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A EXPLICAÇÃO MAIS SIMPLIFICADA PARA

DÉBITO E CRÉDITO NA CONTABILIDADE


Procurei, nesse texto, ser o mais didático possível em vista do fato de
que a maioria das explicações sobre esse tema é confusa, complexa e gera
mais desânimo do que aprendizado nos estudantes, que acabam desistindo
de dominar o tema e ficam sem a base principal do curso cuja carreira
pretendem seguir. Ouvi mesmo de uma professora que a maioria das
pessoas termina o curso de Contabilidade sem aprender esses conceitos
básicos. Percebi que as explicações desses conceitos são confusas porque a
maioria dos professores e livros fazem uso de muitos termos técnicos e não
tiram a maior dúvida que dificulta a aprendizagem desses conceitos: o
porquê de contas do ativo possuírem “natureza devedora”, se no ativo
estão os bens e direitos, e o porquê de as contas do passivo possuírem
natureza credora se no passivo estão as obrigações(dívidas). Acredito que
essas dúvidas são as que mais dificultam o domínio sobre o tema e vou
tentar resolve-las para que a compreensão do significado contábil de Débito
e Crédito seja mais fácil de assimilar.

Geralmente quando vão falar de débito e crédito os professores


recorrem a História e mencionam o cara que “inventou” “as partidas
dobradas”. Eles falam algo mais ou menos assim: “o método das partidas
dobradas foi inventado no século XIV pelo frei italiano Francisco Paccioli
que propunha que ‘para todo crédito há um débito correspondente’”. Os
livros e professores, porém, às vezes se esquecem de explicar o que
exatamente significa “partida” e por que “dobrada”. O aluno pode pensar,
como eu pensei, que “partida” tinha a ver com algum tipo de jogo e
“dobrado” com algo que se faz duas vezes no jogo. Na verdade “partida”,
nesse contexto, tem a ver com um movimento que se faz em alguma conta
do patrimônio da entidade. Por exemplo, se uma entidade (empresa)
compra uma máquina, automaticamente surge uma nova conta, digamos,
que se chame “Máquinas”. Essa conta, então, vai ter um “lançamento” (que
vai ser a débito ou a crédito) que nada mais é do que o valor da máquina.
Se o lançamento (movimento, “partida”) for a débito automaticamente isso
afeta outra conta. E, como o lançamento na conta Máquinas foi, por
exemplo, a débito, a outra conta sofrerá um lançamento a crédito, pois
“para todo débito há um crédito correspondente”. Partidas dobradas
basicamente é apenas isso.
Exemplo na prática:

Débito - Máquinas R$20.000,00

Crédito – Caixa R$20.000,00

Observem que o lançamento (partida) na conta Máquinas foi a débito


e o crédito que esse lançamento ocasionou foi na conta Caixa (“Pois para
todo débito há um crédito correspondente” – Luca, Paccioli). Um livro
diria: a conta Máquinas foi debitada e a conta Caixa foi creditada. Acredito
que dá pra entender que a compra a vista de uma máquina ocasionou a
retirada de dinheiro do caixa e por isso essa conta apareceu. Porém ainda
não está claro por que a conta Máquinas sofreu débito (foi debitada) e não
crédito e por que a conta Caixa sofreu crédito (foi creditada) e não débito.
Tenha um pouco de calma. Chegaremos nessa parte.

Até aqui entendemos que para todo débito há um crédito


correspondente, porém não sabemos exatamente o que significa débito e
crédito. Adianto que para o entendimento desses termos é absolutamente
necessário saber ao menos o significado de patrimônio, ativo, passivo e
patrimônio líquido. Aqui vou fazer um breve resumo, mas recomendo
depois um pouco de aprofundamento até porque isso é o básico do básico
na contabilidade.

Patrimônio – bens, direitos e obrigações

Exemplos de bens: máquinas, terrenos, prédios, veículos, salas


comerciais, etc.

Exemplo de direitos: contas a receber (dívidas de clientes que a


empresa tem o direito de receber)

Exemplo de obrigações: contas a pagar (dívidas que a empresa


contraiu e que tem a obrigação de pagar)

Essa parte é bem tranqüila e de fácil entendimento. As coisas


complicam um pouquinho com a entrada dos termos ativo, passivo e
patrimônio líquido, porém, com uma boa explicação, não chega a ser um
bicho de sete cabeças.

