Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ma
ga-
12 fevereiro 2023 / Número 1603
Esta revista faz parte integrante
do Jornal de Notícias n.º 256/135
e do Diário de Notícias n.º 56180 e não
pode ser vendida separadamente
zi
Médicos
ne
estrangeiros
dão saúde
ao Interior
gazine
VOLTAR A VIVER
NO POLE DANCE,
O VARÃO É CADA VEZ
MAIS MASCULINO
alma-
naque
O MEU OBJETO
POR Sara Dias Oliveira
SÍLVIA
RIZZO
Atriz
55 anos
MÁRIO BAU
da estima. P. 48
COMPORTAMENTO
Juan Urbano (Elvas) e o argentino Pablo
trevistou especialistas
para desmontar o mito
cos estrangeiros contratados pelo Serviço
Nacional de Saúde. Escolheram o Interior
de juro anunciam
pessoal é a
insolvência
e especialistas. P. 30
buracos. A inflação
e a subida das taxas
ouviu protagonistas
- 24,5%; Grandes Notícias, Lda. - 10,5% Sede Rua Gonçalo Cristóvão, 195-219, 4049-011 Porto, Tel.: 222096100, Fax: 222006330 Filial Rua Tomás da Fonseca, Torre E, 3.º piso, 1600-209 Lisboa, Tel.: 213187500 Fax: 213187501
6
naque
alma- FLASH
ERDEM SAHIN/EPA
ADEM ALTAN/AFP
Guião de
exames nacionais
revisto
Provas obrigatórias para a conclusão do percurso
escolar passam a três. Português continua a ser
condição “sine qua non”. Peso dos exames na média
final do Secundário desce, mas sobe
no acesso ao Ensino Superior.
45%
o Secundário nessa altura. ideia, batendo-se por umm peso crescen-
te destas provas no acessoso às universi-
dades. A reconfiguração agora proposta
é uma espécie de meio-termo
ermo entre as
partes.
Rui Moreira
Presidente da
Câmara do Porto
Numa troca de acu-
sações acerca da
ocupação por toxi-
codependentes
de um edifício mili-
tar, reafirmou que
Chelsea,
o combate às dro-
gas não é compe-
a Barbie que
tência da Polícia
Municipal.
tem escoliose
Em mais uma ação para a representação da di-
versidade humana, a fabricante de brinquedos
Mattel apresentou recentemente uma boneca
diferente do estereótipo magro e alto. Chelsea
é uma Barbie com escoliose, que apresenta a Beyoncé
coluna curvada e um colete de tratamento Cantora
amovível. O novo produto foi desenvolvido É a artista, tanto
pela empresa norte-americana em colaboração no masculino como
com um neurocirurgião especializado em pro- no feminino, mais
blemas de saúde semelhantes nas crianças. O premiada de sem-
objetivo é que a representação seja o mais fiel pre na história dos
possível a um caso real, para que a informação Grammy, com 32
transmitida aos mais novos seja correta. O mais vitórias. Alcançou o
recente exemplar de inclusão junta-se a uma recorde na 65.ª edi-
FOTOS: FACEBBOK
AFP
Jorge Manuel Lopes
POR
Música
3549
ESTADO DE ANSIEDADE
Em 2020 e 21, o ambiente físico e mental semeado pela
pandemia propiciou a transição de alguns artistas, em
especial da música eletrónica dançável, para a criação de
peças ambientais conducentes à meditação, uma fuga
sensorial que melhor ajudasse a lidar com o alarme sani-
tário e o confinamento global. Abundaram as mixtapes
com músicas em estado de levitação, uma preciosa
pessoas disfarçadas da personagem indústria artesanal em que se destacou o veterano
Smurf juntaram-se em produtor britânico Richard Norris com as peças sema-
Landerneau, França, em 2020, nais de 20 minutos “Music for healing”, entretanto
vertida para vários discos.
mas o recorde não foi validado por Um outro veterano da música
questões burocráticas. A 25 de de dança, nascido no norte de
Inglaterra, George Evelyn
março voltarão a tentar, querendo experimentou em primeira
chegar aos 4999 Smurfs reunidos. mão a razia que os anos de
chumbo da covid-19 aplicou ao
DIREITOS RESERVADOS
Pu Yi. O último
imperador da
China, fotografado
entre 1930 e 1940
por um autor
desconhecido,
quando era um
“fantoche” dos
japoneses
Qin Shi Huang, o primeiro imperador da China, governou entre 221 a.C. e 210 a.C.,
sendo responsável por unificar o país, que se tornou o território que hoje conhecemos.
Deixou como legado a Grande Muralha da China e o admirável Exército de Terracota.
Toda a dinastia Qing foi tão impressionante que perdurou por cerca de dois mil anos,
tendo acabado a 12 de fevereiro de 1912, há precisamente 111 anos, quando o último
imperador renunciou.
Depois de décadas de crescimento e prosperidade (económica, social e militar), a China
passou pelo chamado “século da humilhação”. A chegada dos ocidentais ao país abalou
totalmente as estruturas da sociedade chinesa. Foi neste contexto que Pu Yi, o último
imperador, com apenas seis anos, foi forçado a abdicar do trono, cargo que assumiu
aos três.
O desfecho era esperado. O país estava mergulhado na Revolução Xinhai, um conflito
estabelecido contra a dinastia Qing e o seu reinado. O resultado foi a abdicação de Pu Yi
e a implantação da República Chinesa.
Pu Yi ainda permaneceu na Cidade Proibida até completar 18 anos, quando foi expulso
por outro golpe no país. Haveria de voltar por volta de 1930, como um imperador
fantoche, usado pelos japoneses para “comandar” um novo país dentro da China. Após
a derrota japonesa na Segunda Guerra Mundial, em 1945, o último imperador chinês
foi preso pelos soviéticos e depois pela China comunista. Só em 1959, já com 53 anos, se
conseguiu livrar das prisões. Morreu em 1967, aos 61 anos, com cancro nos rins. Antes
deixou uma biografia, “De Imperador a cidadão”. É por ela que se sabe que acabou os
dias como jardineiro, numa simplicidade que o deixava verdadeiramente feliz.
Álvaro Vasconcelos
Com séculos de presença no O incómodo causado pelo testemunho de Álvaro Vasconcelos no livro “Memó-
país, onde estão os negros rias em tempo de amnésia” só se justifica porque a atrocidade cometida pela
nos municípios, no Governo, ocupação colonial ainda é crime impune e sem assunção. A indignação de Álva-
nos bancos, nas direcções ro Vasconcelos perante o esquecimento nada inocente resvala no esforço hipó-
das grandes instituições, crita dos poderes brancos que visa manter o assunto em silêncio o tempo sufi-
onde estão os negros ciente para que não se pague pelo que foi feito. Até porque adiando a questão
por umas gerações haverá sempre a desculpa de dizer que quem exerceu o pri-
portugueses proprietários? vilégio branco de explorar os negros já morreu. A questão é que quem usufrui
da exploração ainda viverá. Porque os séculos de abuso e extermínio dos negros
favorecem até hoje, e continuarão a favorecer, tudo quanto respeita à vida do
cidadão europeu.
O livro de Vasconcelos explica com clareza como é impossível a conquista da
ideia democrática perante a manutenção do colonialismo. Democracia é obri-
gatória inclusão, pelo que o ódio à subalternização de pessoas por qualquer mo-
tivo se torna elementar nas consciências dos jovens que fazem o Maio de 68 e
se preparam para o 25 de Abril. A Democracia, contudo, perante o trauma dos
povos negros, parece pedir esquecimento. Uma espécie de jogo zerado quando,
na verdade, o que os povos brancos extorquiram dos negros não foi minima-
mente devolvido, não houve qualquer processo de compensação por uma es-
cravidão que perdurou travestida até 1974.
Como se pode, então, pedir esquecimento quando não se exerceu terapia al-
guma sobre o trauma? Perante a vontade europeia de esquecer, que direito exis-
te em pedir esquecimento aos povos africanos que ainda se vêem excluídos de
toda a parte?
Com séculos de presença no país, onde estão os negros nos municípios, no Go-
verno, nos bancos, nas direcções das grandes instituições, onde estão os negros
portugueses proprietários? Famílias que representem a nobreza negra, a me-
mória negra, a cultura que tanto se diz que os portugueses admiram mas que
não parece digna o bastante para ascender acima da condição servil?
A Europa é racista. Absorve outras culturas com muita parcimónia e sempre
pelo mesmo motivo: toleramos os diferentes na medida em que venham tra-
balhar naquilo que não queremos mais fazer. Isso é tão válido para os portugue-
ses que foram construir e limpar casas para os franceses, como para os brasilei-
ros que chegam cuidando da nossa restauração.
Se a Democracia implica a inclusão, esta só existe se a paridade for praticada.
