CARNAVALESCO, O P R O F I S S I O N A L QUE "FAZ ESCOLA"

I NO C A R N A V A L C A R I O C A

,He l e n i b e Monkeiha ~ u i r n a h ã e n
II
I TESE S U B M E T I D A AO CORPO D O C E N T E OA E S C O L A D E B E L A S ARTES DA
UNIVERSIDADE F E D E R A L DO R I O D E J A N E I R O COMO P A R T E D O S REQUISI

I TOS NECESS~RIOS A O B T E N Ç Ã O DO G R A U D E P l E S T k E .

Aprovada por:

Rio de Janeiro, RJ - BRASIL

FEVEREIRO DE 1 9 9 2
i Carnavaiesco, 0 Profissional que " F a z E s c o l a " no

I Carnaval Carioca. Rio de J a n e i r o , UFRJ, EBA, 1992.

VII, 55L F..

Tese: M e s t r e em A r t e 6 V i s u a i s ( - H i s t ó r i a d a A r t e )

1. C a r n a v a l e s c o 2. E s c o l a d e Samba 3. História I
4. Teses

-
I
I I. U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d o R i o d e J a n e i r o EBA
l
 iii

SINOPSE

CARNAVALESCO, O P R O F I S S I O N A L Q U E "FAZ ESCOLA"

NO CARNAVAL CARIOCA

A n á l i s e do p r o f i s s i o n a l Carnavalesco, l e v a n t a n d o h i s t-
ó
r i c a m e n t e seu surgimento n a s E s c o l a s d e Samba e s e u s antecesso
res, os "Técnicos" dos Ranchos e Grandes Sociedades. A n á l i s e de
s e u campo d e T r a b a l h o , a s t r a n s f o r m a ç õ e s h a v i d a s no D e s f i l e d a s
E s c o l a s d e Samba, nas década de 60, 7 0 e 80, e as .alt6raçÕes
dos m a t e r i a i s e técnicas i n t r o d u z i d a s pelos Carnavalescos que
colaboraram nestas transformaçÕes. D e s c r i ç ã o d e s u a r e l a ç ã o p r-
c
f i s s i o n a l e os aspectos da regulamentação e reconhecimento d e-
s
t a profissão. D e s c r i ç ã o das etapas de seu t r a b a l h o e das a t i v-i
dades p o r e l e e x e r c i d a s , q u e t o t a l i z a m um n ú m e r o d e q u i n z e f u-
n
ções. A n á l i s e d e s e u p a p e l c u l t u r a l n a E s c o l a d e Samba e defi -
n i ç ã o do p e r f i l d e s t e p r o f i s s i o n a l .
ABÇTRACT

"CARNAVALESCO, T H E PROFESSIONAL THAT "MAKES

SCHOOL" I N R I O ' S CARNIVAL"

Ana a n a l y s i s o f t h e profession of "Carnavalesco", r-

e
search into its history, b e g i n n i n g s and f o r e r u n n e r s of Samba
Schools, i n c l u d i n g t h e t e c h n i c i a n s of t h e "Ranchos" andl'Grandes
Sociedades". An a n a l y s i s o f t h e i r f i e l d of work,transformations
w h i c h o c c u r r e d i n t h e Samba S c h o o l s p a r a d e s i n t h e '601s,'70' s
and ' 8 0 1 s , and t h e a l t e r a t i o n s of t h e m a t e r i a l s and t e c h n i q u e s
i n t r o d u c e d by t h e " C a r n a v a l e s c o s " . A d e s c r i p t i o n of their pro
f e s s i o n a l i n t e r a c t i n g and a s p e c t s p e r t a i n i n g t o a c c e p t a n c e of
t h e p r o f e s s i o n by t h e g e n e r a l p u b l i c and i t s r e c o n i g n i t i o n by
public authorities. A survay of t h e v a r i o u s s t a g e s of their
work and t h e a c t i v i t i e s e x e r c i s e d 6y them, totalizing fifteen
different functions. An a n a l y s i ç o f t h e c u l t u r a l r o l e of the
Samba S c h o o l a n d a d e f i n i t i o n o f t h e p r o f i l e of their leading
professional.
P A R A MINHA MÃE
Com Arna& e C a & i n h o
 AGRAD ECTMENTOS

Agradeço à amiga e O r i e n t a d o r a , Professora Liana -

veina, p e l a d e d i c a ç ã o e p a c i ê n c i a com q u e a c o m p a n h o u i n t e n s a m e-
n
t e este trabalho, pelo estimulo e apoio inestimáveis.

Agradeço ã amiga P r o f e s s o r a Benta R i b e i n o pela suges-

t ã o d o u n i v e r o s d a s E s c o l a s d e Samba como campo d e p e s q u i s a s , do
q u a l e x t r a í o tema d e s t a D i s s e r t a ç ã o .

AO amigo p r o f e s s o r Ednan Motta Jh.pelo excelente t r-

a
balho fotográfico para i l u s t r a ç ã o e apresentação desta pesquisa,
e pelo apoio e colaboração valiosos.

A a m i g a e P r o f e s s o r a Mania da Penha Duboia Jahanaaen,

Decana do C e n t r o d e L e t r a e A r t e s , p e l o a p o i o p e s s o a l e c o l a b o r-
a
ç ã o o f e r e c i d o s e p e l a r e a l i z a ç ã o d o ~ i d e o ,f e i t o p o r Ubinajana
SantuB, a quem também a g r a d e ç o .

AOS queridos amigos E c i l a Mania d e Canvalho Cyhne e

AnnaLdo f f e n n i y u e Muniz Rocha da Escola de Belas Artes pelo estí
mulo e c o l a b o r a ç ã o , e q u e r i d a amiga ~ á t i aC n i a t i n a doa Santoa
p e l a g r a n d e a j u d a em m i n h a v i a g e m à S . P a u l o .

A g r a d e ç o à P r e s i d e n t e d a ACES, L i l i a n RabeLLo e aos

Diretores Sid CamiLo e SancReh Baihon pelo fornecimento de -
mate
r i a i s desta Associação e pelo sincero estímulo.

Ao P r e s i d e n t e d a L I E S A , A i L t o n Guimanãea J o n g e , p e l o
f o r n e c i m e n t o d e m a t e r i a i s t é c n i c o s r e l a t i v o s 2 s E s c o l a s d e Samba
d o G r u p o E s p e c i a l , e t a m b é m a f f i n a n AnaÚjo p e l o m a t e r i a l r e l a t-
i
vo à s E s c o l a s d e S a m b a d a AE,SCRJ.
A t o d o s q u e c o l a b o r a r a m com a j u d a f i n a n c e i r a , -
irnpres
cindível para o resultado desta pesquisa.

Agradeço a Deu, pela alegria de ver este trabalho

realizado.

Muito Obnigada
A c i g a n a Leu o meu d e s t i n o
Eu s o n h e i
BoLa de c n i h t a l , jogo d e b Ü z i a a , c a n f a m a n f e
Eu aemphe p e h g u n t e z
'3 que aená " o amanhã"?
C o m a v a i a e h o meu d e s t i n o ?
Já d e s d o l h e i o mal-me-que&
Pheimeiho amon d e um menino
E v a i chegando o amanhece&
Leio a mensagem zodiacaL
E o heateja diz
Que eu b e h e i d e L i z , aempne á e L i z
Como nená amanhã?
Rea,ponda quem pude&
O que i n á me a c o n t e c e n
O meu d e ó z i n o nehá como Deuó q u i i e h . "
(União da lLha,cahnavaR d e 1 9 7 7 )
1 . Carnavalesco. Um Tema F a s c i n a n t e .................. 1
2 . A P e s q u i s a d e Campo ............................... 4
3 . P r o p o s t a d a D i s s e r t a ç ã o ........................... 11

C A P I T U L O I . O CARNAVAL DA P R I M E I R A METADE DO S E C U L O X X .. 13

1.1 . O Termo "CAKNAVALESCOtt .......................... 13

1.2 . ~ é c n i c o s. O S " P h Z - ~ a n n a v a L e n c o n " ..............
5 16
1.2.1 . A P a r t i c i p a ç ã o Da E s c o l a N a c i o n a l d e B e l a s Artes
no C a r n a v a l C a r i o c a ............................. 21
1.2.2 . Os ~ é c n i c o sd o s R a n c h o s C a r n a v a l e s c o s ........... 23
1.2.3 . L i s t a g e m e C r o n o l o g i a d o s T é c n i c o s .............. 26
1.3 . A s E s c o l a s d e Samba e o s p r i m e i r o s C a r n a v a l e s c o s . 29
1.3.1 . H i s t O r i c o d o N a s c i m e n t o d a s E s c o l a s d e Samba .... 29
1.3.2 . P a u l o da P o r t e l a . Antonio Caetano e L i n o Manoel
D o s R e i s . A R e v o l u ç ã o Da P o r t e l a ................ 32

C A P ~ T U L OI 1 . T R I N T A ANOS DE PROFISSÃO 40

~ é c a d ad e 6 0 .................................... 40
A s p e c t o s G e r a i s ................................. 40
J u l i o M a t t o s . O " J u l i n h o Da M a n g u e i r a 1 ' .......... 42
O S a l g u e i r o C o n v i d a O C a s a l N e r y e P a m p l o n a ..... 45
O Grupo de Pamplona E A E s c o l a N a c i o n a l de Belas
Artes ........................................... 58
~ 6 c a d ad e 7 0 .................................... 63
A s p e c t o s G e r a i s ................................. 63
A C o n t i n u i d a d e d o G r u p o d e P a m p l o n a ............. 66
~ o ã o z i n h oT r i n t a . Do S a l g u e i r o à B e i j a F l o r .... 69
Fernando P i n t o e a Renovação do império S e r r a n o .. 81
2.2.5 .J u l i o Mattos Retorna à Mangueira ................. 88
2.2.6 .Maria Augusta. Braga e Paulino. 0s Carnavais dos
Materiais Alternativos ........................... 90
2.2.7 .A Afirmação aos C a r n a v a l e s c o s .................... 97

2.3.1 .Aspectos Gerais ..................................

.. 102
2.3.2 . A E x p a n s ã o d o s C a r n a v a l e s c o s ..................... 103
2.3.3 . 1 9 8 4 . A Nova E r a Do S a m b a ....................... 109
2.3.4 .Carnavalesco e E s c o l a s d e S a m b a . O R i t m o S e A c e l-
e
ra ............................................... 111
2.3.5 . F i n a l Da ~ é c a d ad e 8 0 . A V i r a d a d o S é c u l o X X .... 115

C A P ~ T U L O I11 . A R E L A Ç Ã O PROFISSIONAL

O Carnavalesco E A E s c o l a De S a m b a ............... 121

A s s o c i a ç Õ e s R e p r e s e n t a t i v a s Das E s c o l a s De S a m b a .. 127
A s s o c i a ç ã o d a s E s c o l a s d e Samba d o R i o d e Janeiro
e a Liga Independente ............................ 127
O Carnavalesco E O R e g u l a m e n t o ................... 130'
A A s s o c i a ç ã o d o s C a r n a v a l e s c o s d e E s c o l a s d e Samba 133
A Conscientização Profissional ................... 133
A R e g u l a m e n t a ç ã o Da P r o f i s s ã o .................... 137
A R e m u n e r a ç ã o d o C a r n a v a l e s c o .................... 143
O " T é c n i c o d e F u t e b o l " ........................... 150 .

O F e n ô m e n o d a R o t a t i v i d a d e ....................... 150
~ e m i s s ã o . Uma Q u e s t ã o c t i c a ...................... 152
F r a c a s s o e S u c e s s o . O s P a r â m e t r o s d o C a r n a v a l ... 155

C A P I T U L O I V . ESPAÇO E TEMPO. AS RESPONSABILIDADES DO C A.

R
NAVALESCO 167

4.1 .C o n t e x t o De T r a b a l h o............................. 167

4.1.1 . S i n o p s e Do ~ n r ê d o ................................ 169
4.1.2 .Figurinos E O Protótipo de Fantasias ............. 171
4.1.3 .Barracão d e E s c o l a d e Samba .T r a b a l h o .
de Equipe 1 77
4.2 . M a t e r i a i s e ~ é c n i c a s. Da P a s t a 8 F i b r a d e V i d r o . 1 97
4.2.1 . A " ~ ã b r i c a " Do C a r n a v a l ......................... 199
4.2.2 . Do R a i o L a s e r Ao C o m p u t a d o r ..................... 202
4.3 . B o t a n d o a E s c o l a Na A v e n i d a ..................... 208
4.3.1 .Um E s p a ç o C ê n i c o Chamado "Samb6dromo" ........... 208
4.3.2 .A E s c o l a Em D e s f i l e .Clímax do C a r n a v a l ........ 220

CAPITULO V . QUE PROFISSAO E ESTA? 229

5.1 .O Que E S e r C a r n a v a l e s c o ........................ 229

5.1.1 . F o r m a ç ã o P r o f i s s i o n a l ........................... 229
5.1.2 . Uma P r o f i s s ã o M ú l t i p l a ......................... 233
5.2 .A s rês G r a n d e s " E s c o l a s " De A r l i n d o Rodrigues.
Fernando P i n t o e Joãozinho T r i n t a ............... 237
5.2.1 .A r l i n d o Rodrigues .O C a r n a v a l e s c o d a " F o r m a " ... 239
5.2.2 .Fernando P i n t o .O Carnavalesco do "Conteúdo" ... 245
5.2.3 .J o ã o z i n h o T r i n t a .O C a r n a v a l e s c o da " ~ p a r ê n c i a " . 249
5.3.4 ..
. O C a r n a v a l Como U m Campo A b e r t o De I n f l u ê n c i a s 254
5.4 . Em D e f e s a Do C a r n a v a l e s c o ....................... 258
5.4.1 . A C r i t i c a Ao C a r n a v a l e s c o . D o m i n a ç ã o Ou E v o l u ç ã o ? 258
5.5 .O C a r n a v a l e s c o E O C o n t e x t o C u l t u r a l Das E s c o l a s
De S a m b a ........................................ 274
5.5.1 .A " I n v a s ã o " Da C l a s s e . M é d i a N a s E s c o l a s De S a m b a . 275
5.5.2 . A P r o d u ç ã o ~ r t i s t i c aDo C a r n a v a l D a s E s c o l a s de
Samba ........................................... 280
5.6 . D u a s E x p e r i ê n c i a s P e s s o a i s ...................... 290
5.6.1 . A E x p e r i ê n c i a d e " F a z e r U m C a r n a v a l " ............. 290
5.6.2 . J u l g a n d o O D e s f i l e Do G r u p o E s p e c i a l ............ 300

BIBLIOGRAFIA ............................................ 306

1. CARNAVALESCO - U M TEMA FASCINANTE

O d e s f i l e d a s E s c o l a s d e Samba d o R i o d e J a n e i r o , p -
e
l a s u a i m p o r t â n c i a como m a n i f e s t a ç ã o c a r n a v a l e s c a nacional,
tem s i d o o b j e t o d e v á r i o s e s t u d o s acadêmicos que revelam seu
universo r i c o de informações culturais. Neste universo o C a-
r
navalesco, profissional q u e c r i a e d e s e n v o l v e o e n r e d o d o d e-
s
f i l e s u r g e c o m o um t e m a a i n d a n ã o a b o r d a d o em s e u s aspectos
mais importantes.

A proposta desta dissertação é analisar este p e r s-

o
nagem i m p o r t a n t e d o c o n t e x t o d o c a r n a v a l c a r i o c a , e o fato de
n ã o e x i s t i r nenhuma pesquisa que considerasse o Carnavalesco
a t r a v é s d e uma v i s ã o histórica e a n a l í t i c a de seu surgimento
e evolução, a b r i u um c a m p o d e p o s s i b i l i d a d e s i l i m i t a d a s , e sa
bemos q u e e s t e tema não s e e s g o t a a p e n a s n e s t a p e s q u i s a , e
que existem ainda muitas questões que poderão s e r abordadas
nos m a i s v a r i a d o s campos d e r e f l e x ã o .

Todo o m a t e r i a l t e ó r i c o , bastante restrito,encontr-

a
do s o b r e e s t e tema, s e p o r um l a d o l e v a n t a a l g u n s f a t o s r e l-
a
t i v o s a o t r a b a l h o d o C a r n a v a l e s c o n a s E s c o l a s d e Samba, Por
o u t r o é composto d e c r í t i c a s e a n á l i s e s p o r vezes d i s t o r c-
i
das, q u e s e p r e o c u p a m em p o s i c i o n a r e s t e p r o f i s s i o n a l apenas
q u a n t o 5 s m o d i f i c a ç Ó e s t é c n i c a s e a r t í s t i c a s h a v i d a s n a s E s c-
o
l a s d e Samba, limitando-se a julgamentos q u e nem s e m p r e c o n d-
i
zem com a r e a l i d a d e d o m u n d o d o q u a l f a z p a r t e .

Tivemos p o r t a n t o o c u i d a d o d e m a n t e r um d i s t a n c i-
a
m e n t o c r í t i c o a o a n a l i s a r m o s o u n i v e r s o d o C a r n a v a l e s c o , c o n s-
i
derando-o como uma i n o v a ç ã o q u e n a s c e u d a p r ó p r i a E s c o l a de
Samba.

Iniciamos nossa pesquisa analisando o termo -

"CARNA
VALESCÚ" e a s d e f i n i ç õ e s a e l e a p l i c a d a s , p a r a s i t u a - 1 0 , c o m o
um t e r m o q u e d e s i g n a um p r o f i s s i o n a l e s p e c i f i c o n o contexto
d a s E s c o l a s d e Samba. No p r i m e i r o C a p i t u l o p o r t a n t o l e v a n t-
a
mos a l é m d e s t a q u e s t ã o , aqueles profissionais denominados
v ~ E ~ ~q u e~ n o~ s ~
R a n~c h or s C
f a r, n a v a l e s c o s e n a s G r a n d e s S-
o
c i e d a d e s s e a p r e s e n t a m como o s p r e c u r s o r e s d o s a t u a i s C a r n-
a
valescos, c u j a a t u a ç ã o e método d e t r a b a l h o foram a b s o r v i d o s
p e l a s E s c o l a s d e Samba. J u l g a m o s n e c e s s á r i o também d e s c r e v e r
o surgimento d e s t a manifestação e a q u e l e s i n d i v i d u o s que n-
e
l a s t r a b a l h a r a m a t u a n d o como C a r n a v a l e s c o s .

Neste p r i m e i r o C a p l t u l o destacamos não só aqueles

prafissionais q u e s e m uma f o r m a ç ã o e s p e c i a l i z a d a , m a s pelo
s e u t a l e n t o e d e d i c a ç ã o a t u a r a m como c r i a d o r e s a r t i s t i c o s d o
c a r n a v a l d a s E s c o l a s d e S a m b a , mas também a q u e l e s oriundos
do T e a t r o e da Escola Nacional d e Belas A r t e s que desde O

f i n a l d o s ~ c u l oX I X já s e dedicavam ao carnaval c a r i o c a .

No s e g u n d o C a p i t u l o a n a l i s a m o s a s d é c a d a s d e 6 0 , 70
e 8 0 como o p e r í o d o em q u e s e d e u o s u r g i m e n t o d o C a r n a v a l e-
s
co, sua evolução e afirmação profissional. N e s t e p e r í o d o m u-i
t a s f o r a m a s m u d a n ç a s d e t e c t a d a s no d e s f i l e , n ã o sÓ quanto
a o s s e u s a s p e c t o s v i s u a i s , mas q u a n t o à s u a l o c a l i z a ç ã o , e-
s
p a ç o c ê n i c o e p o s i c i o n a m e n t o d a s E s c o l a s d e Samba no c o n t e-
x
t o do c a r n a v a l c a r i o c a . Neste sentido, é i m p o r t a n t e c o m p r e e-
n
d e r a p o s i ç ã o do C a r n a v a l e s c o f r e n t e a e s t a s mudanças e as
r a z õ e s q u e o c o l o c a r a m num p a p e l d e g r a n d e i m p o r t a n c i a n e s t a
manifestação.

No C a p i t u l o I11 d e s c r e v e m o s a r e l a ç ã o profissional
e n t r e o C a r n a v a l e s c o e a E s c o l a d e Samba, a q u e s t ã o d a regu-
lamentação d e s t a profissão, o surgimento da Associação que
?
o r e p r e s e n t a e a s q u e s t õ e s é t i c a s que envolvem seu t r a b a l h o .

No C a p i t u l o I V d e s c r e v e m o s o u n i v e r s o d e s u a s res
ponsabilidades, a s inovações quanto aos materiais e t é c n-
i
c a s e o momento m a i s c r i t i c o d e s e u t r a b a l h o , o proprio d e-
s
f i l e d a s E s c o l a s d e Samba.

No C a p i t u l o V , ao perguntarmos "Que P r o f i s s ã o 6 Es
ta", traçamos o p e r f i l d e s t e profissional, sua formação e
suas atribuições, que configuram um c o n j u n t o d e f u n ç õ e s por
e l e a c u m u l a d a s e q u e o t o r n a m um p r o f i s s i o n a l m ú l t i p l o e e-
s
pecializado. Destacamos d e n t r o do u n i v e r s o s de Carnavalescos
aqueles que por sua importancia e contribuição, estruturaram
verdadeiros "estilos" de criação artísticas, e que hoje s e-
r
vem d e r e f e r e n c i a l p a r a t o d a a n o v a g e r a ç ã o q u e s u r g i u nes
t e campo d e t r a b a l h o .

F o i n e c e s s á r i o também a b o r d a r a s c r i t i c a s e a c u s-
a
çÕes f e i t a s a e s t e p r o f i s s i o n a l , numa t e n t a t i v a d e e s c l a r-
e
cer estas questões, respeitando a s abordagens que foram f e-
i
tas, c o n t r a p o n d o a e l a s o s f a t o s p o r nós a n a l i s a d o s .

Interessou-nos também p o s i c i o n a r o C a r n a v a l e s c o no
c o n t e x t o c u l t u r a l e p a r a t a n t o o b s e r v a m o s a l g u n s a s p e c t o s l-
i
gados 2s q u e s t õ e s c u l t u r a i s não s ó d e seu t r a b a l h o , m a s -
tam
bém n o s e u p o s i c i o n a m e n t o c o m o u m p r o c e s s o a r t i s t i c o i n e r e-
n
t e à cultura popular.

Finalizamos e s t e c a p i t u l o acrescentando nossa e x p-

e
r i ê n c i a p e s s o a l como C a r n a v a l e s c a e também n o s s a e x p e r i ê n c i a
como m e m b r o d e uma c o m i s s ã o j u l g a d o r a , quando tivemos a o p o r
tunidade de atuarmos nestas duas instancias, o que muito e-
n
riqueceu nosso conhecimento, dando-nos um p o s i c i o n a m e n t o p r-i
v i l e g i a d o p a r a r e f l e t i r s o b r e o p r o f i s s i o n a l q u e n o s p r o p u s-
e
mos a a n a l i s a r . b
 Todo e s t e t r a b a l h o , q u e a b r a n g e um p e r í o d o d e qua
s e q u a t r o a n o s d e p e s q u i s a no campo d o c a r n a v a l c a r i o c a , nos
p r o p o r c i o n o u a g r a t i f i c a n t e d e s c o b e r t a d e q u e o t e m a p o r nós
escolhido 6 tão vaioloso e inesgotável quanto a própria c u-
l
tura brasileira.

ratificação e s t a q u e e s t e n d e m o s a o c o n t a t o c o m p e -
s
s o a s como F e r n a n d o P a m p l o n a , Joãozinho Trinta, Maria Augusta
Rodrigues, Haroldo Costa e todos aqueles que tivemos o pra
z e r de e n t r e v i s t a r e que nos forneceram preciosos subs~dios
para nossa pesquisa, nos q u a i s baseamos nossa f o n t e -
primá
ria. Descobrimos que o carnaval c a r i o c a e aqueles que para
e l e contribuem, p o s s u i um p e n s a m e n t o v i v o q u e m e r e c e u ser
documentado, possibilitando novas pesrpectivas de -análise
deste universo.

E s t e pensamento v i v o se e x p r e s s a na p f o p i a d i n â m i c a
e v i t a l i d a d e d a s E s c o l a s d e Samba, em s e u g r a n d i o s o e s p e t á c -
u
10 a p r e s e n t a d o n a P a s s a r e l a d o S a m b a . sempre surpreendente e
belo. B e l e z a e s t a também c r e d i t a d a a o C a r n a v a l e s c o , que com
s u a i n e s g o t á v e l c r i a t i v i d a d e tem p r o p o r c i o n a d o o s m a i s i n e s -
q u e c i v e i s momentos d e s t a f e s t a , que sempre s e r á verdadeira
mente, uma f e s t a b r a s i l e i r a .

2. A P E S Q U I S A DE CAMPO

P a r a a r e a l i z a ç ã o d e s t e t r ~ o a l h o ,e s c o l h e m o s como
m é t o d o d e p e s q u i s a a e l a b o r a ç ã o d e e n t r e v i s t a s com C a r n a v-
a
lescos que atuaram nas décadas analisadas e aqueles ainda -
a
t u a n t e ç n a s E s c o l a s d e Samba. Desta forma, escolbemos o s C a-
r
n a v a l e s c o s d e E s c o l a s d e Samba d o G r u p o E s p e c i a l q u e no ano
d e 1990 estavam fazendo o c a r n a v a l d e s t a s Escolas, por s-
e
rem e l a s o p o n t o máximo d o s d e s f i l e s e também p o r q u e em a-
1
mas d e l a s o c o r r e r a m a s t r a n s f o r m a ç õ e s m a i s s i g n i f i c a t i v a s d o
desfile.
?
 I n c l u i m o s também a l g u n s C a r n a v a l e s c o s q u e n e s t e pe
r í o d o t r a b a l h a r a m com E s c o l a s d o G r u p o I , p o r e s t a r e m em i n -
í
c i o d e c a r r e i r a e e s t e f a t o s e r i m p o r t a n t e p a r a n o s s a p e s q u-
i
sa, v i s t o que d i f i c i l m e n t e encontrariamos Carnavalescos n e-
s
t e e s t á g i o em E s c o l a s d e S a m b a d o G r u p o E s p e c i a l .

Optamos p o r não c l a s s i f i c a r o s C a r n a v a l e s c o s e n t r-
e
v i s t a d o s a p e n a s p e l a E s c o l a ou G r u p o , mas s i m f o c a l i z a r sua
formação e método d e t r a b a l h o , D e s t a forma, e n t r e v i s t a m o s C a-
r
v a l e s c o s q u e n ã o m a i s a t u a m em E s c o l a s d e S a m b a , m a s q u e p o r
seu t r a b a l h o e conhecimento nos deram i n f o r m a ç õ e s valiosas
p a r a a compreensão do p r o c e s s o h i s t ó r i c o da p r o f i s s ã o .

Outras pessoas entrevistadas, foram e s c o l h i d a s por

s e u p o s i c i o n a m e n t o no m u n d o d o c a r n a v a l d a s E s c o l a s d e S a m b a
c u j o s depoimentos nos deram novos â n g u l o s de a p r e e n s ã o de
dados, não s ó r e l a t i v o s f i g u r a d o C a r n a v a l e s c o m a s d a p o s-
i
ç ã o d e s t e em s e u c a m p o d e t r a b a l h o .

P r ~ c u r a m o s ~ n c i p e r f o ddoe j a n e . i r o a setembro d e 1 9 9 1
e n t r e v i s t a r o m a i o r número p o s s i v e l d e p e s s o a s , s o b r e t u d o e-
n
t r e o s C a r n a v a l e s c o s do Grupo E s p e c i a l , do q u a l relacionamos
o s C a r n a v a l e s c o s em s u a t o t a l i d a d e , e x c l u i n d o a p e n a s a s E s c-
o
l a s Grande Rio e Império S e r r a n o , p o r a b s o l u t a i m p o s s i b i l i d-
a
d e d e c o n t a t o . E l a b o r a m o s um q u e s t i o n á r i o comum a t o d o s os
p r o f i s s i o n a i s e uma r e l a ç ã o d e p e r g u n t a s , que variaram c o-
n
forme a pessoa entrevistada, m a s q u e m a n t i v e r a m em e s s e n c i a ,
a proposta original.

Estes questionários e perguntas foram elaborados de

maneira a f a c i l i t a r nossa c o l e t a de dados, v i s t o que a maior
p a r t e dos Carnavalescos s e encontrava em pleno trabalho de
execução do c a r n a v a l , não d i s p o n d o d e p e r i o d o s muito l o n g o s
para os depoimentos, m a s q u e em s i n t e s e r e s p o n d e r a m d e f o r m a
s a t i s f a t ó r i a às questões colocadas. Estes depoimentos estão
g r a v a d o s em f i t a c a s s e t e e t r a n s c r i t o s em a n e x o , e são parte
?
i n t e g r a n t e de nosso acervo de f o n t e primária.
 Apresentamos a seguir o modelo do questionário u t-
i
l i z a d o na p e s q u i s a d e c a m p o e a r e l a ç ã o d a s p e s s o a s q u e f-
o
ram entrevistada para esta pesquisa:

QUESTIONARIO PARA P E S Q U I S A D E CAMPO

" C A R N A V A L E S C O - O P R O F I S S I O N A L Q U E " F A Z E S C O L A " NO CARNAVAL
CARIOCA. "
7. CARNAVALESCO: IDADE( ) a n o 4
2. AGREMIAÇÃO: 7991
3. FORMAÇÃO PROFISSIONAL ( &)'ano4
4 . T E M P O D E E X E R C I C I O COMO C A R N A V A L E S C O : ano4
5 . EM Q U A N T A S E S C O L A S JA T R A ~ A L H O U ? ( )EncoLas
QUAIS:
6. E S T E A N O ESTA D I V I D I N D O O C A R N A V A L DOM O U T R O C A R N A V A L E S C O ?
( I SIM ( ) NAU
C O N S I D E R A M A I S FAcIL TRABALHAR S O Z I N H O ?
( ) S I M ( ) NÃO
7. COMO C O M E Ç O U A T R A B A L H A R N E S T A E S C O L A D E S A M B A ?
( CONVITE ( CONCORRFNCIA ( CONTRATO ( )OUTROS
8. O ENREDO É D E S U A A U T O R I A ?
( ) SIM ( ) NÃO
A SINOPSE É DE SUA AUTORIA?
( I SIM ( ) NÃO
T E V E GRUPO D E P E S Q U I S A PARA ELABORAÇÃO DA S I N O P S E ?
( ) S I M ( ) NÃO
A S I N O P S E F O I PLENAMENTE ACEITA PELA ESCOLA?
( ) S I M ( 1 NÃO
I N T E R F E R I U NO S A M B A E N R E D O , P A R T I C I P O U D O JORI?
( ) S I M ( ) NÃO
9. O S F I G U R I N O S S Ã Ú D E S U A A U T O R I A ?
( SIM ( NÃO
USOU PROTÕTI P O ?
( ) S I M ( ) NÃO
U T I L I Z A O U OUTRO P R O F I S S I O N A L PARA A R T E - F I N A L ?
( ) SIM ( ) NÃO
10. O S ADERÉÇOS S Ã O D E S U A AUTORIA?
( ) SIM ( ) NÃO
UTILIZOU OUTRO PROFISSIONAL PARA ARTE-FINAL?
( )SIM ( INÃO
17. COSTUMA FAZER A PESQUISA D E MATERIAL OU T E M EQUIPE?
( SIM ( NÃO
T E M ARQUIVO D E MATERIAL P A R A CARNAVAL?
( 1 SIM ( ) NÃO
COSTUMA COMPRAR0 MATERIAL O U TEM PESSOAL PARA I S T O ?
( ) SIM ( NÃO
12. O S PROJETOS D E CARROS ALEGÚRIcOS S Ã O D E S U A AUTORIA?
( )SIM ( 1 NÃO
TRABALHA COM OUTROS-PROFISSIONAIS?
( ) ARQUTTETO ( ) ENGENHETRO ( ) ARTE-FINALISTA
( ) OUTROS
PARA A EXECUÇAO D O S CARROS:
( ) CARPINTEIRO ( ) FERREIRO ( ) ELETRICISTA
( ) DECORADOR ( ) OUTROS
S E U PROJETO É S E M P R E RESPEITADO?
( ) SIM ( NÃO
73. VOCE DESCOBRIU ALGUM MATERIAL NOVO?
( ) SIM ( NÃÚ
ALGUMA TECNICA NOVA?
( )SIM ( ) NÃO
INTRODUZIU ALGUMA MUDANÇA SIGNIFICATIVA NA ESCOLA DE
S A M B A O N D E TRABALHA?
I )SIM ( 1 NÃO
14; QUE PROFISSIONAIS COMPUEM A SUA EQUIPE?
( ) ESCULTORES ( ) PINTORES ( ) CENÚGRAFOS
( FIGURINISTAS ( DESIGNERS ( ARTESAOS
( 1 DESENHISTAS ( 1 ARTISTAS-PL~STICOS ( ) OUTROS
7 5. TRABALHA COM MÃO-DE-OBRA "NÃO ESPECIAL1 ZADA" D A COMU-
NIDADE D A ESCOLA D E SAMBA?
( ) SIM ( 1 NAU
FAZ TREINAMENTO D E MÃO-DE-OBRA?
( ) STM ( ) NÃO
16. EM C A S O S E S P E C I F I C O S , T R A B A L H A COM P E S S O A S D E S T A S AREAS?
( ) ESCOLA D E BELAS ARTES ( ) PARQUE LAGE
( )UNI-RIO ( )SENAC ( OUTROS
17. A FORMAÇÃO P R O F I S S I O N A L A R T ~ S T I C A É I M P O R T A N T E ?
( ) S I M [ ) NA0
COM Q U A N T A S P E S S O A S ESTA T R A B A L H A N D O E S T E A N O ?
( ) PESSOAS
C A D A AREA T E M UM C H E F E E S P E C f F l C O E A U X I L I A R E S ?
( ) SIM ( ) NÃO
78. C O N S I D E R A A 7 N D ~ S T R I AD O C A R N A V A L B O A ? ( M A T E R l A I S )
( ) SIM ( ) NA0
19. A RECESSÃO I N F L U I N E G A T I V A M E N T E NO C A R N A V A L ?
( ) S I M ( ) NÃO
20. VÙCE S E C O N S I D E R A BEM REMUNERADO?
[ ) S I M ( ) NÃÙ

ENDER EÇO: T E LEFONE:

Relação das pessoas e n t r e v i s t a d a s para e s t a p e s q u-i

sa, no p e r í o d o d e j a n e i r o a setembro de 1991:

S I L V I O CUNHA Carnavalesco da P o r t e l a
MAX LOPES C a r n a v a l e s c o d a U. do V i r a d o u r o
ILVAMAR M A G A L H Ã E S C a r n a v a l e s c o d a U. de V i l a Isabel
V I R I A T O FERREIRA C a r n a v a l e s c o da I m p e r a t r i z
MARIO MONTEIRO C a r n a v a l e s c o d a ~ s t á c i od e S;
ROGERIO FIGUEIREDO C a r n a v a l e s c o d a U.da Ilha
E L Y PERON C a r n a v a l e s c o d a U. da. I l h a
PAULO COSTA C a r n a v a l e s c o da L i n s I m p e r i a l
SOLANGE DE ALMEIDA C a r n a v a l e s c a da L i n s I m p e r i a l
PAULO L I M A C a r n a v a l e s c o d a U. do Cabuçu
V E R ~ N I C AMARINHO C a r n a v a l e s c a do A r r a n c o
C I D A DONATO C a r n a v a l e s c a do A r r a n c o
OSWALOO J A R D I M C a r n a v a l e s c o da U n i d o s da T i j u c a
ROSA M A G A L H Ã E S Carnavalesca do S a l g u e i r o
ALEXANDRE LOUZADA C a r n a v a l e s c o d a C a p r i c h o s o s d e P-i
lares
RENATO LAGE Carnavalesco da Mocidade Indepen-
d e n t e de ]Padre M i g u e l
L I L I A N RABELLO C a r n a v a l e s c a da Mocidade I n d e p e n -
d e n t e de Padre M i g u e l e P r e s i d e-
n
t e da Associação dos Carnavlescos
d e E s c o l a d e Samba CACESI
ERNESTO NASCIMENTO C a r n a v a l e s c o da M a n g u e i r a
JOÃOZINHO TRINTA Carnavalesco da B e i j a - F l o r de N-i
lópolis
CARLOS D'ANDRADE C a r n a v a l e s c o da são C l e m e n t e
-
MARIA AUGUSTARODRI Carnavalesca/Comentarista d a TV
GUES M a n c h e t e em 1 9 9 0
FERNANDO PAMPLONA Carvavalesco e Cenógrafo
L I C I A LACERDA Carnavalesca
E C I L A CYRNE Carnavalesca
C I D CAMILO Carnavalesco e membro d a D i r e t o r i a
d a ACES T:
SANCLER BOIRON Carnavalesco e membro d a D i r e t o r i a
d a ACES
GERALDO CAVALCA ( T i Carnavalesco
M A R I E L O U I S E NERY Carnavalesca
J U L I O MATTOS Carnavalesco
I S A PACHECO -
A s s e s s o r a d a C a r n a v a l e s c a R o s a Ma
galhães na e q u i p e d e B a r r a c ã o do
Salgueiro
HAROLDO CO.STA E s c r i t a r e Comentarista de C a r n-
a
val
AILTDN GUIMARARES P r e s i d e n t e da L i g a Independente
JORGE d a s E s c o l a s d e Samba ILIESAI
FERNANDO LEA.NDRO P r e s i d e n t e d a E s c o l a d e Samba -
Ca
prichosos de Pila'res
JOSE CARLOS NETTO Jornalista e C r o n i s t a de Carnaval
J O ~ O CANDIDO --
GAL C u r a d o r da E x p o s i ç ã o B i e n a l I n t e r -
~ A O n a c i o n a l de A r t e s de S.Paulo
MARIA LAURA V I V E-
1 ~ n t r o p ó l o g ae P e s q u i s a d o r a d e C a-
r
ROS DE CASTRO naval.
37. SERGIO C A B R A L Escritor e comentarista de carnaval
38. L U I Z OSWALDO PE
- P r o f e s s o r do Curso d e A r t e s ~ ê n i c a s
R E I R A DA C U N H A da Escola d e B e l a s Artes/UFRJ
39. H I R A M ARAUJO Escritor e Pesquisador de carnaval

Nosso m a t e r i a l d e f o n t e p r i m á r i a conta ainda com

a n o s s a e x p e r i ê n c i a como o b s e r v a d o r d o c a m p o d e t r a b a l h o do
profissional analisado, v i s t o que a s e n t r e v i s t a s foram f e-
i
t a s em s u a m a i o r p a r t e n o p e r i o d o q u e a n t e c e d e u o d e s f i l e d o
ano d e 1991. A i n d a como e x p e r i ê n c i a a c r e s c e . n t a m o s n o s s o t r-
a
b a l h o como C a r n a v a l e s c a d a E s c o l a d e S a m b a U n i d o s d e V i l a d e
Santa Tereza, q u a n d o f o m o s c o n t r a t a d o s p a r a r e a l i z a r o c a r n-
a
v a l do ano d e 1990, e n o s s o t r a b a l h o como i n t e g r a n t e d o J u r i
Popular do J o r n a l do B r a s i l , p a r a o q u a l fomos convidadas e
julgamos o d e s f i l e d o G r u p o E s p e c i a l no a n o d e 1 9 9 1 . Ambas
a s e x p e r i ê n c i a s e s t ã o i n c l u i d a s sob a forma de depoimento no
Capitulo V desta dissertação.

Como f o n t e b i b l i o g r á f i c a s e l e c i o n a m o s um material
b a s t a n t e r i c o q u e n o s a u x i l i o u n o l e v a n t a m e n t o d o s d a d o s h i-
s
t Ó r i c o s e na r e f l e x ã o t e ó r i c a d e a l g u n s a u t o r e s . Muito nos
a u x i l i o u também a l i t e r a t u r a sociolÓgica, s e j a nos trabalhos
e s p e c i f i c o s q u e abordam a s E s c o l a s d e Samba, seja naqueles
q u e a b o r d a m o campo d a S o c i o l o g i a d a A r t e .

través de jornais e r e v i s t a s o b t i v e m o s um c o n j u n t o
de informações que delineou o quadro h i s t ó r i c o e c r í t i c o no
qual situamos nosso objeto de estudo, bem c o m o a s i l u s t r-
a
ç õ e s q u e f o r a m r e t i r a d a s d e s t a s f o n t e s e d e l i v r o s e s p e c i a l-
i
z a d o s na á r e a do c a r n a v a l c a r i o c a .

