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Temporada
Vicente Maués / Divulgação
de
oportunidades
Não é de hoje que os musicais despertam um grande interesse no público e nos artistas.
Afinal, o palco fica repleto de atores, cantores e bailarinos que contam com um casting
completo e afinadíssimo de profissionais das áreas técnicas. O final de 2009 e início de
2010 promete ser bastante agitado para o mercado, com estréias aguardadas e novas
montagens de espetáculos históricos como Theatro Musical Brazileiro 1.
Pág. 21
FESTIVAIS TÉCNICA
ENTREVISTA
FIAC-BA arremata Designers de som ainda
“Sou muito público baiano e buscam reconhecimento
despudorada em tudo conquista a classe teatral do mercado Pág. 10
que eu faço, eu quero Pág. 18
SÃO PAULO
é ser uma pessoa Satyrianas se consagra
possível” como o maior festival
revela a atriz de teatro da cidade
Jussara Freire. Pág. 15
FORMAÇÃO
Págs. 8 e 9
Núcleo Vocacional
oferece oportunidade
Sylvia Masini / Divulgação
para os formadores
Pág. 7
2 1º a 15 de Novembro de 2009 Jornal de Teatro
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Jornal de Teatro 1º a 15 de Novembro de 2009
3
Editorial
Divulgação/ Acervo Núcleo V
Formação
Projeto Núcleo Vocacional, em
São Paulo, dá oportunidade a
qualquer um de fazer arte Teatro como ofício
Pág 7
Índice Já é comum adaptar elenco ou texto para que o projeto passe nos editais.
Novos cortes na hora de apresentar para os patrocinadores e a essência do es-
petáculo se esvai antes mesmo da estreia. Claro que pode parecer um exagero,
mas se pensarmos em um País de criadores teatrais, torna-se fato. E os cachês-
ENTREVISTA......................................................8 e 9 teste da publicidade, são obrigatórios? Quando se deve pagar? Por que apenas
uma parcela mínima de atores exige o pagamento quando exerce sua função
A verdade latente de Jussara Freire diante de câmeras desconhecidas?
“Eu quero fazer tudo”. Essa é apenas uma das sinceras declarações Lembro de uma frase dita pela Maria Bethânia em um depoimento contido
em um dos seus maravilhosos shows. “Sei exatamente o meu valor. Nem para
que a atriz, com 36 anos de carreira, revelou ao Jornal de Teatro mais e nem para menos”. Sim, bela diva. Acredito que, ao contrário do que
possa parecer, a classe sofre com essa “auto-desvalorização”. Há uma solução
para este quadro? Não vejo nada tão próximo. É aceitar as regras do jogo e
TÉCNICA...................................................................10 seguir com o respeito pelo ofício.
Em uma das primeiras reuniões que ocorreram na Aver Editora para apre-
Designer de som sentar a proposta do Jornal de Teatro, o presidente da empresa, Claudio Mag-
navita – que também carrega como ofício a criação de espetáculos – citou
Apesar de toda a sua importância para um espetáculo teatral, a disciplina do teatro como uma metodologia a ser seguida. Se a sessão está
o profissional ainda é pouco valorizado no Brasil marcada, deve haver a apresentação – independentemente da quantidade de
pessoas na plateia, das condições climáticas ou situação econômica do mun-
do. Este ritual de dar vida a personagens que de alguma forma emocionam o
REPORTAGEM.............................................12 a 14 público, independe até mesmo do estado emocional dos atores. Não são raros
os casos de artistas que subiram ao palco logo depois de uma tragédia com
Temporada de oportunidades familiares ou amores.
Nossa edição de número 14 apresenta uma série de profissionais que sa-
Demoraram para conquistar o público, mas o crescimento dos bem bem o seu valor. Investindo na identidade teatral do Pará, organizando
musicais no Brasil significa mais empregos para a classe artística com maestria festivais em Salvador, patrocinando espetáculos e remontando
grandes musicais. E as boas notícias já estão chegando, com a estréia de gran-
des produções no final de 2009 e início de 2010. Ou seja, oportunidades para
quem leva o teatro como ofício.
ESPECIAL.....................................................16 e 17
Teatro no Pará
Ator, diretor, escritor e dramaturgo Ailson Braga fala sobre os Rodrigoh Bueno
mais de 30 anos de atividade teatral na capital paraense
Editor do Jornal de Teatro
HISTÓRIA.................................................................21
De volta aos cabarés
Após 20 anos, CCBB apresenta nova versão de Theatro Musical
Brazileiro I, um retorno ao tempo do Império e República Velha
Bastidores
Divulgação
LANÇADO O EDITAL A italiana Dodi BEVABBÈ (ASSIM É DEMAIS) VOLTA SÃO PAULO RECEBE
PARA AMPLIAÇÃO DO Contiu realiza A CARTAZ EM SALVADOR ATÉ 26 DE
stand-up comedy CENTRO DE FORMA-
TCA, EM SALVADOR NOVEMBRO COM DODI CONTI ÇÃO PARA PROFIS-
em Salvador
O governo do Estado, Depois de duas temporadas de sucesso na SIONAIS DE ARTES
por meio da Secult (Secre- cidade, a comédia que fala das inevitáveis crises CÊNICAS
taria de Cultura), lançou, dos 40 do universo feminino volta aos palcos A partir de novembro,
dia 3 de novembro, o Edi- baianos, no Teatro Gamboa, até dia 26 de no- a capital paulista terá um
tal do Concurso Público vembro, sempre as quartas e quintas-feiras. No novo berço para formação
Nacional que escolherá o monólogo de cerca de uma hora de duração, a de novos talentos das artes
Projeto Arquitetônico para atriz italiana Dodi Conti utiliza as técnicas da cênicas. A São Paulo Escola
Requalificação e Ampliação stand-up comedy para entreter. de Teatro - Centro de For-
do Complexo Teatro Cas- Munida apenas de microfone, sem nenhum mação das Artes do Palco,
tro Alves, equipamento da tipo de acessório cênico, Dodi consegue fazer idealizada pelo Governo do
Funceb (Fundação Cultu- rir com cenas que demonstram a completa falta Estado de São Paulo, tem
ral do Estado da Bahia). O de habilidade de seu personagem para entender como objetivo dar condi-
lançamento foi apresenta- (e seduzir) o sexo oposto. Dessa forma, “Beva- ções a artistas que buscam
do a arquitetos, escritórios bbè” - cujo nome refere-se à expressão italiana aperfeiçoar seus conheci-
de arquitetura e imprensa, que significa “assim é demais!”, leva aos palcos mentos na área do teatro.
durante café da manhã, no uma personagem que resolve dar uma virada na Para isso, a escola ofere-
Foyer do TCA. O Projeto sua vida: mudar sua opção sexual - e pela pri- cerá oito cursos regulares,
vencedor do concurso, que meira vez tentar se relacionar com homens! com carga horária mensal
conta com parceria técni- “Bevabbè” volta à cartaz em um momento de 96 horas, que abran-
ca do IAB (Instituto dos em que programas como o CQC têm popu- gem diversos segmentos
Arquitetos do Brasil – De- larizado o stand up comedy – gênero que a teatrais: iluminação, técni-
partamento da Bahia), bali- atriz conhece muito bem. No final de 2006 e cas de palco e cenografia,
zará as intervenções que se em 2008, o espetáculo teve casa cheia todas atuação, direção, humor,
fazem necessárias no Com- as noites, no Theatro XVIII. “Foi uma experi- sonoplastia, e dramaturgia.
plexo do TCA, incluindo-se ência maravilhosa e surpreendente para mim, A Escola de Teatro, que
todos os seus espaços: Sala além de um grande desafio fazer um monó- funcionará inicialmente na
Principal, Concha Acústica, logo em outra língua e fora da Itália”, disse Oficina Cultural Amácio
Sala do Coro, Foyer, Centro Dodi, que reside em Salvador desde 2007 e Mazaroppi, no bairro do
Técnico, Jardim Suspenso e agora pretende apresentar seu trabalho para Brás, será dirigida a jovens
Vão Livre. um público ainda maior. maiores de 18 anos - com
2º grau completo. Serão
Divulgação
1º FESTIVAL MUNICIPAL DE CIRCO abertas 1,2 mil vagas, ao
Entre os dias 16 e 22 de novembro, o Centro de São Paulo ano, sendo 200 para alunos
receberá o 1º Festival Municipal de Circo, que reúne uma mostra regulares e as demais para
competitiva, a 4ª Palhaçaria Paulistana, e a inauguração do Cen- alunos dos cursos de difu-
tro de Memória do Circo, na Galeria Olido. No sábado, dia 21 são cultural. Os alunos regu-
de novembro, haverá também um encontro de malabaristas, das lares devem cumprir quatro
11h às 16h, no Largo do Paissandu. Pelo quarto ano consecuti- horas de aulas de terça-feira
vo, a Palhaçaria Paulistana deverá reunir mais de 250 artistas de a sábado, durante dois anos.
circo em uma semana de espetáculos gratuitos, em evento pro- Já os alunos dos cursos de
movido pela Secretaria Municipal de Cultura em parceria com a difusão cultural terão qua-
Cooperativa Paulista de Circo. tro horas de aula, uma vez
Nesta edição, além do Vale do Anhangabaú, onde continu- por semana, durante quatro
ará sendo montada a lona principal com capacidade para 400 meses. A escola também es-
pessoas e o trapézio ao ar livre, onde acontecerão apresenta- tará aberta à população, que
“Nariz de Prata” irá ficar em cartaz no Rio até o final do ano
ções e atividades, outros endereços do Centro receberão ativi- poderá conferir palestras,
dades, como o Largo do Paissandu, berço do circo paulistano debates e workshops.
ESPETÁCULO INFANTIL MARCA
que se tornou ponto de encontro dos artistas circenses todas
ANIVERSÁRIO DE COMPANHIA CARIOCA PROCESSO
as segundas-feiras – dia de folga da categoria – que se reunia
O grupo Omamë Teatro comemora 15 anos de existência SELETIVO
no “café dos artistas”, como era conhecido o local. Além disso,
e de intensa pesquisa no processo e experimentação teatral. E Em novembro, teve iní-
temporadas dos circos Irmãos Queirolo e Alcebíades marcaram
para celebrar serão, de agora até 2010, quatro espetáculos em cio concurso público para
o auge do circo na região. O palhaço Piolin, ícone circense que
cartaz no Rio de Janeiro. O primeiro é a nova montagem de a seleção e contratação dos
contava com a simpatia dos modernistas, freqüentadores assídu-
“Nariz de Prata”, que estreou no dia 24 de outubro, no Teatro professores que irão lecio-
os dos seus espetáculos. A mostra competitiva dará prêmios em
Maria Clara Machado (Planetário), e fica em cartaz até 20 de nar na Escola e também
dinheiro os melhores espetáculos inscritos voluntariamente pela
dezembro, aos sábados e domingos, às 17h. as inscrições para o pro-
internet, no endereço http://cultura.prefeitura.sp.gov.br
cesso seletivo dos alunos.