Incluir não é prosseguir com a mesma lógica de exploração mudando o nome
às coisas e adoptando retóricas hipócritas. Democracia é fazer representar em
todos os poderes as pessoas que efectivamente fazem parte, e os negros não es-
tão no poder em Portugal. Não estão inscritos em coisa nenhuma, senão em
muito pontuais oportunidades que mais significam uma quase folclórica ale-
gria do que um Direito verdadeiramente adquirido. São precisos mais mil livros
como o de Álvaro Vasconcelos, e menos um milhão de chefias por toda a parte
a impedir que se assuma a atrocidade da nossa História ainda actual. Porque não
é sobre o passado. É sobre nós, agora, num sistema sempre racista e abusador.
CARLOS
ANTÓNIO
VASCONCELOS
MOTA DOS
SANTOS
Cargo
Chairman e CEO
da Mota-Engil
Nascimento
13/05/1978
(44 anos)
Nacionalidade
Portuguesa
(Porto)
“Foi um bom menino, é um bom rapaz.” O pa- lhor preparada do que a segunda. O meu sonho
triarca António Mota não esconde o apreço pelo de ter pessoas de família com muita qualidade e
sobrinho e afilhado. Carlos, único filho de Maria bem preparadas para prosseguir o trabalho reali-
Manuela, a mais velha das três irmãs, acaba de zou-se”, orgulha-se o patriarca.
ser o escolhido para lhe suceder no topo da maior A teimosia do novo líder da Mota Engil tem-lhe
construtura portuguesa, caminho familiar ini- rendido mais bens do que males. “Detesto per-
ciado há 76 anos por Manuel António Mota, e a der. Fico a remoer por dentro e a cismar, não obs-
passagem de testemunho enche-o de orgulho. tante tenha aprendido com alguns insucessos.”
“Filho único, mas sem mimo. Nem em casa nem Concursos que se perdem, investimentos falha-
no trabalho”, continua António, não poupando dos, desilusões com parceiros de negócios. “Trai-
reconhecimento ao recém-nomeado CEO e ções, mesmo. Nesses casos, não sendo de explo-
chairman da Mota-Engil. “É muito preparado. dir, corto de vez. Quando acaba, acaba.” Tem na
Começou do início. Andou pela Polónia, foi res- família o centro. A mulher, médica, e os três fi-
ponsável pela América Latina e, ultimamente, lhos – Rodrigo e Luís, futuros engenheiros. E Bea-
andou comigo, a segurar-me na mala. A vida dele triz, “a menina que faz o que quer de mim, por-
foi acompanhar o tio nos bastidores, onde teve que aprendeu com a mãe”.
sempre uma boa relação com todos.” As amizades, fazem parte do essencial. “Sou um
Padrinho de batismo e de casamento de Carlos colecionador de amigos, adoro convívios e jan-
Mota dos Santos, recorda “um miúdo muito alegre tares.” Necessidade premente que explica com
e divertido, muito ligado aos primos, dado a gran- a experiência de filho único, apesar de tantos pri-
des brincadeiras de férias”. Mas também diz: “O mos. “Sempre gostei muito de me divertir, e di-
Carlos transitou com grande rapidez da juventu- verti-me muito na juventude, mas também me
de para a ponderação”. Amadurecimento que se sentia sozinho. E eu detesto a solidão.” Quem o
notava já em 2012, quando teve pela primeira vez vê na empresa, apesar de afável, não adivinha “o
assento na Comissão Executiva, então liderada por lado bem-disposto e divertido”. António Lobo
Jorge Coelho (falecido em 2021), também figura Xavier conhece-lhe o “entusiasmo pela vida, o
central no percurso do gestor – “Só quando o perdi sentido de humor e a boa conversa”. Sobre para-
percebi o quanto era importante para mim”. gens longínquas, sobre arte, sobre o Porto – “A
António Lobo Xavier é também testemunha cidade que adoro”. Sobre música, fã dos Metalli-
dos primeiros passos que o conduziriam ao topo, ca, sente-se ainda hoje “semi-roqueiro”. E sobre
por entre primos direitos, sem disputas fratrici- Engenharia, paixão antiga. “Houve tempo em
das. “Recordo o profissionalismo, o foco, a refle- que quis ser advogado, não sei porque é que tal
xão, o equilíbrio, a sensatez no trabalho.” E, acres- me passou pela cabeça.”
centa, “a coragem de discordar”. Não é fácil dis- Para Francisco Seixas da Costa, ligado à empre-
cordar de António Mota, líder de convicção, de sa há dez anos, “há muito que a terceira geração
instinto, de faro. De emoções e de muito suces- da família Mota está a ser preparada para dar con-
so. Em reuniões do Conselho de Administração, tinuidade à empresa”. Carlos Mota Santos “tem
marcadas pela boa disposição e pelo sentido de todos os requisitos pessoais para assegurar uma
humor, traço do patriarca, o então jovem de 34 excelente liderança”, acrescenta.
anos, o primeiro dos dez netos do fundador a sen- Herdou do avô “o humanismo e o amor à famí-
ILUSTRAÇÃO: JOÃO VASCO CORREIA
tar-se na Comissão Executiva, mostrava-se “fo- lia”. Tem por objetivo “fazer o que fez a segunda
cado, calado, reservado, apresentando as áreas geração e entregar à seguinte uma Mota-Engil
dele, por vezes dossiês difíceis, de forma convin- melhor” do que a que recebeu, promete o novo
cente e bem preparada”, acrescenta o advogado. CEO. Aos 44 anos, define-se em três palavras:
Formal e institucional, Mota dos Santos não se “Ambição, felicidade e gratidão”. O tio e padri-
intimida ou atrapalha. E nunca olhou para os car- nho, treinador do Benfica em jogos de computa-
gos que teve como um favor. “Tenho uma espe- dor nas horas vagas, encontra-lhe um único de-
rança muito grande na terceira geração, que é me- feito: “É do F. C. Porto”. ●
m
1 8
Faltam dois dias para o Dia O líder nor
norte-coreano, Kim
orados. Se nesse dia
dos Namorados. Jong-un, ordenou que as
se sentirr pouco amoroso, suas forças
forç armadas se
é porquee muito provavel- preparassem
preparasse para a guerra.
mente o São Valentim foi Como sempre,
sem há de ser só
do pelo S.TO.P. para
recrutado fogo de vista
vis deste regime
fazer
azer greve. ditatorial.
ditatorial A única guerra
que eles efetivaram
e em
anos foi aos cortes de cabelo.
2
O líder do S.TO.P, André
7
Pestana, tem tido muito
destaque na imprensa. Não A Netflix
Netfli anda a testar
se deixem enganar pelo novos métodos
mét para impe-
apelido: é improvável que dir a partilha
partil de passwords
André seja familiar de João do mesmo utilizador. Boa
Pestana, já que não anda sorte com isso no mercado
aqui a dormir no que às suas português.
português Nós arranjamos
ambições políticas diz esquemas
esquem para sacar
respeito. conteúdos
conteúd à borla desde
que
q era preciso
copiar
co as pinturas
rupestres
r para o
calh de um primo.
calhau
3
Aindaa na educação, os
6
ue queiram termi-
alunos que
cundário terão de
nar o Secundário Foi também
també revelado que
rês exames: dois à
fazer três alguns dos
do ex-atores irão
escolhaa e o de Português. regressar com
co as suas perso-
to. Eu costumo ler
É injusto. nagens à trama.
t Tendo em
ntários nas redes
comentários conta que
qu na primeira
sociais,, sei que 90% das temporada o Pipo já parecia
pessoass não passam num pai deles todos,
to não espero
me de Português.
exame menos do que
q desta vez ter
neti
os seus netinhos na Associa-
ção de Estudantes do Colé-
4 5
gio da Barra.
Cr
Cristiano Ronaldo fez 38 A TVI anunciou o regresso
anos
an e celebrou com um dos “Morangos com
vinho Barca-Velha, no
v açúcar”, juntamente com a
valor de 865 euros. plataforma de streaming da
Curiosa escolha, porque
C Amazon, a Prime Video.
a ver o que aconteceu Não há ainda data de estreia,
quando quis sair de pelo que não se sabe se o
Manchester parece-me professor Sapinho vai estar
que “barca velha” é de greve por não ser aumen-
o que muitos clubes tado desde a última vez que
o consideram. a série esteve no ar.
