Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
"Toda a campanha é um conjunto de atividades que envolve pessoas, organismos, setores... num determinado tempo,
com data de início e fim, para atingir finalidades propostas. É para os cristãos de todo o mundo, um renovado convite
para agradecer a Deus o dom da fé e um apelo à co-responsabilidade na evangelização hoje e sempre, aqui e em todo
o mundo”. Pe. Daniel Lagni - Diretor Nacional das POM no Brasil.
“A Igreja existe para ser missionária”, para anunciar o Cristo vivo a toda criatura, em todo lugar. Com esta finalidade,
algumas voluntárias, religiosas e leigas, partem para ser presença de Igreja em localidades distantes, carentes de recursos
materiais e espirituais. Levam consigo a disponibilidade, a Palavra e a esperança. Convém lembrar que todo cristão é co-
responsável por esta missão, pois quando partem, as missionárias levam também toda a Igreja que as enviou.
A Igreja do Brasil coordena um Projeto de Solidariedade com a Igreja do Timor Leste e conta com a dedicação de religio-
sas de várias congregações e leigas que disseram “sim” e partiram para servir além-fronteiras. O trabalho das missionárias
no Timor Leste consiste em evangelizar, alfabetizar, cuidar da saúde física, emocional e
espiritual da população buscando formar lideranças para continuar este trabalho. Vivem
no limite emocional e material. Partilham o que tem, sustentam-se na oração e movem-se
pela fé. Cada dia é um novo desafio que precisa ser vencido para não deixar a fé católica
se perder no mais jovem país do mundo. Depende de cada um de nós a continuidade
deste projeto. Apoiando as missionárias em suas necessidades, testemunhamos, com
obras, nosso compromisso com a Igreja de Jesus.
A Catolicanet coloca este e todos os projetos missionários em oração e destinará todas
as coletas realizadas em suas celebrações, deste ano, em favor do projeto Timor Leste.
15 e 16 de julho de 2006
H
istoriadores calculam que em 500 anos, no Brasil já foram
extintos 1.400 povos indígenas. Hoje, resistem apenas 241
nações, algumas delas em processo de desaparecimento.
No decorrer da nossa história, os habitantes originários
foram sendo confinados em reservas, onde praticamente
não conseguem ter uma vida digna e saudável. E ainda
assim, precisam lutar para conseguir a demarcação e a homologação
dessas regiões. Notícias do Conselho Indigenista Missionário – Cimi 1 - Celebração durante Encontro
– revelam muita preocupação com a realidade de abandono a que Diocesano das CEBs, novembro de
as comunidades indígenas no Brasil estão submetidas. No Estado do 2005, São José dos Campos, SP.
Tocantins, nos últimos cinco meses, morreram 15 crianças do povo 2 - Liderança macuxi, Maturuca, RR.
Apinajé. No Mato Grosso do Sul, morreram dezenas de crianças Gua- Fotos: Jaime C. Patias
rani-Kaiowás devido à desnutrição. No Pará, sete crianças do povo
Munduruku morreram vítimas de infecções intestinais. No Amazonas,
observa-se um descaso nos serviços de saúde e o alastramento de MURAL DO LEITOR--------------------------------------04
doenças infecto-contagiosas. Em Roraima, entre os Yanomamis, os Cartas
índices de malária voltam a preocupar. No Acre, 10 crianças Kaxinawás, OPINIÃO--------------------------------------------------05
do Alto Juruá, morreram em conseqüência da diarréia. Nos Estados A força dos povos indígenas
Egon Heck
do Sudeste e do Sul, foram registrados dezenas de casos de desnu-
trição em crianças Guaranis e Kaingangs, na sua maioria vivendo em PRÓ-VOCAÇÕES----------------------------------------07
pequenas áreas de terras devastadas pelo processo colonizador. No Fomos feitos para mais...
Rosa Clara Franzoi
Mato Grosso, morreram crianças
Egon Heck/Cimi
- Abril 2006 3
Mural do Leitor
Revista Missões
A n o XXXIII - no 03 A b r i l 2006 Desejo cumprimentá-los pela visão
global de Igreja, pela dimensão ecumênica nossas autoridades no discernimento de
Diretor: Jaime Carlos Patias que transparece nos artigos, por toda a caminhos, e só poderemos fazer isso
idéia de Missão como serviço. com madura liberdade de opinião. É isso
Editor: Maria Emerenciana Raia Na edição de janeiro/fevereiro, gostei que transparece nesse artigo. Que bom!
muito da expressão lúcida e corajosa Muito bom também, com uma linguagem
de João Pedro Baresi no artigo sobre simpática e provocativa, está o artigo de
Equipe de Redação: Joaquim F. Gon-
o Sínodo da Eucaristia. Muitas vezes Hilário Cristofolini sobre a Campanha da
çalves, José Tolfo e Rosa Clara Franzoi
tento dizer que é importante termos uma Fraternidade. Espero que vocês continuem
recepção crítica do que acontece e do que a nos mostrar esse jeito autêntico de tratar
Colaboradores: Vitor Hugo Gerhard,
se escreve na Igreja. A atitude de ter que da Missão.
Lírio Girardi, Luiz Balsan, Roseane de
concordar sempre, de ter que gostar de
Araújo Silva, Júlio César, Manoel Apa-
um texto só porque veio com a assinatura Therezinha Motta Lima da Cruz
recido Monteiro, Humberto Dantas, de alguma autoridade não ajuda a Igreja Membro da Comissão de Comunicação do CONIC
Ramón Cazallas, Luiz Carlos Emer, a crescer. Penso que precisamos ajudar Via e-mail
Giovanni Crippa
"E
Diagramação e Arte: Cleber P. Pires m memória de Marçal, Dom terra, já que as ameaças constantes às
Quitito, Dorvalino e todos os nossas lideranças continuam;
Jornalista responsável: que morreram na luta pela 6. Que seja logo instruído, pelo Ministério
Maria Emerenciana Raia (MTB 17532) terra e vida”. Reunidos na Publico, o processo do assassinato do
Terra Indígena Nhanderu Dorvalino, e que o assassino confesso seja
Administração: Eugênio Butti Marangatu, nós da Comis- novamente preso, sendo feita a justiça;
são Kaiowá-Guarani, em conversa com 7. Que os fazendeiros que passam veneno
Sociedade responsável: nossos patrícios e a partir da nossa discus- nas plantações de mandioca da comu-
Instituto Missões Consolata são, sentimos o sofrimento que estamos nidade e nos impedem de ir até nossas
(CNPJ 60.915.477/0001-29) passando à beira da estrada. Diante da roças, agredindo os nossos direitos, sejam
realidade e do clamor da injustiça feita responsabilizados por tais atos e que,
Impressão: Edições Loyola contra os membros dessa terra indígena, sejam punidos e paguem os prejuízos
Fone: (11) 6914.1922 solicitamos e exigimos: que tivemos em alimentos, já que nossa
1. Que o Supremo Tribunal Federal julgue subsistência depende da roça que foi enve-
Colaboração anual: R$ 40,00 o mais rápido possível a ação, revalidando nenada. Gente do nosso grupo está sendo
BRADESCO - AG: 545-2 CC: 38163-2 a homologação da nossa terra; pressionada e ameaçada para abandonar
Instituto Missões Consolata 2. Que possamos continuar colhendo e o acampamento e alguns sendo levados
(a publicação anual de Missões é de 10 números) trabalhando nas nossas roças, pois isso para a periferia das cidades. Vemos isso
nos é garantido nas leis nacionais e in- como uma tentativa de enfraquecer e di-
ternacionais, porque isso é indispensável vidir nosso povo. Entendemos como uma
Missões é produzida pelos
para nossa sobrevivência; agressão não podermos usar a terra por
Missionários e Missionárias
3. Que os moradores da Vila de Cam- estar na Justiça e os fazendeiros conti-
da Consolata
pestre, que fica dentro da terra indígena, nuarem usando-a da mesma forma como
Fone: (11) 6256.7599 - São Paulo/SP
sejam reassentados o mais rapidamente fizeram durante muitos anos, destruindo
(11) 6231.0500 - São Paulo/SP
possível, em condições semelhantes a a natureza e envenenando-a.
(95) 3224.4109 - Boa Vista/RR que se encontram hoje, conforme o Incra O presidente da Funai afirmou recen-
se comprometeu, em documento, quando temente que os índios têm terra demais.
Membro da PREMLA (Federação de estivemos em Brasília, em dezembro Nós Kaiowá-Guarani aqui no Mato Grosso
Imprensa Missionária Latino-Americana) de 2005; do Sul não temos. Em média, possuímos
4. Que a Funai indenize o mais rápido um hectare por pessoa. Perguntamos se
Redação possível as benfeitorias das 50 famílias o presidente da Funai acha isso “terra
Rua Dom Domingos de Silos, 110 de não-índios dentro da terra indígena demais?” Só se considerar a terra para
02526-030 - São Paulo Nhanderu Marangatu, conforme a lei; sermos enterrados!
Fone/Fax: (11) 6256.8820 5. Que qualquer coisa que acontecer a uma 26 de fevereiro de 2006.
Site: www.revistamissoes.org.br das nossas lideranças será de responsa-
E-mail: redacao@revistamissoes.org.br bilidade do governo e do Poder Judiciário Terra Indígena Nhanderu Marangatu, Comissão de Direitos
que não decidiram até hoje garantir nossa Kaiowá-Guarani, Acampamento Nhanderu Marangatu.
