Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
literário do
Jornal A União
Agosto - 2022
Ano LXXIII - Nº 6
R$ 12,00
Exemplar encartado no jornal A União apenas para assinantes. Nas bancas e representantes, R$ 12,00
Zezita Matos,
80 anos
A vida e a arte de uma das
maiores atrizes da Paraíba,
cuja carreira, além do
teatro, cinema e televisão,
é pautada pela educação e a
arte de domingos sávio sobre luta contra a opressão
foto de roberto guedes
MARKETING EPC / Fotos: @edsonmatosfotos
R$ 30,00 R$ 35,00
R$ 30,00 R$ 35,00
Viva Zezita!
Entender o que move a A reportagem cura resgatar o papel huma-
arte e a vida de Zezita Ma- no que a atriz desempenhou,
tos foi o grande objetivo da termina com com maestria, na educação e
pauta que gerou a matéria no enfrentamento à ditadu-
de capa desta edição de
uma entrevista
ra, que assolou o país entre
agosto, mês em que a gran- exclusiva, 1964 e 1985. “Zezita segue
de primeira-dama do teatro na mesma trincheira de luta,
paraibano alcança 80 anos concedida por nunca deixou o lado certo
de idade. Aniversário, aliás, da história”, cravou o pro-
que celebra com saúde e bas- Zezita, onde
fessor e idealizador do Fest
tante disposição. ele reflete a Aruanda, o maior festival
Com filmes inéditos, audiovisual do estado.
prontos para serem lança- respeito de sua A reportagem termina
dos, e que ratificam o talen- com uma entrevista exclu-
to da artista nascida Seve- própria história
siva, concedida por Zezita,
rina de Souza Pontes, em onde ela reflete a respeito de
28 de agosto de 1942, além sua própria história, falando
de sua incansável batalha sobre seu casamento com o
pelo audiovisual, através da também ator Breno Matos,
Academia Paraibana de Ci-
filhos e os papeis marcan-
nema, entidade que conta
tes de sua prolífica carreira,
justamente com Zezita na
tanto no teatro, quanto no
presidência (desde 2018), a
cinema e na televisão.
atriz não dá sinais de que vai
parar tão cedo. Ainda bem. de Zezita, o também ator
Boa leitura!
A repórter Alexsandra Ta- Everaldo Pontes - para cons-
vares conversou com outros truir um perfil que vai além O editor
artistas - incluindo o irmão dos palcos, ou das telas: pro- editor.correiodasartes@gmail.com
6 índice
, 11 @ 15 2 22 D 28
memória música poeta e cronista entrevista
Amigos e colegas jornalistas Pouquíssimo lembrada, João Trindade, autor Solange de Oliveira fala
traçam um retrato de Otávio Mêves Gama foi uma de 'Um pouco além do sobre o livro ‘Arte por um
Sitônio Pereira Pinto, cantora que fez muito sonho' e prestes a lançar fio’, que tem um volume
enaltecendo a cultura e a sucesso no rádio, e foi a 'O estranho professor de dedicado ao estudo da obra
valentia do escritor, que primeira paraibana a gravar violão', nos brinda com de Bispo do Rosário e outro,
morreu em junho passado. forró e rock. alguns de seus poemas. da de Judith Ann Scott.
Alexsandra Tavares
do patrimônio
lekajp@hotmail.com
artístico desse
país, que atravessa
N
o dia 28 de agosto de 1942 nascia, na Fazenda Una, na peque-
na cidade de Juripiranga, distante cerca de 60 quilômetros de
João Pessoa, a primeira filha do casal Manoel de Souza Pontes um dos momentos
e Maria José Pereira Pontes. Batizada como Severina, a meni-
na passou a infância sem ser chamada pelo nome de registro, mais dramáticos de
mas pelo de coração - Zezita, dado pela mãe. Na puberdade,
a descoberta do Severina nos documentos lhe trouxe tanta sua história. Nesse
estranheza que o fato lhe rendeu algumas lágrimas.
Primogênita de uma prole de cinco filhos (todos vivos), particular, Zezita
ainda mocinha aprendeu a admirar os artistas da Sétima Arte
por meio das revistas que colecionava. A convite do então não se cansa de
ator Breno Matos (já falecido), que tempos depois se tornou
seu companheiro de vida por 40 anos, ela encontrou-se na denunciar e manter
arte de encenar e, em paralelo, também na de educar.
Assim, ao mesmo tempo em que atuava nos palcos ou sua postura altiva”
diante das câmeras, Zezita trabalhou como professora até se
aposentar das salas de aula. A arte de representar e a de ensi- Lúcio vilar
nar, porém, nunca foram abandonadas, sendo características
intrínsecas dessa mulher que se tornou a síntese da nordestina
batalhadora, que conquistou seu espaço no mundo. c
As dores e amores de
Zezita Matos
U
ns a chamam a “Dama do Teatro Paraibano”; no Brasil, ela já é conhe-
cida pelos trabalhos feitos na televisão, cinema e teatro. Já foi aplaudi-
da pelo público e pela crítica em trabalhos como o filme ‘Pacarrete’,
e no rol de reconhecimentos foi merecedora de prêmios importantes, a exemplo
do Prêmio Guarani de Cinema Brasileiro, como Melhor Atriz Coadjuvante.
Mas a paraibana Severina Zezita Souza de Matos, ou simplesmente Zezita
Matos, se considera uma “operária do teatro”, e por que não dizer, das artes
cênicas. Com mais de 60 anos de carreira, ela foi ativista na época da Ditadura
Miliar, engajada na causa das Ligas Camponesas, foi perseguida pelos repres-
sores do Regime Totalitário, casou, separou, tem três filhos, seis netos e quatro
bisnetos “lindos”, como gosta de frisar. Em 28 de agosto, Zezita completou 80
anos de vida. A longevidade aperfeiçoou o foco no que ela nasceu para fazer
– atuar, e também lhe impregnou na alma a missão de educar, profissão que
seguiu por cerca de 60 anos em paralelo à carreira de atriz. Inquieta e de bem
com a vida, Zezita optou por morar sozinha em um apartamento no bairro
de Intermares, em João Pessoa, sinal de pura independência. Em pleno vigor
produtivo, é sempre requisitada para novos trabalhos, seja diante das
câmeras ou nos palcos. A presidente da Academia Paraibana de Cinema
concede entrevista exclusiva ao Correio das Artes, fala das dores e amores,
da trajetória profissional e anuncia a estreia de dois curtas-metragens e três
longas. Confira.
A entrevista
n Zezita Matos é um nome já co- chame de Severina, me chame de n E hoje, já tem o Zezita registrado
nhecido entre as atrizes brasileiras. Zezita”. Aí, todos me chamavam nos seus documentos?