Quanto aos m a t e r i a i s e s p e c í f i c o s sobre o regulamen-

t o do d e s f i l e e o u t r o s a s p e c t o s , c o n t a m o s com a q u e l e s f o r n e -
cidos pela Riotur e pela L i g a d a s E s c o l a s d e Samba, com t-
o
-
d a s a s i n f o r m a ç õ e s p e r t i n e n t e s a o d e s f i l e d a s E s c o l a s d e Sam
ba d o Grupo E s p e c i a l e d o s G r u p o s d e B a s e .
3. PROPOSTA D A O I S S E R T A Ç Ã O

N o s s a p r o p o s t a f u n d a m e n t a l é f a z e r uma r e f l e x ã o s-
o
bre o que é a p r o f i s s ã o d o C a r n a v a l e s c o , t r a ç a n d o um perfil
que contenha sua caracterização h i s t o r i c a e profissional. -
Fu
g i n d o um p o u c o d a s d i s s e r t a ç õ e s d e m o l d e s e s t r i t a m e n t e a c-
a
dêmicos, procedemos d e maneira a não l i m i t a r este trabalho
a r e p e t i ç ã o d e r e f l e x õ e s e t e o r i a s já e x i s t e n t e s , sobretudo
p e l o f a t o d e que pouco m a t e r i a l teõrico existe sobre o o b j-
e
t o de nossa estudo.

Decidimos então que a h i s t ó r i a do Carnavalesco, em

primeira instancia, deveria s e r contada por aqueles que me
l h o r a conhecem, ou s e j a , os próprios Carnavalescos. R e s p e-
i
tando e s t e s depoimentos, pelos quais cada pessoa 6 r e s p o n s-
á
v e l por sua veracidade, cabendo a n ó s c o n f r o n t a - l o s com d-
a
dos reais, selecionamos alguns t e x t o s que revelam aspectos
n u n c a a n t e s a b o r d a d o s ou r e u n i d o s n u m t r a b a l h o e s p e c i f i c o s-
o
b r e e s t e tema.

C o n s i d e r a n d o q u e a s E s c o l a s d e Samba já foram o b j-
e
t o de várias analises e pesquisas, enfatizamos neste t r a b-
a
l h o o enfoque dado a t r a v é s d e uma o u t r a p e r s p e c t i v a , a p l i c-
a
da ao profissional c r i a d o r do c a r n a v a l , que a t r a v é s d e sua
propria história, r e v e l a t a m b é m uma o u t r a f a c e d a evolução
d a s E s c o l a s d e Samba.

R o m p e n d o com o s l i m i t e s d e c r í t i c a e t e o r i a , nos -
a
profundamos num u n i v e r s o d e e x t r e m a r i q u e s a h u m a n a , visto
que cada pessoa a q u i e n t r e v i s t a d a nos forneceu informações
não só d e contepudo p r o f i s s i o n a l , mas d e c o n t e ú d o p e s s o a l , o
que t o r n a mais i n t e r e s s a n t e nossa investigação.

Refletir sobre esta profissão, t r a ç a n d o o s caminhos

por e l a abertos e percorridos, 6 t a m b é m r e f l e t i r s o b r e o c a-r
n a v a l b r a s i l e i r o como u m t o d o . P a r a n ó s , q u e j á f o m o s c o m p-
o
n e n t e s e d e s f i l a m o s p e l a U n i ã o d a I l h a no e n r e d o "Domingo"em
1 9 7 7 , q u e t r a b a l h a m o s como a d e r e c i s t a n o B a r r a c ã o d a Escola
d e S a m b a P a r a i s o d o T u i u t i em 1 9 8 3 , que exercemos a função
d e C a r n a v a l e s c a n a E s c o l a d e Samba U n i d o s d e V i l a d e Santa
T e r e z a em 1 9 8 9 e p a r t i c i p a m o s d e uma c o m i s s ã o j u l g a d o r a do
d e s f i l e d o G r u p o E s p e c i a l em 1 9 9 1 , esta dissertação f o i o
g r a u máximo d e n o s s a ' e x p e r i ê n c i a , q u e s a b e m o s n ã o f o i a Ú l t -i
ma, e que pelo r e s u l t a d o , n o s a b r e m u i t o s c a m i n h o s , t o d o s f a-
s
cinantes, t o d o s a b s o l u t a m e n t e cahnavatencon.
I - O C A R N A V A L D A PRIMEIRA METADE D O S É C U L O X X

1.1 - O TERMO "CARNAVALESCO"

" C o m a monte d e J u l i o S Z l v a , d i a 9 deake

mzs de j u l h o , desapanece um doa ÜLkLmon,
k a l v e z meamo o ÜL;timo doa a u k ~ n k i c o n Cah
n a v a l e s coti caniocan ( . ..
) e l e e n eu humã
d a ~ i c oBLoco d o Eu S o z i n h o ( . ..
) " (q 1
-

JÚTA EFEG?

Para analisarmos o termo Carnavalesco, que hoje de-

s i g n a um p r o f i s s i o n a l e s p e c i f i c o n o c o n t e x t o d o c a r n a v a l b r-
a
sileiro, é n e c e s s á r i o e x t r a i r do p r ó p r i o termo a s s i g n i f i c-
a
ções, d e t e r m i n a n d o uma d e f i n i ç ã o m a i s a m p l a .

Uma c o m p r e e n s ã o d o q u e s e j a o e s p í r i t o d o C a r n a v a l ,
nos l e v a as d e f i n i ç õ e s e o r i g e n s do proprio termo, nos feste -
j o s romanos d a s S a t u r n a i s , entre outros, onde encontramos os
"cahnum nava-tia" e t a m b é m a d e f i n i ç ã o e t m o l õ g i c a d o t e r m o c a-
r
naval: do i t a l i a n o "canno" e " v a l e 1 ' , a d e u s à c a r n e , perfodo
que se s i t u a nos d i a s p r e c e d e n t e s quarta-feira de cinzas.No
B r a s i l e s t e período é situado quarenta d i a s a n t e s da Páscoa,
com a d u r a ç ã o d e q u a t r o d i a s , contando-se com o s á b a d o , e t e-
r
m i n a n d o na t e r ç a - f e i r a gorda.

Este é p o r t a n t o , o p e r í o d o o f i c i a l do C a r n a v a l b r-
a
sileiro, tempo d e l i b e r a ç ã o e d i v e r t i m e n t o , f o l i a e quebra de
rotina. O ritual d o c a r n a v a l p r e s s u p õ e um c o n t e x t o d e c a r a-
c
t e r e s p e r t i n e n t e s a o mundo c a r n a v a l e s c o . o u a i n d a a o mundo d o
samba, regido por elementos temporais - o oficial e os e x t r-
a
oficiais - e por elementos espaciais - espaços de ritualiza
ção: salões, ruas, praças e locais destinados a apresentações
específicas, como a P a s s a r e l a d o S a m b a , e a s quadras de -
en
s a i o d a s E s c o l a s d e Samba.

i l l Efegê,Jota, Figuras e-coisas do Carnaval Carioca, op.cit.

p. 276.
 Encontram-s.e n o Novo D i c i o n 6 r i o d a ~ T n ~ u Pa o r t u g u e -
sa - Edição R e v i s t a e aumentada de 1986, d e ~ u r é l i o Buarque
d e Holanda F e r r e i r a , a s seguintes definições para o termo
"Carnavalesco":

"CARNAVALESCO" Ido i t a l i a n o c a r n a v a i e s c o 1

1. ( a d j e t i v o ) P e r t e n c e n t e o u r e l a t i v o a o carnaval,
ou p r ó p r i o d e l e .
2 . I a d j e t i v o l Que p a r t i c i p a i n t e n s a m e n t e d o s f o l g u e -
dos carnavalescos.
3. [ a d j e t i v o l ~ í d i c u l o . g r o t e s c o .
4. ( a d j e t l v o l Carnavalizado: "A n a r r a t i v a menipéia,
ou s e j a , c Ô m i c o - f a n t á s t i c a , e m q u e o s
p e r s o n a g e n s também s ã o a l e g ó r i c o s , r e
p r e s e n t a n d o i d e i a s Cé a iiteraturã
carnavalesca, descrita por 'Mikhail
~ á k h t i n . , d eL u c i a n o a R a b e l a i s e de
Swift a D o ç t o i ~ v s k i 3 mais- idéias
t r a t a d a s h u m o r í s t i c a m e n t e " C J O S ~G u i
lherrne Merquior, i n EdiqÕes . C r i t i c a <
d e o b r a s d e Machado d e Assis, várias
~istÓrias~p.151.
5. ( s u b s t a n t i v o masculino) Bras. F o l i ã o do c a r n a v a l .
6. ( s u b s t a n t i v o masculino) Bras. Pessoa que plane
j a e p õ e em e x e c u ç ã o o s d i v e r s o s fes
t e j o s d e c a r n a v a l , t a i s como d e s f i l e s
d e E s c o l a s d e Samba, b a i l e s , e t c . "

[grifo nosso)

E s t a ú l t i m a d e f i n i ç ã o não c o n s t a v a da p r i m a i r a edi-
ç ã o d e s t e d i c i o n á r i o , d a t a d a d e 1 9 7 5 , é p o c a em q u e a p r o f i-
s ,

s ã o d e C a r n a v a l e s c o e x i s t i a já com e s t a d e n o m i n a ç ã o , sendo
e l a p o r t a n t o anexada à e d i ç ã o d e 1986.

Temos p o r t a n t o a s v á r i a s d e f i n i ç Õ e s d o t e r m o , tanto
como a d j . e t i v o , como s u b s t a n t i v o , do s i g n i f i c a d o " r i d i c u l o " a o
" f o l i ã o de carnaval" chegando ao termo p r o f i s s i o n a l i z a n t e de
"Carnavalesco"

Em n o s s a p e s q u i s a d e c a m p o , muitos dos e n t r e v i s t-
a
dos fizeram a referência a d j e t i v a n t e " a q u e l e q u e g o s t a d e c a-
r
naval". Portanto, pode-se c o n s i d e r a r qu.e q u a l q u e r i n d i v i d u o , f
q u e s e f a n t a s i e s e j a um " c a r n a v a l e s c o , m a s t a m b é m num s e n t i d o
mais amplo, pode s e r t o d o i n d i v i d u o que s e r e l a c i o n a a o car
n a v a l d e uma m a t e i r a d e t e r m i n a d a , o c o m p o s i t o r d e samba, a
costureira de fantasias, o ritmista de bateria, o componente
d e E s c o l a d e Samba, o cronista e comentarista de carnaval, e
t a n t o s o u t r o s que g r a n d e s e r i a a l i s t a g e m d e i n d i v i d u o s p o t e-
n
cialmente "carnavalescos".

Tanto o individuo que enverga sua f a n t a s i a nos 90

m i n u t o s d o d e s f i l e d e uma E s c o l a d e S a m b a q u a n t o a q u e l e que
s e d e d i c a a p l a n e j a r e e x e c u t a r e s t e mesmo d e s f i l e , podem s e r
designados "carnavalescos".

N ~ Op o d e m o s deixar de apontar que a qualidade mais

importante desta designação 6 "estar relacionado so carnaval"
e indo mais longe, gostar de carnaval, s e r capaz de romper
com a p r s t i c a c o t i d i a n a d o r e a l e f a z e r d o i r r e a 1 . e d o f a n t ã-
s
t i c o mundo c a r n a v a l e s c o a s u a p r ó p r i a r e a l i d a d e , seja ela a
do gozo puro da l i b e r d a d e , s e j a e l a a d o campo profissional
de trabalho. P a r a s e p a r t i c i p a r d- carnaval é necessário um
e n v o l v i r n e n t o p e s s o a l com s u a m a g i a e f a n t a s i a , seja pela f r u i
ção, seja pela relação profissional. E necessario "gostar" pa
ra participar, e no c a s o d a r e l a ç ã o p r o f i s s i o n a l , encarar o
c a r n a v a l como um e v e n t o " s é r i o " , n o m o m e n t o em q u e e l e é o-
b
j e t o d e uma p r o p o s t a e d e um p l a n e j a m e n t o .

Neste sentido de envolvimento, figuram todos os i-

n
d i v i d u o s q u e compõem a s o r g a n i z a ç õ e s p r o f i s s i o n a i s d o C a r n-
a
val, a s AgremiaçÕes C a r n a v a l e s c a s : Blocos, Ranchos, Escolas
d e Samba, e o s p r o f i s s i o n a i s d i r e t a m e n t e e n v o l v i d o s com a e x-
e
cução do Carnaval Carioca. Não d i s c u t i m o s o f a t o d e q u e t r-
a
b a l h a r em C a r n a v a l s i g n i f i c a e x e r c e r uma " p a i x ã o " , mas b a s e-
a
mos e s t a a f i r m a ç ã o p e l o l e v a n t a m e n t o d a s e n t r e v i s t a s r e a l i z-
a
das, e m que todos o s e n t r e v i s t a d o s demonstraram a n t e s d e tudo
uma r e l a ç ã o d e i d e n t i f i c a ç ã o p r o f u n d a com o C a r n a v a l c o m o um
t o d o e com a s E s c o l a s d e S a m b a em p a r t i c u l a r , p e l a s s u a s a t u-
a
çÓes a e l a s r e s t r i t a s .
 A n a l i s a r a p a l a v r a "Carnavalesco" não é portanto,
uma t a r e f a d i f í c i l , Definições existem, e várias, que r e l a c i o -
nam o t e r m o à s d i v e r s a s i n s t â n c i a s d o C a r n a v a l .

Cabe p o r t a n t o , em n o s s a p e s q u i s a , isolar o termo

l r C A R N A V A L E S C O ~ p l i c a d on e s t a d i s s e r t a ç ã o como a d e f i n i ç ã o do
p r o f i s s i o n a l que pretendemos a n a l i s a r . Esta análise abrange
s e u s a n t e c e d e n t e s h i s t ó r i c o s - q u e chamamos d e liPré-~arnava -
lescos" - os Técnicos - a sua evolução .histórica e sua parti
c i p a ç ã o n a s E s c o l a s d e Samba d o R i o d e J a n e i r o , contexto no
qual e s t e profissional surgiu e s e afirmou.

Esta relação, que revela a s ambiguidades de a c e i t-

a
ção e r e s i s t e n c i a , s i g n i f i c o u u m i n t e r e s s e d e ambas a s Paf
tes, c o m e ç a n d o n o d i a em q u e o p r i m e i r o " f o l i ã o " sentiu-se
a t r a í d o p e l o f a z e r a r t i s t i c o do c a r n a v a l , evoluindo para e s t e
t é c n i c o q u e p a s s o u a s e r ' c o n v i d a d o a f a z e r p r é s t i t o s e q u e ho -
j e s e tornou o Carnavalesco, q u a n d o a s s i n a o c o n t r a t o com a
E s c o l a d e Samba e a m b o s s e p r o p õ e m a c o n q u i s t a r o p r i m e i r o l -
u
g a r no d e s f i l e d o G r u p o ' E s p e c i a l , p r ê m i o máximo d o Carnaval
Carioca.

No p r o c e s s o h i s t ó r i c o d o C a r n a v a l C a r i o c a , o Carna -
v a l e s c o tem r a í z e s que u l t r a p a s s a m o s l i m i t e s d a s E s c o l a s de
Samba, contexto ao qual atualmente é relacionado.

Antonio Francisco Soares é o p r o f i s s i o n a l mais a 2

t i g o por nós encontrado, levando-se em c o n s i d e r a ç ã o q u e i d e-
a
l i z o u e r e a l i z o u um s o l e n e c o r t e j o em h o m e n a g e m a o casamento
d e Dom J O ~ O com a i n f a n t a de Espanha, D.Carlota Joaquina de
Bourbon, c o r t e j o e s t e q u e não e r a c a r n a v a l e s c o , mas q u e con-
t i n h a a s mesmas c a r a c t e r i s t i c a s : c a r r o s alegÓr.icos, efeitos
?
de f o g o s d e a r t i f l c i o e o c a r á t e r f e s t i v o e comemorativo. Sua
realização aconteceu na d a t a d e 0 2 d e f e v e r e i r o d e 1 7 8 6 , por
t a n t o a 205 anos.

Apesar d e não t e r s i d o um d e s f i l e c a r n a v a l e s c o , sua

c o n c e p ç ã o s e a p r e s e n t a i d ê n t i c a à q u e l a q u e em f i n s d o século
X I X d a r i a i n i c i o a o s t r a b a l h o s de pessoas que s e dedicaram ã
confecção d e p r é s t i t o ç d e Ranchos C a r n a v a l e s c o s e Grandes So
cledades. Como d e m o n s t r a a d e s c r i ç ã o d e t a l h a d a f e i t a p e l o -
p r i o Antonio Francisco Soares:

"O c a r r o t i n h a "de cumprido 23 palmos, de

l a r g u r a 50 p a l m o s , d e f r e n t e 8 e d e altu
r a 50 palmos onde h i a s e n t a d o Bacco. € r ã
e s t e fabricado sobre quatro rodas todo de
quartela de vulto de a r q u i t e t u r a que for
m a v a d e f r e n t e um p o n t o p e q u e n o , a u m e n t a ;
d o p a r a a p o u p a em p o n t o m a i o r d e a l t u r a :
e d e n t r o d e s t e c a r r o h i a f o r m a d o um m o n t e
que t i n h a 10 palmos de a l t o [ . . . ] o monte
fabricado mui natural, tanto de pintura
como d e á r v o r e s s i l v e s t r e s e f l o r e s , t i n h a
p e l o mesmo m o n t e 8 d e g r a u s q u e comessava
na f r e n t e do c a r r o a t é c h e g a r a o lugar
adonde e s t a v a Bacco, nos -quaes iam senta
dos o s s ã t i r o s (...I cingidos pela cintÜ
r a com f o l h a s d e p a r r a s e v e s t i d o s j u s t o s
c o r de carne, que pareciam nus(...lEra pu
xado e s t e c a r r o por t r ê s j u n t a s d e bois
c o b e r t o s com h u m a s m a n t a s d e x a d r e z e s de
v á r i a s c o r e s m n a s c a b e ç a s com c a p e l a s de
d i v e r s a s f l o r e s campestres, sendo leva -
d o s também 2 f o r ç a d e homens o c u l t o s , q u e
h i ã o Dor b a i x o d o c a r r o ( . . . l " [ 2 1

Esta descrição, f e i t a por seu r e a l i z a d o r , refere-se

a o Carro d e Cacco, q u e compunha o c o r t e j o d e s e i s alegorias:
Carro de Vulcano, Carro de JÚpiter, Carro de Bacco, Carro dos
Mouros. C a r r o d a s ' C a v a l h a d a s s é r i a s e .C a r r o d a s
, Cava1hadas
Burlescas, e um d e s e u s i n t e r e s s a n t e s é q u e , em r e f e r e n c i a a
Bacco, Deus do Vinho, este carro jorrava vinho para o p Ú b l-
i

( 2 1 ~ f e g ê ,J o t a , idem, op. cit. p.109

co, n a 0 deixando nada a d e v e r a o s g r a n d e s c a r r o s alegáricos
h o j e a p r e s e n t a d o s p e l a s E s c o l a s d e Samba..

A s u b i d a a o t r o n o d e D.João I V motivou o primeiro

c a r n a v a l o f i c i a l do B r a s i l , o c o r r i d a em 1 6 4 1 , e durante dois
séculos a manifestação carnavalesca no R i o d e J a n e i r o f o i o
Entrudo, combatido e reprimido pela policia pelo seu aspecto
violento. O C a r n a v a l C a r i o c a começou a se transformar a par
tir da criação de Bailes Carnavalescos, com a i n t r o d u ç ã o de
costumes europeus, como a u t i l i z a ç ã o d e m á s c a r a s , confetes,
serpentinas e lança-perfumes, em 1 8 3 5 . O s u r g i m e n t o do zé
P e r e i r a em 1 8 4 8 v i r i a a s u b s t i t u i r o Entrudo, dando a o C a r n-
a
v a l C a r i o c a um c a r á t e r m a i s c i v i l i z a d o q u e c o n t o u também com
o u t r o s a s p e c t o s l i g a d o s 2 modernização do p a i s , t a i s como a
modificação dos meios de transportes, iluminação -
2 g á s , máqui
nas de costura, e s t a s ú l t i m a s a l t e r a n d o na segunda metade do
século X V I I o s meios de produção de a r t e f a t o s para o carnaval.

A s p r i m e i r a s a t i v i d a d e s p r o f i s s i o n a i s do carnaval,
ou s e j a , aquelas que s e dedicavam especificamente sua prod-
u
ção, eram a q u e l a s d e d i c a d a s confecção de estandartes para
os Préstitos Carnavalescos - o s Grandes Clubes Carnavalescos,
e a s Grandes Sociedades - q u e c o n t a v a m com a p a r t i c i p a ç ã o de
a r t i s t a s p l á s t i c o s e cenÓgrafos para a confecção de seus e-
s
tardantes.

A s três mais a n t i g a s Agremiaçõe,~ ' - Tenentes do D i-

a
bo, Democráticos e Fenianos - tiveram papéis destacados não
s Ó pelo e n v o l v i m e n t o na v i d a p o l í t i c a d o p a i s , mas também p o r
representarem os primeiros núcleos geradores de profissionais
que s e dedicavam a produção dos d e s f i l e s de Carnaval.

O aspecto competitivo d e s t e s d e s f i l e s que c o n d i c i-

o
n o u a b u s c a d e um a p u r o a c e n t u a d o n a r e a l i z a ç ã o p l á s t i c a de
seu cortejo, f o i um d o s f a t ' o r e s m a i s i m p o r t a n ' t e s p a r a o s u-
r
gimento d e s t e p r o f i s s i o n a l , para concepção e execução d e a l-
e
goriaç e estandartes.
 Em 1 8 5 5 o C a r n a v a l C a r l o c a t e v e s u a p r i m e i r a g r a-
n
de modificação, com o d e s f i l e d a s G r a n d e s S o c i e d a d e s , f a t o e s
t e a n u n c i a d o p e l o c r o n i s t a J o s é d e A l e n c a r no C o r r e i o M e r c a-
n
t i l em 1 4 d e j a n e i r o , sendo o primeiro grupo apresentado c h-
a
mado d e " G r a n d e C o n g r e s s o d a s S u m i d a d e s C a r n a v a l e s c a s " .

E p r e c i s o l e v a r em c o n s i d e r a ç ã o q u e n e s t a é p o c a os
p r o f i s s i o n a i s que idealizavam e executavam os rét ti tos eram
anônlmos, e t r a b a l h a v a m em c o n j u n t o com o s p a r t i c i p a n t e s dos
desfiles. Em 1 8 5 5 o C a r n a v a l C a r i o c a t o m o u n o v a f o r m a , orga
nizando-se em t o r n o d a s S o c i e d a d e s C a r n a v a l e s c a s , que Por
força de divergências internas, multiplicaram-se -
e dissolviam
se, r e s t a n d o p o s t e r i o r m e n t e a s t r ê s G r a n d e s S o c i e d a d e s já c -i
tadas: Tenentes do Diabo, Fenianos e Democráticos.

O C l u b e d o s D e m o c r á t i c o s f o i o p r i m e i r o q u e em 1 8 5 9
s e a p r e s e n t o u com um c a r r o a l e g ó r i c o , idealizado por Carranci -
ni, artista italiano, c e n ó g r a f o e s p e c i a l i z a d o em C a r n a v a l . E
do campo d a C e n o g r a f i a T e a t r a l q u e s u r g i r a m o s profissionais
que s e dedicaram ao Carnaval Carioca. Pelos aspectos técni -
tos da cenografia, que guardam semelhanças com a m o n t a g e m e
idealização dos P r é s t i t o s Carnavalescos, h o u v e um i n t e r c â m b i o
inten-so de informações e conhecimentos, l e v a d o s do t e a t r o pa
r a a s m a n i f e s t a ç õ e s c a r n a v a l e s c a s do s é c u l o X V I I .

E s t e s p r o f i s s i o n a i s eram denominados " ~ é c n i c o s " , t e r -

mo q u e a b r a n g e o c o n h e c i m e n t o q u e e l e s p o s s u i a m , ou como e-
x
p l i c a o cronista Jota Efegê, aqueles que conheciam a s - t é c n-
i
tas:

"No a m e r i c a n i s m o h o j e c o r r e n t i o n o nosso
l i n g u a j a r , o termo expert d e f i n e o e n t e-
n
d i d o , o t é c n i c o em d e t e r m i n a d o a s s u n t o . O
C a r n a v a l , p o r é m , sem q u a l q u e r p r e t e n s ã o n a
c i o n a l i s t a , não a d o t o u a i n o v a ç ã o . Conti
n u a d e s i g n a n d o c o m o ~ é c n i c oa q u e l e que
num r a n c h o , numa e s c o l a d e s a m b a , organo
za o enredo, determina a formação do d e-z
 f i l e , sahe enfim o s "macetes" capazes de
e m p o l g a r o p Ú b l l c o e i m p r e s s i o n a r a C o m i-
s
s a o J u l g a d o r a . " [.31

O ~ é c n i c oe r a a q u e l e i n d i v i d u o i d e a l i z a d o r , r e a l i z-
a
dor e orientador da confecção d e a l e g o r i a s e roupagens, e que
comandava o t r a b a l h o d e c e n ó g r a f o s , maquinistas, costureiras,
a d e r e c i s t a s e demais pessoas envolvidas nos t r a b a l h a s d e b a-
r
ratão, a l é m d e s e r t a m b é m o i d e a l i z a d o r d o ~ n r ê d o . No início
do s é c u l o X X o t e r m o b a r r a c ã o não e r a u t i l i z a d o , considerando -
s e o l o c a l d e t r a b a l h o c o m o um " a t e l i e r " o.nde e r a m c o n f e c c i-
o
nados o s e s t a n d a r t e s e a l e g o r i a s dos ~ r & s t i t o s .

O s t r ê s p r i n c i p a i s Grandes Clubes, mais t a r d e d e n-

o
minados Grandes Sociedades, c o n t a v a m com ~ é c n i c o sq u e c o m p e t i
am e n t r e s i . Esmerando-se nas apresentaçÕes, estes profissio -
n a i s p r o c u r a v a m a c a d a d e s f i l e s u p e r a r com i n o v a ç õ e s q u e d-
a
vam p r e s t í g i o à q u e l e s q u e m a i s o u s a s s e m .

~ Ú b l i oM a r r o i g , q u e em 1 8 9 5 i n i c i o u sua carreira de
c e n ó g r a f o p i n t a n d o c e n á r i o s em S a n t a C a t a r i n a , estado onde
nasceu, v e i o p a r a o C l u b e d o s D e m o c r ~ t i c o s em 1 8 9 9 , não como
~ é c n i c o ,p o i s n e s t e ano o r e a l i z a d o r do d e s f i l e f o i Gaston
Carrancini, mas como E s c u l t o r d a s a l e g o r i a s . Como a c o n t e c e -
a
t u a l m e n t e n a s E s c o l a s d e Samba, o s p r o f i s s i o n a i s mais c o m p-
e
t e n t e s eram d i s p u t a d o s p e l a s Grandes Sociedades, -
e P Ú b l i o Mar
roig, conhecedor profundo de t é c n i c a s cenográficas, f o i -
du
r a n t e anos cobiçado por o u t r o s Grandes Clubes. Aplaudido pelo
público e pela Imprensa, em 1 9 0 9 f o i e s c o l h i d o como o melhor
cenógrafo confeccionador d e p r é s t i t o s da t e r ç a - f e i r a g o r d a , p-
e
10 j o r n a l A N o t i c i a , q u e promoveu e s t e c o n c u r s o .

P o r v á r i o s a n o s ~ Ú b l i oM a r r o i g f o i o a u t o r d e m u-
i
t o s p r é s t i t o s a l e g ó r i c o s dos Democrãticos e Tenentes, e em

131 EFEGE, JOTA, idem, p.98

!
1949. r e a l i z o u seu Último t r a b a l h o para o s PierrÔs da Caverna,
um g r u p o d i s s i d e n t e d o s T e n e n t e s d o D i a b o q u e o c o n v i d o u p a r a
realizar o desfile.

Na p r i m e i r a d é c a d a -
s o s é c u l o X X , - d o i s ~ : T é c n i c o s domi
navam o c e n á r i o d o s P r é s t i t o s C a r n a v a l e s c o s : PÚblio Marroig e
FiÜza Guimarães, e s t e r e s p o n s á v e l p e l o s F e n i a n o s em 1 9 0 3 , ano
em q u e e s t a G r a n d e S o c i e d a d e d e s f i l o u com um p r e s t i t o d e d-
e
zessete carros, sendo s e t e de a u t o r i a d e FiÚza. Em 1 9 1 7 A n g-
e
10 L a z a r y s e r i a d e s c o b e r t o p e l o C l u b e d o s D e r n o c r ~ t i c o s , a s s i m
c o m o a p a r t i r d a d é c a d a d e 2 0 o u t r o s ~ é c n i c o sp r e s t i g i a d o s s -
e
riam lançados pelos Grandes Clubes, como C a r r a n c i n i , Jaime
Silva, H i p Ó l i t o Colom, Miguel B i l o t a e o u t r o s .

1.2.1 - A PARTICIPAÇAO D A ESCOLA N A C I O N A L DE BELAS ARTES N O

CARNAVAL CARIOCA

N ~ Os Ó d o t e a t r o ou d e p r o f i s s i o n a i s a u t o d i d a t a s s e
b a s t a v a o Carnaval Carioca do princTpio do s é c u l o para a f o-
r
mação d o s T é c n i c o s . A Escola Nacional de Belas Artes ~(ENBAI,
que e r a formada por a r t i s t a s p l á s t i c o s , pintores, escultores,
e p r o f e s s o r e s d e renomada competência a r t i s t i c a , t e v e uma p a-
r
t i c i p a ç á o i m p o r t a n t e no c a r n a v a l , que se e s t e n d e a t é o s d i a s
atuais.

~ n d r 6V e n t o , a l u n o d a ENBA, g a n h a d o r d e Menção -
Hon
r o s a no S a l ã o d e 1 9 1 7 e M e d a l h a d e P r a t a no S a l ã o d e 1918,
f c i t a m b é m d i s c í p u l o d e ~ i Ü z aG u i m a r ã e s , e isto o capacitou
a s e r convidado pelo Clube dos Fenianos para confeccionar o
p r é s t i t o do ano d e 1921. E s t e i n t e r c â m b i o com o a p r e n d i z a d o -
a
c a d ê m i c o é a p r e s e n t a d o n o L i v r o d e J o t a ~ f e g ê , " F i g u r a s e C o-i
s a s do Carnaval Carioca":

"Embora s u b e s t i m a d o p e l o s s n o b s , q u e n a q u e
l e tempo já o s h a v i a , o s c o r t e j o s d e a l-e
7
 g o r i a s I....lna sua confecção trabalhavam
a r t i s t a s de reconhecido mérito. Contava
-se e n t r e e l e s alguns autodidatas, a l g u n s
curiosos (os que 'tinham j e i t o ' l e também
o s q u e t i v e r a m a p r e n d i z a d o em e s c o l a s ou
com m e s t r e s . A s s i m o moço ~ n d r éV e n t o [ . . . )
e s t a v a n o r o l d e s t e s Ú l t i m o s . E r a um dos
q u e t i v e r a m a p r e n d i z a d o em e s c o l a s o u em
s a l a s d e a c a d e m i a s . I r i a porém s e i n i c i a r
em c o m p e t i ç õ e s d e n i t i d o c u n h o p o p u l a r . "
(41

O e s c u l t o r Modestino Kanto, p r e m i a d o em v ã r i o s -
sa
lÕes da ENBA, i n c l u s i v e com o p r ê m i o d e v i a g e m dm 1 9 1 8 , teve
i m p o r t a n t e a t u a ç ã o como T é c n i c o p a r a v á r i a s A g r e m i a ç õ e s . Em
1918, r e a l i z o u p a r a o s T e n e n t e s d o D i a b o uma c o n s t r u ç ã o ceno -
gráfica s o b a f o r m a d e uma c a v e r n a p a r a a d e c o r a ç ã o d o salão
do C l u b e , o que valeu o c o n v i t e p a r a t r a b a l h a r como Técnico.
T r a b a l h a n d o com A n g e l o L a z a r y e A n i s i o F e r n a n d e s , confeccio -
nou p r é s t i t o s a t é 1 9 1 6 , i n d o p a r a a Europa nos d o i s anos se
g u i n t e s a t r a v é s d e p r ê m i o s d e viagem g a n h o s na ENBA. Em 1920
r e t o r n o u a o s O e m o c r ~ t i c o s em c o m p a n h i a d e L a z a r y , e p o s t e r i o-
r
m e n t e em 1 9 4 1 r e a l i z o u seu Último t r a b a l h o , com H o n ó r i o P e ç-
a
n h a e C a l i x t o C o r d e i r o no C l u b e d o s C a r i o c a s .

Manoel F a r i a , o u t r o a r t i s t a p r e m i a d o em S a l õ e s da
ENBA (1923 - medalha de bronze e 1926 - medalha d e p r a t a 1 f o i
c o n v i d a d o p e l o s F e n i a n o s em 1 9 3 4 p a r a e s t r e a r como T é c n i c o , e
c o n c o r r e u com o s g r a n d e s n o m e s d a q u e l a é p o c a , -
c o m o P Ú b l i o Mar
roig, FiÚza Guimarães, Jaime S i l v a e Angelo Lazary.Estimulado
pela concorrência, f o r m o u uma e q u i p e c o m p e t e n t e e em s e u p r-
i
meiro trabalho conquistou a v i t ó r i a para o s Fenianos.

A c o n t r i b u i ç ã o d a ENBA p a r a o c a r n a v a l d a primeira
m e t a d o d o s é c u l o X X n ã o s e l i m i t o u a o s ~ é c n i c o se o ~ t r o s p r g
fissionais, m a s t a m b é m com a q u e l e s q u e p a r t i c i p a v a m d e C o m i-
s
sÕes J u l g a d o r a s , como L o u r i v a l F o n t e s , Edson Motta e Navarro
da Costa, que julgaram em 1 9 3 4 o d e s f i l e d a s G r a n d e s S o c i e d-
a
d e s e concederam o p r i m e i r o premio a o s Fenianos, d e M a n o e l F-
a

( 4 1 EFEGE,JOTA, idem, op.cit.p.256

ria. A ENBA p e r m a n e c e r i a sempre l i g a d a a o Carnaval C a r i o c a , e
a p a r t i r da década de 60 e s t a l l g a ç ã o s e r i a fundamental para
a g r a n d e r e v o l u ç ã o d a s E s c o l a s d e Samb.a.

Dentre o s Técnicos mais famosos, nao podemos d e i x a r

de c i t a r Calixto Cordeiro, ou K a l i x t o , que f o i professor, e-
s
cultor, gravador, poeta, cenógrafo, desenhista e caricaturis-
t a famoso. Em 1 9 1 3 c o m e ç o u a t r a b a l h a r como T é c n i c o p a r a os
Tenentes do Diabo, e em 1 9 1 4 r e a l i z o u uma d u p l a p r o e z a , con
feccionando simultâneamente o s p r é s t i t o s do Tenentes e o des-
f i l e d o R a n c h o C a r n a v a l e s c o Ameno R e s e d á , o b t e v e a v i t ó r i a em
ambos.

Ao lado dos p r é s t i t o s d a s Grandes Sociedades, os

Ranchos Carnavalescos c a r i o c a s , i n s p i r a d o s nos Ranchos de
Reis da Bahia, foram manifeçtaçÕes de grande popularidade e
q u e t a m b é m c o n t a v a m com T é c n i c o s p a r a a e l a b o r a ç ã o d e seus
desfiles.

~ i s t Ó r i c a m e n t ep o d e m o s c o n s i d e r a r o s R a n c h o s como
outro laboratório para os Técnicos, a s s i m como f o r a m a s g r a-
n
des Sociedades, e a m b o s c o n t r i b u i r a m com a l g u n s e l e m e n t o s pa
r a a f o r m a ç ã o d a s E s c o l a s d e Samba, i n c l u s i v e com o s T é c n i c o s .
A década d e 20 f o i a mais r i c a e que mais inovações a p r e s e-
n
t o u no ã m b i t o d o s R a n c h o s . Rica em i n f o r m a ç õ e s , r e v o l u c i o-
n~
r i a pelas apresentações e e c l é t i c a quanto aos enredos, como -
i
l i u s t r a J o t a Efegê:

"O I n f e r n o e o Paraiso d e Dante Safram da

D i v i n a Comédia p a r a o C a r n a v a l C a r i o c a :
Antigamente o s Ranchos Ca.rnavalescos ti
nham a m p l a l i b e r d a d e p a r a a e s c o l h a do;
enredos[...lCom essa liberdade, o s " t é-c
f
 nicos" aqueles que orientavam a realiza-
ç ã o , o modo d e t e a t r a l i z a r o a s s u n t o , ou
savam g r a n d e s c o m e t i m e n t o s [ . . . I Iam buç
c a r na m i t o l o g i a , na h i s t ó r i a universal:
nos f a t o s é p i c o s , o s motivos a serem a p r e
s e n t a d o s nos c o r t e j o s de s u a s agremiações"

Antoniquinho, ou A n t o n i o I n f a n t e Z a y a s , espanhol
q u e t r a b a l h a v a como e s t i v a d o r , f o i um e x e m p l o d e ~ é c n i c o q u e
sem f o r m a ç ã o a c a d ê m i c a o u a p r e n d i z a d o d e b a r r a c ã o , teve uma
g r a n d e a t u a ç ã o no c a r n a v a l , p r o p o r c i o n a n d o g l o r i o s o s campeona
t o s p a r a o Rancho R e c r e i o d a s F l o r e s . Seu t r a b a l h o incluia
profundas pesquisas l i t e r á r i a s , d e o n d e t i r o u e n r e d o s como a
Ópera d e V e r d i , " ~ f d a " ,transportando-a p a r a o d e s f i l e do já
c i t a d o Rancho, em 1 9 2 0 .

Antoniquinho personificou com p e r f e i ç ã o os persona-

gens de "Aida", l u x u o s a m e n t e t r a j a d o s numa a p r e s e n t a ç ã o t e-
a
t r a l deslumbrante. No a n o s e g u i n t e , a i n d a no R e c r e i o d a s F l-
o
res. o b t e r i a nova v i t ó r i a , d e t s a v e z com o e n r e d o " P a r a i s o d e
Dante" e em 1 9 2 2 v e n c e n d o novamente, com o " I n f e r n o d e D a n t e " .

Temas m i t o l Ó g i c o s e h i s t ó r i c o s eram c o n s t a n t e s no
Carnaval Carioca. Adelino Fernandes, T é c n i c o do Rancho G u a l-
e
madas, em 1 9 2 2 e l a b o r o u o e n r e d o " C a r l o s Magno e S e u s D o z e P-
a
res", n o mesmo R a n c h o q u e a l c a n ç o u g r a n d e s u c e s s o com o e n r-
ê
do "Aladim e a ~ â m p a d aM a r a v i l h o s a " confeccionado pelo mesmo
autor.

Para o s Ranchos Carnavalescos, a criação de f a n t-

a
s i a s c a d a v e z m a i s l u x u o s a s e a l e g o r i a s bem e x e c u t a d a s c o n-
s
titufram a evolução das apresentações desta manifestação na
época, em q u e o Ameno R e s e d á t e v e g r a n d e d e s t a q u e , por i n o v-
a
çÕes a p r e s e n t a d a s que v a l e r a m a denominação d e "Rancho-Escola".

151 EFEGE, JOTA, idem, op.cit.p;198.

 Em 1 9 0 8 , o Ameno R e s e d á s u r g i u como o ancho -
Cama
valesco que revolucionou estruturalmente a apresentação dos
desfiles. De f e i t i o o p e r i s t i c o e r e n o v a d o r a m u s i c a l i d a d e , sua
preocupação maior e r a de que e s t a inovação a t i n g i s s e a todos
o s s e u s segmentos, desde a apresentação 2 parte musical, O

que implicou em g r a n d e d e d i c a ç ã o d e s e u s m e m b r o s e a b u s c a d e
profissonais mais especializados para seus objetivos. E i n t-
e
r e s s a n t e o b s e r v a r q u e e s t e Rancho a l t e r o u c o r a j o s a m e n t e a s u a
e s t r u t u r a melódica, p a r t i n d o d a f o r m a ç ã o d e uma o r q u e s t r a , q u e
c o n t o u com e x e c e l e n t e s m Ú s i c o s , em s u s b s t i t u i ç ã o a o s i n s t r-
u
mentos m u s i c a i s normalmente usados p e l o s Ranchos ( c a s t a n h-
o
ias, pandeiros e reco-recosl, enriquecendo assim a cadência
musical de seu d e s f i l e .