Era boa aluna a todas as disciplinas, a Literatura do nos Estados Unidos, a recusa e a sensação de
surgiu por exclusão de partes, inicialmente como ter perdido a oportunidade para ver como era a
expressão, depois como estudo aprofundado que LOLA XAVIER vida lá fora. A vontade ficou e veio ao de cima. “Já
lhe tem enchido os dias, os anos, a vida. “Havia ali tinha feito 40 anos, sentia que estava a ganhar raí-
uma perceção aliada a um gosto”, confessa. Um Localização zes em Coimbra como uma árvore que já tem a
gosto que deu de si. O percurso reflete essa entre- Macau sua própria terra, uma imagem que me começou
ga. Curso de Línguas e Literaturas Modernas, pós- a desagradar”, recorda. Até à vaga num concurso
-graduação em Literaturas e Culturas Africanas e 22º 10’ N internacional para o Centro Pedagógico e Cien-
da Diáspora, mestrado em Literatura, doutora- 113º 33’ E tífico da Língua Portuguesa do então Instituto Po-
mento e pós-doutoramento na mesma área. Lo- (GMT+8) litécnico de Macau, há oito anos. Entrou, ficou.
la Xavier, de Coimbra, é professora de Literatura Os dias são desafiantes. “Acordamos com uma
na Universidade Politécnica de Macau. Cargo ideia, ao meio-dia temos outra, ao fim do dia já é
No tempo de estudante, na Faculdade de Le- Professora outra.” Reflexões constantes e um currículo com
tras da Universidade de Coimbra, fundou um jor- de Literatura cerca de uma centena de publicações, entre arti-
nal com uma amiga, escrevia poesia e contos, re- gos em revistas e livros. Anda sempre a pé na ci-
censões críticas, entrevistas, roteiros por Coim- Idade dade do Oriente, gosta de ali viver. E à pergunta
bra. A escrita andava ali. Depois, abriu a porta do 49 anos se pensa voltar, a mesma resposta. “Não sei res-
ensino, professora de Língua Portuguesa em li- ponder a essa questão.” ● m
ceus da cidade dos estudantes e na Escola Supe-
rior de Educação de Coimbra, onde deu aulas em
licenciaturas e mestrados, foi diretora do curso
de Educação Básica.
A paixão
Num outro país, num outro continente, a mes-
ma paixão. “As literaturas em Língua Portugue-
sa, que tenho tido o privilégio de lecionar a estu-
pela Literatura
dantes chineses de licenciatura e doutoramen-
to, permitem-me usar o Português como meio
que dá acesso a outros mundos tão diferentes dos
asiáticos, abrindo os horizontes para a reflexão,
questionamento e formação humanista, hoje
fora de moda, mas tão necessária”, refere. A lín-
e pela Língua
gua como meio de recriar e aceder a outros mun- Lola Xavier é professora universitária em Macau,
dos, linguísticos e culturais. “Há uma língua com
a suas variedades que nos permite comunicar em
dinamiza atividades que colocam alunos em contacto
Macau, em Moçambique, no Brasil, etc., e em com a riqueza e diversidade do Português. Uma
cada ponto do Globo que é atualizada veicula uma forma de dialogar com outras culturas.
história e uma cultura diferente. É nessa diver-
sidade que está a sua riqueza”, sublinha.
Neste momento, coordena o doutoramento
em Português na universidade de Macau. Coor-
denar tem sido um karma que não a larga. “A van-
tagem é que me tem permitido organizar e dina-
mizar atividades que coloquem os estudantes
em contacto com riqueza da língua e das cultu-
ras em português, o que transporta a língua para
além da sala de aula, tão mais importante se es-
tivermos a trabalhar em contextos que não são
de imersão linguístico-cultural”, conta.
Pelo caminho, encontros felizes, vários mes-
tres, o professor e escritor Pires Laranjeira, o pro-
fessor e especialista em teatro Oliveira Barata, o
poeta João Camilo, o convite para fazer o mestra-
2ª
Cavaleiro”– no qual é visado o ex-diretor do
ACÓRDÃO
Museu da Presidência, Diogo Gaspar, e
outros três arguidos por um total de 42
DO PROCESSO
crimes – está agendada para este dia, depois
de vários adiamentos. À noite, às 22 horas,
4ª
sessão das 19 horas europeus.
QUARTA-FEIRA
TERÇA-FEIRA
IRS: DATA-LIMITE PARA
Em dia dos Namora-
dos, o festival literá-
DOMINGO
SEXTA-FEIRA
CHEGA AO FIM “A BELA
O JULGAMENTO E O MONSTRO”
EM BRAGA E BAFTA
DA MORTE DE FILM AWARDS
LUÍS GIOVANI
O musical “A Bela
S
A leitura do acórdão
do processo da morte
do jovem cabo- e o Monstro”,
-verdiano Luís
Giovani, em Bragança,
de Fernando
que já esteve agen- Gomes, sobe ao
dada duas vezes, foi
remarcada para este
palco do Altice
dia, três anos depois Forum Braga, às
dos factos. Sete jovens
estão acusados de 15.30 horas.
homicídio qualifi-
cado. Ainda nesta SÁBADO Também neste
dia, todos os
LUÍSA SOBRAL LEVA
data, começam as
comemorações dos
olhares se viram
100 anos do Carnaval
de Torres Vedras, que “DANSANDO” AO PORTO para Londres,
6ª
se vão estender até
fevereiro de 2024. A digressão que celebra o lançamento de onde os Bafta
“DanSando”, novo álbum de Luísa Sobral – preen-
chido por 11 temas originais –, vai passar pela Casa da
Film Awards
Música, no Porto, neste dia. Uma semana depois, a 2023, que
cantautora atua no Teatro Tivoli BBVA, Lisboa. Na
mesma data, estreia a terceira temporada da série celebram o
“Trafficked”, no canal National Geographic, da
autoria da jornalista portuguesa Mariana Van Zeller,
melhor do cinema
repórter premiada, que vive nos Estados Unidos. E britânico e
que procurou “infiltrar-se” em vários submundos,
desde a venda de armas à indústria das barrigas de internacional, vão
aluguer na Ucrânia, com a guerra pelo meio. ser anunciados.
Notícias Magazine 12.02.2023 19
“A minha
nacionalidade
é o amor à
medicina”
Não nasceram em Portugal, mas foi cá que decidiram assentar
a carreira profissional. São médicos e escolheram o interior do
país para viver e trabalhar. Vindos da Moldávia, da Roménia, da
Argentina ou até da vizinha Espanha, encontraram a qualidade
de vida que procuravam. Diferentes passados, um sentimento
em comum: as terras que adotaram precisam deles.
J
TEXTO Sara Sofia Gonçalves
á lá vão mais de dez anos desde que Iurie, hoje com 45 anos, continua sem ter rece-
cá chegou. Numa carrinha cheia de bido o salário desses 60 duros dias de trabalho.
outros homens carregados de so- Mas nem o começo atribulado lhe tira o sorriso
nhos, atravessou a Europa. Da Ro- do rosto ao falar da sua casa do coração, Portugal.
ménia para Portugal, vinha na É pelos corredores do Hospital Sousa Martins,
companhia de uma mala e com a na Guarda, que hoje nos guia. Lá fora, a tempera-
promessa de trabalho junto do pri- tura está perto de negativa, mas a energia conta-
mo, que já por cá estava há dois giante do médico moldavo (que também tem na-
anos. Entre as poucas roupas que cionalidade romena e portuguesa) na medicina
trouxe, não faltava a esperança de interna faz aquecer o espaço. Ora vamos a esta
um futuro. Vinha na companhia de um diploma sala. Ora vamos àquela. “Este é o interno novo.”
em Medicina, uma bata branca e um estetoscó- “Este médico veio de Macau.” “Aqui estão duas
pio. Mas não foi logo em 2002 que Iurie Pantazi médicas excecionais, uma brasileira com raízes
os colocou a uso. italianas e outra ucraniana.” Iurie sabe tudo de
Com vontade de procurar um futuro melhor, cor. As caras. Os nomes. As histórias. E as esqui-
chegou a Sesimbra para trabalhar nas obras com nas da casa.
o primo. Foram dois meses entre escadotes e mas- Mas a facilidade com que hoje nos fala do traba-
sa. E longe da primeira mulher e da filha Maria. lho e da família que constituiu na Guarda não
PEDIR A EQUIVALÊNCIA
Hoje recorda esse emprego não só pelo carinho
com que foi recebido pelos colegas de corpora-
ção, mas também pelo que ele significou no seu
futuro. “Estava a fazer um serviço sozinho, a
transportar uma senhora de casa para uma con-
sulta, lembro-me perfeitamente da cara, do
nome, da situação, até que ela me diz que viu na
televisão que tinham aberto as equivalências de
médicos estrangeiros para trabalhar em Portu-
gal.” Mal pôde esperar pelo final desse turno para
se informar.
Foi em 2004 que fez da Guarda casa, quando
conseguiu aprovação para escolher uma vaga
para o ano comum (ano de estágio do curso de
Medicina em Portugal, antes de iniciar a espe-
cialidade médica). Qualquer que seja a naciona-
lidade, para um médico estrangeiro trabalhar
em Portugal é necessário que este requisite a
equivalência do seu “diploma”. Segundo expli- mesmo escalão que um aluno do quinto ano de Antes de conseguir
ca a Ordem dos Médicos, são necessários três pas- Medicina em Portugal. Fez o ano comum, fez o a equivalência em
sos para a obtenção da licença: primeiro, o reco- exame de admissão à especialidade e escolheu Medicina, Iurie Pantazi
nhecimento junto de uma faculdade de ensino uma vaga. trabalhou na
de Medicina; depois, é preciso falar português, Depois de ter feito o primeiro ano na Guarda, construção civil
sendo necessário fazer uma prova de comunica- não havia outro local que fizesse sentido para em Portugal
ção; por fim, avança-se com a candidatura jun- avançar com a especialidade e para assentar a car-
to da Ordem. reira profissional que não fosse naquela capital
Como Iurie não tinha iniciado a especialização de distrito. “Não conhecia nada de Portugal sem
no país em que se formou em Medicina, a Romé- ser Sesimbra, cheguei à Guarda sem conhecer
nia, quando chegou a Portugal iniciou o proces- ninguém, mas não podia ter escolhido melhor.”
so de equivalência nessa fase. Ou seja, ficou no É enquanto caminha pelos jardins do hospital
ESTRANGEIROS NO INTERIOR
Os dois moldavos não são casos únicos, longe dis-
so. Até ao final do ano passado, estavam inscri-
tos na Ordem dos Médicos mais de quatro mil
TEXTO
Catarina Silva
E AS CONTAS A VIR.
um em 2020. A mulher, que trabalha a recibos verdes como
ama, viu-se sem trabalho e sem rendimento durante meses.