4 Abril 2006 -
A força
OPINIÃO
dos povos indígenas
Com sua história de lutas e resistência, os povos indígenas das Américas
contribuem para a construção de um novo continente.
de Egon Heck têm construído marcos importantes para a reconstrução políti-
ca, social, cultural e econômica dos países americanos. Basta
A
lembrar as grandes mobilizações e articulações continentais e
o falarmos dos povos indígenas do continente ame- mesmo mundiais, em que não apenas foram denunciadas as
ricano e em especial do Brasil, não podemos ignorar políticas e práticas genocidas em curso, com a extinção de inú-
as violências que sofrem: o não reconhecimento meros povos, mas principalmente apontando para novos rumos
e o desrespeito aos seus territórios tradicionais e e formas de sociedade e de vida com e a partir das experiências
indispensáveis para sua sobrevivência; a pressão e e sabedoria dos primeiros povos desta terra. Citamos algumas:
saque permanente dos recursos naturais que ainda a construção do Projeto de Autonomia da Costa Atlântica, dos
existem (madeira, minérios, petróleo....); o roubo e apropriação povos indígenas da Nicarágua, na década de 80; a luta liber-
dos conhecimentos milenares e o incremento de “projetos vam- tária e de autonomia dos povos indígenas do México, através
piro” para realização de um grande banco de DNA (de sangue do Exército Zapatista de Libertação Nacional e da construção
indígena) supostamente para estudos com fins humanitários, de novas relações de sociedade que ecoou desde as serras de
como futuramente poder curar doenças que hoje afligem a La Candona para o mundo inteiro; a articulação e mobilização
humanidade. Sem falar nas lideranças que são assassinadas indígena no Equador, decisiva na derrubada de dois presiden-
num número crescente, a cada ano que passa. Mas quando tes entreguistas e corruptos nos últimos anos e, finalmente a
novamente se aproxima o mês de abril, dedicado à resistência, eleição de um primeiro presidente indígena na história recente
do continente, Evo Morales, na Bolívia;
Néo Monteiro
- Abril 2006 5
Semana dos Povos Indígenas – 2006
NOTA DE REPÚDIO
“Todos os Lins e Albuquerque são violentados e até desassistidos pelos
oriundos de portugueses e alemães. Não órgãos públicos por causa da discrimina-
são oriundos de tribo indígena”. (Belarmino ção praticada por alguns servidores que
Lins, Presidente da Assembléia Legislativa deveriam respeitá-los.
do Amazonas, em 15/03/2006). As organizações indígenas e seus
O Conselho Indigenista Missionário aliados já conhecem o posicionamento do
– Cimi, Regional Norte I (AM/RR), vem deputado Belarmino Lins e do grupo político
a público repudiar as declarações do que ele representa. Não foram poucos os
presidente da Assembléia Legislativa do pronunciamentos contrários aos direitos
Amazonas, Belarmino Lins (PMDB). Em dos povos indígenas, sobretudo no que
matéria divulgada pelo jornal A Crítica diz respeito à terra – e em particular às
(Pág. A5, de 16/03/2006), ele evocou terras indígenas localizadas na região do
um argumento racista para expressar a Alto Solimões. A demarcação daquelas
condição de superioridade de sua família terras nos anos 90 foi alvo de ataques por
e sustentar a prática de nepotismo em seu parte do grupo político a que pertencia o
gabinete – prática esta repudiada pela atual presidente da Assembléia.
sociedade brasileira. O Cimi Norte I solidariza-se com os
Na condição de representante do povos indígenas e reitera seu irrestri-
povo e oriundo de uma região marcada to apoio na luta pelo respeito aos seus
pela presença expressiva de populações direitos. Soma-se, também, a todos os
indígenas, o presidente da Assembléia segmentos da sociedade amazonense
Legislativa incorreu em prática de racismo. contrários à prática de nepotismo e que
A concepção da superioridade racial, na exigem dos representantes do povo uma
história recente da humanidade, serviu postura política ética e de respeito a to-
para subjugar e exterminar milhões de dos os cidadãos, independentemente de
pessoas. No Brasil, ao longo de cinco crença, cor, raça ou religião, dentre tantos
séculos, essa concepção alimentou a outros atributos que possam resultar em
discriminação contra os indígenas, incen- exclusão política e social.
tivou violências de toda sorte, inclusive
genocídio, muitas vezes com respaldo Manaus, 16 de março de 2006.
do Estado Brasileiro.
Nos dias de hoje em todo o país, muitos CIMI NORTE I – AM/RR
indígenas são perseguidos, agredidos, A coordenação
6 Abril 2006 -
pró-vocações
Fomos feitos para mais...
Nada está determinado na vida...
Divulgação
tudo vai sendo construído.
de Rosa Clara Franzoi
N
inguém nesse mundo nasce com a missão de fra-
cassar, regredir, estacionar... Seria contra a natureza
humana. A regressão, o fracasso, eles acontecem,
mas devem ser vistos como acidentes de percurso.
Na Bíblia, o livro do Gênesis (1, 28) descreve a cria-
ção do homem e da mulher: “Crescei, multiplicai-vos
e dominai a terra”. Deus nos criou inteligentes e livres, com a
capacidade de crescer, descobrir e transformar. Fomos enrique-
cidos de dons, que devemos desenvolver e usar na construção
do mundo e torná-lo sempre mais bonito, mais agradável... É
esta a grande missão do ser humano. Portanto, devemos olhar
para frente, com a responsabilidade de quem quer chegar e
acertar na escolha do futuro.
Nós, humanos, somos diferentes dos animais, que não tem de conhecer e querer ir sempre mais além. Só que isto
podem aspirar a outra coisa, senão aquilo que há milhões de tem o seu preço: quanto estudo, quanta dedicação e reflexão,
anos fazem os de sua espécie, sempre do mesmo jeito e com quanta busca, informação e pesquisa, quanta renúncia, quantos
as mesmas reações. Nós podemos ter as reações normais do sofrimentos e até frustrações. Mas, quem se dispõe a percorrer
animal que somos, mas temos o poder de interferir, mudar as este caminho, sabe o que pode encontrar. E para vencer os
coisas - para melhor ou para pior - o poder de transformar, de desafios são necessárias bases sólidas; do contrário, o desâ-
aperfeiçoar. nimo logo levará tudo à desistência. Penso que estas bases,
entre outras, são a fé e a determinação, ou seja, “acreditar” e
Partícipes da obra da Criação “agir”. Acreditar firmemente na proposta que Deus nos faz de
Esse anseio de sempre aspirar ao melhor é um dom do um futuro acertado e sem frustrações, e acreditar também nas
Criador, que nos quer partícipes da sua obra. É por isso que próprias capacidades; e depois, agir, agir com determinação.
ao longo da história, aconteceram e ainda acontecem tantas Isto me lembra uma lenda:
descobertas. Exemplificando: o ser humano não podia voar
como os pássaros, pois, não fora criado para isso; mas ele quis O sábio barqueiro e os dois remos
voar e, superando suas limitações, criou o avião. Ele não podia Um viajante, às margens de um lago, fez sinal ao barqueiro,
nadar por muito tempo, como os peixes; mas ele quis dominar pois precisava atravessá-lo. Logo ao entrar no barco, seus olhos
as águas e descobriu o navio, o submarino... e assim por diante. pousaram nas palavras gravadas nos dois remos. Não conse-
Na verdade, todas as invenções e descobertas, foram, são e guindo decifrá-las, curiosamente pediu explicação. O barqueiro,
serão respostas às aspirações profundas que o ser humano pegou num dos remos, remou com força e o barco começou a
dar voltas sem sair do lugar. Pegou no outro remo e repetiu o
movimento. O barco virou no sentido oposto, deu outras voltas
Quer ser um missionário/a? sem seguir adiante. Finalmente, o barqueiro pegou ambos os
remos, remou com vigor e o barco deslizou pelas águas chegando
Irmãs Missionárias da Consolata - Ir. Dinalva Moratelli ao destino. Só então o sábio barqueiro explicou ao viajante. Ele
Av. Parada Pinto, 3002 - Mandaqui disse: este é o porto da auto-confiança. Aqui só chegam os que
02611-011 - São Paulo - SP acreditam de verdade e os que agem com decisão. Acreditar e
Tel. (11) 6231-0500 - E-mail: rebra@uol.com.br agir eram as palavras escritas nos remos.
Deus chama e aponta a direção... o resto é conosco. Entendeu,
Centro Missionário “José Allamano” - Pe. Manoel A. Monteiro (Néo) caro jovem, o sentido da lenda? Não acontece o mesmo com a
Rua Itá, 381 - Pedra Branca
02636-030 - São Paulo - SP gente? Pois então, se realmente queremos enveredar por este
Tel. (11) 6232-2383 - E-mail: secretariamissao@imconsolata.org.br caminho e prepararmos o nosso futuro, devemos acreditar no
convite do Senhor e seguir as orientações do sábio barqueiro.
Missionários da Consolata - Pe. César Avellaneda O texto de Paulo na Carta aos Coríntios (1Cor 9, 24-26) pode
Rua da Igreja, 70-A - CXP 3253 nos ajudar na reflexão.
69072-970 - Manaus - AM
Tel. (92) 624-3044 - E-mail: amimc@ibest.com.br
Rosa Clara Franzoi é irmã missionária e animadora vocacional.
- Abril 2006 7
Sudão
“Trégua humanitária” em Darfur
Em Darfur, onde se continua a morrer de fome e
de privação, é urgente uma “trégua humanitária”: foi
o que pediram os negociadores da União Africana,
que participam da mesa de negociações sobre Dar-
fur em curso em Abuja, Nigéria. “O destino de dois
milhões de pessoas que sofrem está em suas mãos.
O mundo mantém sua atenção sobre vocês e chegou
a hora de pôr fim a este inútil banho de sangue”,
lê-se em uma nota da União Africana endereçada
aos movimentos rebeles e ao governo de Cartum.
Se o apelo ao “cessar-fogo” para permitir maciças
intervenções humanitárias não for ouvido, a União
Africana, segundo os observadores, estaria pronta
a pedir a intervenção militar da ONU na região. A
situação humanitária em Darfur continua a deteriorar-
se também por causa das dificuldades econômicas:
é necessária uma mobilização internacional para
VOLTA AO MUNDO
Angelo Costalonga
A
o tentar falar sobre a China, país continental e tão
distante, corre-se um duplo risco: dizer o óbvio e
já conhecido, ou “chutar”, acreditando ser possível
acertar o alvo. Todavia, vamos tentar. A Igreja Católica
não abre mão de sua tarefa de anunciar o Evangelho
“a todos os povos”, como nos mandou o Senhor Jesus (Mt 28,
16ss). Por isso, o desejo de que a Igreja na China possa, tam-
bém ela desenvolver sua missão evangelizadora, está entre as
preocupações da Cúria Romana e seus organismos (como por
exemplo, a Congregação para a Evangelização dos Povos). É
claro como um dia ensolarado que o enorme contingente de
homens e mulheres, de crianças e jovens que hoje vivem na
China, tem o direito ao conhecimento da verdade de Deus e
da Sua revelação em Jesus Cristo. As sementes lançadas pelo
padre jesuíta Francisco Xavier e pelo padre Ricci, entre tantos
outros, estão lá, mesmo que ainda não suficientemente visíveis e
palpáveis. A hierarquia católica já constituída, mesmo que ainda
em proporções infinitesimais, se comparada com a Europa ou devêssemos nos perguntar se estamos nos sentando com a
a América, é um pequeno farol a indicar os caminhos para os devida “serenidade” em torno destas duas mesas e saboreando
navegadores que desejam lançar também por estes lados, as delas o alimento que nos torna sadios e fortes.
suas redes em águas mais profundas (Duc in altum). Plena liberdade é um aforisma complicado. O vocábulo “liber-
A intenção missionária fala em serenidade e plena liberdade, dade”, pelo seu significado, não precisaria de adjetivo, pois não
como dois atributos para a ação evangelizadora. Serenidade existe meia liberdade, liberdade parcial ou liberdade condicional
parece ser um dos elementos fortes nas culturas orientais. Tanto (este último é tão só um jargão jurídico para designar alguém
é verdade que, no fragor das correrias do mundo ocidental, que não está em liberdade). Um dos belos filmes produzidos
sempre mais gente procura nas técnicas orientais de medita- recentemente é aquele intitulado “O Último Imperador”. Com
ção, um refúgio interior para resolver seus conflitos, como se a ele, podemos concluir como a humanidade tem ainda um longo
espiritualidade cristã não tivesse recursos suficientes para isso. caminho a percorrer até ser capaz de organizar-se de modo a
Talvez aqui valesse a pena um pequeno exame de consciência garantir as condições mínimas para uma vida regida pela “liber-
pessoal e institucional sobre o modo como vivemos a mística dade dos filhos de Deus”. Quando chegarmos mais perto disso,
cristã e como a testemunhamos para os povos “vizinhos”. Se esta intenção missionária perderá sua força e atualidade.
a mesa da Palavra e a mesa da Eucaristia não estão sendo
suficientes para redimir a humanidade e suas estruturas, talvez Vitor Hugo Gerhard é sacerdote e coordenador de pastoral da Diocese de Novo Hamburgo, RS.
