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Sumário
APRENSENTAÇÃO ......................................................................................................... 2
Muito prazer, meu nome é Daniel. Tenho 16 anos e uma paixão: economia. No caso, me
interesso bastante por economia austríaca. Em meio a pandemia, percebi a aplicação
prática da teria econômica, no entanto, a questão que me fazia perder noites de sono se
manteve latejante: como eu posso sair melhor de tudo isso?
Em meio a um cenário pandêmico e digno de romance surrealista, me encontrei de
mãos atadas de fazer qualquer coisa. A única certeza era em relação aos mercados. Tudo
estava um caos.
E eu preciso mudar isso.
Porém, os mesmos estudos que me fazem entender a falha estatal, me demonstra o
quão difícil é mudar um cenário sem ajuda alguma. Sozinho, de fato, mudo pouco.
Minha sorte é que a solução para isso é simples: ensinando pessoas, formo pessoas.
Espalhar informações é o equivalente a formar exércitos. E como já diria o ditado sem
dono: “ideias nunca morrem”.
Fiz esse documento na esperança de tornar alguém igualmente apaixonado pelas
ciências econômicas.
Como recomendações finais, peço que estude com calma. Para qualquer explicação
pessoal, basta me contatar em meu Instagram: @dan.colli, adoraria explicar melhor
algum assunto determinado.
Estude com calma e constância. É isso.
Vamos seguir para um exemplo prático, entendendo, logo em seguida, algumas das
linhas mais importantes.
EXEMPLO PRÁTICO – Balanço Patrimonial de LREN3 – CONTA “ATIVO”
Todo o dinheiro que está em caixa, ou seja, disponível para dispêndio imediato. Se ela
quiser, vai e gasta agora mesmo. Pode ser que não esteja totalmente disponível em
espécie ou conta corrente, na verdade, também conta os ativos de extrema liquidez (por
isso o “equivalente”).
CONTAS A RECEBER:
O nome é auto explicativo. Se refere a tudo aquilo que está para entrar no caixa da
empresa. Nesse caso, em específico, há a subdivisão “Clientes” que é a única dentro do
“Contas a Receber”. Nesse caso, o Balanço se refere as contas a receber dos clientes da
Renner. Aqui no Brasil é comum que as compras sejam feitas de maneira parcelada,
portanto, temos uma alta recorrência da conta “Contas a Receber – Clientes”.
ESTOQUES:
Referente a todos os produtos em estoque dos quais a empresa considera ser possível
vender dentro de um ano (afinal, esse, em específico, está dentro do Ativo Circulante).
Esse é mais específico das Lojas Renner (assim como de outras empresas de varejo no
Brasil), advém de uma operação chamada “SECURITIZAÇÃO DE RECEBÍVEIS”, a qual
serve como instrumento de diluição do risco intrínseco da disponibilização do sistema
de parcelamento.
Essa operação favorece tanto a Renner, que recebe de maneira adiantada os recebíveis
através da compra dos investidores, quanto os próprios investidores, que compras os
“títulos” com um certo deságio, ou seja, pagam menos do que os clientes deveriam
pagar a Renner (dessa forma, ganham na diferença entre preço de compra do título e
pagamento do cliente).
Em suma, vemos que, dessa operação, a Renner gerou um capital em curto prazo. Por
isso, essa conta está dentro de Ativo Circulante.
Famoso hedge (na maior parte das vezes). Essa operação serve, basicamente, para
compensar as perdas causadas por variações em elementos externos.
Suponhamos que a Renner importe sua matéria-prima do país X. A moeda que será
usada na transação provavelmente será o dólar, salvo raras exceções. Assim, um
aumento na cotação do dólar prejudica a empresa, que comprará sua matéria-prima
acima do preço que costumava. Para se proteger dessa variação, a empresa compra
dólar antecipadamente. Dessa forma, caso o dólar suba, o ganho monetário será o
suficiente para anular a perda. Isso é um hedge.
Essa operação pode ser recriada de diversas formas no mercado, mas o que você precisa
saber é sua função: diluir riscos e proteger o capital.
Basicamente, tudo que a empresa receberá depois de um ano. Nesse ponto devemos
nos questionar: o “Ativo Realizável A Longo Prazo” é equivalente ao “Ativo Não
Circulante”?
Na verdade, não, apesar de parecer que sim. Isso pois, além de englobar o próprio “Ativo
Realizável a Longo Prazo”, também contamos com os bens e investimentos da empresa
no “Ativo Não Circulante”.
INVESTIMENTOS:
O nome é um tanto quanto auto explicativo, mas não deve ser confundido com o
Imobilizado. Nessa conta consideramos todos os investimentos que não estão
DIRETAMENTE ligados com a produção da empresa.
Da mesma forma que a conta acima, se refere aos investimentos feitos, porém, dessa
vez nos referimos aqueles mais ligados a produção da empresa. Podemos considerar
nessa conta todos aqueles ativos que são difíceis de serem vendidos, que não possuem
mercado certo e demandas claras. São aqueles de difícil conversão em dinheiro.
INTANGÍVEL:
Aqui nos referimos aos bens não materiais, como marcas e nomes. No caso de LREN3,
temos tanto as marcas “Lojas Renner” quanto outras também pertencentes a ela, como
“Camicado”, “Youcom” e “Ashua”.
Caso queira saber mais sobre, leia esse artigo do Damodaran sobre a precificação de
marcas.
Encargos, salários ainda não pagos, obrigações fiscais (impostos e taxas) e outras contas
relacionadas à justiça trabalhista/tributária. Uma das mais comuns em todas as
empresas brasileiras.
