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Professor Humberto Fernandes de Lucena
ATIVO, PASSIVO E SEUS SALDOS mentar à teoria das contas é trabalhado, no
mais das vezes, somente depois de serem
É notável nos meios acadêmicos definidos o Ativo e o “Passivo” (apresenta
das áreas contábeis – seja dentre alunos do de início apenas como obrigações). O
de cursos preparatórios para concursos que noto ser mais grave nessa inversão é
públicos, seja com relação a alunos de que a partir dela o aluno passa sempre a
cursos técnicos ou de graduação em Con querer encontrar o valor do PL calculando
tabilidade – uma certa “confusão teórica” a diferença simples entre Ativo e “Passivo”,
acerca da correta interpretação dos saldos ignorando o fato de que o PL faz parte do
dos grupos patrimoniais, quais sejam, Ativo Passivo. Ora meu caro leitor, sabemos que
e Passivo. Interpretação esta que é alta o Passivo é composto não apenas pelas
mente pertinente e que deveria ser estimu obrigações, mas também pelo PL, logo es
lada logo nos conteúdos iniciais dos cursos sa tal diferença entre ele e o Ativo só pode
de Contabilidade, por muitas vezes é dei ser zero!
xada para trás em função de outros concei Pois vale sempre que:
tos contábeis, embora estes também te
nham, logicamente, sua devida importân ATIVO TOTAL – PASSIVO TOTAL = 0
cia. O fato concreto é que isso faz com que
muitas pessoas prossigam em seus estu Façamos aqui então uma reflexão
dos dos diversos temas e ramos da Conta partindo do conceito de capital próprio, ou
bilidade sem saberem concretamente defi seja, do Patrimônio Líquido, pois antes de
nir porque o Ativo (Bens e Direitos) tem se formarem patrimonialmente os bens, os
saldo devedor, e o Passivo (Obrigações e direitos e as obrigações há de haver Capi
Capital Próprio) tem saldo credor. tal Próprio, logo, PL. Lembremos da Reso
De fato, à primeira vista, para aque lução CFC 750/93, que formaliza os Princí
les mais leigos sobre a doutrina contábil, pios Fundamentais da Contabilidade, tra
pode parecer que essa idéia de definir as zendo como primeiro dentre esses o Prin
“partes positivas” do patrimônio (contas do cípio da Entidade:
Ativo) como sendo devedoras, e as “partes Art. 4º O Princípio da ENTI
negativas” (contas do Passivo) como cre DADE reconhece o Patrimônio como objeto
doras está equivocada; ou simplesmente a da Contabilidade e afirma a autonomia pa
levar a uma autoresignação de que na trimonial, a necessidade da diferenciação
Contabilidade as coisas são assim mesmo, de um Patrimônio particular no universo
“tudo ao contrário”. Mas posso afirmarlhe, dos patrimônios existentes, (...). Por con
meu caro leitor, que não sei dessas duas seqüência, nesta acepção, o Patrimônio
interpretações qual a pior ou mais desa não se confunde com aqueles dos seus
gradável do ponto de vista técnico. sócios ou proprietários, (...).
Acredito que tal confusão é muitas
vezes gerada pelo fato de os conteúdos Parágrafo único – O PATRIMÔNIO per
serem apresentados de maneira meio que tence à ENTIDADE, mas a recíproca não é
desordenada dentro dos planos de curso, verdadeira. A soma ou agregação contábil
suprimindo um conceito que é fundamental de patrimônios autônomos não resulta em
como ponto de partida para o bom enten nova ENTIDADE, mas numa unidade de
dimento dos saldos dos grupos patrimoni natureza econômicocontábil.
ais (Ativo e Passivo). Refirome ao concei
to de Capital Próprio, ou seja, de Patrimô
nio Líquido (PL). Tal conceito teórico ele
Prof. Humberto Fernandes de Lucena humbertolucena@hotmail.com 1
Abstraindo a partir do referido Prin ► Fulano e Beltrano inicialmente realiza
cípio em tela, podemos entender que, ao rão, respectivamente, R$ 60.000,00 em di
reconhecer o Patrimônio (bens, direitos e nheiro e R$ 10.000,00 em móveis. Essas
obrigações) como objeto da Contabilidade, aplicações de recursos em dinheiro e em
o Princípio da Entidade também nos permi móveis são oriundas do capital inicial dos
te concluir que a interpretação dos saldos sócios, de maneira que já podemos repre
patrimoniais corrobora, logicamente, com o sentar graficamente essa operação:
objeto maior da Contabilidade: o próprio
PATRIMÔNIO
patrimônio. Pensemos então, meu caro lei ATIVO PASSIVO
tor, sobre qual seria de fato a interpretação Caixa R$ 60.000,00 Obrigações
correta quando afirmamos os saldos do A Móveis R$ 10.000,00
tivo e do Passivo como sendo devedores e PL R$ 70.000,00
Capital de Fulano R$ 60.000,00
credores, respectivamente. Noutras pala
Capital de Beltrano R$ 10.000,00
vras, a quem esses grupos são devedores Total do Ativo R$ 70.000,00 Total do Passivo R$ 70.000,00
ou credores? Pouparlhesei de suspense
na resposta: Ao próprio patrimônio é claro! ► Note que o Ativo ”recebeu” aplicações
Pois desse Patrimônio o Ativo e o Passivo cuja origem foi o PL, ou seja, o Capital Pró
provieram. Notemos que essa sim é uma prio inicial dos sócios. Nesse caso, have
interpretação em perfeita consonância dos mos de considerar que as contas represen
pontos de vista teórico e prático. tativas de aplicações Caixa e Móveis são
Vejamos um exemplo prático para “devedoras” ao PL, pois dele provieram.
verificarmos como fica mais fácil a interpre Vale também notar que a entidade ainda
tação dos saldos do Ativo e do Passivo a não apresenta Obrigações.
partir da correta visão contábilpatrimonial.
Lembremonos de início que podemos in Sigamos com a seguinte operação:
terpretar os valores do Ativo e os valores
do Passivo da seguinte maneira: b) Empréstimo de R$ 30.000,00 para
aquisição de um veículo:
ATIVO PASSIVO
• Obrigações: PATRIMÔNIO
ATIVO PASSIVO
recursos de terceiros Caixa R$ 60.000,00 Obrigações
aplicações de recursos Móveis R$ 10.000,00 Empréstimo R$ 30.000,00
• Patrimônio Líquido:
Veículos R$ 30.000,00 PL R$ 70.000,00
recursos próprios Capital de Fulano R$ 60.000,00
Capital de Beltrano R$ 10.000,00
Total do Ativo R$ 100.000,00 Total do Passivo R$ 100.000,00
Criemos a seguinte situação hipotética:
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