Os confinamentos foram uma sentença. “De repente, está-
vamos num buraco. De três ordenados ficámos com um. E as
contas a vir. Não me sobravam nem 20 euros para comprar lei- NÃO ME SOBRAVAM
NEM 20 EUROS
te para os meus filhos. Tive que pedir dinheiro ao meu pai para
comprar comida.” O crédito habitação, o crédito automóvel,
PARA COMPRAR
a água, a luz, o gás, uma soma a parecer infinita. Tentou rene-
gociar, tentou um empréstimo para tapar buracos.
Um dia bateram-lhe à porta para lhe levar o carro. O caminho
ficou esguio. Agosto de 2020, a bola de neve a agigantar-se –
“cheguei a pensar cometer erros, roubar para comer, o deses- LEITE PARA OS
MEUS FILHOS”
pero é tanto que nem se imagina” – e uma pesquisa na Inter-
net por um advogado. “Encontrei o doutor Pedro Meira, que
não foi um advogado, foi um amigo. Que nos conseguiu dar es-
perança.” Fernando e a mulher avançaram para um processo
de insolvência pessoal. E veio a dor de ver o tanto que construí- Fernando Pedro Moreira
ram a voar, como um penso rápido arrancado à pressa. “Perdi
tudo o que tinha. Tudo. A casa, o recheio. Virem tirar-me tudo,
ali perante a minha mulher e os meus filhos, é humilhante.”
Os sogros cederam-lhes um andar-moradia para morarem. Um
amigo emprestou-lhes um carro que não usava.
Estão a reerguer-se. O tribunal definiu que, além da casa,
tudo o que recebam de salário acima de três ordenados míni-
mos têm que entregar – o casal não chega a isso nos rendimen-
tos. Até 2024, o ano em que a família vai conseguir a exonera-
ção do passivo restante, que é como quem diz que ficam total-
mente libertos das dívidas. É um começar de novo previsto
na lei. Um renascer das cinzas. Mesmo que o estigma os pos-
sa perseguir. “Sentimos muito. Mais de familiares até. O jul-
gamento típico de que foi má gestão nossa. Eram críticas em
vez de uma palavra amiga. É tudo muito doloroso, estávamos
muito bem e de repente perdemos rendimentos e ficámos
completamente frágeis. Se eu e a minha esposa não nos tivés-
semos unido tanto, o nosso casamento não teria durado.”
COM A MINHA
tido grande parte do património financeiro em ações de crip-
toativos, nomeadamente na moeda digital Bitcoin e em NFTs.
EUROS DE RENDA, alguns, perdeu cerca de um quinto do valor total que investi-
ra. Para se manter à tona, contraiu créditos pessoais na espe-
GANHO O
rança de que “num curto espaço de tempo ganharia muito di-
nheiro de forma fácil”. Na crença de que tudo era passageiro.
ORDENADO MÍNIMO
Abriu um buraco financeiro, uma queda vertiginosa.
“Tive, na verdade, muito azar, porque parte dos meus inves-
timentos estavam numa corretora que faliu, a chamada FTX.”
CRÉDITO PARECIAM
quererem vender a casa onde vivem para lhe pagar as dívidas
– não contou a outros familiares, vizinhos nem amigos. Pe-
UMA SOLUÇÃO
diu ajuda. “Procurei o advogado Dantas Rodrigues. Já estava
a ser confrontado com os vários processos executivos para co-
brança coerciva das dívidas. Na altura não tinha sequer noção
FÁCIL. USAVA PARA de que a insolvência seria a melhor solução.” Não conhecia a
figura jurídica, mas percebeu que “o prazo para conseguir o
PAGAR A ÁGUA,
chamado ‘fresh start’ era agora de três anos, o que veio facili-
tar muito”. Vive numa casa arrendada, o carro que usa é de ser-
A LUZ”
Fernanda Pereira
TUDO. SÓ ME
Mudou-se para uma casa arrendada – 360 euros já com des-
pesas. Tudo o que a mulher recebia acima do salário mínimo
DEIXARAM A
era penhorado. José ainda tentou segurar as pontas com bisca-
tes de carpintaria e a pandemia aterrou que nem bomba. “O
preço do material subiu. Tinha móveis encomendados, que fiz,
FAMÍLIA” mas depois os clientes já não queriam. Foi tudo prejuízo.” Es-
tava a nadar em dívidas, a inflação a juntar-se à festa, acabou
finalmente a pedir ajuda. Depois de um calvário de anos. A in-
solvência foi decretada em dezembro. Agora, espera encontrar
José um emprego. “A minha mulher está a receber o salário míni-
mo, temos que fazer muita ginástica. Vão ser três anos duros,
ao princípio parece uma eternidade. Mas vamos a ver se ainda
vou a tempo de reconstruir alguma coisa da nossa vida.”
PARTE DOS vítima de cancro, e as dívidas de uma das empresas dele – que
entretanto já tinham sido vendidas – viriam, anos mais tar-
RENDIMENTOS],
de, cair-lhe no colo qual furacão. “Nos pedidos de emprésti-
mo à banca para as empresas, eu também tinha que assinar
ATÉ ACABAR O
por estar casada em comunhão de adquiridos, mesmo não sa-
bendo o que estava a assinar.” As assinaturas, por ser cega e
não terem sido feitas perante um notário, não eram válidas.
PROCESSO. MAIS O tribunal deu-lhe razão aí, só que já tinham passado os pra-
zos para contestar.
VIDA AMPUTADA”
comprado depois de o marido falecer (antes vivia em casa do
sogro). Depois o emprego. Mudou-se para o Porto, para uma
casa que a mãe tinha para arrendamento. “Achava que era
temporário, até que me caíram mais dívidas. Dívidas que não
Maria fiz. Uma catrefada que até me benzi. No fundo só confiei no
meu marido e no meu sogro. Isto causa muito revolta.”
Num labirinto de angústia, não houve caminhos alternati-
vos. Pediu insolvência, em outubro do ano passado. Tem 57
anos, nunca mais conseguiu voltar a trabalhar – ao facto de ser
invisual somou-se a idade. Vive com uma pensão de invali-
dez, entrega subsídios de férias e de Natal e tudo o que recebe
acima de um salário mínimo e um terço (valor estipulado pelo
tribunal). “A minha mãe ajudou-me muito. O dinheiro que
recebo é exatamente para cobrir tudo o que apresentei como
despesas ao tribunal, se houver um imprevisto tenho que pe-
dir ajuda. E agora com a inflação é horrível. Durante três anos
tenho que viver assim, até acabar o processo. Mais três anos
com a vida amputada.” Mas ainda guarda resquícios de espe-
rança. “Espero conseguir viver os últimos anos da minha vida
com alguma dignidade.” ● m
DIREITOS RESERVADOS
menta que a alicerça. ro de pessoas”. “Foi um avanço positivo na mo-
Através de giros, inversões ou movimentos dalidade porque ajudou a desmistificar alguns
conjugados e combinações (e são mais de 300), estereótipos”, recorda.
a dança funde-se com a ginástica, a expressão Atualmente, João Afonso reconhece que “os
corporal e os corpos desinibem-se com fluidez, homens continuam muito renitentes em ex-
quase sempre para contar uma história. Nela perimentar”, admitindo que “o preconceito não
podem entrar “atores”, ou melhor, atletas e per- é em termos da atividade, mas o que a ativida-
formers de ambos os sexos, dos mais novos aos de representa”. Como ainda não consegue vi-
mais velhos, sem julgamentos ou tabus. ver exclusivamente do pole dance, mantém-se
O pole dance teve origem em Inglaterra nos como professor de fitness em ginásios de Alma-
anos 1980. No nosso país, a cortina abriu-se em da e Lisboa, onde, quando faz os exercícios ou
2005, no Círculo de Dança de Lisboa, e Inês re- leva o varão, nota que os homens “têm bastan-
gista “cada vez mais participantes e pessoas a te adesão”, tal como acontece em eventos de
querer experimentar”. “O preconceito está a demonstração. Ou seja, “não é que não exista
dissolver-se dia após dia”, assegura. Quem ar- vontade em querer fazer, é também porque não
O bancário Henrique risca, sente o físico mudar e está comprovado há informação sobre a modalidade, além de não
DIREITOS RESERVADOS
Dantas (em cima à que a saúde fica a ganhar a todos os níveis. existirem estúdios em sítios onde a modalida-
esquerda), brasileiro de possa ser mais visível”, realça. Percebe-se que
de São Paulo radicado Presença no “Got Talent Portugal” o conhecimento de causa é a melhor forma de
em Lisboa, frequenta Pioneiro no universo masculino, depois de so- derrotar ideias preconcebidas.