EMPRÉSTIMOS E FINANCIAMENTOS:
Atenção nesse. É a chamada “dívida onerosa”, ou seja, é uma dívida que gera despesas
financeiras, como o famoso juros. É importante analisar esse dado com cuidado, afinal,
as empresas podem gerar essas dívidas dentro de seu passivo circulante ou não
circulante.
Caso a empresa esteja em uma situação em que possuí uma dívida onerosa circulante
tão alta quanto seu ativo circulante, poderemos estar diante de problemas. Tome
cuidado ao analisar essa situação!
Essa área também pode estar presente no passivo não circulante, o que é o ideal.
Devemos nos lembrar de qual é a situação mais favorável a empresa: possuir mais
dívidas de longo prazo do que de curto prazo, afinal, com esse espaço de tempo haverá
uma maior possibilidade de rentabilizar esse empréstimo. Ou seja, quanto mais
carência, melhor.
Essa linha do Patrimônio Líquido se refere ao capital investido pelos acionistas, ou seja,
o dinheiro que foi colocado pelos sócios.
Mostra o quanto foi guardado para investir em expansões futuras, como compra de
máquinas e novas lojas.
Bom, até agora entendemos sobre o BP, mas não vimos nada como “lucro” ou “prejuízo”.
Isso ocorre pois o BP é uma fotografia da estrutura de capital da empresa, ou seja,
demonstra de onde está vindo o dinheiro que a financia, para onde vai e como está o
usando. Os termos que citamos inicialmente só são alcançáveis através da análise do
exercício de um certo período, ou seja, só é alcançado através da obtenção de um
resultado.
Uma metáfora para você internalizar melhor: pense na sua cozinha, na sua dispensa e
no que está contido nela. Vamos supor que é um domingo a noite e você está com fome,
querendo algo prático. Antes de tudo, você avalia o que tem em sua dispensa e
geladeira, o que planeja comer ao longo da semana e o que já comeu em seus últimos
dias. Fazendo essa junção, você tem um levantamento de como está sendo sua
atividade, para onde seus recursos estão indo e de onde planeja tirar mais recursos. Mas,
você está com fome HOJE, AGORA. Para isso, você pega um macarrão e faz ali mesmo.
Usando de alguns temperos, você prepara uma maravilhosa bolonhesa. Nesse processo
você gerou resíduos plásticos, gastou alguns litros de água, temperos e matérias-
primas, entretanto, saciou sua fome. Fazendo um levantamento de todos os gastos ao
longo do processo e o subtraindo de sua satisfação, temos o lucro da operação.
Enquanto a sua primeira atitude foi levantar um BP, a sua segunda foi arquitetar um
DRE. Perceba que, só é possível perceber o lucro após usarmos dos recursos
documentados no BP. Entendeu?
Como o próprio nome diz, é uma documentação do exercício e de cada uma de suas
etapas, com seu objetivo muito claro: demonstrar o quanto a empresa faturou/lucrou.
Assim, podemos encarar o DRE como uma pirâmide invertida, pois, no seu topo temos
um resultado bruto, sem abatimento algum. Conforme vamos descendo os níveis da
pirâmide, vamos acessando resultados cada vez mais filtrados, com deduções e
abatimentos, até chegarmos ao lucro final.
1. RECEITA BRUTA – O montante faturado pela empresa, sem dedução alguma. Pode
ser obtido através da seguinte conta: (Preço do produto * Número de produtos
vendidos).
2. IMPOSTOS – Essa é a primeira dedução do DRE. Ao vender qualquer um de seus
produtos, a empresa precisa emitir uma nota fiscal (NF). Logo nessa nota, certos
impostos são abatidos, como o ICMS.
3. RECEITA LÍQUIDA – Diferença da Receita Bruta e dos Impostos. Basicamente: RECEITA
BRUTA – IMPOSTOS – RECEITA LÍQUIDA.
4. CUSTO POR PRODUTO VENDIDO (CPV) – Aqui estão contidos os custos inerentes à operação
da empresa, como os gastos de produção e fornecimento de serviços. Tudo que está
envolvido na produção das mercadorias e serviços é compreendido aqui.
5. LUCRO BRUTO – Segue a mesma conta da receita líquida, só que, dessa vez, sendo
composta por: RL – CPV = LUCRO BRUTO.
Estão contidos aqui dentro coisas como contas de luz, água, salários de pessoal do
escritório, aluguéis etc.
7. LUCRO OPERACIONAL (EBIT) – Após subtrair todos esses gastos, chegamos ao EBIT, que é
um dos indicadores mais importantes. Tudo que vem abaixo dele é relacionado aos
impostos ou alavancagem, portanto, esse é o indicador mais confiável para se
comparar a eficiência de empresas.
Vamos supor que temos duas empresas, ambas dos mesmos setores, e queremos
compará-las. Caso tomemos o lucro líquido como base de comparação, podemos ter
uma interpretação equivocada caso a empresa A tenha mais dívidas que a empresa
B, ou seja, tenha mais alavancagem. Isso pois, os juros dessa dívida – a amortização –
será descontada do EBIT, o que fará com que seu resultado líquido seja menor.
Comparativamente, pode ser que a empresa A tenha um EBIT maior, possuindo
menos gastos operacionais – o que a caracteriza como mais eficiente.
LEMBRE-SE: Tudo que é descontado a partir do EBIT tem relação com a dívida ou
com o Imposto de Renda.
Agora que entendemos esse conceito, vamos ao exemplo prático, com o DRE de LREN3.