O balanço patrimonial de uma empresa é feito no final de cada ano.


É um documento obrigatório por lei e a pessoa que faz é o contador. Esse
documento tem uma estrutura em que as contas de bens e direitos ficam do
lado esquerdo e as contas de dívidas ficam do lado direito. O patrimônio
líquido também fica do lado direito, embora não seja exatamente uma
obrigação, como uma dívida.

ATIVO: bens e direitos

PASSIVO: obrigações e patrimônio líquido

O patrimônio líquido significa aquilo que fica ou resta quando se


retira do patrimônio os bens, os direitos e as obrigações. Na prática é a
riqueza que a empresa realmente possui. Se todas as contas do ativo forem
somadas (bens e direitos) e todas as contas do passivo forem somadas
(obrigações) e depois for feito uma diferença entre ativo e passivo (ATIVO
menos PASSIVO) o que sobra é o patrimônio líquido. É daí a equação do
patrimônio líquido:

PATRIMONIO LÍQUIDO = BENS+DIREITOS-OBRIGAÇOES;


PL=B+D-O

Ou simplesmente: PL = ATIVO – PASSIVO

Uma dúvida que me ocorreu era o por que de o patrimônio líquido


ser uma conta do passivo se nesse lado do balanço patrimonial ficam
apenas as obrigações (dívidas). E a resposta era muito simples, mas os
livros as vezes não são bem claros, enrolam demais - o passivo na verdade
divide-se em dois: o passivo exigível e o passivo não exigível. O passivo
exigível são as dívidas que deverão ser pagas para terceiros (contas de luz,
salários de funcionários, empréstimos a pagar, impostos etc.). O Passivo
não exigível é o patrimônio líquido, que não é uma obrigação no sentido de
ser uma dívida, porem é uma responsabilidade que os sócios da empresa
têm obrigação perante si mesmos. Um sócio não pode pegar para si todo o
patrimônio líquido (capital social) da empresa, pois é obrigado perante a lei
e aos outros sócios a não fazer isso. É nesse sentido que o Patrimônio
Líquido é uma obrigação. No caso, a obrigação não é obrigação de dar
coisa, como, por exemplo, dar dinheiro como pagamento de uma dívida,
mas uma obrigação de não fazer, que no caso é a impossibilidade legal de
os sócios tomarem para si o Capital Social da empresa em obediência ao
princípio da continuidade da entidade, que basicamente afirma que a
entidade (empresa) deve existir por tempo indeterminado.
(É importante salientar que dentro do Patrimônio Líquido existe
outra conta a ser inserida além do capital dos sócios (Capital Social) a qual
é obtida a partir da diferença entre as receitas que a empresa produziu e as
despesas que ela obteve durante o ano e que é a partir do confronto entre
receitas e despesas que se sabe se a entidade auferiu (obteve) lucro ou
prejuízo - esse procedimento é o famoso DRE – Demonstração do
Resultado do Exercício, mas o estudo dessa demonstração não é o foco
desse texto, porém adianto que a dinâmica da DRE é toda baseada nos
conceitos de débito e crédito e que, aprendendo esses conceitos, a
compreensão da DRE acontece sem maiores dificuldades.)

Exemplo de BP:

BALANÇO PATRIMONIAL CIA. ZZZ - 31-12-20xx


ATIVO PASSIVO (exigível)

Caixa 30.000 Salários a pagar 8.000


Contas a receber 50.000 Empréstimos a pagar 20.000
Máquinas 20.000
Veículos 50.000 Patrimônio Líquido (passivo não
exigível)

Capital Social 122.000

Total 150.000 Total 150.000


PL= ATIVO-PASSIVO

PL=150.000-28.000=122.000

Agora que explicamos os conceitos básicos sem os quais não é


possível adentrar na explicação dos termos “débito” e “crédito”, vamos,
finalmente, em direção ao motivo principal da elaboração desse texto.

Débito e Crédito, enfim


Qualquer conta do Ativo pode ter um lançamento a débito ou a
crédito e qualquer conta do Passivo pode ter um lançamento a débito ou a
crédito. O que muda são os efeitos gerados na conta por causa da natureza
dela. Mas o que significa “natureza da conta”? É apenas uma convenção
contábil, algo que foi determinado e que é seguido por todos os
profissionais da contabilidade.