A
Pontifícia Obra de Propagação da Fé distribuiu durante ciado pela caridade dos fiéis foi a Ásia, onde se
a Assembléia-Geral Ordinária das Pontifícias Obras encontra o menor número de católicos. Além disso,
Missionárias (POM), os fundos arrecadados em todas para a reconstrução das obras religiosas (igrejas,
as igrejas do mundo durante o Dia Missionário de 2005, conventos, capelas…) nos cinco países atingidos
que registraram uma leve diminuição em relação a pelo tsunami, a Obra de Propagação da Fé, junto
2004. O continente que recebeu o maior número de ajudas foi a à Caritas Internacional e ao Pontifício Conselho
África, em função dos conflitos civis, as calamidades naturais, as “Cor Unum”, enviaram abundantes ofertas. Ajudas
doenças e a pobreza geral. A África, no entanto, não é somente especiais foram concedidas no ano passado também para as
um continente que recebe ajuda, mas que doa também aos vítimas do terremoto no Paquistão e para as vítimas das inunda-
outros, mesmo na sua pobreza. No ano passado, a coleta para ções na Guatemala. A América do Sul e Central, assim como a
as Missões em todas as igrejas africanas alcançou a soma total Oceania, receberam numerosas ajudas do Fundo Universal de
de quase 450.000 dólares. O segundo continente mais benefi- Solidariedade da Pontifícia Obra de Propagação da Fé.
- Abril 2006 9
O Crucificado-Re
espiritualidade
de José Tolfo
J
esus vive com seus discípulos como
um autêntico homem. Nele está
presente Deus e está presente o
homem. Ele proclama o Reino de
Deus e vive uma profunda expe causa. Uma pergunta válida cal, a ressurreição de Cristo.
riência de relação com Deus (Pai). também para nós, hoje. A paixão Caso contrário, poderíamos
Ele se deixa habitar totalmente por Ele. e morte de Jesus deixaram seus dizer que foram os discípulos
E o Reino de Deus que ele anuncia é a discípulos perdidos, desiludi que ressuscitaram Jesus. É
própria ação criadora de Deus nele. Seu dos, escandalizados, dispersos, fundamental a obra de Deus, o
viver e seu agir revela o rosto de Deus. medrosos e sem esperança: o sim de Deus. Esta nova ação
Sua morte é conseqüência de sua preten sonho acabou. de Deus em Jesus, por sua
são ou de sua total conformidade com o total abertura ao Pai. Então,
plano de Deus. É o amor por uma causa: Da dispersão à para os discípulos, o anúncio
o Reino de Deus. Sua ressurreição é o unidade da ressurreição é o testemu
sim de Deus a esta causa, a este sonho. Como os discípulos passa nho de uma transformação,
É a legitimação do plano de Deus em ram da dispersão à unidade e de uma conversão. Pois, só
Jesus. Pois, todo seu viver e agir estavam desta, à fé de Páscoa? Como um convertido pode falar do
fundamentados em Deus. eles passaram do medo (bem ressuscitado. É a própria obra
fechados) ao anúncio alegre e do ressuscitado nos seus dis
Os discípulos e Jesus corajoso do crucificado-ressusci cípulos. Esta habitação de
Os discípulos sempre tiveram que tado? O que aconteceu? Como Jesus numa pessoa se trans
se questionar sobre quem era Jesus. Na foi este processo? A resposta é forma em missão: o alegre e
convivência com o Jesus histórico, entre importante para nós hoje (discí corajoso anúncio da morte e
certezas, dúvidas e muitas perguntas, pulos de Cristo). Certamente, um ressurreição de Cristo. Um
eles fizeram um caminho de comunhão passo que os discípulos deram foi acontecimento que transforma
com Ele e foram se identificando com a o fazer memória de Jesus histórico; o homem por dentro. Então, os
sua causa: o Reino de Deus. Nesta ca a experiência que eles viveram com discípulos não anunciam uma
minhada histórica, as interrogações, as ele. Pois, a fé pascal é um processo teoria, mas, uma experiência
incertezas, as novidades e as surpresas de comunhão com Jesus e ela já vital: aquilo que eles estão vi
estavam sempre presentes. Muitas vezes, estava na convivência deles com o vendo. O medo desapareceu e
ao anunciar o Reino de Deus, Jesus teve Jesus terreno (sua vida e morte). É o sonho cresceu dentro deles (a
que lhes dar explicações, acompanhando um reconhecimento em profundida realização do Reino de Deus).
o grupo na formação de uma comunidade de desta vivência anterior. Como eles Pois, eles voltaram a se reunir
diferente, de contraste, aberta e salvífica. compreenderam e comunicaram esta (Jerusalém). Este foi o primeiro
Praticamente, seus discursos e suas ati experiência, já é um segundo passo passo de conversão e o primeiro
vidades estavam em função deles. (aí entram os títulos e as aparições testemunho da ressurreição. A
Poderíamos perguntar até que ponto de Jesus). Porém, Jesus histórico e vivência comunitária (obra do
os discípulos mais próximos de Jesus as aparições não são fundamentos ressuscitado) é o lugar privilegiado
entenderam os seus projetos e a sua suficientes para entender a fé pas para fazer uma experiência pascal
10 Abril 2006 -
essuscitado
Páscoa é a realização da pessoa em
comunhão com o outro; é capacidade de
partilha, de estar com os demais. Assim,
nós vamos aprendendo a conviver. Este
viver em função do outro (a dimensão da
cruz) implica esvaziar-se de nós mesmos
(Fl 2, 1-11). Tal experiência é obra do
ressuscitado e cria a comunidade. É a
história salvífica que vai acontecendo:
nós estamos sendo salvos e participamos
e para afirmar, com alegria e coragem, que tantos homens e mulheres, que mudaram a da salvação dos outros pela habitação
o crucificado-ressuscitado está vivo. maneira de viver e tiveram uma nova visão de Cristo em nós (é o Batismo e a Euca
de Deus e do mundo pela interpelação ristia acontecendo). Pois, na Eucaristia,
Nossa Páscoa hoje proveniente da vida de Jesus e do seu nós experimentamos a presença real
A experiência dos discípulos de Jesus espírito. Esta interpelação nos faz mais de Jesus que salva, entregando-se e
nos ensina que a fé não significa clarida solidários e capazes de amar e se entregar derramando-se. Comungar é entregar-
de absoluta. Mas, ela é uma busca, um aos demais: uma presença-ausência que se a serviço dos outros, é participação e
interrogar-se constante sobre Jesus e nos vivifica e que nos impulsiona a novas comunhão, é optar pela causa de Jesus
seu projeto para a humanidade de hoje. buscas. Pois, o homem novo que vai e aceitar as conseqüências da mesma.
Porém, a nossa fé de Páscoa é diferente surgindo em nós (Páscoa) pela habitação Então, podemos afirmar que Ele está
daquela dos primeiros discípulos, que de Jesus e de seu espírito é um caminho vivo e no meio de nós. Não porque lemos
tiveram uma experiência direta com o sempre aberto até chegarmos à estatura em algum lugar ou porque escutamos
Jesus terreno. Nossa experiência com de Cristo (Ef 4, 13). Quando tomarmos em algum meio de comunicação; mas,
Jesus é mediada pela Palavra de Deus consciência da habitação de Deus em porque nós mesmos estamos vivendo
e pela vivência comunitária, construindo nós e abrirmos espaço para sua ação, a sua presença real e transformadora.
assim, a comunidade de todos em Deus, o mal vai sendo eliminado, o homem vai O crucificado-ressuscitado está vivo em
por Cristo. Mas, a fé é a mesma ação do se transformando, se aperfeiçoando, se tantas pessoas que lutam contra o mal
Espírito. endireitando, se santificando e a ressur (a fome, o analfabetismo, as doenças, a
Ademais, existe dentro de cada um de reição vai acontecendo. desigualdade social, o individualismo, a
nós, uma estrutura dinâmica de superação, desintegração da criação, as injustiças,
de perfeição, de abertura ao transcendente Ele está vivo os abusos, a corrupção, a hipocrisia, o
e ao outro. É neste dinamismo humano A vivência em comunidade foi o lugar egoísmo, a exploração, o consumismo...)
que encontramos uma base sólida da privilegiado dos primeiros discípulos para e tantos outros males que freiam a rea
experiência de Páscoa. Também encon reavivar o sonho do Reino de Deus e para lização integral dos seres humanos, das
tramos muitas experiências concretas, de testemunhar a sua presença no mundo. comunidades, de tantos povos e nações.
Cada vez que nós por Cristo, com Cristo e
em Cristo vencermos o ódio pelo amor, a
Fotos: Jaime C. Patias
Para reflexão
1. Quais são os caminhos a seguir para que a ressur-
reição de Cristo (Páscoa) continue acontecendo dentro
de nós e na sociedade?
2. Cite algumas atitudes e ações que freiam a experiência
de Páscoa.
3. Enumere os sinais mais evidentes em você, na sua
família e na comunidade que testemunham que o
Ressuscitado está vivo e no meio de nós.
11º Intereclesial das CEBs, Ipatinga, MG.
- Abril 2006 11
A importância
testemunho
do exemplo
Rosinês Fiorentini conta a história do seu caminhar missionário, desde a
adolescência, até o trabalho na Colômbia, a serviço de Cristo e do povo.
de Rosinês Fiorentini separação da família sempre é dolorosa, nos estudos acadêmicos. Concluí minha
mas com todo o apoio de meus pais, o preparação profissional com Licenciatura
passo foi um pouco mais sereno. Em São em Pedagogia na Faculdade de Ciências
A
Paulo, capital, as etapas da formação e Letras de Ijuí, RS.
presença dos missionários da foram se sucedendo e em 1964 tive a
Consolata na comunidade de graça de emitir minha primeira Profissão A partilha da fé além-
Três de Maio, Rio Grande do Religiosa. Enquanto treinava no trabalho fronteiras
Sul, e das missionárias, na apostólico, fui também me aprofundando Todo missionário espera com ansieda-
cidade vizinha de Ho- de a hora de partir, o que chama-
rizontina, marcaram mos de “Envio Missionário. Fui
12 Abril 2006 -
Contexto colombiano
Sendo latino-americano, o povo
colombiano resulta da fusão das três
raças: índia, branca e negra. É um
povo de índole acolhedora, solidária e
sensível à justiça social. A luta pela paz,
pelos direitos básicos do ser humano o
caracteriza. Os conflitos armados, tanto
da direita como da esquerda, são a cau-
sa da perda de tantas vidas inocentes.