Agora, veja bem: alguns dos nomes podem estar diferentes do que vimos, ou até mesmo
ocultos em meio a tantas linhas. No caso de LREN3, temos dois exemplos desse
acontecimento:
- Os termos que vimos, como “Receita Líquida”, “Ebit” e “Lucro Líquido” foram
substituídos por outros, como “Receita da Venda de Bens e/ou Serviços”,
“Resultado Bruto” e “Resultado Antes do Resultado Financeiro e Tributos”. O
conceito permanece o mesmo, o nome apenas variou. Com o tempo pegamos o
que é cada um, mas, inicialmente, é uma boa sempre dar uma olhada no que está
contido dentro do item, para que nos certifiquemos de que é o que de fato
achamos. Nesse caso, ao olhar o que está contido em “Receita da Venda de Bens
e/ou Serviços”, observamos itens como “Receita Líquida de Vendas”, que nos
ajudam a entender que o termo é um sinônimo de Receita Líquida.
- Todas as duas primeiras linhas que aprendemos, do Lucro Bruto e do ICMS, foram
ocultadas. Isso pode acontecer – na verdade, é bem provável de que irá -, afinal, o
cálculo do ICMS é certo e invariável, além de que a Receita Bruta muitas vezes não
é tão olhada pelos investidores. Assim, pode ser que seja ocultada. Entretanto, esse
número não é impossível de ser acessado. Muitas vezes é disposto no release de
resultados, como forma de explicitar o crescimento nominal da empresa.
É importante ler esse relatório INTEIRO, pelo menos uma vez a cada valuation.
Entretanto, podemos destacar algumas sessões como essenciais durante a leitura, na
qual você deve prestar mais atenção, como:
A) FATORES DE RISCO – Tópico no qual todos os fatores que podem afetar negativamente o
resultado da empresa são listados.
C) COMENTÁRIOS DOS DIRETORES – Importante olhar esse pelo fator “ato falho”, no qual,
alguma informação oculta pode ser revelada pelas suas falas.
D) PROJEÇÕES – É cedida a liberdade nessa sessão, dessa forma, pode ser que a empresa
faça suas projeções ou não. Nesse caso, é interessante usá-las (caso estejam
presentes) como base do seu valuation.
1. MARGEM EBIT e EBITDA – Calcula quantos % da Receita Líquida se torna, de fato, um lucro
operacional. Também existe a sua variação, chamada MARGEM EBITDA, no qual a
única diferença é que o EBITDA é o EBIT somado aos custos de depreciação e
amortização.
Lembrando:
Como estamos falando de dia a dia, estamos falando de curto prazo. Nesse caso, a
representação do curto prazo no balanço patrimonial é dada através do “circulante”.
Mas não se engane, capital de giro não é o mesmo que ativo circulante, afinal, nem
todos os itens do ativo circulante podem ser direcionados ao dia a dia da empresa.
CAPITAL
DE
GIRO
Obs.: Pode ser que a empresa analisada esteja com um caixa maior do que o
necessário, para quitar dívidas de curto prazo ou algo do tipo. Nesse caso, é
importante considerarmos no cálculo o caixa operacional. Uma regra de bolso é que,
geralmente, esse caixa operacional equivale a 2% da receita líquida da empresa.
Tudo acima desses 2% é chamado de “EXCESS CASH”, algo como “gordurinha” em
PT-BR. É importante denotar que essa é um REGRA DE BOLSO, ou seja, dificilmente
estará 100% correto. O importante é ter informações sobre o setor analisado e tirar
suas próprias conclusões.
4. ROIC e ROE – Para calcular a rentabilidade de qualquer ativo, basta que você
compreenda o retorno em questão sobre o capital investido, seja um fundo, uma ação
ou um título. Agora, isso só acontece porque está avaliando unicamente a sua
aplicação. Na visão de uma empresa temos aplicações tanto dos acionistas como dos
credores, logo, podemos avaliar a rentabilidade da empresa de duas formas
diferentes:
No ROE estamos calculando pela visão dos acionistas, o retorno sobre o capital
investido por eles.
Como queremos descobrir a rentabilidade da firma como um todo, devemos levar
em conta o ROIC, que mede o lucro tanto dos acionistas quanto dos credores.
O juros nada mais é do que o valor do dinheiro no tempo. A sociedade é composta por
dois grupos: os superavitários e os deficitários. Como o próprio nome indica, eles
emprestam e captam, respectivamente.
A questão é: se temos um agente que precisa desse dinheiro e um agente que o tem de
maneira excedente, o que incentivaria o segundo a emprestar ao primeiro?
Afinal, a taxa de juros do cartão de crédito, por exemplo, é diferente da taxa de juros
cobrada ao atrasar uma conta. Isso acontece pois, apesar do dinheiro ser sempre o
mesmo, o seu valor no tempo varia. Essa variação só ocorre graças a outro amigo: o
RISCO.
Como citamos, o juros é uma remuneração, dada por aquele que quer pegar o dinheiro
emprestado. Agente deficitários que oferecem maior risco (como aquele ser amigo
com fama de caloteiro) precisam oferecer uma taxa de juros maior para que o risco
intrínseco nesse investimento valha a pena.
Vamos supor a seguinte situação: este amigo caloteiro pede R$1000 emprestado,
oferecendo uma taxa de juros de 5% ao mês. Parece bom, não?
Porém, seus pais oferecem a mesma proposta. Ora, se seus pais, que oferecem um risco
próximo a zero, já estão oferecendo essa oportunidade, você requisitará um retorno
maior de seu amigo caloteiro.
Bom, mas, vamos à aplicação factual do negócio. Fato é que, ao comprarmos ações, nos
tornamos sócios das empresas. Que tal pensar como tal?
Veja bem, o fundador da empresa, o dono do negócio, tem uma pretensão sobre as suas
atividades: extrair o lucro.