É verdade que você não foi batiza- de Zezita, mas na caderneta tinha – Em 1964, os militares foram
da assim, e que só descobriu que Severina. Imagina como foi duro, atrás de mim no Liceu Paraiba-
chamava-se Severina depois dos só depois de grande descobrir que no, onde eu estudava, porque eu
10 anos de idade? era Severina. Só faltei entrar de fazia política estudantil. Eles pro-
– Eu era Severina de Souza chão a dentro quando soube disso. curavam por Zezita, mas como na
Pontes, mas minha mãe nunca me caderneta tinha Severina, alguém
chamou de Severina e, sim, de Ze- do colégio não disse que Severina
zita. Eu descobri que era Severina era Zezita. Quando foi em 1992,
quando fui fazer meu exame de Alexandre Guedes, que é advoga-
admissão, no Colégio das Damas, do, me perguntou se eu não que-
por volta dos 13 anos de idade. ria mudar de nome porque Lula
Meu nome foi uma promessa que e Xuxa tinham incorporado esses
minha vó fez para minha mãe me “Você não vai nomes aos documentos. Eu disse
chamar assim e nunca soube o que não queria tirar o Severina,
motivo desta promessa. Quando viver de prêmio, mas gostaria de incorporar o Zezita
criança, estudei em um colégio também, porque o Severina tinha
particular e em um grupo de Pilar mas sim do me salvado na década de 1960.
e todos me chamavam de Zezita. Então, hoje eu sou Severina Zezita
Somente quando fui fazer o exame próximo trabalho Souza de Matos, tirei o Pontes, não
de admissão, em Campina Gran- sei o porquê, e coloquei o Matos
de, descobri que era Severina. Só que poderá por causa do casamento.
faltei morrer! Quando o professor
entrava na sala e dizia meu nome, garantir outro n Por que foram procurá-la no Li-
eu levantava o dedo morta de ver- ceu, onde a senhora estudava?
gonha e pedia: “Professor, não me prêmio” – Porque Breno (Matos, namo- c
A cultura
justo e correto, por isso estava sempre
ao lado dos que sofriam. Não tinha
medo de falar o que sentia, em defen-
der seus ideais e suas convicções de
sertanejo corajoso, destemido e afoi-
O
távio Augusto Sitônio Pereira Pinto. No sangue, ele trazia a va- ponsabilidade de Nathanael Alves e
lentia ancestral do tio, coronel José Pereira Lima, líder político da a Diretoria Técnica aos cuidados do
região de Princesa Isabel nos idos de 1930, que não hesitou em jornalista Gonzaga Rodrigues. A re-
romper os laços políticos com o então presidente de Estado João dação do veículo impresso ficava na
Pessoa, tornando-se um dos personagens no quebra-cabeça que rua João Amorim, no Centro de João
desaguou na Revolução de 1930. Para os que o conheceram de Pessoa. Nunes ainda hoje recorda o
perto, Sitônio era um homem de poucas palavras, economizava jeito que o amigo chegava ao traba-
sorrisos, polido, porém, sem paparicos no trato, mas esbanjava lho. “Sempre andava de motocicleta
inteligência e cultura. Com tais características só poderia ser um e chamava a atenção pelo modo como
paraibano de personalidade ímpar. entrava na redação, a passos largos,
Foi publicitário, auditor fis- bornal a tiracolo, barba comprida.
cal, cronista, articulista, Cumprimentava a todos, às vezes
poeta, ensaísta, mas, sentava a uma mesa para redigir
acima de tudo um ser seus artigos, quando não os trazia
humano corajo- prontos”.
so, justo e leal As conversas sempre giravam em
com seus torno dos momentos políticos e des-
princípios. cambavam para as “escaramuças”
“Sitô- de 1930. “Seu parente, coronel José
Foto: edson matos/a união
I
delvita Pereira Gama deveria se chamar “Mavis”, nome
de uma amiga americana da sua mãe, Mavis Vance, mas
o tabelião não sabia como escrevê-lo, daí a madrinha dela, Através do QR Code,
chamada Júlia, que foi ao cartório no lugar dos pais, achando ouça uma parceria
que poderia corrigir depois, pediu que colocasse o nome da inédita em disco entre
mãe dela, Idelvita. Ao chegar em casa, os pais não concorda- Mêves e Luiz Gonzaga
Cantora estreou em
disco de São João
As primeiras gravações de Mê-
ves se deram em 1958, em um co-
letânea de músicas juninas lançada
em LP pela gravadora Mocambo
chamada Viva São João. Mêves inter-
pretou o baião ‘Receita de Canjica’
e a marcha junina ‘Forró da Doro-
téia’, respectivamente dos compo-
sitores Sebastião Lopes (PE) e Alde-
mar Paiva (AL). ‘Forró da Dorotéia’
trata de personagens do programa
de rádio ‘Festa do Varandão’, como
o Seu Vém Vém e a própria Doro-
As primeiras gravações de Mêves se téia. Também participaram do LP
deram em 1958, em um coletânea de
músicas juninas lançada em LP pela os cantores Jair Pimentel e Toinho
c das maiores gravadoras do Brasil. gravadora Mocambo da Sanfona.
Ainda em 1956, Mêves era sondada ‘Receita de Canjica’ foi, segun-
pela gravadora Mocambo para lan- do o jornal Diário de Pernambuco
çar seu primeiro disco, onde pre- (29/06/1958), “A mais vendida das
tendia gravar o baião “Rosinha” e o festas juninas”. Tanto ela quanto
coco “Intriga de Sebastião”, ambos ‘Forró da Dorotéia’ ficaram várias
dos compositores paraibanos Fer- por Aldemar Paiva. Posteriormen- vezes entre “as mais vendidas da
nando Peixoto e Aurélio Carvalho. te, Mêves e Genival Lacerda seriam semana”. Outro jornal da época
“Pretendo, nos meus primeiros as maiores atrações do programa cita a paraibana como uma das
discos, gravar músicas de autores ‘Fim de Semana Castelo’, também artistas do rádio pernambucano
paraibanos”, diria, a época, em apresentado por Aldemar. Ela que possuía o maior número de fãs.
entrevista ao Jornal O Norte. Ela também abrilhantou programas Com essas gravações, Mêves foi a
também pretendia gravar o samba como ‘Brasil Matuto’, ‘Atrações do primeira paraibana a gravar e ter
“Brasileiro”, dedicado à Assis Cha- Meio-dia’ e ‘Alegria dos Bairros’. sucesso no gênero forró.
teaubriand, como forma de agra- Sua jovialidade e desenvoltura a Ainda no final de 1958, Mêves
decimento pelo reconhecimento levaram a também ser chamada gravaria o frevo ‘Segure seu Ho-
que lhe dera. de “Boneca” e seu nome artístico mem’, do renomado compositor
também variou nessa época, sendo Capiba. A música foi o maior su-
Reecontro também chamada de “Maves”. cesso do Carnaval pernambucano
Um grande reencontro de Mê- Um fato marcante no mercado de 1959, segundo o jornal Diário
ves com seu público paraibano se fonográfico, e na música nordesti- de Pernambuco. “Capiba domi-
deu em 25 de setembro de 1956, no na como um todo, se deu em 1957 nou o Carnaval. Sua frase musical
grande show de artistas recifenses como lançamento do primeiro ‘Segure seu homem’ se transfor-
na inauguração da filial das Casas disco de Marinês, a “Rainha do mou, durante o Carnaval, numa
Costa Júnior, em João Pessoa, no Xaxado”. Nascida em Pernambuco gíria popular, dirigida sempre a
suntuoso evento prestigiado, in- e vinda, ainda na infância, para uma moça ou senhora que brincava
clusive, pelo então governador da Campina Grande, Inês de Castro acompanhada do noivo ou esposo,
Paraíba, várias outras autoridades (seu verdadeiro nome) também e foi cantada de ponta a ponta, nos
e um público enorme. Também se iniciou sua carreira nos programas salões com preferência, em todo
apresentaram Genival Lacerda e o de calouros. Aos 15 anos, Marinês Recife” (DP 15/02/1959).
trio Cigano (conhecido nacional- assumiu um relacionamento com Uma diversidade de talentos,
mente na época), dentre outros. o sanfoneiro Abdias, junto com o ela também atuou como atriz de
Nessa época, Mêves já era estrela qual passou a fazer shows, prin- teatro e foi muito aplaudida, prin-
do programa ‘Festa no Varandão’, cipalmente cantando as músicas cipalmente no Teatro Marrocos,
apresentado na rádio Tamandaré de Luiz Gonzaga, depois passou em espetáculos da Companhia de c
Casamento
com Luiz Queiroga
Segundo sua irmã Gildete, A revista Radiolândia, de 1954,
quando saiu da Paraíba, Mêves registrava o sucesso de Mêves
namorava e chegou a noivar com no rádio e afirmava: “É um nome
Abelardo Menezes, operador de Nesse período, Mêves, já com a realmente fora do comum”
áudio da Rádio Tabajara entre 1953 família maior, optou por se afastar
e 1955 que, a apartir daí, atuou no da carreira artística para se dedicar
departamento comercial da emis- mais aos filhos.
sora até 1996. No entanto, o noiva- Vale destacar que, quando se
do foi desfeito em 1958, quando ela encontrava no Rio, em 1973, Mêves
se encantou pelo caruarense Luiz reviveu seus tempos de caloura nos
Queiroga. programas da Tabajara, da Paraíba.