Os jovens e as crianças, especialmente
os do campo, são as primeiras vítimas.
O narcotráfico - uma atração à primeira
vista - causa sofrimento e mortes; é
uma chaga que entristece o povo co-
lombiano. O medo, a incerteza, a dor
de ter que abandonar suas terras, os
constantes seqüestros... constituem um
pesadelo, uma tortura constante para
o povo. Geograficamente, a Colômbia
é um país contagiante, especialmente
Estudantes do Colégio Consolata em Bogotá, Colômbia.
pela extraordinária beleza de suas três
cordilheiras, que constituem grande adolescentes e os jovens para a vida, realidade de extrema pobreza. As únicas
atração turística. motivando-os a serem construtores de fontes locais de renda são: a pesca e o
uma nova sociedade, promotores da paz artesanato vendido aos turistas. Porém,
Presença profética e da justiça. Procurei sempre formar as foi nessa realidade simples e pobre que
A Igreja Católica tem se mostrado pessoas, para que livres e conscien- eu fui aprendendo importantes lições;
firme e profética. O clero, os religiosos, tes pudessem chegar à descoberta da uma delas é que podemos viver feliz com
desafiam a situação de violência e obra-prima de Deus que está dentro de pouquíssimas coisas. O povo da região
do narcotráfico com coragem. Bispos, todo ser humano e pudessem dar a sua costeira caracteriza-se pelo espírito festivo.
padres, religiosos, religiosas, leigos e resposta, sendo protagonistas de sua É alegre e até de certa forma despreo-
leigas já pagaram e continuam pagando própria história. cupado com o amahã, mesmo sofrendo
o preço da profecia e fidelidade depois as conseqüências da exclusão
evangélica com a própria vida. Na Nas águas do Caribe e da marginalização pelos setores da
Colômbia, a Igreja Católica é uma Em 2004, Deus reservou-me uma sociedade, especialmente os da grande
instituição que tem muita credibilidade nova experiência missionária numa rea- Cartagena, totalmente preocupados com
junto ao governo e junto aos grupos lidade difícil e desafiadora, situada numa o turismo, base da sua economia. Mas,
armados da guerrilha. Ainda hoje, ela das ilhas do Caribe: Tierra Bomba. A mesmo na pobreza, a Missão tem o seu
continua servindo de intermediária ilha é composta por quatro povoados: aspecto de aventura, de fascínio. A con-
nos processos de paz e na libertação Bocachica, Caño Del Oro, Puntarena e vicção da presença constante do “Deus
de pessoas seqüestradas. O atual Tierra Bomba. No total, os habitantes são, conosco” é o que sustenta missionários e
presidente da Conferência Episcopal aproximadamente, 16 mil, dos quais 10 missionárias no árduo trabalho da evan-
Colombiana - Dom Luís Augusto Castro mil são católicos. O padre só pode visitar gelização e promoção dos irmãos e irmãs.
Quiroga, missionário da Consolata esse povo mensalmente para celebrar a Na minha ação, seja na escola como na
e atual arcebispo de Tunja -, em Eucaristia e administrar os Sacramentos. pastoral, tenho sempre como meta um
governos anteriores, foi nomeado Assim, todo o trabalho pastoral e social desafio: semear, para dar possibilidade
pelo governo como o responsável está sob a responsabilidade da comuni- a outros de colher. Levar a mensagem da
pela “Comissão Nacional da Paz”. Foi dade das missionárias. Nossas visitas são fé, de perdão e de reconciliação a todos.
e continua sendo expressivo o serviço semanais. Minha tarefa específica é a de Dar o meu grãozinho de colaboração na
dos missionários e missionários da celebrar com eles a Palavra, atender à construção de uma Colômbia pacífica e
Consolata e de outras entidades, na formação dos catequistas, das lideranças solidária. A tarefa específica do missionário
implantação das Escolas de Perdão e e preparar os casais para o matrimônio. é a de marcar presença, especialmente
Reconciliação (ESPERE), para construir Como em todos os lugares deste mundo, nos lugares de risco. Ser uma presença
um país mais justo e pacífico. também lá há muitos problemas e conflitos, de vida, de esperança e de consolação
procuro acolher e escutar o povo, encora- onde a liberdade é limitada pela violência
já-lo, e na medida do possível, ajudá-lo a e o medo das armas, como acontece em
Construtores e promotores encontrar as soluções possíveis. Toda a lugares de guerrilha. Ser uma presença
da sua própria história formação consiste num paciente trabalho profética que diga aos violentos que a
Em 1999 mudei-me para a capital, de conscientização que leve as pessoas paz, a reconciliação e o perdão que Cristo
Bogotá, onde prestei minha colaboração a assumir o compromisso cristão da sua nos ensinou são possíveis e que a convi-
na Direção Geral do Colégio Consolata. fé e do seu Batismo. O nosso meio de vência fraterna e pacífica é um ideal que
Durante todo o tempo que atuei na educa- transporte é o barco, e as estradas, o vasto devemos alcançar.
ção, tanto no Brasil quanto na Colômbia, mar do Caribe. Um dos maiores desafios
sempre tive como objetivo: preparar os que enfrentei, foi o de me inserir numa Rosinês Fiorentini é missionária há 22 anos na Colômbia.
- Abril 2006 13
fé e política
Reflexão
sobre a sociedade
“É bem conhecido o profetismo explicitamente religioso (...)
O profetismo que se aplica à política, é aquele que vem como
denúncia e condenação ou como anúncio de boa notícia”
(Pedro Ribeiro de Oliveira).
de Humberto Dantas marcante de Frei Betto, que lembra o papel político de inúmeros
profetas, dentre eles Isaías, Ezequiel e Oséias. É possível notar
R
que, em alguns casos, as idéias desses pensadores ainda refletem
esponda rapidamente: o que faz um conjunto de bra- parte expressiva de nossa realidade. O clamor por ética, justiça
sileiros se reunir, em pleno ano eleitoral, no mês de e moral há mais de vinte séculos nos perturba. Até quando?
março, para debater a política nacional? Os cidadãos Certamente até os indivíduos serem conscientizados acerca
mais informados imaginam: trata-se da convenção de de seu verdadeiro papel na sociedade. A cidadania ativa requer
um partido. Lá, os integrantes escolherão um candidato participação. E toda contribuição é extremamente bem-vinda. A
à Presidência da República e definirão estratégias Igreja faz sua parte, e promove esse tipo de reflexão, que junta
para as eleições. Outros indivíduos pensarão: trata-se de um milhares de indivíduos a despeito de suas preferências partidá-
conjunto de loucos, ou corruptos. Ou ainda pessoas que que- rias. Essa é outra característica importante da atuação em Fé e
rem tirar vantagem da atuação na vida pública. Essa segunda Política. A Igreja Católica aceita os diferentes posicionamentos
resposta é perigosa, pois o distanciamento do povo em relação partidários, desde que condizentes com os valores cristãos e a
à política – comum no Brasil – resulta em distorções de nosso edificação da sociedade.
sistema de representação. O primeiro grupo pode se enganar,
pois nem só os partidos se reúnem para debater nacionalmente Diversidade da política
as questões políticas. Nos dias 11 e 12 de março, na cidade de Com a tarefa de discutir temas de interesse geral, além da
Vitória, ES, ocorreu o 5º Encontro Nacional de Fé e Política, sob reflexão sobre o profetismo – tema do encontro – ocorreram de-
o título “Profetismo no Exercício do Poder” (ver entrevista nesta bates temáticos sobre inúmeras questões de interesse comum.
edição, páginas 26 e 27). O meio ambiente, a educação, a igualdade social, a inclusão, o
Participações e reflexões célebres engrandeceram o evento. cooperativismo, a democracia, o emprego, a mulher etc. Ao todo
No site www.geocities.com/fepolitica encontramos contribuição foram 20 temas, que comprovam a imensa diversidade da política,
a relação direta com nossas vidas e a importância do
papel social da Igreja. Todas as nossas ações sociais
Fotos: Jaime C. Patias
14 Abril 2006 -
Formação Missionária
Jaime C. Patias
O Espírito Santo
e a Missão
A presença do Espírito
de Deus na história da
humanidade nos questiona
também sobre a nossa
missão no mundo.
de Luiz Balsan por excelência? Se é o Espírito o pro- atua com o sopro de sua boca (Ruah); a
A
tagonista da missão, será que ainda vida humana é vista como expressão do
provocação para este artigo temos necessidade de missionários que Espírito de Deus que se torna princípio
vem, sobretudo, do capítulo deixem suas terras para anunciar e tes- e força de vida no ser humano (Gn 2, 7).
III da Exortação Apostólica de temunhar o Evangelho a outros povos? Ao longo da História da Salvação,
João Paulo II, Redemptoris Deus suscita pessoas carismáticas,
Missio, que traz como título: “o Antigo Testamento isto é, cheias do Espírito, para orientar
Espírito Santo, protagonista A Bíblia mostra a contínua presença e liderar o seu povo. Entre eles estão
da missão”. O título é forte e provocador. do Espírito Santo nas manifestações de os Juízes – Otoniel, Jefté, Gedeão,
Protagonista quer dizer ator principal, Deus no mundo. O Espírito, em hebrai- Sansão – em quem a Ruah atua com
aquele que está no centro da cena; aquele co – língua em que foi escrito o AT – é influxo improviso, extraordinário, ma-
sem o qual todo o enredo perderia a sua denominado Ruah. Esta palavra pode nifestando-se, sobretudo, nos momen-
força e seu centro de unidade. Disto ser traduzida por hálito, alento, sopro, tos de dificuldades. Não seria, portan-
surgem algumas perguntas: baseados princípio de vida, Espírito de Deus. O to, uma presença e ação contínua,
em que podemos afirmar que o Espírito livro do Gênesis no-lo apresenta como mas quando se faz mais necessária.