" S e u s p r é s t i t o ç , s e m p r e com g r a n d e número

de p a r t i c i p a n t e s , incLuiam harmonioso c o r -
p o c o r a l em q u e v o z e s f e m i n i n a s e mascu
l i n a s s e dividem, cantando cada qual a
sua partitura, para depois s e juntarem
num s ó v o l u m e u n í s s i o n o e a p o t e ó t i c o . E o
conjunto vultoso, desfilando cadenciada
mente a o compasso d e c ã n t i c o s vibrantes,
fartamente iluminados por fogos de benga
l a e gambiarra (...I p u n h a em e v i d ê n c i a
luxo das roupas e das alegorias, t a i s c-
o
mos o s e s t a n d a r t e s e g u i r l a n d a s . " ( 6 1

A p r e o c u p a ç ã o com e s t e a s p e c t o opecístico levou

os jornais d a é p o c a a c l a s s i f i c a r e m o R a n c h o Ameno R e s e d á c-
o
mo " t e a t r o l í r i c o a m b u l a n t e " , c l a s s i f i c a ç ã o também d a d a a -
ou
t r o Rancho, o C r u z e i r o do S u l . A t e a t r a l i z a ç ã o d o e n r e d o " C o-
r
t e Egipciana", a p r e s e n t a d o em 1 9 0 8 c a u s o u s e n s a ç ã o , sendo -
10
go i m i t a d o p o r o u t r o s Ranchos. O termo "escola" aplicado ao
Ameno R e s e d á r e f e r e - s e n o s e n t i d o mesmo d o a p r e n d i z a d o , -
d o mo
d e 1 0 q u e e f e t l v a m e n t e f o i c i r a d o e s e g u i d o em s u a é p o c a , não
ficando restrito só a o s Ranchos:

"Quando a s E s c o l a s d e Samba,nos a n o s 30 e

[61 EFEGE, JOTA, Ameno R e s e d á , o R a n c h o q u e F o i E s c o l a ,

cit. p.251
OP .
 40 assumiram o l u g a r que o s Ranchos, já
decadentes, l h e s proporcionaram nas rea
lizações grupais dos f e s t e j o s carnavales
COS, s e mostraram "alunas" a t e n t a s . J u n t ã
m e n t e com o s a m b a q u e e n t o a v a m conduzidõ
p e l a b a t e r i a [ c o n j u n t o d e p e r c u s s ã o l s e g u-
i
ram e x a t a m e n t e o m o l d e , a q u i l o q u e era
própio dos Ranchos." ( 7 )

De o r ç a m e n t o r e d u z i d o , o Ameno R e s e d á c o b r a v a de
seus sócios mensalidades, e f a z i a uso do " l i v r o de ouro", e
estes associados, em s u a e i n t e n s a d e d i c a ç ã o ã A g r e m i a ç ã o , a l é m
de confeccionarem suas f a n t a s i a s , a j u d a v a m também n o s t r a b-
a
lhos de barracão, na c o n f e c ç ã o d o s e l e m e n t o s e s c u l t Ó r i c o s e
ornamentais do d e s f i l e .

O s ~ é c n i c o sc o n t r a t a d o s , por vezes auxiliados por

uma Comissão de Carnaval, que p a r t i c i p a v a da idealização do
enredo e seu execução, eram e s c o l h i d o s p o r s u a competência, e
f o i a s s i m q u e o Ameno R e s e d á c o n t o u com a p r e s e n ç a d o s c a r i c -
a
t u r i s t a s Amaro A m a r a 1 e K a l i x t o C o r d e i r o . Em 1 9 1 4 , q u a n d o pe
l a p r i m e i r a v e z s e a p r e s e n t o u com c a r r o s a l e g ó r i c o s , teve es
t e d e s f i l e a confecção entregue a Kalixto Cordeiro, e obteve
grande repercussão, ao lado dos d e s f i l e s das Grandes S o c i e d-
a
dades.. P o r m u i t o t e m p o o s e g r e d o d o s u c e s s o d o Ameno Resedá
f o i s u a i n t e n s a m o b i l i z a ~ ã oe s i g i l o a b s o l u t o d e t u d o o que
se relacionava ao desfile, aliado crriatividade de seus T -
~ C

nicos, s e n d o p o r i s s o d e n o m i n a d o um R a n c h o d e v a n g u a r d a cuja
influência atingiria 5s n a s c e n t e s E s c o l a s d e Samba.

1.2.3 -. LISTAGEM E C R O N O L O G I A DOS T É C N I C O S

Dada a s u a i m p o r t a n c i a n o c e n á r i o d o C a r n a v a l C a r i-
o
ca, a p r e s e n t a r e m o s uma r e l a ç ã o d a q u e l e s p r ú f i s s i o n a i s . : que-

(71 EFEGE,
p.251
JOTA,Figuras e Coisas do.Carnava1 Carioca, Op.Cit. t
mais se destacaram, t a n t o como T é c n i c o s , mas i n c l u i n d o tam
bem a l g u n s p r o f i s s i o n a i s d e o u t r a s áreas. As d a t a s situam os
p e r í o d o s i n i c i a i s de seus t r a b a l h o s e algumas das Agremiações
para as qualç trabalharam, não p e r f a z e n d o a sua t o t a l i d a d e :

NOME FUNÇÃO TRABALHO ANO

CHARLES OUN P i n t o r de Armarinho do 1852

Estandarte Cotia

RODOLPHO AMOEDO P i n t o r de Tenentes do 1889

Estandarte Diabo

T E I X E I R A DA R-
0 P i n t o r de Fenianos 1889
CHA Estandarte

-
GASTON CARRANCI Técnico Democráticos 1889
NI

FIUZA GUIMARÃES ~ é c n i c o Fenianos 1903

ALESSANDRO
CILIS
-
CON Técnico Tenentes 1909

P Ú B L I O MARROIG Escultor Democr~ticos 189 9

~ é c n i c o ~emocráticos r

MODESTINO KAN
- Técnico Tenentes
TO

ANTONIQUINHO Técnico Recreio das

Flores

AMAR0 AMARAL Ameno R e s e d á

K A L I X T O CORDEI
- Tenentes e
R0 Ameno R e s e d á

A N O R E VENTO P i n t o r de Sabinas
Estandartes
Técnico Fenianos

LAZARY ~ e m o c r ~ t i c o s

R
IMÃO GARRIDO Democráticos

JAIME SILVA Tenentes

Oemocráticos

CARLOS MEIRE- Escultor ~ e m o c r ~ t i c o s 1922

LES t
NOME FUNÇAO TRABALHO ANO

-
ANTONIO NOVELI Maquinista Congresso dos 1933
NO Fenianos

PANCETTI Pintor Congresso dos

Fenianos
HIPOLITO COLOMB ~écnico Democráticos

M A N O E L FARIA ~écnico Fenianos

A R M A N D O PACHECO Pintor Fenianos

VICENTE LEITE Pintor Fenianos

A N T O N I O SETTA ~écnico Turunas

Deve-se c o n s i d e r a r que a s Grandes Sociedades e OS

Ranchos Carnavalescos, ao s e tornarem a s mais importantes -

ma
nifestações populares, c o n s t i t u i r a m um m e r c a d o d e trabalho
q u e a b s o r v e u p r o f i s s i o n a i s q u e s e e s p e c i a l i z o u em Cenografia
Carnavalesca, e que pode s e r c o n s i d e r a d o o grupo i n i c i a l que
serviu de base para o profissional Carnavalesco.

Em m u i t o s p o n t o s o m é t o d o d e t r a b a l h o d e a m b o s prc
f i s s i o n a i s gurdam semelhança, quanto a idealizaçáo de enredos
q u e f i c a v a a c a r g o d o s ~ é c n i c o se t a m b é m n o q u e s e r e f e r e ao
t r a b a l h o d e execu,ção .de a l e g o r i a s e a d e r e ç o s , m a n t e n d o - s e as
devidas diferenças quanto aos barracões, que nas Escolas de
S a m b a e r a m bem m a i o r e s .

A f o r m a d e t r a b a l h o d e s t e s ~ é c n i c o sn ã o d i f e r e m u-
i
t o daquela hoje u t i l i z a d a pelos Carnavalescos. Partiam de um
tema, pesquisavam, desenhavam c r o q u i s , m o n t a v a m a q u e t e s e e x-
e
cutavam a s a l e g o r i a s e a d e r e ç o s p a r a o s d e s f i l e s .

SÓ a p a r t i r d o começo d o s é c u l o X X , com a i n t e n s-
i
ficação das disputas e n t r e a s agremiaçÕes,é que os p r o f i s s i o- '

n a i s d e c a r n a v a l começaram a s a l r d o a n o n i m a t o , integrando-se
2 competição e sendo valorizados por seus conhecimentos t é-
c 7
nicos e artisticos.
 " N a s d é c a d a s d e 2 0 e 3 0 o s R a n c h o s C a r n a v- a
l e s c o s s e p r o j e t a m , j u n t a m e n t e com as
G r a n d e s S o c i e d a d e s como a t r a ç õ e s d o C a-r
naval Carioca[...)Notaveis escultores e
c e n ó g r a f o s t o r n a m - s e T é c n i c o s [ C a r n a v a l e-
s
COSI d a s chamadas Pequenas S o c i e d a d e s , co
mo o s I r m ã o s G a r r i d o , N o u r a , J a i m e Silvã
e n t r e outros. Antonio I n f a n t e Ferraz, O
A n t o n i q u i n h o , s e m i l e t r a d o , mas d o t a d o de
a l t a sensibilidade, produz belos enredos
d e c u n h o c u l t u r a l , c o m o ~ T d ad e V e r d i [ . . . l "
(81

O e s t i l o d e d e s f i l e d o s R a n c h o s em s u a f a s e áurea,
tem c a r a c t e r i s t i c a s v i s u a i s que remetem a o " b a r r o c o " , p e l a r-
i
queza de d e t a l h e s rebuscados e o luxo de suas f a n t a i s a s , além
da exuberãncia d e suas alegorias. A l g u n s d e s e u s e l e m e n t o s e-
s
t r u t u r a i s foram t r a n s p o s t o s para a s Escolas de Sambastais c-
o
mo o A b r e - A l a s , a Comissão d e F r e n t e , o Mestre Sala e Porta
Bandeira. Das G r a n d e s S o c i e d a d e s , também f o r a m t r a b s p o s t o s a-
1
guns elementos, como o d e s f i l e l i n e a r , q u e também c a r a c t e r-
i
zou o s Ranchos, e os grandes carros alegÓricos, elementos e-
s
t e s absorvidos e adaptados a e s t r u t u r a da manifestação c a r n-
a
v a l e s c a que dominaria o Carcanal Carioca a p a r t i r da segunda
metade do s é c u l o XX.

1.3 - AS ESCOLAS DE SAMBA E OS PRIMEIROS CARNAVALESCOS

1.3.1 - H I S T ~ R I C DD O NASCIMENTO DAS ESCOLAS DE SAMBA

O profissional Carnavalesco, analisado nesta P

quisa, embora t e n h a s e u s a n t e c e d e n t e s na f i g u r a do T é c n i c o , e
sob e s t a denominação t e n h a s e t r a n s f e r i d o para a s E s c o l a s de
Samba, encontrou n e s t a s A g r e m i a ç õ e s o campo p a r a s e u d e s e-
n
volimento e afirmação. Apesar d e s t e s antecedentes, p o d e m o s d-
i
z e r que o Carnavalesco, como s e c o n f i g u r a h o j e , 6 um produto
d a p r ó p r i a Esco.la d e Samba, não só porque e l a s o contratavam,
mas p o r q u e m u i t o s d e l e s p e r t e n c i a m à s A g r e m i a ç õ e s . f
 O termo Carnavalesco passou a s e r u e i l i z a d o como d -
e
f i n i ç ã o d e uma p r o f i s s ã o a p a r t i r d a d é c a d a d e 7 0 , e inicial-
mente o s p r o f i s s i o n a i s e r a m T é c n i c o s ou a r t i s t a s c o n v i d a d o s , e
a i n d a a q u e l e s que cobravam por seu trabalho. Neste sentido,no
l i v r o d e S e r g i o C a b r a 1 "As E s c o l a s d e Samba, O que,quem,como,
q u a n d o e p o r q u ê n e n c o n t r a m o s uma c a r t a d e ~ ' e r n a n d ' oP a m p l o n a ,
q u e ' o j o r n a l i s t a f e z p u b l i c a r na T r i b u n a d a I m p r e n s a , em que
O termo "Carnavalesco" aparece pela primeira vez, em 1 9 6 3 , -
u
s a d o com e s t e s e n t i d o , e mais ainda, destaca nesta c a r t a que
alguns profissionais eram c o n t r a t a d o s p e l a s E s c o l a s d e Samba,
o que não j u s t i f i c a v a a s c r i t i c a s f e i t a s a o S a l g u e i r o n a d é c-
a
da de 60:

"Dizem q u e o S a l g u e i r o c o n t r a t a f i g u r i n i s
tas e bailarinos profissionais para or
ganizarem e d i r i g i r e m o e s p e t á c u l o . 1st;
é - i m p o r t a n t e , p o l s q u e uma i n f ã m i a . J a m a i s
qualquer um d e n ó s f o i c o n t r a t a d o o u re
c e b e u um c e n t a v o s e q u e r p a r a s e u t r a b a l h õ
p a r a o c a r n a v a l . P a r e c e q u e o mesmo n ã o - a
c o n t e c e em o u t r a s e s c o l a s . P o r t e l a , a c i n
co a n o s a t r á s [ a c a r t a 6 d e 19631 tinhã
uma f i g u r i n i s t a e d e c o r a d o r a f r a n c e s a , D e d
Bourbonois, que f e z v á r i o s carnavais para
e l a . S o r e n s e , f i g u r i n i s t a d a TV T u p i , c-o
brava, a quatro anos, dois m i l cruzeiros
para cada desenho que f a z i a para a s esco
l a s d e Samba. E f i g u r i n i s t a s d a s r e v i s t a s
da Praça Tiradentes que ainda hoje traba
lham p a r a o c a r n a v a l d a s e s c o l a s ? VocêT
conhecedor do a s s u n t o , s a b e , sempre houve
e a i n d a há " c a h n a v a ~ e d c a ~ " q u e t r a b a l h a m
g a n h a n d o . " C81

N a s c i d a s na d é c a d a d e 2 0 , a s E s c o l a s d e Samba bus-
caram sua i d e n t i d a d e , s e a f i r m a n d a como m a n i f e s t a ç ã o carnava-
lesca. O uso do termo Carnavalesco a p e s a r d e t e r s i d o o f i c-
i
a l i z a d o na d é c a d a d e 7 0 , j á e r a empregado por a l g u n s p r o f i-
s
sionais, como F e r n a n d o P a m p l o n a . A sua oficialização d e p e-
n
deu d a p r o p r i a evolução do d e s f i l e , v i s t o que e s t e p r o f i s s i-
o

SERGIO, A s E s c o l a s d e S a m b a , O q u e ,
1.81 C A B R A L , quem,como,quan -
do e porquê",op.cit.p.lSO
n a l - já atuava ns Escolas. Após o p e r í o d o d e o r g a n i z a ç ã o e
a f i r m a ç ã o d a s E s c o l a s d e Samba, quando buscaram sua primeira
i d e n t i d a d e como a g r e m i a ç õ e s c a r n a v a l e s c a s o f i c i a i s , o C a r n-
a
v a l e s c o ganhou espaço e f o i d e f i n i t i v a m e n t e incorporado ao
c o n t e x t o no q u a l t r a b a l h a v a .

A s E s c o l a s d e S a m b a t e m em s u a c o n s t i t u i ç ã o e l e m e-
n
t o s o r i g i n á r i o s dos Ranchos C a r n a v a l e s c o s , das Grandes S o c i-
e
dades, dos Cordões e dos Blocos. Dos R a n c h o s herdou a c o n f-
i
g u r a ç ã o em c o r t e j o , o Baliza (Mestre-Sala1 e a Porta-Bandeira.
O e n r e d o d o s d e s f i l e s d e E s c o l a s d e S a m b a a p a r e c e em 1 9 3 0 , e
como n o s R a n c h o s , e r a m a n t i d o em s i g i l o a b s o l u t o . De i n i c i o o
e n r e d o n ã o t i n h a c o n e x ã o com a p a r t e m u s i c a l e p l á s t i c a , e f o i
sendo a l t e r a d o a t é chegar aos enredos nacionalistas.

Aplicados aos. B l o c o s , gr'upos a r r u a c e i r o s e viole-

n
t o s que desfilavam n a s r u a s do Rio. d e J a n e i r o na década d e 20,
e s t e s e l e m e n t o s s e u n i r a m à c a r a c t e ~ i s t i c ao r d e i r a d o s -
Ran
choç, aos e s t a n d a r t e s dos Cordões e aos c a r r o s alegÔricos das
Grandes Sociedades, c o n s t i t u i n d o assim o molde i n i c i a l das
E s c o l a s d e Samba.

A s E s c o l a s d e S a m b a a b s o r v e r a m t a m b é m um caráter
importante, e x i s t e n t e nos d e s f i l e s de Grandes Sociedades e
Ranchos, o d a competição e n t r e a s AgremiaçÕes p a r a e s c o l h e r -
a
quela que s e r i a a melhor e n t r e todas. Este caráter c o m p e t-
i
tivo, q u e e s t á r e l a c i o n a d o também ã rivalidade entre as -
comu
nidades suburbanas formadoras das primeiras Escolas, serã O

f i o condutor de toda sua história de tradições e revoluções.

constituídas inicialmente por individuos pertence-

n
tes 5s camadas s o c i a i s mais pobres do Rio de J a r n i r o , m o r a d-
o
r e s d o s subÚrhios e morros onde eram s e d i a d a s a s AgremiaçÕes,
seus primeiros t r i n t a anos significam o período de sua -
afir
mação e i d e n t i d a d e . E s t e p e r í o d o pode s e r c o n s i d e r a d o o p e r í-
o
do d e e x p a n s ã o d a s E s c o l a s d e Samba, assim denominadas Por
s e r e m um l u g a r o n d e s e e n s i n a r i a o S a m b a como v e r d a d e i r a e-
x 7
p r e s s ã o d e uma m a n i f e s t a ç i o n a s c e n t e .

Na d é c a d a d e 3 0 t e m i n í c i o o p r o c e s s o d e d i f e r e n c i a -
ç ã o d a s E s c o l a s d e Samba d o s a n t i g o s B l o c o s C a r n a v a l e s c o s , em
que o enredo, o samba-enredo, a s Alegorias, a Comissão '- de
Frente, o Mestre-Sala e a Porta-Bandeira são introduzidos o f i -
c i a l r n e n t e em s u a a p r e s e n t a ç ã o .

De s e u b e r ç o i n i c i a l , o Estácio, de onde surgiu a

p r i m e i r a E s c o l a d e Samba, como a f i r m a E d s o n C a r n e i r ~ ~ e s p a l-
han
do-se pelos morros e suburbios cariocas, a s nascentes Escolas
u n i r a m o samba a T n s t r u r n e n t o s d e p e r c u s s ã o - bateria - e f-
o
ram c o n q u i s t a n d o c a d a v e z m a i o r e s e s p a ç o s no C a r n a v a l C a r i o c a .

N ~ pretendemos
O f a z e r uma d e s c r ç ã o d e t a l h a d a d o p r o
cesso d e d e s e n v o l v i m e n t o d a s E s c o l a s d e Samba, dada a vasta
literatura existente sobre o assunto. Com r e l a ç ã o a o Carnavg
l e s c o nos deteremos nas pessoas que, no â m b i t o d a s E s c o l a s d e
Samba, provocaram a l t e r a ç õ e s s i g n i f i c a t i v a s que determinaram
a s c o n d i ç õ e s p a r a o s u r g i m e n t o do C a r n a v a l e s c o .

1.3.2 - PAULO D A PORTELA, ANTONIO CAETANO E L I N O MANOEL DOS

REIS - A REVOLUÇAO D A PORTELA

O processo de diferenciação das Escolas de Samba

d o s B l o c o s C a r n a v a l e s c o s t e v e i n i c i o n a E s c o l a d e Samba -
Por
tela, a t r a v é s d e uma i d e o l o g i a p r o p o s t a p o r um i m p o r t a n t e -
sam
b i s t a chamado P a u l o d a P o r t e l a , q u e a t u o u em t o d o s o s segul
mentos da Escola, i n c l u s i v e como C a r n a v a l e s c o , -
i d e a l i z a n d o en
rêdos.

" P a u l o d a P o r t e l a t e v e um p a p e l d é m ã x i m o
r e l e v o no d e s e n r o l a r d o p r o c e s s o q u e pef
mitiu aos blocos de sujos dos primeiros
sarnblçtas estruturarem-se nos moldes das
t
 E s c o l a s d e Samba a t u a i s : o m o d e l o foram
o s R a n c h o s . Não a n d a r í a m o s l o n g e d a v e r d a
d e s e d i s s é s s e m o s q u e uma E s c o l a d e ~ a m b ã
é um R a n c h o , em t u d o q u e s e r e f e r e aos
a s p e c t o s p l á s t i c o s , mas q u e s u b s t i t u i u o s
e l e m e n t o s r í t m i c o s p o r o u t r o s no vos:^ r i t
mo e a c o r e o g r a f i a d o s a m b a . P a u l o , v e l h õ
p a r t i c i p a n t e d o s sambas e na v e r d a d e nun
ca desligado deles, contribuiu decisiva
mente para e s t a adaptação a r t i s t i c a . E COE
t r i b u i u mais ainda para a adaptação
c i a l dos batuqueiros - turma da pesada, a
sO -.r
disciplina i n d i s p e n s á v e l do s u c e s s o das
Escolas de Samba,"(91

P a u l o d a P o r t e l a f o i i m p o r t a n t e p a r a a mudança da
imagem i n d i v i d u a l d o s a m b i s t a " m a r g i n a l " , totalmente d i s c r-
i
minado p o r s u a conduta e condição s o c i a l , tendo a idéia de
a l t e r a r e s t a imagem a t r a v ê s d a a p r e s e n t a ç ã o p e s s o a , para a
q u a l c r i o u um l e m a :

"Samhista p a r a f a z e r p a r t e do nosso grupo,

tem q u e u s a r g r a v a t a e s a p a t o . Todo m u-
n
do de pés e p e s c o ç o s ocupados!" I101

C o n s i d e r a d o o c i v i l i z a d o r d a s E s c o l a s d e Samba, P a-
u
10 d a P o r t e l a e s e u g r u p o . d e s e j a v a m p r i n c i p a l m e n t e q u e elas
p u d e s s e m d e s f i l a r sem a p e r s e g u i ç ã o d a p o l i c i a , e que fossem
t ã o i m p o r t a n t e s quanto o s Ranchos, grande atração da d é c-
a
da d e 20. Unindo-se a A n t o n i o d a S i l v a C a e t a n o e A n t o n i o R u f-
i
no d o s R e i s f u n d a r a m a s B a i a n i n h a s d e Oswaldo C r u z , em 1 9 2 3 ,
q u e s e d i s s o l v e u mas q u e f o i o a n t e c e s s o r d a E s c o l a d e Samba
Portela, da qual Paulo da P o r t e l a é fundador.

A Portela foi, d e s d e s u a f u n d a ç ã o em 1 9 2 3 , uma E-

s
c o l a d e Samba r e v o l u c i o n ~ r i a , s e c u n d a d a t r i n t a a n o s m a i s -
t a r
de pelo Salgueiro. A d i f e r e n ç a é q u e a P o r t e l a f e z uma r e v-
o
lução de bases administrativas e ideológicas, e o Salgueiro
p o s t e r i o r m e n t e r e v o l u c i o n o u no c o n t e x t o p l ã s t i c o - v i s u a l do

C91 BARBOSA D A SILVA,MARILIA T. e SANTOS, L Y G I A , P a u l o d a Por- ?

t e l a , T r a ç o d e União e n t r e Duas C u l t u r a s , o p . c i t . p á g . 7 0
I l O I I d e m . p. 44
desfiles.

A s transformações ocorridas. nas Escolas de Samba

n ã o f o l i s o l a d o em uma o u d u a s A g r e m i a ç õ e s , mas o c o r r e u de
maneira globalizada, sobressaindo-se em a l g u m a s . No entanto
n e s t a p e s q u i s a não n o s c a b e a n a l i s a r c a d a E s c o l a d e Samba, o
que nos levou a c e n t r a l i z a r a atenção naquelas mais i m p o r t a-
n
tes, conforme a época e c i r c u n s t â n c i a .

A Portela, a i n d a na década d e 30, i n i c i o u uma m u d a -

n
ça de carater "empresarial", baseada na a l t e r a ç ã o de sua i m-
a
gem e d e s e u s c o m p o n e n t e s , no s e n t i d o d e a t r a i r p e s s o a s d e f -
o
r a da comunidade d e Oswaldo Cruz e d e segmentos d i f e r e n t e s d a
sociedade. A c o n s c i e n t i z a ç ã o d e uma n o v a i m a g e m f o i n e c e s s-
á
r i a para t i r a r o sambista da marginalidade, e f o i criada a
imagem do " m a l a n d r o " tipicamente carioca, bem v e s t i d o , d e c h-
a
péu e g r a v a t a , sambista de aparência civilizada,mas s o b r e t-
u
do s a m b i s t a . P a u l o d a P o r t e l a p r o p o s e s t a nova imagem, m a s em
m o m e n t o a l g u m d e i x o u d e e n f a t i z a r q u e o s a m b a e r a um produto
a s e r defendido e preservado. Alterava-se a imagem, mas
.
nao
o conteÚdo, e preservava-se a raiz cultural.

A Antonio da S i l v a Caetano, ou M e s t r e C a e t a n o , -
ca
biam a s b a s e s d e c r i a t i v i d a d e e i d e a l i z a ç ã o d o s d e s f i l e s . Foi
um C a r n a v a l e s c o bem p r Ó x i m o a o s m o l d e s a t u a i s , p e l o s e u c-
0
nhecimento e habilidades t é c n i c a s e a r t i s t i c a s , além de sua
predisposição para s e responsab.ilizar pelos trabalhos de B a-
r
racão. M e s t r e C a e t a n o n ã o t r a b a l h o u s o z i n h o n o s p r i m e i r o s B a-
r
racÕes da P o r t e l a , e participou de várias inovaçoes por ela
trazidas :

" O s c h e f e s do b a r r a c ã o eram Caetano, Candi

nha, Arlindo Costa e "Seu"Juca,o e s c u l t o ?
(...I O Candinho e r a c a r p i n t e i r o , o Lino
v e i o m a i s t a r d e . E n t r o u com a s a í d a de
Arlindo Costa e Candinho. O p r i m e i r o t r i o
carnavalesco da P o r t e l a f o i Caetano, A r
l i n d o C o s t a e C a n d i n h o . Tem o G a b r i e 1 , q u G
 v e i o d e p o i s , mas f e z o p r i m e i r o a b r e - a l a s
de espelhos. A P o r t e l a f o i a primeira es
c o l a a u s a r e s p e l h o . ~ a m b é mf o i a escol;
a a p r e s e n t a r a p r i m e i r a a l e g o r i a , em 1 9 3 1 "
I111

Neste carnaval de 1931, Caetano i d e a l i z o u a b a n d e-

i
r a a t é hoje usada p e l a - P o r t e l a , e f o i e l a a primeira - Escola
d e Samba a p r e s e n t a r e n r e d o - " S u a M a g e s t a d e o Samba" e a a l-
e
g o r i a c i t a d a n o t e x t o a n t e r i o r r e p r e s e n t a v a uma b a r r i c a que
simbolizava os instrumentos musicais, em q u e " o c o r p o era
a barrica,uma e s p é c i e d e bumbo, a cabeça um tamborim e a s p e r
n a s e b r a ç o s eram vaquetasr11121

Mestre Caetano i n i c i o u na P o r t e l a o p r o c e s s o d e o-
r
g a n i z a ç ã o d e s e u d e s f i l e c o n f o r m e um e n r e d o p r o p o s t o , o que -
a
c o n t e c e u em 1 9 3 1 e em 1 9 3 2 com o e n r e d o " C a r n a v a l W o d e r n o " . E m
1933, d e s e n v o l v e n d o o e n r e d o "Voando P a r a A G l ó r i a " , Mestre
C a e t a n o u s o u a á g u i a como i n s p i r a ç ã o , pousando-a d e a s a s a b e-
r
t a s s o b r e um i m p o n e n t e c a s t e l o . Neste ano junta-se 5 sua -
e
q u i p e Lino Manoel d o s R e i s , que posteriormente trabalhou na
P o r t e l a como C a r n a v a l e s c o d u r a n t e v i n t e a n o s .

Em 1 9 3 5 , quando s e r e a l i z o u o primeiro desfile o f-

i
c i a l d a s E s c o l a s d e Samba, recebendo subvenção da p r e f e i t u r a ,
e colocando-as d e s t a f o r m a n o mesmo n i v e l d e R a n c h o s e Gran
des Sociedades, foram e n t ã o i n s e r i d a s na programação o f i c i a l
do Carnaval Carioca. Com h o r a e l o c a l p r e d e r t e m i n a d o s para
seus desfiles, a s E s c o l a s d e Samba p a s s a r a m a s e c h a m a r ~ -r ê
mios Recreativos, filiadas União d a s E s c o l a s d e Samba, que
elaborou o regulamento e escolheu a comissão julgadora daque -
l e ano.

Neste primeiro concurso, a Portela f o i a vencedora.

A mesma e q u i p e c h e f i a d a p o r M e s t r e C a e t a n o e l a b o r o u n o B a r r-
a
t
c ã o uma a l e g o r i a c o n s t i t u l d a p o r u m g l o b o t e r r e s t r e q u e g i r-
a

(111 B A R B O Z A D A SILVA, M A R I L I A T . e SANTOS,LYGIA,idem.op.cit.

f
p.46
I 1121 i d e m ~ p . c i t . p . 6 0
 va, t e n d o em c i m a uma b a i a n a , i l u s t r a n d o o e n r e d o "O S a m b a d-
o
m i n a n d o o Mundo", tema que f o i r e f e r ê n c i a d e q u a s e t o d a s as
E s c o l a s d e Samba q u e d e s f i l a r a m n e s t e a n o , comemorando a v-
i
t ó r i a conqistada pelo reconhecimento o f i c i a l das agremiações
pelas autoridades.

~ t aé d é c a d a d e 5 0 a s E s c o l a s d e S a m b a b u s c a r a m s u a
organização e identidade, afirmando seus t r a ç o s caracterizado -
res. Tornou-se possivel reconhecer o sambista portelense e d-
i
ferencia-10 d a q u e l e q u e p e r t e n c i a a o S a l g u e i r o ou a o I m p é r i o ,
p o l s a c a d a A g r e m i a ç ã o c a b i a um c o n j u n t o d e e l e m e n t o s i n d i v-
i
dualizadores, dados por suas cores, sua bandeira, seu ritmo
instrumental - com a "batida" t i p i c a de sua bateria, e Por
seu samba-enredo. Neste perzodo i n i c i a l d e t r i n t a anos, as -A
gremiações introduzem novos elementos:

"A P o r t e l a s a i na f r e n t e , i n t r o d u z n o s d e s
f i l e s a Comissão d e F r e n t e uniformizada^
f a z o primeiro esboço de a l e g o r i a , r e a f i r
ma o u s o d e c o r d a n o d e s f i l e e apresentã
o p r i m e i r o enredo e samba-enredo. A Deixa
F a l a r i n v e n t a o s u r d o e o t a m b o r i m . A Man -
g u e i r a i n t r o d u z na b a t e r i a o p a n d e i r o o i
tavado e s u b s t i t u i a gambiarra pela i 1-Ü
minação e l é t r i c a . A Vizinha F a l a d e i r a co
l o c a c a v a l o s e l i m u s i n e s na C o m i s s ã o de
F r e n t e , i n t r o d u z no d e s f i l e a l a d e damas
com s o m b r i n h a s , c o n f e c c i o n a o s instrumen
t o s , d e b a t e r i a com b a r r i c a f r a n c e s a , c o l Õ
ca lampiões de l u z a carbureto para ilÜ -
minar a escola."1123

são a l t e r a ç õ e s introduzidas a p a r t i r da década de

30,, que demonstram que a evo3ução e dinamização do carnaval
d a s E s c o l a s d e Samba n ã o a c o n t e c e u p o r f a t o s i s o l a d o s , mas d e
um e n c a d e a m e n t o d e c i r c u n s t â n c i a s e e l e m e n t o s c r i a d o s , a b s o-
r
v i d o s c o n f o r m e s u a p r o p r i e d a d e ou d e s c a r t a d o s . A busca de sua

, i d e n t i d a d e não s i g n i f i c o u a p e r d a d e s u a s r a i z e s , m a s sim a

+ a f i r m a ç ã o d e s t a s como uma m a n i f e s t a ç ã o ' a u t ê n t i c a e p o p u l a r .

I

J ( 1 2 1 ARAUJO, HIRAM, Memória d o C a r n a v a l , op.cit.p.186

 A importância de Mestre Caetano 6 que e l e , bem c-
o
mo s u a e q u i p e , r e p r e s e n t a m p a r a a q u e l a época o modelo do que
mais t a r d e s e r i a o Carnavalesco. S e n d o um d o s f u n d a d o r e s da
Portela, assumiu a responsabilidade de c r i a r seus carnavais e
f o i a c e i t o e respeitado por suas habilidades técnicas e -
a r
tísticas. O mesmo a c o n t e c e u com L i n o M a n o e l d o s R e i s , que por
v i n t e anos trabalhou no b a r r a c ã o d a e s c o l a , com a s a t r i b u-
i
çÕes d e C a r n a v a l e s c o .

Lino Nanoel dos R e i s desenhou por muitos anos fig-

u
rinos para os desfiles, i n c l u i n d o o s do c a r n a v a l de 1939,cujo
e n r e d o f o i " T e s t e Ao S a m b a 1 ' , p r o p o s t o p o r P a u l o d a P o r t e l a . 0 0-
minava a confecção d e a l e g o r i a s e adereços. além dos segredos
de movimentação d a s a l e g o r i a s . S u a l o n g a p e r m a n ê n c i a na P o-
r
t e l a d e m o n s t r a o p r o f u n d o e n v o l v i m e n t o com a e s c o l a , que sem
pre valorizou seus artistas:

"Como g r a n d e s c a l a b o r a d o r e s n a s h a b i l i d-
a
des e criações introduzidas nas escolas,
no s e t o r d e a l e g o r i a s ( t o d o o trabalho
r e a l i z a d o no B a r r a c ã o 1 podemos c i t a r na
Portela: Antonio Caetano, Sr. Juca, E u z-é
b i o , Lino Manoel, N i l t o n P e r e s , Joacir,
Viegas, Osvaldo Alves, Laurênio Soares,
O t a c i l i o ( ~ Ô 1 , F i n f a s , D j a l m a Vogue, Candi
nho, T e n ó r i o F i l h o e n t r e o u t r o s ( ...ln(13T

A p r e s e n ç a d e s t e s a r t i s t a s na P o r t e l a , como em t-
o
d a s a s E s c o l a s d e Samba, demonstra que havia a necessidade de
i n d i v i d u o s não s ó p e l o d o m í n i o d e t é c n i c a s e c o n h e c i m e n t o a -r
tírtico, mas também p e l o . f a t o d e q u e h o u v e e s t a p r e d i s p o s i ç ã o
das Escalas para que e s t e trabalho f o s s e centralizado, e i-
s
t o f e z p a r t e de sua evolução. Não S Ó d a p r o p r i a c o m u n i d a d-
e
surgiram e s t e s individuos, m a s t a m b é m f o i a b e r t o um e s p a ç o p a -
r a que pessoas especializadas trouxessem para a s Escolas de
Samba o s c o n h e c i m e n t o s t é c n i c o s p o r e l a p r e t e n d i d o s .

( 1 3 1 CANDEIA & ISNARD, E s c o l a d e S a m b a , Arvore Que Esqueceu A

\ Raiz, op.cit. p.31
 A s E s c o l a s d e S a m b a em s e u d i n a m i s m o , buscaram n-
o
vas linguagens, sem p e r d e r s u a s c a r a c t e r l s t i c a s f o r m a d o r a s . A
e s t e processo de vivência e constante r e l e i t u r a de seus prq
prios padrões e códigos internos, seja nas instâncias a d m-
i
nistrativas, ou n a s d e a p r e s e n t a ç ã o d o d e s f i l e , soma-se a par
t i c i p a ç ã o do Carnavalesco, seu surgimento e aceitação, com t -
o
dos o s b e n e f í c i o s e temores que s u r c i t o u e t o d a s a s r e v o l-
u
çÕes d a s q u a i s p a r t i c i p o u .

Neste espaço de t r i n t a anos, muitos indivlduos exer -

ceram a f u n ç ã o d e C a r n a v a l e s c o s , sem r e m u n e r a ç ã o nenhuma ou
sendo contratados para e x e c u t a r alguns t r a b a l h o s . Sempre t r-
a
b a l h a n d o n o a n o n i m a t o p r o t e g i d o p e l o nome d a E s c o l a d e Samba
nem p o r i s s o d e v e m s e r e x c l u í d o s d e s u a h i s t ó r i a .

A p a r i t r d a década d e 60 a s E s c o l a s a b r i r i a m suas
portas a outros segmentos'da sociedade. e seriam o.foco de i n -
t e r e s s e p ú b l i c o e dos meios de comunicação. Se antes e r a a E-
s
c o l a d e um b a i r r o , como f o i a P o r t e l a p a r a O s w a l d o C r u z e a
Mangueira p a r a o Morro d a Mangueira, a estes pertencia o des
f i l e e o carnaval. Não h a v i a a E s c o l a " f e i t a " p o r M e s t r e C a-
e
tano, ou p o r L i n o S o a r e s , h a v i a sim a P o r t l e q u e s e apresen-
tava e ganhava a competição, como r e l a t a S e r g i o C a b r a l :

"Na d é c a d a d e 3 0 o C a r n a v a l e s c o t e v e u m p -
a
p e l apagado s e comparado ao que é a g o r a ,
o e n r e d o em s i n ã o e r a um f a t o r importan
t e para que a escola f i z e s s e o carnavalT
evidentemente houve algumas t e n t a t i v a s , n o
c a r n a v a l d e 1939 a P o r t e l a venceu e o en
r e d o f o i uma i d é i a o r i g i n a l p a r a a época:
do Paulo da P o r t e l a . "

S E R G I O CABRAL

H a v i a n o e n t a n t o uma e f e r v e c ê n c i a criativa e e x p-
e
r i m e n t a l e n t r e a s p e s s o a s l i g a d a s à s E s c o l a s d e Samba,o a p r e-
n

i
d i z a d o t é c n i c o e a i n i c i a ç ã o a r t í s t i c a p r ó p r i o s d o mundo c a-
r
\
navalesco. AnÔnimos ou n ã o , nestes primeiros trinta.anos e-
e
pessoas, genu?nos Carnavalescos, construfram a e s t r a d a que l e
v a r i a â ç g r a n d e s r e v o l u ç õ e s d a s E s c o l a s d e Samba no f i n a l da
década de 50.
 - T R I N T A A N O S DE P R O F I S S Ã O

2.1.1 - ASPECTOS GERAIS

A s m o d i f i c a ç õ e s o c o r r i d a s na d é c a d a d e 6 0 , na r e-
a
l i d a d e tem s e u s a n t e c e n d e n t e s n o s Ú l t i m o s a n o s d a d é c a d a de
50. O desfile era realizado na A v e n i d a R i o B r a n c o , entre a
Rua S a n t a L u z i a e a A v e n i d a A l m i r a n t e B a r r o s o , sendo d e s t e o
d e s f i l e d a s E s c o l a s d e Samba p r i n c i p a i s , do Grupo I . O Juri
s e i n s t a l a v a num p a l a n q u e s o b r e a s e s c a d a r i a s da B i b l i o t e c a
Nacional, como r e v e l a M a r i e L o u i s e N e r y :

"Naquelacépoca passava a n t e s o s Frevos e

d e p o i s a s E s c o l a s d e Samba, e a muitos
a n o s e r a a P o r t e l a q u e e s t a v a em c i m a , e r a
mesmo e s p e t a c u l a r e e u t i v e uma primeira
i d é i a d o q u e e r a uma E s c o l a d e S a m b a , e
l o g o a s s i m d e c a r a . Q u a n d o e s t a v a no pg
lanque as q u a t r o horas da t a r d e e ficava
a t é o o u t r o d i a a o m e i o - d i a , no mesmo pa
l a n q u e , não t i n h a i n s t a l a ç ã o d e banheiro
nem n a d a , nem c o m i d a e r a o f e r e c i d a , e n t ã o
comer e b e b e r e r a p r o b l e m á t i c o , e i r ao
b a n h e i r o também."