Queiroga foi parceiro artístico Na cidade carioca, ela participou dela, com músicas do paraibano
e grande amor da vida de Mêves. do famoso programa ‘A Grande Arnaldo Leão, nas quais Mêves
Se casaram em abril de 1960, já Chance’, apresentado por Flávio interpreta, dentre outras, o rock
com um filho, o atual cantor Lula Cavalcanti na TV Tupi, com a mú- ‘Canção do recruta’ primeira das 12
Queiroga, nascido um mês antes. sica “Cavalhada”, composição do faixas, que incluíam ritmos como
Os padrinhos do casamento foram marido Luiz Queiroga e de um swing, fox e valsa. Algumas fai-
dois grandes nomes da música sobrinho dele, Dade Queiroga. A xas questionam tabus da época e
pernambucana da época: Nelson performance de Mêves foi acla- caíram como uma luva na voz de
Ferreira e Aldemar de Paiva. mada e ela conquistou o primeiro Mêves, que gostava muito de dan-
Luiz Queiroga (1930-1978) foi lugar. Essa canção, posteriormente, çar, usar saias mais curtas e pintar
um nome de destaque na cultura foi gravada pela cantora Luiza de os cabelos.
pernambucana, além de radialista, Paula, que era amiga da família em O LP foi gravado pelo selo Cons-
compositor, autor teatral, humoris- Recife, no LP Nordestino, Profissão tellation, de Campina Grande (PB),
ta, autor de rádio novelas, cantor e Esperança, de 1982. e fabricado pela Rozeblint, de Re-
ator. Entre seus feitos está a criação cife. Em consulta a vários colecio-
do personagem Coronel Ludugero. Primeira paraibana a nadores e pesquisadores, entre eles
Também escreveu textos humorís- gravar rock o professor universitário Ramsés
ticos para Chico Anysio, Renato A estreia de Mêves na TV se deu Nunes, que está lançando um livro
Aragão, Dercy Gonçalves e Jô Soa- na TV Rádio Clube do Recife (canal sobre o rock na Paraíba, pudemos
res, dentre outros. Compôs mú- 6), onde, além de cantora, também constatar que esse foi o primeiro
sicas gravadas, entre outros, por manifestou sua veia humorística disco com música de rock gravado
Luiz Gonzaga, Marinês, Genival em programas como ‘Risos e Melo- na Paraíba, e Mêves, além de pio-
Lacerda e Trio Nordestino. dias’, ‘Todos Cantam a sua Terra’, neira gravando forró, também foi
‘Música e Simpatia’ e ‘Riso de Gra- a primeira paraibana a gravar rock.
Rio de janeiro ça’ (este com Consuelo Leandro, A crítica musical considerava
Em 1963, Luiz Queiroga foi con- Lúcio Mauro e Zezé Macedo). No que o talento de Mêves estava sen-
tratado pela TV Tupi e a família teatro, atuou em musicais como ‘É do pouco aproveitado pela gra-
mudou-se para o Rio de Janeiro, Proibido Falar’ (1960). vadora Mocambo, que deveria
indo morar no bairro de São Gon- A versatilidade de Mêves tam- lança-lá em LP e projetá-la nacio-
çalo. Depois da Tupi, Queiroga bém pode ser comprovada no LP nalmente.
atuou também na Rede Globo. A Psicose Musical, lançado em 1960, Seguindo com sua carreira de
família voltou para Recife em 1975. o primeiro LP totalmente na voz “forrozeira”, lançados em discos c
Sobre a
simultaneidade
dos fatos
Francisco Gil Messias
gmessias@reitoria.ufpb.br
H
á muitos anos escrevi um poema a que dei o título ‘Au-
rora’. Ele consta do meu livro ‘Olhares (Poemas bissextos),
Aurora
Em alguma casa o dia amanheceu diferente,
a aurora não irrompeu,
os passarinhos não cantaram
e a noite se estendeu.
João Trin
Encantamento
Eu te direi palavras doces
e tingirei teu corpo de mel
Sem me lambuzar.
Eu saberei amar em silêncio
como amam as pedras
9 De fevereiro
como brilha a luz. E irrompe a coluna,
E saberei caminhar pelo teu monstro,
céu grandiosa,
sem fazer alarde. pela cidadezinha.
Eu te darei um gozo infinito Alguém atirou,
e farei do teu grito quebrando o combinado.
uma eterna oração. E irrompe a coluna,
Febril, vingativa,
Sanguinária.
Maria E quebra a cidade,
rompendo o silêncio.
Quem diria
Os tiros são balas
Que Maria
de destruição.
Choveria
Arrastam o padre
Novamente
e riem, e choram, e gritam
Em mim?
IRADOS.
Não era pluviométrica,
Bebem o sangue da vingança.
Nem pluvimedonha:
Carótida rasgada,
Simplesmente
o padre agoniza,
MARIA
engolindo os órgãos (genitais)
Mas veio
com grande aflição.
Das cinzas
A coluna passou.
Sem carnaval.
E deu um sorriso
Meio maroto
Meio irônico
No meio da manhã...
Meio de saudade?
Maria longe dos trilhos
Do brilho
Das solenidades
Maria saudade
Que permanece Canção sertaneja
Platonicamente
Chovendo. Se o feijão falta
A mesa é farta
Criação De preocupação.
Se o feijão some
Para Sérgio de Castro Pinto O homem se consome
Eu brinco com as palavras Em eterna aflição.
Mágico poeta E fica sem planos,
Que retrata a vida: Perdido no Plano
Eterna folha de papel. Das contradições.
Debulhe-se o feijão,
Eu brinco com o sonho, Poupança infinita,
Mágico poema, E não falte o pão,
Velho estratagema Que a sociedade grita.
De enganar a solidão.
