as
p e r t e i ~ ~ õ edas revoluçào.
11e0 6 só da revolu~ãoitaliana : é tarnbem
dti d è ca.
Oquesignifica o desejo consignado no voto em
separado de ver governar a cliiimada Egreja LU-
sitana sem dependenia da Curio Romana ?
Pois os prelados náo teem obrigação rigorosa
d e estar tinidos, em tudo e por tudo, com o Vi-
gnrio de Christo, do mesmo modo que os paro-
ehos com o seu prelado, e os fieis com o seu pa-
rocho ?
Para que se trata de quobrar esta cadeia ou
de tornar lassos os 610s que a constituem, ren3o
para ir afastando os licis pouco a pouco do centro
da unidade da Egreja P
E riso tenho eu motivo para assustar-me,
quando vejo espressòes d'esta ordem, não j h pro-
feridas no calor da di'cussào, seriao ewriptns no
remanso. no sileiicio, no socego meditado do gu-
binetc ?
Diz-se que se pertendc libertar a Egreja do
poder temporal. para constituir o que o ministro
Cavour chamou « Egreja- livre no Eslado livre. »
A esse respeito permitta-me a camara que eu
lhe leia algumas palavras de Guisot, no opus-
culo citado.
a Quer-se privar, diz elle, o chefe espirit.zca2
ada E y e j n Cat7~oZicrcde una caracter e de unza
asituaq.20 que ella olha, ha secuulos, conw gnran-
.tia da aba iiidepe~zclelzcia,e yertende-se que nem
rpo' isso se puer suscitar di#culclaáes ao ca-
a tholicz'smo ou mzit ilal-o.
-29-
aAindn mais :sttstenta-se yibe a Z p - e j n Ccltho-
e a l i ç w ;e so' agora 0 2.ae ser-
alicn ~ ~ u n foi
a A EGaEJa LIVRE 6 o principio yzte se prbcza-
orna eei Ilonle do Estado, IZO proprio mollzento
cenl pzlc o Estudo n w e h t a d Egreja a sua
.crco~zstititi~Zo
e a succ casa.
n Eu 12C0 210~~0 sztppor, ecz um 7zon2em eeq*da-
n deiralilente szlyerior, pbma hypowT"k c p i e a e
airrisoria: cldmitto, como' o disse Mr. de Cnvozbr,
ae o attestam os seus nnzigos, que eZZe quiz dizer,
ae julgou realn2elite dizer urna coisa s B ~ i n ,quan-
ado tomozc por programmn da sita 23olitica a
crmaxinzu da EGREJX LIVRE NA PALEIA LIVRE.^
a Xe, trabaZhn?zrio pa7* co~zpz~istare constitlci~o
crei22o da Aaliu, ellt3 ss limitasse, como se 1im.i-
«tn~nnzos cZicersos Estados Ujaiclos dcb repu blica
ccamerica~tu n promnzc&tj* a absolztta separagão
cdo Estado z da Egreja ; dhixando a %reja
a Catlzolica como a achou, e enz posse dus suas
aantigas instituições; da*. de Cacour teria algum
adireito de fallar assim.
aProclamar po?*érn a liberdade d a Egreja Cu-
ntholica no proprio momento em pue, contra von-
atade della, se lhe entra em casa, para lhe urre-
aõatnr as suas possess0es, para lhe escarnecer as
asuas t~~adi@es, e derriba^-lhe os seus fundamen-
atas, 6 u m facto de tal orden2 qrce e u não conhe
apo na histol-ia exemplo algum tão frisante da
aZevia~2dnáepresumida e ty~a12nica, a pw e s t ü ~
asdjeitos os espiritos mais eminentes, quando ae
aaha12doaai1a ao enthusiasmo da ambição e da,
u boa fortz~nu.n

Sr. presidente. Nao 4 possivel pintar -com mais


delicadeza, nem com mais verdade a Iigpucrisia
re~olucionaria.
nA Egreja livre no Estado livre foi a formula
pulitica e diplomatica, de que o conde de Cavour
revestiu ns pertençòes francas e declaradas de
Mazzini e Garbaldi, quando as perfiihiou e 0%-
cialmente as fez suas.
A formula E diversa, porque nas regiòes di-
plornaticas nunca se chama ás coisas pelo seu
nurne : mas a essencia é a mesma.
Despojemos a Egreja para a tornarmos li-
.
vre !. .
Nos ducados disse-se : despojemos os duqiies,
para libertarmos os durados.
Mas agora o paradoxo B mais cynico ainda :
d~spojemosa Egreja para .libertarmos o Egreja !
Mas libertol-a de que? Libertul-a do que ella
tem, e nbs queremos para 1-16s.
Libertal-a da indepeodencia, da dignidade-e
da proprio força da sua .acçuo, que nos faz mal,
6 que nós náo queremos que ella tenha.
E' esta a liberdade que o governo, que a mi-
noria da commissão quer para a Egreja ?
Pois 4 essa exactamerite u que nenlium catho-
lko podequerer : 6 essa a que eu como catholii
c* solemnemente rejeito.

Se como catholico, sr. presidente, detesto i~


~evoluçâoitaliana; tambem,. como por tuguez, md
irnpossivel sympatliisar com ella.
O principio fundar~ental que regula os dere-
res dos Iiomens, e os das naçòes, entre si, 6 que
ninguem tem direito de fazer ou desejar aos cnr-
tros o que náo quer para si.
E por que eu não quero que em tempo ne-
alium, e por nenhiim principio, se faça a Por-
tugal*o que acaba de fazer-se aos ducadou, ao
reino de Napoles, e a parte dos Estados Pontifi-
cios, 6 que eu, como p o r t ~ g ~ en3io
z , posso sympa-
thisar com o reino de Italh.
A nacionalidade de um puiz esth ligada com
a propria dignidade do homem, porque envolve e
resume em si o direito de propriedade, o da fa-
milia, o da sociedade, e o da independencia.
Mas se nbs queremos que este direito se reg-
peite em n65, porque principio havemos de ap-
plaudir quem o não respeita nos outros?
Com que titulo foi o Piemonte apossar--se de
Parma. d e Wodena, de Florença, de Napoles, de
parte dos Estados Pontificior, e pertende ainda
hoje apossar-se de Roma'?
Que direi to de successáo invoca ? Qiie contra-
t o ? Que serviço? Que titulo, senão o t l u í'orça,
e o da t r a i ~ a o?
O sr. ministro da marinha disse, respondendo
ao sr. Casal Aibeiro, que sa ospiemontezes eram
extrangeiros em Nopoles, o eram egualmente nos
ducados : mas que n'umù e n'ou tra parte o suf-
fkagio universol os declarhra naturaes ; e que
para expulsar de Napoles 03 extrangeiros é que
]h foram os piemontezes.
Eu concordo com o sr. mioistro em collocar
.os ducados a pár de Napoles; e nessa parte per-
~ t t a - m eo illustre relator da maioria da comrnis-
que discorde completamente delle. Os direi-
tos de cada u m medem-se pels jmtiça :. nPo se
medem pela extensa0 territuria[ da nenhum p;~ix.
A causa é a mesma.: e quanbo se estabelece um
principio B mister aceeitar-lhe todas as suas con-
sequencias.
Mas invocnes o suffragio universal ?
E' n i l l e que suppondes estar a expressão livre
da vontade do povo ?
En tùo, por que o não estobcleceis eii ?
Rejeitnis-lo ? Continiiaes a substi tuil-o pela
censo, porque desconfiaes do roto universal 4
Enttío, porpue o invocaes 18 fora ?
..
Mas. serinmen te : ignoracs como foi bavi-
do esse suffragio universal ?
Esse suffrogio, . pedido e recolhido, sob a pres-
~ $ 0de
. um exercito invasor,; no meio do estri-
dor d8.s armas ; e por entre os horrores da con--
quista e da guerra civil ?
Se o nõo sabeis, esperae, qiie eu vol-o digo.
Tenho diante de mim um folheto que por a h i
corre, impresso por um dos proprios collabora-
dores desse suffrogio.
«As pleigors (diz elle) fizeram-se poucos dias
depois ...
a Tinhamcs exigido os rcgistros das parochias*
apara fazer o recenceamnento dos eleitores, e de-
<cpois~preparánzosas listas.
u Para as eleig5es das assemblbccs locaes, assim.
acoqno, mais tarde, para o voto d a annexação
a apresentozt-se ibm diminzlto numevo de eleitores
«c2 cdagdo; por isso 92Gs no momento de fechar
aas urnas, deitcimos-7he clentro as listas Cjá re
asabe em sentido piemontez) dupwllas que n&o
tinham co~nparecido?
« E superjuo dizem* que deixdmòs de parte aZ-
cgzazs centena~ssou milhares de listas conforme
aa populagão do ciil-culr. Cumpria salcar as ap-
aparencias, ao menos por causa dos extrangei--
aros; y r p u c nas localidades todos sabiam o qw
ase iazoa. ..
r N'algztmas assembléas a iatroducção nas ur-
nas dus listas doa que se tinham abstido de vo-
(r tai* (clzai~zumosu isto conqdetar o voto) fez-se
a com tanto desn~nselo,e pouca pue a vc-
a rificnçCio do esc7-zdtinio deu nzaiov numero que v
udos eleitores arecenceados. Ein taes casos s.ci)ze-
crdiozs-se o mal feito com uma recti'caçüo na
aacta. n
C Qtlanto Ús lisfas negativas, 026 contrarias ao

a Piemonte, necessa~*iclspam dai. ao st~frc!$ lo


CZCHLZ de cerclade, ~e~izettenw-nos
cq~pci?-el~cia aos
sp1-oprios eleitores.
<r N o que respeita a Modena, posso fallar por*
que se fez tzcdo diante dos meus olhos, e debaixo
ada minha direcgão, E m 3'ZwolSa e em Paí.i,~u
,szcccedetc tudo pelo nzesmo nzoclo. D
Aqui tem v. ex." sr. presidente o que fui o
suffragio universal, e contildo por testiinunha
insiispei ta.
Foi o silencio dos eleitores, ir~terpetradopc-
10s falsificadores do escriitinio, em beneficio do
Piernonte.
E se esse silencio, se essa submissiio, se ec-';a
resigoagão basta paro naiuralisar os piemorite-
zes nos paizes conquistados ; olliern que 1 1 5 ~j6
e& tivcmos duas §cenas similhuntes, e vejain on-
de nos leva essa doutrina.
Não vimos n6s hnsteitda entre r169 em 1580
a bandeira da unidade da Peninsula ?
Com que direito hade rejeitar s Penitisula
ihrics quem engraça tanto com a Peninsula
italica ?
Ha differenç8'1 Sim, senhores : mas 6 a favor
da Peninsula iberica, porque Philippe I[ de His-
panha ainda invocava um direito de successão,
que ntio era táodestituido.de raeòes que nùo fos-
se perfilhado, e oflicialniente reconhecido pelos
regentes do reino ; e Garibaldi, Nazaíini, e Vi-
ctor Manuel nem isso invocaram.
Em 1807 hasteou-se aqui na\ amente a ban-
3
deira da tiriidade : c riao erii uma ~inicindc 130
circumscripta e liinitnds. roiilo ;I do $eciito S V I :
ia ainda além dos Pjiineo.;. e tambem alcrn dos
Alpes : ern muito mais múgcstoso e iinponentc
que a de 1650.
E todavia: nem porisso se consolidoa.
Subjcitámo-nos aos Iiis~in~~liocs, e depois aos
íraiiceres, cmqcianto lios forcarum a irso : logo
qHe podhmos, sacudimos o jugo, e lilertamo-
110s.
u Ospicinon~czrsforoi~iespulsar de ,Vupoln os
~slriitigeiros!r ...
E ignoro o sr. miiiistro dn marinbo qiie os
francezes tainbern disseram o tnesmo, quando c&
vieram ?
Elles n8o disseram que tinlinm conquistar-
nos proclnmur~inque viiiliarn libertar-nos dos
:9

inglezes.
E' n fiistoria de liontern : n8o fia direito de
a ignorar.
E se nao querem05 qiii, iímaiibà nos 1iOerdrm
outra vez, a fratac~za. ou ci hispii>i/aola. que pn-
ra o caso villc o mesmo; nào estejnmas aqui a
opplaudir todos os (lias os qiio foram lil~ertar
os ducados c o reino de Nopoles ....
á picmon-
tesa.
Rcparai bem que 9 principio podo bmcinha
virar-se contra nbs !
E se de ccrto o n3a viram corn o meti asscn-
n o c bem c14ir.~incntcetnillo aqiii as
miiihns opiniões ; ricin coin o auscr~timctitoda
grande maioria dos portuguczes ...
O ar. Casal Ribeiro-De tudos.
Ourador-Eu j!i aqui o disse uma vez. NPO
o traduzi. que erpriina mo-
lia para mim f ~ t que
Ihor o estado d'ultima al)jec@o moral do i i ~ d i -
viduo, do q u e o facto, por via do qual elle en-
trega ao extrnngeiro o dominio da naçiío,a que
pertence. (Apoiados).
Mas s e toda a camara, se todo o pniz me
acompanha neste sentimento, não queiramos
uma lei para nós, e outra para os outros.
O que seria crime em Portugal, é de certo
um crime na Italia.
Zelemos e respeitemos todas as nacionalida-
des alheias, para que nos respeitem e zelem a nos-
sa.

Sr. presidente, se como catholico, se como


portuguez tenho motivos, e motivos fortes para
reprovar a revolução italiana ;detesto-a tambem
como homem, que sou, de sentimentos modera-
dos e liumanos.
E lamento que nesta camara, que neste paiz,
que neste seculo, haja coragem de applaudir os
actos de barbaridade, verdadeiramente selva-
gem, que se esta0 praticando, e tem praticado
na Italia.
Os piemontezes ainda tem uma desculpa nas
malfeitorias q u e fazem. Cegos pelo desejo de
engrandecimento nacional, e pelo enthusiasmo
d o sticcesso, não v&em que se estão cobrindo de
satigue ate aos olhos, e que em breve sc nfo-
garòo nelle.
Mas nós, os portuguezes, que desculpa pode-
mos invocar para não ver ?
Qile sentimento grande, que enthusiasmo de
succcsso nos venda os olhos para 1130 vermos,
nem a torpeza dos principias, nem a barbarida-
de dos meios, pelos quoes se est6 realiaando es-
s a obra riefasta ?
Entra-se por um paiz dentro, como poderia
*
entrar nelle uma horda d e salteador?^ ; apro-
veita-se a t r a i ~ ã ode um ou outro miriistro, que
s e comprou, e que facilita a i n v a s ~ o; conse-
gue-se lançar mão da auctoridadc c d o gover-
no n'um momento de torpor. fillio do espanto,
e do inesperado do successo ; expulsa-se, com
mais ou menos dificuldade esse p b i i i i ~ d o d e
bravos, que e m Gaeta sellarnrn com o seu san-
gue o protesto solemoe contra u csçravidão d a
sua patria ; proclama-se o assassiiiio com o meio
legitimo de assegurar a corlquista ; recorre-se
ao incendio como meio de facilitar o assnssinio ;
espalha-se a fogo r: o sangue por toda a pilrte ; e
ha ainda quem nos convide a applnudir essa Iie-
catombe sem fim, que envergonha n huniani-
dade, e pollue d'um modo indelevel as )a,' wnas
historicas dessa, outr'ora, formosa 1tali;t.? ! !
Que o applauia o governo inglez, que ainda
hontem despedaçava os-indios na boca d a s suas
peças ; e que dessa revoluçùo espera tirar e m
resultado a substituiçào do catholicisino pelo
protestantismo -explica-~e.
Que o applaudu o governo francez, cumplice
dessa traição vergonhosa, e que em premio. re-
cebeu os trinta dinheiros de Niza e Saboia-
explica-se ainda.
Mas Portugal !... Porque ? Para que ?...Com
que fim ?...
Ignoram por ventura a verdade do que digo?
Oiçam entno os documentos, que ha muitos
e importantes. A difficuldade está só na escolha ;
porque eu não posso aqui lel-os todos.
Começarei pelo bando, decretado pelo tenen-
te coronel Fantoni.
Diz esse bando:
r O commandante do destacamento do 8." reg+-
mtnto dc ii,Sante,*M de guarnigãoem Lz~eera(Ca-
pinata):
cr Em L.:tia
I as ordens transmittidas pelo pre-
feilo da j,i*nrútcia, a $m ddz conseguir por todos
os a l i . i ~c$cazes
.~ n pronxpta destruigão da b9~igan-
da r t e n ~:
Ilecretcc :
a I.' D'ora ávante ninguern poderá penetrar,
amesmo a pé, nas joflol*estas de Dragonaro, Sancta
~ A g a t h n ,SeZvanel*a, Gargano, Sancta Maria,
a Pietra, illotta, Volturara, Vulturlno, S. Mar-
acos Ia Catola, Celnxza. d i Carlantino, Bacchari
ade Veat~r~celli, e de Cctzarette.
o 2 . O Cada proprietario, vendeiro, ou feitor se-
ard oòl*igado imnzediatamente, d e p o i ~da publica -
.rg20 do presente aviso, amandar retirar das ditas
uJEorestustodos os tra6alhadores, pastores, cahrei-
aros, etc. que ah~possuna estar, bem como os re-
a ban?~os. Os supraditos serão pbrigados a demo-
ali?*os curraes e calianas ahi edificadas.
a3." D ó r a em diante ninguem poderá ezportar
ados paizes visinhos viveres para uso dos campo--

nezes; e estes nao poder80 ter em seu poder, se-


anão n qzcantidde de manthento necessario para
a a stutentap?i'o de um dia, por cada pessoa da
c sua f urnilia.
r 4.e dquellgs que contravierem apresente ordem
*que será posta em vigw da& dias depois da pu-
uhlicagüo, ser;~, sem mcepflo de tempo, logar,
aou pessoa, t ~ a t a d o scomo os ~ ~ t e e*sfusila-
,
ados.
uPu6Zicãndo a pregente ordem, o a6aixo assig-
~zndo,convida os proprietarios u dar lella prom-
apto eonhecim.onto ás pessoas, pce empregam, pa-
ara qtce procurem evitar os rigores de que s4o
ameapados ; advertindo-os ao masmo tempo d
6
apue o governo será ijaexoravel na suo a.~,ylicaydo-
rlucera 9 de fevereiro de 1862.
O tenente coronel
E'antoni. n
Quer dizer :
Todo o individuo, que penetrar na floresta,
por qunlque; modo que seja, a cavnllo ou a pé,
armado ou desarmado, por motivo necessario ou
voluntario, com bom ou mau fim -serii tratado
como brigante-E FUZILADO!
Todo o individuo, que de repente não fizer
retirar da floresta os seus gados, pastores e tra-
balhadores, abandonandò tudo, e arrozando tu-
do-será tratado como brigante -E ~ u z i ~ n !o o
Todo o individuo, que do povoado levar vive-
res aos camponezes, por mais pacificas qiie es-
tes sejam, por mais fortes laços que o unam a
elles -ser& tratado como brigante- E FUZILA-
DO.
Todo o campoi\ez, que tendo de ir pessoal-
mente abastecer-se no povoado, levar ou tiver
abastecimento para mais de um dia-por mais
motivos que tenha para neo querer fazer a jor-
nada todos os dias-será tratado como brigan-
te -E FUZILADO !
Todo aquelle que se enganar no calculo, e no
proprio dia n8o consumir o abastecimento res-
pectivo-será tratado como brigante -E FGZI-
LADO !
Mas fuzilado em nome da liberdade, fuzilado
pela liberdade, fuzilado para ser livre, do mes-
mo modo que sa quer que a Egreja seja livro
no Estado livre !
Não é bostan te esta ordem ?
Lerei outra.
E' do mujor Fumel, e diz assim :
-39-
AVISO AO PUBLICO
a O abaixo assigncsdo, encarregado da destrztz'-
ç(lo da brigandagem pron2stte ztnm lecompensrs
de cem francos p o ~cada balidido, quee>m o ~ t o ,
ou vivo, se Zhe apresente.
a Egzml somma reeele~*rítoclo o bandido, qim
mate um dos seus camaradas, alem de obter per-
dão para si 'wsmo.
t Toda a pessoa que der asglo, 0.u alimento, ozt
meio de defeza aos bandidos ser4 irnmediatamente
fuzilada; e o será tadeem toda a pessoa qzce, eo-
nhecendo-os, ou sahenslo onde se aclza~n,1220 de?*
parte ci f q a p d l i c u , e ás aztcto~-idadescivis 026
rnilita~es.
Isto é elarissimo.
E' o assassinio elevado u pri?~cipio,conver-
tido em direito, tranformado mesmo em dever,
sob a ameaça formal do fuzilgmento.
Premio a quem me trouxer u m bandido,
morlo ou vivo. Morto pura eu cevar a vista nel-
le; vivo, para cevar a miiiha vinganca!
Premio sobretudo o assassino, que fdr tam-
bem traidor; que se servir da camaradagem
para assassinar mais a seu salvo; que apunhalar
pelas costas, que ferir com abuso manifesto de
confiança,, que violar ao mesmo tempo, a fé ju-
rada, ao individiio que tom6ra por cumpanliei-
ro, e h causa da potria que L:P osára!
)+

Premio a esses. Mas castigo, e castigo se-


vero, e castigo de morte, ao pai que d e r asylo
ao filho; 6 esposa que der alimento ao marido;
ao filho, que n8o for denunciar o pai; uma vez
que o filho, que o marido. ou qiie o pai mili-
tarem, ou tenham militado na deiesa da patria!
Todos estes serào i n r n í e n r ~ ~FUZILA- ~ ~ ~ ~ ~ s
nus, em nome da liber(iade, para q i i c n liher-
dade triumplie, L. liara qiie os ~iiopriosI~;iiidiilos
sejam livres. iiius d'aquelle rnotlo por quc sc
quer que n Egrrjil s e j a livre i i a patrin liore.
Espantam-se?! NBo sei porqiie?
Pois n8o sabein que estes ~~riiicipios esta0 es-
criptos no proprio codigo da lei, que pura ver-
gonlhn deste seciilo, impera no Italin?
Eu peyo licen~a6 carnara paro ler algunsar-
tigos desse codigo.
Nã9 avanço nada sem ter documentos na mùo.
NBo faço como o sr. ministro da rnaririlis, que
promettendo esmagar a reacçào sob o peso, e
importuncio dos documentos, que aqui havia de
lèr-nos, nõo achou, outros que eh trouxesse, se-
n8o os do padre Fagrindesl (Riso).
Eu vou IBr algdns do5 principaes artigos, re-
digidos por Mazzini para organisaçõo e governo
d3 Jotten ltalia.