“Com base na experiência
Foto de divulgação profissional dos coorde-
CELEBRAÇÃO PLÍNIO SCARLETT JOHANSSON ESTRÉIA nadores de cada curso, o
MARCOS EM BRASÍLIA ESPETÁCULO EM DEZEMBRO projeto pedagógico da Es-
Dentro da programação da Após emprestar todo seu talento e beleza ao cine- cola preparará o aluno para
Mostra Dulcina de Moraes, que ma, a bela Scarlett Johansson irá se aventurar nos palcos os desafios do mercado”,
nesta sua 10ª Edição homenageia da Broadway. Conhecida mundialmente por ser uma das destaca Alberto Guzik, co-
o dramaturgo Plínio Marcos, a musas inspiradoras de Woody Allen, e por estrelar pro- ordenador pedagógico da
Ossos do Oficio - Confraria das duções como a “Ilha”, “Vicky Cristina Barcelona”, “The Escola de Teatro. A pro-
Artes, com o apoio da Faculda- Spirit” e mais recentemente “Homem de Ferro 2”, Scarlett posta é adequar os estudan-
de de Artes Dulcina de Moraes, fará parte do elenco da peça “A view from the bridge”, de tes a processos nos quais
apresenta o projeto Celebração Arthur Mille. A montagem, que estreia no dia 28 de de- não haverá predomínio de
Plínio Marcos, com três apresen- zembro, deve ficar em cartaz por 14 semanas. A atriz en- um diretor, dramaturgo ou
tações do espetáculo “Balada de cenará ao lado de Liev Schreiber (“Pânico”,”Wolverine”), ator, mas uma contribuição
um palhaço”, a palestra “Con- ator hollywoodiano, que recebeu o prêmio Tony em 2005 horizontal e harmônica de
versa sobre Plínio Marcos”, com por sua performance na peça “Glengarry Glen Ross”. cada integrante do projeto.
Kiko Barros, filho do dramatur- Na história, escrita originalmente em 1955, Scarlett Johans- “O artista formado pela Es-
go, e a oficina “Modos de Gestão son vai interpretar uma garota órfã de 17 anos que desperta cola participará de um uni-
Coletiva e Produção Cultural”. a paixão de seu próprio tio, um estivador vivido por Schrei- verso múltiplo e dinâmico,
Os espetáculos acontecem no ber. A produção teatral será dirigida por Gregory Mosher, no qual cada setor dialogará
início de dezembro e detalhes da que já realizou montagem de “Um bonde chamado desejo” plenamente com o outro”,
programação estão disponíveis com Alec Baldwin e Jessica Lange no elenco. explica o diretor pedagógi-
Plínio Marcos é lembrado
em www.pliniomarcos.com co.
Jornal de Teatro 1º a 15 de Novembro de 2009
5
Divulgação
Bastidores
FESTIVAL DE TEATRO PARNAMIRIM, NO RN, RECEBE INVESTIMENTO
DE FOZ DO IGUAÇU DE R$ 3,3 MILHÕES DO GOVERNO FEDERAL
ATRAIU PÚBLICO PARA CONSTRUÇÃO DE TEATRO
DE 6 MIL PESSOAS Durante visita à cidade, o ministro da Cultura, Juca Ferreira,
A 7ª edição do Festival de prometeu liberar R$ 3,3 milhões para a construção da sala multiuso
Teatro de Foz do Iguaçu levou em Parnamirim. Segundo a deputada Fátima Bezerra, presente ao
ao Iguassu Boulevard e tam- encontro, o valor total do projeto é de R$ 5,3 milhões e a prefeitura
bém às salas do Sesc, Fundação entrará com uma contrapartida de R$ 1 milhão.
Cultural e Teatro Barracão, cer- No próximo dia 12 de novembro, a secretária de Cultura e o se-
ca de seis mil pessoas durante cretário de Obras de Parnamirim, acompanhados da deputada Fá-
os sete dias de apresentações. tima, terão nova audiência com a secretária-executiva do Ministério
Foram encenados 16 espetácu- da Cultura, Silvana Meireles, para dar encaminhamento ao projeto
los nacionais e sete municipais, naquele ministério.
além de documentário, sarau,
wokshop, contação de histó-
ria, palestra e leitura dramática.
SEGUE EM SÃO PAULO A
O secretário geral da Funda-
CAMPANHA “VÁ AO TEATRO”
ção Cultural, Adilson Pasini,
“Édipus Rex”, da Corpos Nômades, mescla diferentes estilos de dança Desde o dia 26 de outubro (e até o dia 13 de dezembro),.o
avaliou o sucesso do festival.
público paulistano poderá aproveitar diversos espetáculos
Disse que a participação do pú-
COREOGRAFIA REÚNE CARNAVAL E HIP-HOP em cartaz a preço popular. Trata-se da campanha “Vá ao
blico superou as expectativas e
Projeto pensado e gestado desde 2001, “Édipus Rex”, o Teatro”, que tem o objetivo de incentivar o espectador a co-
todos os dias do festival as sa-
novo espetáculo da Cia. Corpos Nômades, estréia dia 13 de nhecer montagens sem gastar muito. Mais de 60 peças desti-
las ficaram lotadas. “A presença
novembro, na sede da companhia (Rua Augusta, 325, São Pau- narão, no mínimo, 10% da lotação da sala à campanha. Isso
de grande público só justifica a
lo), sob a direção de João Luís Minelli Andreazzi, que com- fará com que montagens como “Cloaca”, “Calígula” e “Valsa
necessidade da construção de
pleta, em 2009, 20 anos de carreira como coreógrafo. “Édipus Nº 6”, que estão na faixa de R$ 30, e produções como “Essa
um espaço para no mínimo 1,5
Rex” mescla dança contemporânea, teatro, vídeoarte e funde é a Nossa Canção” e “As Pontes de Medison”, que ficam
mil pessoas”, enfatizou. Para
os elementos do Hip-Hop, (com o rapper Terra Preta), do gra- entre R$ 60 e R$ 80, tenham ingressos a R$ 5. Mas vale ficar
2010, a proposta da organiza-
fite (com o grafiteiro Tota), da música (com o DJ Dan-Dan) atento pois, a cada apresentação, esgotada a cota, o preço do
ção é trazer mostras que con-
e do Carnaval (com o Mestre Sala Gabi, da Escola de Samba bilhete volta ao valor original.
greguem grupos da América
Camisa Verde e Branco). Mais informações em www.ciacor- Latina. (Com informações da
posnomades.art.br ABN News)
Paulo Cesar da Silva
Debora Duarte no lançamento da Coleção Aplauso Wagner de Assis e Stenio Garcia estiveram presentes Claudio Fragata e Jorge Loredo fizeram questão de estar no lançamento
LANÇAMENTO DO
200º TÍTULO DA
COLEÇÃO APLAUSO
Aconteceu, dia 28 de outubro,
no Shopping Frei Caneca, em São
Paulo, a grande festa de lançamen-
to de mais de 30 novos livros da
Coleção Aplauso. Stênio Garcia,
Débora Duarte, Umberto Magna-
ni, Mauro Mendonça, Sergio Ro-
veri, Naum Alves de Souza, José
Renato, Wagner Tiso e Fernando
Peixoto são alguns dos biografa-
dos que estiveram presentes no
evento que comemorou o 200º
título da coleção e prestou home-
nagem a Tônia Carrero e Mazza-
ropi, duas estrelas dos Estúdios da
Huber Alquéres, Tânia e Germano Pereira Tânia Carvalho era só alegria em evento Hubert Alquéres e José Serra marcaram presença Vera Cruz.
6 1º a 15 de Novembro de 2009 Jornal de Teatro
Editais
Programa de Intercâmbio e Difusão Cultural
Para viagens em fevereiro de 2010, as inscrições vão até 30 de novembro. Programa se destina a artistas e técnicos da área cultural
O Ministério da Cultura MinC, ou por uma de suas ins- pessoas físicas, grupos ou enti- área cultural em que se insere; turais brasileiras; intercâmbio
divulgou o segundo edital de tituições vinculadas. dades culturais privadas e sem caráter inovador da atividade; e apropriação de tecnologias,
2009 do Programa de Inter- As inscrições variam de finalidade lucrativa, cujas candi- contribuição para a difusão e a além de conhecimento e troca
câmbio e Difusão Cultural, que acordo com o mês em que se daturas serão divididas em soli- valorização das expressões cul- de experiência.
cobrirá as viagens a se realiza- realizará a viagem (ver calen- citações de grupo e solicitações
rem até abril de 2010, para as dário abaixo). Em Brasília, os individuais, que concorrerão
quais serão disponibilizadas, interessados que não tiverem separadamente. Apenas no caso
no total, R$ 1,9 milhão do acesso à internet podem se destas últimas poderão ser apre- CALENDÁRIO DE INSCRIÇÕES:
FNC (Fundo Nacional da Cul- encaminhar à sede do MinC, sentados pedidos com vistas à
Data das viagens previstas e prazo para
tura). O programa se destina a na Esplanada dos Ministérios, residência artística ou curso de encaminhamento das solicitações:
artistas, técnicos e estudiosos bloco B, 1º andar, Divisão de capacitação de profissionais da Fevereiro de 2010 - até 30/11/2009
da área cultural, convidados a Atendimento ao Proponente/ cultura. Março de 2010 - até 20/12/2009
participar de eventos fora do SEFIC, onde será disponibili- Os critérios a serem consi- Abril de 2010 -até 20/12/2009
seu local de residência para zado, das 8h às 18h, de segunda derados na avaliação serão os
apresentar trabalho próprio, fa- a sexta-feira (exceto feriados), seguintes: relevância do evento INSCRIÇÃO DE GRUPOS:
zer residência artística ou curso computador para inscrição. e da instituição promotora para http://www.cultura.gov.br/site/edital-de-intercambio-n-2-2009-
de capacitação de profissionais É possível anexar documen- a área cultural da atividade de- requerimento-de-grupo-entidade/
da cultura. O evento deve ser tos comprobatórios do currícu- senvolvida; adequação do his-
promovido por instituição bra- lo ou outros tipos de material tórico de atuação do candidato INSCRIÇÃO INDIVIDUAL:
sileira ou estrangeira, de reco- (artigos publicados, portfólio, ao trabalho ou estudo propos- http://www.cultura.gov.br/site/edital-de-intercambio-n-2-2009-
nhecido mérito, desde que não etc.) que o candidato julgar re- to; relevância da atividade a ser requerimento-individual/
seja apoiado ou realizado pelo levantes. Podem se inscrever realizada/desenvolvida para a
Marketing Cultural
Porto Seguro: duas décadas investindo em espetáculos pelo Brasil
Seguradora já patrocinou mais de 30 peças teatrais. Entre cinema, música e literatura, já são quase 100 eventos apoiados pela empresa
Divulgação
Há mais de 60 anos no dar o Brasil a engrenar cultu-
mercado, a Porto Seguro ralmente é o teatro. A Porto
nunca se limitou, apenas, a Seguro apoia espetáculos de
levar conforto e segurança dramaturgos espalhados por
aos brasileiros. Considerada todas as regiões em território
uma das empresas líderes no nacional. Peças nos estados
País, no setor de seguros de de São Paulo, Rio de Janeiro,
automóveis e saúde, a cor- Goiás, Santa Catarina, Rio
poração sempre visou alçar Grande do Sul, Minas Ge-
voos altos, buscando au- rais, entre outros, já recebe-
mentar seu leque de atuação. ram auxilio da marca.