Trindade
O antropófago
va em Vila Madalena num imóvel
modesto, tinha a saúde debilitada
pela diabetes e estava muito magro
aos 64 anos de idade. Perguntou a
Marcos se ele havia lido seu livro
atormentado
Um homem sem profissão. Ao ouvir a
resposta afirmativa, o veterano es-
critor paulistano disse que a morte
de Daisy, de certo modo, fora culpa
sua, por tê-la incentivado a abortar
Adhailton Lacet Porto um filho que ele nem tinha certe-
Especial para o Correio das Artes
za se era seu. Daisy era como Os-
O
bviamente é o tempo pre- meçou a ser bajulado e receber wald chamava a normalista Maria
sente o que nos importa – ao convites para eventos. de Lourdes Castro Dolzani. Nessa
menos para a maioria das Foi num desses encontros que, época, Owald era casado com sua
pessoas -, pois nele vivemos e faze- à época atormentado, e já ficando primeira esposa.
mos acontecer. Todos nós conhe- esquecido pelo público, Oswald Após o aborto a saúde de Daisy
cemos alguém que, decadente e de Andrade conheceu o também definhou em decorrência de uma
esquecido, alimenta-se das glórias escritor, então iniciante, Marcos hemorragia agravada por uma
do passado. Concordo que fatos Rey. Houve admiração recíproca tuberculose. Oswald toma uma
pretéritos, se marcantes em nossas e ficaram amigos. Oswald até es- decisão: larga a esposa e sai para
vidas, devem ser lembrados: mo- creveu um artigo em sua coluna casar com Daisy dentro do pró-
mentos felizes, conquistas e filhos “Telefonema”, no jornal Correio prio quarto do hospital, no leito de
realizados nos dizem que viver é da Manhã, do Rio de Janeiro, em morte. Duas semanas após a união
bom, até fracassos e tragédias, pois 2 de fevereiro de 1954, elogiando o dos dois, Daisy morre. Nas suas
também nos dão lição de vida. primeiro livro de Rey, Um gato no memórias, Oswald escreve: “A que
Agora, viver atormentado por um triângulo. encontrei enfim, para ser toda mi-
acontecimento do passado é abaca- Por outro lado, Wilson Mar- nha, meu ciúme matou…” (in Um
xi para analista descascar. tins, crítico respeitado e impiedo- homem sem profissão, Companhia
Nos anos 1950, a socialite pau- so, tachou o livro de Marcos de das Letras, 2019).
listana (mas espanhola de nasci- “melodrama barato”. Meio século O escritor Carlos Maranhão no
mento) Carmem Dolores Barbosa depois, em sua monumental obra livro Maldição e glória – A vida e o
costumava reunir, nas terças-fei- História da Inteligência Brasileira, mundo do escritor Marcos Rey (Com-
ras, em seu apartamento situado reafirmou: “Eu até o elogiei mais tar- panhia das Letras, 2004), registra
na Rua General Jardim, 51, 3º an- de, mas ele era fraquinho no começo da que após a morte de Daisy, Oswal-
dar, muitos escritores, não se sabe carreira”. do “Por um longo tempo, guardou
bem por qual motivo, mas tinha Já com a amizade sedimentada restos de palha das duas cestas de flo-
admiração pelos cultores das le- com o responsável pelo movimen- res que enfeitaram o quarto no casa-
tras. Tanto que, certa feita, Clarice to antropofágico de 1928, Marcos mento e um busto de Daisy esculpido
Lispector disse desconhecer qual Rey sugere a Oswald de Andrade por Victor Brecheret…”.
“a razão do envolvimento de tal escreverem juntos um livro, uma E durante aquela conversa que
senhora com tantos escritores”. espécie de entrevista longa. Mar- tivera com Marcos Rey, trinta e
A única queixa que os escrito- cos perguntava e Oswald respon- cinco anos após a morte de Daisy,
res faziam dessas reuniões é que dia. O participante da Semana de que fora enterrada vestida de bran-
a anfitriã não servia bebida alcoó- Arte Moderna de 1922 gostou da co no túmulo da família Andrade,
lica (a exceção foi quando William ideia e começaram a se encontrar no Cemitério da Consolação em
Faulkner, que era bom de copo, sempre na casa do autor de O Rei São Paulo, Oswald nem de longe
veio ao Brasil e visitou seu aparta- da vela. Foi numa dessas conversas lembrava aquele homem polêmi-
mento). que Oswald revelou a Marcos Rey co, rico, esbanjador e mulheren-
Escritor gosta de ser paparica- um fato que o atormentava por se go que fora no passado. Tinha se
do – aliás, como todo o mundo – sentir culpado, e que está narrado transformado num antropófago
e talvez isso justificasse o sucesso no seu livro de memórias Um ho- atormentado. I
desses encontros de intelectuais. mem sem profissão.
Lembro que, em entrevista, o escri- Oswald, que nessa época mora-
tor paulistano Bernardo Kucinski
afirmou que em mais de 30 anos
de jornalista e professor nunca lhe Adhailton Lacet Porto é juiz e escritor, mora em João Pessoa. Autor do livro Os ditos
fizeram nenhum agrado, porém, do quiçá (Arribaçã, 2020, 2ª ed. 2022), escreve crônicas e contos e colabora com o
quando decidiu virar escritor co- site MaisPB e o Diário de Pernambuco.
José Américo
e os poetas da abolição
N
o dia 13 de maio de 1909, o poeta Augusto dos Anjos proferir a conferência “Poetas da Abolição”,
proferiu uma palestra no Teatro Santa Rosa, de João realizada no dia 13 de maio de 1921, a convite
Pessoa, abordando a escravidão e suas consequên- do Grêmio 24 de Março, do Liceu Paraibano.
cias danosas. Foi um discurso genérico, em que o São especulações, mas não de todo impro-
poeta fez um histórico da escravidão, de modo a váveis.
chegar no Brasil, concluindo com uma exaltação a O fato é que, se os dois escritores, em
José do Patrocínio, que “representou o maior fator momentos e locais diferentes, abordaram
dinâmico na reorganização onímoda de nossa vida tema semelhante, a finalidade se apresenta
política”, considerado “o Buda libertador dos últi- diferente, no fundo e na forma. Poderíamos
mos escravos que gemiam nas senzalas aberratórias dizer que o discurso de Augusto dos Anjos,
da humanidade culta!” (ANJOS, 1994, p. 651). Des- além de mais genérico, tem uma finalidade
taque-se que o poeta do Eu estava muito adiante do social, de que assoma o aspecto político, no
seu tempo, ao utilizar o termo “escravizado”, muito bom sentido que a palavra tem. Na conferên-
difundido hoje em dia, em lugar de “escravo” (idem, cia de José Américo, a preocupação é verificar
p. 650). Seu texto foi publicado, em seguida pelo como o assunto foi abordado, não apenas do
jornal A União, nos dias 20, 22 e 23 de maio de 1909. aspecto puramente político, pelos jornalistas,
É possível que o jovem José Américo de Almeida, por exemplo, mas do aspecto estético, prin-
então com 22 anos, tenha estado presente ao evento cipalmente, com o termo “poeta” ganhando
e que isto o tenha motivado a aceitar o convite para uma dimensão maior do que aquele que
produz poemas, passando a designar tam-
foto: arquivo a união bém os prosadores, como Aluísio Azevedo
e os jornalistas e políticos combativos da
época. José Américo, portanto, torna o seu
texto mais aprofundado do que o de Augusto
dos Anjos, quando procura ler nos poetas o
horror da escravidão, sem abrir mão de uma
preocupação social.
No exórdio de sua conferência, José Amé-
rico fala da importância que tem a habilidade
do saber ler em público, dando a atenção
devida à entonação, às pausas, como um re-
curso para não cansar ou entediar o ouvinte.
O orador ou o leitor precisa saber dizer o
que lê, pois ouvir um texto é tão importante
quanto escrevê-lo ou lê-lo.