~ d r l i g o1
.O . ~ o ri~mxr n 6 igistitt~idapara
icd~rribartodos os Eslados da Penit~sula,c de
utodos e l l ~ sfor~nar u m sú, sob o rcginien repu-
a blicano.
«Art. 2." Tendo reconhecido 09 mula kwf-
« rireis do poder abroluto, c os maiores ainda das
<r ninnarchias consi itucionaer, devtmos esfurçar-
«nos para, por rodos os meios, fundar a repu-
a filica, unica e ittdivisiu~l.
a Art. 30." Os que niio obeddcerern ás ordens
«da rocicdad8 secrera, os que rwelarevi os sew
<tmystrrios, ser60 apunhalados. sem renaiuão. O
amenrno castigo rnfrerùn os traidores.
« d r t . 31." O tribunal secreio pronuncia-
«r(# a seníença : e designara uin ou doir dos fi-
aliados para a sua execupdo itnmediat~.
n.irl. 53.'' O que sc recusar a execular n
,asentença será declarado prtjuro, r morto, co-
«mo tal, i?zslantanearnentc.
«Art. 55." Se o c~~~i'pudu condemnado s e eva-
a d b , sera incessantemente perseguido, e ferido
apor uma ?:iùo invisiuel, cst iuesse ellc reclinado
asobre o seio materno, ou no rabernaculo de
a Christo.
Sr. presidente-Aqui estó o fim; aqui cstão
os meios, aqui ests ern resumo a Jocen Ita-
lia.
O Frn 6 a republica; a republica vermelha;
wertnelha pelo sangue que derrama, que espa-
llia, e em que se afoga por toda a parte onde
chega.
Os meios sso o assassinio, legislado no codi-
go, decretado pelos tribunaes, executado pelos
proprios filiados!
Ao filiarem-se na ordem, todos se obrigam
a ser asrassinos ; todos se eompromettem a ser
<carrascos!
E carrascos dos seus proprios companheiros!
E carrascos, em toda a parte, e por todos o s
.modos, no seio da mae, no lar da familia, e no
proprio Templo!
E 6 esta a Jouen Italia,com quem o sr. Fer-
rer nos diz ligados, em estreitos laços de allian-
$a, e fratertiidáde, de princípios e fins politi-
cos?!
Duvidam de que sejam estes os principios
que regem hoje realmente na Italint
Os bandos de Fantoni, e de Fumel, o pro-
vam de sobejo.
Mas se a camara qiier ver o assassinio 0%-
cialrnente glorificado nas altas regiões officiaes,
escute-me, e admire.
((ITALIA E VICTOR AIANUEL
O DICTADOR DA ITALIA AlBRIDIONAL: B

a Consideraizdo sagrada ao paiz a memoria de


aAgzsildu Milano, o pai, com iiiimitauel hei-ois-
tn20, se imnzolou 720 altar da Patria, para lG
uõertul-a clo tgranno, que a opprinzia.
a Decreta:
a Artigo 1 . O É concedida uma pensão de 30
uciucados por nzez, a MagdaEena Rtlsso, mãe clc
aMitano, para a gozar dzwante a sua vida, a
a contar do 1;' d'outuh~*oproximo.
Art. 2 . O E concedido u m dote de dois mil du-
acados a cada uma das duas irmas do dito Mi-
a lano.
aEsta somma será Ênvertida em fundos publi
acos a titulo de dote Ênalienavel, e consignada
a ás irmüs, 920 decurso do prozim,o outz~bro.
aArt<go 3 . O O ministro das $nangas é ehcar-
aregado da execugão do presente decreto.
a Napoles, 25 de setenzbro de 1860.
a 0 dictador $r:. G. Garibaldi. B

Sr. presidente -Lembra-se v. ex.' decerto


que quando Agesiláu Milano tentou assassinara
rei de Nopoles, todos os partidos reprovaram
altamente o facto, e l a n p ~ r a mpara fora de si a
responsabilidade delle.
Era o pudor publico que triumphava da eor-
rupção que dictára similhante crime.
Mas hoje, os tempos sào outros!
A seita, que ordenha o crime, . e o fizera
executar por u m dos seus subordinados, perfi-
lha-o publicamente, glorifica-o officialmen te, c
premeia-o largamente.
E faz-se tudo isto no Piemonte, B face da
Europa inteira! E app!aude-se em Lisboa, e ne.
seio mesmo deste parlamento!
Quereis saber os resultados?
E' que os proprios homens, que ao principio
'sympathisararn com o morimen to, pensando que
elle se dirigia sincerarnenle a fazer da Italia um
grande Estado, com um s6 governo protector e
livre, mas probo e honesto--esses mesmos co-
brem o rosto, envergonhados e horrorisados, e
entregam os sicarios d reprovaçõo publica do
paiz.
Tenho diante dos olhos o relatorio, que o
Duque de ~Waadolonidepositou sobre a mesa da
camara dos depiitados de Turiin, sendo elle mes-
mo deputado por um dos circulus do antigo
reino de Nnpoles.
Esse relatorio começa assim:
a Senhores: »
«Deputado d a direita; isento d a suspeita de
ícnutrz'r idéas contrarias á marcha constitucio-
anal, e ás formas pacificas e regulares. que
nsào a razào suprema, e o fim definitivo e
((ideal de iodo o governo; eleito pelo mesrncp
«collegio que m e enviou em .ISJS ao parlamen-
«to napolitario; triumphando Ias luta eleitoral,
aposto que combatido por iodos os artificios da
a ignobil seita dos PIE~'I~ONTISADQRES,que ero
aentüo omnipotente no meu desgraçado paiz ;
ncidadão ,iapolitano, e, desde os meus primei-
aros amos, ardenie e fiel partidurio do bem
((estar, G da honra d a minha palrin: tinha de-
((cidido elevar a voz contra as nzanobras d s
((governo, logo que os represetlluntes d a naçüo
use reunissem no parlamento.
«Mas os factos, de que eu deuo occupar-vos,
$1 umerosos
asen horcs, sào de~)~asindamentc c gra-
«iies,para que eu possa con[iar a exposição
ndelles á niinlia ùiexperioicia oratoria.
No entretanto, os males complicam-se, o
uEs~ac;ocorre direito á sua perda, e a igno-
arninia, recahe sobre a nossa cabeça.
r A minha cotisciencia, e a minha honra, im-
crpoem-me odcrer d e apressar-me a apresentar-vos
aestd rnoyão de inqueri:~,funda»ictitada com
aos motivos, que m e determ,i~zarama apresen-
«tal-a.

O deputado napolitano percorre depois OS


factos mais notaveis do governo piemontez, e
examina-os todos debaixo do ponto de vista
religioso, politico, e moral.
E chegando aos meios sanguioarios, de que
se tem lariçado mão para segiirar a conquista,
diz assim:
a Os C?* inws commettidos, durante esta guerra
a civil f azenz-nos envergonhar da forma huniana
*de que estnnzos revestidos.
a Nossos concid~~.di?ossüo fuzilados sem forma
d e processo, pela simples mcspeita de te?* dado
&pão ou abrigo aos i?zmrge?ztes, ou sobre a ac-
amsagtio simples CEB m Znintigo.
a Os soldados piemontezes levam os p.is;onei
aros ao supplicio, recusando-lhes as ultimas con-
asolaç5es da fé: e a mzcitos feridos tem-se a t b
arecusado o auxilio de um cirurgião, fazendo-os
amoyrer nas horriveis t o ~ * t u ~ ados tetano.
a Aprisionaram-se ultimamente em Caserta dois
*dos chamadw brigantes, e t i v c ~ a ~ presos os
crdois dias sem l h s dar de comer.
a Os desgraçados pediam em altos 6rados -
.pão! pzo!. .. E ninguem 1hes respondia.
o AJinnZ, uhricc-se a porta da hor~-icelmasmor-
ura; e pzra~zdo esses desgragndos co?*s.erampara
a ella, espera~~clo cic7~arpZo, agar?*ctram-nos,leva-
u mnt-nos aos pateos, e filzilaram-nos.
«P ~ * O C ~ C L , )2 1L1 ~
1 2Z
~a
~L
112-12Fisticc.
C E?ztj*etanto, um
crcampollzz tle Liuíwcli, chamado E7rci)zciscoBus-
aso, ql:c ti~thn sido ferido na ilhal*ga, vivia
ntrany~iillaeie~ttc, F,ccuia dias, em companhia de
u sua mulher e $lhos, findo vzessu anznistia.
n Os seus an2 igos disseram-lhe pzce se escondes-
cse, e se nüo fiasse nas promessas de Pilzelli:
umas slle ULIO yziiz oucir fuZla~*nisso, ~espondegt-
ado que era in2possiceZ pne tcm 1nt2itar honrado
ufaltasse á szta p a l a ~ r a .
aA.iltda estas paiclcras 1z3o eram ditas, e já
uos solclados yie?noi~ic~es tilihaqnf~?.~nclo a porta,
ae prendido o iljfelir, g i l e co~zduzi~.um a ATola, e
aahi o fuzilarana.
..............................(i..........*

a Pol* co?zuite de um assassino d a "Communa de


uSommct, foi ahi ~epntinamenteo conde del Bos-
aco, e upotte~*ou-sede seis cidadãos pacijicos, en-
atre os yziaes havia unz goven de 20 alzizos, ofi-
u cial da guarda nacional, e casado, hcxvia poucos
adias, com uma jocen, e linda mulher ; e fel-os
afuzjlar a todos na Praga Puhlica, sem fórrna
aalguma de processo, e sem os ooccorros da reli-
agiao.
* . . . . . . . . . . . * . p . * . . . . ...................
<r Domadaa i n s u ~ r e i ~ ãdeo Montefalez'one, 50
arebeldes esperavam sobreviz;er ao MASSACRE, re-
afugiasdo-se na E g ~ e j a :mao os soldados piernon-
utezes arrombaram as portas, penetraram no tem-
aplo, e os rlcsgraçadosJoram degolados na pi*oprin
uçasa de Deus.
Nunca! Una-se qdem qiiizer : una-se quem
sympathisar com esses meios, e com esses fins.
....
Portugal não !

Por vezes se tem aqui alliidido, sr. presiden-


te. aos excessos praticados durante a guerra ci-
vil d e 1828 n 1835..
Tem-se-me disparado allusùes sobre os ex-
cessos do campo realista; e eu, reprovando e la-
mentando de coraçiio, esses excessos, d e q u e
lavo as minhas màos, e estou completamente in-
nocente; e çon trapondo-lhe eguaes excessos pra-
ticados pelo campo liberal ; tenho pedido, tenho
reclamado o concurso dos Iiomens serios, dos ho-
mens honestos, dos homens moderados d';imbos
os campos, para que, de uma vez por todas, lançe-
mos um v8u de reprovaçao e esquecimentob sob
todos os horrores, qualquer que seja a bandeira
politica á sombra da qual se pra ticabem.
Esse pedido tem achado sempre sympathia
na camara ; e se uma, ou outra voz, rnai~~exal-
tada, m'o tem redarguido mal ; o grande maio-
ria da camara tem feito justiça ao sentimento
nobre, que o dicta, e tem-se mostrado constan-
temente animada dos mesmos desejos, dos mes-
mas séntimentos.
Mns Sr. presidente, .ando eu vejo estas ex-
panções, diarias e repetidas, de syrnpathiil, 0%-
eial e extra-offieiol, para com um mosimen to,
t l o lamentavel, como sinistro; receio, e muito,
que a reprovaç80 dos horrores venha antes d e
um odio partidario, do que de um iiobre sen-
timento, franco, riobre, e sincero, do cora-
.çb*
Dir-me-heis que apploudis o movimento, e
não o sangue derramado.
Mos perrnetli que vos diga-a v69, eensores
desapiedados d o arcebispo de Tolosa-que nem
sequer tendes direito para isso.
O arcebispo de tolusa celebrou um aconteci-
mento da seculos; e vós fostes buscar a toga
ensanguentada d e Cesar, para levantar as tur-
bas contra elle.
Com que direito pertendeis então que feche-
mos os olhos ao sangue, que se derrama hoje;
para s6 ver-mos o que charnaes emancipaçào
da Italia?!
O arcebispo de Tolosn tinlia direito de s6
ver hoje, o que hoje resta, que 6 a Egreja vi-
c toriosa.
Mas vós, que evocastes contra elle o sangue,
de que !penas resta vestigio na histeria; como
pretendeis ter o privilegio de nem sequer v8r o
sangue derramado hontem, e hoje, e sempre,
e por toda a parte, onde chegam os sssassinos,
officiaes e officicisos, da Italia!!!
Mais ainda. Nem sequer vos dignaes repro-
v a r esse injusto derramamento de sangue: re-
provaes pelo contrario os que ousam levantar-se
em defesa da patria, contra esses consquistado-
res, incendiarios e assessinos!
Sede colierentes, pelo menos, se quereis que
vos acredite !

Applaudis a emancipação da Iialia !


Mas emancipacão de que? Eu vol-o disse
já.
e a en~unc@açi.tode todo o vioculo reiigio-
so, e muito especialmente do r~inculo cotho-
lico.
E' a ernancipaçào dos differentes Estados, da
sua nacionalidade e autonomia.
E' a ernaiicipaçito do genero humano do odio,
que por sentimentos naturaes se vothra ate hoje
ao assassiaio, ao incendio, 6 barbaridade, e
selvageria, de todas as especies.
E' daquelle vinculo, dessa iiacionalidade, e
dcste odio, que v65 quereis emancipar-vos, e
que vós applaudis que se emancipem os ou-
tros? ....
Na0 6 decerto. Pois a revoliig3o da Italia si-
gnifica isso, e só isso, e nada mais, e nada
menos do que isso.
E 6 porque ella tem similhnnte signiticeâ50,
que eu a detesto, e que comigo a Iifipde de-
teitar todos os Portiiguezes, verdadeiramente
dignos desse nome.
Detesto-a, e reprovo-o: e 1130 hei de consen-
tir nunca que em nome do na~Bo,a qiie per-
tenço, se levante uma voz de sympnthin, riara
similhantes horrores, sem que eii Icvantc tiim-
hein a minha voz, e logo, e immediatamente,
para, em nome da parte sensata do povo, os
fulminor e reprovar.
Feitas estas declarações, que o modo, porque-
a discussilo tem caminhado, me tornou indis-
pensaveis ; eu vou descer, sr. presidente, h ana-
lyse dos dois projectos em discussão.

Ambos elles proscrevem, no artigo i.",as or-


dens religiosas.
A extèosóo porem d'essa exiIur80, os moti-
4
vos e .a fórnia, siio differentes n'um e ri'outro
projecto.
A rnaieria da comrnissao exprime-se ácerca
d'essas corporações em phrase respeitosa e de-
cente ; sustenta unicamente, por motivos de
conreniencia politica , a rejeiçao absoluta das
subjeitas a prelado maior extrangeiro : e quan-
to ós outras limita-se a aceeitar o facto da sua
exclusão legal.
O sr. Ferrer, pelo contrario, no seu voto em
separado, rejeita-as , e condemna-os todas em
prificipio, como damnosau, preverlidas, e im-
moraes.
.E j6 se v&, sr. presidente, que se eu nem
eoncordo sequer com o voto da maioria da com-
missúo, muito menos podia curvar-me diante
dos m o t i ~ o sinqui~lificaveis, e da phrase impro-
pria do voto em separado.
Começo por estabelecer; que, como eatholi-
cos, nùo podemos proscrever emprincipio, e sob
nenhum pretexto, a associaç8o religiosa.
Esse principio faz parte d o catholicismo; estií
admittido pela doutrina da Egreja; louvado, ade-
ptado , e saniicficado por ella : e quam se diz
%lho da Egreja, figo *p6de-insurgir-se oootrr a
auctoridade legal Q'elle, p&ra declarar mial .e
proscrever como tal, o que ella odmittiu e de-
clarou bom.
O poder temporal p6de não querer admittir
.urna ou outra ordzm monastica:mas se f3r.m-
tholico. ha-de allegar para. isso motivos dedu-
zidos de circumstancias locaes, ou de conside-
raçães especiaes; 1180 púde, oem deve atacar o
principio, sanccionado pela Egreja.
Póde allegar as inconvenientes da arüortisa-
çáo d e bens ; póde fundar-se mesmo em certa
prevenqiio local , que nh convenha- atacar de
irente ; p6de allegar outros motivos similhau-
teu: proscrever porbm as ordens todas, proscre-
vel-as em pritzcipio , declaral-as prevertidas e
immoraes ; 6 fiada menos do qiie rejeitar, con-
demnar, e declarar pervertida e immoral a dou-
trina da Egreja.
E isto, nenhum poder temporal tem direito
d e o fazer, som depbr primeiro o titulo, que
desmerece d e catholico.

Se religiosamente o n8o podemos fazer, cons-


titzzcionalnzente, tambem não.
A carta recoi~heceu como Religiao do Es-
tado o Religi8o Ca tliolica Apostolica Romana.
Declarou religião oílicinl do Estado, note-se
bem, niio s6 a parte dogrnatica do eatholicismo.
seniio tambern a sua parte disciplinar; porque
4 o conjuncto d'estas duas partes qae consti-
tue a Religiào Catholica Apostolica Romana.
As ordcns religiosas lazem parte dii doutrina
da Egreja : e proserevel-as, portarito, 6 proscre-
ver lima parte d'essa qeligiãd constitiicional-
mente reconhecida, como Religião do Estado.
N'outro artigo garantiu tambern aCarta Cons-
itueional a liberdade de consciencío, e permit-
i u todos os cu ttos,
E q11ar"o a o .culto calliolico , n8o s6 o pt-
mi ttiii arnrrimodamerite, mas declarou-o o%cial,
e reservou 96 para eile, pela exceiiencia da sua
virtude, os f6ios da publicidade.
As ordens manasticas-ou se dediquem ex-
elusivamen te ó con templaç8o da Divindade, OU
s e deeni principalmente n exercicios de carids-
de, .estudo, e penitencin-siiu em todo o caso
um modo especial, e privilegiado d'esse culto.
.R
Proscrei)el-as portanto B restringir o ciilto ;
6 prohibil-o exactamente na sua parte mais
sancta, mais dedicada ; 6 violar na sua essen-
eia mais outro artigo da carta.
A carta, ernFim, garante o direito de asso-
cia ç3o.
E 'as ordens religiosas sáo a exprcqsno mais
nobre, mais elevada, e mais sanctificada d'esse
principio .constitucional.
Querem proscrevel-a?
HWde passar primeiro por cima d'esses tres
grandes principios constitucionaes.
Hãode proscrever uma parte da Religào San-
etn que a corta reconheceu como religião offi-
cial do Estado.
Hfiode atacar a liberdade de consciencia, to-
lhendo aos clitholicos o omnimodo exercicio do
seu culto,* que a carta Ihes gararitiu, e reconhe-
ceu, como não reconheceu, nem garantiu ne-
nhurn outro.
H ~ o d eviolar, finalmente, esse principio, (an-
tes vezes apregoado, da associação livre.