Fugindo do estigma de mul- Umas das encenações que
tinacional capitalista, sempre ganhou destaque em solo
visando lucros e mais lucros, nacional e conta com o pa-
a Porto Seguro começou a trocínio da Porto Seguro é
auxiliar projetos culturais no o musical “Beatles num céu
ano de 1981. de diamantes”. O espetáculo,
Desde então, quase 100 dirigido por Charles Möeller
eventos, sejam eles teatro, e Cláudio Botelho, percor-
cinema, música, literatura ou reu diversas capitas do Brasil
qualquer manifestação artís- apresentando músicas do gru-
tica que possa levar uma fa- po num roteiro teatral, com
gulha de cultura ao povo, já 11 atores-cantores acompa-
foram patrocinados pela se- nhados por piano, violoncelo
guradora. “Na Porto Seguro e percussão. A peça, consi-
sabemos da importância do derada um grata surpresa em
incentivo para propostas ori- 2008, foi classificada como
ginais e inovadoras. Por isso, uma revista musical sobre o
buscamos valorizar a produ- extenso repertório dos Bea-
ção e os artistas, colaborando tles, apontando diversas his-
com a preservação do patri- tórias e situações vividas pela “Beatles num céu de diamantes” contou com patrocínio da Porto Seguro e ganhou destaque em solo nacional
mônio nacional”, afirma a ge- banda de Liverpool.
rente de marketing da empre- Saindo das peças tradi- passa com seu show: “A Arte musicais dos anos 80 fazem preferência, descobrir novos
sa, Tanyze Marconato. “Além cionais, o Stand-Up Come- do Insulto”. Com a ajuda da parte do seu repertório. talentos. É o caso do cantor
disso, estamos contribuindo dy também recebe o apoio Porto Seguro, o artista já le- Apesar de estar beiran- e compositor Chico Pinheiro,
diretamente para a formação da seguradora, através das vou sua obra a mais de 50 ci- do quase a marca centenária que excursiona por estados
de um País melhor. Sabemos apresentações do humorista dades do País. Em seu espe- em apoio a eventos, a Porto do Brasil. Após o lançamen-
que a arte é uma maneira de Rafinha Bastos. Rosto mar- táculo, Rafinha Bastos abusa Seguro não pensa em parar. to de seu CD, com total pa-
fazer o Brasil crescer.” cante na televisão, graças ao do humor politicamente in- Pelo contrário. A ideia é con- trocínio da empresa, Chico
Uma das ferramentas que programa CQC, Rafinha ar- correto. Piadas sobre morte, tinuar ajudando mais e mais Pinheiro foi considerado um
a empresa mais usa para aju- ranca gargalhadas por onde casamento, e até mesmo hits manifestações culturais. E, de boa revelação da atual MPB.
Jornal de Teatro 1º a 15 de Novembro de 2009
7
Formação
Entrevista
em tudo que faço. Quero é ser pitada certa para o drama. Fazer
uma pessoa possível. Não sou comédia fina, requintada, é muito
um estereótipo de beleza: sou difícil. Se eu contar uma história
uma mulher de 58 anos que está muito triste da minha vida para
de bem com a vida. Não faço essa você, você vai ouvir em silêncio
linha “qual é a minha dieta para e vai até chorar. Agora, tirar uma
emagrecer quatro quilos em uma risada de uma pessoa, principal-
semana”. E aí tem uma coisa que mente nos dias em que estamos
estou achando muito interessan- vivendo, é muito difícil. Ser ator
te: no teatro: as pessoas se co- é um dom. Se o ator ainda por
movem tanto com a personagem cima tem o dom da comédia é
porque elas estão olhando uma uma dádiva.
mulher de 58 anos que é possível.
Posso estar um pouquinho acima JT – Como e quando foi que
do peso para os padrões de tele- você e o Caruso se encontra-
visão, mas as pessoas acham tão ram pela primeira vez?
possível aquela mulher, aquele JF – Foi em nosso primeiro
homem que é alto e magro (Mar- grande fracasso. A gente se co-
cos Caruso), que se identificam. nheceu em um fracasso chamado
“Peri e Ceci”. Era um pseudo-
JT – Falando do seu início no musical horrível, onde ele fazia
teatro, você mencionou a épo- um fidalgo português e eu uma
ca da ditadura como algo que, índia. O figurinista me botou de
de certa forma, impulsionou índia americana. Era um horror,
sua carreira. Você acha que era tudo ruim. Mas, graças a esse
anda faltando mais espetácu- trabalho, a gente teve a felicidade
los de contestação? de se encontrar e viver um lindo
JF – Falta contestação gostosa. casamento de 20 anos. E deu
Não adianta subir ao palco e falar mais do que certo. Estamos há
um monte de coisas para calar a mais de 15 anos separados, mas Ao lado do ex-marido, Marcos Caruso, com quem contracena em “As Pontes de Madison”: respeito e carinho
10 1º a 15 de Novembro de 2009 Jornal de Teatro
Técnica
Vera Karam:
Horário: 21h
Juiz de Fora:
Espetáculo: “Dom Quixote”
Data: 6/11
Local: Cine Teatro Central
Horário: 21h uma paixão no palco
Belo Horizonte:
Por Rodrigo Monteiro, Humor negro: rimos do que não se
Espetáculo: “Dom Quixote” ri. Vera K. faz ver na estranheza do
Data: 7/11 especial para o
Jornal de Teatro* outro o estranho em nós mesmos.
Local: Palácio das Artes
Fotos: Divulgação
Horário: 21h Vera Karam completaria 50 Eu saí. Palmas são ouvidas. A ideia
anos em 2009. A Coordenação de do projeto é de Marcelo Adams. A co-
Espetáculo: “A Bela Adormeci- Artes Cênicas de Porto Alegre pos- ordenação é de Breno Ketzer Saul.
da” sibilitou, entre os dias 19 e 22 de
Data: 8/11 outubro, uma oportunidade de co- Vera entra. Vermelho. Estudou
Local: Palácio das Artes nhecer e lembrar desta que, junto Letras e Artes Dramáticas. Con-
Horário: 19h com Ivo Bender e Caio Fernando viveu com o câncer no intestino
Abreu, completa a tríade dos gran- durante cinco anos. Admirava Eu-
Grand Moscow
des dramaturgos gaúchos. Estamos genne O’Neil, Tennesse Williams e
Salvador: no evento. A luz sobe: um vermelho Nelson Rodrigues. Recomendava
Espetáculo: “Dom Quixote” intenso a lembrar os lábios irreme- “Gueto Bufo” (espetáculo dirigido
Data: 10/11 diáveis de Vera. Trilha: veludo veloz. por Daniela Carmona, ainda em
Classical Ballet
Local: Teatro Castro Alves cartaz) e “Jogos na hora da sesta
Horário: 21h Eu: (Direção: Paulo Albuquerque). Dizia
Lembrava dos títulos e tenho que a vida era difícil. Quase tinha
Espetáculo: “A Bela Adormeci- os contos publicados. Para mim, ataques cardíacos com alterações
fará 15 apresentações no Brasil da” no entanto, que vergonha!, até
então, ela era uma desconhecida.
em seu texto e fazia questão de
Data: 11/11 manter uma estreita relação com
Em meio a turbulências po- Vasilyov, e com a participação E, por ela, vejo em mim desconhe- os diretores de seus espetáculos.
Local: Teatro Castro Alves cidos. Está nos seus diálogos esse
líticas, brigas com nações capi- dos solistas Artem Khoroshi- Odiava a novela “Laços de Família”,
Horário: 21h encontro em mim e comigo com
talistas e desespero nacional, lov, Marina Rzhannikova, Liou- mas gostava do Zé Victor Castiel.
outros que não conheço.
surgiu um grupo de dança que dmila Doxomova e Alexandra Curitiba:
ajudou a reconstruir a imagem Lezina, além de outros nomes, Vera (com língua afiada):
Espetáculo: “A Bela Adormeci- Entra o tempo. Palco claro. Vera Karam, também desco-
sofrida e autoritária da União o grupo, que conta com um da”
Soviética, e, com o passar do repertório com mais de 20 nhecida como Vera K, é natural de
Leituras dramáticas realizadas
Data: 12/11 Pelotas (RS), embora seja difícil de
tempo, transformou-se em produções - incluindo também por atores muito conhecidos na
Local: Teatro Guaira acreditar que uma pessoa nascida
uma das companhias de balé coreografias para balés como capital gaúcha (lista):
em Pelotas seja “natural”. É pro-
Horário: 21h Carlos Cunha e Laura Backes
mais respeitadas do mundo. Bolshoi e Kirov - leva ao pú- fessora de inglês, eterna estudante
Fundado em 1966 por um dos blico brasileiro as peças “Dom (A florista e o visitante); Raquel
Espetáculo: “Dom Quixote” de letras e ex-atriz, tendo largado
mais importantes coreógrafos Quixote”, de León Minkus, e Pilger (Visita à vovó); Marcelo Ada-
Data: 13/11 ms e Margarida Leoni Peixoto (O a carreira, por razões obscuras, no
do século XX, Igor Moiseyev, “A Bela Adormecida”, de Pyotr auge do anonimato. Avisa aos es-
o Grand Moscow Classical Ilyich Tchaikovsky, dois de seus Local: Teatro Guaira casal ou Você nunca disse que me
amava); Lourdes Eloy com Carlos tudiosos de sua obra que esta pode
Ballet foi um divisor de águas espetáculos mais marcantes. Horário: 21h ser dividida em A.O. e D.O. (Antes
para o balé internacional pelo Marina Rzhannikova, prin- Cunha (Dá licença, por favor); Cla-
da Oficina e Depois da Oficina).
seu caráter inovador. cipal bailarina do Grand Mos- Rio de Janeiro: rice Nejar, Giovana Zottis, Mariana
Velhinho e Fábio Castilhos (Quem Adora cantoras de blues; é apaixo-
Passados 43 anos, a com- cow Classical Ballet, consi- Espetáculo: “Dom Quixote” nada por Eugene O’Neill e fã incon-
sabe a gente continua amanhã?).
panhia se mantém viva e forte, derada uma das melhores do Data: 14/11 dicional de Ligia Fagundes Telles.
levando seus espetáculos pelos mundo, faz o papel de Aurora, Local: Citibank Hall Rio Mesas de debate, reflexão, Não menciona idade, mas deixou
quatro cantos do planeta. Nas a Bela Adormecida, e de Kitry, Horário: 21h memórias (lista): escapar que lembra da revolução de
suas quatro décadas de vida, o em “Dom Quixote”. Em seu Luiz Antônio de Assis Brasil (a 64: da Casa Louro, da revista “es-
grupo já teve nomes importan- vasto currículo destacam-se as Espetáculo: “A Bela Adormeci- prosa de Vera K.); Décio Antunes crita” e freqüentou os resquícios da
tes no cenário da dança mundial, atuações nas peças “Lago dos da” (a dramaturgia de Vera K.); Luciano “esquina maldita”. Adora pimenta,
como os artistas Michail Barysh- Cisnes”, “Romeu e Julieta”, en- Alabarse (a atriz, a iluminadora, a sabe de cor “...E o Vento Levou” e
Data: 15/11
nikov, Mukhamedov Irek, Kol- tre tantas outras. teatreira). leu “A Convidada” sete vezes. Tem o
Local: Citibank Hall Rio estranho hábito de falar de trás para
pakova Irina, Maksimova Eka- As coreografias foram cria- Horário: 18h
terina, Godunov Aleksander, das por Marius Petipa, em 1890, Espetáculo: diante. Aceita críticas, mas só pelo
Vladimir Malakhov, Stepanenko e, mesmo tanto tempo depois, Maldito Coração me alegra correio e acompanhada de fotos
Brasília: que tu sofras (Ida Celina com dire- 3x4. AJESED A SODOT AMU AOB
Galina e Stanislav Isaev. elas ainda são vistas como Espetáculo: “Dom Quixote” ção de Mauro Soares). ARUTIEL. Vera K.