O escritor vai, então, para a primeira parte
de sua exposição, apresentando um histórico
Quando procura ler,
nos poetas, o horror
da escravidão, desde o tempo mais remotos,
da escravidão, José entre os persas, hebreus, egípcios, babilôni-
Américo (foto) torna cos, gregos, romanos, até a sua vinda para
seu texto mais o Brasil, expressando a dor e a miséria da
aprofundado que
o de Augusto dos
escravidão, no apartamento, e na travessia
Anjos desumana “no brigue infecto”, lamentando-a c
foto: reprodução
raliza o regime são os seus excelente companhia de Camões,
monstruosos desvios; a política como podemos ver em Os Lusíadas,
vesga; os governos aladroados; Canto V, estância 97, verso 8 – “Por-
a orgia das injustiças; a preteri- que quem não sabe a arte, não na
ção dos valores; o favoritismo estima” (itálico nosso).
exclusivista; a mão de ferro dos No que diz respeito às línguas
mandões!... estrangeiras citadas por José Amé-
Tentemos ainda conjurar as rico, fizemos, quando necessário,
correntes racionárias pelo exer- os ajustes da ortografia, como é o
cício das virtudes republicanas. caso da língua francesa, em que al-
Restaurando-se a moralidade guns acentos não foram colocados,
administrativa, suprimindo- conforme ocorre, por exemplo, em
-se o monopólio dos cargos re- “chatiments”/châtiments”, na citação
munerados, conciliando-se as da obra de Victor Hugo. Há casos em
tendências, estabelecendo-se Castro Alves chegou que o autor foi traído pela composi-
a escrever dois livros
um sistema de compensações, de poesia abordando a
ção tipográfica. É assim que “Emílio
poderá subsistir o nosso estado escravidão: ‘Cachoeira Rouède” vira “Emílio Ronède”, como
social e político.” (p. 25). de Paulo Afonso’ e ‘Os o “u” é um “n” de cabeça para baixo,
escravos’ no antigo sistema de composição grá-
É preciso, como diz o escritor que fica, torna-se evidente que a confusão
“emendemos, antes, os costumes” (p. não é de José Américo. Do mesmo
25), sem isso, a sociedade não poderá modo, quando ele cita o nome de
avançar, nem a violência irá resolver de edição do texto da conferência. Gustave Le Bon, a impressão tipo-
o que só a “caridade, fraternidade, Aplicamos o itálico nos títulos de gráfica transformou em “Gustavo Le
solidarismo, filantropia, altruísmo, algumas obras, a exemplo da Ilíada e Bon”. Ora, na sequência do nome do
humanitarismo”, poderão alcançar. da Odisseia, não só porque o próprio autor francês há uma citação em lín-
Não importa de onde venham, estas José Américo faz isto para outras gua francesa. Não teria sentido fazer
virtudes são a base para a transforma- obras citadas, mas, para destaque e a citação em francês e aportuguesar
ção social, juntamente com a coibição uniformização do texto, conforme o o nome do autor, por isto fizemos as
dos descalabros administrativos. A uso corrente. correções necessárias para “Rouède”
nosso ver, a conferência de José Amé- Preservamos algumas formas, e “Gustave”.
rico, mais do que falar de poetas e de de modo a não perder o sabor da A nossa intenção sempre foi a
poesia abolicionista, é uma mensa- época do texto, nem a erudição de de preservar o texto de José Améri-
gem de esperança, que ainda não foi José Américo de Almeida. Assim é co, mas apontando, sempre que for
entendida. que mantivemos “cousa”, em lugar possível, as divergências de edição,
Com a recente publicação do livro de “coisa”, e “calefrios”, em lugar quando elas surgirem. Ao que parece,
(José Américo de Almeida, Os poetas de “calafrios”, entre outros termos. o escritor cita muito versos de memó-
da abolição; organização de Astenio Gostaríamos, contudo de chamar a ria, ou de edições mal cuidadas, por
Cesar Fernandes e Milton Marques atenção para o uso da forma “não esse motivo é que, nas notas, apre-
Junior, João Pessoa, Editora Ideia, na”, em que o objeto direto prono- sentamos uma edição condizente
2022), cabem ainda algumas palavras minal, facilitando a prolação, recebe com o texto original citado por José
a respeito da edição do texto. O que a nasalização do advérbio, em lugar Américo.
fizemos foi uma atualização ortográ- de “não a”, que mantivemos, pela Por fim, esclarecemos que as notas
fica da conferência de José Américo, elegância do estilo, como vemos na são apenas orientações para o leitor,
de acordo com a ortografia vigente. frase da página 6: não têm o sentido de exaurir as refe-
Não fizemos uma edição textual a rências feitas por José Américo. Mes-
rigor, filológica. Para tanto, necessi- “E a frota negreira injuriava mo porque há nomes que não con-
taríamos, além do texto do livro, do o oceano, montando o seu dor- seguimos identificar, alguns só com
texto que foi reproduzido no jornal so, encrespado, fiada em que a ajuda do Google, de que fizemos,
A União, em 1921. Em último caso, não na tragaria a vingança dos nestes casos, a paráfrase. Se o leitor
necessitaríamos também do texto naufrágios, com pena daquele quiser mais explicações sobre alguns
manuscrito. magote de deserdados que es- fatos e sobre alguns nomes deve ir em
A atualização e padronização do trebuchavam nos porões. Pie- busca de livros especializados. I
texto se fez necessária, pois a ortogra- guice do mar” (itálico nosso).
fia da língua já mudou muito de 1921
para os dias de hoje, tendo a última José Américo, e este poderia ser
mudança ocorrida em 2002, com o
acordo ortográfico assinado pelos
países de língua portuguesa. Passa- Milton Marques Júnior é professor da Universidade Federal da
mos, então, a descrever as ocorrências Paraíba (UFPB). Mora em João Pessoa (PB).
C
hega pela editora Estação Liberdade o trabalho de fôlego da profes- Esse agravamento tornou Judith
sora doutora Solange de Oliveira, Arte Por Um Fio, estudo em dois ainda mais reclusa, afetando de tal
volumes sobre Artur Bispo do Rosario e Judith Ann Scott. Nestes forma suas funções cognitivas que
volumes, a autora entrelaça os fios condutores de uma arte em ela permaneceu em seu silêncio e iso-
estado bruto, tendo como força propulsora suas próprias punções. lamento por longos anos, até o reen-
No primeiro volume, Solange aborda Arthur Bispo do Rosario, contro com a irmã. Mas apesar desse
mostrando sua trajetória de vida a partir do asilo em instituições silenciamento, ainda era capaz de ser
manicomiais e de suas memórias em um Sergipe embrionário. tocada pelas imagens e texturas.
Trazendo o conceito de Jean Dubuffe de art brut e a fenomenolo- A autora ressalta a impressionante
gia de Merleau-Ponty, Solange alinha as memórias do artista, onde capacidade de criação da Judith, em
estão presentes sua terra natal, as representações dos folguedos que suas obras ganham, no decorrer
populares, o artesanato e a religiosidade. dos anos, personalidade e consolidam
Evidenciando a parte têxtil do trabalho de Bispo do Rosario, a seu estilo próprio. Judith faleceu em
autora nos coloca diante do azul dos fios, que nos lançam nas mais 2005, aos 62 anos. Hoje, sua irmã,
duras reflexões sobre nossa própria condição. Joyce, dedica-se ao cuidado e divul-
Já no segundo volume, Solange lança luz sobre Judith Ann Scott, gação das obras.
artista estadunidense, usando com aporte teórico o filosofo Henri Professora Solange de Oliveira
Bergson para dar conta do percurso de vida e obra da artista. apresenta um trabalho pioneiro, tra-
Judith nasceu em Ohio, conviveu com sua irmã gêmea até os zendo nova perspectiva ao trabalho
sete anos, quando foi diagnosticada com Síndrome de Down e en- entre arte e psicanálise, como afirma o
caminhada para instituições onde viveu até sua morte, aos 62 anos. professor Ricardo Fabbrini (FFLCH):
“Não se trata, porém, de uma apli-
cação da psicanalise à arte, ou seja,
foto: divulgação
de uma subsunção das obras artísti-
cas aos conceitos psicanalíticos para
‘Arte Por Um Fio’:
Solange de Oliveira reduzi-los aos sintomas, mas de um
lançou dois livros texto que pressupõe a ‘implicação’
com estudos sobre a reciproca entre os dois campos”.
produção de artistas
Solange nasceu em São Paulo, é
internadas em
instituições graduada em artes visuais e filoso-
fia, doutora em psicologia social. Foi
docente no departamento de Artes
Visuais e Design da Universidade
Federal de Sergipe, desenvolveu sua
pesquisa em estética e filosofia con-
temporânea junto ao departamento
de Filosofia da Universidade de São
Paulo.