Leio, sr. presidente, e com espanto, no voto.


em sepbrado, que as ordens religiosas são i neom-
pativeis com a liberdade.
Nego, sr. presidente, essa asserç80, e nego-i.
d priori, e á posteriori.
Nego-a á priori ; porque se em alguma ren-
niiio de homens se tem podido praticar, real e
constantemente, o principio, que serve de base
ao governo republicano-6 nas ordens religio-
S8S.
O elemento democratico acha-se âhi com-
p7ctamente alliado com a força da acção'; e al-
liado por modo,. qse podia servir de modelo rio
governo das sociedades civis.
Professa-se entre os associados, tlieorica e
prntica!nente, o principio da humildade: nào só
se sii]>jzit um todos ao principio da egttaldade,
mns otiiain-se, e tratam-se rcafmente como ir-
azùos: nào ha entre elles nenhuma gerarchia,
nem distincção, se080 a que Provbrn dos cargos
que se exercem: e para que todos aspirem egual-
mente u esses cargos, os cargos são todos ele-
c tivos, e todos os associudos concorrem ti cieiçi'io
d'clles.
~ i n d amais. A auctoridn:lc individual tem a
sua íic,~o limitadii pelo c ~ p i t u l o ,que superen-
teride iios actos d'ella; qtii: a vigia no sei1 exer-
c i c i ~ ;q u e a governa e dirige mesmo nos obje-
ctos mais importantes da associaçno
13 tudo ^ahi cnminl~a, sem revoluçiio, nem
commoç~o,governado por todos e para todos ;
e crescendo diariamente em força e organisa-
çao:
E o principio da egualdade e fraternidade,
ligado praticamente com o da liberdade, sem
degenerar no despotismo, nem na anurchia.
Ainda h s pouco li, sr. presidente, rim f:icto
que se deu em uma d'essas associoçóes, e que
WN mostra como se lá pratica o principio da
egualdade.
Apresentou-se a professar riada menos do que
uma filha de rei.
Caineçaram por exigir-lhe que depozcsre ás
portas do claustro o seu nome e o seu titulo:
e elln dep0z o seu titiilo de princeza, e o seu
nome real.
Exigiram-lhe que tornasse um nome tiio sim-
ples, tão modesto, como o de cada uma das-
outras irmss: e ella tomou e&e nome.
E egualada assim tanto a ultima como ií pri-
meira das irmas. que a recebiam. foi entregue
aos rudes trabalhos da communidade.
Tocou-lhe'uma vez por escala a lavagem da*
louça de cobre da cosinha.
A pobre menina, que nem sequer tinlia visto
fazer sirnilhante serviço nos paços reaes, em q u e
fBra educada, achou-se etnbaraçada, sem saber
por onde havia de começal-o.
Afino1 entendeu que primeiro devia lavar o
que estava menos limpo; e com as suas mùos,
ainda tenues e hlicadas, começou corojosamen-
tk por lavar a parte denegrida pelo lume.
Foi ente0 que as suas companheires, com o
riso nos labios, e a alegria nocoração, a adver-
tiram, de que era encarregada de lavar a louça
por dentro, e não por f6ra.
Poucos tempos depois essa criada simples do
convento era elevada, por suas virtudes angeli-
eas. h graduaç~ode superiora.
Criada por&m, oii superiora, foi sempre, nem
mais nem menos do qu.e uma irmã, como as ou-
tras, sem mais distincflo do que a do seu rar-
go, emquanto o exetceu.
Esta 6 que 6 a verdadeira egualdade e fra-
fernidade: e d'essas duas virtudes pr'aticas re-
sulta a verdadeira liberdade.
Nno creio, sr. presidente, que a pratica sin-
cera e constarite d'esses tres principios seja pos-
sivel, sem uma vocayBo especial, e fdrtemente
inspirada pelo sentimento religioso: se o acre-
ditasse, eu seria franco e decididamente repu-
bl*icano.
Mas vós, senhores, que apregoaes esses tres
priocipios, e applaudis a revoluç3o da Italia s6
1
Doraue os escreveu na sua bandeira politica; ide
1

aprender As associaçòes religiosas a-pratica del-


les.
Nào tomo o conselho para mim porque, re-
pito, entendo que o governo puramente demo-
cratico, que entre esses espiritos priviligiados O
urna verdadeira pratica, é, na socie'dade civil,
rio mundo profano, uma verdadeira utopia.
&Ias vbs, que o apregoam, como realisauel,
tomai por modelo para o das ordciis religiosas.
E sobretudo, scnhares, riscae a asserção, de
que essas associaçòes siio incompativeis com a
liberdade, porque 6 mister desconhecer comple-
tamente os priocipios fundamen taes d'ellas, para
procloniar similliante pnrado~o.
Se á p r i o r i 6 facil destruir a asserçáo, não
8 mais difficil destruil-a a posteriori.
O que entende o sr. Ferror por paizes li-
vres ?
A Inglaterra? A Belgica ? A Fraaça ? A Ita-
lia 2 A America ?
Corra 3. exea 16, e em todos achará ordens
religiosas.
Na propria Italia, tem S. ea.' ainda hoje, pro-
tegida e florescente n corpcraçiio das irrnss da
caridade.
Na Inglaterra, tem ate os jesuitas.
Na Franqa, na Belgica, na America, por toda
a parte, onde ha alguma civilisaç80, cresce e
prospera a associaçiio religiosa.
E a liberdade nem se tissusta, nem morre
por isso.
É: s6 em Portugal que os libe~aes se decia-
ram incompativeis com as ordens religiosas ! !
~ermittam-meentao que lhes diga pue essa
incompatibilida~enúo prova contra o princil>io
da assoeiaç&o religiosa ; prova só contra os li6e-
raes d'esta terra.

Alguem se disse temeroso t a r n h m de que as


ordens monasticus viessem a ganlnr u ma iia-
puencia desmedida no governo do Estado, e n
tornal-o dentasiadanzente theocratico.
Mos porn quem se diz isso "? Quer-se fingi r
que se ignora a bistoria ; ou suppõe-se qiie a
igooramos n6s ?
O que 6 que deu á Egreja em epocas remo-
tas uma forte influencia nos governos tempo-
rges dos differeiites Estados 4
Ignora-se que essa influencia resultou do fa-
cto de se achar concentrada na Egrej3, puas i
q u e exclusivamente, e por muitos annos e se-
ciilos, a scicncia, o estudo e cultura das leltras?
Ignora-se qiie, no desmuronarnento do impe-
rio romano, pela invasào dos barbaros, foi a
Egreja Cntholica quem salvou a sciencia, e a ci-
vilisaçgo desse enorme, e ingente cataclysmo?
Ignora-se que, por seculos ainda depois, foi el-
la u que conservou, cultivou. e apreciou esse
deposito sagrado. ate qu& findas as epocas
guerreiras, os seculares começaram tambem a
dar-se, successiva e progressivamente ao estudo
das lettras?
Se os padres eram os sabios da epoca, a
inilueiicia, que a sçiencia hiide exercer sempre
em todos os governos, não podia deixdr d e ser
exclusivamente deiles.
&tas hoje que a scienciu e egualmente culti-
vada por ecclesiasticos e secuIarou ; o facto que
se deu, já nna é possivel.
O receio, com que se argnnienla, o30 é ,*e -
ceio, 6 prelexlo.

Finge-se recciur tambein q u e as ordens tornem


de novo a aiionloar grandes riquezas, pelo prin-
cipio dnmn~soda amortisa~ilo.
Respondo pelo mesmo modo. Ou se ignora
a historia, ou se suppõe que a ignoramos n6s.
Porque ~ h e g a r a mas ordens religiosas a ad-
quirir e juntar fortunas considerareis em bens
de raiz 1
Porque, segurido os costumes dos tempos. ob-
tiveram doaçào de exterisos territorios, iriéultos,
e despovoados, que, com os seus conliecimentos,
com o seu trabalho, e diligencia, com o seu bom
governo, e administraçào, conseguiram transfor-
m a r em campinas ferteis e productivas, edif-
cando tombem, d'espaço a espaço, edifieios,
conventos, e egrejas mais ou meaos sumptuo-
sa S.
Viestes vbs, depois, srs. e tirnstes-llies tiido;
e ainda em cima vos queimes da propriedade, que
elles tinham ; e deduzis della receios para os ex-
cluir n o futuro? !
at6 onde pode chegar a ingrotidào e a ce-
gueira I
Oade esth hoje a materia para- essas grandes
doações? Dao-se por ventura hoje as circum-
staneias aaaloga3 8s do começo da monarchia?
Aodumos ainda expulsando moiros, e c o~iquis-
tando leguas e leguos de terreno por desbravar?
E se assim fosse, que mal podia vir d e en-
trrgprdes esse territorio inculto e despovoado a
frades que vol-o convertessem em povoacões e
quintas vuliosas e ferteis ?
Teodes medo de que vos torne Smanhg a ten-
~ , vos levou jB urna vez a tirar-lhes o
t a ~ %que
que elles tinham, e a deixa-los a morrer d e
fome ?
Se fosse remorso o vosso receio, tinha ainda
uma explicnç30 : como o não 4, permitti-me
que vos diga, que niío passa de um paradoxo in-
sustentavel e anachroriPco.

.Alguem argumentou tambem comio celibato.


Mas este argumento provo de mais, porque
para se estar obrigado oo celibato, nao e mister
ser frade, basta que se seja podre.
E como sinds não ~ i ~ p r o p oque
r se limitas-
se o numero dos padres; creio, e creio bem,
que riso é o receio do excessivo numero de c*
libatarios que impede que haja frades.
De resto, sr. presidente, em sociedades con-
stituidas, e nas circumstancias em que Portugal
se aeha, o celibato, filho da vocação, vigiado,
e regularisado, como o das ordens monasticas.
é um bem, ,na06 um mal.
O que Malthus encarregou B miseria, e 6
morte mcasionada pela fome, desejo c? que se
consiga pelo celibato das ordens regulares.
Prefiro ver aproveitado, para n religião, e
para o estudo; no claustro, o excesso de popa-
lacáo, que, sem o celibato, seria devorado pelos
vicios, pela fome, e pela miseria.
Prefiro esse genero de emigra@o do seculo
para o claustro; e enl proveito do puiz, á emi-
graça0 que a falta de meios de subsistenaia nos
esth levando. todos os dias para o Brazil, com
grande desdouro nosso,. perda de muitas almas.
e immensa mortandade e desgraça desses infeli-
zes.

Arnumen tou-se tambem contra o voto de obe-


C
diencta.
Disse-se que era incomputivel com a liberda-
de, proclamada na carta, todo o instituto que
dos associados exigia obediencia cega e passiva
ao superior.
Tem-se mesmo repetido, e passado como se-
nha, nesta discussão, que o frade 6 para o ge-
ral da ordem, como «a lima na mão do opera-
rio. »
O q u e entendem, perguntarei eu, por obedien-
cia passica, os que produzem este argumento ?
É a obediencia em tudo e por tudo, justo ou
injusto, licito ou illicito ?
E a obediencia cega, que priva o individuo do
uso da sua intelligencia e liberdade, a todos os
respeitos, e em todos os sentidos?
Se assim é, essa obediencia nem sejprofessa,
nem se usa, nas ordens religiosas.
Agora, se se chama obediencia passiva á que
presta um certo numero de iiidividuos a tudo o
que o legitimo superior Ihes ordena para certo
fim, conforme certa lei, e dentro dos limitep
desta -se é essa obediencia, a que aqui se declara
incompativel eom a carta ; apressemo-nos lodos
a proscrever o exercifo, porque lii ha tambem, e
IA se pratica essa obediencia passivo.
E tia-a, egualmente rigorosa e m principio ; e
muito mais rigorosa na execuçiio.
As desoliedicncias no claustro siio castigadas
com penas, principalmente cspi rituaes, que o
arrependimento emenda e repara, se foram jus-
tas ; e que a pn)videncia divina prerneia até, s e
foram irnmerecidac;.
As dcsobediencim no exercito cnstiprnm-se ,
pelo contrario, com chiba tadas e fuzilamentos,
que nenhum arrependimento eiilcnda, e nenhu-
ma repaiuçfio adrnittem.
Dir-rne-liào q u e a oóedieneiu do soldado s ó
se exige legalniente em ol?jectos militares: e
eu respondo qiic a obediencia do frade tnrnbern
seeriçe súnietite 110s objectrs da ordem.
E' sinceramente, que dizem inconstitucional
essa obediencia? Levatitem-se então, e procla-
mem.. . deixem que use das suas proprius pa-
.
lavras.. proclamem a emancipa~ãodo exercito.
....
Ficam sentados? Permittam-me que Ihes
diga que nso O contra a obcdienciapassiua que
clamam: &contra as orcleiis religiosas.
E clnrnarn cctritra ellas, e não contra o exer-
cito ; porque querem o exercito para se defen-
derem a si; e iiso querem a Religiào defeudi-
do pelas ordens ~nonastieas.

O illostrc sigiintnrio do voto em separado deu-


nos como grande triunipho obtido pela reacção,
a perda do nosso padroado na China, e operigo
em que eslá ainda hoje o padrondo da India.
Sabe o illustie deputado a quem se devem
esses tristissimos resultados? N ã o é ó reac~ào:
esos que não querem ordens religiosas.
E' preciso que nos convençainos todos de
que sem misstes, nào ha meio algum efficaz d e
mnntlr o padroado : e as missões não 950 possi-
veis, na Iniga escala em que as precisamos, sem
a associaç~oreligiosa.
Perdemos por fol ta dellas o padroado da Chi-
fiz-
na ; e havernos de perder o d a India, se se pre-
sistir no erro.
O nobre ministro da marinha lamentou o ou-
tro dia, que os rnissionarios do Minha se o50
offerecessrm a ir para n Africa.
~ o é nova: j& aqui a te-
Essa l a m e r ~ t n ~nno
nho 0111 ido por torias vezes.
Mas permitta-nie o Sr. ministro que lhe per-
gunte :
Quando o governo v i i i ha pouco violado o
nosso territorio pelos negros do sertùo, a quem
se dirigiu para rinmarn.
a uff'ro%ta, c repellir a of-
fensa nacional- foi aos seus empregados civis,
ou á milicia naciorial?
Dos civis-nem sequer se lembrou.
Diriqu-se no exercito : dirigiu-se ao bu talhão,
que ha~irid'ir; e ordenoii-lhe que fosse, debai-
xo da uriiáo t: disciplina militar, manter a invio-
labilidade do territlrio nacional, e fazer respeitar
as quinas portiiguezas.
Sr. presidente, a Religiiío tem tombem os seus
empregados civis, e o seu exercito militante.
Os empregados civis do Catholicismo sào o
clero secular. O exercito, a rnilicia catholica,
são as ordens regulares.
Quer o governo defender nu Asia, e na Africa,
os interesses espirituaes da Egreja e do Estado?
NBo se dirija ao clero secular, que, sem outra
ligação entre si mais do ques proveniente da hie-
rarchia ecclesiastica, é de todo inhabil para em-
presas desta ordem.
Dirija-se ao clero regular :e em vez dc o des-
presar e i~juriur,peça-llie o auxilio da siin Reli-
gião, da sua disciplina, da sua vocação, e da s ~ i o
especial orgariisação, em beneficio da Egreju e do
Estado.
É assim que se organisam e sc praticam as
missòes, quando se quer que estas V ~ Olonge da
patrin, a paizes inliospitos ou selvagens, a climas
diversos e mortiferos.
Sempre assim se fez ;assim se faz ;assim se hade
fazer sempre.
Se querem qiie a religiào v& ainda hoje, como
j& foi, adiante da espada, e ate onde a espada
nunca cliegou, façam o que se fez nas nossas an-
tigas eras de gloria, e de poder.
Aprendam na historia que tem muito que apren-
der; estudem-na ; e verão que a maior parte d a s
nossas glorias, e das nossas conquistas d'alkm
mar, foram os missionarios, foram os frades, quem
nol-as fizeram.
Os. soldados iam depois sustental-as com as
armas; e niio poucas vezes as perderam, ou po-
serarn em risco com os seus excessos.
firas quem as fazia eram os frades com a Cruz,
com a palavra, com o exemplo, e com o auxilio
evangelico.
I? assim que faz ainda hoje a Franca catholica:
e assim o faz tambem a Inglaterra protestante.
França mdndn os frades ; corno a Ingla-
terra manda os mi'sionarios da propaganda ha-
~etica.
V6s sndnes aqui, ha 30 annos, a inventar e a
organisar uma nova forma de missòes, para dis-
pensar os frades; e o mais a que chegastes. foi a
mandsr por uma vez, e por um supremo esforço,
tres padres para Macáo, que vos custaram um
dinheiro louco, e que, como foram só pelo amor
do lucro, chegados lá, se tornaram negociantes,
e se internaram pelo celeste imperio, de modo
qiie nunca mais soubestes delles.
Parece-me que ainda hoje estou a euvir o sr.
aisconde de Sií lamentar-se desse engono ; de que
de certo se riáo lamentaria se tivesse recorrido ás
missòep, como estào organisadas pela Egreja;
óqucl tas qiie trn balham pelo iriteresse rel~gioso,
e r130 pelo interesse mundano ; hquellas que de
certo ium n Rlacóo, e ir80 ainda hoje h Indio, ou
6 Arrica, riao com a esperança, e com o fim de
cottier oiro para si, mas com o de gonliar almas
para o Cbu.

Queteis saber o que a França fez ainda em


18Ei2(1
Adrnittindo corno ndrni ttiu, antes dessa epocn
os ordens religiosas, tinliu comtiido e\cloido os
jesiii tas.
Nho OS C X ~ U I S O I I do pniz natal: neni Ilies pro-
hibiu, que \ ivessem em eommuni ; nem tratou de
saber a quem elles obedeciam nos suas relações
particulares e domesticas.
Negou-lhes poróm .... permittn-me v. ex:, e o
sr. Ferrer, que eu tombem, e por esta vez sú-
..
mente, hlle nisto.. negou-llies oliidade ju-
ridica: negoii-ihes que elleu em publico, osíeo-
siva c citilrnente. se apresentassem com o carac-
ter legal do nssoeioqBo.
Em 1852 porbm, se bem me lembro, quiz o
pverno frincet organisar nos ilhas dc Cajeanr,
e na Guienna fruicezo eotnbeleciiaentos pen iteo-
ciarios.
I h e s cstobclecirnentos deviam servir para asylo
c corrcccBo dc sssassinos, de Iadrùes, de com-
demnndo* politicor, e dos negros meir ioeorrcgi-
veis da Mnrtiriieil c Gu~dalupe:e o guvertio tra-
tou por i s de~ orgrnisar
~ rielles, e furtemeole, 03
soçeorras ca tholicos.
Para esse fim, dirigiu-se primeirnmcote ao
clero seeular, que nllegou a sua dereonncxõo na-
tural e a sua coirsequente irihuhilidade para essa
misriio.
Ditipiir-se depois hs ordens rcligio~nsadrnitli-
das em França; que pela falta de pesçonl, e pe-
las miesóes de que jh e s t a ~ a r nencarregadas, n3io
podaram tomar mais esta.
E por ultimo só Ilie faltara recorrer aos jesui-
tas.
Pensam que nestas eircumstnncias o governo
francez se prendeu com o panico yiie obstára ate
entáo ao recorihecimento dessn iissocioção ?
Pensam que se curvou intimaçáo formal de
certos espirítos, fortes para o mal e fracos para
o bem, que, sincera ou fingidamente, julgam sub-
vertida a ordem social, logo que se udmitte, ou
mesmo tolera a sotaina, ou o cbop6o d'obas lar-
gas de um jesuita?
Pelo contrario. Logo que u m verdadeiro inte-
resse colonial lhe pediu e reclamou os auxilios
poderosos dessa cor porasõo grandiosa, o governo
iraneez quebrou todas as resistencias, dei; de máo
a todas as prevençòes e prejuisos d'opiniùo, diri-
giu-se aos jesuitas, e tratou coin elles.
E qual Ioi o orultado ?
Iiesultou que os jesuitas, tomaram conta dessn
missão, e mandaram immediatamente para essas
plagas ardentes, e inhospitas, os dez padres, que
o governo Ihes pediu.
NBo s6 10, mas 15, teem jh succumbido, victi-
mas do clima, das febres c das epidemias.
E todavia, as vacaturos teem sido prompta-
meiiie preenchidas, e 0 quadro da missão tem-se
mantido sempre completo, sem difficuldade, nem
cslorço,
E o estabelecimento tem prosperado ; e o i de-
gradados, nlii residentes, teem coi~staiitemente
achado iia rcligiùu, na iiistrucção, e na inimita-
vel dedicação tiesses religiosos, auxilio e conforto,
exeniplar e vnlioso.
...
l'iiI\.cz ..... quem sabe? Talvez que no pro-
prio momento, em que o sr. Ferrer apresentava
e lia nesta casa o scu voto de descabellada re-
provação n toda a nssociaç50 religiosa ; algum
desses deputados politiros estivesse devendo a vida
do corpo, ou a do espirito a um desses religio-
sos !