A natureza das contas do Ativo é de débito e a natureza das contas


do passivo é de crédito. Isso apenas significa que se uma conta do Ativo
sofre um lançamento a débito o saldo dessa conta irá aumentar. Se essa
conta sofre um lançamento a crédito o saldo dela irá diminuir. Irei explicar
melhor essa definição através de um razonete. Um razonete é um simples
instrumento gráfico em forma de T - muito útil para visualizar lançamentos
contábeis.

Exemplo: Conta do Ativo – Caixa sofreu um débito no valor de


R$100

Caixa

D C

300

100

400

Observe que 1) se houve um lançamento a débito na conta Caixa


então o saldo dela aumentou, passando de 300 para 400 (300+100) e 2) se
houve um lançamento a débito na conta Caixa, então alguma conta sofreu
crédito, pois para todo débito há um crédito correspondente.

Digamos que o valor de R$100 seja referente ao pagamento de uma


dívida de um cliente. Digamos ainda que o total da dívida desse cliente seja
R$200. Observe que uma conta a receber é um direito, portanto também é
uma conta do ativo, pois os lançamentos de débito e crédito podem
envolver contas do mesmo pólo, no caso, o pólo Ativo. Vejamos como fica
a conta Contas a receber no razonete após o lançamento a débito para a
conta Caixa. Não se perca: contas do Ativo tem natureza de débito
(aumentam o saldo com lançamentos a débito) e, assim, seus saldos
diminuem com lançamentos a crédito, como foi dito anteriormente.
Atente para o fato de que a conta Contas a receber, por ter natureza de
débito e ter sofrido um lançamento a crédito, terá seu saldo diminuído.
Vejamos:

Contas a receber

D C

200 100

100

São duas contas, ambas do Ativo. Sabemos que lançamentos a débito


em contas do Ativo aumentam o saldo delas. Então, o Caixa, que contava
com R$300,00 aumentou o saldo para R$400,00 com o lançamento a
débito. Em contrapartida, a conta Contas a Receber, também do Ativo e,
portanto, tendo seu saldo diminuído com um lançamento a crédito, tinha o
saldo de R$200,00, mas, com o lançamento, passou a ter o saldo de
R$100,00.

Digamos, agora, que uma empresa efetuou, a vista, a compra de um


bem. Digamos que esse bem seja um veículo que custou R$50.0000. Para
fins didáticos vamos assumir que não existia ainda a conta Veículos no
patrimônio dessa entidade e que essa compra ocasionou o surgimento da
conta Veículos. Atente para o fato de que um veículo é um bem e, portanto,
a conta Veículos pertencerá ao Ativo da entidade. Atente ainda para o fato
de que, sendo a conta Veículos do Ativo, logo possui natureza de débito, ou
seja, um lançamento contábil a débito aumenta o saldo dessa conta. O
lançamento será a débito porque a entrada do bem na conta significa um
aumento no saldo dela, que era nada, zero, (a conta nem existia) e agora é
de R$50.000,00.
Veículos

D C

50.000

Observe que houve o surgimento da conta Veículos a partir da


compra de um veículo que custou a empresa o valor de R$50.000. A conta
é do Ativo. Isto sabemos. Por isso possui natureza devedora (que significa
natureza de débito e não tem nada a ver com “dever” no sentido de ser uma
dívida. Na contabilidade o termo “devedor” sempre se refere a natureza de
débito) Muito bem. A pergunta que surge é: se a conta Veículos foi
debitada (aumentou seu saldo) qual foi a conta creditada? Digamos que
tenha sido a conta Caixa. Digamos que no Caixa havia o total de
R$150.000. Porém, por ser uma conta do Ativo, um lançamento a crédito
fará com que seu saldo diminua. Os razonetes ficariam da seguinte forma:

Caixa Veículos

D C D C

150.000 50.000 (i) 50.000 (i)

100.000

Até aqui lidamos apenas com partidas dobradas ocorridas no Ativo


de uma entidade, porém na prática ocorrem vários lançamentos, que
envolvem tanto o Ativo como o Passivo além de que pode acontecer de um
lançamento envolver até três contas ao mesmo tempo. Quando ocorre isso
confunde um pouco, mas também não é um bicho de sete cabeças. Basta
que a pessoa domine a noção de débito e crédito que os lançamentos fluem
tranquilamente. Vejamos um exemplo que envolve contas do Ativo e
Passivo. A Empresa CIA. ZZZ, no dia 10/11/20xx, possui em seu caixa a
quantia de R$200.000,00. Nesse dia efetuou o pagamento de R$12.000,00
referente a salários de seus funcionários e pagou o valor de R$400,00
referente a consumo de energia elétrica. Vejamos primeiro o que é conta do
Ativo e o que é conta do Passivo.