Com coreografias marcan- algo inovador. Com um estilo Data: 18/11
tes e performances altamente marcado pela dramaticidade, Vera fica. Todos voltam. Au-
Local: Teatro Nacional Exposição de Fotos e Vídeos:
técnicas, aliadas a produções usam e abusam das atuações tores não morrem, não desapare-
Horário: 21h Foyer.
originais e um elenco de solis- dos dançarinos. Tanto “A Bela cem. Somos sempre convidados a
tas premiado, o Grand Moscow Adormecida” quanto “Dom visitá-los.
São Paulo: Público procurante:
já se apresentou em mais de 30 Quixote” refletem a constante
Espetáculo: “A Bela Adormeci- Homenagem.
países da Europa, América e busca da companhia por novas O pano não fecha. E ninguém
Ásia, e desembarca em novem- propostas e linguagens para a da” vai embora.
Saem.
bro em terras tupiniquins. Ao dança, num jeito próprio que Data: 20/11 e 21/11
todo, serão 15 apresentações une as tradições clássicas a Local: Teatro Abril Eu (vendo): * Rodrigo Monteiro é crítico teatral.
da escola. A turnê brasileira elementos modernos. Uma as- Horário: 21h Vera começou a escrever em Mestrando em Artes Cênicas na
passa por Porto Alegre, Juiz de sinatura que também está pre- 1990. Onze peças de teatro. Con- Universidade Federal do Rio Grande
Fora, Belo Horizonte, Salva- sente em produções como “O Espetáculo: “Dom Quixote” tos fundamentais. A habilidade de do Sul e colaborador das Revistas
dor, Curitiba, Rio de Janeiro, Lago dos Cisnes” e “O Quebra Data: 22/11 contextualizar nas relações familia- Informe C3 (Digital), Things Mag
Brasília e São Paulo. Nozes”, de Piotr Tchaikovsky; Local: Teatro Abril res ou, ao menos, próximas as im- (Impressa), dos sites Artistas Gaú-
Sob a direção artística de “Cinderela”, todas já encena- Horário: 20h possibilidades diante do estranho. chos e SATED/RS. É autor do blog
Natalia Kasatkina e Vladimir das pelo Grand Moscow. Relações trancadas, truncadas. www.teatropoa.blogspot.com.
12 1º a 15 de Novembro de 2009 Jornal de Teatro
Reportagem
som
M E R C A D O T E AT R A L D A N Ç A C O N F O R M E O
dos
musicais
Por Felipe Sil / JT
Espetáculos são cada vez mais sucesso no Brasil e ajudam a empregar artistas e técnicos
Divulgação
mente em Londres, onde era
costume lotar as salas de teatro.
Há 10 anos, eram poucos
os musicais em cartaz no Bra- CLÁSSICOS DIVIDEM
sil, o que contrastava com os O PÚBLICO COM
megassucessos de espetáculos TEXTOS INÉDITOS
como “Cats” e “O Rei Leão” na Outro espetáculo que tam-
Europa e nos Estados Unidos. bém deverá contar com o pa-
Dizia-se que o brasileiro não drão de 80 funcionários em
estava acostumado a espetácu- seu elenco é “Pernas pro Ar”,
los do tipo. A situação agora é que estreia dia 4 de dezembro,
outra. Basta citar como exem- em São Paulo, e tem como
plos os inúmeros musicais pro- principal estrela a atriz Clau-
gramados para estrear no final dia Raia. Muitas contratações
deste ano e no início de 2010. foram feitas pela produção do
Só para citar alguns: “Caro espetáculo para a operação
Amigo Charlie Brown”, “Cats” dos efeitos visuais 3D que irão
e “Jekyll and Hyde”. Quem co- permear a peça. “É algo bem
memora é o mercado de teatro. inovador e que envolve muita
Cada peça contrata, no mínimo, técnica. Como é algo novo aqui
80 funcionários, entre atores, no Brasil, tivemos que investir
cantores, bailarinos e técnicos. pesado no ensino e no aprendi-
>> Leandro Luna fará Charlie Brown e é apenas mais um artista que pode comemorar o sucesso dos musicais
No musical “Caro Amigo zado desse efeito. De qualquer
Charlie Brown”, que ainda está sil, em geral, ainda é muito ama- para a construção de cenários, dores é impressionante. Só que maneira, agora já está tudo pra-
em fase de audições e tem es- dor. Só que um ponto positivo é iluminação e outros tipos de fun- a situação já está bem melhor ticamente certo e em fase de
treia prevista para 27 de feverei- que a atual geração já tem cons- ções. É uma maneira alternativa que, digamos, nos anos 1980, finalização”, garante a diretora
ro do ano que vem, no Teatro ciência de que é preciso cantar de cortar custos e favorecer quando não havia praticamen- de produção Maria Siman.
Frei Caneca, em São Paulo, o e atuar”, revela Ricco, que tam- a peça. “Ao todo, juntando o te nada nem ninguém”, explica. A seleção dos artistas não
produtor Ricco Antony espe- bém seleciona artistas para “A pessoal específico do teatro, Exemplo claro da procura foi difícil. Já se espera que uma
ra contar com 70 pessoas. E o Cor Púrpura”, que pretende ficaremos com algo em torno por uma equipe técnica de pri- atriz com o currículo de Clau-
melhor: nem todas precisam ter estrear também em 2010. Sobre de 80 profissionais trabalhando meiro time no musical “Zor- dia Raia tenha um conhecimen-
experiência no ramo de musi- o processo, faz um comentário só para este musical” afirma o ro” é a contratação de Roberto to sobre os melhores profissio-
cais. “Gosto de formar pessoas surpreendente. “Preciso de ar- produtor César Castanho. Lage, prestigiado encenador nais do ramo. “Basicamente,
acostumadas ao teatro falado, tistas negros que saibam cantar A direção do espetáculo só paulista, com vasta atuação ela é a produtora do espetácu-
levando-as para o teatro musi- e não está sendo fácil encontrá- aceita profissionais que já te- nos diversos gêneros de teatro. lo. A quantidade de contatos
cal. Essa coisa de ensinar um los. Realizo audições em várias nham experiência no segmento “É um profissional com muita que ela possui é impressionan-
outro lado da arte para essas cidades e o que parecia fácil não de musicais. Para Cesar, este é bagagem e que só vai acrescen- te. Todos possuem experiência
pessoas é bacana”, comenta. está sendo”, conta. um fator “sine qua non” para a tar ao espetáculo” comemora em musicais e a maioria já tra-
Uma das maiores dificul- A produção do musical “Zor- excelência da peça. “Queremos Cesar. “Zorro” é um musical balhou com a Claudia. Isso é
dades enfrentadas por Rico, ro”, que tem estreia prevista para uma equipe técnica de primei- baseado no livro de Isabel Al- importante porque o Brasil co-
porém, é para encontrar mão- o dia 16 de março, em Paulínia, ro time. Se desejo uma peça de lende. A peça, porém, contém meçou a produzir espetáculos
de-obra qualificada. Pelo fato São Paulo, prefere selecionar um qualidade, acho que sou obri- várias referências não só ao já musicais há apenas dez anos e
de o mercado de musicais ser número certo de profissionais es- gado a procurar profissionais clássico da literatura, mas ao não há, ainda, muitos profissio-
recente no Brasil, ainda não há pecíficos para o elenco e reservar que já possuam experiência filme “A Máscara do Zorro”, nais qualificados”, diz Maria.
abundância de profissionais de a mão-de-obra técnica para cada no segmento. Ao contrário do de 1998, e ao livro de Johnston Na audição para o musical,
alto nível no País, o que preju- teatro em que for apresentado. que dizem, acredito que temos McCulley, “The Curse of Ca- que teve as inscrições encerradas
dica os diretores e produtores. Ou seja, cada casa de espetácu- muitas pessoas qualificadas. pistrano”. O musical fez suces- em julho deste ano, já dava para
“Não é fácil. O teatro no Bra- los fornecerá seus funcionários Claro que o número de ama- so por onde passou, principal- ver que, apesar de o espetáculo
Jornal de Teatro 1º a 15 de Novembro de 2009
13
Reportagem
prometer emprego para muita gente, era de sucesso na Brodway que tem estreia Chico Lima / Divulgação
preciso preencher requisitos bem espe- prevista no Brasil para 2010. Adaptado
cíficos. Mulheres, por exemplo, não po- da dramaturga britânica Catherine Jo-
deriam ter menos de 1m70 de altura. Já hnson, é baseado nas canções do grupo
os homens precisariam ter uma altura pop sueco Abba. A trama é ficcional e
superior a 1m75. Alguns tipos de vozes não tem exatamente relação com a bio-
pretendidos: sopranos belters, mezzo grafia dos músicos do conjunto. Trata-
belters, barítonos e baritenors. Era pre- se da estória de Sophie, uma garota de
ciso também ter habilidades em dança, 20 anos que ainda não sabe quem é seu
principalmente em bob fosse e jazz. pai. Tarefa complicada, já que sequer a
Sucesso no cinema e na Broadway, sua mãe sabe ao certo.
o musical “O Rei e Eu”, baseado no Para 2010 finalmente uma super
romance “Anna e o Rei Sião”, de Mar- produção 100% brasileira. Trata-se da
garet Landon, também terá uma mon- estréia em abril do CANDAGO, o mu-
tagem brasileira, em fevereiro de 2010. sical, um espetáculo que traz de volta
Dirigido por Jorge Takla, o musical terá o produtor e autor Claudio Magnavi-
no elenco, ao todo, 60 artistas. Destes ta, que foi o responsável por musicais
profissionais, 15 serão crianças. O espe- como Cole Porter – Ele Nunca Disse
táculo tem músicas de Richard Rodgers que me amava (o primeiro grande su-
(1902-1979) e letras de Oscar Hammers- cesso da dupla Charles Moeller e Clau-
tein II (1895-1960), responsáveis por su- dio Botelho), Company que teve o Musicais como ‘O Primo Basílio’ costumam contratar 70 artistas para a temporada
cessos como “Oklahoma!”, “Carousel”, próprio Steven Sondheim na platéia do
“South Pacific” e “A Noviça Rebelde”. Vila Lobos, Constellation e Comunitá. sília é celeiro de grandes talentos do culo é encenado no Brasil. Em 2006, o
É uma dupla de peso. Juntos, colecio- “Candago será a epopéia da construção mundo musical brasileiro. Sara Sarres, público de São Paulo e do Rio de Janei-
nam 34 prêmios Tony, 15 Oscar, dois de Brasília dentro da ótica operaria, do Alessandra Linhares, Frederico Silvei- ro já havia se encantado com a obra de
Grammy e um Pulitzer, entre outros. Na povo que a construiu. É uma obra que ra, Saulo Vasconcelos, , do maestro Andrew Lloyd Webber.