Santo é o protagonista da missão? Uma potência criadora: no momento da Cria- A partir da instituição da monarquia,
afirmação assim não tira, de certa forma, ção, o Espírito de Deus pairava sobre esse modo de atuação do Espírito, des-
o lugar central de Cristo, o missionário as águas (Gn 1, 2). Na Criação, Deus contínua e em momentos particulares,
- Abril 2006 15
Formação Missionária
16 Abril 2006 -
Formação Missionária
O Espírito Santo na
teologia de São Paulo
São Paulo nos apresenta o Espí-
rito como aquele que, através da sua
atuação em nós, nos torna semelhan-
tes a Ele mesmo pelo Espírito Santo
vindo em nós; Ele derrama o amor de
Deus em nossos corações (Rm 5, 5),
tornando-nos capazes de amar. Se o
Espírito é amor e se onde Ele atua der-
rama este seu amor, compreendemos
porque se tornou clássica a expressão
que segue: “onde está o Espírito Santo
aí está o amor e onde está o amor aí
está o Espírito Santo”. A partir desta
concepção, Santo Agostinho apresenta
um critério importante para cada um
Abertura do 5º Encontro Nacional de Fé e Política, Vitória, ES.
deserto onde é tentado (Mc 1, 12-13).
Esta passagem é importante; a missão
se confronta com forças contrárias, com
O programa da atividade de Jesus
tentações, e por isso é preciso ser forte. Jesus voltou para a Galiléia, com a mim, porque ele me consagrou com
Na antiguidade, acreditava-se que os força do Espírito, e sua fama espalhou- a unção, para anunciar a Boa Notícia
demônios habitavam o deserto. Assim, se por toda a redondeza. Ele ensinava aos pobres; enviou-me para proclamar
acompanhado pelo Espírito, Jesus vai nas sinagogas, e todos o elogiavam. a libertação aos presos e aos cegos a
enfrentar o inimigo sobre o seu próprio Jesus foi à cidade de Nazaré, onde se recuperação da vista; para libertar os
terreno; é lá no seu território que Jesus havia criado. Conforme seu costume, no oprimidos, e para proclamar um ano de
mostra ser superior às suas forças e às sábado, entrou na sinagoga, e levantou- graça do Senhor”. Em seguida, Jesus
suas tentações e, portanto, mostra que se para fazer a leitura. Deram-lhe o fechou o livro, o entregou na mão do
está preparado para as adversidades livro do profeta Isaías. Abrindo o livro, ajudante, e sentou-se. Todos os que
de sua missão. Logo depois, impelido Jesus encontrou a passagem onde está estavam na sinagoga tinham os olhos
pelo Espírito, Jesus volta à Galiléia e se escrito: “O Espírito do Senhor está sobre fixos nele (Lc 4, 14-20).
apresenta na sinagoga de Nazaré, onde
dizendo que o Espírito está sobre Ele,
apresenta o seu projeto missionário: a visão aos cegos, para libertar os discernir se está com o Espírito Santo:
“O Espírito do Senhor está sobre mim, oprimidos, para proclamar o ano de “Interroga as tuas vísceras: se estão
porque Ele me ungiu para que eu dê graça do Senhor” (Lc 4, 18s). Isto cheias de caridade, aí está o Espírito
a boa notícia aos pobres; enviou-me mostra como a missão de Jesus não Santo”. E dado que o Espírito Santo é
a anunciar a liberdade aos cativos e contrasta com a missão do Espírito. Pelo a expressão do amor do Pai e do Filho,
sua presença em nós nos introduz nesta
mesma comunhão trinitária, tornando-
nos partícipes da vida divina. O próprio
Espírito faz em nós a sua morada:
“Não sabeis que sois templo de Deus
e que o Espírito Santo habita em vós”?
(1Cor 3, 16). A partir do batismo, Ele
nos faz filhos de Deus e age como um
mestre interior, unindo-se ao nosso
espírito para testemunharmos que de
fato somos filhos de Deus (1Cor 8,
16). É esta atuação do Espírito em
nós que nos conduz à fé: “ninguém
pode dizer: Jesus é o Senhor, a não
ser no Espírito Santo” (1Cor 12, 3). A
fé, que é um pressuposto da missão,
antes de ser uma conquista é um dom
de Deus que nos é concedido através
Dia Nacional da Juventude 2003, Catedral da Sé, São Paulo. do Espírito. Em outras palavras, São
- Abril 2006 17
Formação Missionária
18 Abril 2006 -
missão
Missão Diocesana
Missão
história daHoje
além-fronteiras
Grupo do Conselho Missionário
Arquivo Comidi
Diocesano de Campo Limpo, São
Paulo, partilha primeira experiência de
evangelização em Mato Grosso do Sul.
de Gabriel Iriti, Márcia Maria de Souza e Cláudia Berto
A
missão Ad Gentes é sempre urgente (cf. RdM 1).
Mesmo diante de situações que nos estimulam a
fechar-nos no nosso pequeno mundo, o apelo de
Jesus é sempre atual: “Ide, pois, pelo mundo e pregai Grupo que viveu a missão em Sonora com dom Antonino Migliore.
o Evangelho a toda criatura”. Este mandato ecoou na paróquias. Dom Antonino Migliore, os padres Carlos Tonello e
diocese de Campo Limpo, São Paulo, com mais força Thiago Peixoto e alguns leigos proporcionaram uma maravilhosa
em 2005, durante o Primeiro Curso Diocesano de Formação acolhida aos missionários. Foram organizadas a celebração de
Missionária, conduzido pelos missionários da comunidade de abertura e a partilha dos donativos recolhidos pelas crianças da
Villaregia, coordenadores do COMIDI (Conselho Missionário diocese de Campo Limpo. Conscientes de seu dever, os mis-
Diocesano). Foram aprofundadas temáticas que ajudaram os sionários começaram as visitas de casa em casa. Não só todas
participantes a manter acesa a chama da Missão Ad Gentes. as portas se abriam, mas os corações também, para receber os
Aí nasceu a vontade de realizar a primeira Missão Diocesana missionários e para acolher a Palavra e a bênção de Deus. Nas
além-fronteiras. duas paróquias, mesmo que de forma diferente, alguns leigos se
Com o apoio de Dom Emílio Pignoli, bispo diocesano, em uniram ao grupo para realizar as visitas nas casas.
janeiro de 2006, um grupo de 30 leigos, dois seminaristas Uma senhora disse: “Vendo vocês aqui, eu estou com ver-
diocesanos e uma equipe de dois padres missionários e três gonha, porque eu sou católica, mas não tenho a coragem de
missionárias consagradas, partiram rumo à diocese de Coxim, sair, e não tenho leitura...” Foi encorajada com o testemunho
Mato Grosso do Sul. Sair é o movimento típico do missionário de alguém do grupo dizendo que mesmo não tendo muita ca-
que não se acomoda e quer cumprir o mandato de Jesus. Dom pacidade de ler e escrever estava se doando para evangelizar,
Antonino Migliore, bispo de Coxim, acolheu a proposta de braços com a certeza que Deus age em nossa pequenez. Também
e coração abertos. as casas dos “crentes” se abriram fraternalmente para escutar
a Palavra de Deus. Foi uma experiência contagiante. Todos
Campo de missão os cristãos deveriam poder descobrir a beleza e a riqueza do
A diocese em Mato Grosso do Sul é constituída por 11 “doar”, deixando-se envolver na missão de ir a todos. Em cada
paróquias e ocupa uma área de aproximadamente 6.430 quilô- bairro visitado, à noite, acontecia a celebração da Eucaristia
metros quadrados. A cidade, fundada em 1898, hoje com 30.275 para alimentar a experiência de família vivida nas visitas. E
habitantes, fica às margens do Rio Taquari. Para esta missão na noite seguinte, para consolidar o compromisso de serem
foram escolhidas duas paróquias: uma em Coxim, dedicada a “pedras vivas” da Igreja, aconteciam os círculos bíblicos nas
São José, hoje atendida pelo padre Carlos Tonello; outra, a de casas. As famílias preparavam o ambiente com símbolos: tijolo
Nossa Senhora Aparecida, na cidade de Sonora, a cerca de 120 e areia, simbolizando os dons e limites de cada um; a água
quilômetros de Coxim, cujo pároco é o padre Thiago Peixoto, representando o Espírito Santo que une o cimento e a areia
da Congregação dos Pequenos Irmãos. Trata-se de uma área pelo amor recíproco. Agora abre-se a possibilidade de partilhar
extensa onde existe um assentamento de sem-terra que dista com outros paroquianos a experiência missionária, o que vai
60 quilômetros da matriz. dar novo impulso às comunidades cristãs de toda a diocese.
As crianças e adolescentes de toda a diocese de Campo Limpo, Sonhamos com uma nova missão “mais além” e Ad Gentes.
em especial os grupos da Infância e Adolescência Missionária,
doaram material escolar como sinal de partilha com as crianças Gabriel Iriti, sacerdote e Márcia Maria de Souza e Cláudia Berto, pertencem à coordenação do
mais carentes de Coxim e Sonora. O grupo se dividiu pelas duas COMIDI de Campo Limpo, SP.
- Abril 2006 19
Destaque do mês
D
foram ao Templo com o Menino para a
urante sua “vida pública”, Je- apresentação prescrita, ele pôde procla-
sus garantiu aos que o ou- mar: “Agora, Senhor, deixai o vosso servo
viam anunciar a Boa Nova ir em paz, segundo a vossa palavra. Porque
da Salvação: “onde dois ou meus olhos ‘viram’ a vossa Salvação que
três estiverem reunidos em preparastes diante de todos os povos,
meu nome, eu estarei no meio como luz para iluminar todas as Nações,
deles” (Mt 18, 20). Em sua despedida dos e para a glória do povo de Israel” (Lc 2,
Apóstolos, Cristo deu-lhes a missão de 1-22-39). Os magos “viram” sua estrela
anunciar o Evangelho a todos os povos, no Oriente e foram a Belém para adorá-lo
fazendo-os discípulos seus e batizando- (Mt 2, 1-12). A visão os fez retornar por
os em nome da Trindade. Assegurou-lhes outro caminho. Certamente não só para se
categoricamente: “Eis que estarei convosco desviarem de Herodes que, com segundas
todos os dias até o fim do mundo!” (Mt 28, intenções, lhes pedira que voltassem a
16-20). Numa música já muito popular em ele para dar-lhes as informações neces-
diversas regiões, o povo canta alegre e sárias para também ir adorá-lo, mas muito
feliz: “Ele está no meio de nós, sua Igreja, mais porque aquele encontro mudou a
povo de Deus. Sempre e em toda parte, rota de suas vidas. Zaqueu (Lc 19, 1-9),
conosco está o Senhor! Vida, Caminho e cobrador de impostos, expôs-se a uma
Verdade, conosco está o Senhor!” atitude comprometedora para vê-lo: subiu
O 15º Congresso Eucarístico Nacional, a uma árvore no trajeto que Jesus estava
de 18 a 21 de maio próximo, em Floria- percorrendo. Para sua grande surpresa,
nópolis, Santa Catarina, por seu tema, foi “visto” por Ele que quis ficar em sua
renova esta consoladora verdade – Ele casa naquele dia. Sua vida tomou rumo
está no meio de nós! E, por isso, por seu totalmente novo. Nicodemos procurou Je-
lema faz um convite alvissareiro: “Vinde e sus de noite e conversou longamente com
vede!” É o convite que o próprio Cristo fez Ele (Jo 3, 1-21). A narrativa do encontro
aos dois discípulos de João Batista que o conclui sem dizer se ele aderiu a Jesus.