Porém, quanto temos um negócio, o lucro não vai diretamente para o nosso bolso. Na
verdade, antes de chegar lá, é preciso fazer algumas partilhas nele:
Ao extrairmos esses dois, chegamos ao Free Cash Flow ou Fluxo de Caixa Livre.
Porém, como sócio, devemos pensar que estamos procurando receber esse FCF por
muito tempo, por diversos anos seguidos.
Portanto, podemos determinar o valor justo da empresa ao trazer a valor presente todos
os FCF futuros, através da seguinte conta:
Para trazer a valor presente usamos da fórmula do PV, tendo nosso custo de
capital/oportunidade como taxa.
De fato, é quase impossível que nós façamos uma conta tão gigante na mão sem tomar
menos de alguns meses de nossas vidas. Por isso, há uma conta matemática específica
para a perpetuidade, chamada de Soma da Progressão Geométrica Infinita.
Para usar essa conta, devemos dividir o cálculo entre pré-maturação e perpetuidade.
Todos os FCF pré-maturação são projetados por nós mesmos, portanto, após a empresa
atingir a maturidade, estamos considerando que passará a crescer em um ritmo
constante e mais ameno.
Por exemplo, podemos projetar 5 períodos e considerar que a empresa já estará madura
após esse tempo.
O custo de capital pode ser também chamado de TAXA DE DESCONTO, isso pois o
usamos na fórmula do DFC para trazer os FCF à valor presente.
Portanto, para calcular o CUSTO DE CAPITAL da empresa, precisamos fazer uma média
entre o custo de capital dessas duas fontes.
Porém, a média não é calculada de maneira simples, na verdade, ela considera pesos no
cálculo.
Bom, agora que já vimos o Ke e o Kd, vamos ver como calcular cada um deles.
Vamos com calma. Precisamos entender, antes de tudo, a teoria por trás dessa
formulação, chamada CAPM (Capital Asset Pricing Model, algo como “Modelo de
Precificação de Ativos Financeiros” em português).
O CAPM foi formulado por Willian Sharpe (sim, o mesmo do Índice de Sharpe). A
proposta de sua teoria é responder a seguinte questão: quanto um investidor deveria
esperar receber em retorno ao alocar seu capital em um ativo com risco?
O principal ponto do modelo é tratar sobre os riscos que o investidor corre. Segundo ele,
existem três principais riscos que o investidor corre:
Ainda segundo o modelo, todos esses riscos podem ser eliminados através da
DIVERSIFICAÇÃO.
Mesmo com todos esses riscos mitigados, ainda sobra um último risco, o qual é
inevitável, chamado RISCO DE MERCADO. Esse é o risco inerente ao fato de você
investir, o qual advém, exatamente, da negociação do ativo, de sua volatilidade. Essa
volatilidade existe graças as emoções dos investidores, que podem estar otimistas ou
pessimistas, não temos como nos livrar disso.
Esse risco de mercado é medido, normalmente, por um índice de ações (uma carteira
fictícia). Quanto maior for a VOLATILIDADE desse índice, maior será o RISCO DE
MERCADO. Aqui no Brasil temos o IBOVESPA como índice referencial.
Então chegamos à seguinte questão: quanto deveríamos cobrar a mais por esse risco?
Resposta: Prêmio de Risco. Ou seja, o quanto o Ibov está dando de retorno a mais do
que um ativo sem risco. O quanto você ganha a mais no mercado de ações.
ADENDO: Nem sempre teremos um ação tão volátil quanto o Ibov. Ou seja, pode ser
que ela não tenha todo aquele risco de mercado. Outra vezes, teremos uma ação mais
volátil que o Ibov. A relação que mede o quão volátil tal ativo é em relação ao índice é
chamada de BETA.
Sempre consideramos o Ibov com beta igual a um, para podermos ter uma referência
do que está acima ou abaixo do mercado. Assim, devemos multiplicar o Beta pelo
prêmio de risco, para compensar a volatilidade.
➔ RISK FREE
Muitas vezes, ao falar de ativo livre de risco, pensamos em Poupança ou CDBs. O
problema é que eles também possuem risco.
Para um ativo ser considerado “sem risco”, devem ser cumpridas três exigências:
Veja bem, se há o risco de que seu dinheiro não seja devolvido no período
combinado, há um risco. Portanto, a primeira exigência é “entendível”.
A terceira exigência é simples: caso a taxa de juros mude, você pode receber
menos do que você receberia anteriormente, como no caso dos prefixados.
Hoje, o consenso do mercado está voltado as T-BONDS, um título emitido pelo governo
americano. O problema é que estamos no Brasil, portanto, faz mais sentido usar títulos
brasileiros. Por mais que exista o risco de calote por parte do governo, ainda há a
possibilidade de impressão de moeda, ou seja, sempre poderá nos pagar de alguma
forma.
No exemplo dado, escolhemos o título do Tesouro Direto IPCA+ 2045, com rendimento
de 4,60% + 4% (inflação prevista pelo BC). Assim, temos 8,6% como retorno esperado.
➔ RISK PREMIUM:
Ok. Isso é polêmico. Estamos prestes a observar uma das bizarrices do mercado
financeiro brasileiro. Vou direto ao ponto: no Brasil não temos, historicamente, um
prêmio de risco.
Se você puxar os retornos dos últimos 50 anos, todos os títulos pós-fixados superaram o
rendimento do Ibov. Bizarro né?
Mas calma, isso tem explicação. Desde o início da Nova República o Brasil experienciou
longos períodos de altíssimas inflações, coisa de três dígitos ou mais. Sendo assim, era
normal que os juros fossem jogados nas alturas, em uma tentativa de acalmar os ânimos
da economia. Isso refletiu nas taxas de juros dos títulos públicos, tornando seu
rendimento invejável.