versão brasileira, as letras são de Cláu- envolverá mais de 120 pessoas, en- Marconi Araujo e Paula Copovilla. Va- Apesar do crescimento vertigino-
dio Botelho, responsável por versões tre músicos, atores/cantores e coro e mos priorizar a prata da casa na seleção so dos musicais no Brasil, o fator casa
de “Les Miserables”, “A Bela e a Fera”, fará parte da comemoração oficial dos do elenco. Seremos uma super produ- de espetáculos preocupa. São poucos
“Vitor ou Vitória”, “Chicago”, “My Fair 50 anos de Brasília” afirma Magnavita ção 100% brasileira em universo de os locais preparados para receber esse
Lady”, “A Noviça Rebelde” e “West Side que revela ainda “a idéia surgiu quan- remontagens de musicais estrangeiros” tipo de apresentação. A explicação mais
Story”. Na coreografia está Tânia Nardi- do apresentamos o Constellation no finaliza Magnavita. plausível é o pouco tempo de sucesso
ni. Os figurinos são de Fábio Namatame Americel Hall em 2003. Conversando Por fim, aquele que talvez seja o dos musicais no País. “Apenas agora os
e os cenários de Duda Arruk. com José Farani chegamos a conclusão maior sucesso da Broadway de todos empresários começam dar mais atenção
Também na pauta do próximo ano que a construção de Brasília era uma os tempos, tanto de crítica quanto de a este segmento e lançar novos teatros.
está “Jekyll & Hyde, o Médico e o verdadeira saga, uma epopéia do povo público, promete ser uma das maiores Em uma cidade grandiosa como São
Monstro” - baseado na estória de Ro- brasileiro que nunca havia sido contada atrações teatrais do Brasil em 2010. Paulo, por exemplo, só temos os teatros
bert Louis Stevenson. A procura para e que mereceria um musical.” Além de “Cats” é um musical composto por Alfa, Abril e Bradesco com capacidade
curar os problemas mentais de seu produtor, Claudio Magnavita é o autor Andrew Lloyd Webber e que teve sua para receber eventos deste porte”, la-
pai, portanto, resultam em um Jekyll dos Constellation, que teve o Jorginho estreia em Londres, em 1981. Sua con- menta Ricco. Cesar Castanho também
completamente louco, vagando pela Guinle como personagem e foi pro- sagração, porém, só viria 20 anos de- demonstra insatisfação com o pouco
Londres do século XIX com seu alte- duzido para comemorar os 75 da Va- pois, na Broadway. Foram mais de 50 número de salas nas grandes metrópo-
rego selvagem, Edward Hyde. “Jekyll rig e do Comunitá, sobre a imigraçao milhões de apreciadores, em um total les do Brasil. “Os musicais precisam de
& Hyde, o Médico e o Monstro” é um italiana no pós-guerra. A pesquisa vem de impressionantes 45 mil apresenta- espaço para funcionar bem. Há pou-
dos musicais que mais obtiveram suces- sendo realizada há mais de 5 anos e o ções. Basicamente, “Cats” é uma série cas salas no País e as que existem ainda
so na história da Broadway. musical esterá em abril a Capital Fede- de poemas de T.S. Eliot musicados e apresentam problemas. Há muita gente
Assim como o clássico de Stevenson, ral seguindo para temporada no Rio e com um roteiro acrescentado. Essa não no palco neste tipo de peça. Ainda tem a
“Mamma Mia” também é um espetáculo em São Paulo. “O curioso é que Bra- é a primeira vez que o famoso espetá- orquestra... Aí fica complicado”, critica.
‘O IDEAL ERA PROFISSIONALIZAR A COXIA. TER UMA EQUIPE PERMANENTE DE CARTEIRA ASSINADA E COM UM VOLUME DE PRODUÇÕES FIXAS.’
Marcado para estrear em abril de 2010, o JT- Quantas pessoas estão envolvidas na JT – Pode se comparar produções no Brasil
espetáculo “Candango – o musical” traz de produção de um grande musical no Brasil? com as que são realizadas no exterior?
volta aos palcos as produções de Claudio CM- Em “Company” tivemos uma orquestra de CM- Quando pudermos cobrar 100 dólares
Magnavita, responsável por sucessos como 16 músicos, 12 pessoas em cena e 30 pessoas por um tíquete poderemos estar no mesmo
“Cole Porter – Ele Nunca Disse que me ama- na equipe técnica. O problema é que as com- nível. Hoje com o fenômeno da meia-entrada
va”, “Company”, “Constellation” e “Comuni- panhias não se estabelecem no Brasil de forma um tíquete médio está em torno de 20 dóla-
tá”. O autor revelou ao Jornal de Teatro as permanente. Usamos mão de obra temporária, res no Brasil. Fica difícil ficar milionário pro-
particularidades deste espetáculo 100% bra- que pula de produção em produção. O ideal era duzindo e montando musicais. O Cameron
sileiro e revela a motivação para apresentar profissionalizar a coxia. Ter uma equipe perma- MacKintosh é uma das maiores fortunas da
a saga da construção de Brasília. nente de carteira assinada e com um volume Inglaterra. O que diferencia são os nossos ar-
de produções fixas. Para isso o produtor tem tistas. Completos e que dão alma no palco.
Jornal de Teatro – Como é produzir um que ter o seu próprio teatro, como ocorre nos A nossa equipe técnica é brilhante. Quem
tema 100% nacional em meio a estréia de Estados Unidos e em Londres. trabalha com teatro no Brasil faz primeiro por
grandes musicais internacionais? paixão e depois por questões financeiras.
Claudio Magnavita – No Rio desenvolvemos JT- Quais são os principais problemas para pro- JT- Como é voltar a produzir depois de um in-
no início desta década um jeito brasileiro de duzir teatro musical no Brasil? tervalo de quase cinco anos? O cenário mudou? JT- E o Candango?
fazer musicais. Aliás, o renascimento do gê- CM- A concorrência desleal, como foi o caso CM- Sim, mudou muito. Quando montamos CM- Está sendo pensado nos mínimos detalhes.
nero deve ser creditado ao “Abre Alas” e Ro- da Prefeitura do Rio em um passado recente e “Cole Porter” tínhamos excelentes atrizes É uma estreia que fará parte da programação dos
samaria Murtinho merece um troféu por ter a Lei Rouanet que fazem com que algumas pro- que não cantavam e grandes cantoras que 50 anos de Brasília. Trata-se de uma super produ-
trazido os musicais de volta ao Brasil. Outros duções surjam sem estarem sintonizadas com não atuavam. A magia era equilibrar as coi- ção e com responsabilidade histórica. Este pro-
espetáculos surgiram, dentro de uma fór- o público. Cumprem agenda só para embolsar sas. Hoje temos uma geração pronta. Gran- jeto me acompanha há mais de seis anos. O
mula brasileira. O próprio “Costellation” era os patrocínios sobre renúncia fiscal. des cantores que são grandes atores. Além curioso é que é mais uma produção com a le-
uma história que se passava no Rio dos Anos disso o musical esta ganhando uma nova tra C. Todos os outros começavam com C. Cole
Dourados, com o ‘Copa’, Jorginho Guinle, o JT – Prefeitura do Rio??? geração. É só ver o sucesso do High Scho- Porter, Company, Caminito, Carmem Miranda
próprio avião Constellation... Foi assistido CM- Sim, durante uma fase ficou impraticável ol. Uma platéia de adolescente apaixonados By Dussek, Concertos Americanos, Comunitá,
por quase 300 ml pessoas, o CD saiu pela produzir no Rio. A prefeitura bancou grandes pela magia dos musicais. No “Constellation” Cantoras do Radio e Constellation. Agora é a vez
gravadora Som Livre e uma de suas músi- musicais a fundo perdido e depois todo o acervo sentíamos isso com o projeto escola da Cin- do Candango. Mas em 2010 tenho o projeto da
cas virou tema de abertura de uma novela da produção passava a ser propriedade da com- tia Abravanel. A criançada ia ao delírio. O Ópera do Futebol. Será uma grande produção
da Rede Globo. A estréia foi uma noite de panhia. Ficavam em cartaz no Rio a R$ 7,50 e Bradesco teve a sua primeira experiência de para a obra do Francis Hilme e Silvana Contijo. O
revista Caras. Não devemos temer a concor- depois iam para São Paulo com uma bilheteria de patrocínio de teatro com o “Constellation”, Francis disse brincando que para dar certo vai
rência das montagens internacionais. Uma R$ 80,00 e até voltavam para o Rio para a rede através da amizade do meu então sócio Luiz rebatizar o trabalho de “Craque! A Ópera do
país musical como o Brasil não poder ter privada e a Prefeitura não via de volta um único Rondon com o Luiz Carlos Trabuco. Hoje o Futebol”. A ideia é estrear em Joahnesburgo
receio de ter os seus próprios blockbusters centavo do que foi investido. Isso paralizou por banco abraçou o teatro. Produzir hoje esta no período da Copa do Mundo de 2010 e
do teatro musical. uns cinco anos a produção privada no Rio. bem mais fácil. ficar em cartaz até 2014 em turnê mundial.
14 1º a 15 de Novembro de 2009 Jornal de Teatro
E N T R E V I S T A Cláudio
Botelho:
Cláudio Botelho
‘Atualmente
há muitos
profissionais
bons no País’
Por Felipe Sil / JT de profissionais para suas peças escolas e oficinas de teatro,
e comenta sobre o mercado te- hoje, ainda não há matérias
Ator, cantor e diretor e atral brasileiro, além, claro, de específicas sobre musicais. A
versionista, Claudio Botelho é falar sobre a nova produção maioria das pessoas que se
considerado um dos principais sua com Charles: “Gypsy”, que especializa neste segmento re-
nomes do teatro musical no tem estreia prevista para março aliza cursos paralelos, como
Brasil. Em parceria com Char- de 2010 no Teatro Villa-Lobos, aulas de canto. Não sei se isso
les Moeller, costumam ser cha- no Rio de Janeiro. é bom ou ruim, mas este é um
mados por aí de “OS caras dos fato que deve ser lembrado.
musicais”. O primeiro gran- Jornal de Teatro – Quantos
de sucesso da dupla começou funcionários farão parte do JT – Como é a seleção da área
com “Cole Porter – Ele Nunca musical “Gypsy”, que estreia técnica para seus espetáculos?