Sj*. presidcirlc. Otlvi tambem e com magoa,


o orador ~ U W E fprecedcu, arguir os religiosos
de falta de atizor d e patrin.
E em prova contou-nos S. ex.' que pergun-
tando-se ainda ha poiico a uma irmã da caridade
francezu de que paiz era ; ella respondera que nao
tinhn p n t r i n .
Sinto ver-me obrigado a dizer a S. ex." que
pele censura, que fez, mostrou n8o ter compre-
hendido a nobre e elevada sigoiEeaçao dessa res-
posta.
A irmã da caridade, sr. presidente, não tem
patrin porque o amor da patria anda nellii sub-
jeito, e como que absorvido pelo amor de Deus.
Levada por esse amor divino h Crimfa, a
Atliciius, a todo a parte onde sc imploram os
seus soccorros; presta-os ahi, do mesmo modo,
e scrn di3tincçii0, nem predileeçào, ao francee.
ao i!u:izno, ao inglez, eo turco, ao russo, e ao
grego.
E' ncssf: scntido qiie a Irma da Caridade diz, e
eom toda n rtobresa, e com toda a uncqão reli-
giosa, do seu espirito, que não tem patria.
5
A sua piitrio C. todo aquelle puiz onde houver
desgragodos a soccorrer.
A sua putria 6 todo o lioipital. toda a casa de
enfermos, todo o asylo de iniseraveis, todo o ter-
ritorio irificcionado de peste.
Sùccorre a todos sem distincçào de riacionalida-
dc; e o que inuis 6 , sem distiiicção rnesrno de Re-
ligiao: e se os n3o soccorre pelo amor da patria,
soecorre-os pelo amor de um Deus, que 6 tanto
dos francezes, como nosso, e de quem somos to-
dos egualmerite filhos.
Pensam que a pa tria perde com i s so ?
Enganam-se.
Digam-me : Quando os missionarios ira nce-
zes foram, para a rnissíio da Ciiina, continiiar a
tarefa que 1b começhmos, e que aliandunhmos
pc r falta de missioiiarios, para quem conquista-
ram elles a influencia? Para o geral dos laznris-
tas ? Iiáo. Conquistaram-na para o Franca.
Quando S. Francisco Xavier peregrinou pela
Indin, prégando a palavra d e Deus, converteiido
infieis, o fazendo maiores, e mais seguras con-
q ~ i s t a sem um dia, do que milhares de soldados
fariam em iim anno - para quem eram essas.
conquistas? Para o geral dos jesuitas ? Eram e
foram todas para Portugal.
Pois ent'50 se o trabalho pelo amor de Deus 6.
egudlmerite proficuo ú ~ e ! i $ ã o e á potria; se 6
o elle que deveis a maior parte das nossas con-
quistas, e glorias passadas; não o ealurnnieis ;não
o irijiirieis; que a calumnia e a injuria nesta par-
t e siio dobrada injustiça e ingratidáo.
Se das ~nissõespasso, Sr. iresidente, aos in-
stitutos de caridade, niÍo s3o menores os moti-
vos, que tenho, para condemnar ambos os pro-
jectos.
A i~istoriada revoluçào franceza dá-nos a
tal respeito tima liçúo .valioso.
Um dos primeiros actos dessa revolução foi a
prohibic'uo d u s ordens religiosas: a lei porém de
19 de fevereiro de 1789, q u e contbrn essapro-
hibiç80, cretiptuiiu deila, as casas religiosas r,+
cai-r~gndnsda educaçilo c dos esta6elecirnen tos
de caridade.
Mais tarde estas mesmas foram siipprimidas
pela lei de 18 de agosto de 1798: m a s ainda
assim ordenou-se que as corpora~óesdedicudtis
ao serviço dos pobres, e dos doentes coiiti-
nuassern nesse serviço com caratcr individual.
Assim continuaram cffectivumcnte por algum
tempo; mas, pouco a pouco, as individuos. qiie
restaram, dcssus corporaçóes, forarn-se diiilier-
sando, e desayparecendo; e o serviço passou
a outras rnàos.
O resultado foi que dentro em pouco as re-
clamações começaram a surdir de todos os La-
dos; e a propriu revolurão teve dc rctroc(l2er
restabelecendo, em 1301, as irmãs de cari-
dade.
Eu peco licença para ler as fundamentos do
relatorio,. que precedeu esse decreto, redigido
pelo ministro do interior Chapral, que deeirto
foi um grande reaccionaric no seu tempo.
Diz elle:
aConsiderando p as leis, que szppri~i2iram
u as colpora@es, co~zsercaranaaos memb?+osdos
ari~zstiCzttos de cnrÊcladc, a faculdcitle da CGiL-
utinzla7vrn 720 exercicio de seus actos de belzc,
clfic-encia; e que foi em nzelzoscnbo dessas leis, ptle
a taes i~ut ittctos foram co~npletnnici~t,:Sesglljitii i
asa do^:
« Co;.zsidsí.aízdoque os soccorros necessarios aos
a doentes d o podem ser assiduanzente aclli2in.i~-
a trados, senão por pessoas votadas, pelo seu pro-
& p i o estado, ao serviço dos hospicios, e dirigidas
apelo enthusiasnto da caridade:
u Corasiderando que ent?-e todos os hospicios d a
c~epublica, süo udminist~*adoscom m a b r cuida-
t do, intell igencia e economia, apuelles que cha-
unlaranz ao seu seio as antigas discipulas dessa
-aiizstituiçZo szcùlime, cujo jim u&o era d kPor-se
$para a pratica de todos os actos de uma cari-
udade sena limites:
«Consideralzdo que os cuiclados e virtudes ne-
qcessar;as para o serviço dos pob~*esdevem ser
e U2spirubs pelo ezernplo, e ensinados pelas Zi-
agí7es de uma pratica diaria :
Demeta-se etc.
Um anrio depois de tomada esta medida, dizia
jb o mesmo ministro no seu relatorio, que «por
atoda ' a parte conzeqauam a sentir-se os ej'eitor
aprodigiosos do restabeleci?nento destas p-eciosas
.a inst ituições: D
ctA ordenã, e a ntoral, (accrescenta elle) a eco-
anonzia, e os cuidados da hunaaraidade, reentra-
warn nos hospicios com estas respeitave$ mmulhe-
rires, que tem p o ~alvo unico de seus desejos o
<rcoizselaçüodos illfelizes. D

Pouco depois formulava a Eschola Medica de


Paris o seu voto sobre o assumpto nos termos
seguintes:

u Dènt tre os estabeZecintentos uteis, supprimidos


acnl uvia certa epocu de revolução, nenhum fez
«tt~;rtta
falta como o das irm2s da ca~*idade
: e O
quMicohapplaudiu a ~*esolugão do nihistro, YW
a reintegrou essas irmãs nos dgerelites hospicios,
rem que anteriormente prodigah'sa~am,com tan-
ato zelo e coragem, os seus cuidados, aos pobres
g doentes, que Z7tes eram con$ados. x

Seguiu-se o irnperio: a extenç8o de guerra


fez multiplicar os hospitoes' militares por toda a
parte; e em toda o pari e foi reclamado o auxilia
inimitavel das irmãs da caridade.
E m uma carta, datada de 3 d'abril de 1507,
e dirigida pelo ministro dos Cultos, ao prefeito
de Puy le Dome, lei-o eu o segiiin te:
a&. M.convenceu-se, nas suas d ifercntes wiageizs,
rde que todor, os hospicios, coqflados a sfrn29les
cradministra@es ciuis, deram f ~ a c o s ~*esultudos,
ae de que os pobres eram nelles tratados com ne-
cgligencia, e ás vezes com dureza, por parte dos
r agentes mercenchios. E m consepuetacia do gue me
aordmou p enviasse h ã s de c a ~ i d a d ep a r a
cos departamentos d7aZeni dos Alpes, e para toda
aa pmte onde as d o houvesse. D

A necessidade dellas tornou-se mesmo 130


visivel, e tao urgente, que n8o bastando os soc-
corros da caridade particular, posto que gran-
h,para o rapido desenvolvimento do seu in-
stituto, o imperador entendeu que devia subsi-
dial-aa,
O decreto de 3 de fevereiro de 1808 abria-
Ihes no orçamento desse anno u m credito en-
traordinario de 182:500 francos: segiirou-1 hes
mais 130:000 francos de subsidio permanente
por onno: e concedeu-lhes egualmente todas a s
casas que ellas pedissem para o servigo de seus
estabelecimentos.
udrigo de mudanças; tudo co)zwi.re para que a
ded@açüo seja completa e 2nuariacel.
A reuniüa em co~zgregagãose deve tanzbem a
ucolzsevcaçüo admi;*avel de costumes pu~issimos,
ano meio da corrup~üode g~*anclenunwro de po.
abres, adnzitt idos 120s f~ospicios,ou soccot*ridos
<rei)&casa pelas religiosas.
ct Estas rnullzeres teem por anzparo d a szm vir-

atzlds, não sd o sentimento de sew deveres, e o


arespeito qne inspira a proprz'a obra de cnrida-
ade que e1las me9*ce?12;senão tanzbem o espirito do
acolyo, que Zhes fazreceiar, conto uma das maiores
ardesgraças, o perigo de mancha~ern,por pualp~cer
amodo que seja, o credito de uma congregn$o,
apue,e?regou a inspil-ar a paòlica ~enercigão.
aE' ussint.que ?nau nzulhev*,fi.aca por 12aturesa,
ait)-Ge vespeito ao vicio mais audacioso; e evita
-ao ter de deixar sem soccorro apuelle mesmo, que
upoi* sua depratiaçüo inspiraria temor ou horror
aa yzralpuev outra pessoa.
a 0 desejo de alliviar a humanidade que soffi.~
-ufet em todos oe tempos objecto da sollicitiMEe dos
aprincipes e meditaflo dos philosophos. Nin-
aguem, todavia, mcebeu idéa, neai mais fecuqda?
rinem mais segura, lws seus resultados, do que
a#. Viceizte de Paulo.
r Em uüo se podeviam esperar resultados eguaes
=das h t i t a i g e s oidinarias. Xeriu um erro acre-
editar pw se aohassem tão geralmeente derrama
ados os agntirnerhos de humanidade, que fosse f a-
a cil encontrar pessoas de um e outro sexo, pue m-
asagrassem todo o seu tempo ao czcidado dos po-
a bres.
a A experie?zcia o demonstrou, já, nesses t e m p s
ade pertuq*bagão v~;ligwsae ciuil, por que passá-
amO$.
a As religiosas hospitalar ias rc~lobravam enth
cde zelo: quanto mais as atorntc~atao.am,mais a
aReligiilo Ihes tornava sag~adosos seus deveres.
.No entretanto, quando o culto se jwosereueu,
ellas foram ar~astadaspela torrente devasta-
apresentaram-se Ús portas dos hospicios,
apara tratar dos doentes, pessoas p26c uhi eranz
I b ~ u d a spela propria preçisdo; chcyuranz a iu-
a traduzir-se nesses hospicios fanzilias iizteirns; e
asobre protezto das diversas f u~zc@esque atd ahi
aeranz gratcbitas, devorou-se uma parte da suó-
asistencaa dos Ijobs-es; e muitoe hospicios chegaram
a mesmo a serem abandonados.
proprios pm lá entrarana sem vistas de
aexpoZia@~, careciam, em todo o caso, de um
rsentimertto erratcial, p e era o da abnegação
.pessoal.
cr Tinham os 8eus negocios a tratar, as stras fcc
umilias a swtentar, e não podiam mesmo renun-
cciar completamente aas prazeres e h i i t o s da so-
diedade : nèk podiain aldm d'isso ter pelos po-
abres esta sollicit&, esta a$ei$o, de que a ra-
a d o se erpanta, pando não é engrandecida e
u a p r f e i ~ o a d apelos sentimentos religiosos.
a 0 paie da Ewrop, e% pw o governo fac
amaiores despezas com o s p o k u d a Inglaterra,
se todauia os p h e e expe,rimontam ahi nem
cas consolqões, nem os c u i d d s , que devem, em
u f i a n p , ás irn2ãs hospitalar ias.
aNa Inglaterra, c07120 no resto da Europn, pr
a expennaentam os mesmos inconvsnielLtes, que lua,
~ I t u l i a .Ci*iam-oe estabelecimentos para os pobrar
tem geral : mas f a l t a a c d a pebre em p a r t k
alar, um benzfeitm*,ptm cu~bsolad~r.
.Nos hospicios deFra.nqa; wlo conharw, cadai
adoente conta wm apuella irmã, que o serw, ce
.nu, se fosse o ohjecto unico de seus zelosos cui-
adados.
aAs religiosas hospitalarias, forrnant pois u m
instituto, qw tem elevado a Franpa ao pj*imeiro
agrau de importancia debaixo do ponto de vista
ade qzte se trata.
aEZlas oferecem além d'isse um assombroso
r espect aculo dos grandes efeitos da Religião.
rSem fallar no respeito, que ellas inspirant E
aclasse ~~umerosa, entre que derramam os seus be-
anejc208 ; que impressão não sentirá o homem h-
a creduto, ou tibio, ao ver que sd a Religião pbds
d a r (I forsa d'alnza, e o calor de sentimentos
anscessarios para adogar os maleo de proc
ximo ? !
a O quadro que ofirecem, sem cessar, os ze~ozot?
a cuidados dessas mulheres religiosas, que vôam
aern soccorro dos pobres, ou pus os servem no.8
uhospitaes, é o espectaculo mais proprio para
afazer respeitar a Religião por todas as alasses
a de cidadtios.
Sr. presidente. NBo se póde descrever, nem
com mais verdade. nem com mais eloquencia, o
e ~ r a c t e r divino d'esta instituiçao, do que o faz
o documento official, que acabo de ler.
O que o conde de S. Regnault previa, reali-
sgu-se. O instituto da3 irmãs da caridade le-
vantou-se para nunca mais tornar a cahir.
&e de revoluçòes, que de mudangas politi-
cw, tem passado por cima da Frawa desde
1809 a g boje !
E todavia, tal 6 a veneraçao publica. que G&-
ce e rodeia as ir.tn8s da caridade, que todos
os par tidos, em França, as teem respeitado, todas
as revoluçòes tis teern acatado!
Resta belecidau pelo imperio, virem cabir o
imperio, e ellas continuaram B prosperar.
Nos dies de julho dividirnm-se pclos dois
campos, e levavam eguaes soccorros a uns, e
outros combatentes.
Em 1848, os sublevados abaixavam as armas
quorido ellas passavam.
E ainda hoje o herdeiro de Knpoleno, o Gran-
de, recorre a ellas, c lhes entrega os feridos c
os doentes dos seus exercitos na paz e n a guerra.

E nesta parte, permittn-me o sr. ministro


da marinha que ao parecer, .que leu, de um ci-
rurgiào que visitou, nãio sei quantos, dias esses
estabelecimentos, e se informou, não sei com
quem, do que se passava n'elles , contrapoiiha
nada menos do que o parecer d e Nnpoleúo I, e
Napoleâo 111, que decerto viram melhor, e er-
rodaram mais esse negocio, do que o cirurgiso
adventicio.
E s t a m reservado para o sr. ininistro da ma-
rinlia o vir aqui negar, e com i30 fragil funda-
mento, o que 6 opiiiigo assentada entre os go-
vernos do primeiro e do segundo imperio; e o q u e
ficou sendo opiniao assentada para todos os ge-
-neraes civilisados, depois.da guerra da Crimeia.

Nõo é s6 na Trança que s e comprehende hoje


.o que são, e o que valem as irmas da caridade.
Na I talia-na propria Italia-teem ellas feito
taes milagres,que até a impiedade da revoIuç80,
as tem respeitado.
Chamadas pelo Piemonte muito antes de re-
bentar a guerra com P Austriu, teem assistido,
ínpasslveis e inntacaveis, a essa constante per-
seguiç8o religiosa.
As ordens rnonasticas foram lá dissolvidas, OS
moiigcs dispersaram-se, os bens foram arreba-
tados pelo governo, os prelados e parochos per-
seguidos, declarou-se guerra a tudo o que pro-
fessava a religiao de Rotnn ; e no meio d'esse
desenlreiido athcismo s6 3 s iriniis d a caridade
Foram I cr-peitadas, s6 ellus c011tinuaram emcorn-
munidadc, e, o que ó mais, o pfoprio governo
de Victor Manuel Ihes deu protecçâo e apoio.
Sabe v. es.", sr. presidente, quantos hospi-
taes'militares o governo da Italin entregou h di-
recf;8o e ciiidado das'irm2s do caridade, só no
anuo d e i861 ? Sete.
E este facto, é, s6 por si, hcm mais signifi-
cativa, e muito menos insuspeito, do que esse
relatorio, não sei de quem, que o sr. ministro
do marinha aqui nos veiu ler.
Tenho tainbem diante dos olhos o relatorio
.feito ácercu d'esses hospitaes por dfistress Jurne-
son, uma senhora protestante, de irnmenso cre-
dito em Inglaterra, c que tem consagrado a me-
lhor parte da sua vida ao estudo d'esta questào,
e nella leio o seguinte :

c Unz dos directores do grande hospital militar


ude Turint me declarou, que zs9na das melhol-ss
aacgões da sua vida era ter 9-ecmme~tdacloe fa-
a&l&do a {ntroducgão das irmãs da cavidade
a napudle estab$ecimento.
aAntes dellas ahi serem dmittidas, os solda-
udos doentes eram tratados por enfermeiros, tira-
ados dos quarceis, c escolhidos de ordz'nnrio entm
o os homens considerados como. imploprios p a m
atodo o demais seruigo.
aEra preciso rewrmr á disciplina mais ri
agolasa para manter urna apparencia d'ordem
aentre elles: a falta de limpesa, o desati~~bo,c
-76-
r negligencia, a lmmoraZida.de, tinham chegado a
r um grau verdadeiramente assustador.
a Todavia a auctoridade medica e a militar re-
tsist2ra7n constantemente á substituigão desse r e -
rgimen, até que o chole~ainvadiu o estubelecinzen-
a to: ao aspecto temiuel do Jlagello os enfermeiros,
rferidos de terror, recusaram-se a servir. Foi nes-
ate momento de preplexidade e de yanico geral,
apue se decidiu em$m chamar as irmãs da cari-
rdade.
aDtsde então tudo mudou de face: o aceio, os.
.cuidados zelosos e dedicados, o conforto em to-
nd08 os sentidos, jzerana esquocer promptameniis
r a antiga desordem.
aAlão oe passa um dia, accrescentou o meu in-
aterEqutm, pus eu &o agradeça n Dezu esta mu-.
adança, de que tive a ventura de se?- o instmc-
amento humilde,

Tratando depois dos serviços prestados pelas


irmãs nas prisões, diz Mislirtress Jamcson que o
governo havia jir tirado admiraveis resultados
d'esses serviços ; e refere, que fallando com o
p~oprioministro , a cargo de quem se achava
esse ramo de administraçao publica, lhe dissera
elle que a experieocia havia jh mostrado, que a
administração das irmas are nPo, a6 vantajosa
no que respeitava ao serviço interno, C prepol
ção e distribuilção dos alimentar, e aos cuidado$
de pharmacia. e tratartiènto dos enfermos; senso
tambem pela salutar influencia, que ellas exer--
ciam sobre o caracter dos criminosos, que alli se
achavam presos.
E ouvi dizer tambem, [qiie observando-se por.
parte do governo portuguez ao ministro Cavoup
que se n8o eomprehendia aqui como n Italia
mdntinha e protegia a s irmas &e caridade ; o
ministro pitmontez respmde~aque-os serviços,
prestados por ellas nos estabelecimentos a seu
cargo, eram tantos, e t ~ publicamente
o reconhe-
cidos, que nem o governo se lembrava de as
expulsar, nem qiinndo se lembrasse disso, teria
forya para o conseguir.