Também devemos lembrar do fato de que o Ibov é formado pelas ações mais líquidas
da bolsa, portanto, muda constantemente de composição. Logo, é difícil assegurar um
retorno constante em uma carteira inconstante.
Portanto, o fato de que “não temos prêmio de risco” é explicável. Mas, dessa forma,
ficamos na dúvida: quanto deveríamos cobrar?
Bom, hoje em dia, é um consenso do mercado adotar prêmios entre 5% e 6,5%, sendo
que, Alexandre Póvoa em “Valuation”, recomenda que sempre usemos 6,5%.
- CURIOSIDADE: Para não deixar o resto da página vazio, trago aqui um extra
relacionado ao Ibov. Você acha que os dividendos pagos pelas empresas contidas no
índice são refletidos no cálculo de rentabilidade, como um reinvestimento?
Resposta: SIM. O Ibovespa é um “índice de Retorno Total”, ou seja, leva em conta tanto
a valorização dos papéis quanto os proventos pagos.
➔ BETA:
Bom, esse é o mais temido de todos. Resumindo bem, podemos falar que o Beta
representa a parcela do risco de mercado contido na ação. Ou seja, quanto maior for o
Beta, mais suscetível ao risco de mercado estará o papel.
Pode ter parecido confuso, mas relaxa, que eu quebro seu galho.
Caso você seja do tipo curioso, lá pro final do estudo haverá um módulo extra explicando
como o cálculo é feito.
➔ Kd (CUSTO DE CAPITAL DE TERCEIROS):
O Kd é beeeem mais simples de calcular. Nesse aqui temos diversas maneiras de
calcular.
Uma das maneiras mais conhecidas é o Yield To Maturity, ou, para os mais chegados,
YTM. Nele fazemos uma projeção infinita através dos dados da debênture de prazo de
vencimento mais distante emitido pela empresa.
No caso de a empresa não ter emitido debêntures, podemos fazer o YTM de empresas
que possuem o mesmo rating da empresa analisada
ADENDO: Rating, basicamente, é uma nota atribuída a empresa, visando medir o risco
da empresa não pagar suas dívidas. Agências especializadas que dão esse rating (como
a Standart & Poor’s, a Fitch ou a Moody). É possível achar esse rating no DRE ou no
release de resultados da empresa.
ADENDO 2: É possível também que essa empresa esteja numa condição financeira tão
precária que não possua o chamada “grau de investimento”, ou seja, seja classificada
como “meramente especulativa” pelas empresas de rating. Isso significa que, segundo
a avaliação das agências, a chance de um calote por parte da empresa é muito grande.
Nesse caso, sai correndo, passa reto por essa empresa.
Se lembra que os juros da dívida abatem uma parte do IR? Pois bem, basta que você
faça a seguinte conta:
Depois desses camaradas você finaliza o WACC. Ok, mais um módulo concluído!
Módulo 04 – Projeções
Bom, até agora já tivemos um bom entendimento da conta, da parte exata do negócio.
Mas valuation também é arte, envolve subjetividade e previsões. Nesse caso, há uma
necessidade por parte do avaliador de projetar, com precisão, os próximos resultados da
empresa. Portanto, nesse módulo, entenderemos como se dão essas projeções e como
é possível chegar até elas.
Antes de tudo é importante que você tenha noção de que você irá errar.
Isso é fato. Você vai errar.
Há uma série de perguntas que são feitas regularmente nessa etapa. Algumas delas são:
Portanto, vamos para um estudo de caso prático, para que você aí treine suas
habilidades de projeção.
LEMBRE-SE: É IMPOSSÍVEL ser bom de primeira. Se supere a cada erro.
Antes de tudo, devemos entender um pouco sobre a lógica por trás da projeção. Vamos
analisar por partes:
1. QUAIS DADOS TENHO? – Faça um apunhado de tudo que você possui, tenho em
mente algo como um flowchart contendo todo o conhecimento sobre o case.
2. CRIAR UMA ESTRATÉGIA – Ou seja, tenha um plano de como você imagina que se
desenrolará o futuro da empresa. Necessariamente você assumirá premissas aqui.
3. ESTABELECER PREMISSAS – Tenha em mente fatores chave que desencadearão,
por efeito dominó, os resultados que você prevê.
Vamos exemplificar, para chegar entender melhor tudo isso, usando o caso de LREN3.
Com isso, estimamos o número de lojas que serão abertas por ano, de
tal forma que atinjam o guidance de 2021. Assim, saberemos qual será o
faturamento total de acordo com as maturidades de cada loja. Portanto,
temos uma previsão boa de receita líquida de vendas.
Logo em seguida o investidor deve fazer uma escolha. Ele tem plena liberdade para
calcular cada uma das linhas do DRE, porém, caso se sinta confiante o suficiente, pode
partir do NOPAT, calculando as linhas abaixo do EBIT.
➔ NOPAT: Caso você escolha esse caminho, o primeiro passo será achar a
margem EBIT, para assim, chegar ao propriamente dito, EBIT.
Aqui, novamente, recorremos a tendência. Ao estudar a empresa você pode ter uma
noção do que pode possibilitar que a margem aumente. No caso de LREN3, tivemos
uma não recorrência em 2018, devido a um hedge cambial que ajudou a empresa.
Porém, a implementação de inovações logísticas ajudará o margem a aumentar,
além da força-tarefa em aprimorar as vendas on-line. Com isso, podemos fazer
projeções seguras sobre o futuro da margem.
Além disso, podemos projetar o IR Efetivo através de uma simples média dos últimos
4 anos (período em que se iniciou o seu plano de expansão).
Portanto, para descobrir a variação do capital de giro, basta subtrair o ano atual pelo
anterior.