O povo a s s i s t i a o d e s f i l e d e s f i l e i s o l a d o p o r um
cordão, e a cada ano aumentava o i n t e r e s s e p e l a s E s c o l a s de
Sarr,ba, enquanto d e c r e s c i a o a p e l o p o p u l a r d o s Ranchos e G r a-
n
des Sociedades. Apesar- do c o r d ã o d e i s o . l a m . e n t o manter uma
proximidade m a i o r . e n t r - e p ú b l i c o e l ~ s f i l a n t e s ,a necessidade
d e o r g a n i z a ç z c do e s p a ç o d e s t i n a d o à p . l a t s i a s e r e f l e t i u em
um novo p o s i c i o n a m e n t o d e s t a , a o s e r e m c o n s t r u i d a s a s p r i m e-
i
r a s a r q u i b a n c a d a s em 1 9 6 2 .

A c o m p e t i ç ã o e n t r e a s E s c o l a s d e Samba e r a acirra
da, a c l a s s e média começava a t e r i n t e r e s s e e f r e q u e n t a r as
quadras de ensaio. A imprensa, sempre p a r t i c i p a n t e , aliada
t e l e v i s ã o q u e c o m e ç a v a a d a r s e u s p r i m e i r o s p a s s o s no B r-
a
s i l , também v o l t a v a m s e u s o l h o s e s u a s o p i n i õ e s p a r a o d e s f-
i
le. C o m e ç a v a e n t r e o mundo d a s E s c o l a s d e Samba e a s o c i e d a d e
uma r e l a ç ã o c a d a v e z m a i o r :

"Em 1 9 5 4 , um r e p o r t e r d e O G l o b o , r e p r e s e -n
tando o pensamento d a s e l i t e s c u l t u r a i s ,
f e z uma a v a l i a ç ã o d o D e s f i l e n a q u e l e a n o ,
criticando a s figuras apresentadas pela
f e i ú r a dos bonecos, para a incompetência
das esculturas das escolas. A í a s Esco
l a s resolveram recorrer aos a r t i s t a s pláç
t i c o s diplomados."[l41

A p a r t i c i p a ç ã o d e Cen6grafo.ç e A r t i s t a s F'lãsticos
n ã o f o i um p r i v i l é g i o d a s E s c o l a s d e S a m b a , e estes já Paf
ticipavam do Carnaval Carioca desde o f i m do 'século X V I I I , e
foram por e l a s absorvidos por sua competencia e conhecimento
como d i z F e r n a n d o P a m p l o n a :

"Jaime S i l v a , L a z a r i , ColombC...] Amoedo,

q u e como e u e r a m c e n ó g r a f o s e artistas
p l á s t i c o s , c o l a b o r a v a m na e s c u l t u r a , na
solução p l á s t i c a , e r a o óbvio, porque a
s o c i e d a d e b u s c a v a a l g u é m q u e d o m i n a s s e me
l h o r a p r o d u ç ã o p l á s t i c a d o q u e um i n d-i
viduo que não t i v e s s e conhecimento."

Fennando Parnplona

Esta necessidade gerou, a i n d a na d é c a d a d e 5 0 , a n-

e
c e s s i d a d e d e um c o n h e c i m e n t o m a i o r d a s t é c n i c a s espécificas
de execução do carnaval, e e s t e conhecimento t a n t o podia vir
a t r a v é s d e i n d i v i d u o s com f o r m a ç ã o p r o f i s s i o n a l d a á r e a t e-
a
t r a l e de belas- artes, como p o d i a s e r e n c o n t r a d o em i n d i v-í
duos da própria E s c o l a d e Samba, e entre estes, o seu maior
e x e m p l o f o i sem d ú v i d a o C a r n a v a l e s c o J u l i o M a t t o s .
 2.1.2 - J U L I O MATTOS, O "JULINHO D A MANGUEIRA"

Na v e r d a d e a b u s c a d o d o m i n i o d a t é c n i c a n ã o s e l-
i
mitou aos cenógrafos e a r t i s t a s p l á s t i c o s , e .as p r ó p r i a s E-
s
c o l a s d e Samba p r o d u z i a m s e u s C a r n a v a l e s c o s , como J u l i o Mat-
t o s na Mangueira. Seu t r a b a l h o a t r a v e s s a a s décadas d e 60, 70
e 80, e já nos a n o s 50 e l e i d e a l i z a v a e e x e c u t a v a o s c a r n-
a
v a i s d e d i v e r s a s E s c o l a s d e Samba, dedicando a maior parte
de s e u tempo 5 Mangueira.

O i n i c i o d e s u a a t i v i d a d e f o i na E s c o l a d e Sambò
Paraíso das Baianas, h o j e c o n h e c i d a como P a r a i s o d o T u i u t i , e m
1952, fazendo c a r r o s alegÓricos, e durante toda a década de
50 t r a b a l h o u para e s t a Escola.

0 s morros d a Mangueira e do T u i u t i eram v i z i n h o s , e

J u l i o M a t t o s t e r m i n o u p o r i r " d a r uma m ã o z i n h a " à Mangueira
em 1 9 5 8 . N ~ p
O o s s u i a f o r m a ç ã o a c a d ê m i c a nem f r e q u e n t o u a E s c -
o
l a de Belas Artes, mas p o r g o s t a r d e e s c u l t u r a s , frequentou -
a
t e l i e r s d e a r t i s t a s como V o l m e r e R a m i r o O u a r t e , onde a p r e-
n
deu o s s e g r e d o s d e moldes e fÔrrnas.Este aprendizado o levou
a m o n t a r uma f á b r i c a d e a l e g o r i a s e e s c u l t u r a s em R a m o s , que
funciona a t é hoje, n a q u a l t r a b a l h o u s i m u l t â n e a m e n t e com as
E s c o l a s d e Samba.

Na M a n g u e i r a c o m e ç o u c o m o f i g u r i n i s t a , e assumiu a
p o s i ç ã o d e C a r n a v a l e s c o em 1 9 6 3 . Paralelo a este trabalho, J-
u
lia M a t t o s f o i a u t o r d e uma f a ç a n h a Ú n i c a no C a r n a v a l C a r i o c a ,
e l a b o r a n d o c a r n a v a i s p a r a d e z o i t o E s c o l a s d e Samba s i m u l t-
ã
neamente, c o n t a n d o com s u a e x p e r i ê n c i a , sua fábrica de a l e g-
o
r i a s e uma p e q u e n a e q u i p e d e s e i s p e s s o a s .

D e s t e s t r a b a l h o s r e s u l t o u um i n e s t i m á v e l a c e r v o de
I
alegorias e fôrmas, e um c o n h e c i m e n t o c o m p l e t o d a s técnicas
\
 n e c e s s á r i a s ao carnaval, q u e e l e r e l e m b r a a i n d a no t e m p o das
Grandes Sociedades.

" A n t i g a m e n t e o C a r n a v a l e s c o t r a b a l h a v a com
e q u i p e menor, eu p r o c u r a v a . c h e g a r perto
dos grandes a r t i s t a s , que faziam a s G r a-
n
d e s S o c i e d a d e s . E s c o l a d e Samba nem se
imaginava, e nas Grandes Sociedades t-
i
nham o s g r a n d e s e s c u l t , o r e s e a r t i s t a s c-
o
mo o R a m i r e s . "

J u l i o MaLtoa

Apesar d e s t e s t r a b a l h o s simultâneos, f a c t i v e i s na
6 p o c a d a d a a s d i m e n s õ e s d a s E s c o l a s d e Samba e uma m e n o r -
com
p l e x i d a d e do d e s f i l e , f o i na M a n g u e i r a q u e J u l i o M a t t o s d e s e -
n
volveu seus maiores trabalhos. E l e mesmo c o n s i d e r a que s e p r e -
s
t o u s e r v i ç o s a o u t r a s E s c o l a s d e S a m b a , f o i p o r uma questão
de sobreviv6ncia, e s u a e s c o l a d o c o r a ç ã o s e r i a mesmo a v e-
r
de e rosa.

"[...lera s e m p r e chamado p o r o u t r a s Esco

l a s , mas n u n c a s a i d a M a n g u e i r a , n a Ma; -
g u e i r a f u i f i e l , eu g o s t a v a d e a r t e e de
ganhar carnaval...] sempre t r a b a l h e i com
a m o r , sem d i n h e i r o , s e m p r e p r o c u r e i aju -
d a r a Mangueira."

J u l i o MukXo~

Esta dedicação, a c r e s c i d a d e uma t i m i d e z q u e o man-

t e v e p o r m u i t o s a n o s no a n o n i m a t o , c o n f i g u r a v a m um m é t o d o de
trabalho proÕprio, centralizador, do q u a l J u l i o M a t t o s nunca
a b r i u mão. E s t a c e n t r a l i z a ç ã o i n c l u i a a a p r e s e n t a ç ã o do e n r-
ê
do e o a b s o l u t o s e g r e d o na e x e c u ç ã o do c a r n a v a l , além d e um
p r o f u n d o c o n h e c i m e n t o e i d e n t i f i c a ç ã o com a c o m u n i d a d e ma -
n
gueirense.

E s t e c o n h e c i m e n t o t i n h a o r e t o r n o na c o n f i a n ç a c o-
n
i q u i s t a d a p o r J u l i o M a t t o s na M a n g u e i r a , e f o i importante para
I
 o r e s u l t a d o obtido nos d e s f i l e s d e s t a Escola. Como u m membro
da comunidade, não t i n h a d i f i c u l d a d e s d e r e p r e s e n t a r a lin
guagem q u e i d e n t i f i c a v a a M a n g u e i r a , a t r a v é s de.enredos compa
t í v e i s e do r e s p e i t o às c o r e s v e r d e e r o s a , exigência a b s o l-
u
t a da Escola. Morador do Morro d a Mangueira d u r a n t e 25 anos,
J u l i o Mattos c a p t o u s u a s c a r a c t e r í s t i c a s e impôs s e u método
de trabalho.

"Na M a n g u e i r a e l e s d e i x a v a m t u d o p o r m i n h a
conta, escolhia o carnaval, figurino, a l e
g o r i a , t u d o c o m i g o . U l t i m a m e n t e t i n h a um:
C o m i s s ã o , mas n ã o s e m e t i a m c o m i g o , nem
n o meu t r a b a l h o , t a n t o é q u e no barracão
eu não d e i x a v a d a r p a l p i t e s , e u achava q u e
t i n h a mais p r á t i c a e não a d m i t i a p a l p i t e s
C...) A n t i g a m e n t e em j a n e i r o a g e n t e e-n
t r e g a v a o s f i g u r i n o s , e r a um s e g r e d o vio
l e n t o , e r a p r o i b i d o e n t r a r no barracãõ,
a g o r a n ã o , t e m d a t a , a p e s s o a v a i 1; d i-
z e r e q u e v a i a p r e s e n t a r , mas e u s o u c o-n
t r a , a surpresa é muito importante[. . . I v

Ainda que a década d e 60 t e n h a t r a z i d o mudanças s i-

g
n i f i c a t i v a s p a r a a s E s c o l a s d e Samba, J u l i o Mattos conseguiu
s e m a n t e r num i s o l a m e n t o q u e c a r a c t e r i z o u seu trabalho, a f a-
s
tando-o de qualquer publicidade. E s t e a n o n i m a t o e l e mesmo r-
e
conhece, bem como o s e u v a l o r p r o f i s s i o n a l como C a r n a v a l e s c o .

"Eu d e v e r i a s e r o c a m a r a d a m a i s divulgado
do c a r n a v a l C . . . l m a s é um dom q u e e u t e n h o
d e não a p a r e c e r , n u n c a a p a r e c i , mas faço
p a r t e da h i s t ó r i a do carnaval[ ...
1"

E s t e temperamsnto que o manteve a f a s t a d o a fama,@ a

confiança no q u e f a z i a , d u r a n t e a década d e 60 f e z fizeram
justiça ao seu talento, a t r a v é s das v i t ó r i a s e boas c o l o c-
a
çÓes o b t i d a s p e l a Mangueira, em q u e s e d e s t a c a m : "Exaltação
\

I
Bahia", 1963 - 2 V u g a r , " H i s f o i r a d e Um P r e t o VelhoW,1964 -

\
3? l u g a r , " R i o A t r a v é s d o s ~ ~ c u l o s " ~ 1 9 6 49
5 - lugar, "Exalta -
 ção ã V i l l a Lobos",1966 - 2? l u g a r , "O -
Mundo E n c a n t a d o d e Mon
t e i r o Lobato", 1967 - l9 l u g a r e "Samba F e s t a d e U m Povo1'1968
- 1Vugar.

J u l i o Mattos, ou J u l i n h o d a M a n g u e i r a , atravessou a
década d e 60 executando b e l o s c a r n a v a i s p a r a a Mangueira e
f o r n e c e n d o a l e g o r i a s e a d e r e ç o s p a r a E s c o l a s d e Samba n ã o só
do Rio d e J a n e i r o , mas d e o u t r o s e s t a d o s . Em s e u s g a l p ã e s e l e
guardou a h i s t ó r i a do C a r n a v a l C a r i o c a a t r a v é s d a s E s c u l t u r a s
e a l e g o r i a s q u e comprou d a s E s c o l a s d e Samba. Um g r a n d e a c e-
r
vo que a i n d a a l i m e n t a o g r a n d e sonho d e s t e C a r n a v a l e s c o , o de
c o n s t r u i r um i m e n s o Museu d o C a r n a v a l .

2.1.3 - O SALGUEIRO C O N V I D A O CASAL NERY E PAMPLONA

"Obnan de vuRfo e encanfoa m i l

Legou Debnef
ã nodaas beLan -ahXea, ao B&aniR.
PinZou
Com g e n i a l sabe&,
pana s u a eha t r e v i v e n ! " l i 5 I

A E s c o l a d e S a m b a S a l g u e i r o em 1 9 5 4 d e s f i l o u n a A v-
e
n i d a R i o B r a n c o com o e n r ê d o " R o m a r i a 2 B a h i a " , e seu C a r n-
a
v a l e s c o e r a H i l d e b r a n d o Moura, a r t i s t a s que trabalhou a n t-
e
riormente nas Grandes Sociedades. Foi levado para o Salgueiro
por Pedro Ceciliano, c o n h e c i d o como " p e r u 1 ' , -
d e i m p o r t ã n c i a pa
r a o S a l g u e i r o s e m e l h a n t e a d e P a u l o da P o r t e l a para aquela -
a
gremiação. Neste ano o Salgueiro obteve a t e r c e i r a colocação,
5 f r e n t e da P o r t e l a e a t r á s do Império Serrano e da M a n g u e-
i
r a , na é p o c a a s t r 6 s e s c o l a s q u e d i s p u t a v a m o t i t u l o .

Até o a n o d e 1 9 5 7 , q u a n d o a p r e s e n t o u o e n r e d o -
"Na
I vio Negreiro", o S a l g u e i r o o b t e v e a q u a r t a c o l o c a ç ã o no d e-
s
file. O C a r n a v a l e s c o a i n d a e r a H i l d e b r a n d o Moura, mas o pre
\

\ C151 S a m b a e n r e d o d o S a l g u e i r o " V i a g e m P i t o r e s c a e ~ i s t ó r i c a
1
a o Brasil1' do ano d e 1959.
 s i d e n t e e r a Nelson de Andrade, q u e em 1 9 5 8 p r o Õ s o enrêdo
"Exaltação aos F u z i l e i r o s Navais", c r i a n d o também:.para o S a- .l
gueiro a sua lendária definição: "Nem m e l h o r , nem p i o r , a p e n a s
uma e s c o l a d i f e r e n t e " .

Novamente a e s c o l a o b t e v e a q u a r t a c o l o c a ç ã o , e N e--l
son d e Andrade não s e conformou, passando a se dedicar i n t-
e
gralmente i d e a l i z a ç ã o d e um e n r e d o q u e p r o p o r c i o n a s s e um
resultado melhor, a t e que o acaso o colocou d i a n t e de dois
artistas:

"Num d e s s e s a c a s o s q u e f a z e m com q u e as
h i s t ó r i a s e x i s t a m , N e l s o n s o u b e I...)d a
e x i s t g n c i a d e um c a s a l d e a r t i s t a s que
t r a b a l h a v a com f i g u r i n o s , a d e r e ç o s d e c-e
nografia e pequenas e s c u l t u r a s , e que t-i
n h a em c a s a c o i s a s d e b u m b a - m e u - b o i , m a r-
a
...
tatu, c a n d o m b l é , g ~ e r r e i r 0 s ~ e t c . l 1 t r a
tava-se de a r t i s t a s maravilhosos e intei
r a m e n t e a f i n a d o s com a a r t e p o p u l a r , a i n d ã
q u e f o s s e m t ã o d i s s i m e i s : e l e - D i r c e u Ne
r y - pernambucano d e R e c i f e , e l a - ~ a r i e
L o u i s e Nery - Suiça de Berna."(16)

D i r c e u Nery e r a c e n õ g r a f o , e f a z i a p a r t e da c o m p-
a
nhia de danças "Brasiliana", onde e r a b a i l a r i n o d e f r e v o . -
Co
nheceu Mari Louise na S u i ç a , no Museu d e E t n o l o g i a d e Neuchã -
t e 1 o n d e c u i d o u d a p a r t e f o l c l ó r i c a d a e x p o s i ç ã o "Arts P r i m-
i
t i v e s e t Modernes B r a s i l e n s " , e unidos por interesses comuns
e pela paixão, r e t o r n a r a m a o B r a s i l em 1 9 5 6 .

" N a q u e l a é p o c a n ó s namoramos e eu vim, não

só por causa d e l e para o B r a s i l , mas tam-
bem p o r s u g e s t ã o d e a m i g o s , o n d e iria en
c o n t r a r muitas possibilidades de t r a b-
ã
lhar e fazer trabalhos criativos em c e n-
o
grafia."

Manie L o u h e Neny

\
C161 COSTA,HAROLDO, Salgueiro, Academia d o Samba, op.cit.p.87
t
 Ao s e r c o n v t d a d a p a r a j u l g a r o d e s f i l e d e Escolas
d e S a m b a em 1 9 5 8 , M a r i e L o u i s e f i c o u e n c a n t a d a , e junto com
D i r c e u Nery a c e i t o u o c o n v i t e d e N e l s o n d e Andrade p a r a rea-
l i z a r o c a r n a v a l d e 1959. O enredo escolhido versava sobre
Jean Baptiste Debret, com o t i t u l o d e " V i a g e m P i t o r e s c a e H i -s
tÓrica ao Brasil", q u e d e s e n v o l v e r a m j u n t o com Hildebrando
Moura, obtendo o segundo l u g a r . A Portela conquistou neste
ano o t i t u l o , com " B r a s i l , Panteon de Glória", e o Salgueiro
f i n a l m e n t e r o m p e u com a c o s t u m e i r a q u a r t a c o l o c a ç ã o .

A s i t u a ç ã o para Marie Louise, e s t r a n g e i r a num pais

t o t a l e m n t e d i f e r e n t e do s e u , p o d e r i a t e r s i d o um g r a v e i m p-
e
dimento, p e l a s d i f e r e n ç a s d e l í n g u a e c u l t u r a , mas não f o i o
q u e o c o r r e u com e l a , ' q u e s e r e s p o n s a b i l i z o u p e l a p a r t e d e f-i
g u r i n o s no e n r e d o d e D e b r e t .

"Eu c o m e c e i l o g o a g o s t a r m u i t o d e t u d o s d o
povo q u e e r a c a l o r o s o e n a q u e l a época eu
f u i bem r e c e b i d a , e l e s g o s t a v a m d e t r-a
b a l h a r c o m i g o , mesmo s e n d o e s t r a n g e i r a , e
e u a d o r a v a . Meu m a r i d o e s t a v a l á , n ó s sa
b i a m o s como t r a b a l h a r e e n t e n d i a m o s d e
f o l c l o r e , e e u também e n t r e i d i r e t o , e a t é
f r e q u e n t a v a t e r r e i r o s d e macumba [ . . . I eu
e n t r e i com um bom g u i a q u e e r a o meu m a. r.
-i
do, e e l e e r a a t é muito r í g i d o I.. 1 nao .
g o s t a v a q u e e u f a l a s s e com m u i t a gente,
misturava essa coisa de Escola de Samba
. com T e a t r o M u n i c i p a l , . e s s a c o i s a d o
de l e v a r o e s p i r i t o do e s p e t ã c u l o p a r a
show
a
E s c o l a d e Samba."

Este "espirito de espetáculo" l e v a d o p a r a o S a l g u e-i

r o p e l o c a s a l Nery c o n s t i t u i u o ponto b á s i c o da r e v o l u ç ã o p o r
eles iniciada. Ao d e s f i i e q u e a z o n t e c i a p o r s i mesmo n a A v-
e
nida, s o b o c a n t o d o samba e n r e d o e o s p a s s o s d o s c o m p o n e-
n
tes, adicionou-se elementos completamente novos, pertencentes
5 esfera teatral.
 A começar p e l o tema, r o m p e n d o com o s e n r e d o s b r a s-
i
leiros e históricos, o c a s a l N e r y t r a b a l h o u com O e b r e t a d a-
p
tando-o ao vermelho e branco s a l g u e i r e n s e , c o r e s rigidamente
r e s p e i t a d a s na é p o c a , como a c o n t e c i a em t o d a s a s E s c o l a s de
Samba.

"L.r.la questão da cor era absolutamente

mais r i g i d a , t i n h a que s e r respeitada e
e r a um d e s a f i o m a i s d i f z c i l , e o pessoal
não g o s t a v a muito d e s a i r d e v e r m e l h o , e r a
mais para o branco. O vermelho e r a mais
um d a d o , u s a v a - s e m u i t o p o u c o e n ó s i n s i s
t i m o s n a s t o n a l i d a d e s , a t é d e v e r m e l h o e: -
curo,mas não e n t r a v a o r o s a , q u e consegui
f a z e r com m u i t o b r a n c o e um p o u c o d e v e r
melho, e de longe dava a impressão, e f i z
justamente esses grupos de tonalidades, o
b r a n c o , um p o u c o d e r o s a , d e p o i s v e r m e l h o
escuro, e conseguimos ritmo, naquela épo
c a a l é m d o samba C...) eu f a l a v a m u i t o d e
ritmo, de fazer grupos de tonalidades."

Mahie Louise Neny

A e s t a nova concepção d e r i t m o v i s u a l , Dirceu Nery

a c r e s c e n t o u o s a d e r e ç o s d e mão, inspirados nas sombrinhas do
frevo. Marie Louise trabalhou nos aspectos cromãticos e i d e-
a
lização das fantasias, enfrentando a s dificuldades de acesso
aos a t e l i e r s de costura, s i t u a d o s em á r e a s d i f e r e n t e s d o Mor-
r o do S a l g u e i r o . Marie Louise s e encarregou de supervisionar
d e t a l h e s complexos de indumentãria, como a a l t u r a d a s b a-
i
nhas - para que ficassem i g u a i s - c o s t u r a s d a s mangas e c a-
i
mentos das s a i a s , i n s p i r a d a s n a moda f r a n c e s a , o que não dei-
xou d e c a u s a r t r a n s t o r n o s :

"I...ltinha uma d i f i c u l d a d e , n a s r o u p a s a
c i n t u r a e r a a l t a , no D e b r e t , e e l e s não
g o s t a v a m , e r e s u l t a d o , como e u n ã o podia
v i s i t a r t o d o mundo r e g u l a r m e n t e , d e r e p e n
t e m u d a v a um p o u c o , a r o u p a s a i a errada,
o r e s u l t a d o s a i a d i f e r e n t e d a q u e l e p r o g r-
a
mado. "
MahLe Louise Neng
 F o r a o s perigos d e s ~ u b i r o m o r r o r e l a t a d o s p e 1a
Carnavalesca, p r i m e i r a mulher a assumir e s t a função,havia a i-
n
da a i n t e r f e r ê n c i a d a s c o s t u r e i r a s , e o e s f o r ç o p a r a s e -
man
t e r um p a d r ã o m z n i m o d e e q u i l i b r i o n a c o n f e c ç ã o e r a ;:muito
grande.Isto f a z i a p a r t e d e uma c o n c e p ç ã o q u e n ã o s e limitava
apenas concepção do enredo, m a s q u e t a m b é m e m p r e g a v a uma v -i
são cenográfica, coreográfica e cromática, pertencente aos
espetáculoç teatrais. E r a n e c e s s á r i o u m novo t i p o d e c o n t r-
o
l e que s e adequasse à s novas propostas.

"Antigamente a s pessoas simplesmente saiam,

a s a l a s umas a t r á s d a s o u t r a s , e e u na
é p o c a p e n s e i no e f e i t o do c o n j u n t o , b u-
s
quei o ritmo visual de tudo aquilo, um
g r u p o d e a d e r e ç o s d e mão, v o c ê e ~ t r a v a
com um m a r d e p e n a s , um m a r d e f i t a s [ . . . l
começava a mexer, b r i l h a r , a t e r m o v i m e-
n
t o s e eram t a n t o s que v i s t o s de l o n g e , d e
c i m a , v i a e s s e s campos q u e chegavam, as
c o r e s , a s formas, o s m a t e r i a i s . Pode ser
que eu t e n h a começado e s t e p r o c e s s o de
conscientização, e o que é importante, a
coordenação de c o r e ritmo, a forma que
s e mexe, o s m a t e r i a i s e a s d i v e r s a s tona
l i d a d e s , e i s s o c r i a um r i t m o excitante
ou m a i s t r a n q u i l o . "

A r e v o l u ç ã o q u e s e i n i c i a v a no S a l g u e i r o p a r t i u de
uma b u s c a f e i t a p e l a s E s c o l a s d e S a m b a numa m e l h o r a p r e s e n t a -
ção visual, e o conhecimento absorvtdo de o u t r a s á r e a s , como
o Teatro, t e v e a s s u a s i m p l i c a ç õ e s no c o n t e x t o d a s E s c o l a s d e
Samba. A p o n t e e s t a v a f e i t a e o caminho enfim aberto,um c a m-
i
nho q u e não e r a t o t a l m e n t e d e s c o n h e c i d o , v i s t o que o contato
e n t r e a s E s c o l a s d e Samba e p e s s o a s d e o u t r a s á r e a s e r a um
f a t o comum, na m a i o r i a d a s v e z e s não r e v e l a d o .

"Sempre v i d i r e t o r e s e p r e s i d e n t e s d e Esco
l a s d e Samba q u e i a m 2 p o r t a r i a d o T e a t r õ
Municipal a procura d e alguém que f i z e s s e
e s c u l t u r a , c e n o g r a f i a , e também d e P r:
 f e s s o r e s de Belas Artes. É que a coisa
e r a p r e c o n c e i t u o s a , e como e r a p r e c o n c e i -
t u o s o uma p e s s o a d e e l i t e t r a b a l h a r em
E s c o l a s d e Samba, e n t ã o achavam q u e era
s ó o s a m b i s t a , a. r a i z q u e f a z i a t u d o , m a s
é m e n t i r a , p o r q u e e u me l e m b r o , nestes
meus 42 a n o s d e c a r n a v a l , e l e s iam proc- u
r a r professores de Belas Artes e a s p e ~
s o a s n ã o g o s t a v a m q u e s e u s nomes apare
c e s s e m c o m o um t r a b a l h o d e E s c o l a d e sa;-
ba."
G e t a L d a CavaLcanXi

O C a r n a v a l s e m p r e f o i um c a m p o d e t r a b a l h o d e m u-
i
t a s opções, e uma d e l a s , a decoração d e Clubes e Ruas atraia
muitos p r o f i s s i o n a i s da á r e a d e cenografia e belas-artes. D e-
s
de 1 9 3 3 quando o T e a t r o Muncipal realizou seu primeiro Baile
c u j a d e c o r a ç ã o f o i encomendada p e l o p r e f e i t o Pedro Ernesto
m u i t o s p r o f i s s i o n a i s f i z e r a m s e u c o n t a t o com o C a r n a v a l des-
t a forma.

Um d e l e s , jovem c e n ó g r a f o e p r o f e s s o r d a E s c o l a -
Na
cional de Belas Artes, chamado F e r n a n d o Pamplona, em 1 9 5 7 v e n
c e u o p r i m e i r o c o n c u r s o p ú b l i c o p a r a a d e c o r a ç ã o d o T e a t r o M-
u
nicipal, com o p r o j e t o " R i o C o l o n i a l " . O Teatro Municipal e
a ENBA f i c a v a m n o c a m i n h o d o s d e s f i l e s d a s E s c o l a s d e Samba
e o encontro f o i inevitável.

Em 1 9 5 9 , convidado por Miécio T a t i para f a z e r p a r t e

d a Comissão J u l g a d o r a d o d e s f i l e d a s E s c o l a s d e Samba, ao l-
a
do d e Lucio Rangel, Eneida e Edson C a r n e i r o , Fernando P a m p l-
o
na j u l g o u o quesito "Alegoria", sem p r e f e r e n c i a p o r a l g u m a e-
s
c o l a em p a r t i c u l a r .

"Eu n ã o t o r c i a p o r n e n h u m a e s c o l a , apenas
o S a l g u e i r o me m o t i v o u m u i t o p o r q u e e r a a
q u i n t a a d e s f i l a r e d e s f i l o u na frente
d a s o u t r a s , não t i n h a a r i g i d e z d o s r e g-
u
lamentos de hoje e e l e resolveu a b r i r o
d e s f i l e quando a s q u a t r o o u t r a s criaram
p r o b l e m a s , e uma d a s c o i s a s b o n i t a s do
 D i r c e u Nery e d e M a r i e L o u i s e é q u e eles
não tinham c a r r o s a l e g á r i c o s , e l e s repro
duziam c e n a s a o v i v o d e D e b r e t e eu dei
a melhor nota."

Fennando Parnplona

Chamou a a t e n ç ã o d e P a m p l o n a t a m b é m a t e m á t i c a do
enredo, q u e s e d i f e r e n c i a v a d a s o u t r a s E s c o l a s d e Samba, e
por sua nota o Salgueiro obteve o segundo l u g a r , o que levou
Nelson de Andrade a p r o c u r a - l o no T e a t r o M u n i c i p a l e convA
da-10 para f a z e r o carnaval da Escola.

J; n e s t a época Pamplona e r a amigo d o c a s a l Nery,

q u e e l e mesmo c o n s i d e r a o s . r e v o l u 6 i o n á r i o s d a l i n g u a g e m do
c a r n a v a l d a s E s c o l a s d e Samba:

"C...lo f a t o 6 que a p a r t i r do Dirceu -

Ne
r y e não d e m i m e x a t a m e n t e , houve a revo
lução da maneira d e v e r [...)Dirceu ~ e r 7
q u e como t o d o s o s a n t e c e s s o r e s trabalhou
em t e a t r o , t r o u x e uma s o l u ç ã o d e teatro
para o f i g u r i n o , que hoje e s t á empeteca
do e a b a r r o c a d o d e m a i s , mas e l e trouxe
uma s i m p l i f i c a ç ã o q u e n ó s a c o m p a n h a m o s . "

Fennando Pamplona

Tendo a c e i t o o c o n v i t e e a t e n t o à s caracteristicas
do S a l g u e i r o , q u e s e i m p u n h a como E s c o l a o u s a d a e inovadora,$
Pamplona propÕs o e n r e d o "Zumbi d o s P a l m a r e s " , m a i s t a r d e c h-
a
mado "GJuilombo d o s P a l m a r e s " . F o r m o u e n t ã o com o c a s a l Nery,
-
o f i g u r i n i s t a A r l i n d o Rodrigues e o a d e r e c i s t a N i l t o n S á , tam
bém d a ENBA, uma e q u i p e q u e m u d a r i a o s r u m o s d o c a r n a v a l das
E s c o l a s d e Samba.

"Palmares" f o i o Único enredo, segundo Pamplona, que

t e v e uma c e r t a i m p o s i ç ã o d e s u a p a r t e 2 A g r e m i a ç ã o , s e n d o que
o s d e m a i s e n r e d o s e r a m a p r e s e n t a d o s em a s s e m b l é i a s r e a l i z-
a
d a s no m o r r o p a r a a a p r o v a ç ã o " t a n t o é a s s i m q u e W V i s i t a a Um
R e i Negro" f o i r e j e i t a d a q u a t r o a n o s p e l o m o r r o e d e p o i s p e d-
i
ram p a r a a g e n t e f a z e r " .

E s t a compreensão e i n t e g r a ç ã o 5 comunidade do S a-
l
g u e i r o foram i m p o r t a n t e s p a r a Fernando Pamplona, facilitadas
p e l o t r a b a l h o do c a s a l Nery. Em "Zumbi d o s P a l m a r e s " , se não
h o u v e o b s t ~ c u l oq u a n t o a i n t e g r a ç ã o d e P a m p l o n a ao Salgueiro,
houve p e l o s menos r e s i s t ê n c i a d o s c o m p o n e n t e s p a r a v e s t i r e m a
fantasiarde "negros", e f o i d i f i c i l convence-los a abandona -
rem a seda, o cetim e a peruca francesa.

"Todo mundo q u e r i a s a i r d e p r i n c e s a , de
principe, muito vestidos( ... )queriam s a i r
bem e n f e i t a d o s , m u i t a s e d a , m u l t a p e d r a r i a ,
e t i n h a g e n t e m a i s p o b r e , mas q u e r i a s a i r
assim, faziam questão."

O c a r n a v a l e r a o e s q u e c i m e n t o do c o t i d i a n o , da prg
p r i a condição s o c i a l , da pobreza em f a v o r d a r i q u e z a d o t r a j e
carnavalesco. E i s t o f o i um o b s t á c u l o p a r a Pamplona e s u a -
e
quipe, que precisavam convencer a comunidade do c a r á t e r i n-
é
d i t o do enredo e dos f i g u r i n o s . Nestes, o negro, ao invés de
simples f i g u r a n t e de enredo, p a s s a v a a s e r um p e r s o n a g e m de
s i mesmo, de seus valores e sua h i s t ó r i a . A s s i m obtiveram a
a c e i t a ç ã o e a p a r t i c i p a ç ã o d a comunidade na c o n f e c ç ã o d o c a-
r
naval.

Em 1 9 6 0 o S a l g u e i r o f e z uma a p r e s e n t a ç ã o s u r p r e e-
n
dente, obtendo a t e r c e i r a colocação, s e n d o a P o r t e l a a p r i m e-
i
r a colocada e a Mangueira a segunda. P o r t e r s i d o um desfile
tumultuado, que ocasio'nou m u i t a s b r i g a s , r e s u l t a n d o num r e c u-
r
s o impetrado p o r Nelson d e Andrade. Deste recurso f o i decidi
do que o s prêmios seriam divididos e n t r e a s cinco primeiras
colocadas, o q u e n a t u r a l e m n t e n ã o a g r a d o u a nenhuma d a s E s c-
o
ias c o n c o r r e n t e s .
 P a r a o a n o d e 19.61, N e l s o n d e And.rade e Pamplona
escolheram o enredo "Aleijadinho", chegando ao r e q u e i n t e de
u t i l i z a r p e ç a s o r i g i n a i s d o a r t i s t a como m o l d e s p a r a s u a s a l -
e
gorias, expondo o s motivos p a r a o Departamento d e Turismo e
Certames:

" ( . . . I 0 S a l g u e i r o j á há a l g u n s carnavais
procura modificar o sentido que a s E s c-
o
l a s d e Samba ( i n c l u s i v e a n o s s a ) d e uma
maneira g e r a l vinham dando a o s e n r e d o s e
5 decoração, que cada vez mais desviavam
a s criações populares de suas origens -de
turpando sua autenticidade.
(...)O desfile das Escolas estava se t o-r
n a n d o um s h o w , com f o r t e i n f l u ê n c i a de
W a l t e r P i n t o e C a r l o s Machado, o q u e ain
da hoje é f á c i l de s e observar. A l é m diz
so o s temas " p a t r i ó t i c o s " inteiramente
f a l s o s , no q u e d i z r e s p e i t o 5s tradições
p o p u l a r e s , dominavam, a j u d a d o s p e l a i-
n
f l u ê n c i a d e uma d i t a d u r a c u j o s m a l e s ain
da hoje s e fazem s e n t i r , quase que a t o t ã -
lidade dos enredos.
( . . . ) A b o l i m o s a s a l e g o r i a s em carretas,
q u a s e sempre r e a l i z a d a s , não p o r artis
t a s i n g ê n u o s , p r i m i t i v o s ou p o p u l a r e s , m a ~
p r o f i s s i o n a i s d e c a d e n t e s e d e mau g o s t o .
1 . . . I P r e c i s a m o s d e um a r t i s t a p a r a fazer
nossas a l e g o r i a s e verificamos que nem
n o s s o s a r t i s t a s do morro, p r i m i t i v o s e
i n g ê n u o s , nem a r t i s t a s e r u d i t o s q u e -
pode
r i a m c o l a b o r a r conosco podiam f a z e r uma
alegoria a e s t e Artista dos Artistas; f o i
então que resolvemos que nosso artista
só poderia s e r Antonio Francisco de -
Lis
boa, o Aleijadinho.( ... 1
C...l"No Tempo d o A l e i j a d i n h o " s e r á o ti
t u 1 0 d o e n r e d o com q u e o s A c a d ê m i c o s dÕ
S a l g u e i r o , a o som d e s e u s t a m b o r i n s , -
sur
d o s e c u í c a s , s e a p r e s e n t a r ã o a o povo no
ano d e 1961, sob a d i r e ç ã o e r e s p o n s a b i l i
d a d e d e N e l s o n d e A n d r a d e , com a colabõ
r a ç ã o d e F e r n a n d o P a m p l o n a e D i r c e u Nery:"
117 1

Neste t e x t o , onde o s Carnavalescos aparecem como

--
1 1 7 ) COSTA, HAROLDO, idem, op.cit.p.ll2
colaboradores, por s e r muito l o n g o não f o i a q u i t r a n s c r i t o na
íntegra. C o n t i n h a a i n d a uma d e s c r i ç ã o d e t a l h a d a d o e n r e d o e
o r o t e i r o do d e s f i l e . M a i s c o m p l e x o q u e uma S i n o p s e d e ~ n -r ê
do, e l e t e m e l e m e n t o s e s c l a r e c e d o r e s d'a i d e o l o g i a d a A g r e m i-
a
ção, s u a v i s ã o d e s i mesma e d a s c o n c o r r e n t e s , num e x a m e -
c r i
t i c o d o C a r n a v a l d a s E s c o l a s d e Samba.

Chamama a t e n ç ã o a s r e f e r ê n c i a s f e i t a s 5 qualidade e
conhecimento d o s a r t i s t a s "do morro", e t a m b é m a q u e l e s q u e d-
e
nomina " d e c a d e n t e s d e mau g o s t o " , e mais ainda a transcendê-
n
tia a q u a l q u e r o u t r o p r o f i s s i o n a l , buscando nas peças do prq
p r i o A l e i j a d i n h o a moldagem d a s a l e g o r i a s , ' d e s p r e z a n d o tanto
os a r t i s t a s "primitivos" quanto o s "ingênuos".

E s t e s a s p e c t o s d ã o a m e d i d a d e como e r a m v i s t o s os
a r t i s t a s da p r ó p r i a comunidade, e mesmo o s c h a m a d o s " c o l a b o r -
a
dores". A o u s a d i a e inovação do S a l g u e i r o chegou a cecursos
t ã o extremos, e de grande impacto, como o d e m o l d a r a s A l e g-
o
r i a s d e seu c a r n a v a l n a s e s c u l t u r a s do p r ó p r i o A l e i j a d i n h o . A
segunda colocação obtida pela Escola demonstrou que o r e c u-
r
so surtiu efeito.

Por r a z õ e s nunca r e v e l a d a s , Nelson d e Andrade dei-

xou o S a l g u e i r o a p ó s e s t e c a r n a v a l , indo para a Portela,e Pam-
p l o n a tambêm d e i x a r i a a E s c o l a , m a s n ã o com o mesmo d e s t i n o .
Osmar V a l e n ç a tomou a f r e n t e d o s t r a b a l h o s , e Arlindo R o d r-
i
gues, temporariamente a f a s t a d o de Pamplona, assume sozinho o
enredo "Descobrimento do B r a s i l " para o c a r n a v a l de 1962.