O sr. miriislro da marinlia disse-nos aqui,


que a iridisposição contra as irmãs de caridade,
era t8o geral, que havia poucos dias, acabavam
ellas de ser expulsas de um hospital de Vienna
d'Austria.
Sinto muito não vdr presente o illustre mi-
nistro, para lhe dizer que essa asserçgo tem só
iim contra: e é que em Vienna d'Austria nao
havia, nern nunca houve, hospital algum servido
pelo instituto de S. Vicente de Paulo.
Sr. presidente, que estas calumnias se digam
em jornaes, o quem o habito de as dizer e pro-
pallar tirou jtí toda a importancia, não admira.
Mas o que eu não esperava, era vPlr um mi-
nistro da corda subir á tribuna, para fazer cBro
com esses homens, que entendem que para de-
primir u m a instituiçiio é licito inventar tudo, e
dizer tudo.
Em Vienna d9Austria, repito, nunca houve
hospital servido p l ~ iostituti de S. Viceote de
-Eiiulo.
Peço aos srs. tachygraphos, que tomem nota
disto: e o sr. ministro mc dirá depois se o ver-
dade é o que eu digo, ou o quo elle disse.
(Eneou na sala o sr. minktro da marinha)
O orador, dirigindo-se a - c l l e : Eu acabo de
dizer, em resposta a u m facto, completamente
inexectp, que v. eu.'. por parte do governo, nos.
asseverou do alto da tribuna -que ae irmãs de
caridade do instituto de S. Vicente de Paulo
niío foram expulsas, lia dias, de nenhum lios-
pita1 de Vienna d'ilustrin, corno v. ex.' disse.
E accresceii tei que nem seqrier podiam sei-o,
porque a verdade 6 que nenhum hospital de
Vienna foi ainda a16 hoje administrado e diri-
gido pelas lilhas deste apreciate1 instituto.
O facto não 6 nem podia ser verdadeiro: e
v. ex.' enganou-se, e enganou-nos.
Osr. ministro da marinha- Peco a palavra
para explicações em tempo apportirrio.
O orador-alui to bem. Será mais outra re-
tractação.
O sr. ministro da marinha - Nào fiz ainda
nenhuma retrectoçUo.
Oorcldor-A camnra e o paiz tomarão iiota
das que v. eu.' tem feito, e Iiade fazer ainda
atéao fim da discussão.
I? mais facil espalhar impunemente estes fa-
ctos por via dos joriiaes, do que vil-os aqui oyre-.
goar do alto d a tribuna, e debaixo da responsa-
bilidade de ministro.
Fui daqui exami~iaras estatisticas do instituto
rospeitavel de que se trata, e ngo achei lh hos-
pito1 neiihum de Vienna entregue 4s filhas de S.
Vicente de Paulo.
Espero que S. ex.. as examine melhor, c nos
venha aqui dizer depois qual de n6s se enganou.

O illustre ministro leii-qos tambem um tre-


cho dochamado udlánife3todopartido libcraln ;
obra, saida, segundo S. e*.' nos disse, da habil
penna do sr. Alex(~ndreHerculano.
EIIpeço licença para repetir o leitura desse
trecho para melhor firmar o apreciaçào, que ia-
so delle, e do argumento de s. ex."
<t Os pomporos s*elato~ios(diz o s r . Hercec Zuiio)
.das nia~uvilhaspraticadas pdas irila3s da cnri-
@dadeno Oriente, o que provam de nzodo peram-
aptorio é que a reneçUo ó iiabil.
aSaÒei;s o gzle se passava então no paiz, que
a e l l n ~cl;ando~znz.nm pn9.n suppril* as ilzsz~$cis~z-
cccinsdo.c poccl*zzos da Ilz;clZa!c~ra,da F~*agtp, da
aSarJe~zl~a e , dtc Tt~g-quiu? 13ir1;ol-o-hen~os.
« B n Franca, dos doze nziZhOes de dssgrn~ítdos,
a e u j n alinxentação consiste al3enas em cci2teio,6a-
atatas, c agua, e que enz gl*a;zdeparte vicem em
~ccasebresinfectos ;mor?*iunt de jòlne, e de nlise-
a?.ia oita?~ta mil pessoas, só no deczwso de
a1855!. . . .
a Onde era o posto du irnzu da caridade fisu~a-
aceza no meio de to~ztosi,lforirtizios ? Era 7za pa-
atricc, ozc nos nca~npamcrztosdo Oriente 2
cE1.n. ao p4 c10 soldado, ferido otc doeate, ?nus
C O ? ~cmzstitzciç20 ~vbustaede ataimoféro, vigiado,
a acuriciado pela p~ovidencia solicita dos poderes
apzcblicos ; ou .na aldga, no casal solitario, na
a ~gua-furtndado operar*abi.il, ao pé da enxer-
aga do uelho, da mttlher, do i7ifante, 92Ús, esfai-
amados, esquecidos do 7nzazd0, aba~zdonudospela
acnricíade publica, e enviando talvez no ultimo
uatc~ztoum gqqito de nzaldi@o 4 sociedade ?. . .
a Os 23l*eceitosc10 liuro piebêo (fhlla do Evange-
alho) podiam czcmpri~*-seem Ir;*angm. N a o &c-
emos se foram cumpridos no Orielzte.
a O pus sabemos d que apiedade com o infortunio
aexrrcida obscurammts no case*, na mansarda,
a nos recessos onde se occ~cltanaas grandes n~ise-
a ~ i a s ,v!-a sómente Dcus. A Criméa, Athrnas,
a Var~zc~, GaZlpoZi eyam proscen2os, diante dos
a p a e s ss assentaoa espectadora a Ezwopa, e a
a ~ e a c ~ ãsabe
o o qzce vnZenz as artes scenicas.
a O theatro tentava! 8 s ?zÜo seruiu cxcessiua-
a m ~ z t ea hunzanidade, ezzcia12cSoas iri~uCisda cn-
w*idctde go Qrisnte, o luza~isazoescrevia um nza-
agn{fico thema para as pareneses dqs seus mi8-
tewnarios, quando tratasse de as introduzir, a
rds se introduzir, á sombra dcllas, em pzsaZqw
vais, onde a recccgão carecesse do seu auxi1io.i~
O sr. ministro niio leu o final deste trecbo ....
O sr. ministro da marinha : Não tive tempo;
mas é como se o lesse.
O orador :Muito bem. V. Ex.' leu só par te ;
eu quiz lel-o todo, porque quero completar o qua-
dro.
Quero que a camarn, que o poiz, apreciem a
calumnia toda, no seu estado completo d'l~edioo-
dez.
0 proprio sr. ministro, ao terminar o leitura,
que fez, gomo que tremeu diante da responsnbili-
dade de se tornar eurnplice de uma apreciaçso
t ~ venenosa,
o eomo:injusta ;e declarou que, longe
de desconhecer, admirava a te os valiosos serviços,
prestados pelas irmãs da caridade, no Oriente.
Mas, $r. presideti te, se esses ,serviços foram
realmerite valiosos ;se a apreciação E calumniosa ;
para que a leu o sr. ministro? Para que cirgu-
men tou com ella 4
E se é justa; porque elogio os serviços? Por-
que se nào associa franca e daliberadamente 8.
eensura verienosa, qiie se faz delles ?
« A miseria na França!....1)
A revoluçõo lalla sempre assim.
Se o missionario prega, e doutrina*no Miiibo,
-no paiz natal ; grita-lhe que vh para a Africa,
com o fim reservado de lá o deixar 96, e'desam-
parado, at6 que, ou oclimo, ou os negros, o ma-
tem, em sacritic;~puramente inutil para a missòo.
Se a missa0 se quer orgaoisar, e pariir, em
h r p , e com meios de fructificar; a revolução
clama coatra a reacção que pertende levantar-se
e usurpar-nos essas possess6es.
Se os irmns da caridade, chamadas de Franpa
para o ensino, se entregam a este principalmente ;
e se limitam a ir tratar dos enfermos, que as
chamam; a revoluç3o grita porque ellas se não
deram todas ao tratamento dos erifermos da fe-
bre amarella nos liospitaes e nos domicilios.
Se largassem o ensino. e se metessem nos
hospitaes, e corressem em soccorro dos enfermos;
clamar-se-hia que a reacção aproveitava us hor-
rores da occasiào, para lançar mão dos hospitaes;
e trocava a modesta occupoção do ens'ino pelo
apparato scenico das ruas, e .dos estabelecimentos
publicos.
Se as irmãs d a caridade se deixassem ficar em
França, tratando só dos 80:000 indigentes ;cla-
mar-ge-hia contra ellas, parque entregues ao re-
manso da paz, e aos commodos do paiz natal,
deixavam ir os soldados da patria, sem a cunve-
niente e necessaria enfermagem, para as plagas
inhospitás e inimiga do Oriente.
Porque foram; lamentam-se os indigentes que
ellas deixaram na patria ;figura-se, como que de
recreio, a viagem ao Oriente; e esprobra-se a
immodesta escolha do appnrato scenico!
Calumtiia sempre ! Veneno sempre ! Mentira
sempre !
~bondo~auirarn os indrplcb .dd F~ança!
Pois as irmós de caridade foram todar para o
Oriert te ?
Ignorava o sr. H~rculano,e ignora o sr. mi-
nistro que as irmàs da caridade são para cima de
12:000, e que para a Crirnka poucas mais foram
de 100 ?
Ignoram que alOm das que foram com os exer-
6
cito9 francez e piernontez, ficaram ainda ajguns
milhares prestando em França, aos pobres e des-
v?!idos os immensos e incornparaveis serviços,
que 96 a religiòo púde inspirar, e que neriliuma
philantropia ministerial. ou an ti-rninis teria], con-
seguiu ainda oganisar ?
Os exercitos n.üo carecium dellas, rodeados,
como iam, de t u d o o que a proviclencia dos res-
p e c t i v o s governos soube iiiwentar e orga)~isu~*l
E de que outra enfermagem acompanhou a
providencia governativn os dois exercitos, senào
a dastirmàs da caridade?
Que diriam, se a3 irmas se recusassem a
prestar esse serviço á palria, á humanidade, e
B religiáo?
A' Pairia, que se diz jh que ellas rencgarn,
quando invocam o amor de Deus1
A' humanidade, que se diz que. ellas de-
samparam, quando seguem exercitos em em-
prezas aventuroses, para prestarem auxilio e con-
forto ao soldado ferido, mutilado, ou doente ;ito
campo, ou no acampamento ; no ataque, ou na
retirada; por baixo d e um sol ardente, ou por
cima do gelo, e do pantano !
A' Rcligiào que. se diz ser para estas sanctas
mtilheres um mero pretexto, na propria occasião,
e m que ellas, perante o mundo inteiro, a profes-
s a v a m por palavras,e por obras, que 96 a Reli-
gião podia inspirar, e s6 aforça dessa Divina ins-
piração podia amparar !

A empresa eya facil! A viagem como que de


aecreio !
Parece im possivel que haja coragem d'ineul-
car isto ! Não é a historia de ha seis ou sete se-
culos, que se desfigura : 6 a Iiistoria de boiitcm.
E' sabido que quando se apprestavam para a
guerra os exercitos francez e piemontez, se pre-
parava tarnbem, para os acon~panl~ar, o exercito
inglèz.
Vendo que os dois exercitos catholicos se fa-
ziam accompnnhar desse corpo de reli,'niosas en-
fermeiras, exaltou-se o patriotismo das senho-
ras inglezas, e quizeram estas prestar tambem
aos seus compatriotas egual serviço.
Varias senhoras dedicadas,com Jliss Nigtinga-
Zc hfretite, se olfereccrom, pois, no governo inglez
para accompanhir o exercito ao Oriente na qua-
lidade de enfermeiras.
O governo occeitou-lhes, com reconhecimen-
to o serviço notavel, que faziam ; animou-as ; e
prestou-lhes todos os possiveis meios e protec-
ção.
E as offerenter organisaram u m corpo com-
pleto de enfermeiras; e com ellas, e com o ex-
ercito inglez, partiram para a CrirnBa.
Querem saber os resultados absotutos, c com-
parados de tinta dedicaçao e actividade ? Scrh
ainda Illistress Jameson, iiigleza e protes tarite,
quem nol-os dieta.
« Tenho estado em relaç6es (diz ella) com m u b
atas d'essas senhoras que se encarregaram de
u engajar as enfemeiras assalariadas (NUASES)
q u e deviam ocompanhal-as ao Orietife: e as
~confidencias,que me teeni feito, attestarn um fa-
acto verdadeiraniet~tedeploravel.
((Etitre centos de mulheres que se offereeeram
upara este serviço. apenas 10 por cento reuniam
a as condições exigidar. E das dpurúdar-r eco-
~nheceu-se, logo que chegaram ao Oriente , que
m a i s de metade eram improprias para o ser-
Q
U V ~ Ç O ,o u incapazespeloseu m a u comporlamento:
«e foi preciso p o r isso reenvial-as para lngla-
aterra.
u A ignorancia, a falta de gcito , e de con2-
aprehensüo, resulianle da falta de pratica; o
apouco juiso , e a nenhuma circumspecção que
aas torttawa incapazes de mandar ; e a insubor-
adinação do seu caractcr, que as tornava inca-
npazes de obedecer; faziam o desespero daspo-
abres senhoi-as, que4 5% hauiam encarregado dc
udirigil-as.
« I'or seus habitos pessimos, quasi que se 1 1 ~ s
aproliibiu o accessso ás cflferrnarias.
Dadas a bebidas, e a toda a especie de vi-
acios. serviam apenaspara desconsiderar as se-
cnhoras, enfermeiras, na sua qualidade de Zn-
nglesas te de chrislils, aos olhos dos extrangeiros
ae dos infieis.
( ( E o que aconteceu com dois terços dessas
amrrcenurias, e com a generalidade das mulhe-
res de soldados, engajadas para o mesmo ser&
(($0.»
... Comparando depois o serviço dessas se-
nhoras, e das enfermeiras pagas, com o das Ir-
mãs da caridade, diz mais Mistress Jameson:
«Ao passo que a maior parte das nossas da-
«mas V.OLUNTAR~AS succumbiarn á doenç- ou,
aextenuadas pela fadiga dc um serviço, a que
nair estavam ncostumadas, se viam obrigadas a
auollar á patria ; ao passo que as Nuasas, as-
«salariadas cahiarn doentes, o u se mostravam
ainuleis por sua ignorancia, indisciplina, e i m o
moralidade, e eram por isso demitfidas ; as Ir-
«mies da Caridade, pelo contrario, acos tuma-
((das, corno estavam, a este penioel trnbalho,pre-
a~istiacnnelle com u m espirito de ordem, e uma
((energia admiraveis, de modo que longe de des-
u animarem dos*proprios embaraços parecia que
tiravam forras novas.
a Viam-nas sempre traiaquillas. pacientes, re-
asignadas, cheias de recursos, e vencendo as
«maiores diffkuldades com alina serena : supe-
nrioridade, que ellas deuia~iipor certo á aprea-
udisagem, que tinhairi tido, e de que davam
((provas, e de que as suas collaboradoras pro-
« testantes careciam inteirantente, posto que Ilzes
anão faltasse, nem intelligcncia, nem zelo, nem
« boa vontade. >I
Aqui esth, sr. presidente, aqui estk a empresa
facil.
O que 6 facil 6 dizel-o no remanso, cornmodo,
pausado, e duradoiro, do gabinete.
Dizel-o, sem o sentir ; dizel-o para as tur-
bas ; dizei-o, com uma seriedade affectada, e o
veneno no coraç8o.
Mas executal-o. . .que o digam as damas io-
glezas, que foram á Crimeia, e lá nio ficaram, se
Ihes nac embargar a falla, o espanto e a indi-
gnaçno que sentirao de certo se lerem isto!
Vozes : Deu a hora.
O orador: Sr. presidente ouco dizer que deu
a hora ; e eu não posso prescindir de fazer ainda
algumas observações sobre os projectos em dis-
cuss80.
Reservo pois a palavra e peço á cumara que
me releve de o fazer.
S E S S ~ ODI-, 17 DE MAIO

O Sr. Pinlo Ohelho. Concluirei hoje, sr. pre-


sidente, as minhas observações sobre os proje-
ctos em discuss80.
Hnntem, quando deu a hora, apreciava eu as
disposifões desses projectos, relativas aos institu-
tos de caridade.
Iloje, e antes de continuar, permitta-me v.
es.', queeu chame a cittençao da camara sobre
a contradicçõo, perenne e flagrante, em que o
governo se tem colloeado nests materia.

d
O governo tem sustentado sempre que a lei vi-
geoie exclue as Irmas da C a r i d a d ~e que é em
fraude dessa lei, que ellas continuam reuni-
das.
E oáo obstante isso vem pedir lei ao parlamen-
to para as excluir.
Aqui, ou ha lei de mais, ou verdade de me-
nos.
De duas uma.
Se jh existe lei, que prohiba essa congregação,
a obrigação do governo B cumpril-a, e fazei-a
executar, que para ezecuçso das leis 6 que elle 6
g0''c''no.
Se não existe, se é por isso que se pede lei, o
governo falta enti~oá verdade, quando diz que as
irmiís estào cori-regadas em fraude da lei.
Pedir tima lei, que determine aqui110 mesmo,
qiie o governo diz estar j á determinado por lei,
8, não sh uma perfeita inutilidade, senão uma
grondr: aberraçao politica.
-
Iriiiutilidade perfeita porque se o governo
nào cumpre a lei vigente, escusado é fozer-lhe
outra, e outro; porque elle tambem as não cum-
pre.
A hcrração política-porque os poderes pu bli-
cos descenceituam-se todas as vezes, que pedem,
e dào leis, fundadas no ludibrio, e escarneo da
rnissio executiva do governo.