Se aprofundou nos estudos da ima-
gem pelo campo da fenomenologia,
transitando pelo campo da memória,
intuição e as condições existenciais.
Nos últimos anos tem se debruçado c
A entrevista
n Como foi o processo de imersão
nessas realidades? O que te motivou
a seguir esse caminho?
– Quando eu voltei para a universi-
dade, já na USP, eu resgatei essa pai-
xão que eu tinha pelas artes visuais.
Fui fazer um mestrado e pensei um
pouco no que eu gosto, e lembrei de
uma aula que eu tive há muitos anos,
lá na graduação em artes visuais, que
era sobre um artista que vivia asilado
num manicômio, e eu lembro de ter
ficado muito impressionada com a
obra (dele). Assim, eu puxei de volta
o (Arthur) Bispo (do Rosario) para a
minha vida. Então, como sou fenome-
nóloga e existencialista, não poderia
ser diferente o caminho que eu fiz,
que foi tematizar o Arthur Bispo, mas
segundo uma perspectiva existencial
minha, e eu venho de uma família
que as mulheres costuram e bordam.
Então eu trabalho com o acervo do
Arthur Bispo de uma maneira global,
mais especificamente com o recorte
do acervo têxtil. Isto compõem, mais introjetamos essas histórias, esses muito respeitosa na medida em que
ou menos, 86% das obras, muita coisa mitos, todo esse paradigma dos têxtis, aceita o que cada um é ou o que cada
bordada e têxtil. Eu trabalho com mas a gente nem se dá conta de como um decidiu ser.
o significante desse acervo: o que eles são presentes no nosso vocabulá-
significa bordar? O que é bordar? rio cotidiano, por exemplo: “Fulano n Isso está ressaltado no seu traba-
Porque essa coisa com o bordado, não serve nem para pano de chão”, ou lho, ele é muito poético. Não é aquele
com a costura, ela é muito antiga... na “Isso aí vai dar pano para a manga”. texto crítico de arte hermético...
mitologia grega, havia mulheres que Então foi mais ou menos esse o meu – Essa é uma maneira como a fe-
costuravam o destino: as três moiras! percurso, por isso o meu envolvimen- nomenologia lida com os objetos de
Uma tecia o fio da vida, a outra enro- to de como esses artistas trabalham arte, porque senão você fica tradu-
lava o fio da vida e a terceira, cortava com os têxteis, a abordagem da ter- zindo as coisas em palavras. Existe
o fio da vida, tematizando, assim, o minologia, que é a abordagem que uma articulação pela fenomenologia
surgimento, o desenvolvimento da é eu faço no meu trabalho em geral. que é assim: você lida com a arte em
decrepitude, o ciclo da vida relacio- (...) Um belo dia, eu tive uma aula termos artísticos, você não traduz!
nado com o têxtil, além, também, onde a abordagem era fenomenolo- É quase como se você pesquisasse
da Penélope, que aguarda a volta do gia, e eu sai de lá com duas sensações: mesmo sobre aquilo, é como se você
Ulisses por 20 anos, e como ela tinha a primeira foi “Nossa, não entendi fizesse arte inspirado pela arte, essa é
um poder político, de reger uma cida- nada!” e a segunda foi “Nossa, que a maneira com que a fenomenologia
de enquanto o marido estava ausente, coisa maravilhosa!”. Parece que era lida com os objetos de arte.
muitos pretendentes queriam usá-la isso que eu sempre estive procurando
para poder ter esse poder político, para lidar com os assuntos de arte, e n Noto que nos seus trabalhos, a
então ela diz que vai se casar quando eu não consigo olhar para os objetos senhora não utiliza a fenomenologia
terminar uma tapeçaria, e ela a tece de arte sem ser por este olhar da fe- Hegeliana. Poderia falar um pouco
durante o dia e a desfaz durante a nomenologia existencialista, que eu sobre quais autores usa como aporte
noite, para postergar essa união, até acho muito humana, muito libertária, teórico para o seu trabalho?
que Ulisses volte. Então tem todo um às vezes até anárquica. É uma manei- – Eu uso os franceses. É bem dife-
mapa mental, uma geografia mental, ra de olhar para as coisas sem análise, rente da fenomenologia alemã. c
do Cagiano
1
Naquele dia, 13/12/’68, Janaína Ramos estava fazendo 40 anos, mas seu ma-
rido, o carreteiro Lindalvo, não lembrou-se da data e, por isto, foi o alvo de
ácidas críticas.
Uma delas, talvez a pior, arranhou os ouvidos do esposo:
– Você se esquece de mim, pois está sempre pensando em outras mulheres.
Lindalvo ouriçou-se com a injustiça.
Se a implicância tivesse partido de um homem, saberia como responder :
esticaria o braço cabeludo da mão calosa e dura e meteria um soco de entor-
tar nariz. c
A carta de
Joaquim Inojosa
T
endo sido indicado, em Recife, como cor- próprio Joaquim Inojosa, em O movimento
respondente da revista Era Nova, em seu Modernista em Pernambuco, volume 3, em
editorial de 15 de maio de 1924, Joaquim especial no capítulo “A arte moderna e suas
Inojosa envia, aos diretores deste órgão de repercussões”, assim como Wilson Martins,
cultura, longa carta, com data de 5 de julho em O Modernismo (Cultrix, 1969, p. 83), Laé-
daquele ano. lia Maria Rodrigues da Silva, em dissertação
Escusamo-nos de analisar o texto da defendida na UFPB, acerca da revista ‘Era
carta e remetemos o leitor, sobretudo para Nova’, e Neroaldo Pontes de Azevedo, na
a análise empreendida por Neroaldo Pontes obra já referida, tal objetivo, a rigor, não
de Azevedo, no tópico “A arte moderna: vir- teve êxito, embora, evidentemente, a carta
tudes, defeitos e repercussões”, inserido em tenha aquecido o ambiente de discussões
seu livro Modernismo e Regionalismo: Os Anos em torno da arte moderna.
20 em Pernambuco’, publicado pela Secreta- Não é outra a conclusão a que chega Wil-
ria de educação e Cultura da Paraíba, em son Martins, ao considerá-la uma “espécie
1984, e, em segunda edição pelas Editoras de epístola paulina destinada a difundir o
Universitárias/UFPB-UFPE, em 1996. Modernismo no Nordeste” ou mesmo um
Tocaremos apenas nos pontos que con- documento básico do Modernismo, à seme-
sideramos de interesse específico para uma lhança de obras como ‘O espírito moderno’,
possível mudança na atitude poética dos de Graça Aranha, e ‘A escrava que não é
novos autores paraibanos. Isaura’, de Mário de Andrade.