Embora a f a s t a d o d o p a r c e i r o , Arlindo manteve com

o S a l g u e i r o a mesma r e l a ç ã o d e i n t e g r a ç ã o q u e e l e e P a m p l o n a
c o n q u i s t a r a m a t r a v é s da i d e n t i f i c a ç ã o havida d e ambas a s par
tes, como r e l a t a H a r o l d o C o s t a :
 "(....I e l e s faziam o Salgueiro por amor,
p o r i n t e r e s s e c u l t u r a l , não t i n h a nenhum
o b j e t i v o p r o f i s s i o n a l , não t i n h a lucro
nisso. Esses Carnavalescos foram
que criaram para o Salgueiro, e l e s
pessoas
nao
,.
i m p u s e r a m um p o n t o d e v i s t a , um estilo,
e l e s foram de encontro a Escola e houve
e s s a c o m u n h ã o , a e s c o l a r e c e b e u bem a c o n
t r i b u i ç ã o que e l e s poderiam d a r e e 1e;
p o r s u a v e z beberam na E s c o l a t u d o aqui
10 q u e r e s u l t o u n a c o n t r i b u i ç ã o p a r a e l e ;
d a d a , e n t ã o h o u v e uma c o m u n h ã o m u i t o i- m
portante."

N ~ s ó a i d e n t i f i c a ç ã o com o S a l g u e i r o f o i
O muito
i m p o r t a n t e , mas também a i d e n t i f i c a ç ã o p r o f i s s i o n a l e n t r e F e r
nando Pamplona e A r l i n d o R o d r i g u e s , no m é t o d o d e t r a b a l h o q u e
o s uniu durante t a n t o s anos e que i n f l u i u nos r e s u l t a d o s .

"(...)praticamente todos os enrêdos que

f i z n o S a l g u e i r o f o r a m com o A r l i n d o , e
me s e p a r a r d o A r l i n d o como em a l g u m a s de
c o r a ç õ e s d e r u a é d i f i c i l , o q u e competi:
a e l e o u a m i m , é d i f í c i l p o r q u e um i n t e r
f e r i a no t r a b a l h o d o o u t r o , d e s d e a i d é i ã
a t é a realização."

Fehnanda PampRona

S e p a r a d o s p o r t a n t o em 1 9 6 2 , a m b o s c o n t i n u a r i a m a
t r a b a l h a r no c a r n a v a l . Arlindo Rodrigues responsável pelo c a r
n a v a l do S a l g u e i r o , que a p e s a r do e x c e l e n t e d e s f i l e f i c o u em
terceiro lugar, e Pamplona, ao l a d o d e P l i n i o Lopes e flauro
Monteiro vencendo o concurso de decoração das r u a s da cidade,
com um p r o j e t o q u e a b o r d a v a a t e m á t i c a a f r i c a n a .

Em 1 9 6 3 o e n r e d o d o S a l g u e i r o f o i " C h i c a d a S i l v a W e
A r l i n d o e l a b o r o u p a r a a E s c o l a um b e l i s s i m o c a r n a v a l , sozinho
p o i s Pamplona e s t a v a na E u r o p a . No m o m e n t o d o d e s f i l e s e n t i-
u
s e que d e s t a v e z o campeonato s e r i a do S a l g u e i r o , o que de
f a t o aconteceu.
 O impacto de I s a b e l Valença representando Chica da
S i l v a e a A l a d o s I m p o r t a n t e s com d o z e p a r e s d e n o b r e s d a-
n
çando polca, a chamada c o r e o g r a f i a do " p a s s o marcado" foram
f a t o s que valorizaram o d e s f i l e , além da r i q u e s a detalhista
do t r a b a l h o d e A r l i n d o R o d r i g u e s .

Ao c o n q u i s t a r e s t e c a m p e o n a . t o , o S a l g u e i r o a l c a n ç o u
grande prestigio, conquistando toda a cidade, e partindo pa
r a o bi-campeonato f e z de "Chico Rei" s e u e n r ê d o p a r a 1 9 6 4 , d-
e
vidamente a u t o r i z a d o p o r Pamplona, que ainda estava f o r a do
pais e realizado por Arlindo, o b t e n d o no c o n c u r s o a segunda
colocação.

Neste desfile ser-a repetida a proposta c-

0
reográffca r e a l i z a d a p o r Mercedes B a t i s t a , a pedido de A-r
lindo. D i a n t e d a s s e v e r a s c r í t i c a s e l e a s s u m i u a r e s p o n s a b i l-
i
dade, e o S a l g u e i r o r e t o r n o u a o s e u a n t i g o modo d e d e s f i l a r . €
c e r t o que não f o i t o d a a e s c o l a que d e s f i l o u a o r i t m o do "paz
s o marcado" p o i s a p r o p o s t a d e A r l i n d o e r a d e num d e t e r m i n-
a
d o m o m e n t o c r i a r uma s i t u a ç ã o d e i m p a c t o , q u e na r e a l i d a d e só
obteve c r í t i c a s e f o i abandonada.

E m 1 9 6 5 o d e s f i l e d a s E s c o l a s d e Samba j á s e r e a l-
i
s a v a na P r e s i d e n t e V a r g a s , s e n d o c o m e r c i a l i z a d o e com arqui -
bancadas constfuidas para os assistentes. Foram i n s t a l a d a s na
Avenida câmeras p a r a t r a n s m i s s ã o d e emissoras d e T e l e v i s ã o , e
l o c a i s p a r a m i c r o f o n e s d e r ã d i o e também p a r a o s f o t ó r g r a f o s .
O d e s f i l e c a d a v e z m a i s chamava a a t e n ç ã o d o s m e i o s d e comu -
nicação e de outros segmentos da sociedade.

E x a t a m e n t e n a m e t a d e d a d e c a d a d e 6 0 t e m i n i c i o uma
grande polêmica s o b r e a " p r o f i s s i o n a l i z a ç ~ o "d a s E s c o l a s de
Samba. Nelson de Andrade levou p a r a a P o r t e l a o c o r e ó g r a f o e
b a i l a r i n o americano Lenie Dale, e este fato, somando-se a p r-
e
s e n ç a d a c o r e ó g r a f a M e r c e d e s B a t i s t a no S a l g u e i r o , polarizou
a d i s c u s s ã o em t o r n o d a a u t e n t i c i d a d e d a s E s c o l a s d e S a m b a e
da ameaça que s o b r e e l a s pairavam.

-
A m e a ç a e s t a s i m b o l i z a d a t a m b é m p e l a p r e s e n ç a d e cam
peões de concursos d e f a n t a s i a s de luxo dos grandes C l u b e s , ~ ~
mo E v a n d r o d e C a s t r o L i m a , q u e d e s f i l o u n o S a l g u e i r o em 1 9 6 5 ,
e C l ó v i s Bornay, q u e d e s f i l o u na P o r t e l a , inclusive trabalhan -
d o n e s t a e s c o l a m a i s t a r d e como C a r n a v a l e s c o . O luxo de suas
fantasias se transferiu para os a t e l i e r s de costura das e s c-
o
las, onde eram c o n f e c c i o n a d a s f a n t a s i a s d e a l t o p r e ç o , a c r e-
s
centando-se o f a t o d e que o s p r ó p r i o s d i r i g e n t e s buscavam t r-
a
zer personalidades famosas da sociedade e da t e l e v i s ã o para
c o l o c a r e m s u a s e s c o l a s em e v i d ê n c i a .

Muitas foram a s c r i t i c a s a e s t a "invasão" das Esco

l a s d e Samba, e também c o n t r a a p r o f i s s i o n a l i z a ç ã o d o s a m b i-
s
t a no s e u p r ó p r i o m e i o d e a p r e s e n t a ç ã o . Apesar de todos o s -
a
pelos, j u s t i f i c a d o s ou não, a s E s c o l a s d e Samba e n c o n t r a v a m -
s e na p r i v i l e g i a d a condição de a t r a ç ã o p r i n c i p a l do c a r n a v a l ,
e e s t e f o i um p r o c e s s o q u e n ã o p o d e s e r i m p e d i d o .

No a n o d e 1 9 6 5 , t o d a s a s E s c o l a s d e S a m b a h o m e n a g e-
a
ram o I V c e n t e n á r i o d a C i d a d e d o R i o d e J a n e i r o , e em m e i o a
todas a s discussÕes, mas s o b o e n f o q u e d o n o v i s s i m o veiculo
de comunicação de massa, a TV, o Salgueiro sagrou-se campeãe
com o e n r e d o " H i s t õ r i a d o C a r n a v a l C a r i o c a " de Fernando -
Pam .
plona, r e a l i z a d o pelo Carnavalesco Arlindo Rodrigues.

"I...lo que 6 importante d i z e r é que pelo

menos a t é 7 5 , q u a n d o J o ã o z i n h o T r i n t a t-
i
rou o bicampeonato do Salgueiro, eramos
s i m p l e s m e n t e a m a d o r e s , nenhum d e nós ja
mais ganhou d e z c e n t a v o s do S a l g u e i r o ( ...
1"
 58

2.1.4 - O GRUPO DE PAMPLONA E A ESCOLA N A C I O N A L DE BELAS A -

R
TES

A p a r t i c i p a ç ã o d a E s c o l a N a c i o n a l d e B e l a s A r t e s d-
a
t a dos c a r n a v a i s do f i n a l do s é c u l o X I X , quando Rodolpho -
Amo
edo, Diretor desta Escola, confeccionou o estandarte dos T-
e
n e n t e s d o D i a b o em 1 8 8 9 . E r a n o r m a l a p a r t i c i p a ç ã o d e m e s t r e s
e a l u n o s na c o n f e c ç ã o d e p r é s t i t o s , decorações e com?ssÕes
j u l g a d o r a s no C a r n a v a l C a r i o c a .

O s concursos de Decoração de Clubes e Hoteis, como

o Teatro Municipal e o Hotel Gloria atrairam v a r i o s a r t i s t a s ,
e n t r e e l e s Nilton da Costa, R o b e r t o B u r l e Max, Bianco e G i -l
b e r t o Trompowsky. Dos c o n c u r s o s d e D e c o r a ç ã o d e r u a s p a r t-
i
ciparam Nilton Sã, Moacir Fernandes Figueiredo, Plinio Lopes
Cipriano, Adir Botelho, David R i b e i r o , F e r n a n d o S a n t o r o e F e-
r
nando Pamplona.

F o i Fernando Pamplona quem,a p a r t i r d a década d e 60

a p r o v e i t a n d o o i n t e r e s s e c a d a v e z m a i o r q u e o c a r n a v a l d e s p e-
r
tava, cameçou a i n c e n t i v a r s e u s a l u n o s d a ENBA a p a r t i c i p a r e m
de trabalhos ligados ao carnaval.

" I s t o e r a um c o s t u m e a n t i g o , a n t e r i o r a
m i m . Eu c o m e ç e i a u t i l i z a r mão d e o b r a d a
E s c o l a d e B e l a s A r t e s não no b a r r a c ã o , m a s
no p r o j e t o . E n t ã o p o s s o d i z e r q u e o s 'le
v e i d a E s c o l a p a r a f a z e r o p r o j e t o , n o p r-i
m e i r o momento e r a a m a d o r , mas d e p o i s nos
concursos d e decoração passou a s e r prc
f i s s i o n a l l . . . ) t i n h a um p r o f e s s o r a d a E B A
o Q u i r i n o Campofiorito que, quando o alu-
n o e s t a v a t r a b a l h a n d o num p r o j e t o d e car
naval e l e considerava e s t e projeto t r a b-
ã
lho de aula."
 Fernando Pamplona levou m u i t o s d e s e u s a l u n o s para
t r a b a l h a r em s e u a t e l i e r n a e l a b o r a ç ã o d e p r o j e t o s , até que
o s l e v o u como e q u i p e p a r a o b a r r a c ã o d o S a l g u e i r o , sempre
p r e o c u p a d a em e s t i m u l a r a c o n c o r r ê n c i a , q u e j u l g a v a necessária.

" ( . . . ) l e m b r o quando p r o v o q u e i o David R -i

beiro, o Adir e o Fernando para concor
r e r e m no c a r n a v a l e s e r e m meus adversa
. r i o s , e d e i n a EBA uma a u l a d e c o m o deve
r i a s e r uma d e c o r a ç ã o d e r u a [ . . . I patrõ
c i n e i a equipe de Liana ( S i l v e i r a ) a t z
com m a t e r i a l p a r a c o n c o r r e r e m c o n t r a m i m ,
eu a c h a v a q u e e r a o b r i g a ç ã o d o p r o f e s s o r
não e s c o n d e r s e g r e d o s e s i m c r i a r gente
com p o s s i b i l i d a d e s d e c o m p e t i r . "

Fennanda PampLana

E s t a m e t o d o l o g i a d i d á t i c a sem d ú v i d a f o i benéfica.
A Escola de Belas Artes proporcionava a o s s e u s a l u n o s uma f o r
mação t é c n i c a e a r t i s t i c a e s p e c i a l i z a d a , q u e também i n c l u i a o
conhecimento c u l t u r a l . O trabalho p r á t i c o no c a r n a v a l , fosse
e l e em d e c o r a ç õ e s d e R u a s e B a i l e s , f o s s e e m E s c o l a s d e Samba,
enriquecia e s t e aprendizado, como r e l a t a I s a P a c h e c o , aluna
do c u r s o d e A r t e Decorativa::

" F e r n a n d o P a m p l o n a e r a um d o s professores
de Arte Decorativa(...)com Quirino Campo -
f i o r i t o que r a o t i t u l a r da c a d e i r a , e co
mo e r a d o S a l g u e i r o , e r a m u i t o a b e r t o a :e
sas coisas de carnaval (...I então e le
contagiava os alunos, e nisso entrava tu
do, cor, forma, c r i a ç ã o , passava o conhê
c i m e n t o na p r á t i c a e c o n v i d a v a o s alunoç
a i r e m 5 s E s c o l a s d e S a m b a o b s e r v a r e m p e-s
soalmente(. .. I"

Ida Pacheco

O b a r r a c ã o d o S a l g u e i r o f o i a s s i m uma e s p é c i e de
"faculdade de a r t e s paralela", e ainda hoje os barracões das
E s c o l a s d e Samba p a r t i c i p a m d a f o r m a ç ã o d e m u i t o s p r o f i s s i-
o
nais. A d i f e r e n ç a é q u e n o g r u p o i n i c i a l d e P a m p l o n a h o u v e um
t r a b a l h o de cunho experimental i n é d i t o , que uniu pessoas de
nível universitário entrosando-as no mundo d o s a m b a . ~'Mwitos
d e s s e s a l u n o s p r o s s e g u i r i a m como C a r n a v a l e s c o s e continuari-
am a l e v a r o u t r o s a l u n o s d a E B A p a r a o c a m p o d o c a r n a v a l .

Em 1 9 6 5 , c o m o o e n r e d o " ~ i s t Ó r i a d 0 C a r n a v a l C a r i o c a "
Arlindo convidou João Jorge T r i n t a , bailarino do Teatro M u n-
i
c i p a l e que j á h a v i a p a r t i c i p a d o d e a l g u m a s c o n f e c ç õ e s d e a l-
e
g o r i a s para "Chico Rei", para assumir a p a r t e de execução de
adereços e alegorias.

N e s t e d e s f i l e o S a l g u e i r o s a i u sem o s e u A b r e - A l a s ,
por problemas técnicos, e Pamplona c o l o c o u e n t ã o a s irmãs -
Ma
rinho, p e r s o n a g e n s f a m o s a s na é p o c a , para a b r i r a a p r e s e n t-
a
ção, s e g u i d a s d a C o m i s s ã o d e F r e n t e e d a s B u r r i n h a d e Vime, -
i
dealizadas por Arlindo e brilhantemente executadas por J o ã-
o
z i n h o T r i n t a . Com uma b e l i s s i m a e x i b i ç ã o , o S a l g u e i r o f o i j u -
s
t a m e n t e c o n s a g r a d o Campeão d o I V c e n t e n á r i o .

P e l o s problomas havidos n e s t e ano, Pamplona e A r l i-

n
do sairam do saíram do S a l g u e i r o , sendo s u b s t i t u f d o s por c16
-
v i s Bornay. no c a r n a v a l d e 1966, o que a l t e r o u o e s t i l o de -
a
presentação da Escola e resultou na q u i n t a c o l o c a ç ã o no . c o-
n
curso.

" N ~ Oq u e a e s c o l a e s t i v e s s e f e i a , mas e
que não t i n h a nada que l e m b r a s s e o com
p r o m i s s o com a o u s a d i a e a i m a g i n a ç ã o do:
a n o s a n t e r i o r e s . E r a uma e s c o l a a c a d ê m-i
c a no p i o r s e n t i d o do t e r m o . " C 1 7 1

De v o l t a a o S a l g u e i r o em 1 9 6 7 , sem O s m a r V a l e n ç a n a
Presidencia, a d u p l a P a m p l o n a e A r l i n d o propõem o e n r e d o " H i-
s
t á r i a d a L i b e r d a d e no B r a s i l " . D a t a d e s t a % p o c a , em f u n ç ã o d a

C171 COSTA, HAROLDO, idem o p . c i t . p l 6 4

g r a v e c r i s e f i n a n c e i r a do S a l g u e i r o , a antológica frase de
Pamplona: "Tem q u e s e t i r a r d a c a b e ç a o q u e n ã o s e t e m n o b o-
i
so". N e s t e mesmo a n o P a m p l o n a v e n c e u o c o n c u r s o d e D e c o r a ç ã o
d e Rua e o T e a t r o M u n i c i p a l , acumulando o s t r ê s t r a b a l h o s que
a b s o r v e r a m v á r i o s a l u n o s d a EBA.

O Salgueiro obteve a terceira colocação, e a -

Man
gueira o primeiro lugar, com o e n r e d o d e J u l i o M a t t o s " O -
Mun
do Encatado d e Monteiro Lobato". Diante das dificuldades e-
n
frentadas, a terceira c o l o c a ç ã o n ã o f o i c o n s i d e r a d a um mal
resultado. A E s c o l a t e r m i n a v a o c a r n a v a l com g r a n d e s dívidas
e n e s t e ano Pamplona i n v e s t e q u a s e t o d o o d i n h e i r o ganho com
a s premiações que o b t i v e r a para a j u d a r a Escola.

Em 1 9 6 8 , c o n t a n d o n o v a m e n t e com M a r i e L o u i s e Nery,
como f i g u r i n i s t a , o e n r e d o p r o p o s t o p o r P a m p l o n a e A r l i n d o s-
e
r i a "D.Beija, A F e i t i c e i r a do Araxá", e o Salgueiro n o v a r n e-
n
t e obteve a terceira c o l o c a ç ~ o .

Em 1 9 6 9 u m n o v o m e m b r o c o m e ç a a t r a b a l h a r n a e q u i p e
d e Pamploa, ainda que indiretamente. A l u n a d a EBA, Maria A-
u
gusta Rodrigues confeccionava n e s t e ano o s adereços de d e c-
o
r a ç ã o p a r a o Hotel Copacabana P a l a c e , no p r o j e t o d e Pamplona
e Arlindo. E s t e s mesmos a d e r e ç o s s e r v i r a m p a r a o c a r n a v a l do
Salgueiro, associados aqueles executados por Joãozinho T r i-
n
ta. P a r a Maria Augusta não s e r i a a p r i m e i r a e x p e r i ê n c i a , v i-
s
t o q u e p o r i n d i c a ç ã o d e P a m p l o n a j á t r a b a l h a r a como F i g u r i n i -
s
t a d o império d a T i j u c a , com o e n r e d o " O N e g r o Na C i v i l i z-
a
ção B r a s i l e i r a " .

No c a r n a v a l d e 1 9 6 9 , com o e n r e d o "Bah5-a d e Todos

OS Deuses", em q u e uma s u r p r e e n d e n t e I e m a n j á confeccionada
p o r A r l i n d o Rodrigues e acompanhada d e t o d o s o s elementos da
mitologia afro-brasileira, f o i o S a l g u e i r o c o n s a g r a d o campeão.
A Bahia desfilou completa nas c o r e s vermelho e branco do S a-
l
 gueiro, d e s c r i t a m i n u c i o s a m e n t e p o r s e u s C a r n a v a l e s c o s e a p o-
i
a d a na f o r ç a do c a n t o e d a d a n ç a d e s e u s componentes.

" C o n f e c c i o n a d a em " p a p i e r m a c h é " prateado

1 e m a n j ã e s t a v a s e n t a d a num m a r d e rosas,
pratas e outras oferendas, e , cercando-a,
a c a s c a t a d e s o l , p e q u e n o s e n u m e r o s o s e?
p e l h o s que deram ao c o n j u n t o o t o q u e de
l u z d e s e j a d o p e l o a r t i s t a . Desde que s a i u
da C a n d e l á r i a , Arlindo i a e vinha -
acom
panhando o c a r r o . "(181

E s t a a l e g o r i a d e A r l i n d o R o d r i g u e s f o i um m a r c o no
d e s f i l e d a s E s c o l a s d e Samba, acompanhada dos a d e r e ç o s que
representavam a s comidas t i p i c a s e oferendas, reforçados por
um b e l i s s i m o s a m b a c u j o r e f r ã o :

" O i n a l a d e i h a Zem,
Tem c a p a e i n a
Zum zum zum
Zum zum zum
C a p a e i h a maza um. " í 1 9 1
somavam o s r e q u i s i t o s p a r a a p e r f e i t a h a r m o n i a d o d e s f i l e q u e
deu ao S a l g u e i r o o t i t u l o .

Encerrava-se a dezada de 60, com a s g r a n d e s trans -

f o r m a ç õ e s i n t r o d u z i d a s p e l o S a l g u e i r o e po-r s e u s C a r n a v a l e-
s
cos. Em t o d o s o s a s p e c t o s f o i uma d é c a d a r i c a d e n o v o s e l e m e -
n
t o s q u e a f e t a r a m a t o d a s a s E s c o l a s d e Samba, e atraíram pes
s o a s i n t e r e s s a d a s em t r a b a l h a r n o c a r n a v a l como c a m p o d e ex-
pressão a r t i s t i c a .

"Se não t i v e s s e havindo A r l i n d o R o d r i g u e s ,

~ o ã o z i n h oT r i n t a , P a m p l o n a , M a r i a A u g u s t a ,
h a v e r i a m o u t r o s , p o r q u e é m a i s ou menos
p o r a i , c o m o a g a l i n h a e o o v o , o m a t e r- i
a1 ajuda a progredir a solução técnica e
e l a e x i g e que h a j a novos m a t e r i a i s para
que você possa faze.r a r e v o l u ç ã o estéti -
ca. l'

F e h n a n d a PampLana

L191 S a m b a - e n r e d o do S a l g u e i r o , "Bahia d e Todos o s Deuses" do

ano d e 1969.
 ÿ evolução e s t a q u e sem d ú v i d a , no t r a b a l h o i n i c i a d o
no S a l g u e i r o p e l o c a s a l N e r y , A r l i n d o e Pamplona, resultou em
muitos caminhos que foram e x p l o r a d o s , a t r a v é s da competência
e c r i a t i v i d a d e dos Carnavalescos e de sua integração defini
tiva à s E s c o l a s d e Samba.

2.2.1 - ASPECTOS GERAIS

A década de 70 dá prosseguimento à s transformaçÕes

i n i c i a d a s n a d é c a d a a n t e r i o r no c a r n a v a l d a s E s c o l a s d e -
Sam
ba. O Rio d e J a n e i r o passou por alterações urbanas e a fase
d o g o v e r n a d e d i t a d u r a m i l i t a r r e u n i r i a o p o v o em t o r n o de
m a n i f e s t a ç õ e s c o l e t i v a s como f u t e b o l , religiões e o carnaval.

H; um m o v i m e n t o d e o u t r o s s e g m e n t o s d a s o c i e d a d e em
direção à s E s c o l a s d e Samba, e e s t a s atendem 5 p r o c u r a . A s
q u a d r a s s e abrem e formam-se a l a s com m o r a d o r e s d a Z o n a Sul
da cidade, r o m p e n d o com a e s t r u t u r a d e f o r m a ç ã o d e a l a s e-
x
c l u s i v a de pessoas r e s i d e n t e s nos morros e nos subúrbios, e
r o m p e n d o t a m b é m com a f i d e l i d a d e d o s c o m p o n e n t e s a uma s ó E-
s
cola, f a c i l i t a n d o o t r â n s i t o d e s t e s e n t r e v á r i a s AgremiaçÓes.

A s E s c o l a s d e Samba s e e n c o n t r a m d i a n t e d a n e c e s s-
i
dade de ampliarem seus espaços para ensaios, a c o m o d a n d o a m a-
s
s a cada vez maior de pessoas a t r a í d a s pelo carnaval. A -
Man
g u e i r a c o n s t r o i o P a l á c i o d o Samba, a Portela aluga a quadra
d e e s p o r t e s do Botafogo Futebol e Regatas, e tzn?bém c o n s t r o i
o Portelão, em M a d u r e i r a . Império Serrano e Salgueiro também
atraem grande pÚblico, e ampliam s u a s q u a d r a s . E s c o l a s d e Sam
ba c o n s i d e r a d a s " p e q u e n a s " como a U n i ã o d a I l h a d o G o v e r n a d o r
e a B e i j a F l o r d e ~ i l ó p o l i sp a s s a m p o r u m p r o c e s s o d e c r e s c-i
mento v e r t i g i n o s o n e s t a década, no q u e s ã o a c o m p a n h a d a s pela
Mocidade Independente d e Padre Miguel e p e l a I m p e r a t r i z L e-
o
poldinense.
E s t a s c i r c u n s t â n c i a s o r i g i n a r a m uma n o v a m e n t a l i d a -
de p r i n c i p a l m e n t e p a r a o s d i r i g e n t e s d a s E s c o l a s d e Samba, a
mentalidade "empresarial", q u e s e e x p a n d i r á na d é c a d a d e 20,
c o n t a n d o a i n d a com a c r e s c e n t e i m p o r t ã n c i a d o s P a t r o n o s no
financiamento dos d e s f i l e s . Dentre eles, alguns cuja a t i v i d-
a
d e não tem r e c o n h e c i m e n t o legal, o Jogo do Bicho, investiram
m a c i ç a m e n t e no crescimento d a s E s c o l a s d e Samba,detonando um
processo de ampliação que s e estendeu a t é o s d i a s a t u a i s .

A presença destes individuos, normalmente chamados

"Banqueiros" não f o i nenhuma novidade, v i s t o q u e um d o s g r a-
n
d e s l i d e r e s c o m u n i t ~ r i o s , também ligado ã e s t a a t i v i d a d e , N a t-
a
lino dos Santos, ou N a t a l , por muitos anos s e dedicou a P o-
r
t e l a e é uma f i g u r a m i t i c a d e s t a a g r e m i a ç ã o .

Sob o a s p e c t o m u s i c a l e r í t m i c o d a s E s c o l a s d e -
Sam
ba e s e u s d e s f i l e s , a s modificações que ocorreram n e s t a d é c-
a
da basearam-se em t r ê s f a t o r e s :

1. Tempo d e d e s f i l e e t s b a l e c i d o e a c r o n o m e t r a g e m i-
n
tegrada ao regulamento. O ritmo das Baterias t o-
r
na-se mais rápido, bem c o m o o d e s f i l a r d o s c o m p o n e-
n
tes, com a l a s m a i s c o m p a c t a d a s e n u m e r o s a s .

2. 0 s s a m b a s d e e n r e d o d e m e n o r t a m a n h o t e m uma c a p t-
a
ç ã o e memorização m a i s i m e d i a t a do pÚblico.

3. O i n t e r e s s e c r e s c e n t e d a s g r a v a d o r a s no d i s c o das
E s c o l a s d e Samba, cujo primeiro exemplar f o i g r a v-
a
d o em 1 9 6 8 .

Nesta década o e s p a ç o c ê n i c o do d e s f i l e busca sua

localização definitiva, e s ã o e x p e r i m e n t a d o s l o c a i s como a
Avenida P r e s i d e n t e Antonio C a r l o s , a t é s e r decidido o local
d e f i n i t i v o n a Rua M a r q u ê s d e S a p u c a i .
 Um f a t o i m p o r t a n t e p a r a a s E s c o l a s d e Samba f o i a
u n i f i c a ç ã o d e s t a s n a A s s o c i a ç ã o d a s E s c o l a s d e Samba d a Gua-
nabara, unica representante oficial, qu.e m a i s t a r d e s e tor
nou a A s s o c i a ç ã o d a s E s c o l a s d e Samba d o R i o d e J a n e i r o , a
AESCRJ.

A s p r ó p r i a s E s c o l a s c o m e ç a m a s e p r e o c u p a r com as
a l t e r a ç õ e s que s e processam cada vez mais rápidas, e a d é c-
a
d a d e 7 0 s e r i a r i c a em q u e s t i o n a m e n t o s e d i s c u s s Õ e s n e s t e s e-
n
tido. Afirmando-se como m a n i f e s t a ç õ e s i n t e g r a d a s a o carnaval
c a r i o c a e c a d a v e z o b t e n d o um e s p a ç o m a i o r , c o n s c i e n t i z a m - - se
d e s u a i m p o r t ã n c i a não s ó como m a n i f e s t a ç ã o p o p u l a r , m a s como
grande espetáculo público.

A i d e n t i f i c a ç ã o e n t r e componente e E s c o l a s e d á pe-
lo interesse por e l a despertado, mas s u a i d e n t i d a d e , elabora-
da nas década a n t e r i o r e s torna-se marca r e g i s t r a d a . Suas c-
o
res, a batida de sua bateria, sua bandeira, f u n c i o n a m como a s
marcas i d e n t i f i c a d o r a s de cada escola, e ultrapassam as l i m -i
t e s urbanos e comunitários a que pertenciam.

Uma e s c o l a como a U n i ã o d a I l h a , s i t u a d a na zona

n o r t e num b a i r r o g e o g r a f i c a m e n t e i s o l a d o é u m e x e m p l o d e s t a -
i
d e n t i f i c a ç ã o que ultrapassou o s limites do b a i r r o da I l h a do
Governador. C o n s a g r a d a como E s c o l a " p o p u l a r " , a t r a i u um gran
de contingente jovem,residente em o u t r o s b a i r r o d a c i d a d e , i-
n
c l u i n d o a zona s u l . 0s c r i t é r i o s desta atração e empatia f-
a
zem p a r t e d o c l i m a c o s m o p o l i t a q u e m a r c o u a d é c a d a d e 7 0 , em
que o s l i m i t e s urbanos pouco s i g n i f i c a v a m , e a s Escolas eram
e s c o l h i d a s p e l a s c a r a c t e r í s t i c a s que a s marcaram e a s d e f i n-
i
ram.

A revolução e s t é t i c a i n i c i a d a nos d e s f i l e s da d é c-
a
d a a n t e r i o r toma novos rumos, e do g r u p o d e Pamplona e Arlin -
 do saem novos C a r n a v a l e s c o s que vão d e s e n v o l v e r novos t r a b-
a
l h o s em o u t r a s E s c o l a s . Por outro lado, surgem novos C a r n a v-
a
lescos externos a e s t e grupo, e a dêcada de 70 p o l a r i z o u d o i s
g r a n d e s nomes: Joãozinho T r i n t a e Fernando Pinto. Novas l i-
n
guagens e d i r e c i o n a m e n t o s t e m á t i c o s deram a t Ô n i c a d i v e r s i f-
i
cada aos enrêdos d e s t a década, d a n d o c o n d i ç õ e s a o s C a r n a v a l e-
s
tos de novas e x p e r i ê n c i a s e explorações.

Na d é c a d a d e 7 0 o C a r n a v a l e s c o p a s s a a s e r d e s i g n-
a
do o f i a l m e n t e p o r e s t e t e r m o , rompendo a b a r r e i r a do anonima
t o e marginalidade a que estava submetido. Sem d u v i d a t o r n-
a
s e um p e r s o n a g e m i r n p r e s c i n d i v e l p a r a a s E s c o l a s d e Samba, e
um a g e n t e a t i v o d e m u i t a s t r a n s f o r m a ç õ e s .

2.2.2 - A CONTINUIDADE D O GRUPO DE PARPLONA

" H o j e t e m ieclta na a l d e i a ,
quem y u i n e n pode c h e g a n ,
t e m fieinado a naLAe i n t e i n a
e Sugueina pfia queiman.
N o n n o n e i v e i o d e Longe
pha poden no6 v i n i t a n ,
que b e l e z a
a n a b t e z a que v i n i t a o g a n g ã . " ( 2 0 1

Novamente r e t o r n a r e m o s , depois de breve exposição

. do que f o i a década d e 70, ao g r u p o d e Pamplona e Arlindo.Ten -
do r e u n i d o na década a n t e r i o r p r o f i s s i o n a i s d e d i v e r s a s ã r e a s
no campo d e t r a b a l h o o f e r e c i d o p e l a s E s c o l a s d e Samba, este
grupo c o n t i n u a r i a absor'vendo pessoas interessadas e p r o d u z i-
n
do n o v o s L a r n a v a l e s c o s .

E m 1 9 7 0 a P o r t e l a v e n c e u o d e s f i l e com o e n r ê d o W L e n -
d a s e ~ i s t é r i o sd a ~ m a z ô n i a " , d o s C a r n a v a l e s c o s C l ó v i s B o r n a y

C201 S a m b a e n r ê d o d o S a l g u e i r o , " F e s t a p a r a Um R e i N e g r o " do

c a r n a v a l de 1971.
 E m 1 9 7 0 a P o r t e l a v e n c e u o d e s f i l e com o e n r ê d o n l e-
n
d a s e M i s t é r i o s d a AmazÕnia",dos C a r n a v a l e s c o s C l ó v i s Bornay
e Arnaldo Pederneiras. P a m p l o n a e A r l i n d o f a z e m no Salgueiro
o e n r ê d o " P r a ç a Onze, C a r i o c a d a Gema", obtendo o segundo l-
u
gar. F o i um c a r n a v a l q u e r e t r a t o u f i e l m e n t e o e s p í r i t o c a r i-
o
ca, i n c l u s i v e em s e u Ú l t i m o c a r r o a l e g ó r i c o , que r e p r e s e n t-
a
v a um B a r r i l d e C h o p e q u e d i s t r i b u i a a b e b i d a a o p ú b l i c o , até
que a p o l í c i a suspendeu t ã o r e a l i s t i c a representação.

O enredo.de 1971, " F e s t a P a r a um R e i N e g r o " , nasceu

d e uma p e s q u i s a f e i t a p o r M a r i a A g u s t a R o d r i g u e s s o b r e N a u r-
i
c i o de Nassau e a v i s i t a dos p r í n c i p e s a f r i c a n o s a Pernambuco.
Arlindo Rodrigues j á h a v i a t i d o uma i d é i a s e m e l h a n t e , e unin-
do ambas a s f o n t e s , estabeleceram o direcionamento temático.

N e s t e a n o e n t r o u p a r a o g r u p o Rosa M a g a l h ã e s , aluna
do c u r s o d e P i n t u r a d a E s c o l a d e B e l a s A r t e s , a convite de
Maria Augusta, para desenhar figurinos, e por sua vez Rosa
convidou L i c i a Lacerda. P o s t e r i o r m e n t e a s d u a s c o n c o r r e r a m em
decorações de rua, e s t i m u l a d a s p o r Pamplona. Diferente das
e x p e r i ê n c i a s de Maria Augusta e Rosa, Licia Lacerda i n i c i o-
u
s e c o m o C a r n a v a l e s c a a t r a v é s d o c o n t a t o d i r e t o com o b a r r a c ã o
do S a l g u e i r o , t r a b a l h a n d o com J o ã o z i n h o T r i n t a .

11
A p a r t e de adereço e r a coordenada por J-o
ã o z i n h o T r i n t a , uma p e s s o a i n c r í v e l que
t i r a v a do nada a i d é i a p a r a o c a r n a v a l , e
a c h o q u e meu a p r e n d i z a d o n ú m e r o um foi
com e l e ( . . . ) F o i uma c o i s a m u i t o i m p o r t a n
t e o grupo d e Pamplona, porque você t i n h ã
a teoria e a prática( ... I"
Licia Lacenda

N e s t a mesma é p o c a , Max L o p e s i n i c i o u s e u s c o n t a t o s
com o b a r r a c ã o d o S a l g u e i r o , a i n d a c h e f e d e Ala. mas já inte -
r e s s a d o no campo q u e m a i s t a r d e - o t o r n a r i a um d o s m a i o r e s C a-
r
navalescos.
 O d e s f i l e do S a l g u e i r o , com o e n r e d o " F e s t a P a r a U m
Rei Negro" introduziu inovações significativas, relacionadas
sobretudo 2s a l e g o r i a s e a d e r e ç o s d e m ã o . Da c r i a t i v i d a d e de
~ o ã o z i n h oT r i n t a , m e s t r e na imporvisação d e m a t e r i a i s e for
mas, s u r g i r a m o s e l e m e n t o s v i s u a i s do e n r ê d o .

Pela primeira vez f o i utilizado o isopor para -

con
f e c ç ã o d a s a d e r e ç o s d e mão, um m a t e r i a l l e v e , d e f á c i l manip-
u
l a ç ã o e i n é d i t o no c a r n a v a l . De p r a n c h a s d e i s o p o r e - bóias
foram f e i t o s d i v e r s o s elementos para o d e s f i l e , e isto a l t-
e
rou s u b s t a n c i a l m e n t e o impacto v i s u a l do d e s f i l e . estabelecen -
d o uma nova linguagem, a t é então inédita. A s formas, a b s o l u t-
a
mente c a l c a d a s na r e a l i d a d e a f r i c a n a , através de escudos e
totens, c r i a v a m uma ? o r ç a de representação antes desconhecida.

O Salgueiro conquistou o campeonato, seguido pela

Portela, como o e n r e d o " L a p a em p rês T e m p o s , dos Carnavales -
cos Arnaldo Pederneiras e Iarema, e o Império Serrano o b t-
e
ria o terceiro lugar, com o e n r ê d o " N o r d e s t e , Seu Povo, Seu
Canto, Sua GlÕria". d e um p e r n a m b u c a n o recém chegado ao Rio ,
q u e e s t r e a v a no C a r n a v a l C a r i o c a , chamado F e r n a n d o P i n t o .

A década d e 70 começava a d i v i d i r a s a t e n ç õ e s e n t r e
os Carnavalescos, não só p o r q u e o s membros d a e q u i p e d o S a-l
gueiro partiram para outras Escolas, mas também p e l o apareci -
mento d e novos C a r n a v a l e s c o s . Em t o r n o d e F e r n a n d o P i n t o e
~ o ã o z i n h oT r i n t a i r i a m s e u n i r n o v o s p r o f i s s i o n a i s , num prg
c e s s o d e a p r e n d i z a d o e f o r m a ç ã o s e m e l h a n t e a q u e l e o c o r r i d o no
grupo de Pamplona e A r l i n d o .

?i i m p o r t a n t e o b s e r v a r q u e a e n e r g i a c r i a t i v a p o l a r-
i
z a d a no S a l g u e i r o e x p a n d i u - s e sem e n f r a q u e c e r ou d i l u i r . -
Come
ç a r i a e n t ã o a e x i s t i r uma c o m p e t i ç ã o e n t r e o s p r o f i s s i o n a i s ,
em c o n j u n t o com a c o m p e t i ç ã o d a s E s c o l a s d e S a m b a , em q u e pe
savam a s h a b i l i d a d e s e c o m p e t e n c i a d o s C a r n a v a l e s c o s .
 Em 1 9 7 2 o 1 m p 6 r i o S e r r a n o v e n c e u o c a r n a v a l com o
e n r e d o " A ~ ÕA ~ Ô , T a i Carmem M i r a n d a " , de Fernando P i n t o e Ge-
raldo Cavalcanti. O Salgueiro n e s t e ano obteve a q u i n t a c o l-
o
c a ç ã o no d e s f i l e , com o e n r e d o " M a n g u e i r a , M i n h a M a d r i n h a Q u-e
rida", e s c o l h i d o p o r A r l i n d o e Pamplona e que d e s d e s u a prg
p o s i ç ã o n ã o t i v e r a uma b o a a c o l h i d a p e l a E s c o l a . Diante da
r e a ç ã o v i o l e n t a da comunidade, q u e i n c l u i u um e n t e r r o s i m b o l-i
co dos dois Carnavalescos, ambos r e s o l v e r a m d e i x a r o S a l g u e-i
r o n a q u e l e mesmo a n o .