Caixa – é um bem (dinheiro), portanto conta do Ativo

Salários a Pagar – é uma obrigação, portanto conta do Passivo

Contas a Pagar (Luz) – é uma obrigação, portanto conta do Passivo

Caixa – Natureza devedora: lançamentos a débito aumentam o saldo


e lançamentos a crédito diminuem o saldo

Salários a Pagar – Natureza credora: lançamentos a débito diminuem


o saldo e lançamentos a crédito aumentam o saldo

Contas a Pagar – Natureza credora: lançamentos a débito diminuem


o saldo e lançamentos a crédito aumentam o saldo

Razonetes antes dos lançamentos:

CAIXA SALÁRIOS A PAGAR CONTAS A PAGAR

D C D C D C

200.000 12.000 400

Razonetes após os lançamentos:

CAIXA SALÁRIOS A PAGAR

D C D C

200.000 12000 (i) 12.000(i) 12.000

188.000 0,00 0,00

Atente para o lançamento (i), a conta Caixa, por ser conta do Ativo,
possui natureza de débito, ou seja, lançamentos a débito aumentam seu
saldo e lançamentos a crédito diminuem seu saldo. Ao sofrer um
lançamento a crédito o saldo da conta diminuiu (200.000-12.000=188.000).

A conta Salários a Pagar, por ser conta do Passivo, possui natureza


de crédito, ou seja, lançamentos a crédito aumentam seu saldo e
lançamentos a débito diminuem seu saldo. Ao sofrer um lançamento a
débito o saldo da conta diminuiu. Na verdade, o lançamento foi igual ao
saldo da conta, o que fez o saldo ir a zero. Na prática a dívida foi paga e a
obrigação deixou de existir. Atente ainda para a dinâmica das partidas
dobradas, onde cada débito tem seu crédito correspondente. Observe
também que a conta de natureza de débito (CAIXA) que foi creditada teve
seu saldo diminuído, assim como a conta de natureza de crédito
(SALÁRIOS A PAGAR) que foi debitada também teve seu saldo
diminuído.

Vejamos o próximo lançamento.

Razonetes antes dos lançamentos:

CAIXA CONTAS A PAGAR

D C D C

188.000 400

Razonetes após os lançamentos:

CAIXA CONTAS A PAGAR

D C D C

188.000 400(ii) 400(ii) 400

187.000 0,00 0,00

Atente para o lançamento (ii), a conta Caixa, por ser conta do Ativo,
possui natureza de débito, ou seja, lançamentos a débito aumentam seu
saldo e lançamentos a crédito diminuem seu saldo. Ao sofrer um
lançamento a crédito o saldo da conta diminuiu (188.000-400=187.600).

A conta Contas a Pagar, por ser conta do Passivo, possui natureza de


crédito, ou seja, lançamentos a crédito aumentam seu saldo e lançamentos a
débito diminuem seu saldo. Ao sofrer um lançamento a débito o saldo da
conta diminuiu. Na verdade, o lançamento foi igual ao saldo da conta, o
que fez o saldo ir a zero. Na prática a dívida foi paga e a obrigação deixou
de existir.

Espero que esse pequeno texto tenha lhe ajudado na compreensão


desse assunto tão importante e que coloca muitos estudantes em sérias
dificuldades. Sugiro, agora que sabe lidar com as contas patrimoniais (bens,
direitos e obrigações), que aprenda e domine o conceito de contas de
resultado (receitas e despesas), faça exercícios repetidas vezes e partir daí
você estará bastante adiantado nos seus estudos.

Johnatan dos Santos, 4° período de Contabilidade

E-mail: johnmarinho975@gmail.com

WhatsApp: 98-984330785

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