as aulas de pole dance mar vários desportos (natação, andebol, volei- João, de 31 anos, defende que “os homens, em
no LX Factory. Paulo bol e hóquei em patins), João Afonso estreou- Portugal, só gostam de exercícios ou atividades
Nogueira (à direita), -se no pole dance em 2014. Foi Francisca Leitão, em grupo como o futebol, ou o padel agora, e o
engenheiro eletrotéc- “uma pole dancer de Sintra” que o apresentou pole é muito individual, por isso não fazem”.
nico e ex-praticante de ao varão e nunca mais parou. “Nunca senti qual- “Uma aula de pole dance é considerada uma ati-
râguebi, foi influenciado quer preconceito. A única preocupação que ti- vidade individual, uma vez que cada um evolui
pela mulher. Licenciado nha era mostrar, com um varão que tivesse por à medida das suas capacidades e isso não causa
em Educação Física, perto, que não tem nada a ver com striptease”, perturbações entre as pessoas que estão a pra-
João Afonso (à revela. Desde 2014, evoluiu e ficou habilitado ticar”, explica. “Faz bem ao corpo e à mente.”
esquerda em baixo) a dar aulas, foi campeão nacional e participou
estreou-se na modali- no Campeonato do Mundo de Pole e Aéreos. Engenheiro e professor de pole dance
dade há quase uma Licenciado em Educação Física, adquiridos co- Com a mulher “sempre associada às danças”,
década. E até já brilhou nhecimentos em Roma – onde estudou e deu Paulo Nogueira, de 41 anos, deixou-se enredar
na televisão aulas em três escolas –, em 2016, João partici- por este mundo quando “ela perguntou se não
pou no “Got Talent Portugal”, na RTP1, onde queria experimentar”. Amante de desporto –
conquistou o botão dourado por parte do jura- “joguei râguebi federado e sempre fiz surf e des-
do Pedro Tochas, seguindo para as galas em di- portos náuticos, além de fazer musculação, ago-
reto. Na mesma edição do talent show estive- ra estou também no crossfit” –, aceitou o desa-
ram mais dois pole dancers masculinos e a opor- fio e acabou “surpreendido pela positiva”. “Não
tunidade permitiu “chegar a um maior núme- estava à espera que fosse fisicamente tão pesa-
Distinto do striptease e a
viu a escola no LX Factory e inscrevemo-nos jun- caminho dos Jogos Olímpicos
tos. Já lá estamos há um ano, com o professor Hu- Ao contrário do que sucede em alguns casos, Gon-
go Matos”, partilha o bancário, de 30 anos. çalo Castro nunca sentiu que o associassem ao
Henrique garante que se sai melhor em exercí- striptease. E com justiça. Como pormenoriza Inês
cios de força, acusando “alguma dificuldade Ribeiro, o pole dance exibe-se nas “vertentes des-
quando se trata de flexibilidade, que tem melho- portiva e artística, e depois há a exótica, que é di-
rado”. Sem falsos pudores, fala “abertamente” ferente e é onde se usam tacões e outras indu-
do que faz e isso “gera mais curiosidade do que mentárias”. “O striptease é distinto disto tudo,
preconceito”. Antes, já fez remo, bicicleta, cor- mas infelizmente é aquilo que uma grande par-
rida de rua, sem nunca deixar o ginásio. Cons- te da população pensa que o pole dance é – uma
ciente das limitações, ainda não se sente prepa- forma de ganhar dinheiro através da arte de des-
rado para exibições, se bem que seja um desejo a pir e que não pretendemos representar”, salva-
concretizar. Para isso, adquiriu um pacote de au- guarda a também presidente da APVD, que re-
las extra, com vista a apurar destrezas mais rapi- presenta nacional e internacionalmente o pole
damente. sport e os desportos aéreos. Tudo em estreita li-
gação com a International Pole Sports Federa-
Entre os hospitais e a barra tion, cujo objetivo é a inclusão da modalidade nos
Os palcos são o cenário favorito de André Alves Jogos Olímpicos.
que chegou ao pole dance, há dois anos, à boleia A 4 de fevereiro, o Auditório do Olival, em Vila
do sonho de ser artista de circo. “Foi muito en- Nova de Gaia, recebeu a mostra anual de pole e
graçado, porque o meu pai andava à procura de aéreos da associação (que batalha por ver o pole
escolas de circo no Porto. Não encontrava nada dance ser reconhecido oficialmente como mo-
perto e acabou por me dizer que tinha visto um dalidade desportiva), dando a conhecer ao públi-
estúdio de pole dance e umas coisas áreas, para co o que se faz em Portugal, com atletas de am-
eu experimentar. Fiquei apaixonado e nunca bos os sexos em ação. Um aperitivo para o cam-
mais larguei”, lembra o jovem finalista de En- peonato nacional, marcado para 29 e 30 de abril.
fermagem, antes de mais uma aula no Studio Campeã nacional “em sport em 2021 e artística
Alma. Isto enquanto se contorce no aquecimen- em 2022”, Joana Magalhães entrará novamente
to, como se fosse elástico, não fosse a flexibili- em competição em breve. Consciente que “o po-
dade a sua mais-valia. Para ele, “é um prazer” di- le dance ainda está muito associado à mulher e a
vidir-se entre mundos tão diferentes, entre a Es- outras áreas”, observa que “o homem, quando
cola Superior de Saúde Santa Maria e o pole dan- gosta deste tipo de exercido, recorre mais aos ca-
ce, sem desistir de um dia chegar à arena circen- listénicos (em que se usa o peso do próprio cor-
se. Quem sabe ao Cirque du Soleil. “O maior so- po)”. Isso traduz-se em imagens singulares, mas
nho”, suspira. igualmente envolventes. Por vezes, Joana treina
Em conversa com os amigos, André percebe que à mesma hora que Gonçalo e André, que provam
“ficam todos entusiasmados” ao ouvi-lo falar so- que o desempenho é sempre individual, por maior
bre a modalidade, “pois nunca tinham visto uma que seja o grupo na sala. Enquanto se executam
versão desportiva do pole dance e tinham uma diferentes exercícios, os corpos movem-se com
ideia errada”. Acaba por os convencer a tentar e liberdade. E sem sombra de estigma social. ● m
sexual tem
ploração sexual? A explo-
ração é o tipo de abuso que
acontece quando a criança
O QUE ESTÁ
EM CAUSA
É possível que quando
ando ouves falar
de violência sexuall contra crianças
e jovens penses numum adulto
adultto a obri-
ob
gar um menor a ter sexo com ele (ou
ela). E não estás errado. Mas é im-
portante que saibas que a violência
sexual não acontece apenas quan-
do há penetração. Pelo contrário,
tem muitas formas. Pode ser um to-
que íntimo indesejado (como um
beijo na boca ou uma mão nos ór-
gãos genitais). Ou um comentário
de cariz sexual. Ou um envio de
uma foto suspeita – as chamadas
“nudes”. Os agressores podem ain-
da forçar as vítimas a tocar-lhes nos
órgãos sexuais. Ou fazê-las assis-
tir ou participar em filmes ou foto-
grafias de caráter pornográfico. Ou
até insistir em conversas ou ques-
tões intrusivas sobre o sexo e a in-
timidade. E estes são apenas al-
guns exemplos.
PERIGO Portugal. Para isso, foi criada uma comissão independente que, há mais ou
menos um ano, está a recolher denúncias e a procurar fazer um raio-X des-
À SOLTA
te flagelo. O relatório final será apresentado esta segunda-feira, dia 13. No
último balanço público, que foi feito em outubro, a comissão tinha já rece-
bido mais de 400 denúncias.