Disse que Me Amava”. Pro- em março de 2010? CB – Nós sempre trabalhamos
gramado para ser um piano no Claudio Botelho – “Gypsy” com a mesma equipe. Dessa
palco e seis atrizes/cantoras o será um musical enorme. Mui- maneira, conseguimos criar um
musical foi produzido pelo jor- to grande. Serão, no mínimo, bom entrosamento entre os
nalista Claudio Magnavita, que 35 artistas. Ao todo, contando funcionários e manter um pa-
resolveu investir na idéia e até técnicos e outras funções fora drão de qualidade.
amplia-la. Ganhou figurinos do palco, acredito que con-
de alta costura assinados pelo taremos com pelo menos 70 JT – Pelo fato de um musical
português Antonio Augustus funcionários. Só a orquestra exigir muito de seus profissio-
e um trabalho de marketing tem 20 músicos. Sem dúvida, nais, há um acompanhamento
nunca visto antes no mun- é uma megaprodução. desses funcionários?
do dos espetáculos. Os três CB – É lógico. Sempre há, por
“C” Claudio Botelho, Charler JT – Vocês costumam procurar exemplo, um acompanhamento
Moeller e Claudio Magnavita, profissionais que já possuam vocal. Alguns artistas já contam
transformaram o quarto C, de experiência em musicais ou é com profissionais particulares
Cole Porter em um fenôme- possível trabalhar com artistas que os ajudam, mas sempre da-
no. Assistido por mais de 250 de outros segmentos do teatro? mos todo tipo de suporte. anos. É considerado um clás- alguns outros teatros. Dá para
mil pessoas o musical saiu do CB – Há um misto de tudo. sico dos clássicos e tem uma perceber claramente que os em-
pequeno teatro Arena do Rio Não existe um método espe- JT – O crescimento de um seg- carpintaria elogiada por todos presários têm notado o cresci-
direto para os palcos do Tea- cífico que utilizamos para con- mento de teatro no Brasil que que conhecem musicais. Esta mento dos musicais no Brasil.
tro Alfa em São Paulo e depois tratar. Sempre fazemos testes tem o costume de contratar será a primeira montagem des-
para o Cassino do Estoril em com muitas pessoas e pegamos tantos artistas e técnicos é bom te espetáculo aqui no Brasil e JT – Mas por que, em um País
Portugal. Na sequência des- aquelas que se adaptam melhor para o mercado brasileiro? estamos muito felizes com isso. tão musical como o nosso, os
te sucesso, Botelho e Moeller a determinado personagem. CB – É realmente muito bom O enredo conta a história de musicais demoraram tanto
convenceram Magnavita a pro- Geralmente trabalho com elen- para o mercado. Imagine a Gypsy Rose Lee, uma stripper tempo para fazer sucesso?
duzir “Company”, considerada cos novos. Os requisitos são quantidade de pessoas traba- famosa e sua relação dela com CB – Na verdade, até os anos
pela Sondheim Review uma sempre diferentes. Em algumas lhando hoje que teria dificulda- a mãe, uma mulher obsessiva 1970, nós até tínhamos muitos
das melhores montagens inter- ocasiões precisamos de alguém de em arrumar algum emprego que acabou se transformando musicais. Tivemos, inclusive,
nacionais. Sucesso de publico e com dotes mais operísticos. no teatro que era feito antes. em estrela. Quem faz a Gyp- diversas produções gigantes.
critica a carreira da dupla estava Em outras de um artista com Muitos atores que participam sy é Adriana Garanbone. No Só que depois, com o regime
decolando a partir destas duas voz mais natural. Às vezes, ne- hoje de musicais poderiam es- elenco estão 35 atores, entre militar, este segmento entrou
produções. Só para citar alguns cessitamos de comediantes. Às tar por aí treinando para exer- bailarinos e cantores, que per- em desuso. O teatro começou a
dos trabalhos em que Botelho vezes, de dramáticos. cer pequenos papéis na TV. correm a trajetória da persona- tratar de assuntos menos agra-
participou, estão “O Fantasma Hoje, os musicais são uma re- gem desde a infância. dáveis do que os geralmente
da Ópera“, ”My Fair Lady“, JT – É difícil, hoje, encontrar alidade do cenário. abordados por musicais. A pró-
“Miss Saigon“,” Sweet Cha- mão-de-obra qualificada no JT – Como estão as condições pria classe musical não tinha
rity“, “Side By Side By Son- Brasil? JT – Por que você e Char- das salas de teatro no Brasil interesse e isso voltou com a
dheim“, “Company“, “Cole CB – De maneira alguma. Atu- les escolheram a peça “Gyp- para receber musicais? nossa geração, que é a dos anos
Porter”, “West Side Story“, “A almente já há muitos profissio- sy” como o próximo projeto? CB – Olha, estaremos aper- 1980. É tudo uma questão de
Noviça Rebelde” e “Avenida nais bons no País. Antes não CB – “Gypsy” é um musical tados no Teatro Villa-Lobos. interesse teatral. Este interesse
Q”. Nesta entrevista ao Jornal existia quase ninguém, porque muito antigo e famoso da Bro- Há poucos teatros no Rio de existe hoje no Canadá, na Aus-
de Teatro, o diretor fala sobre também quase não existiam adway. Data de 1959 e, agora, Janeiro preparados para este trália e na própria Argentina.
como é o processo de seleção musicais. Mesmo assim, nas está fazendo justamente 50 tipo de produção. Acho que Na França, porém, não há uma
um dos motivos para isso é procura grande por este tipo de
que, por muito tempo, valori- espetáculo. É tudo questão de
zamos os espetáculos com um interesse do público.
ou dois atores. Todos os anos
abrem pequenas salas com 11 JT – Como analisa o atual ce-
ou 200 lugares. No Rio, teatros nário dos musicais no Brasil?
preparados para musicais são CB – Acho muito bom. Há mui-
o Villa-Lobos, o João Caetano, tos espetáculos bons estreando e
o Carlos Gomes e o Oi Casa é um mercado que se desenvol-
Grande. Em São Paulo, há o veu no Brasil. Há muitas obras
Teatro Abril, o Sérgio Cardoso, originais e também cópias. Só
o Alfa e o Teatro Bradesco, que que eu acho legítimo fazer có-
abriu agora. pias. Há muitas aqui no Brasil,
mas isso faz parte do jogo e do
JT – Há uma movimentação mercado. Nós, particularmente,
para a criação de mais casas de não nos interessamos em traba-
espetáculos que suportem es- lhar com cópias. Procuramos
tes grandes espetáculos? fazer espetáculos onde possa-
‘Beatles Num Céu de Diamantes’ é um dos maiores sucessos da dupla Cláudio Botelho e Charles Möeller CB – Sim! Já estão sendo feitos mos colocar o nosso dedo ali.
Jornal de Teatro 1º a 15 de Novembro de 2009
15
São Paulo Fotos: Guilherme Genestreti
O circo marcou presença no evento e emocionou o respeitável público Pessoas nas ruas, sedentas por arte O organizador Ivam Cabral (C) com Tatiana Passarelli e Sergio Salvia
Homenagem merecida
Divulgação
A atriz Cleyde Yáconis chega aos 60 anos de carreira com homenagens de dois teatros
Por Ive Andrade e de seu sócio, Roberto Montei- três personagens, se estabelece
ro. “O teatro se chamava Cosipa uma discussão sobre a vida, a
Completando 86 anos de vida e a marca foi absorvida pela Usi- solidão, a amizade e confiança.
este mês, a atriz Cleyde Yáconis minas, patrocinador do espaço, Os últimos papéis de Yáco-
teve dois teatros de São Paulo então o nome teria que mudar nis traziam mulheres igualmente
interessados em homenagear e de qualquer forma. São vários os densas aos palcos, como Karen
celebrar seus 60 anos de carrei- motivos que nos fizeram esco- Blixen, que inspirou “As Filhas
ra. Os espaços, um na Zona Sul lher a Cleyde: ela foi a primeira de Lúcifer”, de William Luce, a
e outro na Zona Leste da cida- atriz a se apresentar no teatro, viciada em morfina Mary Tyro-
de, disputaram o nome da artista morou no bairro por bastante ne, de “Longa Jornada de um
para batizá-los. O antigo Teatro tempo e tem uma carreira teatral Dia Noite Adentro” e a filósofa
Cosipa Cultura, localizado na re- irretocável, é a maior atriz brasi- Simone Du Beauvoir em “Ceri-
Com 288 lugares disponíveis, o teatro alia aconchego e praticidade
gião do Jabaquara, ganhou a dis- leira viva”, elogia Cardoso. mônia do Adeus”.
puta e passou a ser chamado de Quando estreou, a primeira
Teatro Cleyde Yáconis em setem- peça do Cosipa Cultura tinha a ESTRUTURA
bro deste ano, pouco depois de atriz homenageada como pro- O Teatro Cleyde Yáconis es- EM CARTAZ
completar um ano de atividade. tagonista. A reinauguração deu treou com o nome Teatro Cosi- O gestor do teatro, Fernando Cardoso, afirma que as peças apresenta-
“Essa história com o outro aos espectadores a oportuni- pa Cultura no dia 17 de março das não privilegiam um gênero teatral específico e os espetáculos também
teatro foi um mal-entendido, o dade de conferir de novo o ta- de 2008 e trouxe à capital pau- dão espaço para apresentações musicais. “Nós observamos a qualidade
administrador disse que seria lento de Yáconis no espetáculo lista mais uma opção de espaço do projeto, não temos preconceito quanto a formato, se forem bem produ-
apenas uma sala dentro de uma “O Caminho para Meca”, jun- teatral, com acesso pelo metrô zidos. Temos uma preferência por peças inéditas, mas em geral aprovamos
universidade e por isso a Cley- to com os atores Patrícia Gas- e arquitetura contemporânea. uma peça pela equipe envolvida em um nível alto de produção”.
de aceitou. Quando ela perce- par e Cacá Amaral, com dire- Com capacidade para 288 pesso- Segue até o final de novembro a peça “7 conto – A comédia”, com o ator
beu que seria outro teatro, ela ção de Yara de Novaes. O texto as, o teatro tem formato italiano, Luiz Miranda e direção de Ingrid Guimarães. Em dezembro, um show de natal
desistiu, pois já havia falado do dramaturgo sul africano dois camarins individuais e um será realizado com músicas brasileiras e apresentação da cantora Vanderléia.
conosco”, explica o gestor do Athol Fugard deu à experiente palco que conta com nove me-
novo Teatro Cleyde Yáconis, atriz o papel de Helen Martins, tros de proscênio, urdimento de SERVIÇO:
Fernando Cardoso. personagem inspirada na ar- 6,60mX11,00m e boca de cena Teatro Cleyde Yáconis – Avenida do Café, 277, Jabaquara
A ideia de dar o nome da tista Helen Elizabeth Martins. com quatro metros de altura e Telefone: (11) 5070-7018
http://www.teatrocleydeyaconis.art.br
atriz ao teatro partiu de Cardoso Através do encontro entre os nove de largura.
16 1º a 15 de Novembro de 2009 Jornal de Teatro
Um retra
Especial
Em matéria especial para o Jornal de Teatro, Nilton Guedes entrevista o ator, diretor, escritor e dramaturgo Ailson Braga, que fala
ato do Pará
Jornal de Teatro 1º a 15 de Novembro de 2009
ato
Especial
ae fala
sobresobre os mais
os mais de 30deanos
30 anos de atividade
de atividade teatral
teatral na capital
na capital paraense
paraense
CURRÍCULO ARTÍSTICO
Ailson Braga é ator, diretor teatral, escritor, dramaturgo e jorna-
lista. Faz teatro desde 1974, em Belém do Pará, e trabalhou com os
diretores paraenses: Henrique da Paz, Luiz Otávio Barata, Zélia Ama-
dor de Deus, Adriano Barroso, entre outros. Atuou em mais de 30 es-
petáculos. Em televisão faz comerciais desde 1981 e trabalhou como
ator em campanhas políticas do Partido dos Trabalhadores.
Apesar de atuar em Belém (PA), o artista teve passagens por
João Pessoa (PB), em 1985, onde trabalhou com Fernando Teixeira,
ator, diretor e dramaturgo no espetáculo “Um tomate esmagado por
um carro”; atuou em São Paulo, entre os anos de 1992 e 1996, sob a
direção de Robert McCrea (“A trágica história de vida e morte do Dr.
Faustus”), Carlos Palma (“Castro Alves pede passagem”), Flávio Costa
e Marcello Costa (“O circo do Seu Bolacha”).