2.2.3 - J O Ã O Z I N H OTRINTA - D O SALGUEIRO A B E I J A FLOR

r r B a i l o u no ah
a ecoan d e um c a n f a de a l e g h i a !
Tn& pninceaaa aanicanas
na aagnada Bahia
72 b a l á , iá d e f ã , i á naaaz
Cantanum aanim a t n a d i ç ã o nagâ " [ 2 I1 .
P o r d e c i s ã o d e Osmar V a l e n ç a , para o enrêdo de 1973
não s u b s t i t u i r i a s e u s C a r n a v a l e s c o s p o r p r o f i s s i o n a i s d e f o r a ,
e sim o p t a r i a m p e l o a d e r e c i s t a q u e j á t r a b a l h a v a a m u i t o -
tem
po n a E s c o l a , Joãozinho Trinta.

~ o ã oJ o r g e T r i n t a c o m e ç o u s u a p r o f i s s i o n a l i z a ç ã o n o
g r u p o de Pamplona e A r l i n d o . N a s c i d o no Maranhão v e i o p a r a o
Rio d e J a n e i r o t e n t a r ser b a i l a r i n o do T e a t r o Municipal, e-
n
t r a n d o em c o n t a t o com a e s f e r a c e n o g r á f i c a e com o s p r o f i s s i o -
n a i s que o levariam para o Salgueiro.

"O grupo de Fernando Pamploa,Arlindo Ro

d r i g u e s e eu t r a b a l h a v a no t e a t r o M u n i c-
T
p a l , P a m p l o n a e A r l i n d o como c e n ó g r a f o s e
e u como b a i l a r i n o d e T e a t r o , mas sempre
i n t e r e s s a d o no g l o b a l do e s p e t á c u l o [ . . . I
em t e r m o s d e c e n o g r a f i a , c a r p i n t a r i a , f e -r
ragens, contra-regra, f u i chefe de guar
da-roupa e d e p o i s a s s i s t e n t e do ~ e a t r õ

[21) S a m b a e n r e d o d a B e i j a F l o r d e ~ i l ó p o l i s" c r i a ç ã o d o -
Mun
d o na T r a d i ç ã o NagÔ" p a r a o a n o d e 1 9 7 8
 Municipal, j á encarregado d e montagens de
Ó p e r a e n e s t e c o n t a t o com F e r n a n d o P a m p l -
o
na e A r l i n d o Rodrigues j á p a r t i c i p a v a de
decoração de c a r n a v a l (...)em 1963 foi
meu p r i m e i r o c o n t a t o com o S a l g u e i r o , com
o A r l i n d o , j á que o Pamplona t i n h a viaja
d o p a r a a E u r o p a - no c a r n a v a l d a " ~ h i c ã
d a S i l v a " - e d e p o i s d i s s o n ã o me d e s l- i
guei mais de carnaval."

Segundo r e l a t o u Joãozinho T r i n t a , no c a r n a v a l de
1973 e l e trabalho junto com M a r i a A u g u s t a R o d r i g u e s . A idéia
d o e n r e d o f o i uma h o m e n a g e m Eneida, e os figurinos foram
desenhados por Maria Augusta, enquanto Joãozinho Trinta c u-i
dou d a p a r t e d e a l e g o r i a s e a d e r e ç o s . O enredo "Eneida Amor
e Fantasia" l e v o u p a r a a a v e n i d a uma b e l a h o m e n a g e m à j o r n-
a
l i s t a e um f i e l r e t r a t o d a h i s t ó r i a d o C a r n a v a l C a r i o c a . Seus
b a i l e s de máscaras, blocos d e s u j o s do Rio a n t i g o , e um e-
x
plendido Pierrot, d e s e n h a d o p o r um f i g u r i n i s t a , que mais t a-
r
d e s e r i a também C a r n a v a l e s c o , Virato Ferreira,deram ao Sal
gueiro a t e r c e i r a colocação.

N ~ f
O o i n e s t e ano portanto, a estréia de ~oãozinho
T r i n t a como u n i c o C a r n a v a l e s c o d a E s c o l a , c o m o e l e mesmo c o-
n
ta, posição está s ó a s s u m i d a em 1 9 7 4 .

" F i q u e i p r a t i c a m e n t e s o z i n h o em t e r m o s de
c a r n a v a l , acompanhado' d e M a r i a Augusta,
mas n a v e r d a d e n e s s e a n o e u a s s u m i t o t a-
l
m e n t e a p o s i ç ã o d e C a r n a v a l e s c o com o en
r e d o " O Rei d e F r a n ç a na I l h a d a A s s o m b r ã
ç ã o " q u e e r a um t e m a s o b r e a i n v a s ã o f r a n
c e ç a n o M a r a n h ã o , m i n h a t e r r a , com toda:
a s s u a s h i s t ó r i a s de assombraçÓes que eu
guardava desde a infância."

Com e s t e e n r ê d o , em 1 9 . 7 4 , sem M a r i a A u g u s t a , João-

zinho T r i n t a convidou V i r i a t o F e r r e i r a para desenhar o s figu-
rinos. V i r i a t o já t i n h a e x p e r i ê n c i a n ã o só de carnaval, m a's
também d o T e a t r o d e R e v i s t a , como e l e mesmo c o n t a :

" ( . . . l t i v e i n f l u ê n c i a d e um figurinista
chamado A e l s o n , q u e e r a do T e a t r o d e Re
v i s t a d e W a l t e r P i n t o , s e m e t e u em Esc;-
l a d e Samba e a t é j á f a l e c e u ; d e p o i s A r
l i n d o R o d r i g u e s , q u e e r a uma p e s s o a
eu admirava muito."

E s t e c o n h e c i m e n t o d o T e a t r o d e R e v i s t a d a r i a a V i r -i
ato, p o r i n f l u ê n c i a do f i g u r i n o t e a t r a l , um e s t i l o p r ó p r i o e
elegante. Não s e r i a n e s t e a n o q u e e l e t r a b a l h a r i a a t é o f-
i
n a 1 d o c a r n a v a l com J o ã o z i n h o T r i n t a , por razões de saúde i-
n
dicou para seu l u g a r aquele que o influenciou: Aelson T r i n d-
a
de.

~ o ã o z i n h oT r i n t a n o c a r n a v a l d e 1 9 7 4 i n t r o d u z i u -
mo
d i f i c a ç õ e s f u n d a m e n t a i s na a p r e s e n t a ç ã o d a E s c o l a . Teve a
i d e i a d e c o l o c a r em c i m a d o s c a r r o s a l e g ó r i c o s o s Destaques
da Escola, e c o n c e b e u a d e r e ç o s d e mão e c h a p é u s m a i s a l t o s , o
que v e r t i c a l i z o u a v i s u a l i z a ~ ~d oo s d e s f i l e s , junto com os
c a r r o s q u e também s e r i a m r e d i m e n s i o n a d o s . Joãozinho Trinta i-
n
t r o d u z no c a r n a v a l d a s E s c o l a s d e S a m b a uma n o v a v i s ã o r e l-
a
cionada a concepção t e a t r a l do e s p e t á c u l o .

"Com e s s a v i s ã o t e a t r a l , s o b r e t u d o e s s a vc- i
s ã o d e q u e o d e s f i l e é um e s p e t á c u l o au
d i o v i s u a l , f o i q u a n d o começou a s e a l t-e
r a r e s t e s e n t i d o d e harmonia separado, da
mesma m a n e i r a c o m o s e s e p a r a uma ópera,
s e e n s a i a o c o r p o d e b a i l e s e p a r a d o , a 02
questra separada, o coral, a cenografia e
f e i t a ã p a r t e . Mas t u d o i s s o s o b a d i r-
e
ç ã o g e r a l d e um d i r e t o r , a í s i m , cpmeça
a d e s p o n t a r a f i g u r a do Carnavalesco, a
quele coordenador, para que de repente
não a c o n t e c e s s e -samba do c r i o u l o d o i d o . "
 E s t a c o n c e p ç ã o d e e l a b o r a ç ã o d o d e s f i l e como uma
o p e r a p o p u l a r de r u a s u r g e não s Õ do planejamento de J o ã o z-
i
nho T r i n t a , com r e l a ç ã o 5 m o n t a g e m d o d e s f i l e , m a s d e uma n-
e
cessidade de ordenação que funcionasse d e n t r o s das novas d-
i
menções q u e a s E s c o l a s e o e s p e t á c u l o tomavam.

A f u n ç ã o d e o r d e n a r o d e s f i l e c o n f o r m e um roteiro
preestabelecido sempre t e v e , na f i g u r a do D i r e t o r d e H a r m-
o
nia seu principal executor. Com o c r e s c i m e n t o d o contingente
humano e a c o m p l e x i d a d e d o d e s f i l e , tornou-se necessário não
s ó a u m e n t a r o n ú m e r o d e D i r e t o r e s d e H a r m o n i a , m a s t a m b é m c o-
u
b e a o C a r n a v a l e s c o d i v i d i r e s t a a t r i b u i ç ã o com a q u e l e s r e-
s
ponsáveis por e s t e setor. O a s p e c t o t é c n i c o d a montagem do
d e s f i l e m u i t o s e a s s e m e l h a a uma b p e r a , e e s t a semelhança s-
e
r i a explorada por Joãozinho Trinta.

"Mas a t é 7 5 , o D i r e t o r d e H a r m o n i a e r a m u i
t o i m p o r t a n t e n a s E s c o l a s d e Samba. P a;-
p l o n a , A r l i n d o e M a r i e L o u i s e Nery eram
os a r t i s t a s que estavam ajudando. Já em
7 4 , e s s a m i n h a n o v a v i s ã o t e a t r a l me l e
vou a f a z e r mudanças f u n d a m e n t a i s , c o m o a
c o l o c a ç ã o d o s d e s t a q u e s em c i m a d o s c a-r
r o s a l e g ó r i c o s , não s ó p a r a f a c i l i t a r a
m e l h o r c o l o c a ç ã o d e s t e s d e s t a q u e s em t e r
mos d e u m v i s u a l q u e t i n h a s e m o d i f i c a d o -
[ . . . ) e também o s c a r r o s a l e g ó r i c o s come
çaram a c r e s c e r ( . . . I e essas mudanças
com a d i n â m i c a q u e s e o p e r o u com o espe
t á c u l o á u d i o - v i s u a l , com a q u e l a v i s ã o de
começo-meio-fim, t u d o i s s o começou a dar
2 E s c o l a s d e S a m b a uma o u t r a g r a n d i o s i d a -
de, novas dimensões."

João z i n h o T n i n t a

A i m p o r t â n c i a do D i r e t o r d e Harmonia na E s c o l a de
Samba n ã o f o i d i m i n u í d a , mas s i m o p o s i c i o n a m e n t o d o Carna -
valesco 6 que f o i modificado, a p a r t i r d a mundança d e s u a v-
i
s ã o d e montagem d o d e s f i l e . 0 s elementos observados por João -
zinho T r i n t a e s t ã o sobretudo relacionados ao espaço cênico.Na
Avenida P r e s i d e n t e Vargas, com a s a r q u i b a n c a d a s q u e elevaram
o publico, e s t e e s p a ç o n o v o r e m e t e o d e s f i l e a uma v i s u a l-
i
zação verticalizada. D i a n t e d e s t e novo p o s i c i o n a m e n t o do ob
servador, f o r a m f e i t a s a s a d e q u a ç õ e s com a d e r e ç o s d e mão m a i s
longos, chapéus e esplendores maiores e c a r r o s alegÓricos
mais a l t o s e maiores.

A a l t e r a ç ã o i n t r o d u z i d a p e l o c a s a l N e r y em 1 9 5 0 , f -
a
z e n d o a d e r e ç o s d e mão i n s p i r a d o s em s o m b r i n h a s d o f r e v o , r e p-
e
te-se a g o r a d e uma m a n e i r a s u p e r d i m e n s i o n a d a . Não f o r a m os
a d e r e ç o s d e mão t r a n s f o r m a d o s p o r J o ã o z i n h o T r i n t a a p e n a s pz
r a s e tornarem mais vistosos, mas p o r q u e t i n h a m também um
p a p e l na composição do d e s f i l e . O planejamento d o p e s o e e q u-
i
l i b r i o d e t o d o s o s e l e m e n t o s v i s u a i s d e t e r m i n o u uma a p r e s e n t -
a
ç ã o t o t a l m e n t e d i f e r e n t e d a q u e l a de 16 a n o s a t r á s .

P o r c o i n c i d ~ n c i a , J o ~ o z i n h To r i n t a b u s c o u um - novo
caminho p a r a a t e m ã t i c a d e enrêdo, como f e z o c a s a l N e r y , e
a t r a v é s d e um t r a t a m e n t o o n i r i c o , l i b e r t o de entraves, deu a
u m f a t o h i s t ó r i c o um e n f o q u e d e f a n t a s i a a b s o l u t a . P o i s a v-
i
s ã o q u e t i n h a o m e n i n o L u i s XII d a q u e l a t e r r a d i s t a n t e , rica
e misteriosa deveria s e r fantástica.

"(...lno c a r n a v a l d e 7 4 e u s a i c o m p l e t a m e-
n
t e d a v i s ã o r e t i l i n e a , do t r a t a m e n t o li
n e a r dado a o s enrêdos, que sempre f a l a v a m
de h i s t ó r i a do B r a s i l ( . . . I embora Narie
L o u i s e e Pamplona j á t i v e s s e m começado a
a l t e r a r e s s e s e n r e d o s com a p r e s e n ç a da
f i g u r a humana d o n e g r o , n a homenagem a
Debret [...I e n o m o m e n t o em q u e o enrê
do f o i desenvolvido a t r a v é s da v i s ã o de
~ u i sXII ( . . . I em s u a v i s ã o d e c r i a n ç a ,
e l e mistura o que s e r i a o t r o p i c a l com
uma c o r t e f r a n c e s a ( . . . ] "

~imultãneamente,outro Carnavalesco, Fernando P i-

n
to, também s e l i b e r t a v a d o h i s t o r i c i s m o d o s e n r ê d o s , a p r e s e-
n
t a n d o no a n o a n t e r i o r "Viagem E n c a n t a d a P i n d o r a m a a D e n t r o " ,
com o I m p é r i o S e r r a n o . A u t i l i z a ç ã o da temática lendária não
é i n é d i t a , v i s t o q u e a P o r t e l a em 1 9 7 0 g a n h o u o c a r n a v a l com
o e n r ê d o "Lendas e M i s t é r i o s do Amazonas", mas o q u e difere-
n
c i o u f o i o t r a t a m e n t o dado p o r Joãozinho T r i n t a ao i m a g i n á r i o
f o l c l Ó r i c o maranhense, adicionando a e s t e elementos da cultu-
r a francesa.

" ~ a m b é m s e c o l o c a como e n r ê d o uma constan

t e do f o l c l o r e b r a s i l e i r o que nunca t i n h ã
s i d o u s a d o , q u e e r a m a s l e n d a s e a s s o m b r- a
ções, o que já p a r t i a para o imaginário ,
para o surreal, e essa f o i talvez a m i
nha m a i o r c o n t r i b u i ç ã o p a r a e s t a a b e r t u r ã
do e n r ê d o [ . . . I "

Instalando-se num v e l h o a r m a z é m , Joãozinho Trinta e

s u a e q u i p e t r a b a l h a r a m com o s m a i s v a r i a d o s m a t e r i a i s , e d-
e
ram f o r m a e p r i n c i p a l m e n t e c o n t e ú d o f a n t á s t i c o a o c a r n a v a l d o
Salgueiro, q u e novamente i m p r e s s i o n o u na A v e n i d a , e desta vez
trouxe a pÚblico a genialidade de seu Carnavalesco.

"No d i a s e g u i n t e , o r e t r a t o d e J o ã o , q u e n a
é p o c a t i n h a 2 9 a n o s , s a i u em t o d o s o s j o r
n a i s , e com a s u a b i o g r a f i a detalhada.^^? -
n a v a - s e uma f i g u r a d a c i d a d e , um persona
gem i m p o r t a n t e d o c a r n a v a l c a r i o c a . " ( 2 2 1 -

E s t e d e s t a q u e dado ao Carnavalesco não t r o u x e para

o c e n t r o d e a t e n ç õ e s SÕ a f i g u r a d e J o a o z i n h o T r i n t a , mas a
consciência de que por trás de cada carnaval elaborado esta
vam um o u m a i s p r o f i s s i o n a i s , a n t e s mantido's anõnimos pelo
nome d a E s c o l a d e S a m b a . Joãozinho Trinta simbolixaou o r e c-
o
nhecimento o f i c i a l de todos os Carnavalescos, anteriores e
contemporâneos a e l e , e f o i m u i t o p o s i t i v o o n o v o e n f o q u e d e-
s

(221 COSTA,HAROLDO, idem, op.cit. p.226

t e profissional.

~ o ã o z i n h oT r i n t a t r a n s p o r t o u p a r a o s e n r ê d o s uma c a -
racterística sua, a de s e r "delirante", de s e submeter a a-
1
t o s voos i m a g i n a t i v o s q u e c a u s a r a m i m p a c t o na t e m ã t i c a h a b-
i
t u a l r n e n t e u s a d a p e l a s E s c o l a s d e Samba.

P r o v a d i s t o é q u e em 1 9 7 5 , e m c o n u u n t o com M a r i a A-
u
gusta, Osmar V a l e n ç a , L a í l a e Nelson S i l v a Feitosa, Joãozinho
T r i n t a concebeu o enredo " A s Minas do Rei alo mão", s o b r e a
passagem d o s F e n í c i o s p e l o B r a s i l . Enrêdo polêmico, por abor-
d a r uma t e m á t i c a q u e f u g i a d a q u e l a o b r i g a t o r i a m e n t e -
naciona
l i s t a , t e v e d e s e r r e s p a l d a d o p o r uma p e s q u i s a f e i t a n a E u r-
o
pa que t r a z i a t o d a a argumentação c i e n t i f i c a e h i s t õ r i c a n-
e
c e s s á r i a a s u a a c e i t a ç ã o , p a r a q u e a E s c o l a n ã o f o s s e p r e j u d-
i
cada.

A c r i a ç ã o dos f i g u r i n o s coube a Maria Augusta, A e-

l
s o n T r i n t a d e e Marco A n t o n i o d e F a r i a Lima. Num carnaval de
muitas dificuldades financeira, Joãozinho Trinta teve a o p o-
r
t u n i d a d e d e a m p l i a r s u a s e x p e r i ê n c i a s com m a t e r i a i s a l t e r n-
a
tivos, t a i s como r e g a d o r e s d e j a r d i m , bacias de aluminio, c-
a
nos de p l á s t i c o , papel aluminizado e espelhos. O Reino de O-
u
r o d e Salornão na v e r d a d e e r a composto d e s u c a t a do ca~naval
anterior, materiais bafatos e muita criatividady, compondo
um c a r n a v a l d e e x t r e m a r i q u e z a v i s u a l .

Um a c o n t e c i m e n t o i n é d i t o e q u e c a u s o u m u i t a s c r i t-
i
tas f o i a interferência de jaãozinho T r i n t a no Samba enredo
do S a l g u e i r o p a r a o c a r n a v a l d e 1975, em q u e u t i l i z e u partes
d e sambas d i f e r e n t e s p a r a m o n t a r o samba f i n a l .

"Eu s e m p r e a c h e i q u e o d o m o m e n t o em q u e o
*
samba tem a d e s i g n a ç ã o d e e n r ê d o , não e
d o mesmo t i p o d e e m p o l g a ç ã o o u d o samba
 de p a r t i d o a l t o , que depende apenas de
i n s p i r a ç ã o do c o m p o s i t o r . S e é samba e n r ê
d o é p o r q u e e s t á 1 L g a d o a uma e s t r u t u r a s ã
a l g u m a c o i s a q u e é um e n r ê d o , um l i b r e t o .
~ n t ã on e s t e m o m e n t o e l e n ã o p o d e t e r a
l i b e r d a d e t o t a l , o s e u t r a b a l h o tem a f i -
n a l i d a d e d e s e e n t r o s a r com o d e s f i l e . "
I231

Esta argumentação s e relaciona sobretudo 5 visão do

d e s f i l e como o p e r a , e para Joãozinho T r i n t a e r a fundamental a
c o n j u n ç ã o d a h i s t ó r i a c o n t a d a p e l o s e l e m e n t o s v i s u a i s com a
h i s t ó r i a c a n t a d a p e l o samba e n r ê d o . E s t a adequação não foi
uma i m p o s i ç ã o d o C a r n a v a l e s c o , v i s t o que durante sua evolução
a s E s c o l a s d e Samba, vinham c a d a v e z mais adequando o s d e s f-
i
l e s a o s samba c a n t a d o s , afastando-se daquelas apresentações -
i
n i c i a i s em q u e o s a m b a n a d a t i n h a a v e r com o q u e e r a a p r-
e
s e n t a d o na Avenida.

Esta adequação, f r u t o de sua própria transformação,

no s e n t i d o d e e q u a c i o n a r t o d o s o s a s p e c t o s do e s p e t á c u l o , não
implica que o Carnavalesco obrigatoriamente tenha que m a n i p-
u
l a r a s l e t r a s d o s s a m b a s ou i n d u z i r o s c o m p o s i t o r e s a e s c r-
e
v e r e m c o n f o r m e uma "fõrmula" por e l e prescrita. De um modo g -
e
r a l sempre f o i dada a o s compositores a liberdade de e x p l o r-
a
r e m o s e n r e d o s d a m a n e i r a q u e m e l h o r l h e s c o n v i e s s e m s u b m e t e-
n
do o s r e s u l t a d o s a o s c o n c u r s o s r e a l i z a d o s n a s q u a d r a s .

O impacto do d e s f i l e , com I s a b e l V a l e n ç a represe-

n
t a n d o a R a i n h a d e ~ a b á ,c e r c a d a d e p i r â m i d e s , camelos e a l-
e
g o r i a s d o u r a d a s comprovou d u a s p o s i ç õ e s e x i s t e n t e s : a ousadia
do S a l g u e i r o e a c r i a t i v i d a d e d e s e u C a r n a v a l e s c o J o ã o z i n h o
Trinta. O Salgueiro conquistou o t i t u l o e o bicampeonato.

~ o ã o z i n h oT r i n t a a p ó s e s t e c a r n a v a l , aceitou a pro
p o s t a de A n i s i o Abrahão Oavid p a r a s e r o C a r n a v a l e s c o de uma
p e q u e n a E s c o l a d e S a m b a c h a m a d a B e i j a F l o r d e ~ i l Ó ~ o l i s q, u e
nos últfmos carnavais vinha realizando enrêdos elogisos d-
i
tadura, e n t r e o s q u a i s "O G r a n d e D e c ê n i o " d e 1 9 7 5 e "Brasil
Anos D o i s M i l d e 1 9 7 4 , e s t e r e a l i z a d o p o r Rosa M a g a l h ã e s e
Licia Lacerda

U s a n d o d e f r a n q u e z a com a D i r e t o r i a d a B e i j a F l o r ,
~ o ã o z i n h oT r i n t a d e c l a r o u q u e s ó f a r i a e n r ê d o s d e s u a a u t-
o
ria, não a c e i t a n d o f a z e r e n r ê d o s d e cunho p o l í t i c o , com o q u e
todos concordaram. A e s t a aceitação de suas propostas, pode
ainda vincular a Beija Flor um a n t i g o p r o j e t o d e trabalhar
com c r i a n ç a s c a r e n t e s , p r o j e t o que desenvolveu junto com seu
trabalho de Carnavalesco.

Unindo a comunidade d e N i l ó p o l i s , onde s e localiza

a Beija F l o r e estimulando-a no t r a b a l h o d e e x e c u ç ã o d o c a-
r
naval, Joáozinho T r i n t a conseguiu que a comunidade vivencias -
s e a s v á r i a s e t a p a s de e l a b o r a ç ã o do d e s f i l e , o que f o i m u-i
t o i m p o r t a n t e para o c r e s c i m e n t o d a E s c o l a .

De s e u p r o j e t o d e t r a b a l h o com c r i a n ç a s e a d o l e s c e -
n
t e s s u r g i u um o u t r o , ainda maior, chamado " F l o r do AmanhãVque
i n c l u i a f o r m a ç ã o d e uma E s c o l a d e S a m b a m i r i m q u e p r o p o r c i-
o
na a o s s e u s i n t e g r a n t e s t o d o s o s c o n h e c i m e n t o s t é c n i c o s e a-
r
t i s t i c o s do c a r n a v a l . além d e d e amparo e a b r i g o n e c e s s á r i o s .

Mudando-se para Nilópolis, Joâozinho Trinta obteve

não s ó o a p o i o dos d i r i g e n t e s d a B e i j a F l o r , mas também o s u-
b
s i d i o de Patronos que finaciaram os d e s f i l e s da Beija F l o r e
o a p o i o d a f a m i l i a d e A n í s i o A b r a h ã o D a v i d , f u n d a d o r a d a E s c-
o
l a e b a s t a n t e i n f l u e n t e na c i d a d e .

"A f a m í l i a d o ~ n f s i oe s t á p r o f u n d a m e n t e l-i
gada à Beija F l o r p e l a s r a i z e s , é isso
que a s p e s s o a s esquecem sempre de a c r e-
s
tentar. P o r e x e m p l o , o i r m ã o d e A n í s i o , o
Nelson P r e s i d e n t e d e Honra e que f o i O
Presidente nos primeiros anos de t r a b-
a
l h o , d e 7 6 a 83. é c a s a d o com a f i l h a do
 f u n d a d o r d a B e i j a F l o r e e x i s t e m i m p o r t a-
n
t e s ligações, laços enraizados(...)"

Mesmo com um r e s p a l d o f i n a n c e i r o bem m a i o r d o que

a q u e l e o b t i d o no S a l g u e i r o , J o ã o z i n h o T r i n t a c o n t i n u o u b a s e a-
n
do s e u t r a b a l h o no u s o d e m a t e r i a i s b a r a t o s e a l t e r n a t i v o s , e
a t r a v é s da manipulação d e s t e s conseguiu muitos e f e i t o s d e l-
u
x o e r i q u e z a q u e v a r i a s v e z e s f o r a m c o n f u n d i d o s com a l t o s g a-
s
tos, o q u e n ã o c o n d i z i a com a r e a l i d a d e . O contexto e c o n o m-
i
c o d a d é c a d a d e 7 0 l e v a r i a a uma i n t e n s i f i c a ç ã o g e n e r e a l i z a d a
e n t r e a s E s c o l a s d e Samba d o u s o d e m a t e r i a i s a l t e r n a t i v o s , o
que p a r a J o ã o z i n h o T r i n t a não c o n s t i t u i u nenhuma novidade, já
que e s t e método sempre f e z p a r t e d e seu p r o c e s s o d e t r a b a l h o .

O que i d e n t i f i c o u o trabalho de Joãozinho Trinta

nesta década f o i a p e r f e i t a transmutação de formas e m a t-
e
riais, d a s a p a r ê ' n c i a s q u e tomavam m a t e r i a i s s i m p l e s e b a r a t o s
em c o m p o s i ç Õ e s d e r e s u l t a d o s luxuosos. Esta transmissão da
mensagem a t r a v é s d a a p a r ê n c i a s o b r e p u n h a s s e a q u a l q u e r d e f-
i
ciência de m a t e r i a i s , que p a r a o c a r n a v a l sempre foram de a-
1
t o custo.

No a n o d e 1 9 7 6 , com o e n r e d o " S o n h a Com R e i 0 6 ~ e ã o "

a Beija Flor tornou-se campeã do Grupo I, o c o r r e n d o um -
fenÔ
meno s e m e l h a n t e a o d o S a l g u e i r o em s e u p r i m e i r o c a m p e o n a t o , e m
q u e rompeu a h e g e m o n i a d e v i t ó r i a s d a s E s c o l a s d e Samba de
maior porte.

" D a i uma e s c o l a m e n o r , v a l e n d o - s e d a sim-

p l e s p i a d a o n i r i c o - z o o l ó g i c a - S o n h a r com
-
R e i 0; ~ e ã o q u e a p r e s e n t o u com vistoso
e s p l e n d o r , num d e s l u m b r a n t e i m p a c t o v i
sual, t e r logrado a vitória. E a s Escolas
m a i o r e s , a s campeãs c o n s e c u t i v a s , viram
se, inesperadamente, destronadas pelo ~ e i
dos Animais."[241

(241 EFEGE, JOTA, F i g u r a s e C o i s a s do C a r n a v a l C a r i o c a , o p . c i t .

pág.252.
 A v i t ó r i a da Beija F l o r s i g n i f i c o u a possibilidade.
antes muito remota, d e p e q u e n a s E s c o l a s c o m p e t i r e m com a s E-
s
c o l a s de maior p o r t e e d e fama e s t a b e l e c i d a . O esforço c o-
n
junto de todos o s seus segmentos, administrativo, financeiro,
e s o b r e t u d o da comunidade j u n t o ao Carnavalesco influênciou
d e f o r m a d e c i s i v a no r e s u l t a d o , como a s s i n a l a J o ã o z i n h o Trin
ta:

" A B e i j a F1o.r g a n h o u o c a r n a v a l com a c0

b e r t u r a d e uma D i r e t o r i a d e H a r m o n i a e x i s
t e n t e n e l a e que f o i a c e l e r a d a e muitõ
bem u s a d a , s e m m u t a p r á t i c a . p r o q u." e a B e- i
j a F l o r c o m o uma E s c o l a p e q u e n a n a o e x-i
g i a muito trabalho, e passou a '. e x i g i r

m a i s , com a q u e l e c a r n a v a l q u e j á f o i com
o u t r a dimensão, um carnaval de Escola
grande. E exatamente por i s s o ganhou, d e r
rubando aquele tabu das grandes escol as^
S a l g u e i r o , Império, Mangueira e Portela,
que eram a s Únicas a ganharem o carnaval
s e m p r e , e p e l a p r i m e i r a v e z uma Escola
pequena derrubou a s quatro grandes e a
briu a possibilidade de outras ganharem,
como a M o c i d a d e , I m p e r a t r i z e V i l a I s a b e l "

Em 1 9 7 7 n o v a m e n t e a s E s c o l a s g r a n d e s t e m s e u dom5 -
n i o ameaçado, desta vez por outra Escola, considerada "peque
na" e sem r e c u r s o s f i n a n c e i r o s , a União da I l h a do Governador.
Com um e n r ê d o s i m p l e s e b a s e a d o n o c o t i d i a n o , o "Domingo" de
Alcione Barret.0, -
e x e c u t a d o p e l a C a r n a v a l e s c a M a r i a A u g u s t a Ro
drigues, e s t a E s c o l a d e Samba d i s p u t o u a c i r r a d a m e n t e o s p r-
i
meiros lugares, s e n d o a c l a m a d a a E s c o l a m a i s p o p u l a r d o d e s f-
i
le. A B e i j a F l o r c o n q u i s t o u novamente o t i t u l o , com o enrêdo
" v o v ó e o R e i d a S a t u r n á l i a na C o r t e E g i p c i a n a " seguida pela
Portela - q u e n o d e s e m p a t e com a U n i ã o d a I l h a o b t e v e a s e g u -
n
da colocação - com o e n r 6 d o " F e s t a d a A c l a m a ç ã o .

O ano d e 1978 d a r i a o tricampeonato ã B e i j a -F l o r ,

e o pentacampeonato a Joãozinho T r i n t a , com o e n r ê d o " A C r i-
a
ç ã o d o Mundo n a T r a d i ç ã o N a g Ô " . C o n s e g u i n d o c i n c o t i t u l o s c o-
n
secutivos, no S a l g u e i r o e n a B e i j a F l o r , Joãozinho Trinta -
ob
teve este feito inédito, afirmando-se c o m o um d o s C a r n a v a l e-
s
tos m a i s c o n s a g r a d o s e c o m p e t e n t e s do C a r n a v a l C a r i o c a .

Sua nova v i s ã o t e m á t i c a , a o u s a d i a do o n f r i c o e a
exploração de m a t e r i a i s e t é c n i c a s repercutiram no earnaval
d a s E s c o l a s d e Samba d e m a n e i r a s i g n i f i c a t i v a . A visão de " s-
u
perespetáculo", a l i a d a a concepção o p e r i s t i c a na organização
d o d e s f i l e s e m d ú v i d a e x i g i r a m d a s o u t r a s E s c o l a s uma r e f o-
r
mulação de s u a s l i n h a s d e a p r e s e n t a ç ã o . A s p e c t o s como p l a n e j -
a
mento, a d m i n i s t r a ç ã o e s o b r e t u d o d i s c i p l i n a p a s s a r a m a s e r um
modelo de e x c e l ê n c i a p a r a o r e s u l t a d o s a t i s f a t õ r i o do d e s f-
i
le.

A o r g a n i z a ç ã o d a i n f r a e s t r u t u r a d e e x e c u ç ã o d o C a-
r
n a v a l i m p l a n t a d a p o r J o ã o z i n h o T r i n t a f o i sem d ú v i d a i m p o-
r
tante, a p a r t i r d o momento q u e e l e d i r e c i o n a t o d a a c o n f e c ç ã o
de fantasias e adereços para equipes da prõpria Escola, o que
r e s u l t o u numa u n i d a d e a b s o l u t a d o s r e s u l t a d o s , controlando t o -
d a s a s e t a p a s de execução do i n i c i o ao f i m . Este controle t-
e
ve seu r e f l e x o d i r e t o na unidade do d e s f i l e , resultando em
a l a s m a i s u n i f o r m e s q u e t r o u x e r a m uma m a i o r h a r m o n i a v i s u a l 5
Escola.

J o ã o z i n h o T r i n t a t e v e também i m p o r t â n c i a na f o r m-
a
ç ã o d e um e s t i l o p r ó p r i o d e c a r n a v a l , que passou a s e r imita
do p o r a l g u m a s E s c o l a s d e Samba. I s t o - s e r e f l e t i u também na
competição e n t r e os Carnavalescos, cada vez mais individuali-
zada, a p a r t i r d o m o m e n t o em q u e s e t o r n o u n e c e s s á r i o s u p e r a r
a q u e l e que e r a considerado "o melhor d e todos". Joãozinho
Trinta tornou-se o m o d e l o d o C a r n a v a l e s c o bem s u c e d i d o , -
o "ma
go" d a s formas e da c r i a ç ã o , enfim, um m i t o q u e a t é h o j e , i-
n
dependente dos resultados, r e s i s t e e sempre surpreende.
2.2.4 - FERNANOO PINTO E A R E N O V A Ç Ã O DO IMPERIO SERRANO

I1Uma pequena n o t á v e l
Cantou-muika aamba
E makivv de cannavaR
Pand e i k a , camia a L h n t t a d a
Tannau a baiana i n t e n n a c i o n a L ( . . . i
I.25 I

A E s c o l a d e Samb.a I m p é r i o S e r r a n o em 1 9 7 0 passava
p o r uma g r a v e c r i s e p o l í t i c a , que r e s u l t o u n o o i t a v o l u g a r o-
b
t i d o no c o n c u r s o , com o e n r ê d o " A r t e E m Tom M a i o r " . C o n s i d-
e
rada Escola grande, na d é c a d a d e 60 sempre e s t e v e e n t r e as
quatro primeiras colocadas, embora d e s d e 1960 não c o n q u i s t a-
s
se o primeiro lugar. Este resultado mobilizou o Império numa
mudança q u e acompanhasse a s transformações que estavam o c o-
r
r e n d o no d e s f i l e , não s ó q u a n t o a o samba e n r ê d o , m a s também no
que s e r e f e r e à sua apresentação.

" ~ t ée n t ã o a p i o r c o l o c a ç ã o d o I m p é r i o fo
r a o quarto lugar. 0s dirigentes resolve
r a m e n t ã o em f u n ç ã o d i s t o c h a m a r u m ar
n a v a l e s c o d e f o r a p a r a a d a p t a r a agrerniaT
ç ã o à nova concepção d e c a r n a v a l introdu
z i d a p e l o S a l g u e i r o há j á algum tempo. O
Carnavalesco E r n e s t o Nascimento levou pa
r a o I m p e r i o o c e n á g r a f o p e r n a m b u c a n o F e-
r
n a n d o P i n t o , e n t ã o com p o u c o m a i s d e 20
anos, que s e r i a o responsável pelos carna
v a i s e n t r e 1 9 7 1 e 1 9 7 8 , ã e x c e ç ã o d o enr;-
do d e 1977." (261

E r n e s t o N a a s c i m e n t o e r a na é p o c a também componente
d o império S e r r a n o , e concorriam neste ano cinco enrêdos, mas
o P r e s i d e n t e da Escola d e c i d i u convida-lo para a Diretoria de
Carnaval, para que s e responsabilizasse pelo trabalho d e F e-
r
nando P i n t o . Com o e n r ê d o " N o r d e s t e , Seu Povo, Seu c a n t o , Sua
~ l Ó r i a "o I m p é r i o o b t e v e a t e r c e i r a c o l o c a ç ã o , iniciando uma

- -

( 2 5 1 S a m b a e n r ê d o d o I m p é r i o S e r r a n o " A l Ô , A l Ô T a i Carrnem M -i
r a n d a n , p a r a o ano de 1972.
[ 2 6 1 VALENÇA,RACHEL & SUETONIO, S e r r a , S e r r i n h a , S e r r a n o , o I - m
p é r i o do Samba, o p . c i t . 9 8
n o v a f a s e em s u a h i s t ó r i a .

A proposta para o carnaval de 1972, "AlÕ Alô, ai

Carmem M i r a n d a " d e i n i c i o n ã o f o i bem r e c e b d i a , em s e t r a t a-
n
d o d e uma a r t i s t a i n t e r n a c i o n a l , mas q u e n ã o t i n h a l a s t r o pa
r a s e r um bom e n r ê d o . Mas o r e s u l t a d o f o i e x c e p c i o n a l , r e f o-
r
ç a d o p o r um s a m b a q u e s e e n q u a d r a v a n o s m o l d e s d a q u e l e s que
dominavam o i n c i o d a d é c a d a , curto e simples, onde p e l a pri-
meira vez s e u t i l i z o u g í r i a na letra, como m o s t r a o r e f r ã o :

"Que g r i l o 6 e s s e
Vou e m b a r c a r n e s t a o n d a
E o império S e r r a n o q u e c a n t a
D a n d o uma d e Carmem M i r a n d a . l P ( 2 7 )

Fernando P i n t o colocou na A v e n i d a m u l a t a s f a n t a s i-
a
das de sereias e índios estilizados, demonstrando que sua pro -
p o s t a e r a e x p l o r a r a o máximo a f a n t a s i a , a l i a d a a uma vição
c r í t i c a que sempre marccou seu trabalho - a c r i t i c a i r r e v e r e e
te. A s a l e g o r i a s e f i g u r i n o s l e v e s e d e e x t r e m o bom g o s t o , n-
u
ma c o m p o s i ç ã o c e n o g r á f i c a q u e p r i v i l e g i a v a o t r o p i c a l i s m o b r -
a
sileiro, f o r a m a p l i c a d o s à h i s t ó r i a d e Carmem M i r a n d a , r e v-
e
l a n d o um C a r n a v a l e s c o o u s a d o e c r i a t i v o .

" A I m p é r i o f o i campeã n a q u e l e a n o d e 1 9 7 2 ,
e a í t i v e m o s um c r é d i t o m a i o r a i n d a ( . . . I
e começamos a mexer n o s d e s t i n o s d a Esc0
l a . A I m p é r i o e r a uma E s c o l a m u i t o séri:,
m u i t o f e c h a d a . E l a c o m e ç o u a f a z e r uma a
b e r t u r a p a r a uma i d é i a n o v a d e carnaval
e x a t a m e n t e com a Carmem M i r a n d a , e nós
p l a n e j a m o s f a z e r um t r a b a l h o m a i o r d o q u e
o s d o i s que tinhamos f e i t o anteriormente,
e s u r g i u "Viagem E n c a n t a d a Pindorama a
Dentro". "

Eanento Nan c i m e n t o

Partanto, ern.1973, Fernando P i n t o ao f a z e r "Viagem

Encantada Pindorama a Dentro1' envolveu-se com l e n d a s b r a s i l e-
i
ras, como o B o i t a t á , . S a c i P e r e r ê e I a r a . Uma b u s c a i n c a n s á v e l

C271 S a m b a e n r e d o d o I m p é r i o S e r r a n o " A l o A ~ ÕT a i Carmem N -i

randa" p a r a o ano d e 1972.
pelo "reino encantado" que proporcionou ao Império a segunda
colocação, a p e s a r da aclamação do p ú b l i c o , perdendo para a
Mangueira, c a m p e ã com o e n r e d o " L e n d a s d o A b a e t é " .