Parcce que se quer responder a este argu-


mento dizendo, que a lei existente nao .O suffi-
cientemente clara, e se preste o duvidas.
Mas, pergunto, dosde partirrm essas duvi-
das ?
Levou o governo essa questso aos tribimaer?
Ordcnou por ventura ao ministerio publico,
que chamasse ao juiso competente a congrega-
ç&oarguida de fraudar a lei ; e ouviu, nessa ou
noutra questso similbante, julgados encontra-
dos ?
Neo. Ameaçou-se a congregaçgo com a pe-
Diz-se: que tanto as irmãs da caridade sejul-
goram a si proprias cornprehendidas nesse De-
creto, -e sollicitaram e obtiveram u m B r e ~ e
Po-ntilicio, desligando-as do Prelado maior, e sub-
jeitando-as nessa particular relação, ao Prelado
diocesano : e aecresceritam que ellas, subjeitan-
do-se agora ao Prelado maior, se insurgiram,
não s6 contra o Decreto, senão tambem contra o
Breke Pontificio.
O facto, porém, sr. presidente, nem se passou
como o contam ; nem tem a significafáo que se
lhe quer dar.
Em 1833; quando se publicou o Decreto, a s
irmãs da caridade nào estavam em relações di-
rectas coni o seu Geral : o Geral tinha de-
legado os seus poderes n'um padre de Rilhafol-
les, e era com esse padre, que eilas se enten-
diam.
Extincto o convento de Rilhafulles, esse pa-
dre continuou em Lisboa ; e as irmãs da carida-
de continuaram-lhe subjeitos, como d'aiites.
Plissados tempos, porém, o padre morreu : e
as irm8s ficaram de facto, sem Superior.
Foi entáo, que alguem se Ihes encarregou de
sollicitar de Roma u m Breve, que as 'desligasse
do Geral, e as subjeitasse ao Prelado diocesano.
E quem Ihes Fez o requerimento, fundou esse
pedido na dilficuldade, e quasi impossibilidade,
em que elles estavam, como senhoras, de então
recorrerem a França.
O Pspa 1180ju %ou essa razão sufficiente para
Ihes alterar o instituto ; e permittiu-lhès apenas,
que obedecessem ao Prelado diocesano, emquan-
to n3io tivessem meio d e atar de novo as suas re-
lações com o Geral da ordem.
Esse meio chegou ultimamente : e ellas, de
com o Breve Pon tificio, e Com 0 Prelado
diocesano, s~~bjeitaram-se em fim ao sei1 Geral-
& t e é qae é O ftlcto.
~(pzult«ueljc de ordem, ou iiitimaç5o da au-
etoridniie civil, em esecuç;io do L)ecreto invo-
cado? São.
0 1)ecreto pul>licou-se: foi logo applicado
iquelles que se compreliendiam na sancção dcl-
]e: e as irmòs d;i caridade continuaram, como
d'antes, imperturhavelrnente subjaitas ao padre,
delegado do seu Geral.
E o que fizeram depois da morte desse padre,
fizeram-no, cpmo acto particular seu, sem in-
tervencùo, nem conhecimento algum da aticto-
ridnde civil.
E foi de acordo com o proprio Breve, e com
expressa auctorisaçho do Prelado diocesano, que
ultimamente desfizeram o que entao fizeram.
Nenliuma influencia teve pois nesse acto aquel-
Ie Decreto : nem 6 verdade que as irmas se in-
surgissem contra as determina~õespontificias.
Ilisse-se tambem: qiie o instituto s e modifi-
cara essencialrnerrte com a vinda das irm8s frao-
ceras, substituindo-se at8 o instituto portuguez
pelo instiiu to franeez.
E outra inexactidao , que eu peço lieenpa
para rectificar.
Nunca houve instituto portugiiez differente d o
instituto franfez: o instituto foi sempre 54,
desde o principio ate hoje.
O decreto de 1819 , que o admittiu entre
n69, admittiu-O com o regra dada por S. Vieente
de Paulo, tal qual este vorao Soneto ]h's de@,
alterafáo alguma.
E d e França vieram atB as primeiros irmgs
da a r i d a d e , que serviram aqui d e 6s
que successivament~ se Ihes foram agregando,
e professarido.
AO principio estiveram directamente sul~jei-
tas ao Geral tle França : depois obteve-se, l u e
o Geral drlegnçse, como disse, em um padre
de Rilbaiolles, que era ii~slitiiiçTíolazarista.
E assirn estiveram até que esse padre morreu.
Depois fez-se a alteraçao ~ e r m i t t i d apelo Breve
pontificio, com o caracter de condicional e in-
terina.
E além d'essa ntdo havia nenhuma outra le-
galmente feita.
Alguem suppoz o contrario, por ver que
as irmas portuguezas , emqi~antoestavam shs,
ficavam de noite em casa dou enfermos, e, de-
pois da vinda das irmãs francezas, se negavam
a isso.
A verdade 6 porém que a regra de S. Vicente
de Paulo, prohibe que as irmas passem a ooite
fóro da casa, hospicio, ou liospital, em que re-
sidem.
Essa prohibição 14-se tanto n9 original fran-
cez9 corno na regra portugueza, que, repito9n80
4 senão a traducçùo litteral da regra franceza.
E se as irmss portuguezas ficavam de facto
em cosa dos enfermos, faziam-no por abuso, de-
vido tí necessidade, e falta de meios. em que vi-
viam.
Esse abuso cessou, logo que ellas se subjeita-
ram de novo no Geral : logo que houve quem
velasse pelo religioso cumprimento da regia.
E longe portanto d'essa siibjeiyso trazer n al-
teração de instituto, troiixe, pelo contrario, a in-
teira e rigorosa observeçiio d'elle.
De resto. sr. presidente, niío param uiadu
aqui as controdiyòes do governo.
Diz-se que o artigo 1." do projecto se dirige,
unica e e r c l u i i ~ s m e n ~aedar
, cabo dessa co1,C;i.e-
ga~30.
>;as e notarei, que o governo só se 1enll)re dc
nos pedir lei que a mote, depois d'elle o ter
morto jh civilmente.
Ainda ha pouco o Sr. mnrqurz de LoulP se
saiu a pub!ico com um notnvel decreto, extii~~uin-
do essa corporaqào, e retirando-lhe a entidade
juridicn.
E I i o j ~ , como que se esquece d'esse derreto,
e vem-nos pedir que extinguamos aquillo inesmo,
que elle ja extinguiu.
Foi aquetla extinccso vllida, ou nào foi?
Se o foi. como se pede lei contra o que j6
nao existe f
E s e o nao foi, porque nào começa o governo
por declarar irrito e nullo oseu octo de hontem?
Quer surtentsl-os ambos? E impossirel.
Depois do decreto u congregocão - nas suas
releçùes temporoes e civis-desappareceu : o que
resta e uma reunino de aenhoras, que vivem, 6
verdade, nr mesaia eras, mas sem curacter pu-
blica de a~mciaq%o, e sem laço algum, que as li-
gue eirilmente.
E se desde então a congregacno deixou de
existir civilmente : 6 absurdo pedir, 6 absurdo
fazer lei para a matar hoje.
Quer-se que vamos meis longe?
QQer-se que annullemos os votos feitos pelas
senhoras reunidas nessa e m , ou n'outra quel-
quer?
podernos. O poder civil nso tem nada
com e m s votos: sso rim acto d e consciericia,
um acto espiritual, um acto absolutamente es-
tranho á lei civil.
Praticam essas senhoras algum acto externo,
menos legal, menos licito 1
N â o me corista, que elles fapam vida senão
de exercitarem c praticarem as Obras de Miseri-
cordia.
Mas, se além d'isso, ellas praticaram, ou pra-
ticam algum facto punivel pe!a lei civil, lá estlio
os tribunaes ordinarios para as julgar, e para
as punir.
E se o que se nos pede é uma lei d e exce-
pçào , uma lei ad odizlm, não devemos dá!-a ;
não podemos d ~ l - a; que nem é propria de nús,
nem da alta missáo, que exercitamos.

Feitas estas observaçcies , eu vou continuar


c o m a aprecin~ão,que interrompi hontem.

Demonstrava eu, com documentos officiaes, c


com escriptos notavelmente insuspeitos, a acção
benefica das irmas da caridade.
Referi-me, nessa demonstração, por varias
vezes, a Jfistress Jamcson-iugleza e protestan-
te-e que por essa razõo tem para mim um do-
brado valor de auctoridade.
Como protestante- a sua cresya a levaria
naturalmetite o julgar mal d e iirna institiiir~o
120 estreitameritc ligafla com a f6 catliolicit.
Coino iriglcza-podia dcisnr-sc domiriar pelo
ciiirne dc utii iiistitato, q ~ i tern
c a sua skde prin-
cipal em Frorica.
As coiifissóes d'ella portanto sõo dobradamen-
te insuspeitas : e por isso a prefiro a muitos
outros escriptores mais favornveis.
Citei-a nas suas aprecin~òessobre differentes
estobelecin~er~tosda I talia ; e sou cital-a ainda
em relrrencia o outros paizes.

Com relaçáo á Inglaterra-lamenta ell-oa falta


da carinho e de conforto, que ha em todos os
hospitaes, ainda 110s mais aperfeiqoados e vigia-
dos.
E conclue, propondo a admissão nelles de ir-
mãs da caridade.
Paro esse fim ella nota, que a enfermagem,
ahi organisodo, B exercida por p,essous tiradas
das classes baixas da sociedade, sem n instruc-
f i o e dedicaçao neccssarias para dorninarem e
reanimarem o espirito dos doentes.
Cumprem, diz ella, quando cumprem, as sua6
obrigações macliiiiolrnen te :e, f6ra rarissimas ex-
eepcòes, nào dão, nem mais cuidados, nem mais
console~ùe~,do que as prescriptas nos regula-
ineiitos o k i a e s .
E este defeito 6 que eila queria evitar, reu-
nindo nos hospitaks um certo grupo de mulhe-
res, intelligentes , caritativos, e extremamente
dedicadas.
«.?Ias (accrcsceota ella) o trabalho é penoso;
as deveres repugnantes ; a remuneração fraquis-
sima em compara~üocom os serviços e s i g i d o s . ~
a Logo-será impossioel obter a cooperaçaio de
mulheres de uina classe mais elevada , sem que
dias sejam animadas de uni move1 szaperior a$
inferesse pecuniario.
.E c o k efeito (conclue ella) :para acalmar
a irritabilidude de q@e)nsofre, para reaninq
os espiriios opprimidos com o peso d a Oesgrapa
e rlu doença ; para coi2solar, para forri$cnr, í
niister uin juizo tiio são, unaa syrnputhiu tlio de-
dicada, uina tcrnura t2o inezyuiuvol, que sd a
caridade clirislci pdde dál-a.»

Pnss;iitdo dos hospitaes ús prisões, diz &tis-


trtss Janteson que exnminariila a prisao de Ncu-
dorf, n a Allemarilia, dirigitia pcliis irmãs da ca-
rid~ide,fichra maravilhada, do que vira.
Nessa prislío havia entòo 200 condemnadas,
escolhidas dc critre as mais pervertidas e indis-
ciplinadas.
E 6 nos termos q u e ~ o uler, que Jlistress Ja-
mcson descreveu o que riu.
Diz eila : ctPa~.a tlir>i,qi,=e disciplii~u~-esta
amassa de ç~vnlurusuioli~rtns,hauiir 12 religio-
asas, az~xiliadaspor 3 capetlües, I medico, e I
acinrgião. 1)
R AJorçcb militar e os guardas que no ptviuci-
apio se pozerana cí disposi~üodas relipksas ti-
anham sido despedidos.
& A direc~doe a segurança do cstabeiecime~ito
rachavam-sc cxclz~sica~itenta conjadas a essas fm-
agais nlzdhe~cs:c ctL~dali20 ri nrida, r/zt<: poclcsse
aegualar a d i g ~ ~ i d a d eo , bom senso, u puclc~ic Li,
e n cnridaclc sa12ctc6, clestc peyt~mmc e o p de di-
arecgão.
c 1 1 <liJ'crelzçn que existia entre n appurerlcitr
u c O congrortanaezzto das crin~iiaosa~ :20 'tnoirzelito
adn szm entrada, e powo tempo depois cZ.: viue-
urem 12a prisüo, era ~eal,,zelzteextrccorclli~crrin.
a Qziundo eu cxprinai 4 sz~ppci.iol*no i,ii.tc csp:t~i!u
a2)or easa t~*aiu;Sormu~Üo,vpo*(idu enz po?tt*i
aternpo, e por tõo poitcas t-~nris,iresscts desgraia-
rpfugo do sela sexo, respoi~cleu-nlcella com
t n 1,iaior ~rcrturnlidade:
as- DUI-XDA QUT; SE N ~ PRECISASYEMOS
S AU-
amLI@ D E FORÇP, N ~ O XOS FALTARIA: MAS GRB-
'r-* AOWIKI'OSDD" DOçURA QUE N ~ POJlOS S EM
, É-sos TXO FACIL DIIIIGIlt ESTA3 200
a3II:LTIEIIEJ, C0310 SE FOSSEM ~6 100, 011 50. 0
a1*0»1:K DE QUE USAYOS RARA ESTE EFFEITO, N ~ O
'ESTA EX 36s: VEJI-NOS no ALTO!
a E' e#-ide~ate quc elln tinha uma conlfangn pro-
e f i i ~ t í l n lieste pode?* superior, c a Ji~*nicconvicç80
adc < l u d t l ~ ~éL11ossicel
) coin n F4. o

Tise R j hontem tambem occasiáoadc me


rir ao3 serviqou prestados'por essas sanetas mu-
lheres na Criméa.
.$fistrcss Jnmeson occupa-se tão espeeialmente
da eoinparayilo entre esses serviços, e os presta-
dos pias senhoras protestantes que estavam ao
servico do exercito inçler, que eu peço ainda li-
ceny? á eamara para ler alguns poragraphos delta.
# E p*ecíso confessar (diz ella) qzce a sz~erio-
ri(//lfle das IRWXS DA C;IBIDADE catholicas s o b ~ e
c a s sr:asr.s (enfermeiras)foz evidente.
n;ls estot isticas o provariam, quando mesmo o
efacto nüo fosse rewnihecido por todos, sem dis-
afi~w-;in de crr?12ga,nenz de opiuiZo. rr
a E/t rnsi?o desta sztpc~ioridadeé facd de com-
uprhendcr por todos os ytle tecm cstudado o selq-
avico dos hospitaes, e as suas exigencias.~
«Pcira a s IRHÃS D A CARIDADE! o tratamento
arlos doentes nrio era uma coisa nova, emj~rclreil-
adida no calor do enthecsiasmo. D
~ S , de longos arznos, a
l i v e r pura O S ~ O ~ T era,
.resdn@o do seu coruç:o.
u Para esse $,)a tinhani feito um longo novici~tdo,
ntcnicame~iteoccripadas do que, nzuis t a ~ d e ,tsriuna
«da fazer, de ~ n s i u a r ,de prescrever. i,
aD'ahi cirzhn a perfeita unidade dos seus tra-
nbalhos, e a facilidade com que cada unm conti-
n Ilunca n obra, qzie outra se tinha visto obriljncla
,n i~~terromper.
a Pelo contrario muitas das senhor*asprotestaq-
e f e s não sahinni sequer, o ~ I I L e r a tl-atar de PO-
abres, e de dosntes; e das gice sabiam cada uma
atinha o seu modo ospecial de tratanze~zto, c ~ t E o
vadia habitzlar-se a nenhum ozltro. n
aDemais: as irmds na"o se achccvam ~epenti12rx-
amentu collocadas n'unza posição uoua, e iiicapn-
uzes d4 con1pre7~eliderO m b a r u ~ odnpuelles, yue
cobedecianz cís suas ordelis: antes de apprt~zcie~.em
a nzciudur, tirzItanz apprendido a obedecer.^
C E &pois desse talento especial para nzanrln~-
ue para orga?zisar, ndíh sru tão notavsil conao n
aperfeita ha~monire s i m i l h a ~ t ~ ne ,m q w o acto
ad& cada irrnir: se achaua com os de todas as ezt-
utras. D
a A s nossas szpwintendentes lanaentavam inces-
asantemente a fnlta, que lhes fazia, esta expe-
ariencia anterior, de governo e directão. a
.Dispostas e m j m pelos seus votos a umu Uidà
ade servigos rudes as IRNAS ~ e s i s t i a mds fadigas,
rpue amuinavun~a saude das damvs inglezus; e
acontinuavant sena dificuldade o tra6alh0, a que
arestas succumbiam. n
a Eva conao zcnza rotina, n que jrí estmana cos-
tumadas; um irzcornnzodo, zcma faltu dri dcacaizgo,
ae de conimodidndes, em yzle já estavam endure-
u cidas.
No principio deste treclio .Jlistrcss Jaii~csoia
7
referiu-se a s cstatisticos. O resiiltndo destas 6
realrneote curioso,
De 179 Ir,,i~.s francczas e 30 italianas, qile
os esereitoa francez e pieinontez
h Crimeia, nenhuma fui reenviada : e durante a
morreram -28 francezas, e 2 italia-
na<.
Das ttur.96. pelo contrario. 22 das 33 dirigi-
da* por Aui,~.s At'i>igtingale, c 12 dn.; 29 dirigidas
por M i g ~ Siot~lr!/, forarn recfiri.idus logo nos
priineiroi seis mese<, por sei1 mau ~ ~ m p ~ í t a m e ~ l -
to, irlv;il,aciil,ide, clocriçns, c oiitriis causas.
I) 1.; Ir.,~iirsd e (,'ai-idade por conseçuin te hoti-
ve ein lodíi n gucrrii umJ biiirs de I 'l por cen-
to: emquatito que d,7s nurses a baixa passou de
55 por cento só nos primeiros 6 rnezes.
E*ter exemplos, estes dados estatisticos i? que
o iiiuutre delititedo, que ine precedeu devia con-
srittar aittcs de fallar nesta mnteria, e antes de
vir aqui orgumeritar com eiitliusiasmos de mo-
meti to.
Xenhtim povo, sem dusida, 6 mais na turalmen-
te 'prolienst 3 caridade, d o que o nosso.
S'um momento de peste. oii de qualquer o u -
tro fiapello, ou desgraça publica, allepra .o co-
raçao ver como o entbusissnio, o compnir~o,e n
dedicnçùo nascem ccpontaneos em todas as clas-
se. de+ta nossa sociedade.
JI3r esses seiitimentns, que siio de um gran-
de auxilio, não bastam, para que 0 3 soccorros
da caridade se tornem permahentes e efficases.
Carece-se de um tirocinio difficil, de uma cer-
t a ordem, uniáo. e disciplina, que 96 n'um inS-
tituto permanente se pode encontrar.
E es'e instituto será sempre ephemero, se lhe
1180presidir a vocacãu e o sentimento reli,'oio~o.
Porqire o instiiato das Irmás da Caridade ti-
nlia essa o r g a i ! i s ~ à o forte 'e esclarecido, e essa
fk r i i u , que $:io sentimento profundamerite ca-
tbolico pode inspirar ; é qiie elle venceu todas as
difliculdiides rlu Crimeia, com geral applauso dos
goveriios, que toi~~ararn'parte nessa luta, sem dif-
ferefiça de Religiùo, de crenGa, rierii de opi-
nião.
Os proprios ingleze'i confiaram á direcyão del-
Ias o hospital inglez de Balaclava; e sùo conhe-
cidos os olficios lue Jolbn Hall, inqpector geral
do srrvi~ode snude iriglez, e o general em che-
fe, Codringtolt. Ilies dirigiram no momento de!-
Ias, finda a guerra: embarcarem para a Euro-
pa, elogiando e agradecendo summamerite os
ser\ iyoi por ellas prebt;l<los no eaerri to i~iglez.
U m qeiierel russo escrevia tumbein em um
dos seiis relatorios o segiiirite :
H E' coin verdadeira satisfaçíio gue informa-
((mos o publico de que os feridos russos, tran-
«sportados a Constantinopla, recebem nos hospi-
-ataes francrzn, da parte das Irrnàs da Carida-
((de, os cuidados mais loca?t6~.u
«Fleis á sua sancta vocação, dedicam-se es-
atas religioins a mitigar os sofft~imcntoshurna-
tanos cotn tuna solicitude inteiramente cltristii,
asern prcferencia ppra ?&enlau»zanacinnalidade,
ae sem distitrcçiio do rito professado pelos deqra-
açados.
«Sabenios que ellas tccni leeado o seu cspiri-
«to benp/%o até a o ponto de comprar e fornecer
«aos nossos prisioneiros os reslidos mais irzdis-
- ~petnsavcis.
« i'ecnz-se mostrado 120 acl112irnueis cz~idando
uc lruluizdo dos nossos feridos, conlo t e e m fci-
*4t0 com OS ~ T C C ~ W P Z ~ S .
t
a Possa a ho»tenagen, de nossa sincera qi'oti-
rdüo chegar ao conhecinaento desias dignas re-
nligiosos, gue sd de Deus podem ellas receber a re-
R compoasa da vaissitolde caridade, que cumprem

« nesle mundo de um modo 660 sublime ?

. ..
O sultòo.. O proprio sultão !. Curvoii a
sua cabct-a diante de tanta rirti~dee tanta dedi-
caçào !
Vrn turco foi condemnado á morte por um
crime, paro o qual essa pena era realmerite ex-
cessivo.
A.P Irrnfis da Caridade sabem-no, e resolvem
salval-o.
Dirigem-se duas immediotamente oo palacio,
e pedem confiadamente uma audiencia do sul-
tão.
O pedido parece estraoho, e O repellido logo
i~ entrada do paço.
As hm8s insistem, e conseguem emfim che-
gar 6 presença de Abdul Medjid.
Em poucas, mas ungidas palavras, lhe expli-
cam o motivo, e o fim que alli as leva.
E o sultào, responde-lhes com o sorriso nos.
labios, compungido, a ~ffarel:

aSim! Concedo-vos o que me prdis!~


a Poderiu ezr recusar alguma coisa ao zelo 9 0
agrado, que vos inspira tas8 sentimentos?
Oh! Que hella Religiüe é aquelZa que inspira
Hein v&, ó snnctas mullzeres, uma dedicaçüo, como
ea G O S ~ ~D !
rtTós faüeis umai* e aEençoar a generow
aFransa!B
a IrIc. Ide wna este oficial: elle vos coi~duziráá
~ 1 ~ ' i s U oe: VLS tereis o prazer de licrol*, por voa-
asas i ~ r n j w i a s azüos, o vosso protegido, e rest i-
aiztil-o li sua familia. ))

E quando as IrmAs enternecidar, se retira-


vam, conf~~ridindoem suas palavras o agradeci-
mento c a despedida, o siiltào nccresccntou :
,%o equeçaes o caininho deste palacio ?
n Todas as vczes que tiverdes alguma coisa a
npedir-me, contai que todas as portas se abri-
nrno para vús, anjos de misericordia !

