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COGNIÇÃO I – FUNDAMENTOS

Tema: a mente como um sistema complexo

Hugo Mari
PUC Minas

Atualmente, podemos concluir que, entre um


conhecimento tão preciso quanto se deseja e um
conhecimento absolutamente preciso, existe um
abismo. (Prigogine & Stengers: 1993).

1.Introdução

Intuição: a mente como algo complexo;


Discussão: o que a mente como um sistema complexo:
L-F & C Uma maneira através da qual sistemas complexos, com frequência,
diferem de sistemas simples deve-se ao fato de possuírem aqueles
diferentes tipos de elementos ou agentes, isto é, eles são
heterogêneos.
2.Mente como um sistema complexo

Mente Natureza heterogênea dos seus elementos:


↓ Convenções x intenções; Realidade x ficção;
Sistema Experienciado x imaginado; Crença x desejo;
complexo

Mente Natureza dinâmica dos elementos envolvidos


↓ -sistema > construído apenas de um elenco fixo;
Sistema +sistema > sistemas
complexo

Mente Natureza aberta do sistema


↓ convivência com novo/imprevisto;
Sistema emergência
complexo

Desafio A mente processa? O que processa? A partir de que princípios


esse processamento acontece?
3. Mente com um sistema de processamento-1
1. Descartes Mas o que sou eu, portanto? Eu sou a rigor apenas uma
(1641) coisa que pensa, isto é, sou uma mente, ou inteligência, ou
intelecto ou razão. (...) Que é uma coisa que pensa? É uma
coisa que duvida, que concebe, que afirma, que nega, que
quer, que não quer, que imagina também e que sente.
(Descartes: Meditações, II, 7-9, p. 93-95)

2. Locke Posto que as qualidades que impressionam nossos sentidos


(1690) estão, nas próprias coisas, tão unidas e misturadas que não
há separação, nenhuma distância entre elas, é claro que as
idéias, produzidas na mente, entram pelos sentidos, simples
e sem mistura. (Locke: Ensaio acerca do entendimento,
p.166).
3. Mente como um sistema de processamento-2
3. Berkeley 2. Mas ao lado da infinita variedade de idéias ou objetos do
(1710) conhecimento há alguma coisa que os conhece ou percebe, e
realiza diversas operações como querer, imaginar, recordar a
respeito deles. Este percipiente, ser ativo, é o que chamo mente,
espírito, alma ou eu. (Berkeley: Tratado sobre os princípios do
conhecimento humano, p. 13)

4. Hume 13... todo poder criador da mente se reduz à simples faculdade


(1739) de combinar, transpor, aumentar ou diminuir os materiais
fornecidos pelos sentidos e pela experiência. (...) Em resumo,
todos os materiais do pensamento derivam da sensação interna
ou externa; só a mistura e composição destas dependem da
mente e da vontade. (Hume: Investigação sobre o entendimento
humano, p. 139)
3. Mente como um sistema de processamento-3
Mente Base das operações

Sentidos simples Operadores


Experiência sensível

duvidar, conceber, afirmar, negar,


querer, não querer, imaginar,
sentir (Descartes)
conhecer, perceber, querer,
imaginar, recordar (Berkeley)
combinar, transpor, aumentar ou
diminuir(Hume)

Ideias produzidas
4. Cenários históricos do termo mente: correlações
Correlações

Correlação 1 Correlação 2 Correlação 3

Mente/corpo Mente/cérebro Mente/máquina

Síntese da tradição Avanços sobre o Avanços sobre o


cartesiana processamento processamento
neurocognitivo algorítmico

Atividade neuronal Máquinas pensantes


Doutrina oficial (Ryle) Processos Inteligência artificial
neurofisiológicos
5. Ciências da mente: alguns processos - 1
A mente OPERA, em parte ou em especial, de modo
Intenc / sional – recursivo – algorítmico – contrafatual - imagético ...

A mente SE FAZ REPRESENTAR, em parte ou em especial, por um


conjunto de procedimentos que faz dela algo distinto dos procedimentos
que são conduzidos fisicamente pelo corpo;
conjunto de procedimentos que processa/interpreta os dados sensíveis
captados por sensores físicos (olho, ouvido, mão, nariz, boca);
conjunto de procedimentos que (re)compõe informações simples em
informações complexas;
conjunto de estados mentais/modelos mentais mais simples responsáveis
pela produção/percepção de objetos complexos;
conjunto de estados mentais complexos, produzidos por combinações de
desejo e de crença (desejo, medo, insegurança, raiva...);
conjunto de procedimentos para construir representações (imagens,
construtos, conceitos) das coisas que conhecemos;
5. Ciências da mente: alguns processos - 2
A mente FUNCIONA, em parte ou em especial, como uma
rede complexa de categorias que possibilita a emergência de objetos não-
físicos (ou que são desfisicalizados)
rede complexa de relações entre objetos (comparação, oposição, integração,
semelhança, diferença, implicação ...)

A mente É
... tudo isso

... nada disso

a mente processa?
Desafio o que processa?
a partir de que princípios?
6. Visão teórica sobre os processos mentais
TEORIAS DUALISTAS: mente e corpo são duas entidades,
definidas em campos diferentes, por categorias contrapostas;
 
TEORIA DA IDENTIDADE: estados mentais são correlatos de
estados cerebrais, sem que isso representa um nível simétrico de
complexidade;
 
TEORIA FUNCIONALISTA: estados mentais são estados
funcionais – que produzem certos objetos, certos fatos, certos
efeitos - que integram o processo cognitivo;

TEORIA DO EMERGENCIONISMO: o mental é uma propriedade


emergente dos substratos neurofisiológicos;

TEORIA CAUSAL: a mente determina comportamentos sobre o


mundo físico (e vice-versa?)
7.Referências básicas
1. BERKELEY, G. Tratado sobre os princípios do conhecimento humano. In: Pensadores,
Abril Cultural, 1984.
2. CHALMERS, D.J (org.) Philosophy of mind. Classical and contemporary readings. New
York: Oxford University Press, 2002.
3. DESCARTES, R. Meditações. In: Os pensadores, São Paulo: Abril Cultural, 1979.
4. GREGORY, R. L. (ed.) The oxford companion to the mind. Oxford: Oxford Univesity
Press, 1987.
5. GUTTENPLAN, S. A companion to the philosophy of mind. Malden, Mass: Blackwell,
1995.
6. HEIL, J. & MELE, A. Mental causation. Oxford: Oxford University Press, 1993.
7. HUME, D. Investigação sobre o entendimento humano. In: Pensadores, Abril Cultural,
1984.
8. LOCKE, J. Ensaio acerca do entendimento humano. In: Pensadores, Abril Cultural, 1978.
9. PRIGOGINE, I. & STENGERS, I. Simples/complexo. In: Enciclopédia Einaudi. Porto: Casa
da Moeda, 1993. (V. 26: Sistema).
10. PUTNAM, H. The theefold cord - mind, body and world. New York: Columbia University
Press. 1999. (há tradução em português).
11. SEARLE, J. R. A redescoberta da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
12. SEARLE, J. R. Intencionalidade. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
13. RYLE, G. The concept of mind. Chicago: University of Chicago Press, 1984.

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