Em 1 9 7 4 , F e r n a n d o P i n t o e E r n e s t o N a s c i m e n t o propg
seram o enredo "D.Santa, Rainha do Maracatu", e novamente a
Escola obteve a segunda c o l o c a ç ~ o ,caindo para t e r c e i r a no
d e s e m p a t e com a P o r t e l a , que apresentou o e n r d e o "Mundo Me-
lhor de Pixinguinha" de Hiram A r a ú j o e C l a u d i o P i n h e i r o . N e s t e
a n o a campeã f o i o Salgueiro, com o d e s l u m b r a n t e "Rei de
F r a n ç a n a I l h a Oa A s s o m b r a ç ã o " , de Joãozinho Trinta.

Diante deste resultado, o Império Serrano c o n q u i-

s
tava o público, retomando a presença nas primeiras colocaçÓes
do c o n c u r s o , i m p r e s s i o n a n d o com s e u s b e l o s d e s f i l e s .

" ( . . . ) t o d o s queriam v e r o carnaval da Esco

l a da serrinha. Ela veio toda de branco:
d e i x a n d o em s e g u n d o p l a n o s u a o u t r a cor:
o verde. Veio compacta. A harmonia e s t-
a
v a p e r f e i t a . A s f a n t a s i a s bem t a l h a d a s e
d e bom g o s t o f a z i a m u m b e l o c o n t r a s t e com
a s a l e g o r i a s d e mão, p r e s e n ç a o b r i g a t ó r i a
em q u a s e t o d a s a s e s c o l a s . A s alegorias
i m p r e s s i o n a v a m p e l o a c a b a m e n t o e g i g a n t i-
s
mo."~281

Em 1 9 7 5 o e n r e d o p r o p o s t o f o i " Z a q u i a J o r g e , Vedete
do s u b ü r b i o , Estrela de Nadureira", realizado sob grandes d-
i
ficuldades financeiras, e apesar dos s a c r i f ~ c i o s , Fernando
P i n t o e E r n e s t o Nascimento c o n s e g u i r a m f a z e r um bom carnaval
que resultou na t e r c e i r a c o l o c a ç ã o do I m p é r i o S e r r a n o . Estes
c o n c o a n o s d e t r a b a l h o d e F e r n a n d o P i n t o no I m p é r i o r e s u l t-
a
ram n a p l e n a a d a p t a ç ã o d o I m p é r i o S e r r a n o a o novo m o d e l o de
d e s f i l e d a s E s c o l a s d e Samba, s e m em n e n h u m m o m e n t o d e s c a r a-
c
teriza-10, o q u e f o i um d a d o i m p o r t a n t e .

"Zaquia J o r g e , V e d e t e do S u b ú r b i o , Estrela

[ . 2 8 ) VALENÇA, R A C H E L , & S U E T ~ N I O S, e r r a , S e r r i n h a Serrano, o I-

m
p é r i o d o Samba, o p . c i t . p . 1 1 1
 d e M a d u r e i r a , e n c e r r a r i a uma i m p o r t a n t e e
v i t o r i o s a f a s e da Escola. I n i c i a d a em
1 9 7 1 com a c h e g a d a d o C a r n a v a l e s c o F e r n a - n
do P i n t o , s e r i a e l e o r e s p o n s á v e l p o r to
dos os primeiros, segundos e terceiros
l u g a r e s do I m p é r i o e n t r e 1971 e 1 9 7 5 ( . . . 1
F e r n a n d o a p a r e c e u n o m o m e n t o em q u e era
p r e c i s o f a z e r f r e n t e a o novo t i p o d e c a-r
n a v a l que o Acadêmicos do S a l g u e i r o vi
nham d e s e n v o l v e n d o [ . . . I Era necessáriõ
a t u a l i z a r o I m p é r i o . mas n ã o e r a p o s s i v e l
salgueiriza-10, porque a Serrinha e a f o r
t e p o l í t i c a i n t e r n a da Escola repudiariam
qualquer inovação que a s v i o l e n t a s s e l . . . l
F e r n a n d o , s e m d ú v i d a , s o u b e r e s p e i t a r uma
e s t é t i c a suburbana, emprestando-lhe seu
i n e g á v e l t a l e n t o c r i a d o r . " [291

Observamos a q u i p o n t o s i m p o r t a n t e s do d i s c u r s o da
rpÓrpia Escola, como a p r o p o s t a d e " a t u a l i z a ç ã o " e sua a b e r t-
u
r a à inovação, a o mesmo t e m p o q u e s e p r e o c u p a v a em n ã o se
"salgueirizar". E s t e t e r m o i l u s t r a bem a s p r o p o r ç õ e s d a i n f l -
u
ê n c i a que t e v e o S a l g u e i r o na linguagem do c a r n a v a l d a s Esco
l a s d e Samba d e s d e a d é c a d a d e 6 0 . No I m p é r i o h o u v e uma c o n-
s
c i ê n c i a das p o s s í v e i s v i o l ê n c i a s que representava a opção de
mudar, t a n t o que s e posicionou com uma c e r t a r e s i s t ê n c i a , a s s e
-
g u r a n d o q u e s u a s c a r a c t e r í s t i c a s m a i s t r a d i c i o n a i s f o s s e m man
tidas.

Entre a atualização e a violação existiram limites

b a s t a n t e prÓximos, que s e não observados poderiam d e s c a r a c t e -
r i z a r a Escola, e s o b r e i s t o t e v e g r a n d e i n f l u e n c i a a s e n s i b-i
l i d a d e e r e s p e i t o do C a r n a v a l e s c o , bem como o c o n t r o l e d a -
A
gremiação sobre e s t e s l i m i t e s . A atualização f e i t a por Fernan -
d o P i n t o s e m d ú v i d a c o n t o u com s e u c o n h e c i m e n t o d e m a n i f e s t-
a
çÕes f o l c l Ó r i c a s do n o r d e s t e , principalmente a s de Recife, c-
o
mo o m a r a c a t u , as caboclinhas, as cirandas e pastorinhas.

( 2 9 ) VALENCA, RACHEL 8 SUETONTO, - Serra,Serrinh.a, Serrano, o

1 m p 6 r i o do Samha, o p . c i t . p . 1 1 5
 E s t e conhecimento p o s s i b i l i t o u a Fernando P i n t o e l-
a

b o r a r c a r a n v a i s de f o r t e a p e l o p o p u l a r , de g r a n d e b e l e z a e
criatividade. D i a n t e do a v a n ç o de e s c o l a s pequenas que -
come
çavam a ameaçar o d o m i n i o d a s E s c o l a s g r a n d e s , a busca de a-
1
t e r n a t i v a s i n o v a d o r a s p a s s o u a s e r uma n e c e s s i d a d e , princi-
p a l m e n t e d e p o i s d o d e s f i l e d a B e i j a F l o r em 1 9 7 6 .

O fenõmeno d o g i g a n t i s m o - s u p e r l o t a ç ã o d e c o m p o n e-
n
t e s n o s d e s f i l e s - em 1 9 7 6 a f e t o u n e g a t i v a m e n t e d i v e r s a s E-
s
colas, i n c l u s i v e o Império Serrano. N e s t e ano o e n r ê d o "Len -
das das Sereias, R a i n h a s do M a r " sofreu neste aspecto, e
também p o r f a n t a s i a s excessivamente pesadas. I s t o no entanto
não f o i r e s t r i t o ao c a r n a v a l de F e r n a n d o P i n t o , como d e m o n-
s
t r a um t r e c h o d o d e b a t e p r o m o v i d o p e l o O G l o b o n a e d i ç ã o d~
03/03/76:

"JORGE COUTINHO: o q u e a c o n t e c e u com o Ir

p é r i o f o i um e x c e s s o d e a l e g o r i a d e mao
--
e um e x c e s s o d e p e i x e n a c a b e ç a d e todos
o s c o m p o n e n t e s I . . . )a M a n g u e i r a também.
~ l é md e t e r a b a n d o n a d o o s e u v e r d e e r o s a
as m u l h e r e s não aguentavam t a n t o chapéu."
(301

N e s t e c a r n a v a l o I m p é r i o f i c o u em q u i n t o lugar, o
que a b a l o u o p r e s t i g i o de Fernando P i n t o e E r n e s t o Nascimento
f a t o comum q u e s e m p r e a c o n t e c e q u a n d o q u a l q u e r E s c o l a d e -
Sam
ba se c o n s i d e r a m a l p o s i c i o n a d a . I s t o l e v o u ambos a s e a f a-
s
t a r e m no ano s e g u i n t e , r e t o n a r n d o em 1 9 7 8 . A situação p o l i t-i
c a do I m p e r i o , q u e a t r a v e s s a v a m a i s uma c r i s e , agravada por
problemas f i n a c e i r o s p r e j u d i c o u a execução do enredo p r o p o-
s
t o p o r Fernando P i n t o "Oscarito, C a r n a v a l e Samba,Uma C h a n c h-
a
da no A s f a l t o " . O resultado f o i o r e b a i x a m e n t o d o I m p é r i o S e-
r
r a n o p a r a o G r u p o 11, p a r a g r a n d e t r i r s t e z a de seus componen-
tes.

( 3 0 ) V A L E N Ç A , RAQUEL & SUETONIO, Serra, S e r r i n h a Serrano,O Im-

p é r i o d o Samha, o p . c i t . p . 1 1 6
 A s s i m como s o u b e r e s p e i t a r a s t r a d i ç õ e s d o Império
Serrano, não o subvertendo a inovações que poderiam d e s c a r a-
c
teriza-10, Fernando P i n t o encontrou na Mocidade Independenbe
d e P a d r e M i g u e l uma g r a n d e i d e n t i f i c a ç ã o e n t r e o s e u t r a b a l h o
e a identidade da Escola. Em 19219 a M o c i d a d e c o n q u i s t o u o t í t -
u
10 c o m o e n f ê d o " D e s c o b r i m e n t o do Brasi1"de Arlindo Rodrigues,
f a t o q u e c o n f i r m a v a a t e n d ê n c i a i n d i c a d a p e l o s C a m p e o ~ a t o sd a
Beija Flor, da p o s s i b i l i d a d e d e Escolas "menores" vencerem o
o concurso. E f o i justamente 5 frente da Beija Flor, que já
possuia três campeonatos seguidos, q u e a Mocidade se posicio -
nou neste ano. Com e s t e p r i m e i r o c a m p e o n a t o n o G r u p o I A ela
recebeu o Carnavalesco Fernando Pinto, em 1 9 8 0 , iniciando um
trabalho de entrosamento perfeito.

A s s i m c o m o n a d é c a d a d e 6 0 em t o r n o d e F e r n a n d o Pam -
plona e A r l i n d o Rodrigues se r e u n i u um g r u p o d e p e s s o a s que
se p r o f i s s i o n a l i z a r a r n n o c a r n a v a l f a t o s e r n e l . h a n t e o c o r r e u com
o Carnavalesco Fernando Pinto. A diferença básica destes dois
grupos f o i o cunho d i d á t i c o dado p o r Pamplona, que toruxe alu -
nos d a E s c o l a Nacional d e B e l a s Artes, e t a m b é m uma t r a n s i t-
o
riedade maior das pessoas junto 2 Fernando Pinto.

U m d o s q u e c o m e ç a r a m s u a p r o f i s s i o n a l i z a ç ~ on a e q u i -
pe de Fernando Pinto, C a r l o s DIAndrade, c o n t a como f o i a e x p e -
riência:

"Muito a n t e s d e tomar conhecimento do que

era carnaval, eu posso d i z e r que fazia
p a r t e d e um g r u p o m e i o e l i t i s t a , d e
vens estudantes (...I um p r o f e s s o r meu
q u e e r a d e c o r a d o r d e c l u b e s e q u e me
ciou, o f l c i o Caldas, f o i convidado
-
i n i
para
ser D i r e t o r d e Relações p ú b l i c a s do Imp6
r i o Serrano, e eu comecei a participar
(...I f r e q u e n t a n d o a q u i l o sem c o m p r o m i s s o
F e r n a n d o P i n t o , recém c h e g a d o d e Pernam -
b u c o , p o r t a n t o sem e q u i p e , [ . . . I era mui
t o s i m p á t i c o , e e u c o m e c e i a me envolve?
com a E s c o l a d e S a m b a , l . . . l quando perce -
 bemos e s t á v a m o s t o d o s e n f i a d o s no Traba
lho de barracão, colando, pregando, d e c-
Õ
rando, e fizemos naqueles dois três anos
s e g u i n t e s o b a r r a c ã o como um l a b o r a t ó r i o ,
experimentando de tudo e percebemos que
n o s i d e n t i f i c á v a m o s com e s t e t i p o d e c a-i
sa. "

J u n t o com C a r l i n h o s D ' A n d r a d e i n t e g r o u também a -

e
quipe de Fernando Pinto, Roberto Costa, q u e m a i s t a r d e também
s e tornou um C a r n a v a l e s c o . A u g u s t o d e A l m e i d a também d e l a f e z
parte, m a i s t a r d e t r a b l h a n d o como C a r n a v a l e s c o d e E s c o l a s c-
o
mo a M a n g u e i r a e V i l a I s a b e l . F e r n a n d o P i n t o t i n h a um método
de t r a b a l h o b a s t a n t e d i f e r e n t e d e Fernando Pamplona, sendo -
e
xigênte quanto ao conhecimento daqueles que integravam sua
equipe, não a b r i n d o e s p a ç o p a r a e x p e r i ê n c i a s "didáticas" no
barracão, a não s e r a q u e l a s a d v i n d a s do p r ó p r i o a p r e n d i z a d o .

"G F e r n a n d o P i n t o não s u p o r t a v a e s t e tipo

de c o i s a , e l e gostava de s e c e r c a r de pes
s o a s q u e t i n h a m t é c n i c a , p r á t i c a , c o n h e c-i
mente [. .. I "
CakRan V' Andnade

Este aprendizado livre, que c a r a c t e r i z o u a equipe

de Fernando P i n t o , f o i p o s s í v e l p o r q u e na d é c a d a d e 7 0 o s c-
o
nhecimentos técnicos e a r t i s t i c o s do carnaval de Escolas de
Samba j á haviam s i d o i n i c i a l m e n t e e x p l o r a d o s p e l o grupo de
Pamplona. Na d é c a d a d e 6 0 , com a p r i m e i r a g e r a ç ã o d e C a r n a v-
a
lescos, e s t e s conhecimentos foram sendo difundidos a t r a v é s da
troca de informações e dos resultados obtidos nas Escolas, ge
rando novas oportunidades d e experimentação.

A profissionalização ao Carnavalesco tornou-se mais

rápida, com u m c o n j u n t o d e i n f o r m a ç õ e s c a d a v e z m a i o r , o que
f a c i l i t o u a difusão de t é c n i c a s e conhecimentos. Esta veicu-
lação possibilitou a outros Carnavalescos transmitirem c o n h-
e
cimentos, como f o i t a m b é m o c a s o d e J o ã o z i n h o T r i n t a , q u e em
sua equipe colaborou na f o r m a ç ã o d e C a r n a v a l e s c o s como Wany
~ r a Ú j oe A l e x a n d r e L o u z a d a . . Fernando P i n t o , Joãozinho Trinta
e A r l i n d o R o d r i g u e s t o r n a ~ a m - s em o d e l o s p a r a a nova g e r a ç ã o ,-
a
t r a v é s de elementos determinantes de e s t i l o s prÓprios que c-
a
racterizaram verdadeiras "Escolas" de Carnavalescos.

2.2.5 - J U L I O MATTOS R E T O R N A A M A N G U E I R A

" l a i ã mandou i n à B a h i a
No Abaefe pana ven sua magia
Sua Lagoa, s u a h i n X t n i a s o b h e n a f u n a l
Que a Mangueina i n a z pha ebXe c a h n a v a l . "
[311

Afastado da Mangueira desde 1968, quando a Escola

venceu o c o n c u r s o com o e n r ê d o "O Mundo ~ n c a n t a d o d e M o n t e-
i
ro Lobato", J u l i o Nattos continuou t r a b a l h a n d o como Carnava
lesco, f a b r i c a n d o e s c u l t u r a s e a l e g o r i a s em s u a f á b r i c a e f-
a
zendo " p a c o t e s " d e c a r n a v a l p o r encomenda. Estes "pacotes" i-
n
cluiam enrêdo, figurinos, alegorias e roteiro, que e l e vendia
p a r a a s E s c o l a s d e Samba e a i n d a e x e c u t a v a o s t r a b a l h o s de
b a r r a c ã o quando e r a c o n t r a t a d o .

Em 1 9 7 3 a M a n g u e i r a o c o n v i d a r i a , e isto p a r a d o x a-
l
mente a f e t o u seu comércio:

"Em 7 3 n o v a m e n t e me c h a m a r a m [ . . . I f i z f-i
g u r i n o s e a l e g o r i a s , d e p o i s 7 4 , mas g r a n a
q u e e r a bom, n a d a , e e u t i n h a meu m e r c-
a
do d e e s c u l t u r a que f u n c i o n a v a , e a s OU
t r a s E s c o l a s reclamavam, porque eu sendã
C a r n a v a l e s c o d a M a n g u e i r a n ã o q u e r i a m com
p r a r a s e s c u l t u r a s , e e l e s queriam sabe?
os segredos u n s dos oyrros."
J u l i o MaXXoa

( 3 1 1 Samba e n r e d o d a M a n g u e i r a , "Lendas do Abaeté", para o ano

de 1973.
 O enrêdo escolhido f o i "Lendas do Abaeté", e a -
Man
g u e i r a venceu o concurso brilhantemente, 2 f r e n t e do Império
Serrano, que apresentou "Viagem E n c a n t a d a P i n d o r a m a a D e n t r o "
de Fernando P i n t o e do Salgueiro, com " E n e i d a , Amor e F a n t-
a
sia", de Joãozinho T r i n t a e Maria Augusta. Com a r e p e r c u s s ã o ,
J u l i o M a t t o s s a i u d e s e u a n o n i m a t o e c o n c e d e u uma entrevista
ao J o r n a l O Dia, cujo t i t u l o "Um A s t r o n o S a m b a - Julinho da
Mangueira, O Mais completo C a r n a v a l e s c o do Rio" evidenciava o
USO do termo " C a r n a v a l e s c o " como d e s i g n a ç ã o d o p r o f i s s i o n a l .

Ressaltando a a u t o r i a de mais de conquenta c a r n-

a
vais, d e s c r e v i a também a s a t i v i d a d e s q u e J u l i o M a t t o s e x e r c i a ,
como e s c r e v e r e n r ê d o s , desenhar figurinos, confeccionar ale-
g o r i a s e o r g a n i z a r o r o t e i r o do d e s f i l e . Destacava sua i n t e-
n
s a d e d i c a ç ã o a o c a r n a v a l d a s E s c o l a s d e Samba, com v á r i o s t-
í
tulos conquistados, e que por seu c a r á t e r a r r e d i o e sua sim -
plicidade, sempre colocava a Escola acima d e seu i n t e g r a n t e s .

U m f a t o p e r t i n e n t e à e & o c a em q u e e s t a reportagem
f o i f e i t a f o i que J u l i o Mattos e r a o Único Carnavalesco do
Rio d e J a n e i r o que não i n t e r f e r i a na Ala d o s C o m p o s i t o r e s , e
dava preferência a d a p t a ç ã o d o e n r ê d o a o samba e s c o l h i d o , e
não ao c o n t r á r i o . Uma d e s u a s p o u c a s exigências: que a s Alas
obedecessem o r o t e i r o por ele e s t a b e l e c i d o para o d e s f i l e e
a adequação d a Comissão d e F r e n t e a o enrêdo proposto. Sobre o
campeonato de 1973, a reportagem d e s t a c a a s mágoas e a l e g r i a s
do C a r n a v a l e s c o :

" S u a m a i o r t r i s t e z a f o i com o t e m " E x a l t-

a
ç ã o à V i l l a Lobos", onde t u d o f o i d e sua
a u t o r i a , tema, f i g u r i n o , a l e g o r i a s etc.em
1 9 6 6 e p o r um p o n t o p e r d e u o t í t u l o máxi
mo. A m a i o r a l e g r i a , t a m b é m n a M a n g a , f o i
e s t e ano, quando depois de t r ê s anos au
s e n t e d a v e r d e e r o s a v o l t o u com o e n r-
e
d o " L e n d a s d o ~ b a e t é " e d e u um b a n h o , com
a p e n a s um c a r r o a l e g ó r i c o q u e s u p e r o u t o
das a s demais coirmãs que apresentaram
 t r ê s e a t é q u a t r o a l e g o r i a s . " (.321

O t r i u n f o d a M a n g u e i r a a c o n t e c e u a t r a v é s d e uma e-
s
perteza do C a r n a v a l e s c o , grande conhecedor de materiais para
c a r n a v a l e t é c n i c a s c o m o e s c u l t u r a em f i b r a d e v i d r o , em i ç-
o
por e " p a p i e r maché".

"Com a m u d a n ç a d e m a t e r i a l , e m 7 3 , ganhei
com m a t e r i a l bom, o b r o c a l , q u e comprei
d e u m p a u l i s t a e e l e t i n h a em g r a n d e q u a n
t i d a d e . A: c o m p r e i t u d o mas p r o i b i d e v e n
d e r durante aquele ano, e f i z o carnavai
" L e n d a s d o A b a e t é " . J o g a v a o b r o c a 1 - um
pó b r i l h o s 0 - e o c a r n a v a l f i c o u impres
s i o n a n t e , q u a s e m a l u c o , e r a um carnavai
d e macumbeiro e d a s mudanças d e m a t e r i a l . "

No a n o s e g u i n t e , 1974, o enredo "Mangueira em T e m p o

de Folclore" explorou a s mais variadas vertentes folclóricas
brasileiras, e a colocação da Escola f o i o quarto lugar. N o v-
a
mente J u l i o Mattos s e a f a s t a da Mangueira, para 50 retornar
na d é c a d a d e 80, sem no e n t a n t o a b a n d o n a r s e u c o m é r c i o d e e-
s
culturas e alegorias e seus "pacotes" de carnaval.

2.2.6 - M A R I A AUGUSTA, BRAGA E PAULINO, OS CARNAVAIS DOS M-

A
T E R I A I S ALTERNATIVOS

"Vem amoh
Vem à j a n e l a v e h a a o 1 naACeh
Na a u t i l e z a d o amanheceh
Um l i n d o d i a n e anuncia
V e j a o d e n p e n t a n da n a t u h e z a
Olha amo& q u a r t a b e l e z a
O " D o m i ~ g o " de a l e g n i a . " ( 3 3 l

Materiais alternativos, no c o n t e x t o d a s Escolas de

Samba, s ã o a q u e l e s que tem a sua forma e função r e v e r t i d a p=

(321 O Dia, C a d e r n o O p . 4 - 2 3 L 2 4 - s e t e m b r o , 1 9 7 3 , R i o d e J a n e-
i
ro.
( 3 3 1 Samba e n r ê d p d a U n i ã o d a I l h a , "Domingo" p a r a o a n o de
r a a u t i l i z a ç ã o t é c n i c a no c a r n a v a l . Não c o n s t i t u e m m a t e r i a i s
especiffcamente produzidos pela indústria para confecção de
fantasias, adereços e alegorias, sendo escolhidos a t r a v é s de
observação e experimentação, p e l o s r e s u l t a d o s que produzem.

A utilização d e m a t e r i a i s a l t e r n a t i v o s sempre
e s t-
e
ve r e l a c i o n a d a a o c a r n a v a l , sobretudo p a r a a s p e s s o a s que não
t i n h a c o n d i ç õ e s f i n a n c e i r a s p a r a a r c a r com s e u s c u s t o s , e que
a t r a v é s da v e r s a t i l i d a d e e improvisação criavam f a n t a s i a s e
a l e g o r i a s d a s p r i m e i r a s E s c o l a s d e Samba.

''(...I O " s e u " M a n o e l d a e s q u i n a s a q u e l e 1;

d a q u i t a n d a d o m o r r o , q u e em o u t r o tempo
t i n h a um c e r t o d o t e a r t í . s t i c o , p e g a v a c a-i
x a s d e maçã e c e b o l a e t r a n s f o r m a v a aqui
10 em a l e g o r i a , o u a D . M a r i a q u e d e r e p e n
t e p e g a v a p a p e l c a r n e s e c a , m i s t u r a v a j o- r
na1 e f a z i a c o l a de f a r i n h a de t r i g o , e
c r i a v a e s c u l t u r a s , e o u t r o q u e p e g a v a rés
t i a s de cebola, botava purpurina e faziã
um c h a p é u ( ... I"

Cahl06 V ' Andhade

Este improviso, comum n o s p r i m e i r o s t e m p o s d a s E s c -
o
d e Samba, s o f r e u um p r o c e s s o d e s o f i s t i c a ç ã o , e no S a l g u e i r o ,
a t r a v é s d a s e x p e r i ê n c i a s d e ~ o ã o z i n h oT r i n t a , tornou-se uma
alternativa para superar a s dificuldades f i n a n c e i r a s da E s c-
o
la, bem como um c a m p o e x p e r i m e n t a l d e c r i a ç ã o d o C a r n a v a l e s c o .
Mesmo com a c r e s c e n t e i n d u s t r i a l i z a ç ã o , a improvisação e os
m a t e r i a i s a l t e r n a t i v o s sempre fizeram p a r t e dos t r a b a l h o s de
barracão. Nesta busca i n c e s s a n t e do e n r i q u e c i m e n t o p l á s t i c o e
v i s u a l do d e s f i l e , a l g u n s C a r n a v a l e s c o s s e d e s t a c a r a m n a d é c-
a
da de 70 pelo uso que fizeram dos m a t e r i a i s a l t e r n a t i v o s .

Maria Augusta Rodrigues, i n t e g r a n t e d o g r u p o d e Pam -

plona e Arlindo, formou-se pela Escola Nacional de Belas A-r
tes, no c u r s o d e A r t e D e c o r a t i v a . Iniciou-se em p r o j e t a s de
decoração de ruas, e f e z s e u p r i m e i r o c a r n a v a l em 1 9 6 2 na
E s c o l a d e Samba U n i d o s d a T i j u c a , para onde f o i indicada por
Pamplona, com o e n r e d o " O Negro na C i v i l i z a ç ã o Brasileira".
A ~ Ó Se s t e t r a b a l h o , transferiu-se para o Salgueiro, fazendo
inicialmente a s pesquisas para enredos e desenhando os f i g-
u
rinos.

D e p o i s d e a l g u n s ãn'os no S a l g u e i r o , onde trabalhou

também como C a r n a v a l e s c a . ao lado de Joãozinho Trinta, Maria
A u g u s t a f o i p a r a a E s c o l a d e Samba U n i ã o d a I l h a d o G o v e r n-
a
dor, onde f e z o s c a r n a v a i s d e 1972, com o e n r e d o " A Cavalhada"
1976, "Poema d e ásc caras em S o n h o s " e a g r a n d e c o n s a g r a ç ã o d a
Escola, em 1 9 7 7 , com o e n r e d o " D o m i n g o " .

Neste ano, a União da I l h a , escola de poucos r e c u-

r
sos financeiros e considerada "pequena", surpreendeu na -
Ave
n i d a com o e n r ê d o s i m p l e s e bem e x p l o r a d o , o "Domingo" de A-
1
cione B a r r e t o e Adalberto Sampaio, desenvolvido por Maria -
Au
gusta. Sob f o r t e aclamação p o p u l a r , a E s c o l a ameaçou a hege -
monia d a s " g r a n d e s " , incluindo a Beija Flor, recém e r g u i d a a
e s t a condição. E m b o r a h o u v e s s e r e a l i z a d o um b e l o d e s f i l e , o-
b
t e v e a segunda colocação, e n o d e s e m p a t e com a P o r t e d e s c e-
n
do p a r a o t e r c e i r o l u g a r , enquanto a Beija Flor e r a c o n s a g r-
a
d a campeã d e 1 9 7 7 .

O a s p e c t o c o l o q u i a l d e um e n r ê d o q u e n ã o t i n h a cu-
nho h i s t ó r i c o ou f o l c l 6 r i c 0 , mas q u e e s t a v a v o l t a d o p a r a a
realidade cotidiana transformada em fantasia, f o i uma d a s c h a -
v e s do impacto causado p e l a União d a I l h a . A execução de f a n-'
tasias, adereços e a l e g o r i a s quase que totalmente baseada na
m a n i p u l a ç ã o d e m a t e r i a i s a l t e r n a t i v o s $ e z com q u e a E s c o l a s e
apresentasse leve e simples, m a s com g r a n d e r i q u e z a v i s u a l .

A riqueza policrÔmica do d e s f i l e , distanciando-- se

das cores da Escola, vermelho, azul e branco, também causou
impacto pela multiplicidade de cores utilizada. F o i um risco
c a l c u l a d o e bem r e s o l v i d o p e l a C a r n a v a l e s c a , que ao ampliar a
gama d e c o r e s u t i l i z a d a no d e s f i l e p o d e r i a t e r d e s c a r a c t e r i z-
a
do a Escola, f a t o q u e n ã o o c o r r e u com o e n r ê d o " D o m i n g o " . A p e
s a r d e s t e bom r e s u l t a d o , alguns Carnavalescos partiram para
a u t i l i z a ç ã o e x c e s s i v a d e c o r e s em s e u s d e s f i l e s , o que -
rom
p e u c o m o r í g i d o p a d r ã o s e g u i d o p e l a s E s c o l a s d e S a m b a d e r e-
s
p e i t a r e m na c r o m a t i c i d a d e d e s u a s a p r e s e n t a ç õ e s a s c o r e s que
a s representavam. E s t e " m o d i s m o " t o m o u um c e r t o i m p u l s o nas
décadas de 70 e 80, mas r e c e n t e m e n t e e s t a t e n d ê n c i a t e m sido
r e v e r t i d a em f a v o r d a f i d e l i d a d e 5s cores de cada Escola.

N o . e n r ê d o do "Domingo" e s t e tratamento p o l i c r o m á t-
i
c o e x i s t i u em f u n ç ã o d o p r ó p r i o t e r n a , que remetia 5s co~res
do s o l , d a s p i p a s no c é u e a o " c e n á r i o de tão lindo matizl',so
b r e o q u a l M a r i a A u g u s t a m o n t o u um c a r n a v a l c o l o r i d o e cria -
tivo.

Maria Augusta seguiu, na década d e 70, a tendência

e x i s t e n t e d e e x p l o r a r e n r e d o s b a s e a d o s em t e m a s o n i r i c o s e m-
e
tafisicos, como f a z i a m J o ã o z i n h o T r i n t a e F e r n a n d o P i n t o . A
d i f e r e n ç a e s t a v a no enfoque dado aos enrêdos quanto aos e l-
e
mentos do c o t i d i a n o r e a l d a s pessoas, e que mais tarde g e r-
a
ram a v e r t e n t e d e e n r ê d o s d e c r i t i c a p o l i t i c a . Esta vertente
s e r i a explorada por outras Escolas, como a C a p r i c h o s o s d e P-
i
l a r e s e a São Clemente.

A união da I l h a f i c o u marcada p e l a extrema popula-

r i d a d e a l c a n ç a d a em 1 9 7 7 , embora mais a d i a n t e b u s c a s s e novas
formas de apresentação, caracterizando-se de maneira "luxuosa"
na t e n t a t i v a de s e g u i r o modelo lançado pela Beija Flor,afas-
tando-se um p o u c o d o s a s p e c t o s q u e a c a r a c t e r i z a v a m .

"Maria A u g u s t a f e z d o i s C a r n a v a i s , se não
me e n g a n o , o " D o m i n g o " e o " A m a n h ã " , na
u n i ã o d a I l h a , q u e f o r a m c a r n a v a i s q u e dT e
f i n i r a m um a s p e c t o , q u e d e r a m uma c a r a a
E s c o l a , e a E s c o l a começou a p a s s a r um
r e s p e i t o , a p a r t i r do "Domingo", e l a f o i
 a l u c i n a n t e , l o u c a , e f o i r e a l m e n t e um n-
e
g ó c i o , e r a um b l o c o - o q u e n ã o é pejora
t i v o - a M a r i a A u g u s t a f e z um t r a b a l h o b õ
n i t o (....I o enrêdo do c o t i d i a n o , d e c r-
y
t i c a , funcionou maravilhosamente."

O enrêdo de 1978, "O Amanhã", de Alcione Barreto,

f o i e x e c u t a d o p o r M a r i a A u g u s t a n o s mesmos m o l d e d o "Domingo"
m a s com um t e o r d e a b s t r a ç ã o bem m a i s e v i d e n c i a d o em s u a t e m -
á
tica.A proposta deste enrêdo trouxe o questionamento de todo
o individuo acerca de seu próprio destino, com e l e m e n t o s de
exoterismo e p r e v i s õ e s do f u t u r o . M a r i a A u g u s t a a p r o v e i t o u e-
s
t a s informações e mais aquelas do f o l c l o r e b r a s i l e i r o , como o
realejo; e "simpatias", como o d e s f o l h a r d o m a l - m e - q u e r , d-
e
s e n v o l v e n d o um c a r n a v a l s i m p l e s e b e l o , acompanhado de uma
das marcas r e g i s t r a d a s da União da I l h a : um e x c e l e n t e Samba
Enredo.

N e s t e a n o a E s c o l a em q u a r t o l u g a r , a p ó s um d e s f-i
l e que aumentou sua popularidade. A União da I l h a 6 uma E s c-
o
l a f o r m a d a p o r p e s s o a s n a m a i o r i a com i d a d e e n t r e d e z o i t o e
t r i n t a anos, e n a d é c a d a d e 7 0 f o i um p o n t o d e a t r a ç ã o para
jovens residentes em o u t r o s p o n t o s d a c i d a d e , t a i s como a z-
o
na s u l . E s t e f o i t a m b é m um f e n ô m e n o n a q u e l a d é c a d a , em que
a s Escolas mais "novas", como a U n i ã o d a I l h a e a M o c i d a d e I -
n
d e p e n d e n t e d e P a d r e M i g u e l a t r a i a r a m um g r a n d e c o n t i n g e n t e d e
pessoas para seus desfiles e ensaios.

M a r i a A u g u s t a r e p e t i u o mesmo e s q u e m a d e trabalho
d e Fernando Pamplona, a o l e v a r p a r a s u a e q u i p , e a l u n o s d a E s c-
o
l a d e B e l a s Artes, que mais t a r d e seguiram a profissão de Car -
navalescos, como E c y l a C i r n e , q u e t r a b a l h o t a m b é m com Pauli
no E s p i r i t o S a n t o e Edmundo B r a g a :

"Comecei sendo c o n v i d a d a p e l a Maria A u g u-

s
t a [ ...
l p a r a f a z e r a União d a I l h a no "Do-
 mingon( .... l e com i s s o h a v i a a p o s s i b i l i
d a d e d e a p r e n d e r na p r á t i c a a s explicã
ç Õ e s t e ó r i c a s d a d a s em a u l a , e s t u d o físi
c o em r e l a ç ã o à r o u p a , m a t e r i a l , a l e g o r i : ,
q u e me i n t e r e s s a v a m u i t o n a p a r t e d e C e n- o
grafia(. ..I"

~ p Õ su m s é r i o d e s e n t e n d i m e n t o com a D i r e t o r i a da
~ n i ã od a I l h a . Maria Augusta p r o s s e g u i u como C a r n a v a l e s c a no
Bloco Canarinhos de L a r a n j e i r a s , em 1 9 8 1 , e d a E s c o l a d e -
Sam
ba P a r a i s o d o T u i u t i , nos anos de 81 e 83, ao lado de Billy
Aciolly. S e u Ú l t i m o t r a b a l h o f o i na E s c o l a d e Samba T r a d i ç ã o ,
q u e n a s c e u d e uma d i s s i d ê n c i a d a P o r t e l a e f o i c a m p o d e um -
a
contecimento inédito: a criação de enredos e execução de c a-
r
navais sob a responsábilidade d e uma e q u i p e d e C a r n a v a l e s c o s ,
no a n o d e 1 9 8 6 .

Na d é c a d a d e 7 0 t a m b é m s e d e s t a c a r a m o s C a r n a v a l e-
s
tos P a u l i n o E s p i r i t o S a n t o e Edmundo B r a g a , que embora
."
nao
houvessem ganho campeonatos, fizeram carnavais de grande i-
m
portãncia.

Edmundo B r a g a , Cenógrafo e F i g u r i n i s t a , tinha ampla

experiência de Teatro de Revista,e com P a u l i n o E s p í r i t o S a n t o
que t r a b a l h a v a na p e s q u i s a d e e n r ê d o e no b a r r a c ã o , formaram
uma p a r c e i r a c o n s t a n t e como C a r n a v a l e s c o s .

Quando f o i p a r a o S a l g u e i r o , com a d i f i c i l tarefa

d e s u b s t i t u i r J o ã o z i n h o T r i n t a em 1 9 7 5 , Braga já havia traba
l h a d o como C a r n a v a l e s c o p a r a a V i l a Isabel. No S a l g u e i r o pro
pôs o enrêdo "Valongo", b a s e a d o numa s é r i e d e t r ê s q u a d r o s d e
sua autoria - e r a também p i n t o r - a p r e s e n t a d o s no I S a l ã o de
Arte Visual da Casa da Bahia, n o Museu d e A r t e M o d e r n a . Este
enrêdo s e adequava 2s c a r a c t e r i s t i c a s do Salgueiro, i d e n t i f i -
c a d o com a t e m ã t i c a d o n e g r o . F o i um r e t o r n o 5s origens da
Escola, abordando a c o n t r b u i ç ã o do n e g r o a f r i c a n o na m i s c i g-
e
nação do povo b r a s i l e i r o . Seu t i t u l o , " V a l o n g o " vem d o porto
de desembarque de e s c r a v o s , junto a o m o r r o d a Gamboa, no s é c-
u
10 X I X .

Neste ano o Salgueiro obteve a quinta colocação, e-

n
quanto seu Carnavalesco a n t e r i o r , Joãozinho Trinta, conseguia
com a B e i j a F l o r o t í t u l o , com o e n r ê d o " S o n h a com R e i d á Le
-
ãol).

Anteriormente, em 1 9 7 3 , Paulino e Braga j á haviam -

e
xecutado f i g u r i n o s para a Mangueira, n o e n r ê d o " L e n d a s d o Aba
-
etg", do C a r n a v a l e s c o J u l i o M a t t o s , e d e p o i s do S a l g u e i r o i-
n
tegraram-se ã equipe de Maria Augusta, t r a b a l h a n d o no e n r-
ê
do "O Amanhã". D i v i d i n d o a p a r c e r i a em a l g u n s c a r n a v a i s com
E c i l a Cyrne, a m b o s n ã o s e f i x a r a m p o r m u i t o t e m p o em uma só
Escola, executando carnavais para o Salgueiro, Mocidade I n d-
e
pendente de Padre Miguel, P o r t e l a e também na T r a d i ç ã o , p a r t-
i
cipando da equipe de Carnavalescos.

Esta parceEia resultou em c a r n a v a i s m a r c a n t e s , não

s ó p e l o s t e m a s e s c o l h i d o s , mas p e l a p r e o c u p a ç ã o d e ambos em
r e s p e i t a r a identidade de cada s e a l a . Sua maior i d e n t i f i c a ç ã o
foi com a P o r t e l a , onde t r a b a l h a r a m três anos s e g u i d o s , de
19.82 a 1984, d e s e n v o l v e n d o o s e n r ê d o s "Meu B r a s i l B r a s i l e i r o "
"A R e s s u r r e i ç ã o d a s C o r o a s " e "Contos de Areia".

Caracterizou o t r a b a l h o d e B r a g a e P a u l i n o a e x p e r-
i
mentaçáo de m a t e r i a i s a l t e r n a t i v o s e a pesquisa de objetos
do a r t e s a n a t o b r a s i l e i r o , u s a d o s na composição dos elementos
v i s u a i s do d e s f i l e . Entre estes, tapetes de s i s a l pintados
eram usados p a r a s o l u ç õ e s p l á s t i c a s de g r a n d e e f e i t o , bem c-
o
mo a s u c a t a i n d u s t r i a l , q u e o s C a r n a v a l e s c o s t r a n s f o r m a v a m em
elementos decorativos. Neste caso, a s tramas formadas pelas a -
p a r a s d e e m b a l a g e n s d e A s p i r i n a f o r a m uma c o n s t a n t e e m seu
trabalho, c o n s e g u i n d o um b e l i s s i m o e f e i t o metalizado.
 Esta utilização de materiais a l t e r n a t i v o s resultou
em s o l u ç Õ e s o r i g i n a i s c r i a d a s p o r B r a g a e P a u l i n o , que muito
e n r i q u e c e r a m o s d e s f i l e s d a s E s c o l a s d e Samb.a p a r a a s quais
t r a b a l h a r a m como C a r n a v a l e s c o s .