..
Tremenda l i ~ à o!. Sr. presidente, tremenda
liçào rios d i o irnperio musulmnno.
O ((crê ou morre)) do Alcorão curva-se dian-
te da caridade erangelica.
F: quando o chefe dos rnusulmanos abre a5
portas todas do seu palacio aos n-Anjos de Mi-
sericordiuu, como elle proprio Ihes chama ; pro-
púe-se-nos que n6s, reino Fidelissimo, fechemos
as portns todas a esses anjos!
Terrível pairào nos allucini ! ...
Os actos dedicados dessas sanctris mulheres
fizeram que o i n f i e l corifessasse por sancta e bel-
Ia a Religião que os dieta e inspira: e nós que
nos dizemos Crentes e Fieis, chamamos a esses
actos, ou hypocrisio, ou preversão !
O cntliolico de França e do Piemonte, o pto-
testnnte inglcz, o scismatico russo, e o turco mo-
sulmano -todos se deixaram illudir por aquel-
Ias sereas enganosas !
Só nós - Paiz t ~ n i c odo homens civilisados e
espertos -resistimos á mogia desse canto, e re-
cuninos, desconfiados e confusos, á voz de aiar-
me, do sr. !ministro da marinha -n latet an-
guis ! 1)-
Muito bem ! Sr. presidente. Muito bem !
Erpulsarernos as irmãs da caridade, e guar-
daremos para n6s as outras irmas, (1113 fizeram
o admiragao e as Jelieias d'essa assernb1i.u nota-
vel do salao do thentro de D. Mariii 11. (Riqo).
Essas é que são dignas d e nós!. . . E nós
.
nào somos dignos das irinas da caridade !. . .

O sr. ministro da marinha disse q u c se na


Crimeia as irmãs da caridade tinham feito a nd-
miraçao dos que as viram, em Lisboa, pelo con-
trario; chegadas na occasião da febre umarella,
se metterarn em casa, e abandonaram os erifcr-
mos aos horrores do ílagello !
O facto, sr. presidente, o50 é verdadeiro.
As irm8s francezss, que chegaram a Lisboa
por occasiao da febre, foram cinco : e d'essas.
tres foram destinadas ao ensino, e duas, entre-
garam-se, com as.portugueias, ao tratamento
dos enfermos.
Nunca ninguem as chamou, que as n5o achas-
se promptas.'É quando o flageilo estava no seti
auge; afugentando dii capital uma parte consi-
derovel da sua popula~no,as irmãs chegaram a
offerecer-se, mais ou menos directomcnte, parar
tomarení'conta do hospital d e S. José.
Esse ponto foi mesmó debatido, ante a nd-
ministraçao do hospital.
E se afinal para 18 não foram , nà; foi por+
culpa d'ellas.
Eram pbucas, e por isso (izeram*POUCO.\
Se qu:riarn que.fiiessem muito, deixassem vir
mais.
Mas por um lado liipitaram-lhes o numero, e
as tuoccões; pelo outro, perseguiram-nas desde-
o começo pela imprensa, calumniando-as, reãi-
culisando-as, e at6 apedrcijundo-as.
E no fim, vem a q u i cerisurul-as, porque ellas
íizeram pouco !
Abrissem-lhes as portas ; dessem~lbenprotec-
ção e apoio, em vez d e perseguiçào e culumnia;
e veriam o que ellas faziam.
.
Athenus e o Pirêo ardiam devastados pela
cholera em 1856, quando se lembraram de in-
vocar o ~iixilíodas irmãs da caridade.
As irmãs correram lá immediatntnen te, e pres-
taram taes, e tâo dedicados serviços, que a po-
pulaçiio e as ouctoridades,, o governo e o povo.
Ilies tributaram á porfia , louvores e agradeci-
mentos.
A imprensa publicou por essa occasiùo os elo-
gios que ern differentes oflicios lhes fizeram o
presidente do conselho Mardro Cordato, o mi-
nistro dos cultos, o prefeito de Athica, e Beo-
siu, o director da policia, e a propria municipa-
lidade de Atlienas.
Negar fundamento a esta opiniáo unanime,
6 uma pertença0 trio oussds, ~ ~ aljsurda.1 0

O illustre signatario do voto em separado,


disse tambem : Estimo. desejo, e qiiero em Por-
tugal o instituto de S. Vicen te de Paulo ; m a s
i. o instituto portuguez, 11306 o franeez.
Jti eu disse, Sr. prgsidente. que nno ha, nem
nurtca houve dois institutos de S. Vicente de
Paulo, um franeez, e outro portiiguer;
O instituto foi sempre um só.
E essa distincção, fez-se agora, 6 ultima hora,
para salvar a contradiçõo, em que se acha o de-
putado anti-reaecionario de hoje com o ministro
da justiça, que ho poiicos annos promettin, ante
o parlamento, reduhrar de esforços para dentro
.
em pouco introduzir. . note-se bem. . .intro-
duzir nestes rcinosj esse saliitar iosti tuto.
>Ias eu acceito a distineçào e a desculpa.
Quer eritào S. es.. expulsar só as irmàr fran-
cezos. e deirar que ch fiquem, protegidas e feg-
tejadas, as irmas portuguezas ?
É este rcalmeiite o acu mais sincero desejo?
Ouçamos .o seu relatorio.
A paginas 3í. leio eu:
nSejamos francos! Se niio queremos irmãs de
~<rnrid~iJc. cuszprc prohibir-lhes os fins a que
rrrllas se proptjern, o ensino, e o serniço nos kos-
«piíaes.H

E com effcito. r10 seu projecto, prup6e 3. en..


que esses serviços se prol~ibama todas as irmàs
da caridade, sem distineção de portuguezar ou
rarlcezas.
Kào 4 aioda suEcientemente explicito este
periodo? Tenios outro.
4 paginas 27 repelle S. ex.' o artigo i.' do
projecto da maioria da commissão, e sustenta
em Jogar delle o artigo L .O do projecto do governo.
E quer s carnara saber com que razùes? Porque
motitos? Eu leio:
efillemos claro (diz J. ex.?; o artigo do pro.
aj& da maioria nUo póde ter applicaç20 a ou-
atra c~ng~egaçu"~, que não seja a das irnzãs da
*caridade; p w p não existe ozctra alguma con-
ayregaçW neste l'eino, sufijeita a prelado maior
c ext l.cr ngeho. r>
eI,biiuertido em lei o artiço 'da p~opostado go-
62.sl*i2o, d o pide cculdinwr a covporagão das ir-
amas da caridade, ou as considerek portz6gueza8,
aou francezns, com ccna, ou com outro instituto, o
portuguez 016 fraacez. B
=São todas clal-anaente co?npi*ehendidas nelle.
cr NZo podem escapal*-lhe.D
aJIas pelo cirti,qo do projecto da maioria da
aco~n~nissZo, Jca-Zhcs abei-ta a porta para pode-
arem suòtrahir-se çi sua a2ililicat$o. D
S. ex." prometteu fallnr claro ; e fallou.
Iieflectiiido mclhor, quer hoje occultar o seu
pensamento ?
E' irnpossivel. Manet seriptum.
Na0 querem, riem as irmás francezas, nem as
portuguezas : ngo querem neiihumas.
E niío é só as irmas da caridade que n8o que-
rem: não querem nenhuma associaçào religiosa.
Desde a Associaçõo da Fb a t e á do CoraçTo d e
Maria; desde o Diriheiro de S. Pedro até h Asso-
-
ciação Consoladora dos Aflictos tudo no rela-
torio do sr. .Ferrer vem já envolvido sob o distico
fatal- c< Reacção.-
Eu bem sei que o p j j e c t o do governo fdfa
explicitamente s6 de coneregoções.
Mas esse projecto termina com um voto de con-
fiança ; e a significaçao, o alcance, as aspirações
desse voto veem expostas e desenvolvidas no reia-
torio do sr. Ferrar.
E esse reialorio, em que S. ex.' prometteu, que
havia de faliar, c! realmente falloii ciriro, mostra-nos
que a guerra nao B á nacionalidddc das irmás da
caridade : 4 ao principio religioso, que lhe; pre-
side.
Nào se quer associaçõo de casta alguma a que
?resida a idba de Religiùo! (Sussurro !)
Nega-o o iilustre deputado? Desminta-me se
pbde.
['ma t o = . E' isso, 6.
(Ir~terruinpçiioque se não percebeu).
Cnta vos. Ordem.
O Orodor : Sim, senhores, eu vou tombem a o
ensirio.

O governo e a maioria dacommiss~oesta0 d e


aceordo, em que os religiosos sejam excluidos da
ensino oEcial.
O governo propõe ainda que essa exclusão se
estenda ao crisirio particular ; mas nessa parte náo
o nccom~inriliaa maioria da commissâo.
O Sr. f i * r c ~ ,no seu voto em separado, segue
a opiniao do governo.
E u dwse jh, sr. presidente, que sigo a opinião
contraria, e vou dizer porque.

Todos n6s nos chamamos «filhos da Egreja.))


Porque motivo havemos ent8o d'engeitar o leite
ma terno ?
Se louvamos a Deus porque Elle fez dn Egreja
nos'a -WGe ; porque nso havernos de louval-o, por
elle i3 ter feito tiimbem A m a ?
Desde o priricipio das sociedades civis, que os
estadistas, teem ido buscar 6 Religião a influencia
necessaria para moralisar os individuos, e fortifi-
car a s instituições.
Mas se querem sinceramente a influencia social
da Egrrja, nfio é melhor que a recebamos logo
nos principias elementares da educação ?
Porque motivo Iia\emos de excluil-a, quer do
ensino oficial, quer do ensino particular ou do-
mestico ?
E u bem sei, Sr. presidente, que os projectos.
faliam só do clero regular; e nHo tratnm por
ora do clero secular.
Mas nesta discussiio cumpre-me apreciar, nao
s i i n letlra, senjo tambern o espirito de ambos os
pro.iectos.
E aiverdade 4 , que as declarações do goverrio,
e as dos seus adeptos me auctorisam já a decla-
r a r que a guerra k a lodo o clero, sem distincção
de classes.
O que se v& jh é o qcie esti ria leltia: porém
.
o resto \em eiivoliido no varo de confiança : e
e a o demonstrarei.
Diz-se que se náo púde confiar a educaçcio d a
mocidade aos religiosos porque, quebrando estes
os !aios, que os prendiam á patrza e ci familia.
s e tornanl inhnbcis para ensinar e inspirar ás
crianças o a m o r da familin, e o amor da pa-
t ria.
Respondi já Iiontem n esta objecção, no que
respeita ao amor da patria: respoiider-lhe-hei
hoje no que respeita ao amor da familia.
E respoiiderei com exemplo de Pessoa, tùo
Elevada, como Abgusta, e Divina.
Perdeu-se uma vez d e sua mHe o Redemp-
t o r do mundo, sendo ainda menino.
Procurou-o, extraordinariamente d i c t a , 3,
B13e Sanctissima; que depois de muito tempo, e
muito prliito, foi d a r com elle entre os dou-
tores.
Sentida e angustiada, lançou em rosto ao
Filiio unigcriito os cuidados que acabava de cau-
sar-lhe.
E o Filho do Deus respondeu-lhe, sereno e se-
guro, que pura ensinar u lei 4 que liera a este
mundo.
Quebrou pois Jesus Christo os laqos de fa-
milia, para se coiisagrur I'otlo á obra da rcdern-
pçno.
E m vez de se entregar 5 s ligaqóes e affectos
deste murido, fez vida de prEjinr a nova lei.
E nem as dores da virgem. riem o affeclo
dos dircipiilus, nem a ingratidão daquelles por
quem ia sacrificar-se, o privaram de se fazer
mnrt!r por essa lei, e d e nos remir na Cruz.
.\ irnitnçau de Jesus Christo, i: que o frade
wrin os Inces dc familia, para se dedicar todo
A misiflo religiosa, a que sc vota.
Condemnries o fiicto?....
Coiidernnaes nado menos que o Redemptor, e
a Hcdempcão!

Dezeis que mal póde ensinar o amor de fa-


milin, quem sacri[ieou esse amor á missão re-
ligiosa da sua vocação.
Pois houve alguem que mais o sacrificasse,
e n~ellioro erisiiiasse, do que o proprio Redem-
ptor?!
LQ esth no decalogo o 4.' preceito «Hoon-
rarcir teu paee iun mãe)):e o decrilogo é a base
*
de toda a nioral evangelica: nem o frade ensina
eutra moral senão essa.
Mas nem todos os preceitos são de egu'ul
força: e nenhum moralista poz ainda em duvida
o principio de que o dever maior absorve o
menor.

Porque elogia a historin. e esmo coisa rara,


qoe um D. Joiio de Castro, por exemp!~, es-
qiicccsse os proprios interesses, e os da sua fa-
milis, para se dedicar todo ao serviço do Esta-
do?
Julgol-o-hieis mais digno de se dedicar ao en-
sino, se elle tivesse exercido o nepotismo em
alta escilla?
Uizei-rne: Nào cbrta, nao sacrifica tambem o
militar os laços de familia para i r servir, e mor-
rer, nos campos de -batalha?
Lembrou-se jh alguem de dizer-lhe que pri-
meiro cstava o amor de fillio, de marido, ou de
pae, do que o amor da patria?
Mais ainda:
Manifestou-se um incendio ; arde uni prcdio
em cbammas; por entre estas ouve-se o grito
desesperado de uma pobre mulher, que, ven-
do-se rodeada de fumo e fogo, clqnia que a sal-
vem; o perigo B imminente; a salvação arrisca-
da s quasi impossivel; ou proprios, a quem
compete tentar o facto. recuam desalentados e
temorosos; em todos os rostos se r4 pintada a
angustia e a afiic~ão;mas ninguern se move, e
os gritos de soccorro viío diminuindo, porque
tambem a voz e a vida se v80 extenuando na
infeliz: atB que do seio da multidão sae um
simples espectador, voa ao predio, corta as
chammns, atravessa por sobre nuvens de fumo,
e, com risco inaudito- da propria vida, e cora-
gem sobrehumana, volta, trazendo: em seus bra-
ços, semi-viva ainda, a mulher desconhecida,
que salvou.
Em todas as epocas, Sr. presidente, em todos
os paizes, applalisos unanimes saudariam essa
acç8o generosa.
Mas se esse homem, rara e corajosamenbe
dedicado, fosse um professor regio, e tivesse
um pae, uma mulher, um filho, uma I'amilia
qualquer, quereria o governo excluil-o, por in-
digno, do ensino official; por elle ter sacrifica-
do, na occasiiio do per?go, OS seus mais caros
deveres de fan~ilina um dever de liumariidn-
de '!
Suo o creio. Neiihurn governo quereria fa-
~ e l - ~ e) : se quiresse, nao poderia.
l i m tez de puiiil-o, o governo teria de lou-
val-o, e premial-o.
bl,rr. se elogioes a dedicaçùo, Filha do enthu-
sia3ino do monieriio, porque condemiiaes a
dedirii(ào. constarite e permanente , durante
a vida ittteiraf
Eiugiaes airida essa dedica~ào constante,
quando (. tilhe d o anior da putrin.
E quertais condeinnnl-a rio frade, porque 6 fi-
lha do amor de Ileus?!....
Se e essa a rozão do vosso voto, dizei-a, para
que o paiz vos fique coriheceiido.
Mtis porque n quesi80 vem sempre, e força-
damente, bater oeste ponto, 6 que eu sustento
que cliu tem muito mais de religiosa, qiie de po-.
litica.

Invoca-se tambem a Carta.


E o que diz a Carta?
NQ art. 143 g 13.0lcio eu que atodo o cidadüo
pk-k se+ adraitçido aos cargos publicos sem ozctra
i ~ a 1220s e j a a dos scss talentos e vir-
d i f f r r ~ ~ ique
tudes. D
Coiicorre ao provimento d'uma cadeira um
var8o illustre, e mais illostre por seus talentos
e rirfades, que os demais concorrentes.
Quereis exeluil-o sob pretexto delle ser re-
ligioso?
Nesse caso estabeleeeis urna outra diferença,
nHo permittida, litteralmente pruhibida atC, n u
Carta Constitucional.
Diz-sc que ha direito defarer essa ezeliisão,
porqrte ta mbem a Carta excluiu o fi*a(le de co-
tar, e ser votado, nas eleições para deputados.
Mas essa excltisão firma a regra e m coritra-
rio.
Porqiie a Carta Ihe negou só esse direito, c
nùo o do ensino, o que se segue é que n Carta
o reputou liabil para est'outro cargo publico.
Vús qiiereis declural-o iiihabil: quereis por-
tanto contraricr o voto tia Carta.
Quereis levar a exc1us;o tlella, onde o pro-
prio auctor della nzo qitiz que ella fosse.

E escltiil-o porque?
Porque o frade fez, perante Deuq, e nno p e
rante v&, o voto de obediencia, de pobreza, c
d e castidade.
Quereis fulminar esses votos?
Não podris, e não deveis.
Não podeis, - porque esses votas náo tem
nada com o pode[ civil.
O voto é uma promessa, feita a Deus, pelo
homem; e s6 Deus, ou quem delle tiver a mis-
são divina, 6 competente para a acceitar, ou
repellir, para exigir, ou não, o cumprimento
della.
Na0 deveis-porqiie a doutrina desses votos
4 de tal evidencia moral, 6 t8o sancta, e tão
divina, que, fulminal-a, seria um sacrilegio
f riaudi to.

Disse-se tamhem, que nào precisavamos das


irmãs da caridade, e nzuilo menos das irm6s
extrangeiras, porque de sobra tinhamos settlio-
ras e m<igspor/ugueras, para o ensino dos nos-
sos Flhcs.
Sr. presidente-Quem suppoz o lar domestico
attnin cora de cigalios, onde os paes ensinam
aos $lhos a arte astuciosa de ~oubara: quem o
figurou convertido em altipai~ar, onde as mães,
em vez de modestia, e ~ a s i ~ r aas~ filhas
~z a vender a
sttrn p r e s a a preGo de ooiroo ngo tem direito de
nos vir aqui eceiisar de fal tu de respeito e amor
pelos mães, e pelas senhoras portuguezas.
O Sr. Ferrer-Eu fallei em Iiqpothese.
Oorndor-E o illustre deputado nào sabe,
que iiãu é por uma hypoilieeé, tão rara como
odioso, ttio odiosa como raia, que se hade de-
terminar a lei geral?!
Qiiem foi deste lado da comara qne negou a
compeienciu dos paes e maes de familin para di-
rigirem e regularem o ensino de seus filhos?
Sois \ús que Ili'ii neyaes: nùo somos n6s.
Reilhum de 116s pediu ainda o privile,'0 1 0 ex-
elusivo do ensino para as irrqiis da caridade.
O que queremos B que ellas ensinem, e qne
ensinem como quoesquer outras pessoas, devi-
damente habilitadas puro o ensino.
Quando, no meio de guerra lomentavel que s e
tem feito o essas pobres senhoras, eu vi surgir
a idba d'uma subscripcão poderosa, á testa da
qual se dizia collocar-se o corpo commerciul de
Lisboa, com ii intenqno de estabelecer e dotar
um outro instituto de cuidade, nao me indignei,
nem me assustei.
Desejei, pelo contrario yuo o instituto se esta-
belecesse, e fosse ávante; e depois desse, outros
e outros, comtunto que se estabelecessem, nao
por caridade accintosa (que não confio nelia,)
-1 13-
mas por licita e louvarei rivillidade de carida-
de.
Desejei, e desejo ainda, que se estabeleçam
muitos desses iustitutos, c l'riictifiquem todos; e
que a todos dE o Estado coiiipleta liberdade de
exercerem a caridade, como a critenderem, iirna
vez que nesse exercicio se colilòrmem com as
leis gerues do Estado, e sobretudo com a lei ca-
tholica, que B divina.
E quarido liouverem muitos estabelecimentos
de ensino, uns religiosos. oiitros leigos, o pae.
ou a mùe de farnilia inandarh os seus fillios áquel-
]e, em que mais confiar, Bquelle que maiores
vootsgens, e melhor ensino lhe offerecer.
E' isto o que nós queremos: e (5 O que vós
o30 quereis.
Apregoaes n liberdade: e njo quereis a liber-
dade no ensino.
Apregoaes n confiança no poder paternal: e to-
Iheis ao pae e B mHe de làmilia o direitode e s
colher entre o ensino religioso, e oensino seeu-
lar.
Quereis sb liberdade para v6s, e nso para
os outros.
Quereis o monopolio para vossa opiriiHo, e pare
vosso ensino!