acompanharam. Ao sentir-se seguido, Ele Mas na hora do sepultamento do Mestre,
lhes perguntou: “Que procurais?”. Respon- ele acompanhou José de Arimatéia (Jo 19,
deram perguntando: “Onde moras?” Aí o 39) levando os ungüentos para os rituais
convite para entrar na sua familiaridade: próprios dos judeus ao sepultar alguém. E
“Vinde e vede!” o evangelista faz questão de identificá-lo
A Igreja no Brasil está desenvolvendo como “aquele que anteriormente fora ter
um Projeto Nacional de Evangelização com Jesus de noite”. O encontro daque-
– “Queremos ver Jesus Caminho, Verdade la noite lhe possibilitou “ver” de modo
e Vida”. Inspira-se na sadia curiosidade diferente, pois brilhara para ele o “sol”
de alguns gregos, estrangeiros, que ma- da existência humana, a luz que ilumina
nifestaram ao apóstolo Filipe o desejo de todos os povos. O apóstolo Tomé, quando
“ver” Jesus (Jo 12, 20-22). lhe falaram da ressurreição de Cristo, quis
“ver” o sinal dos pregos nas mãos dele e
Outros viram Jesus colocar sua mão na chaga do peito. Em
Os pastores, seguindo a indicação sua infinita condescendência, Cristo Res-
do anjo, foram até a gruta de Belém e suscitado, quando Tomé estava de novo
encontraram o Menino, envolto em faixas. com o grupo, lhe deu esta oportunidade
20 Abril 2006 -
e nós! Vinde e vede!
com uma advertência: “Introduze aqui o sacramentos, de tal modo que, quando
teu dedo, e vê as minhas mãos. Põe a tua alguém batiza, é o próprio Cristo quem
mão no meu lado. Não sejas incrédulo, batiza. Está presente na sua palavra, pois
mas homem de fé” (Jo 20, 24-29). é ele quem fala quando na Igreja se lêem
Quem faz a experiência de ver Jesus as Sagradas Escrituras. Está presente, por
transforma sua vida e passa a ter dentro fim, quando a Igreja reza e salmodia, ele
de si um impulso evangelizador irresistível. que prometeu: “onde se acharem dois ou
Nada e ninguém o detém, pois precisa três reunidos em meu nome, aí estou eu
comunicar aos outros a feliz descoberta. no meio deles” (Mt 18, 20).
A samaritana, depois daquela conversa A presença mais real de Cristo entre
transformadora com Jesus junto ao poço nós é a da Eucaristia. Esta é a mais
de Jacó, foi à cidade para dizer: “vinde e expressiva e a culminância das demais.
vede um homem que me contou tudo o Mas não é a única. Ela supõe as outras.
que tenho feito. Não seria ele porventura De forma pertinente, o canto de abertura
o Cristo?” (Jo 4, 1-30). São João evan- das celebrações da Campanha da Fra-
gelista assevera transmitir, em sua ação ternidade de 1995 (Fraternidade e os
evangelizadora, tão somente o fruto da Excluídos) diz: Eras tu, Senhor Jesus,
sua profunda experiência do encontro escondido no irmão e agora nos convi-
com Cristo. “O que temos ouvido, o que das ao louvor e à conversão! Corre-se o
temos visto com nossos olhos, o que risco de algumas contradições. Muitos,
temos apalpado no tocante ao Verbo da por exemplo - e deve ser - manifestam
vida.... o que vimos e ouvimos, nós vos total indignação quando um sacrário é
anunciamos para que tenhais comunhão profanado com suas hóstias levadas
conosco. Ora, a nossa comunhão é com ou jogadas ao chão. Mas não reagem
o Pai e com o seu Filho, Jesus Cristo” quando uma pessoa humana é violada
(1 Jo 1, 1-3). em sua dignidade. Até criticam a ação
dos membros dos Direitos Humanos
A experiência do encontro nessas circunstâncias. Cresceu muito a
Embora longe de Jesus no tempo e consciência ecológica, com a defesa do
no espaço, nós cremos firmemente nesta meio ambiente e a proteção aos animais.
sua presença transformadora. Temos Mas nem sempre se tem o mesmo ou
certeza da presença de Cristo junto de maior cuidado com as pessoas. Muitos
quem o segue. Não é uma presença desencadeiam grandes mobilizações
física, visível, fotografável, que pode ser quando um animal corre risco de vida
comprovada cientificamente. Mas é uma ou é maltratado, mas pouco ou nada
presença experimentada pelo coração. De fazem pelo ser humano na miséria e no
certa forma, semelhante à presença da aviltamento de sua dignidade.
pessoa amiga falecida ou que está longe. Ele está no meio de nós, sempre e
No amor, ela está sempre bem perto, na em toda parte. Ele está sim na hóstia
profundidade do coração. A experiência consagrada para ser adorado. A isto nos
do encontro com Cristo, na fé, dá sentido motiva particularmente o Congresso Euca-
novo à vida e sacia a sede e a fome de rístico Nacional a ser realizado em breve.
Deus de todo ser humano. Comprova-o Quem não pode ir a Florianópolis adorar
a samaritana, já citada. o Cristo sacramentado, faça-o em sua
Podemos viver este encontro com comunidade. Mas ele está também nos
Jesus nas suas diversas formas de pre- irmãos e irmãs para ser amado e servido
sença entre nós. O Concílio Vaticano II incansavelmente. Vivamos sempre mais
(SC 7) as descreve assim: “Para realizar a experiência do encontro com Ele em
tão grande obra (a da salvação), Cristo todas as circunstâncias. Deixemos que
está sempre presente em sua Igreja, e Ele faça abrasar o nosso coração, como
especialmente nas ações litúrgicas. Está aconteceu aos discípulos de Emaús (Lc
presente no sacrifício da missa, tanto na 24, 32). Na alegria incontida desta expe-
pessoa do ministro, pois aquele que agora riência, proclamemos insistentemente:
se oferece pelo ministério sacerdotal é o Vinde e vede!
‘mesmo que, outrora, se ofereceu na cruz’,
como sobretudo nas espécies eucarísticas. Antônio Valentini Neto é sacerdote, pároco da Catedral São
Ele está presente pela sua virtude nos José, em Erechim, RS.
- Abril 2006 21
Conselho Mund
atualidade
O
Deus e Salvador segundo as Escrituras, e muitas outras se conheceram.
Conselho Mundial de Igrejas por isso procuram cumprir em conjunto a Na manhã do dia 14 de fevereiro, o
foi fundado em 23 de agosto sua vocação comum para a glória do único campus da Pontifícia Universidade Católica
de 1948, em Amsterdã, na Deus, Pai, Filho e Espírito Santo. do Rio Grande do Sul (PUCRS) com seus
Holanda, por ocasião de sua
primeira Assembléia Geral,
22 Abril 2006 -
ndial de Igrejas
edifícios modernos e equipamentos de nosso planeta. A meta dessas pessoas:
Trabalho em mutirão
Entre os 691 delegados representando
Deus, em tua graça, atividades reafirmando o compromisso
de buscar a unidade visível das Igrejas e
de se empenhar pela paz e pela justiça
as 347 Igrejas-membro do Conselho Mun-
dial, os 18 observadores da Igreja Católica
e de outras denominações cristãs, pessoas
transforma o mundo econômica mundial. Serão quatro os ei-
xos prioritários para a próxima gestão: o
compromisso com a unidade, a formação
convidadas e inscritas para participarem fundamentalismo e ao fanatismo religioso, ecumênica, o empenho pela justiça mundial
do mutirão, registre-se o agradecimento a multidão – é verdade que ainda temos e a ampliação da voz pública no planeta,
àquelas que prestaram seus serviços. Um dificuldades internas a serem superadas para que seja ouvida.
especial agradecimento a todos que desde – caminhava cantando, orando, dialogan-
o início, aqui no Brasil, trabalharam para do em busca de meios para superar as José Bizon é sacerdote, diretor da Casa da Reconciliação da
que essa IX Assembléia transcorresse da divisões e tudo aquilo que gera morte em Arquidiocese de São Paulo.
- Abril 2006 23
Infância marcada
Infância
Missionária
na carne “Virá o dia em que todos, ao
levantar a vista
Veremos nesta terra, reinar a
liberdade!”
de Roseane de Araújo Silva
Néo Monteiro
V
ivemos há algum tempo uma realidade bem difícil em
nosso país. Uma crescente situação de desigualdade
social, diferentes realidades, ampliando a cada dia
o abismo entre as pessoas, principalmente nossas
crianças e adolescentes em situação de risco. Aos
poucos estamos presenciando, mesmo em peque-
nas cidades, uma realidade que até então era fato comum nos
grandes centros. Trata-se da prostituição infantil, lembrada e,
ao mesmo tempo deixada de lado por muita gente. Quando nos
questionam a respeito, temos muitas vezes posições antagônicas.
Ora ficamos tocados pela infância roubada dessas crianças e
adolescentes; ora julgamos o ato como “sem-vergonhice”, ou
ainda como coisa de “gente que busca a vida fácil”.
Sugestão para Grupo Certa vez, ouvi uma reportagem onde um pai indagava ao
- Acolhida. repórter se a sua filha adolescente, ao vender o seu corpo para
- Motivação (objetivo): refletir com as crianças a rea- que a família se alimentasse, estava se prostituindo, uma vez
lidade da prostituição infantil. que ele como pai não via assim. O que leva as nossas crianças
- Oração: antes de entrarmos neste tema, façamos um e adolescentes à prostituição? O que está por trás de tudo isso?