Em teatro, ganhou prêmios de melhor ator no Festminas 1998,
com o espetáculo “Hamlet-máquina”, e melhor ator, em 1991, pela
Fesat (Federação Paraense de Autores, Atores e Técnicos de Teatro),
com o espetáculo “Caosconcadicáfica”. Em cinema, fez os filmes
“Araguaya - conspiração do silêncio”, de Ronaldo Duque; “O sol do
meio-dia” (2009) de Eliana Caffé, o DOC-TV “Chupa-Chupa - a história
que veio do céu” (2007), dirigido por Roger Elarrat e Adriano Barro-
so, “Miguel Miguel”, baseado na obra de Haroldo Maranhão (2009),
minissérie para a TV Cultura do Pará (a ser lançado), além dos curtas
“Vernissage”, de Roger Elarrat, e “Enquanto chove” (2003), filme de
Alberto Bitar e Paulo Almeida, baseado no livro homônimo de autoria
do próprio Ailson Braga. Faz a voz do personagem “Caranguejo”, nas
animações “Onda- festa na pororoca” e “O rapto do peixe-boi”, do
diretor e animador Cássio Tavernard. Também fez a voz do persona-
gem “Velho/Duende”, da animação “Cadê o verde que estava aqui?”,
de Biratan Porto.
Em 2002, lançou o livro “Enquanto Chove”, resultado da bolsa-
prêmio de literatura do Instituto de Artes do Pará. Foi selecionado
com o conto “O tripa” para o concurso “Machado de Assis” do Sesc-
DF no ano de 2007. Em 2008, foi convidado para o projeto Portfólio,
do Instituto Itaú Cultural, com o texto “Desterro”. Escreveu o texto “A
peleja dos soca-socas João Cupu e Zé Bacu”, montado pelos grupos
In Bust Teatro com Bonecos e Grupo Gruta de Teatro, ambos de Be-
lém do Pará. Ministrou oficinas de iniciação ao teatro, interpretação e
leitura de textos pela Fundação Curro Velho e de literatura (Iniciação à
poesia) pelo Instituto de Artes do Pará.
Teatro Estação Gasômetro, no Pará, é local para algumas das melhores peças do Estado e orgulho da cena local
surgimento de homens de tea- distâncias, mas ainda há mui- anos, estabeleceu uma política ense precisa ser mais divulgado NG: Há avanços na estrutu-
tro como o Adriano Barroso, to desconhecimento de quan- de editais, que inclui editais de para o resto do País. Acho que ra da política cultural?
que também atua na literatura to somos e o que fazemos em auxílio-montagem, de isenção temos uma forma de fazer tea- AB: Após 12 anos com
e no cinema. Além dele po- termos de teatro no Pará. de pautas nos teatros públicos tro muito coerente, muito con- uma Secretaria de Cultura
demos citar Ester Sá, David e de projetos voltados para as temporânea, com pesquisa e voltada para o patrimônio
Mattos, Adriana Cruz, Maurí- NG: O que precisa ser feito diversas regiões do Pará. Des- com compromisso. Acho que edificado – que é importante,
cio Franco, Aníbal Pacha, en- para o setor teatral paraense tacamos o projeto Cena In- a Amazônia também deve ser mas que excluiu os artistas e
fim, uma série de pessoas que alcançar níveis mais próxi- terior, que é de montagem de conhecida pela sua arte, pelo seu os produtores culturais – o
trabalha na capital e nos mu- mos do eixo Rio-São Paulo? espetáculos nos municípios do teatro. Também é preciso dizer governo do Estado começa
nicípios paraenses. Aí, acho AB: Nada. Seja sob o aspec- interior, com atores e técnicos que os atores e técnicos locais a abrir suas portas aos seg-
que vale um adendo sobre o to do bom ou do ruim, produ- da cidade escolhida para o pro- devem estudar mais a história do mentos artísticos, implanta-
tamanho de nosso Estado. O zimos coisas bem parecidas jeto e direção artística de um teatro paraense e olhar com mais do uma política pública de
Pará é enorme e muito diver- profissional paraense que vai cuidado o seu futuro. Temos que editais, ampliando as ações
às do eixo Rio-São Paulo. O nos questionar acerca de como
so. A mesma cultura da capi- que falta é essa troca de infor- para o município e trabalha será o futuro desse ofício em para fora da capital, reco-
tal, com suas comidas típicas, mações sobre o que fazemos com suas rotinas e métodos. nosso Estado, seja no âmbito da nhecendo a importância de
lendário e tudo mais, não é o aqui. Nós também não temos Isso é muito bacana, pois mos- produção artística, seja no âmbi- outras cidades na produção
que se vê no Sudeste do Es- conhecimento (ou sabemos tra a jovens que o ofício do ator to do mercado e da circulação. A de bens culturais materiais e
tado, com uma colonização bem pouco) do teatro de gru- exige disciplina e muito estudo. mim me parece que temos que imateriais. Após mais de uma
basicamente vinda do Sul e po feito nesse eixo. O que nos começar essa discussão o mais década com seu trabalho
Sudeste do Brasil. Então, o falta, basicamente, é uma pla- NG: Comente os pontos rapidamente possível. A discus- centrado na capital, longe
teatro paraense também é teia com mais educação para as mais expressivos na produ- são de uma lei específica para o dos artistas, as expectativas e
múltiplo e em muitos lugares artes e uma ampliação do mer- ção teatral paraense, exem- teatro, em nível estadual e que exigências são muitas da par-
está em processo de forma- cado. O mercado aqui ainda plificando aqueles que mar- garanta recursos financeiros a te de quem faz arte e cultura
ção de sua identidade. O in- está em formação. O que não caram a virada do milênio. serem aplicados em projetos de acerca do trabalho do gover-
tercâmbio, devido às distân- significa que é uma coisa ruim. AB: Não citarei espetácu- teatro, como já existem em Esta- no do PT. O governo tem
cias, também não ocorre de Falta, também, uma política los aqui porque cometeria uma dos como São Paulo, também já um desafio enorme: deixar
forma ideal. A internet está pública específica para o teatro. série de injustiças. Mas uma teve início e deve ter desdobra- sua marca de mudança nas
ajudando a diminuir essas O governo do estado, após 12 coisa eu afirmo: o teatro para- mentos interessantes. áreas das artes e da cultura.
18 1º a 15 de Novembro de 2009 Jornal de Teatro
Festivais
FIAC é marcado por grande presença de público e homenagens
O ator Harildo Deda foi homenageado nesta edição do festival, sem festa por conta do luto estadual pela morte de Neguinho do Samba
Fotos: Wellington Carvalho
Por Paloma Jacobina
Em meio a homenagens e experiên-
cias inovadoras do mundo do espetá-
culo, o FIAC (Festival Internacional de
Artes Cênicas da Bahia) deu a largada
aos dez dias de apresentações, oficinas
e debates que movimentaram a capital
baiana. Foram 53 apresentações distri-
buídas pelos 11 teatros baianos envol-
vidos na realização do festival, que, no
segundo ano de realização, foi marcado
pela forte presença popular.
A cerimônia de abertura, realizada
dia 23, no TCA (Teatro Castro Alves),
contou com a participação de grande
número de atores, diretores e amantes
do teatro, que encheram os 1500 assen-
tos do local para acompanhar o even-
to. No palco, a coordenação do FIAC e
parte da equipe agradeceram aos braços
fortes e mentes brilhantes que fazem o
festival acontecer.
Mas o evento de estréia do FIAC Foram 53 apresentações distribuídas pelos 11 teatros baianos envolvidos no evento O festival deu destaque para a estética
Bahia 2009 também projetou muitas
perspectivas para 2010. Ana Zalcber-
gas, da Caixa Econômica Federal, con-
firmou o patrocínio para o evento no PARTICIPANTES DO FIAC BAHIA 2009 DÃO O SEU DEPOIMENTO SOBRE O FESTIVAL!
próximo ano, e Marcelo Veras, diretor
da FAPEX, lançou o Prêmio FAPEX Por Joana Rizério / Divulgação FIAC brasileiro. Os quatro dias que passamos na “O FIAC é muito bem organizado. As pesso-
de Teatro! Antes mesmo do ator Michel Bahia não poderiam ter sido melhores e o que as que trabalham lá cuidam de cada detalhe
Melamed começar a peça “Regurgitofa- “É gigante a importância do FIAC. Sinto que
mais assusta é que esta é só a segunda edição! para fazer com que o festival seja uma boa
gia”, que marcou a abertura do festival, tem uma direção, mobiliza a cidade... Tem
Parabéns é pouco: o FIAC está experiência. A seleção dos grupos foi muito
o FIAC Bahia também prestou homena- esse intercâmbio, esse trânsito, essa troca
acima de qualquer expectativa.” boa e de muito bom gosto. O Ponto de
maravilhosa que é muito importante. É um
gem ao ator Harildo Deda. Rodrigo Nogueira, diretor e ator de Encontro no Barril, nem se fala: quando um
festival com muito axé!”
Monstro sagrado do teatro baiano, o Vera Holtz, diretora de O Estrangeiro
Madrigal em Processo ponto de encontro não funciona, perdemos
professor, recém aposentado da Escola essa parte incrível que é a de conhecer o
de Teatro da Universidade Federal da “Ótimo, maravilhoso, genial!”
“O FIAC é uma experiência excitante sobre público e os artistas.”Jorge Eduardo Becker,
Bahia, se emocionou com os aplausos como é possível a arte e os artistas recria- do grupo - Teatro em el Blanco
Trinidad González, do grupo Teatro
que recebeu ao ser chamado ao tablado rem a relação entre o público e a cidade de
em el Blanco
e soltou um inesperado “Deu branco!” Salvador.” “Eu achei maravilhoso. É um festival de
diante do TCA lotado, que riu à beça. Marcelo Rezende, jornalista e altíssimo nível. Os ingressos são baratos e
“Todo festival é bom, mas um bem feito é
“Ator não sabe falar, só sabe dizer o tex- curador do Lounge FIAC Oi Futuro a programação é ótima. Estou orgulhoso de
ainda melhor.”
to dos outros – e de óculos!” completou Guilherme Leme, ator de O Estrangeiro Salvador. A cidade merece isso.”
Harildo, colocando óculos para ler sua “Foi uma experiência de aprendizado. Wagner Moura, ator
fala, que incluiu um texto de Shakespea- Aprendi muito com os espetáculos e
“Fazer um festival não é só juntar peças de
principalmente com o público. Tive muitas “Gostei muito do FIAC! Fui muito bem
re e um trecho bíblico. teatro. Um festival tem que ter alma, cara,
surpresas – as oficinas foram ótimas – e fico recebida aqui. Fiquei impressionada com a
Criado em 2008, através do Núcleo digitais, identidade. O FIAC já nasceu com
muito contente de ter participado. Super bem
alma e conseguiu fazer a primeira parte do organização do festival e com a qualidade dos
Internacional de Festivais de Artes Cê- organizado o FIAC. eu só tenho a agradecer.” espetáculos.” Vanise Carneiro, coordenadora
nicas, o FIAC cresceu nesta edição. negócio: juntou um bom número das peças
Célio Amino, de Além da Mágica de produção do festival Porto Alegre em Cena
Este ano, contou com 27 espetáculos de teatro mais comentadas no panorama
(entre nacionais e internacionais) e oito
oficinas. “Regurgitofagia”, que utilizou para a estética. Queremos mostrar e dis- tinham o intuito de causar a ilusão no As apresentações foram marcadas
sensores de captação de sons que se re- cutir as propostas de como estão sendo espectador. “O jogo da ilusão é rom- pela forte presença popular. “Assisti a
vertiam em impulsos elétricos recebi- feitos os espetáculos atualmente, sem- pido nesse formato que estamos valo- todos os espetáculos que pude. Mui-
dos pelo ator em cena, marcou a aber- pre focado na valorização do jogo do rizando e discutindo este ano. Assim, to interessante o acesso a montagens
tura do festival, projetando para todos ator”, explicou um dos organizadores trouxemos espetáculos como “In on boas e de vários lugares diferentes
a proposta levada pelos organizadores do FIAC, o diretor de teatro baiano Fe- It” e “Rainhas”, que têm o caráter de sendo apresentadas para o público
para o evento de 2009. lipe Assis. Segundo ele, os espetáculos apresentar uma dramaturgia de meta- baiano”, afirmou a cantora e atriz Fer-
“Este ano, estamos dando destaque apresentados nas mostras deste ano não linguagem”, detalhou. nanda Fachinetti.