Fallaes em nacionalidade!. ..
Na realidade tem graça I. . ..
É porque algumas irniiis da caridade siio er-
trangeirss,. que quereis protiibir-lbes o ensino ?
Fallai sinceramente : é esse o motivo ?
Pois muito bem. Em vez de excliiirdes os re-
ligiosos. exclui os cxtrangeiros.
Estaes por isto?
8
NBo estaes.
EntBo :a nacionalidade, com qiie argumentaes,
niio 6 motivo, 6 pretexto !

O sr. ministro da marinha disse tambem :


n O padre tem já oprivilegio dopulpito :tem
o privilegio do cwlfessionario.: querois dar-lhe
ainda o priuitegio do ensino ? !r
Nestas poucas palavras se encerra, sr. presi-
dente, a verdadeiro significação do voto de con-
fiaoca.
Quando o meu amigo, o S r . Beirao. disse que
votava cocitra o projecto do governo, porque
via nelle escluido do ensino o clero ; levantou-
se o sr. Ferrer, para r:sporider-lhe q u e o pro-
jecto nao excluia o padre, mas o frade : que não
excluia o clero secular, mas o regular.
E esta publica sa tisfaçiio foi calorosarpente
applaudida nos baneos da maioria.
Pela minha parte, sr. presidente, desconfiei
da siaceridade d'ella ; e cada v e z desconliio
mais.
IIesconfiei, porque alkm do que vinha expres-
so no projecto, ri tambem o voto de confiança.
Desconfiei. porque no relatório do Sr. Rerrer,
que é o commeotario franco desse voto, vi con-
dernnada, e em termos desabridos, toda a inter-
venção do elemento religioso no ensino.
E desconfiei, porque esse desprendimento
dos fa~osde farnilia, essa abnegação, professada
no eelibato,\eom que se tem argumentado para
excluir do ensino os religiosos, da-se tambem
no clero seendar.
A minha desconfiança, sr. presidente, tinha
todo o fundamento ; e quem o prova 6 o sr. mi-
aistro da marirlha, com o argumento, a que VOU
responder, e ein que eiie pôz clara, e a desco-
berto, a intençiío do governo.
« O padre tem o privilegio do pulpito :o pa-
dre r e m o priuilegio do confessionario: e nds
não deveiiios conceder-lhe por isso o privilegio
d o ensino. l~
Trata-se pois do padre, nõo se trata do frade.
Trata-se do ministro da Religião Cntholica,
na sua aceepç8o mais generica e comprehensiva.
Trata-se de todo o padre que prega. de todo
o padre que confessa, sem differença de voto,
nem de jerarchia.
Esta é que é a verdadeira significayiío dopro-
jecio.

Privilegio ! Pois a missno d o poder é um pri-


vil egio ? !
Chamaes privilegio a esse conjuncto de sacri-
fieios, dedicações, abnegayaes e soffrimentos P
Confundis o privilegio com a attribuição ;
o direito com a obrigação ?
E se o fosse'não está a vida ecclesiastica
franca e aberta a todos que se sentirem com
vocaç5o para ella, e queiram satisfazer Bs exi-
gencias legúes ?
É a isto que chamaes privilegio S

&Ias supponhamos que o era.


Proi'Bz jíl alguem, nesta casa, que assim como
só o padre p6de occupar a cadeira do pulpito
e a do coiifeasionario , 96 elle possa occupar a
d o ensino ?
Quem pediu, quem propdz, quem sustentop
isso ?
a
O que pedimos, 6 que o padre não seja de-
clarado indigno d e ensinar.
0 que pedimos 6 que elie possa, como qual-
quer ouir*, professar o ensino nas escholus pu-
blicas, e nas eseholas particulares.
O que 6 que a propria missão reli-
giosa d'elle, na0 seja cerceada n'uma das suas
partes mais importantes, que B a pnrtc tloccntc.
E B;a este pedido, tòo religioso como libe-
ral, que o governo responde, decliirando sinis-
tra e perigosa uma classe respeitabilissimn, e ex-
pulsando-a do ensino, como indigna, ou incapaz !!

Oh ! bIas deixem vir (i liberclade dos cz~itos,


e o governo ent8o ser3 justo !
Graride justiya I Bella justiça I Justiça de vcr-
dadeiros estadistas !
c~uereiseiisinar a verdade evangelica, minis-
tros do Crucificado? NBo vol-o consintitnos.
Insisti?? Pois bem. Transijamos.
Concedei-nos v6s que se possa, publica c par-
ticularmente, ensinar e professar o erro, e a
heresia; e r169 vos concederemos en táo o direi to
de ensinardes a verdade do catholicisrno !
É esta a transacçào, que se nos propúe : e 4
sobre ella que vou explicar-me com toda a fran-
queza

A liberdade de cultos, ir. presidente, p6de ser


uma necessidade, quando os indivíduos da me-
ma naçõo, se acham grandemente divididos em
different es crenças.
F 6 r a d'esse caso, n8o tem razõo de ser : 6
u m coritrasenso visivel ; 6 uma immoralidade.
Sc rn(l!nde da nayâo 6 catholica, e metade E
protestiii~te, o governo, que sse d e amhns, pú-
de ler-se obrigado a conservar-se ncutral ; a
n3o se rnoitrar, nem calli olico, nem protestante,
por;) nào k r i r as crenças, iiorn de u9s, nem de
0uli.os.
E' urina triste riccessidade: é um inal: mas é
urn mal, que póde evitar outros mais graves.
N'urrl puiz , porem , ern q u e , como o nosso,
senão pi-ofessa, nem professoii nunca, sonao o
catiiolicisino, o que quer dizer a liberdade de
cultos 2
As Icis sào feitas para os cidadàos: se todos
professam só o verdadeiro culto, para que se
quer ;i pcrrnissáo de professar uin falso ?
Sigiiilica a liberdade de cultos a persuaçào
do legislador, de que todos os cultos s8o egual-
meri te l ~ o n s? -
Lrgislador, que tivesse similhante persuasiio,
1130 era cathol~co, não era portuçuez, porque
.
em Portugal entendeu-se sempre. (e entendeu-
se bem,) que é um artigo da nossa fé porque f6ra
do Egreja Catholiea n8o hn salvaç80.+
Sigrlifica a liberdade de cultos a indifferenpa
religioso, ou a nenhuma crença religiosa, nas
altas regiões do poder ?
O atheisrno, e o indifferentismo religioso siio
diias pragas, muito nocivas, muito immoraes, e
muito anti-sociaes, para que o poro possa con-
sentil-as nessas o1tas regiòes.
Significa a liberdade de cultos um desejo de
tao illimitada liberdade, qiie conceda egual per-
missao, egual protecçòo 6 verdade, e ao erro, ao
hcm, e ao mal ?
Nesse caso tombem a n8o quero, porque a
liberdade assim entendida nHo 6 liberdade : 6
licença.
Se nos pedissem auctorisação para se prhgar
o roubo e o homicidio, nenhum de nós a coiice-
der ia.
E 6 pelo-mesmo motivo, que eu oào quero a
liberdade de C U tos8
~
O Sr. Casal Ribeiro disse que nùo recciava o
que não temia n discussùo; porque es-
tava certo de que a verdade catholica hauia de
triumphsr sempre.
E nesse ponto tambem eu concordo com S.
er.': nenhum receio tenho, de que a liberdade
de cultos podesse p6r em risco o cal holicismo
entre n69.
Quando Christo fundou a sua Egrejn, achou
já arreigados na crença, e nos costumes dos po-
vos muitas religiòes falsas : dos proprios segui-
dores da lei velha, uma grande parte se recu-
sou a reconhecer Nelle a realisaç80 das Profe-
cias; e todalia a força da sua palavra hemdi-
cta, a virtude das suas rnaximas celestes, e a fb
inspirada dos Apostolus, conseguiu derrocar os
templos falsos, e levantar sobre os ruinas delles,
explendida eforte, a Qreja Sacr osancta.
Por essa força sobre humana se fundou; e com
ena se defeoderh de todo o genero de ataques
at4 a consummoçào dos seculos.
Mas se eu não receio pela Egrejo, receio por
nos : e basta-me esse receio, para núo querer
similbante liberdade.
Por poucos que fossem os prosely tos, que os
hinistros das 'teligiões falsas podessem a r r & h -
tarnos, 0s culpados na perda d'essas almas,
aquelles, que auctorisassem a profisdo
publica do erro e da heresia.
-1 19-
A discussão podia além d'isso excitar odios.
e divis~es;e ninguern pdde prever onde essa ex-
citação de animoi nos levqria.
Todos atC hoje nos temos dito catholicos;
mas nem todos temos egualmente robusta €&
e a crença.
A iiistallaç80 de egrejus diflerentes, permitti-
da, auctorisada, sancciuiiudu pelos poderes pu-
b l i c o ~ , seria o germcri de mais uma divisào,
além das muitas, que já nos enfraquecem e aba-
tem.
A Epreja verdadeira ficaria victoriosa sempre
na discussão, no combate, e no impulso natura1
do coruçiio da grande maioria dos portuguezes:
mas a guerra, o scisma, a divisa0 religiosa, po-
diam vir, e k mesmo muito provavel que vios-
sem.
E eu nâo desejo dotar o meu poiz com mais
esse flagello, al6m dos que já o assolam.
Rejeito por isso a liberdade d e cultos.
Aeeeito, e quero a liberdade de consciencia,
porque n8o quero que ninguem possa ser perse-
guido em razao da treri;a, que professa.
A perseguição pode fazer hypocritas ; mas nao
faz crentes: e em religióo. mais do que em ne-
nhum outro ponto, nerihuma crença me satis-
faz, se não é sincera.
Quero. u par da liberdade de consciencia, que
o direito da publicidade se reserve s6 ao eu!to
eatholico; porque desejo que o proselytismo re-
ligioso se exerça s6 em favor da religião revela-
da, e não do .erro.
Quero que o culto verdadeiro seja, tombem
um culto official. porque desejo o Estado es-
treitamente ligado com a E,Orej*a ; e porque que-
ro que o exemplo da religiosidade e temor d e
Deiir, pnrtn dos groiides, e comece [ias mais altas
rcgiòes do poder.
Nas -eiitendarno-nos -quero e desejo esse
ciilto olficinl e iinieo, se elle sigriifica para o go-
verno o dccer de proteger, de acatar, dc respei-
tar, de ciiiiiprir e deixar cumprir ornniniodamen-
te as maxiinas e determiiia~òesda Egreja ver-
dadeira.
Se pelo contrario-d'esse culto offlcial se de-
diiz pura o governo o direiln de coarctar, d e so-
phismar , de ernl~araçartoda a licita expansão,
todo o leal exercicio, todas as mais innocentes
e as mais auctorisadas mrinifestaçijes do ciilto
caihoiico-nesse caso-digo eu, e <ligo-o bem
o!to-nesse coso prefiro a liberdade de cultos.
Aprorecçiio oficial com similliante caracter
nao C seniio irma verdadeira perseguiç20.
E eu prefiro a persegui@o descoberta a per-
seciiir$io subteri-uriea e solapada.
.\Ia1 por mal, venha antes a liberdade de eul-
tos : deponha-se a mascara, separem-se as egre -
jas. iise cada um dos meios, que n sua crença
Ilie propor~iurii. e a verdade triumphará, com
mais ou menos victirnas.
Mos converter o governo a protecção, qiie pela
Carta lhe iiicumbe, em restricçâo e perseguzçáo,
toltiendo-nos ao mesmo tempo os meios de de-
fezn : para isso t. que elle nso tem, nem pBde ter
direi to.

E veem depois Fallar-nos em reacçzo !


Sim, senhores, existe a reac#o.
( Vozes : Oiçam, oiçam.,. .)
Oiçam. sim senhores. oiçam! Existe a reacção.
Existe a reacção religiosa contra' a acção ir-
religiosa do governo.
-121-
Existe, porque nãe podia, nein devia deixar de
existir,
Pois que? Hode o governo ter direito de hos-
tilisar de mil modos, de mil maneiras, a acçào re-
ligiosa de verdadeiros catliolicos; cercear-lhes o
culto; dificultar-llies OS exercicios e praticas reli-
giosas ; calumniar-lhes as intençùes ; envenenar-
Ihes as mais irinocentes aspirações : e não have-
mos de 116ster direito de reagir contra essas ten-
dencias altamente irreligiosas, que consti tuern,
quasi que euclusivnmentc, o programma do go-
verno ? !
Havemos nós de vEl-o subir ao poder em FIO-
me dessas tendencias reprovadas ; alliar-se publi-
ca e solemnemente com essa revolução, feita, na
Italia,a sombra das opinióes herecticas de Manzi-
ai, Cavour, e Garibaldi; propor, e sustentar,
nesta casa, e de acordo com oquellas doutrinas
italianissim~s,n necessidade de varrer de toda a
instituirão de caridade, de todo o ensino publico,
oflici~lou riáo, a idéa e caracter religioso : e ha-
vemos n6s de assistir imrnoveis e indefesos, a esta
longo e calculnda sophisma~ãodos deveres reli-
giosos do governo ? !
Não o h80 de conseguir nunca.
Reagimos ; e havemos de reagir sempre.
Reagimos com pleno direi to ;e em cumprimen-
to de deveres rigorosos.
Reagimos, e bavemos de reagir sempre, e por
tso variados meios, quantos forem aquelles, por-
que o governo vier atacar-nos, ou offender-nos
na nossa erença.
Disse, e repito-a.
Esta questao tem muito mais de religiosa, que
de politica.
Querem negal-o ;querem occultal-o ; mas não
o coosinto.
0 sopbi$ma 6 jh velho ; mas nem por isso dei-
xa de empregar-se cada vez mais.
Diz-se : que as instituições liberaes são íncom-
patireis com os Institutos Religiosos que 1180 6
possireI ser-se livre, vivendo-se subjeito Qre-
ja de Roma ; que a influencia do padre, que a
influencia do clero, que a influencia da Religib
no ensino, e no caridade, minam O amor dos po-
vos pela liberdade, e o entregam, escravo e ma-
nietado, ao despotismo e A lyrannia.
Em harmonia com estas idéas, tem-se dit0,diz-
se ainda, e continua a dizer-se, que deixaram de
ser liberaes muitos dos cavaltieiros, que se bate-
ram pela Carta ; muitos dos mais eonspicuos de-
ftnsores della; 56 porque esses honrados liberaes
quizeram ser tambem catholicos, e por seus actos
demonstraram adbesão e subrniss8o d Egreja Ro-
mana.
A todos esses se tem dado o epitheto de rem-
cionarios : e reaccionario, na phrese do libera-
lismo puritano, 6 synonimo de nada menos, do
que ligudismo.
E eu não quero, niío posso deixar passar estas
asser~ões,sem as rebater com toda a lealdade, e
franqueza do meu caracter.
O ca tholicismo, sr. presidente, nao 6 patrimo-
nio de nenliuma eschola politiea : 6 suficiente-
mente'extenso e frondoso, pelo contrario, para sbri-
gar, sombra de suas instituições beneficas, to-
das as crenças politicas.
Seia o governo monarcbico ou dernocratico ;
sejam as instituições mais ou menos livres ; COM-
tantaque sejam fundadas na justiça, e na moral,
o calolicismo recebe-as e protege-as todm.
A verdadeira liberdade, a verdadeira egualdade,
a verdadeira fraternidade, prbgou-a o R e d e m p
ter do mundo do Alto do Golgotha, sanctificando-
nos o trabalho; declarando-nos todos irmãos e
ordenando -nos que nos amassemos uns aos outros,
como a n6s mesmos.
Na propria organisação interna da Egreja,
diviso eu o germen das differentes formas yo!iti-
cas do gqverno.
No Papa, como Pontifice; na unidade de sua
acção religiosa; na auctoridade e sanctidade de
sua Pessoa; parece-me ver o modelo do governo
absoluto.
No Papa, como rei, vejo a monarcliia electivo,
a monarchia temperada , a monarchia limitada ,
pe! a eleição, e pelas instituições.
Nos eon-cilios vejo o modelo das grandes assem-
blhas poli ticas e legisla tivas.
Nos conventos praticam-se por vocaçGo, e com
inteira dedicaç80, as mais democraticas institui-
ções, que ha direito de desejar.
Para todas as formas politicas ha portanto mo-
delos, e optimos modelos no christidnismo.
E tùio bom catliolico póde ser por tanto o rea-
lista convicto, como o liberal de coraç8o.
sno estas as minhas idbas: são cstas as idéas
do gremio politico, a que pertewo : ereio que
são as de todos os que professem de eoraç8o as

-
maximas do verdadeiro ciitholicisrno.
Não somos portanto n6s os chamados reac-
cionarios fazemos polirica 6 sombra da
religião.
Quem na faz 580 aquelles, que declaram de-
sertor do campo liberal todo oconstitucional, que
se mostro submisso e fiel As determinações da ,

Egrejo.
Ligam n politica com a religião, para, h som-
bra da politica. mutilarem, e derribarem a Egreja.
Pensaiil vencer por esse meio : e n2o veem
que 6 esse o meio mais facil de cahirem!
S e p r a d o a questno politicu da questDo reli-
giosa, debater-nos-hiamos em politica. sem que
a religiáo tivesse de proteger nenhuma das es-
cl1olas.
fiIas se v6s declaraes o vosso liberalismo incom-
ptivel com o catholicismo ; oão vedes que não
faieis com isso, seniio reforçar-nos a convicçilo
politica, fazendo della tombem uma necessidade
religiosa ? !
Proclamaes que para ser liberal 6 mister guer-
rear o Papa, hostilisar o padre e o frade; que-
brar e cortar a unidade ca tholica !
Perftlbaes abertamente as doutrinas irreligiosas
sobre qne se levantou. e assenta esse chamado
reino da Itijlia ; e expulsaes do vosso gremio, e
impellis para o nosso, todos os que ao Papa não
chamam Satanaz, como lhe chama Garibaldi ;
todos os que nào v&em no padre uma Serpente
cenenosa; como elle vê !
Julgaes que com isso engrossareis as vossas
fileiras, e facilitareis a vossa victoria 4 Enganaes-
VOS.
Expulsae do vosso campo os liberaes catholi-
BOS ; e serào outros tantos' adversarios aue cnnta-
a
remos de menos no vosso campo militante.
Ligae embora a vossa causa politica com a
queda do Pontificado, e com o abatimento da
Egreja ;e servirá isso de nos dar novos brios, do-
brando-nos a necessidade de combater, e trans-
iormantlo-nos em certeza, o esperança que tinha-
mos de ,vencer.
Pdeis, com a vossa tenacidade, trazer dias azia-
60" Egreja ... e não poucos Ilie tendes dado já.
Vencer - nuaca !
Ao assentar a sua Egrejo sobre a pedra d o
Pontificado prometttu Deus que nunca os esfor-
ços dos maus prevaleceriain contra ella.
Descrentes na força da Propfiecio, Jipes v65 n
vossa c a i i;, politica com a idbn irreliiiusa. que
vos domina ;e tornaes dcpcndcnta do abatimento
da Egreja o \osso triuiupho?
Pois muito bem.
BIais filei1 serú que o Anjo do mal veja ainda
mais uma vez todos os seus esforços reduzidos a
p6 -reduzidos a terra -reduzidos a cinza e -
reduzidos a nada ; -do que falhar, nem uma
96 vez, nem n'um s6 ponto, o Palarra Divina !
E' a Propheeia que vos mata!
E' ella que rios protege, que nos ampara.
que DOS reforço, e que nos dh, em vez da espe-
rança, a certeza, completa e fundada, de vencer-
mos !
(O.Orador foi cun-primontado por mriitos se-
nhores deputados dos diferente8 lados da c a m ~ ~ * ~ ) ,

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