NA INTERNET
Possivelmente, és um fã assumido
da Internet e de todas as ferramen- ALERTAS E
O QUE FAZER
tas que ela te permite usar. Mas con-
vém estares consciente de que,
quando usada de forma errada, a
web pode pôr-te em perigo. Na ver- Há outros dados importantes que
dade, o mundo cibernético veio au- convém reteres. Um deles é que,
mentar o leque de possibilidades de muitas vezes, as pessoas que so-
exercer violência sexual sobre os frem os abusos, sobretudo quando
mais novos. Porquê? Porque há são menores, não percebem logo o
muitos pedófilos e violadores que ti- que está a acontecer. Nem perce-
ram partido da ingenuidade das bem que são vítimas. Outro é que di-
crianças e jovens que a usam e se ficilmente será possível reconhecer
aproveitam deles. Refugiados atrás um pedófilo ou agressor à primeira
de um ecrã que lhes permite vista. Na maioria dos casos, trata-se
ocultar a verdadeira identi- até de alguém próximo da vítima.
dade, fazem-se passar Seja na escola, no futebol, até den-
por outras pessoas, qua- tro da própria família. Também é co-
se sempre jovens (por mum que os abusadores tentem
vezes enviam até supos- convencer as vítimas a não falar so-
tas fotos deles, que na bre o assunto com terceiros (só o
verdade não são reais), pedido de segredo é um claro indí-
com o intuito de conven- cio de que algo está errado...). Ou-
cer as vítimas a enviar “nu- tro sinal de alarme é o facto de as ati-
des” ou até a alinhar em tudes e gestos da pessoa em cau-
encontros cara a cara. sa te provocarem desconforto, nojo,
Quando finalmente vergonha, angústia, medo. Perante
se percebe com isto, o que podes fazer? Falar com
quem se esteve um adulto da tua maior confiança e
a falar, pode explicares exatamente o que
ser dema- aconteceu e como isso te fez sen-
siado tarde. tir. Se, por acaso, isso for desva-
lorizado, insiste. Ou tenta um outro
adulto de confiança (nunca o au-
tor dos abusos, por muito próximo
que ele seja de ti). E mais importan-
te, nunca te esqueças disto: a cul-
pa NÃO é tua. E o teu corpo tem de
ser respeitado SEMPRE.
tag.jn.pt
AUSTRÁLIA
REI DE INGLATERRA NÃO
VAI APARECER NAS NOVAS NOTAS
As novas notas de dólar australiano,
que deverão ser lançadas dentro de
alguns anos, vão deixar de ter o retrato
do monarca britânico. Até aqui, a fale-
cida rainha Isabel II aparecia nas no-
tas de cinco dólares. O rosto do rei BRINCAR NA RUA É
vai ser substituído por figuras aborí- IMPORTANTE (E NÃO É DIFÍCIL
genes, primeira comunidade a viver PERCEBER PORQUÊ)
na Austrália. Nas moedas, no entan-
to, continuará a figurar o monarca Mexer o corpo torna-te mais ágil e autóno-
de Inglaterra. mo. Puxar pela cabeça em jogos e aventuras
ao ar livre ajuda-te a exercitar o raciocínio.
Os especialistas recomendam. Por muitos
motivos. Mas o panorama não é animador.
Sabe tudo no site do TAG.
N
liações acerca dos nossos ‘sucessos’ ou ‘insuces-
sos’ por comparação – seja com outras pessoas,
seja connosco próprios no passado”, detalha.
as últimas décadas, a autoestima Paradoxalmente, quando nos dizem insisten-
tornou-se num dos conceitos mais temente que ‘devíamos’ ter autoestima, está em
populares da psicologia. Milhares jogo a mesma dinâmica: sentimos que acreditar
de artigos, livros e oradores moti- no nosso valor é, em si, uma condição para ter-
vacionais informam-nos que de- mos valor. Parece uma subtileza de linguagem,
vemos gostar de nós próprios e que, mas é um problema profundo: a valorização so-
se não gostarmos, podemos apren- cial da autoestima tornou o amor-próprio em
der a fazê-lo. Acontece que estes mais um bem que devemos possuir a todo o cus-
conselhos, presumivelmente sen- to. Que nos sentimos obrigados a ter. Então, so-
satos, podem estar a criar mais pro- mos infelizes se não o temos.
blemas do que aqueles que resolvem.
É preciso dizer que o conceito se tornou tão fa- Nós e os outros
lado por boas razões: a investigação mostra que Nas últimas décadas têm surgido vozes que apon-
as pessoas com uma boa autoestima são mais fe- tam para a promoção excessiva da autoestima,
lizes, mais bem-sucedidas, têm melhores rela- não apenas como uma fonte de disfuncionalida-
ções interpessoais e menos probabilidade de fi- de individual, mas também social, nomeada-
carem deprimidas. Mas, se gostar de nós próprios mente, como uma das origens do narcisismo e da
é saudável, o dever de o fazer e o caminho para lá desvalorização dos outros.
chegar podem não ser. Porque a mesma sociedade que valoriza a au-
A definição de autoestima parece bastante ino- toestima, também valoriza a competitividade e
fensiva à superfície: ter confiança no próprio va- o sucesso. “Somos seres sociais, produtos de so-
lor. Mas como é que definimos habitualmente o ciedades que estão muito assentes em mecanis-
nosso valor? “Desde cedo vamos formando uma mos de comparabilidade social, em que o estatu-
avaliação de nós próprios a partir daquilo que vão to e o valor individual se medem por aquilo que
sendo as mensagens dos outros sobre nós e a for- se tem e pelas experiências às quais consegui-
ma como nos fazem sentir”, explica a psicóloga mos, ou não, aceder – especialmente quando nos
clínica Carla Cunha, professora da Universidade comparamos com os outros”, sustenta Carla Cu-
da Maia, onde coordena o mestrado em Psicolo- nha. E comparamo-nos com os outros não é no-
gia Clínica e da Saúde. Ou seja, valorizamo-nos vidade, mas a forma como o fazemos é, vivendo
“na medida em que ‘encaixamos’ ou não na pres- nós na era de redes sociais. “Escolhe-se seletiva-
ILUSTRAÇÕES: ADOBE STOCK
crição social” e “nas expectativas dos outros, que mente o que se mostra das nossas vidas e somos
depois se tornam nossas”. expostos a momentos particulares, também eles
Estabelecemos então, desde novos e quase sem- selecionados e editados, por isso estamos prova-
pre sem dar conta, uma série de condições para nos velmente mais expostos do que nunca aos efei-
sentirmos dignos de valor: ser filhos obedientes, tos da comparabilidade social.”
Quando a
Começa quase sempre com uma espécie de né-
voa, a visão que se vai turvando, a acuidade visual
que se vai perdendo com o passar da idade, os ha-
“objetiva” perde
los que se formam à volta da luz, o número do au-
tocarro que já não se consegue ver, as legendas na
televisão que já se tem dificuldade em acompa-
a transparência
nhar, as alterações frequentes na graduação dos
óculos, por vezes uma dificuldade excessiva em
conduzir à noite, uma intolerável sensação de en-
cadeamento, aqui e ali a sensação de visão dupla.
Não o queremos de todo assustar, caro leitor, mas
se já não caminha para novo, se esta descrição lhe
Antes diabolizadas por serem conotadas com uma
é familiar e se já há algum tempo não vai ao oftal- cegueira praticamente certa, as cataratas têm hoje um
mologista, está na altura de marcar consulta. Até prognóstico bem distinto. A cirurgia (quando necessária)
porque as cataratas atingem uma parte muito é feita em regime de ambulatório e o doente deixa o
considerável da população idosa (ver caixa). hospital passado pouco tempo, pelo seu próprio pé.
A boa notícia é que muito tem mudado a este
nível. Se no século passado eram imediatamen-
te conotadas com uma cegueira praticamente
certa, hoje o cenário é bem distinto. “Agora a
maior parte das pessoas já é operada antes de dei-
xar de ver totalmente. E em condições normais
é totalmente reversível”, assinala Pedro Mene-
res, diretor do serviço de oftalmologia do Cen-
tro Hospitalar Universitário de Santo António,
no Porto.
Mas vamos ao início. As cataratas são a “perda
progressiva da transparência do cristalino [uma
das duas lentes que temos no olho; a outra é a cór-
nea]”. “Quanto maior for esta opacidade, maio-
res vão ser as perturbações da visão”, acrescenta
o especialista. Pita Negrão, coordenador de oftal-
mologia do Hospital CUF Descobertas, em Lis-
boa, recorre a uma metáfora para explicar o que
acontece aos nossos olhos quando as cataratas se
desenvolvem. “Olhando para o olho como se fos-
se uma máquina fotográfica, o que sucede é que
a objetiva da máquina perde a transparência. E o
que é que temos de fazer? Temos de mudar a ob-
jetiva para que volte a ser transparente.”
E a explicação não podia ser mais simples. Tudo
se resume ao facto de envelhecermos. E ao enve-
lhecermos há um processo de oxidação que se
traduz em dores de cabeça várias. Claro que de-
pois há outros fatores que podem precipitar ou
acelerar o problema. “Algumas medicações, por
exemplo. Sabemos que tratamentos prolonga-
dos à base de cortisona podem ter esse efeito. A
própria diabetes pode acelerar o processo, por-
que se traduz num aumento da idade vascular.”
Note-se que há outro tipo de cataratas – congé-
nitas (que estão presentes no nascimento ou logo
após o mesmo) ou traumáticas (provocadas por
traumatismo), por exemplo –, mas não represen-
tam de todo a parte mais substancial dos casos.
.ADOBESTOCK
50%
A percentagem de pessoas com
mais de 70 anos que têm cataratas
relevantes ou que já foram submeti-
das a cirurgia.
2
de tártaro quando perguntou ao colega que o tra-
tava que tipo de aparelho estava a usar e ele lhe
respondeu que se tratava de uma broca movida
a energia de ultrassons. E assim nasceu a ideia
de fazer apenas uma pequena incisão no olho,
destruindo a catarata através de ultrassons. En-
tretanto, a técnica, exigente mas certeira, mas-
sificou-se e foi aprimorada. A partir da entrada
Hoje, a facoemulsificação é um procedimento
relativamente rápido, feito em regime de ambu- na terceira idade,
latório e com o doente acordado, uma vez que
apenas é aplicada anestesia tópica. “Passado umas
é aconselhada
horas, está a sair pelo seu próprio pé. Nos primei-
ros dias tem de colocar umas gostas e não pode
vigilância regular,
apanhar nem pó nem vento, mas a reabilitação com idas ao
é rápida”, assegura Pedro Meneres, que também
desconstrói a ideia de um possível desconforto oftalmologista de
motivado pela inserção de uma lente artificial.