➔ CAPEX: Novamente, aqui, o que conta, é seu estudo da empresa. Nesse caso,
se você leu bem o release de resultados de 2018, verá que há uma projeção feita
pela própria Renner de quais serão os futuros Capex (que serão iguais aos de 2018).
A implicação desse item vem, não nele mesmo, mas sim na depreciação e
amortização, que é mais complicada de prever. Devemos adicioná-la a conta para
achar o “Capex Líquido”, isso pois, dentro do Capex, também estão contabilizados os
custos operacionais de manutenção (que já foram dispostos em outras linhas,
colocá-los novamente seria duplo desconto).
Assim, da mesma forma que o Capital de Giro, podemos afirmar que a quantidade
de máquinas possuídas (portanto, a quantidade de D&A), é proporcional ao tamanho
da empresa.
Novamente, ao usar o CORREL, confirmamos essas tendências. Logo, vemos que essa
proporção é de 3,7% para a Receita Líquida. De tabela, temos na mão o nosso Capex
Líquido.
Pronto, agora já temos os Fluxos de Caixa Livre para os próximos anos de Renner. Agora
devemos calcular a perpetuidade do case.
Módulo 05 – Perpetuidade e Growth
Vamos por partes. Você está prestes a projetar a parte mais importante do valuation.
Aqui você vai determinar cerca de 70% do preço final da ação, e a taxa de crescimento
(o growth) é o fator mais importante dessa conta.
A questão é que você já viu como se calcula a perpetuidade (capítulo 02), porém, não
sabe o que deve ter em mente ao projetá-la. Vamos ser honestos: aqui a “arte” fica mais
visível que nunca. Você pode jogar, literalmente, qualquer número - porém, jogar o
número certo é o que diferencia os bons e maus investidores.
No último capítulo você achou o crescimento anual das empresas, medido pelo
crescimento do NOPAT. Pode ser que essa taxa tenha sido de 15%, 25% ou até mesmo
mais. Então, nos sobra uma questão: isso é muito ou é pouco?
É essa questão que diferencia muito dos bons e maus previsores. Senso crítico é
importante. Atente-se a isso.
Bom, respondendo à questão, saiba que no curto prazo tudo é possível. Enquanto a
empresa ainda não estiver na maturidade, pode ser que o crescimento anual seja
explosivo. Ainda assim, é importante ter em mente algumas coisas para garantir uma
projeção realista, tais como:
1. IGNORE ANCORAGENS:
Vamos aos fatos: há uma tendência natural do ser humano de achar que
crescimentos passados se repetirão no futuro (isso tem um nome: viés da
ancoragem).
A tendência é, na verdade, que o crescimento da empresa passe a ser cada
vez mais estável. A lógica por trás disso é simples: é mais simples dobrar de
tamanho quando se vale mil reais ou quando se vale um milhão?
Não faz o menor sentido se basear em um caso isolado apenas por que “já
aconteceu uma vez”. Seja racional e analise a situação. Se o contexto estiver
semelhante, pode ser que o cenário se repita, mas mantenha a cautela.
Portanto, tenha cuidado com o fator “greedy”. Deixa de ser ganancioso.
2. CONSOLIDAÇÃO DO SETOR:
Da mesma forma que se avalia a empresa, é importante avaliar o setor.
Setores mais estáveis podem oferecer taxas de crescimento menores.
Temos como exemplo, o setor de energia. É, historicamente, bem alocado
no Brasil. Sempre esteve conosco e conta com empresas centenárias. É
difícil que alguém cresça exponencialmente, até por que, para isso, seria
necessário que, repentinamente, o consumo de energia desse um enorme
salto.
Na outra mão, como exemplo de setor pouco estável, temos a locação de
automóveis. Não é de costume do brasileiro alugar um carro. Muito pelo
contrário, estamos acostumados a comprá-los. Portanto, esse é um setor
que crescerá muito, num geral.
Para entender o quão consolidado está o setor, avalie o Market Share. Aqui
no Brasil, as três maiores locadoras possuem 35% do mercado. Nos Estados
Unidos, as três maiores possuem 85% do mercado.
Apesar desses apontamentos, vale reforçar que só você está no controle de seu
valuation. Você deve entender, melhor do que ninguém, a empresa. Se for uma startup
ou algo do tipo, pode ser que o crescimento se justifique. Apenas mantenha os pés no
chão.
Beleza, agora vamos nos concentrar no que pode fazer a empresa de fato crescer (gerar
mais lucro):
1. INVESTIR MAIS:
Ou seja, aumentando seu CAPEX, Capital de Giro e Ativos num geral. Ao
investir a empresa passa a contar com um número maior de fábricas e lojas,
portanto, passa a ter uma receita maior (o que consequentemente trará um
lucro maior).
2. AUMENTAR SEU RETORNO (ROIC):
Melhorando sua performance a empresa passa a contar com mais lucro.
Esse aumento pode se dar através de um número maior de vendas ou
menos despesas. Esse processo fará com que o rendimento sobre o capital
já investido aumente, ou seja, tenha um ROIC maior. Veja bem, estamos
falando do ROIC e não do ROE.
Se você projetou crescimento, ele veio de algumas dessas fontes. Portanto, para testar
se essa projeção é realista, fazemos o chamado TESTE DE CONSISTÊNCIA.
Imagina que você está projetando os futuros resultados, começando em 2020. Você
projetará um crescimento do NOPAT de 2019 para 2020. Esse deve ser o dado utilizado.
A questão é que você pode fazer uma conta inversa nesse sistema.
Caso o que você ache esteja meio fora dos padrões históricos, tente justificar isso. Caso
não existam boas justificativas, revise suas projeções.