Publicada, em forma de plaquete, pelas Neroaldo Pontes de Azevedo, em objeti-
Oficinas Gráficas do Jornal do Commercio, va leitura do seu texto, por sua vez, também
com o título de ‘A Arte Moderna’, a carta conclui:
se constitui num verdadeiro manifesto em
prol da renovação literária desencadeada É preciso assinalar que o manifesto
a partir do movimento paulista, então di- de Inojosa teve resultados aquilatá-
vulgado por Joaquim Inojosa no Nordeste. veis. Se de um lado divulgou o moder-
Ao mesmo tempo que plataforma es- nismo do Sul no Nordeste, também di-
tética em defesa dos novos ideais, a carta vulgou o que se passava no Nordeste/
também se revela como uma convocação, Norte, do Brasil. Com a repercussão
em geral aos “novos” da Paraíba para que que teve, a carta levou para fora de
abracem o chamado “novo credo” e, em Pernambuco o nome de intelectuais
especial, à ‘Era Nova’, no sentido de que efetivamente pouco conhecidos.
ela procurasse, sintonizada com o espírito
do tempo, se tornar “a ‘Klaxon’ paraibana”. E, mais adiante, arremata:
Pelo que nos demonstra, no entanto, o c
c estímulo de que muito care- Nas nossas obras perpassa da adolescente veio residir,
cíamos. Não foi uma semente, um largo sopro de fé e idealis- com a família, em Princesa
mas foi um pouco de água so- mo, fé que constrói, idealismo Isabel, onde ensinava primei-
bre a árvore mal nascida que que evolui. Vê-se bem que ras letras aos meninos locais.
já plantáramos e que mais o autor de A Arte Moderna Fundou aí, em 28 de outubro
tarde há de florir e frutificar. é um espírito combativo e de 1925, o Grupo Literário
perseverante – talento em Joaquim Inojosa, aderindo,
Ora, as ponderações de José flor, ao serviço de uma moci- precipitadamente, ao futu-
Américo de Almeida e de Perylo dade ousada, que vai ao léu rismo. Mas, apenas de boca.
Doliveira demonstram que ambos da Vida sem ribiezas, sem Era um poeta romântico da
são simpáticos à poesia moderna. recuos, danunzianamente au- velha guarda, leitor de Cas-
Simpatia, no entanto, moderada, daz, pelejando pelos ideais tro Alves, Fagundes Varela,
tanto pela formação de cada um que enchem o cérebro tumul- Gonçalves Dias, que imitou
quanto pelo contexto, decerto pou- tuário do século XX. durante toda a vida. Suas re-
co favorável às mudanças. Benedita a vossa coragem, lações com a intelectualida-
Em contraposição, no entanto, Mestre denodado! Bendita a de paraibana se davam por
não podemos esquecer o pitoresco vossa abnegação, chefe queri- intermédio do coronel José
Grupo Literário Joaquim Inojosa, do e excelso! Aqui, estaremos Pereira, que encaminhava
fundado na cidade sertaneja de sempre impávidos e resolu- suas peças poéticas para pu-
Princesa Isabel, em 28 de outubro tos, ouvindo a vossa voz de blicação na revista Era Nova e
de 1925, sob os auspícios da famosa comando, que tão bem sabe no jornal A União, e que nada
carta. ecoar no coração entusiasta têm de modernista, muito
Seu presidente e fundador foi o da Mocidade. pelo contrário. Morreu na mi-
poeta Emydio de Miranda; seu se- séria, alcoólatra e tuberculo-
cretário, José Cypriano Maracajá e, A bem da verdade, ao entusias- so, solteirão, completamente
como demais componentes, temos mo dos assinantes deste documen- ignorado. Deixou dois livros
as figuras de Manuel Monteiro to não corresponde uma prática de versos, ‘Rosa da Serra’ e
Donino, José Vieira de Mello, João textual efetiva, com características ‘Rosal’, ainda inéditos, e uma
Maximiano dos Santos, Miguel que lhe comprovem a modernida- novela manuscrita, em papel
Francelino de Souza, Zacharias de. A própria linguagem do texto já almaço, intitulada ‘Terra de
Sitônio, Renato Freitas, Epami- demonstra, através de sua retórica amor e sangue’.
nondas Monteiro Diniz, Cláudio estereotipada, seu compromisso
Pinheiro dos Santos, Manoel Lima com os mandamentos estéticos do Apesar de certos defeitos de vi-
e Belarmino Medeiros. passado. De outra parte, não se são e de alguns erros informativos,
Em correspondência enviada a tem notícia da existência de obras já apontados por seus analistas
Joaquim Inojosa, o “grupo” assim poéticas responsáveis pelo fun- e, noutro sentido, mesmo que a
se justificava: cionamento do referido “grupo. carta de Inojosa não tenha, de fato,
Tudo leva a crer que tal atitude deflagrado a prática do verso mo-
Os signatários da presente, dos seus membros não passou de derno em terras paraibanas, é, sem
membros efetivos do Grupo meros arroubos de juventude, sem dúvida, um documento fundante
Literário Joaquim Inojosa, que quaisquer implicações estéticas e no estabelecimento dos debates e
nesta localidade foi funda- literárias. na formulação de uma consciência
do sob o vosso patrocínio, Gemy Cândido, estudando as crítica em torno da necessidade de
com os nobilíssimos intui- “origens da literatura paraibana”, renovar a expressão poética.
tos de trabalhar pela Escola em artigo publicado no número Autores como Perylo Doliveira
Moderna cujo supremo che- 261 do Correio das Artes, assinala, e Eudes Barros, de certa maneira,
fe aqui no Norte é o vosso em nota de roda-pé, a respeito do pagam algum tributo a Joaquim
erguido vulto, emocionados poeta Emydio de Miranda. Inojosa pelo que este trouxe, ao
agradecem vossa carinhosa Nordeste e a Paraíba, de ideias
lembrança pela remessa que Emydio de Miranda nas- novas concernentes à elaboração
fizestes dos exemplares da ceu em Serra Talhada (?), mu- do texto poético. E
A Arte Moderna e do O Bra- nicípio de Pernambuco. Ain-
sil Brasileiro, − livros que são
bem a síntese perfeita das
ideias renovadoras, que, nes-
te momento, universalmente Hildeberto Barbosa Filho (HBF) é poeta e crítico literário. Mestre e doutor
vão de vitória em vitória, con- em Literatura Brasileira, professor titular aposentado da UFPB e membro da
Academia Paraibana de Letras. Autor de inúmeras obras no campo da poesia,
quistando terreno aos arraiais da crítica, da crônica e do ensaio, dentre as quais se destacam: Nem morrer
defensivos do passadismo é remédio: Poesia reunida; Arrecifes e lajedos: Breve itinerário da poesia na
bolorento. Paraíba; Literatura: as fontes de prazer; Os livros: a única viagem, e Valeu a pena.
Revendo o noir:
três subestimados
“H
at, gun and dame” (“Chapéu, arma e mu- ganhou, embora tenha havido algumas
lher”). Com estas três palavras, certo se- raras indicações.
tor da crítica americana resumiu aquele Toda essa desimportância trazia, por
gênero de filmes a que chamamos de noir. ironia, uma grande vantagem do ponto
E faz sentido. A primeira palavra su- de vista artístico. É que os diretores desses
gere que se trata de um gênero datado, filmes ficavam livres das pressões comer-
do tempo em que os cavalheiros usavam ciais dos estúdios e, assim, podiam tomar
esse item da indumentária masculina. certas liberdades com a linguagem, sendo
Tanto é assim que os historiógrafos mais eventualmente mais criativos.
rigorosos colocam o noir entre os anos de Na época (anos 40/50), essa criativi-
1941 (estreia de ‘Relíquia Macabra’) e 1958 dade dos filmes noir mal era notada pela
(‘A Marca da Maldade’). crítica americana. Foi preciso o tempo
O segundo termo indica que da trama passar para que se consagrasse esse gênero
não poderiam estar fora assassinatos e como um dos mais esteticamente férteis.
muita violência. O terceiro registra a pre- Os primeiros a notar a qualidade do noir
sença da figura feminina, normalmente a foram os críticos e teóricos franceses da
“femme fatale” que conduz o protagonista revista Cahier du cinéma, mas esta é uma
à perdição. longa história que não cabe contar aqui.