Política Cultural
MinC e sociedade civil se reúnem para debater políticas culturais
O Ministério da Cultura, uma nova reunião para o dia
a criação de um portal de dan- coordenador de Cultura Digi- nhou essa evolução. Precisamos
ça clássica é de competência de tal, presentes ao encontro. utilizá-la como parâmetro para
qual segmento: dança, audiovi- O secretário de Fomento e propor os critérios. É preciso
sual ou artes integradas? Qual é Incentivo à Cultura, Roberto ante toda a dificuldade fazer essa
o enquadramento na Lei Federal Nascimento, afirmou que a Co- ponte e fomentar esse diálogo
de Incentivo à Cultura? O artigo missão precisa avançar na defini- para definirmos esses parâme-
18, com 100% de renúncia fiscal, ção desses critérios, pois projetos tros e continuar nosso trabalho
ou artigo 26, que permite 30%? culturais com novas linguagens e de fomento à cultura”, explicou
Essas questões estão sem- características diversificadas es- Roberto Nascimento.
pre em discussão pelos con- tão sendo recebidos para análise O conselheiro Luiz Alber-
selheiros que compõem a Co- e a atual legislação não contem- to Carregosa, representante do
missão Nacional de Incentivo à pla mecanismo que corresponda Audiovisual na CNIC, afirmou
Cultura. A definição desses cri- às especificidades. que os critérios precisam ser Comissão Nacional de Incentivo à Cultura reunido: debate proveitoso
térios foi tema de sessão extra- “Encontramo-nos dentro definidos de acordo com os
ordinária, ocorrida no dia 21 de de um desafio que é conciliar conteúdos dos projetos e não essa área analisar.” todas as secretarias e instituições
outubro, em Brasília, imediata- o mundo real com todos seus pelo suporte empregado. “Não Atualmente, todas as pro- vinculadas ao MinC será imple-
mente após a 170ª Reunião da avanços tecnológicos, suas de- podemos legislar sobre tecnolo- postas que utilizam esses novos mentada uma nova “expertise”
CNIC. O debate contou com mandas e criar uma taxionomia gia, pois isso muda diariamente. suportes e mídias são enviadas de forma a que o enquadramen-
subsídios fornecidos por Fábio compatível com elas. Mas esse Temos que analisar o conteúdo. para avaliação da área do au- to seja feito pelo conteúdo do
Kobol, chefe de gabinete do processo precisa dialogar com Um CD, DVD, site ou portal de diovisual. O secretário Roberto projeto e não mais pelo formato
secretário de Políticas Culturais uma legislação que nesse sentido dança são projetos que cabem a Nascimento informou que em apresentado.
Vida e Obra
Ary Fontoura, sinônimo de talento e sensibilidade
Por Alysson Cardinali Neto que outras me decepcionam
Divulgação
pelo texto ruim”, revela Ary,
Coronel Artur da Tapi- que guarda com carinho, na
tanga, Nero Petraglia, prefei- memória, alguns trabalhos
to Florindo Abelha (seu Flô que executou nos palcos. “Na
para os íntimos), Nonô Cor- década de 1980, fiz excelentes
reia, Dino... Para quem ainda trabalhos em teatro, quando
não ligou tais nomes à pessoa pertencia ao elenco fixo do Te-
de Ary Fontoura, trata-se de atro dos Quatro que, na época,
parte da seleta lista de perso- era subvencionado pela Shell.
nagens às quais o ator – com Foi aí que fizemos ótimas pe-
raro talento e versatilidade de ças com elencos excelentes:
sobra – deu vida nas novelas “O Rei Lear”, “Assim é se lhe
“Tieta” (1989), “Bebê a bor- Parece”, “Sábado, Domingo e
do” (1988), “Roque Santeiro” Segunda” e “A Ópera do Ma-
(1985), “Amor com amor se landro” foram títulos que, sem
paga” (1984) e “Guerra dos dúvida, engrandeceram o meu
sexos” (1983). Uma carreira currículo”, avalia Ary.
intensa e vitoriosa. São mais Embora seja apaixona-
de 50 anos em ação, não só na do por teatro, Ary Fontoura
telinha, mas nos palcos das sa- não é menos aficionado pela
las de teatro e no cinema, onde televisão e pelo cinema e diz
este aquariano (nascido em atuar feliz e bastante con-
Curitiba, no dia 27/1/1933) fortável em todos os meios.
invariavelmente encanta pla- “Nada que faço em teatro,
teias dos mais variados gostos. TV ou cinema me desagrada.
Eclético, Ary brilha com sua Procuro entender que cada
estrela em papeis dramáticos trabalho novo é um desafio e
ou cômicos e tem como meta me preparo para isto. É como
a entrega absoluta ao trabalho. se eu fosse um operário. Mas
“É através dele que eu exerci- não brinco em serviço, pois o
to a vida”, diz, sem esconder público merece o melhor de
sua paixão pela arte. “Sem ela, mim. Quando você faz algu-
não seria a pessoa que sou.” ma coisa por amor, isto não
Ary Fontoura começou se constitui em nenhum sa-
cedo o caminho para se tornar crifício”, diz. “A mudança do
o ator talentoso que é. Aos veículo só modifica a forma e
quatro anos de idade já imi- a técnica de como contamos a
tava os adultos ao seu redor mesma história”, ensina, no-
e criava cenas teatrais. “Aos vamente, o mestre. Palavra de
dez anos, comecei a cantar em quem sabe. Afinal, só de Rede
programas infantis da Rádio Globo, são 41 anos encantan-
Clube Paranaense. E daí, nin- do e emocionando milhões
guém me segurou mais, pois de pessoas.
tomei consciência que seria “Costumo sempre dizer
um artista”, revela Ary, que que estar na televisão é tam-
começou a fazer teatro no Co- bém importante para um ator
légio Estadual do Paraná. Em expandir o seu trabalho e fir-
1950, criou a Sociedade Para- mar sua qualidade junto ao
naense de Teatro e, em 1955 público. Teatro e TV são uma
(ao lado de Glauco de Flores dobradinha infernal”, avalia
Feliz com sua trajetória, Ary Fontoura faz uma declaração de amor à arte: ‘Sem ela, não seria a pessoa que sou’ Ary, que viveu o ápice de sua
de Sá Brito), o Teatro Experi-
mental do Guaíra, onde atuou carreira na televisão na novela
em “É Proibido Suicidar-se vocação. Afinal, Ary chegou um dia em que todo mundo humildade”, diz. Ele prefere Roque Santeiro, no início dos
na Primavera”, primeira mon- a engraxar sapatos, trabalhou estava saindo das ruas. Cheguei falar, mesmo, é de teatro, uma anos 1990. “O grande momen-
tagem teatral independente como cozinheiro em uma lan- quando se instalava o regime de suas paixões. “O teatro é a to de minha vida profissional,
a apresentar-se no Auditório chonete e cursou até o último e todos pagamos a conta da base do ator, é a base de tudo”, na televisão, foi na TV Globo,
Salvador de Ferrante (Guairi- ano da faculdade de direito. Ati- censura e da crueldade da di- ensina, aproveitando para na época de Roque Santeiro,
nha). Em 1956, dirigiu “Sinhá tudes que moldaram, também, a tadura, mas, hoje, não me vejo mandar um recado à nova ge- uma novela que no seu último
Moça Chorou”, de Ernâni sua sensibilidade. “Eu, desde os vivendo em outra cidade. Tam- ração de atores. “Meu conceito capítulo foi assistida por 90%
Fornari, e “Uma Mulher do oito anos, trabalho e me susten- bém elegi o Rio como a minha com relação à nova geração é do povo brasileiro. Foi o maior
Outro Mundo”, de Noel Co- to. E vejo que trabalhar é coisa Cidade Maravilhosa”, revela, o melhor possível. Os jovens público que já tive. Se tiver que
ward. Em 1958, fundou o an- de Deus. Afinal, cabeça vazia é com carinho, Ary, que, apesar atores, que não estão no teatro, somar todas as pessoas que me
tigo (e extinto) Teatro de Bol- oficina do diabo”, ensina. da total adaptação à cidade e precisam ter o teatro dentro de viram no teatro nesses 55 anos
so, na Praça Rui Barbosa, na à trajetória profissional vito- si. A minha dica a eles é que – e olhe que fiz muitas peças!
capital paranaense. TEMPORADA CARIOCA riosa que construiu desde que trabalhem, trabalhem e traba- – não igualaria em número o
“Acredito que toda a traje- A necessidade de ampliar deixou Curitiba, ainda mantém lhem”, frisa. que o último capítulo do ‘Ro-
tória que vivi em Curitiba, fo- seus objetivos, segundo o ator, a humildade de menino quan- que’ conseguiu”, frisa Ary, que
ram 15 anos, contribuiu para o trouxe para o Rio de Janeiro, do fala sobre a fama: “Fama INTERPRETAR COMO destaca, ainda, na televisão, sua
a formação do meu ator. Lá em uma data, no mínimo, inu- é reconhecimento de trabalho OFÍCIO E PAIXÃO atuação como Baltazar Cama-
eu fiz rádio, cinema, televisão sitada: 31 de março de 1964, bem feito. O mais importante, Mas nem tudo, no teatro rá, na novela “Espigão”, de
e teatro e nenhum trabalho dia em que foi instituído o Ato porém, é o respeito ao público, brasileiro, tem deixado Ary Dias Gomes. “No teatro eu
com menor importância”, ava- Institucional Número 5 (AI- responsável por te dar essa po- satisfeito. “Escreve-se muito destaco O Bobo, do ‘Rei Lear’
lia Ary, cuja formação artística 5), que mergulhou o Brasil em sição.” Ary evita vangloriar-se pouco para teatro. Precisamos de Shakespeare. Já no cinema,
vem do corajoso ato de viver um dos períodos políticos mais pelo sucesso obtido ao longo de bons autores e boas histó- a Dona Dina Rocha (do fil-
a vida intensamente, uma es- conturbados de sua história, de sua carreira. “Não sou tão rias. Muitas peças em cartaz me ‘A Guerra dos Rocha’, de
colha que formaria não só seu em uma ditadura que durou virtuoso quanto pensam, mas me chamam a atenção pelo 2008)” considero um presente
caráter, mas aprimoraria sua 20 “intermináveis” anos. “Foi luto pela generosidade e pela bom texto, da mesma forma para mim”, diz.
Jornal de Teatro 1º a 15 de Novembro de 2009
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Internacional