É cruel demais a lógica da sociedade que empurra as famílias na
momento de silêncio e rezemos por todos os meninos
lama, porque não há lugar para os despossuídos de capital. É o
e meninas que se encontram nesta situação.
dinheiro que manda. Numa sociedade em que vale mais quem
- Comentário dos compromissos semanais. tem mais dinheiro, vender o corpo por alguns trocados foi o que
- Leitura do Evangelho de Mateus 18, 6-7: Evitar o sobrou para os nossos meninos e meninas famintos, sem pão e
escândalo. sem lar. Qual é a nossa missão diante desta realidade? O que
- Compromissos missionários: deixar ouvir a voz do fazer diante da infância usurpada destas crianças e adolescen-
coração, suscitando entre as crianças do grupo gestos tes vítimas da exploração e da crescente desigualdade social
concretos. Por exemplo, o compromisso de partilhar a que somos submetidos? A responsabilidade é de todos nós e
com a família o tema refletido nesta semana. Na escola as marcas que ficam, não têm volta.
ou na comunidade, descobrir meninos ou meninas que Jesus em sua época, sempre manifestou uma atenção
enfrentam o preconceito ou são vítimas da prostituição, especial às crianças e ao seu bem-estar. Nos dias atuais, lem-
bremos da parábola das cem ovelhas. Quando uma delas se
procurando ajudá-los. Visto que o dia 4 de abril é mun-
perdeu, o pastor deixou as noventa e nove nas montanhas para
dialmente lembrado contra a prostituição infantil, elabo-
procurar aquela dispersa, ficando muito feliz ao reencontrá-la
rem conjuntamente cartazes, desenhos, reportagens, (Mt 18, 10-14). Da mesma forma o Deus Pai-Mãe não deseja
mensagens etc., divulgando e denunciando este fato que nenhuma das nossas crianças e adolescentes se perca.
nos murais da escola, supermercados, igrejas, salões Como membros da Infância Missionária e como missionários,
comunitários etc. seguidores de Jesus, da mesma maneira nós devemos ser os
- Oração espontânea final. primeiros a libertar os nossos meninos e meninas, com a força
- Canto e despedida. e a presença do Ressuscitado em nosso meio. “Eis que estarei
com vocês todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28, 20b). Das
“Quem quiser entrar no Reino de Deus tem que ser crianças do mundo – sempre amigas!
como criança...”
Roseane de Araújo Silva é missionária leiga e pedagoga da Rede Pública do Paraná.
24 Abril 2006 -
Um passo adiante
conexão jovem
A Juventude Missionária no Brasil e nos demais países da América
Latina está se articulando e crescendo.
O
formação e coordenação da JM do Cone Sul, ficou marcado,
protagonismo missionário juvenil já é uma realidade de comum acordo com os diretores das POM, um encontro de
em todo o continente latino-americano. Em alguns delegados da JM, que será realizado em janeiro de 2007, em
países está mais desenvolvido que em outros, mas Montevidéu, Uruguai.
todos, dentro de suas limitações, estão articulando Especificamente no Brasil, a Juventude Missionária está
seus trabalhos. Prova disso são os encontros que em progressivo desenvolvimento, sendo que em 2007 será
ocorreram nos últimos anos, como os ENAJOMIS lançado um Manual de Trabalho e uma página na internet,
(Encontros Nacionais da desenvolvida para uma
Arquivo POM
Juventude Missionária), maior articulação e ani-
em Cuenca, no Equador mação entre os grupos já
e Caracas, na Venezuela existentes no país.
e as Jornadas Mundiais Já em maio de 2005
da Juventude em To- tivemos algumas conclu-
ronto, no Canadá, e em sões do 1º Encontro da
Colônia, na Alemanha, Equipe de Reflexão ad
todos com a presença de experimentum, mostrando
delegações brasileiras. que a Juventude Missio-
Nesse contexto, um nária brasileira possui o
processo de articulação sentido de pertença às
e comunicação entre a Pontifícias Obras Missio-
Juventude da América nárias (POM), conhece-as,
Latina foi naturalmente difunde-as e está disposta
ocorrendo, o que ajudou a levar a outros a dimen-
o desenrolar da Juven- são missionária que elas
tude Missionária (JM), oferecem; descobre sua
fazendo com que a di- vocação missionária, que
mensão missionária de a leva a viver, plenamente,
cada país assumisse, a universalidade do man-
concretamente, essa dato missionário de Cristo
Representantes da Juventude Missionária no encontro do Cone Sul.
realidade. (Mt 28, 16); possui uma
A Juventude Missionária está inserida dentro da Obra da experiência viva e profunda de Cristo e está disposta a dá-lo
Propagação da Fé, a mais antiga das quatro pontifícias obras, a conhecer àqueles que não o conhecem; em visão universal,
por isso, os diretores nacionais das POM do Cone Sul (Brasil, está disposta a cumprir o mandato de Cristo “vão e anunciem o
Chile, Uruguai, Paraguai e Argentina), em sua reunião no início Evangelho a todos os povos” (Mt 28), fazendo o possível para
de 2005, em Brasília, decidiram que havia a necessidade de um que chegue a todas as pessoas; assume responsavelmente seu
encontro entre os diretores nacionais das POM e jovens, com o compromisso missionário de batizada; caminha participando
intuito de assumir compromissos e metas reais para a Juventude da Missão da Igreja, vivendo a riqueza da fraternidade; ama
Missionária do Cone Sul. sua cultura, respeita e valoriza a dos outros com sua alegria,
simplicidade e responsabilidade; e finalmente, é testemunha de
Encontro na Argentina esperança, capaz de assumir novos desafios, em um mundo em
Este encontro ocorreu nos dias 3, 4 e 5 de fevereiro de 2006, constante mudança.
na cidade de Buenos Aires, Argentina, conforme a revista Missões Realmente a Juventude Missionária do Brasil e do Cone Sul
noticiou na edição passada. Estiveram presentes os diretores na- está dando um passo adiante, e desse primeiro passo, podem
cionais e delegados juvenis de todos os países do Cone Sul. Os ter certeza, muitos outros surgirão...
trabalhos serviram para troca de materiais, experiências e definições
de linhas comuns, critérios, propostas e metas para a Juventude Luiz Gustavo Fernandes é membro da Equipe de Reflexão da JM no Brasil e é coordenador e
Missionária. Na ocasião foram eleitos, pelos próprios jovens, dois articulador no Cone Sul.
- Abril 2006 25
Profetismo
entrevista
no Exercício
do Poder
Será possível manter a radicalidade
profética ao assumir um cargo de poder?
Qual o lugar do profetismo na política?
N
participantes consideram a política uma e Espiritualidade na Militância Política,
os dias 11 e 12 de março, a ca- dimensão fundamental de vivência da Fraternidade e Pessoas com Deficiência,
pital do Espírito Santo foi sede sua fé, e a fé o horizonte de sua utopia Relação: Governo e Movimentos Sociais,
do 5º Encontro Nacional de política. No Ginásio Álvares Cabral, o entre outros. Para conhecer mais sobre o
Fé e Política. Cerca de 4.000 tema principal foi desenvolvido por Pedro Movimento Fé e Política, entrevistamos o
militantes de movimentos so- Ribeiro de Oliveira, Dom Adriano Ciocca, sociólogo Pedro Ribeiro de Oliveira, mem-
ciais, lideranças eclesiais e Marlene Cararo, deputado Cláudio Vareza, bro da Coordenação Nacional. Assessor
políticas de todo o Brasil, foram acolhidas pastor Milton Schwantes, Plínio de Arruda da CNBB e das CEBs, Pedro é também
por famílias das comunidades da Grande Sampaio e Frei Betto. Outros assessores membro do Conselho de Desenvolvimento
Econômico e Social da Presidência da
República.
Fotos: Jaime C. Patias
26 Abril 2006 -
da e Adair Rocha, promoveram alguns te o Concílio Vaticano II ajudou muito a política econômica interna não é pelos
encontros com intelectuais, políticos e superar essa posição antiga. O problema pobres. Será que tem de ser pragmático
assessores de CEBs. Até que no dia 24 maior não está tanto na Igreja, mas na na política econômica? Será que não se
de junho de 1989, realizou-se no Rio de cultura popular católica que separou a pode enfrentar o Capital? O profeta sofreu
Janeiro um encontro maior com umas 30 fé da política. Isso porque vê a política e sofre na repressão. Se você procurar
pessoas. Tudo era motivado pela neces- unicamente como disputa de poder para ser elogiado por todo o mundo, você não
sidade que tínhamos como cristãos de fins individuais. Mas quem é que disse vai ser profeta. Esse é o pano de fundo
estarmos mais próximos uns dos outros. que política é apenas luta pelo poder? das nossas questões. Na questão do
No encontro surgiu o nome de Fé e Po- Nós temos a nossa didática e isso as profetismo, as mensagens proféticas são
lítica para o Movimento. Naquela altura CEBs sabem ver muito bem. Se política duas, no sentido de boa notícia: primeiro,
tínhamos três prioridades: a formação em é a ciência e a arte do bem-comum, então que um outro mundo é possível. Tentam
termos de pensamento, com a criação de nós já fazemos política. colocar na nossa cabeça que isso não é
um Caderno de Fé e Política; a questão possível e que tudo o que podemos fazer
da espiritualidade, o nosso jeito de rezar “Profetismo no Exercício do Poder” é consertar um pouquinho esse que está
e criar laços de solidariedade entre as foi o tema do 5º Encontro Nacional. Qual aqui. Não, um outro mundo é possível,
pessoas. é o lugar do profetismo no poder? Eles sim! Nós, cristãos, temos a certeza disso:
são compatíveis? o Reino de Deus é aqui na história que se
O Movimento enfrentou alguma O tema nasceu em reuniões prepa- constrói. Disso nós não podemos arredar
dificuldade para se expandir? ratórias do Encontro em março do ano o pé. O segundo é aquela formulação feita
Devo dizer que por volta dos anos passado, analisando a experiência do pela Severina (sic) de Recife, no cântico que
1996-97 o Movimento praticamente mor- governo Lula. Observamos que vários diz: “eu acredito que o mundo será melhor
reu. Ele teve uma existência de 16 anos companheiros e companheiras nossos que quando o menor que padece acreditar no
com a publicação de 15 Cadernos de Fé assumiram cargos de direção no governo menor”. Ou seja, é a partir dos pobres,
e Política. Depois veio o desânimo. Pou- dos marginalizados, dos pequenos que se
cas pessoas apareciam nas reuniões e constrói um mundo novo e não a partir dos
ninguém adquiria os Cadernos, não tinha grandes. O grande equívoco da política
mais jeito. Em 1998, Frei Betto observou econômica de Lula hoje é a de pensar que
que os mesmos problemas sentidos pelo se ele atrair grandes capitais e conquistar
povo há anos estavam ainda presentes e a confiança dos capitalistas ele muda a
que nós já havíamos feito uma caminhada economia. É um equívoco. Ele tem que
de fé e política. Então, por que deixar conquistar a confiança dos pobres.
essa experiência morrer? Aí ele convidou
algumas pessoas para uma reunião. Eu Para os cristãos que freqüentam a
fui. Nessa época eu tinha ficado viúvo e Igreja e participam das celebrações,
resolvi aceitar organizar a Secretaria do como essa vivência do sagrado po-
Movimento. Fizemos várias reuniões com deria se transformar em profecia na
pessoas antigas que voltaram a participar sociedade atual?
e outras novas interessadas no trabalho. Eu acho isso muito difícil porque den-
Um momento decisivo foi o encontro de tro das igrejas existe uma tendência de
Itatiaia, RJ, no dia 3 de outubro de 1999, se fazer uma profecia apenas religiosa.