“Ao contrário das lentes de contacto, que são usa-
dois em dois anos.
das à superfície e podem potenciar o desconfor-
to, esta lente [em acrílico] é uma lente intraocu-
Do fundo do coração
Não conheço nenhum O coração, como aliás todos os órgãos, está sujeito a avarias e a alterações mor-
fológicas. Diz a ciência que as emoções fortes podem provocar miocardiopatia
pensamento capaz de apa- de Takotsubo, conhecida como miocardiopatia do stresse, ou síndrome do co-
gar um sentimento. E todas ração partido. Perante um choque emocional profundo e intenso, o ventrícu-
as pessoas que vi negarem a lo esquerdo dilata e o coração fica, por assim dizer em linguagem corrente, afli-
to. É o chamado aperto no coração.
voz do coração, nenhuma se O poder eletromagnético do coração é largamente superior ao do cérebro. Ele
reconciliou com estados de pode sentir e emitir uma frequência que alcança cinco metros. Talvez por isso
paz e de alegria. conseguimos sentir a presença de alguém antes de chegar. O sentimento apa-
rece antes, só depois é processado pelo cérebro, onde são criadas as imagens que
ilustram o que sentimos. No século XVII, um tipo muito aborrecido chamado
Descartes criou o dogma “Penso logo existo”. Estudei-o no Secundário a con-
tragosto, nunca me identifiquei com a sua lengalenga e além disso irritavam-
-me os caracóis pomposos, a franja parola e o ar presunçoso. O Iluminismo apa-
gou as razões do coração, retirou as emoções da condição humana e quis con-
vencer-nos de que os sentimentos eram como lixo tóxico. O resultado não se
fez esperar: um século depois, o movimento do Romantismo espalhou-se pela
Europa, exacerbando emoções e sentimentos, interpelando a Humanidade a
entregar-se sem reservas aos seus sonhos, desejos, emoções e vícios.
Já por diversas vezes escrevi sobre as consequências tão nefastas do Roman-
tismo, sobretudo em relação às mulheres. Felizmente não minou todos os paí-
ses de igual forma. A escritora inglesa Jane Austen, que no fundo era uma sen-
timentalona reprimida pela coleira de choques vitoriana, apresenta-nos mu-
lheres orgulhosamente fortes. Neste contexto puritano, entenda-se fortes
como dignas, corajosas, virtuosas, sérias, e, como tal, prontas para exigir ao gé-
nero masculino atitudes à altura das circunstâncias e ao nível de classe e de de-
cência destas bravas donzelas. Austen teve o mérito de criar modelos de virtu-
de através das suas personagens que sofrem de amor, mas não cedem ao sofri-
mento, que choram quando ninguém está a ver e que nunca baixam os stan-
dards a que se propõem por fraqueza ou egoísmo. Austen recupera assim as mu-
lheres estoicas que ajudaram a governar o Mundo na idade das trevas e que fo-
ram sendo enfraquecidas pelos costumes desde o Renascimento. Românticas
sim, mas quanto baste, para não cair nem no ridículo nem em desgraça, porque
sofrer por amor na literatura inglesa é sempre uma questão menor, como ter
uma unha encravada ou um ataque de caspa.
Todos já passámos por esse tormento que nos atira das nuvens suaves do en-
levo para uma caverna interna na qual lambemos as feridas ou mudamos de
pele, tantas vezes iludidos com as projeções na parede de uma suposta realida-
de exterior que imaginamos melhor do que a verdadeira existência. Enquanto
o coração se expande e atrapalha, seja por delírio passional ou por desgosto amo-
roso, é importante não tirar os pés do chão, pois é sabido que a sombra persegue
a luz e a queda é inerente ao voo. Ouvir o coração é muito mais produtivo do que
ignorá-lo. Contudo, em caso de dúvida, é melhor ser a sensata Elinor Dashwood,
ou a impulsiva Lady Chatterley? Não conheço nenhum pensamento capaz de
apagar um sentimento. E todas as pessoas que vi negarem a voz do coração, ne-
nhuma se reconciliou com estados de paz e de alegria. No fundo, o coração é que
manda, do seu fundo mais puro e belo, que se chama vontade.
João Bettencourt
OS FAVORITOS
DE UM ATOR NA
RAMPA DO SUCESSO
Snacks, perfume ou roupa. Eis os essenciais de
João Bettencourt, que tem vindo a dar cartas na
ficção e que partilha o dia a dia nas redes sociais. HUXIA
Barra
Chocowheyfer
Foi uma
descoberta recente
e tem sido o meu
snack preferido.
Faço muito
desporto e estas
DCK WINTER JACKETS barras são
Grand Canyon saudáveis e
Jacket proteicas. Levo
A DCK lançou a sempre uma barrita
primeira coleção para ter aquela
de casacos, com energia extra.
materiais 100%
reciclados e
rapidamente se
tornou no meu “go
to” (para o que der
e vier).
O meu preferido
é o verde e
consigo usá-lo
tanto no dia a dia
como em eventos.
HUGO BOSS
Hugo Boss
Bottled
Já se tornou o meu
cheiro
característico. Faz
parte da minha
rotina e já é
automático, antes
de sair de casa
coloco o meu
perfume, se não o
APPLE dia não corre da
AirPods mesma maneira.
São o meu salva-vidas. Uso todos os dias,
ajudam-me a descontrair antes de uma peça,
a concentrar-me antes das gravações e a
treinar. Oiço tanto músicas como podcasts.
LEVI’S
Calças Chino XX EZ Tapper II
São as calças mais confortáveis @JOAOBETTENCOURTBRITO
3S E2G U,I 8D O RmE S
(e giras) que já tive, e por isso
as que mais uso.
O MAR NUMA prias, muito identificativas.” Cada ostra é uma ostra, cada os-
tra espelha a sua origem, cada ostra mostra como foi tratada
na sua cultura seja no Algarve, no Sado, na região de Aveiro,
CONCHA onde quer que seja. Cada ostra é uma ostra. Como um perfu-
me e uma pele.
Na cozinha, exigem a máxima atenção, no trato, na conser-
É um alimento peculiar, de sabor caracterís- vação, na confeção. Cuidadas como merecem, comidas o mais
tico, textura pouco comum. Cruas ou cozinha- frescas possível (e lavar muito bem se forem sugadas da con-
das, ao gosto de cada um, o importante é não cha). Óscar Geadas trata-as bem, gosta de as gratinar com um
ofuscar o brilho delas e manter aquele suco. pouco de pancetta de porco bísaro ou de servi-las fora da cas-
ca. Gratinadas, braseadas, fritas ou grelhadas, abertas à Bu-
lhão Pato, há receitas para vários gostos. Para várias ostras.
O seu corpo é mole e corpulento ao mesmo tempo, está guar- Marlene Vieira abre parênteses. “Nada é definitivo, há sem-
dado numa concha calcificada, revela a sua exuberância quan- pre novas formas de saborear um alimento.” O que também
do se abre. É um molusco com as suas idiossincrasias, perso- se aplica às ostras, cruas ou cozinhadas, com ou sem condi-
nalidade forte, que requer um palato à medida. Um alimen- mentos, com ou sem limão, com ou sem pickle de cebola. “A
to rico em zinco e outros nutrientes, com um certo toque forma mais genuína é abri-las e comê-las sem acrescentar
afrodisíaco. Ao natural ou cozinhadas. As ostras são como o nada.” Ao natural, portanto. Quanto aos temperos, avisa, “há
mar na ponta da língua. limões que aumentam a salinidade da ostra”.
O chef Óscar Geadas, do G Pousada Restaurante, em Bra- Marlene Vieira prefere vê-las como um aperitivo, como o
gança, destaca a delicadeza, a textura gelatinosa e carnuda, centro das atenções de uma entrada. “Não se pode ofuscar o
o sabor peculiar. Ou se ama ou se odeia, não há meio-termo, brilho de uma ostra”, diz. Óscar Geadas vê-as numa entrada,
nem sequer um assim-assim. “Têm um sabor muito caracte- num prato principal, como guarnição, como acompanha-
rístico a mar, a salinidade, os sucos são fantásticos”, diz. Evi- mento. Em qualquer dos casos, a mesma avaliação. “Fazem
dencia-lhe o ar exótico, uma certa sensualidade. “As ostras de qualquer prato uma excelente refeição.” Palavra de estre-
como um fruto do pecado.” la Michelin. ●m
Z E TA N M E D I E V A L
Armadura Game of Thrones
845,98 euros
FUNTOCOME
Disfarce Stranger Things
FUNIDELIA 27,50 euros
Máscara filme IT
19,99 euros
A NM TEM UM ESPAÇO PARA QUESTÕES DOS LEITORES NAS ÁREAS DE DIREITO, JARDINAGEM, SAÚDE, FINANÇAS PESSOAIS E SUSTENTABILIDADE.
dade e os dispositivos de correção normais não puderem
ser utilizados.