Tenha isso em mente: se no curto prazo tudo é possível, no longo prazo poucas coisas
são prováveis. Um crescimento explosivo é completamente incerto à longo prazo. Que
empresa sustenta crescimentos de 15% ao ano? (Já adianto a resposta: nenhuma).
Você pode encontrar esse número em diversos sites, além do próprio DRE.
A questão é que, nesse ponto, a gente bate um pouco de frente com a percepção que
as pessoas têm sobre valuation. A função do DFC não é cravar um valor e determinar
quando estará caro e quando estará barato. Na verdade há uma variação dentro da
expectativa, que deve ser representada de alguma forma. A função da fórmula é te dar
um intervalo de valores. Quando mais próximo do piso, mais barato. Quanto mais perto
do teto, mais cara.
Podemos representar esses valores através da vivência. Conforme você estuda e
entende a empresa, acompanhando o seu dia a dia e a movimentação no mercado, você
começa a entender o quão pessimista tem que ser para que a ação chegue a
determinado preço.
Podemos também usar uma ferramenta chamada de MATRIZ DE SENSIBILIDADE. Nela,
você define, objetivamente, o período de tolerância dos preços da ação.
E para fazê-lo, você precisa interpretar o cenário. No caso de Lojas Renner, assumimos a
Matriz de Sensibilidade no Risk Premium e no WACC.
Fizemos isso seguindo a lógica de que o Brasil é imprevisível politicamente, gera
cenários que podem trazer maior volatilidade aos preços, portanto, aumentando o Beta
e o Risk Premium por consequência.
Assumindo essa matriz e projetando os diversos cenários de RP/Beta, podemos
continuar levando esses RP em conta em novas contas do WACC. Projetamos cada um
dos cenários e, assim, chegamos aos respectivos valores.
Segue exemplo:
• BOTTOM-UP BETA:
Como vimos, o beta é um ótimo indicador da volatilidade. Porém, o seu desvio
padrão pode acabar com sua precisão. Ou seja, o beta pode acabar sendo
qualquer número num intervalo de valores. Se esse intervalo for muito grande,
chega um ponto em que determinar o beta é igual a chutar números aleatórios.
Para resolver isso, o bottom-up beta foi criado pelos espertalhões da academia.
Consiste na determinação do beta de várias empresas de determinado setor, para
que, assim, uma média possa ser formada e represente todo o setor.
Voltemos ao caso de LREN3: na nossa análise, encontramos um resultado de 0,93
como beta. Para achar o bottom up beta, devemos analisar as empresas do
mesmo setor (Marisa, Arezzo, Grazziotin e
Le Lis Blanc).
Porém, algumas empresas que foram
contadas nessa lista são pequeníssimas.
Por isso, não fazemos uma média
aritmética, mas sim, ponderada (usando o
valor de mercado como parâmetro). Ao
fazer a conta da média, achamos o valor de
1,04.
Porém, somente a média não basta.
Precisamos considerar que esses
betas levaram em conta o
endividamento de cada uma das
empresas, portanto, em tempos de
crise, esse beta será mais influenciado.
Como a única alavancagem que nos importa é o da empresa analisada, vamos
desalavancar esse beta achado. Para fazer isso, devemos, primeiro, calcular a
alavancagem média do setor, ou seja, a relação entre DÍVIDA/PATRIMÔNIO
LÍQUIDO do setor. No caso do segmento têxtil, esse número é de 0,73.
Usando da fórmula acima, podemos achar o beta desalavancado do setor.
Ao acharmos o valor “limpo”, devemos alavancar o beta novamente, porém,
usando do nível de alavancagem da empresa analisada. Basta fazer a conta
inversa que teremos em mãos o nosso beta específico de LREN3, igual a 1,17.
Ok, isso foi profundo.
• VOLATILIDADE = RISCO?
Bom, depois de toda essa análise você quer descansar. Entra no Twitter e vê um
gestor comentando que, para ele, volatilidade não é igual a risco, portanto, ele não
usa o beta. Você deve ficar p*to da vida, certo?
Bom, vamos entender mais sobre essa opinião. O que isso de fato significa?
Por incrível que pareça, essa discussão ocorre mundo afora e é famosa. Pesquisa
“risk = volatility” no Google e se surpreenda com a quantidade de artigos escritos.
Nesse debate, existem dois lados:
- Os que acreditam que volatilidade não é risco, e que o verdadeiro risco é o de
perda permanente do capital. Ou seja, o real risco seria comprar uma empresa
que está prestes a falir ou que pode sofrer acidentes (como Brumadinho, da Vale).
Eles acreditam que, nesses casos, a empresa está perdendo dinheiro de fato. A
volatilidade só significa que alguém estava disposta a comprar e outra estava
disposta a vender por determinado preço.
- Por outro lado, é argumentado que volatilidade é uma medida de risco sim,
afinal, mede a correlação entre o índice de mercado (e o risco de mercado) e a
movimentação da ação.
É entendido que esse debate se iniciou por um desentendimento sobre o beta:
ele não necessariamente é alto em ações voláteis.
Vamos supor um cenário. Temos a ação DANI3 e a ação JOÃO4. A primeira é muito
volátil, porém, nunca segue a direção do IBOV, tem um beta baixíssimo graças a
essa correlação quase inexistente. Porém, a segunda, que possui baixa
volatilidade, sempre segue a direção do IBOV, portanto, tem uma alta correlação.
Com isso, podemos concluir que, caso algo como 2008 se repita (evento global
onde quase todas as bolsas caíram), a probabilidade será de que DANI3 caia
menos que JOÃO4, afinal, a sua correlação com o IBOV é menor. Viu? Nem
sempre volatilidade é risco, e o beta também não mede a volatilidade em si.