onde refizemos a Carta de Princípios do Uma profecia que não deixa de ter uma
Fé e Política. Rediscutimos os rumos e dimensão profética, mas uma dimensão
inserimos novas questões como a eco- profética que fala da sua vida espiritual,
lógica, a planetária etc. Foi nessa altura da sua relação intimista com Deus. Outra
que Gilberto Carvalho, então funcionário coisa é fazer a sua relação com Deus, a
na Prefeitura de Santo André, propôs sua relação religiosa pela mediação do
abrir os encontros para todos. Logo no pobre e da luta política e não pela mediação
primeiro Encontro no ano 2000, em Santo da sua subjetividade. Para alguns desses
André, SP, vieram quase 3.000 pessoas. movimentos é importante encontrar Jesus
Em 2002, o Encontro foi em Poços de Cristo interior. Quem encontra Jesus, en-
Caldas, MG, com 4.500 participantes. O Símbolo do 5º Encontro de Fé e Política, Vitória, ES. contra Deus dentro de si. Ora, o Evangelho
terceiro Encontro em 2003, em Goiânia, federal, abrandaram o discurso profético nos diz que encontramos Deus no pobre,
GO, reuniu 5.000 pessoas. O mesmo e adotaram o pragmatismo político. Eles no outro. E dessa forma nós encontramos
número de pessoas esteve em Londrina, afirmam que não dá para fazer mais do Deus também dentro de nós. A mediação
PR, no Encontro de 2004. que estão fazendo. Então nós começamos não é a política, mas é o pobre. Se nós
a nos perguntar: será que de fato no exer- não tivermos essa mediação, a nossa es-
Quando falamos de fé e política en- cício do poder, o pragmatismo impera e piritualidade vai ser sempre intimista. Ela
contramos certa dificuldade em colocar mata o profetismo? O exercício do poder pode ser muito boa emocionalmente, mas
para as pessoas essas duas dimen- é responsável, mas como ser profeta? Por vira espetáculo. Estamos assistindo a uma
sões juntas. Como vocês enfrentam um lado, o governo Lula tem muito pouco espetacularização da religião. Assim nós
o problema? de profético, apenas alguns aspectos. Por podemos ter o espetáculo da Igreja, mas
É uma dificuldade, mas penso que exemplo, eu acho que a política externa não temos mais a Igreja sacramento.
a Igreja Católica já superou isso. Essa faz opção pelos pobres. Ele até que faz
dificuldade era mais forte na época do sua política externa com os pobres da Jaime Carlos Patias é missionário, mestre em Comunicação e
anti-comunismo. A abertura feita duran- África, da América do Sul. Mas a sua diretor da revista Missões.
- Abril 2006 27
Centro Indígena de F
amazônia
Lírio Girardi
de Ester Tello e Luís Ventura
A
escuridão da noite vai deixando
que o azul da manhã desenhe
de novo as serras, as matas e
os campos da Região Surumu,
a leste da Terra Indígena Rapo-
sa Serra do Sol, em Roraima.
As paredes da casa onde estamos se
levantam silenciosas diante de nós: pare-
des sem olhos (janelas) e sem cobertura
(telhado), restos do violento ataque que
as queimou no mês de setembro de 2005.
Paredes erguidas, porém, testemunhas
da história de vida e libertação dos po-
vos indígenas da Raposa Serra do Sol,
paredes que escutaram e presenciaram
um povo se levantar contra a opressão.
Está amanhecendo no Centro Indígena
de Formação e Cultura Raposa Serra
do Sol, mais conhecido como Escola de própria e o ódio de outros, daqueles que alunos esteja trabalhando na sua comu-
Surumu. A luz do novo dia nos devolve a lhes induziram a cometer tal barbárie. nidade, enquanto outro fica na escola,
boa nova de que esta noite também não Era a reação do gigante Golias, grandes elas continuaram. Em fevereiro deste ano,
aconteceu nenhum ataque. empresários agrícolas e fazendeiros inva- mais 36 alunos novos foram apresentados
sores, frente à conquista da homologação pelas comunidades indígenas de todo o
A destruição da terra indígena. Naquela mesma manhã, Estado para matricularem-se no curso
No dia 17 de setembro de 2005, um apenas umas horas depois do ataque, o de Ensino Médio e profissionalizante em
grupo de 150 homens, bêbados de raiva e grupo de jovens indígenas que estudava Agropecuária e Manejo Ambiental.
álcool, atacavam em outra madrugada esta na escola, e que tinha ficado sem redes, Enquanto escrevemos este texto, no-
Missão de Surumu, incendiando a maior roupas, documentação ou material esco- vas ameaças caem sobre Surumu. Alguns
parte de suas instalações, depredando o lar, se olhava e gritava em silêncio “mas, colocam preço à barbárie e oferecem R$
resto, espancando professores e alunos, não queimaram nosso sonho, nem nosso 5.000,00 para quem possa queimar o já
roubando sem olhar, suando a vergonha compromisso”. Eram palavras atoladas queimado e colocar no chão o que ficou
em lágrimas que não queriam sair, mas em pé. As autoridades, sabedoras do clima
Lírio Girardi
28 Abril 2006 -
Formação
Sol
Fotos: Ester Tello
A campanha de
reconstrução da Escola
de Surumu mostra a O rosto deste Centro Indígena de
persistência e a coragem Formação e Cultura Raposa Serra do
Sol é hoje, como tantas outras vezes, o
dos povos indígenas na rosto da resistência. Depois de anos em
que muitos se esforçaram por dar qua-
luta por seus direitos. lidade ao que entendem por Educação
Indígena; depois de textos e documentos
que, pretendendo definir como deva ser
cercados caídos. Em fevereiro começou em comunidade. Desde os primeiros anos essa educação, conseguiram apenas
também o trabalho de reformas nas insta- da década de 70, as lideranças indígenas aliená-la na máquina do Estado; depois
lações do Centro Indígena de Formação, vêm consolidando um trabalho de base, de tudo isso é hora de pensar e construir
com a contribuição de pessoas anônimas comunidade a comunidade, na defesa de uma escola indígena que, como dizem
e entidades de dentro e fora do Brasil, seus direitos, principalmente a terra. Por algumas lideranças, forme “guerreiros”,
mas ainda longe do que será necessário causa disso, 21 indígenas já morreram isto é, homens e mulheres da comunida-
para concluir o trabalho. Iniciaram-se as na Raposa Serra do Sol. de que consigam continuar a história de
reformas e construções de dois alojamen- Foi como fruto deste processo de resistência pacífica tecida por seus pais,
tos, a cozinha e o refeitório comunitário, auto-organização e fortalecimento que avós e lideranças.
as prioridades, marcadas para antes do o Conselho Indígena de Roraima, junta- Reconstruir Surumu é muito mais do
período de chuvas. Depois, numa segunda mente com a diocese, decidiu iniciar em que levantar prédios. É defender a terra.
etapa, serão reconstruídos o prédio que Surumu uma nova etapa de trabalho em É responder à violência com a força da
acolhia a parte administrativa e algumas 1997, dirigida à formação de jovens en- união e do futuro dos povos indígenas
salas de estudo. viados pelas comunidades. Uma formação da Raposa Serra do Sol. É somar forças
centrada na terra, na defesa dos direitos, com as lideranças destes povos. É olhar
História de resistência na procura de maior e melhor produção com respeito para estes jovens indígenas,
A Escola de Surumu não pode ser agrícola para garantir um futuro livre, uma fruto, mas também, semente de uma luta.
entendida sem se falar na história de vida em abundância. Mais de 20 jovens E todos estamos convidados a apoiar
resistência das comunidades indígenas já se formaram e hoje trabalham direta- este trabalho.
da Raposa Serra do Sol, fortalecida nas mente nas comunidades ou dão apoio à
três últimas décadas e alicerçada num organização indígena. Outros 65 cursam Ester Tello e Luís Ventura são leigos
compromisso sério pela união e o trabalho atualmente os estudos no Centro. missionários da Consolata.
- Abril 2006 29
São Félix do Araguaia, MT Semana da Cidadania 2006
Dom Pedro Casaldáliga recebe Prêmio A Semana da Cidadania 2006, com o tema: “Quero
Dom Pedro recebeu o Prêmio Internacional Catalunha, Vida, Quero Liberdade” realizar-se-á de 21 a 28 de
criado em 1989 pela Generalitat da Catalunha, que é abril. O evento, que completa 10 anos, é uma inicia-
um reconhecimento aos grandes criadores, cuja obra tiva da Pastoral da Juventude do Brasil. Neste ano,
cultural, científica ou humana constitui um exemplo a Semana da Cidadania convida os jovens a refletir
para a humani- sobre seus direitos e de todos os cidadãos, “num grito
Douglas Mansur
dade. Entre as pela vida, liberdade e contra a proposta de redução
238 candidaturas da maioridade penal. Informações: (61) 2103.8300
que concorreram ou pelo e-mail: pjb@cnbb.org.br
ao XVIII Prêmio
Internacional Ca- Concurso de cartaz da CF 2007
talunha, o júri de- Em 2007 a Igreja no Brasil celebra a Campanha da
cidiu outorgá-lo a Fraternidade com o tema: “Fraternidade e Amazônia”
dom Pedro por seu e o lema: “Vida e missão neste chão”. Neste senti-
meritório trabalho do, a Comissão Episcopal Pastoral para a Cultura,
entre os mais des- Educação e Comunicação Social, juntamente com a
validos, em espe- Secretaria Executiva da Campanha da Fraternidade,
cial os indígenas lança o Concurso Nacional para a criação do cartaz
VOLTA AO BRASIL
“Queimaram as paredes,
mas não destruíram o sonho!”
ENTREGUE SUA DOAÇÃO:
No Estado de Roraima:
Catedral Cristo Redentor – praça do centro cívico
Igreja São João Batista – Av 16 – Bairro Caranã
Igreja São Francisco – na rotatória da Av. Capitão Julio Bezerra
Igreja Consolata – Av. Villy Roy, próxima a rodoviária
Na secretaria da Diaconia Missionária – Rua Arnaldo Nogueira
Mais informações:
Tels.: (95) 3224 4109 – Boa Vista, RR.
(11) 6256 7599 – São Paulo, SP.
Email: redacao@revistamissoes.org.br
Desejo receber MISSÕES
por BOLETO BANCÁRIO
Novo/a leitor/a Renovação
por CHEQUE NOMINAL E CRUZADO
Colaboração anual R$ 40,00 Quantidade por DEPÓSITO BANCÁRIO pelo Banco Bradesco, agência 0545-2 c/c 38163-2.
Tabela de preços
01 assinatura R$ 40,00 A Revista Missões publica 10 edições no ano.
02 a 09 assinaturas R$ 35,00 cada assinatura Nos meses de Jan/Fev e Jul/Ago a edição é
10 ou mais assinaturas R$ 30,00 cada assinatura bimensal.
Nome:.......................................................................................................................
Endereço: .................................................................................................................
Cidade: .......................................................................... UF: ................................
CEP: .............................................................................. Telefone: ..........................
E-mail: .....................................................................................................................