Segundo o TJUE, quando a Diretiva se refere a “dispo-
sitivos de correção especiais”, estão compreendidos
“óculos graduados especificamente destinados a corrigir
e a prevenir perturbações visuais relacionadas com um
trabalho que envolve equipamento dotado de visor”.
No ordenamento jurídico português a mencionada
Carneiro Balança
21.03 a 20.04 23.09 a 23.10
Permita-se abrir novos horizontes para Altura para surpreender quem gosta, com
expandir um projeto ou até seguir a sua atitudes altruístas e românticas. No en-
vocação, sem receio. Para aproveitar esta tanto, e parecendo paradoxal, pode estar
oportunidade, precisa de ser persistente permeável a ilusões e fantasias. Logo,
e acreditar no seu potencial. Arrisque. procure estar atento e seja prudente.
Touro Escorpião
21.04 a 21.05 24.10 a 22.11 Mena Suvari
Pode ter a necessidade de encontrar uma Tente promover o diálogo e discutir os li- Atriz, 43 anos
atividade paralela ao seu trabalho, que lhe mites, procurando ser claro(a), antes que
permita expandir ideias e imaginação. surjam conflitos. Caso não tenha um com- Mena Alexandra Suvari
Procure encontrar espaço na sua vida para promisso sério, podem surgir oportunida- é uma atriz, estilista e
quebrar rotinas. Boa altura para inovar. des, se sair da zona de conforto. modelo, nascida a 13
de fevereiro de 1979,
nos EUA. De signo solar
Gémeos Sagitário Aquário, com ascen-
22.05 a 20.06 23.11 a 21.12 dente em Peixes, uma
A comunicação torna-se mais entusiasta e Promova atividades com o(a) parceiro(a) maior liberdade de pen-
aberta a novas experiências. A capacidade e usufrua do prazer nos seus relaciona- samento leva-a a lidar
de trazer os factos à consciência, e de for- mentos. Porém, pode ter manifestações com os problemas de
ma impessoal, permite sinergias nos rela- românticas e não ser bem entendido. Pro- forma rápida e eficiente.
cionamentos e objetividade. Aproveite. cure o diálogo para firmar a sua intenção. Liberdade e originalida-
de são forças que ca-
racterizam a sua perso-
Caranguejo Capricórnio nalidade. De tempos a
21.06 a 22.07 22.12 a 20.01 tempos, necessita de
Evite excessos e crie momentos de hu- Os amigos nesta altura desempenham se recolher para refletir
mor e criatividade, com integração dos um papel muito importante, aproveite de forma profunda.
outros no seu trabalho. As parcerias são para escutar opiniões. Altura em que sen-
importantes para sentir o apoio e a parti- tirá maior clareza no papel do outro na sua
lha necessária à realização de objetivos. vida. Evite a teimosia e entenda o outro.
P L A N E TA S
Leão Aquário
23.07 a 23.08 21.01 a 18.02 A semana começa com a
Aproveite para negociar, principalmente O sentir é crucial para que possa mostrar lua em Escorpião, na fase
aquilo que o beneficie e o liberte de res- a sua vulnerabilidade em quem mais con- minguante em quadratura
ponsabilidades. Aprenda a delegar. Novos fia. As relações melhoram com o quebrar ao Sol/Saturno. O desafio
interesses podem surgir. Seja como for, de rotinas e partilha com amigos e famí- entre o que pretendemos e
priorize o prazer de que possa usufruir. lia. Fase de muito trabalho e decisões. o que podemos fazer gera
dificuldade de foco. O in-
gresso do Sol no fim da se-
Virgem Peixes mana em Peixes pode trazer
24.08 a 22.09 19.02 a 20.03 maior compaixão para com
Procure ter cautela na altura de comunicar O companheirismo e apoio são funda- o coletivo. A capacidade de
com colegas ou chefias. Mas mantenha a mentais para lidar com os desafios. Sur- inovar e renovar intensifica-
consistência nos seus esforços, o que pode preenda o(a) parceiro(a), quebrando roti- -se, mas é preciso ter caute-
trazer mudanças importantes no trabalho. nas e vivenciando o seu lado romântico. la com os excessos e rees-
Procure por novos conhecimentos. A família precisa de atenção. truturar os nossos objetivos.
Ao contrário
de Clemenceau
Mas tudo bem: ensinem- Como assim, eu não devia ensinar o meu filho a cantar “isso do Hasta Siempre”,
-lhe vocês essa coisa da escrito “em honra de um assassino”? Três quartos dos nossos heróis mataram.
Os próprios super-heróis mataram – até Batman, ao qual sempre atribuímos a
competitividade, da (como regra de não matar, matou. Não estou certo de que Che Guevara tenha chega-
é que se diz?) optimização – do a esperar tanto de si mesmo. Mas importa-me o que pode simbolizar tam-
da acumulação. Ele aca- bém para o Artur: o sonho de uma sociedade fraterna – tão impossível de alcan-
çar como urgente de pedir, tal qual os melhores ideais.
bará por precisar. Já eu, Pelo contrário: “Hasta Siempre” é mesmo uma das primeiras da playlist que
para já, vou cantar-lhe “isso criámos e pomos diariamente no shuffle. Isto é, ao lado de “Os Índios da Meia-
do Hasta Siempre”. -Praia”, “Qual É a Tua Ó Meu”, “Grândola Vila Morena” ou “A Cantiga É Uma
Arma”. Para “A Cantiga É Uma Arma”, até inventámos uma coreografia, eu e a
Marta. Pomo-nos os dois de pé diante do fraldário e fingimos caminhar em fren-
te, com passos decididos e rosto determinado, os braços rodando à volta do cor-
po: Tudo depende da raiva/ E da alegria/ A cantiga é uma arma/ De pontaria.
Sim, sei-o bem: eu também repeti essa máxima que Clemenceau palmou a
Guizot, e segundo a qual (parafraseio) “se aos 20 não és de esquerda, não tens
coração; e, se aos 30 não és de direita, não tens cabeça”. Mas a minha vida não
acabou aos 30, e, se em breve o tempo começou a ensinar-me a compaixão, re-
gressar aos Açores abriu-me os olhos para a pobreza. A sentença, como a repito
agora, conclui-se com: “E, se aos 40 não és de esquerda de novo, então não tens
esperança”.
Para ensinar o cinismo ao Artur, não faltarão candidatos. Desde logo, os pro-
fesso
fessores de Economia do liceu, com os seus programas liberais; a maior parte
dos aautoproclamados conselheiros de vocação, e mais as suas obsessões com as
saída
saídas profissionais e o conhecimento útil; toda a fauna das faculdades, incluin-
do alguns
alg veteranos, a generalidade dos putativos bons alunos e até muitos pro-
fessores, com os seus “contactos” e as suas “estratégias de RP” para facilitar isto
fesso
e aqu
aquilo; e, claro, os prosélitos do empreendedorismo, a comunicação social em
geral e os jornais do PSI-20 em particular.
Não: ele tem muito tempo para chegar à conclusão de que – sei lá – os escutei-
Não
ros sã
são uns grandes pirosos e entrar para uma jota, sim, é que é fixe. Haverá sem-
pre imensa
im gente para lhe ministrar o pragmatismo. Parece, aliás, que são ensi-
namentos mais do que desejados pelo aprendiz. Ainda há dias li sobre um estu-
name
do segundo
se o qual os jovens mais activos politicamente são – lá está – os de di-
reita. Na altura até me pareceu um oxímoro, “jovem de direita”. Mas, se é pos-
sível, então devia pelo menos ser proibido – como é proibido o excesso de açú-
car num
nu refrigerante ou a venda de tabaco a menores de 16.
Mas tudo bem: ensinem-lhe vocês essa coisa da competitividade, da (como é
que sse diz?) optimização – da acumulação. Ele acabará por precisar. Já eu, para
já, vo
vou cantar-lhe “isso do Hasta Siempre”. Não é sobre a economia: é sobre a jus-
tiça, que
q está a montante. A estratificação social continua a maneira mais pre-
cisa de
d entender o Mundo, e primeiro ainda vem a idade de acreditar na revolu-
ção. DDigo-o eu, social-democrata pardacento – mas que ainda as tenho em mim,
a raiv
raiva e a alegria.
O AUTOR
AUTO ESCREVE DE ACORDO COM A ANTERIOR ORTOGRAFIA.
ASSINE
O JN DIGITAL
APENAS POR
49,90€ 29,90€/ANO
ASSINE JÁ!
LIGUE 219249999
Campanha válida até 28 de fevereiro de 2023, para uma assinatura digital anual do Jornal de Notícias, pelo valor de 29,90 €. Campanha não acumulável com outras em vigor. Valor com
IVA incluído. Para mais informações: jn.pt/jnpremium | apoiocliente@noticiasdirect.pt I 219249999 (Dias úteis das 8h00 às 18h00 - Custo de chamada de acordo com o tarifário de
telecomunicações contratado para rede fixa ou rede móvel nacional).