Porém, também há um desentendimento na noção de risco. Para os acadêmicos,
risco significa que mais coisas podem acontecer do que vão realmente acontecer.
Ou seja, é a incerteza. Exemplo: é mais arriscado chutar qual número caíra no dado
do que qual lado da moeda cairá.
Todavia, o entendimento de gestores é de que risco significa perder dinheiro. O
que não é, necessariamente, verdade.
De fato, podemos criticar os betas de várias formas. Ele não considera relações
não lineares, não considera a heurística da âncora (ou seja, nem sempre o beta
passado será igual ao beta futuro), entre outros. Agora, dizer que não funciona pois
volatilidade é necessária, é um argumento falho.
➔ AS DIFERENÇAS ENTRE FCFF E FCFE: O QUE ME IMPORTA DE VERDADE?
Olha, não fica bravo, mas existem diversos métodos de calcular o FCF. O elemento
mais importante de todo o valuation pode ser subjetivo. Pois é.
Porém, mantenha a cabeça no lugar. Lembre-se que esse é um módulo de
curiosidade!
O método que ensinaremos agora é mais complicado e menos preciso. No
manual de Valuation da McKinsey, uma das empresas de avaliação mais
conceituadas do mundo, esse método nem sequer é citado. Porém, vamos lhe
ensinar por curiosidade.
Mantenha isso em mente: independente do método que você use, o valor justo
encontrado dependerá muito mais de suas premissas do que de seus meios.
Existem duas formas de calcular o Free Cash Flow:
1. FREE CASH FLOW TO FIRM (FCFF): Esse foi método que você aprendeu lá no começo.
Nele, avaliamos a empresa como um todo (tanto para acionistas quanto
credores). Exatamente
por isso partimos do
NOPAT e usamos o
WACC como taxa de
desconto. Ao
descontar os FCFF pela
Taxa escolhida,
chegamos ao valor da firma como um todo. Ou seja, nesse valor encontrado
tem dinheiro de acionista e credor. Para separar os valores do total, removemos
a dívida ao final do cálculo. Perceba que existem duas etapas: precificar e
separar.
2. FREE CASH FLOW TO EQUITY: Esse é o segundo método possível. Nele, fazemos todo
o cálculo em apenas uma etapa, calculando somente o valor para o acionista.
Nesse método não partimos do NOPAT, mas sim do Lucro Líquido (afinal, no
LL já pagamos os credores e as dívidas).
Porém, ainda assim devemos descontar a taxa de reinvestimento desse
número (bem como é feito com o NOPAT). Porém, nesse método, não
descontamos 100% do CAPEX e da Variação do Fluxo de Caixa do LL, na
verdade, devemos levar em conta o FATOR LAMBDA (λ). Esse fator é,
basicamente, a participação do capital próprio no capital total da empresa (ou
seja, Patrimônio Líquido sobre Dívida Bruta + PL).
Não esqueça de alinhar suas premissas com esse novo método. No exemplo
de LREN3, por exemplo, assumimos duas novas premissas: a de que a MARGEM
LÍQUIDA se estabilizará em 10,5% (média histórica) (i), e a de que o fator lambda
ficará em 60% (graças ao baixíssimo nível da SELIC, que estimula pegar mais
dívidas) durante o crescimento, parando em 50% para a perpetuidade (com o
fim do projeto de expansão haverá menos razões para se endividar).
Aplicando a nossa fórmula, chegamos ao valor de R$34 bilhões para LREN3. Ao
somar o valor aos ativos não operacionais e dividir pelo número de ações,
temos algo como R$44,33 por ação.
➔ USANDO O TIR PARA ELIMINAR A SUBJETIVIDADE DO WACC.
Ok, é daora aprender essa parte pois ela também é usada por gestores
(principalmente no Brasil). Você deve ter percebido que o cálculo do WACC é um
tanto quanto relativo, varia demais de gestor para gestor. Nos deparamos com
questões como:
- Quantos anos devemos levar em conta no cálculo do beta?
- Como deixamos nosso YTM mais assertivo?
- Como definimos melhor nosso prêmio de risco para o Brasil?
Qualquer resposta para essas questões será um tanto quanto arbitrária, isso é,
trará alguma premissa junto. Na realidade, não existem respostas para essas
perguntas. Quanto mais estudamos, mais perguntas surgem. Por conta disso, o
que era para ser uma ciência exata, passou a ser mais próximo de arte. Além disso,
a própria teoria do CAPM, usada para possibilitar o WACC, é cheia de pressupostos,
os quais são motivos de pesquisa, tentando entender se são aplicáveis ao Brasil.
Em meio a essa situação, muitos gestores pararam de usar o WACC em seus
cálculos e passaram a usar a TIR (Taxa Interna de Retorno). A ideia por trás é
simples: ao invés de achar o preço justo da ação hoje através de uma taxa
“chutada”, nós descobrimos qual seria a taxa de desconto necessária para que a
empresa estivesse no preço que está hoje. Achamos, dessa forma, o retorno
requerido pelo mercado. Após isso, basta igualar ao valor de mercado.
ADENDO: Nesse método você deve usar o FCFE, Fluxo de Caixa para o Acionista.
Agora, vamos supor o seguinte cenário: eu tenho aqui na minha mão uma ação
que poderá te dar o mesmo retorno do gráfico ali em cima, porém, a volatilidade
dela é muito menor. Entre comprar aquela do gráfico e essa ação (que dá o
mesmo retorno oferecendo menos risco), qual delas você preferiria?
Se você for uma pessoa devidamente racional, você escolherá a de menor risco (já
que ela te dá o mesmo retorno). Esse é o nosso terceiro pressuposto: o de que os
investidores são racionais.