Lembrar que, ao contrário do que se po- O fato é que o gênero noir já é cult há
deria pensar, “dame” tem valor pejorativo muito tempo e a crítica especializada, no
e poderia muito bem ser traduzido como mundo todo, já estabeleceu o seu cânone.
“rabo de saia” ou “chamego”. E não como Tanto é que todo cinéfilo que se preza exibe
o nosso aristocrático “dama”. a sua listinha antológica.
Normalmente de orçamento modesto, Ainda assim, acho que nem tudo está
os filmes noir eram feitos para tapar bura- definido na antologia do noir. Nesse sen-
cos entre as grandes produções hollywoo- tido é que, aqui, refiro três filmes que,
dianas – filmezinhos a serem exibidos nos apesar da inegável qualidade, nunca vejo
circuitos menores, geralmente em dias de aparecer no rol dos noir consagrados, quer
semana. Nenhum deles foi concebido para da crítica, quer dos cinéfilos comuns.
ganhar Oscar, e, efetivamente, nenhum Esses filmes são, em ordem cronoló-
gica: ‘O Justiceiro’ (‘Boomerang’, 1947,
foto: Divulgação
de Elia Kazan), ‘Sublime Devoção’ (‘Call
Northside 777’, 1948, de Henry Hathaway)
e ‘Escândalo’ (‘Scandal Sheet’, 1952, de
Phil Karlson).
Como não podia deixar de ser, o pivô
que põe as narrativas em andamento é,
em cada um deles, um crime. E a vítima,
Em ‘O Justiceiro’, sempre uma pessoa de bem: no caso, res-
Elia Kazan pectivamente, um padre, um policial e
adota um tom
uma mulher.
documental,
atípico do Os enfoques, porém, diferem.
gênero O filme de Kazan possui um tom docu- c
Paladares
U
ma pequena cidade. À beira de um rio, não pela rua, a garrafa debaixo de seus paladares. E
longe do oceano. Uma pousada com pombos foram, cambaleantes, úmidos, por uma estrada
no topo, dando para uns barcos e para as sortes e encontraram, lá adiante, as dunas. E no meio
do rio. Que eram tantas, com destaque para as delas poças d’água onde a lua ralhava com
margens, tão secas, com os pássaros laranjas uns fantasmas. E eram mesmo os fantasmas
pousados na poeira. Uma rua de pedras bicu- da paixão, que bebem luz e se apavoram, que
das, os postes tristes, curtos. E foi ali que nasceu sentem sede após comerem flores. Fantasmas
a paixão deles. Foi ali que cantou uma mesa. que arrotam perfumes, mas que bicam o que
Que cantou um banco de madeira tosca. Que se decompõe. E que batem contra as águas o
cantou uma garrafa de vinho. Foi ali que o rio anseio das pedras. I
mordeu um grande peixe, que veio cobrir a
mesa. Que veio se afogar no alface e recrear os
Rinaldo de Fernandes
tomates. Foi ali que a mão tocou na unha quen- é escritor, crítico de literatura e professor da
te que subia a azul. Foi na noite que eles saíram Universidade Federal da Paraíba.
Mora em João Pessoa (PB).
MARKETING EPC
to o
en o ent
em d o lem o
pl rio niã Sup rário d ião
Su terá U lite A Un
li al A 2
rn 02 2 na l
Jo -2 º1 Jor
22
na ário nto
o N
eir I - - 20 º 11
ião
Un o
er XI 00 eiro to
Jor liter eme
Suplemen
d
N
v
Fe o LX $ 9, Jan XXII - do
9,0 - Nº 21
literário
pl
oL ,00
10
n R
20
A n R$ 9 União
lA
Su
A
Jornal A
XX o -
o L br
R $ II
0
An zem
o - 2021
Novembr - Nº 9
De
Ano LXXI
R$ 9,00
Jorn rário d to
o
o
Uniã
lite men
LXX - 2021
R$ 9 I - Nº 9
Suplemento
le
literário do
al A
Sup
Ano mbro
,00
Jornal A Un
ião
e
Nov
Outubro -
2021
Ano LXXI
- Nº 8
R$ 9,00
0
9, 0
R$
9,00
es, R$ 9,00
es,
ta nt
ntes, R$
C
es en
re pr
rese nta
e repres entant
as e
cas e rep
M
ba nc
Nas
0
9,0
Bpa bra
s,
na
nte
Y
as si
Li de de
nta
ina ntes
Zé eresnitdaos
se
pa ra
e
pr
de assinase
e
er
oste c lara:
en as
par a ass
on A da cele
qua
as
de”
ns
nc
o ap
ba
CM
iraapenas para
as
Un iã
ão ape nas
rida
.N
s e sc r t as.
c om
te s
al A
:
an
20 or.
in
jo rn
is
ss
.
r e s s arrAeUnião
aa
al A Uni
it
22
0 a p e l c ial
no
MY
t or
ar
sp
ad o
m
na
0
ca rt
á 9 da s p e
do no jorn
9,0
p
pe
no o e
i braarte do
a, a
R$
oa
m
ar en
s,
aa
iã
l
Oth Fest Aruan
nte
Un
ta
en
m pl
A
es
CY
o’ d e i x p o r
arta
al
pr
dao a os
n
E xe
re
jo r
e
mpl ar enc
as
no
le
nc
e
60
c
o
ba
do
it o
as
ta
Fest AruanR r dE
.N
ar
E n e c t alia
te s
éd o
nc
cs o
ee
Exemp
ta e
an
Exe
CMY
re
o
in o r t
t
in
ss
p la
s
aa
far
a
av
r
em
rio , m -19
‘ M e ra raib ã o m e
pa
B m
ua
Ex
as
evis
n
en
á
s
oé
o
id
ap
t a
h e
e n a s t C ov
iã o
Ot éz ofe ern
o
i
nh
Un
K
an
lA
de nt e l
t“aQ o d 9 m ent r
m e
s
na
ge
c u c in d a
ao! N
jo r
s
o
on
do doquasciea a
os
d
in o a i
tem
ta
ar
o coam n
nc
i r
iscu 1922
cuoer o o a 0 an
re
dor
nç
El o pMod
derrclara:
E
e aae a podster ci rn ar
h
9, 00
de id o de
en
spe
R$
90 anos indteress aP
es,
d m
ta nt
Não m:eos a vi s, e s , e r t e M nt o n
es en
tar vivo!
re pr
p oi
as e
o A e
“Quero es o
ba nc
iv rra an o s d e n a d e d o ev
ro
. Nas
Ne gad
es
s
na nt
a
c lu n 61m an Sema ussão
si
ra as
as pa
Ex que aosCe
Le
apen
a c
per
ni ão
od
AU
aç ã e a r e
rn al
no jo
z
ad o
l i
rt
O novo vo
rea
en ca
pl ar
Ex em
Marília Ar o de
naud No ro m an
Pr êm io Ki
ce ‘O Pá ss
ar o Se cr et
o’, a ve nc
nd le fa z um ed or a do
m ão do se co nv ite à
re fle xã o
u te xt o ca se m ab rir
pr ich os am
en te tra ba
lh ad o