2.2.7 - A AFIRMAÇÃO DOS CARNAVALESCOS

N e s t e e s p a ç o d e t e m p o em q u e o s C a r n a v a l e s c o s t i v-
e
ram s e u l u g a r r e g i s t r a d o no c o n t e x t o d a s E s c o l a s d e Samba, n-
o
ta-se q u e a o f i n a l d a d é c a d a d e 7 0 s u a p o s i ç ã o e r a i n c o n t e s t-
á
vel.

Houve no e n t a n t o n e s t a d é c a d a t e n t a t i v a s d e s e e-
n
c o n t r a r a l t e r n a t i v a s para diminuir o espaço que o C a r n a v a l e-
s
co conquistou, n a s E s c o l a s d e Samba e no m e r c a d o d e trabalho
que e l a s ofereciam. Dois exemplos s i g n i f i c a t i v o s ocorrem na
Portela, com H i r a n A r a ú j o , pesquisador de carnaval, e na -
U
nião da I l h a , com o j o r n a l i s t a José Carlos Netto. O fato d e-
s
t a s e x p e r i ê n c i a s não terem correspondido 5s e x p e c t a t i v a s não
as invalida, mas i l u s t r a a t e n d ê n c i a g e n e r a l i z a d a n a s E s c o l a s
d e Samba d e o p t a r e m p e l o s p r o f i s s i o n a i s C a r n a v a l e s c o s .

"(...I e u t i v e uma e x p e r i ê n c i a n a P o r t e l a ,
na d é c a d a d e 70, quando e x p l o d i a e s t e es -
p e t á c u l o novo que j á v i n h a c r e s c e n d o na
d é c a d a d e 6 0 ( . . . ] E n t ã o c o m a n d e i um D e p a r
t a m e n t o C u l t u r a l , com o u t r o s elementoç
que f a z i a o enrêdo, planejava, desenvol
v i a e depois convocava o a r t i s t a p l ã s t-i
c o , ou a s p e s s o a s l i g a d a s à e s s a á r e a de
espetáculo, para que e l e desenvolvesse a
i d é i a e d i z i a m o s : q u e r o uma a l e g o r i a a-s
s i m , uma f i g u r a d e s t a f o r m a , e e l e s fa
z i a m a n o s s a e n c o m e n d a , e quem c o n c e b i a õ
carnaval, inclusive desde o enrêdo a t é a
a r m a ç ã o d a E s c o l a d e Samba é r a m o s n ó s . "
 E s t a e x p e r i ê n c i a na P o r t e l a durou conco anos, r e s u-
l
tando nos enrêdos: "Ilu ~~ê ( T e r r a d a V i d a I w , 1 9 7 2 , 3 ? lugar;
"Passárgada, O Amigo d o R e i W , 1 9 7 3 , 4 ? l u g a r ; "Mundo M e l h o r d e
Pixinguinhan,1974, 29 lugar; "Wacunaíma", 1975, 49 lugar, e o
"Homem d o P a c o v a l W , 1 9 7 6 , 4 ? l u g a r . O postcionamento da E s c-
o
l a n o c o n c u r s o d e m o n s t r a q u e e s t e s i s t e m a f u n c i o n a v a bem, ao
colocar o "artista plástico" como um p r o f i s s i o n a l contratado,
e d e i x a n d o a c a r g o da E s c o l a a c r i a ç ã o do c a r n a v a l . Não f o s s e
a Beija Flor sagrar-se c a m p e ã em 1 9 7 6 , colocando -~oãozinho
T r i n t a em e v i d ê n c i a como C a r n a v a l e s c o , talvez esta e x p e r i ê-
n
c i a t i v e s s e s e t o r n a d o uma t e n d ê n c i a e x p l o r a d a p o r o u t r a s E-
s
colas.

"[...I m a s em 7 6 o J o ã o z i n h o T r i n t a explo
d i u na B e i j a F l o r e t o d o e s t e trabalhõ
q u e eu t e n t e i f a z e r na P o r t e l a , f o i a b s o r
v i d o , e n g o l i d o p e l a fama que ~oãozinhõ
T r i n t a começou a t e r na B e i j a F l o r , e a
p a r t i r d e s t a performance, e s s a c o i s a f -i
cou t ã o f o r t e q u e o modelo p a s s o u a ser
a Beija Florl...l"

Com o a p a r e c i m e n t o d o C a r n a v a l e s c o h o u v e uma c o-
n
centração de a t r i b u i ç õ e s a n t e s exercidas por outros segmentos
d a E s c o l a d e Samba, m a s mesmo com s u a p r e s e n ç a , estes s e g m e-
n
t o s n ã o p e r d e r a m s u a i m p o r t â n c i a no c o n t e x t o d a s E s c o l a s , c-
o
mo a D i r e ç ã o d e H a r m o n i a o u a C o m i s s ã o d e C a r n a v a l . Esta c e-
n
t r a l i z a ç ã o d e a t i v i d a d e s no C a r n a v a l e s c o 6 f r u t o da própria
e v o l u ç ã o d a s E s c o l a s d e S a m b a em f u n ç ã o d a c o m p l e x i d a d e cada
vez maior de seus d e s f i l e s , buscando p r o f i s s i o n a i s especiali -
zados e oferecendo a e l e s o suporte necessãrio para a r e a l-
i
zação do c a r n a v a l . A p r o f i s s i o n a l i z a ç ~ os u b s t i t u i u o "amade -
rismo", como d e s c r e v e o j o r n a l i s t a José Carlos Netto:

"Todo o t r a b a l h o que 6 h o j e f e i t o p o r uma

e q u i p e p r o f i s s i o n a l , n ó s f a z í a m o s na épo
c a a l t a m e n t e amador [ . . . I Em 1 9 7 3 fomos
convidados pelo Presidente J u c i Curve10
 p a r a a p r e s e n t a r m o s um c a r n a v a l na união
d a I l h a ( . . . . ) e e u d i s s e a e l e , vamos f-
a
z e r u m e n r e d o d e Macumba, q u e 6 a coisa
m a i s f á c i l d e f a z e r , e fomos f e l i z e s até
no nome, " L e n d a s e F e s t a s d a s ~ a b á s " , u m
c a r n a v a l e s c r i t o p e l o Mario B a r c e l o s , que
é macumbeiro, dono d e t e r r e i r o , da Roça
d o XangÕ d e O u r o . E a U n i ã o d a I l h a paz
sou p a r a o p r i m e i r o grupo e h o j e e s t á no
Grupo E s p e c i a l e f a z d e s f i l e s maravilh- o
sos graças aquele carnaval[...)

~ o s éC a r l o s N e t t o a f i r m a q u e mesmo sem f o r m a ç ã o -
ar
tistica, d e f a c u l d a d e ou u n i v e r s i d a d e , c r i a v a com c o m p e t ê n c i a
carros e fantasias, i d e a l i z a v a esquemas cromáticos e partici -
pava d o s t r a b a l h o s do B a r r a c ã o . Executava a s t a r e f a s de um
C a r n a v a l e s c o , mas com uma r e l a ç ã o a f e t i v a com a E s c o l a dife -
rente daquela estritamente profissional que v i s a v a remunera
ção. T e n d o t r a b a l h a d o a o l a d o d e J u l i o M a t t o s no c a r n a v a l do
I V Centenário, na M a n g u e i r a , J o s é Carlos Netto afirma que as
t r a n s f o r m a ç Ó e s d a s E s c o l a s d e Samba a f e t a r a m o t r a b a l h o da-
q u e l e s que e l e denomina "sambistas carnavalescos":

" H o j e a g e n t e t e m c e r t o medo d e p a r t i c i p a r
de t r a b a l h o s de barracão, porque a s coi
s a s e s t ã o muito s o f i s t i c a d a s C . . . l o Car -
n a v a l tomou u m n o v o r u m o , q u e t i r . o u de
n ó s , a r t e s o e s do samba, a q u e l e entusias -
mo, a q u e l a e m p o l g a ç ã o d e t r a b a l h a r . "

E f a t o que e s t e s novos rumos do C a r n a v a l d a s Eçco-

ias d e Samba b a s e i a m - s e em r a z õ e s bem m a i s c o m p l e x a s d o q u e a
simples s o + i s t i c a ç ã o de t é c n i c a s e m a t e r i a i s , ou mesmo pela
presença do C a r n a v a l e s c o . Se para alguns significou a perda
de espaço, o impulso continuou a e x i s t i r . bem como a s resiç
tências, n a t u r a i s em q u a l q u e r p r o c e s s o d e e v o l u ç ã o , que -
sem
p r e f i z e r a m p a r t e d o mundo d a s E s c o l a s d e S a m b a .
 No f i n a l d a d é c a d a d e 7 0 , grandes Carnavalescos e-
s
tavam a t u a n d o n a s E s c o l a s d e Samba, com uma e s t r u t u r a bem di-
f e r e n t e daqule que f o i dada aos Carnavalescos da década a n t-
e
rior. E m 1 9 7 8 a c o n t e c e u uma d i s p u t a i n t e r e s s a n t e e n t r e o s C a-
r
n a v a l e s c o s Fernando Pamplona e J o ã o z i n h o T r i n t a , que e s c o l h-
e
ram e n r ê d o s s e m e l h a n t e s p a r a s u a s E s c o l a s . Ambos propuseram
e n r ê d o s q u e c o n t a v a m o s u r g i m e n t o d o u n i v e r s o a p a r t i r d e uma
visão afro-brasileira. Joãozinho Trinta elaborou "A criação
d o Mundo n a T r a d i ç ã o ~ a g Ô " p a r a a B e i j a F l o r , e P a m p l o n a a p r-
e
sentou "Do Y o r u b á à L u z , A Aurora dos Deuses" para o Salguei -
ro, o n d e n o a n o a n t e r i o r f e z "Do C a i u i m a o E ~ Ó , com Moça B r a -
n
ca, Branquinha".

O Salgueiro, após a perda de seu Presidente E u c l-

i
des Pannar, o "China Cabeça Branca", q u e d e u 2 E s c o l a s u a q u-
a
dra de ensaios, v o l t o u a a t r a v e s s a r s é r i a s d i f i c u l d a d e s f i n a-
n
ceiras, que i n t e r f e r i r a m no t r a b a l h o r e a l i z a d o p o r Pamplona.
C o n t r a s t a n d o com e s t e q u a d r o , J o ã o z i n h o T r i n t a t i n h a na B e i j a
F l o r t o d o a p o i o f i n a n c e i r o p a r a r e a l i z a r um c a r n a v a l com t r a -
n
quilidade e meios disponfveis.

P a m p l o n a c o n t o u com a a j u d a d e s e u s a n t i g o s c o l e g a s
de equipe, como M a r i a A u g u s t a , e neste ano trabalhavam com
e l e S t o e s s e l Candido da S i l v a e Renato Lage, e s t e Último já
a a l g u m t e m p o t e n d o c o n t a t o s com a e q u i p e d e P a m p l o n a e A r l i n -
do. A d i s p u t a e n t r e a s d u a s E s c o l a s e s e u s C a r n a v a l e s c o s a c e-
n
deu a p o l ê m i c a da r i v a l i d a d e e n t r e ambos:

"Confessadamente Pamplona q u e r i a disputar

com a B e i j a F l o r n o mesmo t e r r e n o d e i n s -
p i r a ç ã o , na c e r t e z a d e q u e o s t r a t a m e n t o s
seriam completamente d i f e r e n t e s (...)Quem
t i n h a que f i c a r nervoso, d i z ~ a m p l o n a ~ e r a
o João."[341

(341 Costa, Haroldo, Salgueiro, Academia do Samba, op.cit.pãg.

264
 O resultado v e i o c o m p r o v a r q u e s e no t e r r e n o d a i n-
s
piraçãoas possibilidades eram s e m e l h a n t e s , o mesmo n ã o a c o n t-
e
teu n a h o r a d e p o r em p r á t i c a , a i n d a q u e com t o d a a versatili
dade e competência Pamplona t e n t a s s e t i r a r da cabeça o que o
b o l s o não c o n t i n h a , p a r a f a z e r um bom c a r n a v a l . O Salgueiro
o b t e v e a s e x t a c o l o c a ç ã o e a B e i j a F l o r d e J o ã o z i n h o T r i n t a o-
b
t e v e o t i t u l o d e campeã p e l a t e r c e i r a v e z c o n s e c u t i v a , dando
ao Carnavalesco o h i s t õ r i c o t i t u l o de pentacampeão.

O ano de 1979 marcou a v o l t a de Braga e Paulino ao

Salgueiro, junto com S t o e s s e l , p a r a fazerem o enrêdo "O Reino
Encantado da ~ ã N
e a t u r e z a C o n t r a o R e i do Mal" d e cunho e c o l-
ó
gico, q u e c o l o c o u a E s c o l a n o v a m e n t e em s e x t o l u g a r . Por outro
lado, A r l i n d o R o d r i g u e s na Mocidade I n d e p e n d e n t e d e P a d r e M -i
g u e l conquistava o campeonato, com " O Descobrimento do B r a s i l " ,
p r i m e i r a v i t ó r i a d e s t a E s c o l a n o G r u p o I , numa r e v i s ã o d o t e m a
f e i t o p o r e l e e P a m p l o n a p a r a o S a l g u e i r o em 1 9 6 2 .

Neste ano a B e i j a F l o r conquistou o segundo lugar,

com " P a r a i s o d a L o u c u r a " d e ~ o ã o z i n h oT r i n t a , e na P o r t e l a , q u e
o b t e v e a t e r c e i r a c o l o c a ç ~ o , e s t r e a v a como C a r n a v a l e s c o V i r i-
a
to Ferreira, com o e n r ê d o " I n c r f v e l , Fantástico, E x t r a o r d i n á r-
i
o"; na União d a I l h a , q u e f i c o u em q u i n t o l u g a r , estava o C a-
r
n a v a l e s c o Max L o p e s , com o e n r ê d o " O Que s e r ã ? " .

Nos p o s i c i o n a m e n t o s acima d e s c r i t o s , nota-se um f a t o

que r e v e l a a i n t r i n c a d a rede de formação e expansão de C a r n-
a
valescos, v i s t o que nas primeiras posições todos tiveram sua
passagem p e l a e q u i p e de Pamplona e A r l i n d o , uma e q u i p e q u e -
a
b a s t e c e u o m u n d o d o S a m b a com d i s p u t a s e m o m e n t o s d e g r a n d i o s a
beleza. Desta primeira geração de "mestres" do c a r n a v a l s u r g-
i
r i a novas e t a p a s da p r ó p r i a h i s t ó r i a do Carnaval das Escolas
d e Samba.
2.3.1 - ASPECTOS GERAIS

A Última década a n a l i s a d a n e s t a pesquisa é o -

somatÓ
r i o d e f a t o r e s que permearam a e v o l u ç ã o do C a r n a v a l C a r i o c a e
d a s E s c o l a s d e Samba. A busca de indentida s e transformou para
a s E s c o l a s d e Samba, n a b u s c a d e uma a d m i n i s t r a ç ã o p r o f i s s i-
o
na1 competente, sobretudo nos aspectos f i n a n c e i r o s e a r t i s t-
i
cos. A nova r e v o l u ç ã o e r a econõmica, g e r a n d o uma n o v a m e n t a l-
i
dade, a "empresarial", que a l t e r o u profundamente o c o n t e x t o do
mundo d o s a m b a .

N e s t a d é c a d a um a n t i g o p r o b l e m a f o i p e l o m e n o s ap=
rentemente solucionado: a q u e s t ã o do espaço c ê n i c o , um local
definitivo para o desfile, que desde 1962 quando foram c o n-
s
truídas a s arquibancadas e comercializados os ingressos, cons-
t i t u i u um p r o b l e m a d e c u s t o p a r a o G o v e r n o , dadas a s despesas
com a m o n t a g e m e d e s m o n t a g e m d a s a r q u i b a n c a d a s .

Construiu-se a s s i m a P a s s a r e l a do Samba, m a i s c o n h-
e
c i d a como " s a m b Ó d r o m o " , grandioso e s t á d i o que f e z j u s t i ç a ao
crescimento das Agremiações. D e n t r o d e uma l ó g i c a d e -
acomoda
ç ã o , d i v i d i u - s e o d e s f i l e em d o i s d i a s , e n o s p r i m e i r o s d e s f-
i
l e s d o ~ a m b ó d r o m o , c a t o r z e E s c o l a s d e Samba d e s f i l a v a m no G r-u
po I - A .
O c o m p o r t a m e n t o d a s E s c o l a s d e Samba mudou radical -
mente, e d e uma d i s s i d ê n c i a h a v i d a n a A s s o c i a ç ã o d a s Escolas
d e Samba d o R i o d e J a n e i r o , a AESCRJ, dez Escolas fundaram a
L i g a I n d e p e n d e n t e d a s E s c o l a s d e Samba, a LIESA, que passou a
n e g o c i a r com a R i o t u r a s b a s e s d e p a r t i c i p a ç ã o f i n a n c e i r a das
E s c o l a s no d e s f i l e .

O d e s f i l e tornou-se um s u p e r e s p e t ~ c u l o , em q u e no
qual a criatividade não poderia c a m i n h a r sem r e c u r s o s c o n d-i
z e n t e s com a m a g n i t u d e d a s E s c o l a s d e S a m b a , recursos f i n a n c e-
i
ros, tecnolÓgicos e humanos. Tornando-se um e s p e t á c u l o d e m a-
s
sa, superdimensionado pela industria cultural e valorizado co
mo p r o d u t o r d e d i v i s a s t u r i s t i c a s , o desfile das Escolas de
Samba p o s i c i o n o u - s e como a m a i o r a t r a ç ã o d o C a r n a v a l Carioca.

Numa c o r r e s p o n d ê n c i a à o r g a n i z a ç ã o e m p r e s a r i a l das
E s c o l a s d e Samba, surge a consciência da organização p r o f i s s i-
o
na1 dos Carnavalescos, e 6 fundada a Associação de C a r n a v a l e-
s
tos d e E s c o l a s d e Samba, a ACES. Emerge n e s t a c o n s c i e n t i z a ç ã o .
a i n d a que não p o s s u i s s e muita f o r ç a , uma a t i v i d a d e c l a s s i c i-
s
t a e politizada, orientada para problemas a t é c e r t o ponto igno -
rados pelas Escolas e pelos próprios Carnavalescos.

O avanço têcnológico amplia os recursos v i s u a i s u t -i

l i z a d o s no d e s f i l e , mas também d e t e r m i n a o c o n h e c i m e n t o das
t é c n i c a s e m a t e r i a i s que atendessem às exigências cada V eL
maiores da apresentação das Escolas. Mudanças na estruturacão
e no r e g u l a m e n t o d o s d e s f i l e s s e r e f l e t e m no t r a b a l h o d o C a-
r
navalescos,que s e tornam elementos centralizadores e p r o d u t-
o
r e s de novas i d é i a s e r e l e i t u r a s d a s t e m á t i c a s do Carnaval.Sua
presença torna-se cada vez mais importante, pelo seu c o n h e c-
i
mento e dominio da a r t e d e " f a z e r " o c a r n a v a l d e uma E s c o l a d e
Samba.

2.3.2 - A EXPANSÃO DOS CARNAVALESCOS

I1Nenke palco i l u m i n a d a
SÜ da L; Lã
Ea pheaente i m a h t a l
S Ü dá Lá Lã
Naaaa Encala a e encanka
O povão n e a g i g a n t a
E dano d a c a h n a v a l . " ( 3 5 1
-
( 3 5 ) Samba e n r e d o d a I m p e r a t r i z L e o p o l d i n e n s e , " O Teu C a b e l o
N e g a ( S ó d á ~ a l á l " ,p a r a o a n o d e 1 9 8 1
N ~ O
 Em 1 9 8 0 a c o n t e c e r a m d o i s f e n ô m e n o s premonitórios
p a r a a h i s t ó r i a d o C a r n a v a l d a s E s c o l a s d e Samba e p a r t i c u l a-
r
mente p a r a o s Carnavalescos. Ambos a c o n t e c e r a m n o S a l g u e i r o e
m e r e c e m uma r á p i d a d e s c r i ç ã o .

O p r i m e i r o fenômeno s e r e l a c i o n a ao que h o j e 6 c h-
a
mado d e " r o t a t i v i d a d e " d o C a r n a v a l e s c o e a f a c i l i d a d e como os
D i r i g e n t e s d a s E s c o l a s d e Samba d i s p õ e d e s t e p r o f i s s i o n a l .

O C a r n a v a l e s c o Max Lopes, que f o i do g r u p o de Arli-

n
do e Pamplona, havia sido convidado para e l a b o r a r o carnaval
do S a l g u e i r o , e apresentou o enrêdo "Lamartiniadas, Folia e
~ a i x ã o " , s o b r e L a m a r t i n e Babo. Tendo d e s e n v o l v i d o a pesquisa
s o b r e o tema, quando j á h a v i a d e s e n h a d o v á r i o s f i g u r i n o s e a d-
e
reços, f o i s u r p r e e n d i d o com s u a d e m i s s ã o . Osmar V a l e n ç a , r e t o-
r
nando à p R e s i d e n c i a da E s c o l a , d e s t i t u i u o Carnavalesco,montou
uma C o m i s s ã o d e C a r n a v a l e c o n v i d o u o C a r n a v a l e s c o Ney Ayan p-
a
r a p r p o r um n o v o e n r ê d o .

Ney Ayan p r o p ô s ail ai lar d o s V e n t o s , R e l a m p e j o u , M a ç

N ~ OC h o v e u " , b a s e a d o em l e n d a s d o s O r i x á s a f r i c a n o s , nos -
mo1
d e s t e m á t i c o s comuns a o S a l g u e i r o . Aceito o enrêdo, -
o s d o i s me
l h o r e s s a m b a s f o r a m u n i d o s num Ú n i c o , pelo próprio C a r n a v a l e-
s
co, r e p e t i n d o o p r o c e d i m e n t o d e J o ã o z i n h o T r i n t a n a d é c a d a p a-
s
sada.

O segundo fenômeno aconteceu no d e s f i l e , quando O

Salgueiro se apresentou irreconhecivel, q u a s e sem s u a s cores

básicas, o vermelho e o branco. E s t a d e s c a r a c t e r i z a ç ã o d a E s c-
o
l a f o i c o n f i g u r a d a p o r t e r e m s i d o a t i n g i d o s um d e s e u s pontos
máximos d e i d e n t i f i c a ç ã o , suas cores. A imposição de cores r-
e
f e r e n t e s ao enrêdo, sobretudo amarelo e preto, alterou a apre-
sentação da Escola, que apesar de tudo obteve a t e r c e i r a c o l-
o
"
caçao.
 E m 19.80 t r ê s E s c o l a s d e S a m b a f o r a m c a m p e ã s : Beija
F l o r com " O S o l d a Meia N o i t e , Uma V i a g e m a o P a i s d a s M a r a v-
i
lhas", de Joãozinho T r i n t a , Portela, com " H o j e Tem M a r m e l a d a " ,
de V i r i a t o F e r r e i r a e Imperatriz Leopoldinense, com " O Que é
Que A B a h i a T e m ? " d e A r l i n d o R o d r i g u e s . Em s e g u n d o l u g a r e m p-
a
t a r a m a M o c i d a d e I n d e p e n d e n t e d e P a d r e M i g u e l com 11Tropi6ália
Maravilha" de Fernando Pinto, U n i ã o d a I l h a com " B o m , B o n i t o e
B a r a t o d e A d a l b e r t o Sampaio e Unidos de V i l a I s a b e l , com " S-
o
nho d e Um S o n h o " . Em t e r c e i r o l u g a r f i c o u o j á citado S a l g u e-
i
ro, e em q u a r t o l u g a r a M a n g u e i r a , com o e n r a d o " C o i s a s N o s s a s "
de Liana S i l v e i r a e E c i l a Cyrne.

M a i s uma v e z p r e d o m i n a m n a s p r i m e i r a c o l o c a ç Õ e s C a-
r
n a v a l e s c o s o r i u n d o s do grupo de Pamplona e A r l i n d o . Na M a n g u e-
i
ra repetia-se o mesmo f a t o , Liana S i l v e i r a participara d a e q u-
i
pe d e Pamplona d e s d e o s tempos d e d e c o r a ç ã o d e B a i l e s e Ruas,
quando a i n d a e r a a l u n a da E s c o l a Nacional de Belas Artes. O e-
s
de 1961 já e s t a v a envolvida não s ó com E s c o l a s d e S a m b a , mas
t a m b é m c o n c o r r e n d o em D e c o r a ç õ e s d e R u a . No R i o d e J a n e i r o o-
b
teve respectivamente, nos anos d e 1965 e 1966 o t e r c e i r o e o
segundo lugares; em S . P a u l o obteve o primeiro l u g a r em tam-
bém com D e c o r a ç ã o d e R u a , e em 1 9 6 9 v e n c e u n o R i o d e Janeiro
o c o n c u r s o de Decoração do B a i l e do T e a t r o M u n i c i p a l .

Sua e x p e r i ê n c i a , antes de chegar 5 Mangueira, onde '

t r a b a l h o u em 1 9 8 0 , p a s s a r i a p o r E s c o l a s d e S a m b a como a U n i d o s
da Ponte, em 1 9 7 7 e U n i d o s d e C a m p o s em 1 9 7 9 . Professora da
Escola Nacional de Belas Artes, no c u r s o d e A r t e D e c o r a t i v a , r e
p e t i u a e x p e r i ê n c i a d e Pamplona, levando alunos para p a r t i c-
i
parem da execução do c a r n a v a l da Mangueira.

Numa E s c o l a em q u e uma d a s p r i n c i p a i s e x i g ê n c i a s 6
o absoluto r e s p e i t o 5 combinação verde e rosa que a simboliza,
L i a n a S i l v e i r a e l a b o r o u um e s q u e m a o b j e t i v o d e u t i l i z a ç ã o d e-
s
t a s cores, perigosas quanto ã harmonização e de d i f í c i l s o l-
u
ção visual. Optando por t r a b a l h a r cuidadosamente a s duas c-
0
r e s e u t i l i z a n d o o g r a n c o como e l e m e n t o i n t e r m e d i á r i o , e l a b o r o u
um d e s f i l e n o q u a l a s c o r e s s e a l t e r n a v a m , ora evidenciando o
verde, com s u a v e s t o q u e s d e r o s a e v i c e - v e r s a . .

O enrêdo "Coisas Nossas" era eclético, abordando os

a t r i b u o t s do B r a s i l , tais como o p e t r ó l e o , os indios, o f r-
e
vo e o s c a r n a v a i s a n t i g o s , e s t e s Últimos simbolizados p r i n c-
i
p a l m e n t e p o r um b e l o P i e r r o t criado pelas Carnavalescas, que
mereceu o t r o f é u "Estandarte d e Ouro" do jornal O Globo.

O carnaval d e 1 9 8 1 t r o u x e uma coincidencia irohica,

um e n r ê d o i n s p i r a d o em L a m a r t i n e B a b o - o mesmo r e j e i t a d o por
Osmar V a l e n ç a no S a l g u e i r o em 1980 - d e s t a v e z d e s e n v o l v i d o e
assinado por Arlindo Rodrigues, d a r i a a Imperatriz Leopoldinen -
s e o t í t u l o d e campeã. Neste ano, o Carnavalesco do Salgueiro
f o i ~ é g i sC a r d o s o , d i r e t o r de t e l e v i s ã o que tentou, sem muito
sucesso, uma m e l h o r o r g a n i z a ç ã o d e t r a b a l h o c o m a E s c o l a , u n i n -
do s e u s conhecimentos de t e l e v i s ã o 3 elaboração do d e s f i l e .

Arlindo Rodrigues, n o d e s f i l e d a I m p e r a t r i z L e o p o l d-
i
nense, impregnou a Avenida com o e s p i r i t o g e n u i n a m e n t e c a r n-
a
v a l e s c o d e L a m a r t i n e Babo, numa e x p o s i ç ã o a d m i r á v e l d e r e c u-
r
s o s p l á s t i c o s a l i a d o s a um b e l o s a m b a e um c o n t i n g e n t e de
3.000 componentes.

"Ao e s c o l h e r c o m o t e m a d e s e u e n r ê d o a f i g -
u
r a , a v i d a e a o b r a d e L a m a r t i n e Babo, O
pessoal da Imperatriz estava fazendo um
c a r n a v a l d e n t r o do carnaval. E s t e f o i um
d e t a l h e que pesou na comunicabilidade da
escola. que logo contagiou o público, ten
do a i m e d i a t a r e s p o s t a do j á ganhou."/361-
A Beija Flor, com e n r ê d o d e J o ã o z i n h o T r i n t a " C a r n-
a
v a l do B r a s i l , a
a
8. d a s 7 M a r a v i l h a s d o Mundo", que abordava

( 3 6 1 R e v i s t a MANCHETE, nP1509, d e 21/03/81, op.cit.p.7

o p r Ó p r i o c a r n a v a l como t e m a , obteve o segundo lugar, j u s t i f-
i
c a n d o m a i s uma v e z o e s t i l o d e s u p e r e s p e t á c u l o :

"O carnaval da Beija-Flor f o i cuidado nos

mínimos d e t a l h e s , e s p e c i a l m e n t e dirigido
para os juizes (...I E, a perder o carna
v a l p a r a alguém - afirmaram s e u s dirige;
tes - melhor que f o s s e para a Imperatrir
Leopoldinense, e s c o l a amiga e que segue o
mesmo c o n c e i t o d e c a r n a v a l - l u x o , d e c a r n-
a
val espetáculo."[371

Deste conceito de "superespetáculo" e "carnaval lu-

xo" q u e dominava o s d e s f i l e s d a s E s c o l a s d e Samba, seria aprg
s e n t a d o um e n r é d o q u e i r i a c r i t i c a r a s " s u p e r E s c o l a s d e S a m b a "
e a s "Superalegorias", que diminuiam cada vez mais o espaço
dos sambistas. Concebido p o r Pamplona, f a z i a uma r e v i s ã o do
q u e f o i o p r o c e s s o e v o l u t i v o d a s E s c o l a s d e Samba:

"(. . . I e s s e e n r ê d o chamava-se "Onze", refe

r i n d o - s e à P r a ç a Onze. O p r o c e s s o d e e x p l Õ
s ã o d a s v á r i a s camadas c u l t u r a i s do Estã-
d o , q u e e u chamava d e " C a n d e l á r i a " , que
e r a a P r e s i d e n t e Vargas e o Último porces
so, de comercialização e p r o f i s s i o n a l i s m o ~
i n t e g r a d o , e u d e i i s s o a o império e quem
f e z f o i a Rosa M a g a l h ã e s , mudando o nome
p a r a "Bum Bum P a t i c u m b u m P r u g u r u n d u m " l... I "
Fehnanda Pamplana

Fernando Pamplona a p e s a r d e não e s t a r atuando como

Carnavalesco. continuava ligado ao Carnaval, através dos e n r-
ê
dos que o u t r o s Carnavalescos desenvolveram.

Rosa Magalhães desenvolveram e s t e e n r ê d o p a r a o Impé

rio, j á com e x p e r i ê n c i a d e a l g u n s a n o s em E s c o l a s d e S a m b a e
t a m b é m em d e c o r a ç õ e s d e B a i l e s , como o d o T e a t r o M u n i c i p a l . A

137) R e v i s t a Manchete, idem. op.cit. p.15

iniciação profissional f o i na e q u i p e d e Pamplona e A r l i n d o , o-
n
d e Rosa t r a b a l h o u como f i g u r i n i s t a e L i c i a t r a b a l h o u na parte
d e a l e g o r i a s com J o ã o z i n h o T r i n t a .

E s t e e n r ê d o d o ~ m p é r i of o i d e s e n v o l v i d o d e f o r m a c r-í
tica, s a t i r i z a n d o o s " m a l e s " q u e a t i n g i a m a s E s c o l a s d e Samba,
como o g i g a n t i s m o e o l u x o e x c e s s i v o , chegando ao ponto de -
a
p r e s e n t a r e m um c a r r o a l e g ó r i c o com um b o n e c o r e p r e s e n t a n d o J-
o
ãozinho Trinta, cercado de mulatas. F o i um d e s f i l e m a r c a n t e p -
e
l a a u t o c r i t i c a e d e p o i s p e l a emoção d e d u a s E s c o l a s d e Samba
de Madureira conquistarem a s duas primeiras posições. O Impé
r i o obteve o primeiro .lugar e a P o r t e l a o segundo, com o enrê
d o "Meu B r a s i l B r a s i l e i r o " d e ~ é z i oN a s c i m e n t o , suspendendo na -
quele ano a e t e r n a r i v a l i d a d e e n t r e a s duas Escolas.

"(...I6 f o l i a , n e s t e d i a ninguém c h o r a . E a
mesma M a d u r e i r a q u e j á c h o r o u d e d o r , agc
r a c h o r a d e a m o r , com I m p é r i o S e r r a n o e
a P o r t e l a nos d o i s primeiros lugares. Sem
s u p e r a l e g o r i a s , não escondendo g e n t e bam-
b a . E ~ o ã o z i n h oT r i n t a em b o n e c o , c u r i o s-
a
mente apontava a vencedora."(381

O s Carnavalescos j á n ã o s e m a n t i n h a m f i x o s 5s E s c-
o
las, e a década de 80 demosntrava que e s t e p r o f i s s i o n a l t o r n-
a
va-se cada vez mais i n t i n e r a n t e , dependendo de sua escolha, da
o p ç ã o d a E s c o l a e também d o r e s u l t a d o q u e o b t i v e s s e .

E m 1 9 8 2 , Max L o p e s e s t a v a n a U n i ã o d a I l h a , Renato
Lage na Unidos d a T i j u c a ; A r l i n d o c o n t i n u a v a n a I m p e r a t r i z L e-
o
poldinense, d e p o i s do campeonato do ano a n t e r i o r ; V i r i a t o e s t-
a
va na V i l a I s a b e l , e a M a n g u e i r a t i n h a como C a r n e v a l e s c o F e-
r
nando P i n t o , numa d e s u a s Ú n i c a s e x p e r i ê n c i a s n e s t a e 6 c o l a .

Poucos Carnavalescos r e s i s t i a m ã rotatividade, com

( 3 8 1 R e v i s t a MANCHETE, 13/3/82, op.cit. p.5

e x c e ç ã o d e J o ã o z i n h o T r i n t a na B e i j a F l o r e d e F e r n a n d o Pinto
na Mocidade I n d e p e n d e n t e d e P a d r e M i g u e l , onde f e z v á r i o s c a-
r
n a v a i s na década d e 80, t e n d o s i d o seu t r a b a l h o interrompi-
d o p o r s e u f a l e c i m e n t o em 1 9 8 8 .

Em 1 9 8 3 a B e i j a F l o r e ~ o ã o z i n h oc o n q u i s t a r a m mais
um t í t u l o , o q u i n t o d e s d e que e n t r a r a m p a r a o Grupo I , com O

e n r e d o "A G r a n d e C o s n t e l a ç ã o d a s E s t r e l a s N e g r a s " . A Portela

r e p e t e a segunda colocação do ano a n t e r i o r , com o e n r ê d o " A
Ressurreição das Coroas - Reisado, Reino e Reinado" de Braga
e Paulino. O Império, campeão no a n o a n t e r i o s , obteve a t e-
r
c e i r a c o l o c a ç ã o com o e n r ê d o " ~ a éB a i a n a ~ ã e " , d e a u t o r i a de
Fernando Pamplona e d e s e n v o l v i d o s p o r Renato Lage.Arlindo -
Ro
d r i g u e s c o n t i n u a v a na I m p e r a t r i z Leopoldinense, que desfilou
com o e n r ê d o " O R e i d a C o s t a d o M a r f i m V i s i t a X i c a d a S i l v a em
Diamantina". obtendo a quarta c o l o c a ç ~ o .

O fenômeno da expansão d o s C a r n a v a l e s c o s 6 visivel

e os ex-integrantes d a e q u i p e d e Pamplona c o n t i n u a v a c o n q u i-
s
tando bons r e s u l t a d o s . o q u e s e r i a uma c o n s t a n t e p o r t o d a a
década.

2.3.3 - 1984 - A N O V A ERA D O SAMBA

O a n o d e 1 9 8 4 sem d ú v i d a m a r c o u o i n i c i o d e uma no-

va e t a p a s p a r a a s E s c o l a s d e Samba, não p o r revoluçÕes e s t é t i -
c a s a p r e s e n t a d a s p o r a l g u m a E s c o l a ou C a r n a v a l e s c o , mas Por
mudanças na e s t r u t u r a ç ã o do d e s f i l e e na o r g a n i z a ç ã o d a s E s c-
o
l a s d e Samba.

A c o n s t r u ç ã o d o " ~ a m b Ó r d r o m o " c u j o nome o f i c i a l - P a-

s
s a r e l a do Samba, n a A v e n i d a M a r q u e s d e S a p u c a i t e r m i n o u com a
busca do l u g a r f i x o p a r a o d e s f i l e , f a t o q u e o r i g i n o u uma m o d-
i
f i c a ç ã o d o d e s f i l e em f u n ç ã o d o n o v o e s p a ç o c ê n i c o .
 Outro acontecimento importante f o i a criação da L-i
g a I n d e p e n d e n t e d a s E s c o l a s d e Samba - LIESA - que passou a
t r a t a r d i r e t a m e n t e com a R i o t u r s o b r e o s a s p e c t o s financeiros
e a d m i n i s t r a t i v o s do d e s f i l e . Tornavam-se a s Escolas de Samba
"prestadoras de Serviço", o q u e em 1 9 8 7 d e t e r m i n o u o e s t a b e l-
e
cimento da participação da renda através de contrato firmado
e n t r e a R i o t u r e a LIESA p a r a a s E s c o l a s esta filiadas.

A i n d a n o a n o d e 1 9 8 4 f o i c r i a d a uma n o v a E s c o l a de
Samba, que não s e r i a n o v i d a d e se não f o s s e p o r s u a formação: a
império d o F u t u r o , p r i m e i r a E s c o l a d e Samba M i r i m q u e reunia
c r i a n ç a s e a d o l e s c e n t e s num m o d e l o i d ê n t i c o a o d a s E s c o l a s de
Samba t r a d i c i 0 n a i . s . N e s t e mesmo a n o a I m p é r i o d o F u t u r o j á d e-
s
f i l a v a a b r i n d o o d e s f i l e d o ~ a m b ó d r o m o . S e g u i n d o seu exemplo
surgiram os Herdeiros da Vila, o s C o r a ç õ e s Unidos do CIEP, C

M a n g u e i r a d o Amanhã, a Alegria da Passarela e mais r e c e n t e m e -r

te, criada por Joãozinho Trinta, a F l o r d o Amanhã.

A r e g u l a m e n t a ç ã o d o s d e s f i l e também f o i a l t e r a d a , e
f o i c r i a d a uma C o o r d e n a ç ã o d e J u r a d o s d i r i g i d a p o r H i r a n ~ r -
a ;
jo, e promoveu-se tambêm o p r i m e i r o C u r s o d e F o r m a ç ã o d e J u r-
a
dos. Em 1984 a l t e r o u - s e também a p r e m i a ç ã o , escolhendo-se duas
campeãs, uma em c a d a d i a d o d e s f i l e , q u e no s á b a d o seguin-
t e disputaram o Supercampeonato, sistema e s t e que s Ó vigorou
em 1 9 8 4 .

No p r i m e i r o d e s f i l e r e a l i z a d o n o S a m b Ó d r o m o coube
a uma E s c o l a t r a d i c i o n a l e f i e l às s u a s r a i z e s e q u a c i o n a r um
b e l o d e s f i l e e um m o v i m e n t o d e r e b e l d i a Ú n i c o n a h i s t ó r i a das
E s c o l a s d e Samba, Embalada p e l a emoção q u e d e s p e r t a v a no p ú b l i -
co, não s ó p o r s u a a p r e s e n t a ç ã o , m a s p e l o novo e s p a ç o c ê n i c o , a
M a n g u e i r a s u r p r e e n d e u e a o f i n a l d o d e s f i l e r e t r o c e d e u em p l ~
na p i s t a , r e t o r n a n d o acompanhada do p ú b l i c o que a a p l a u d i a em
delírio.

"Nunca se v i u c o i s a i g u a l . O d e s f i l e d e do -
mingo Último ( . . . ) f o i o m a i o r e s p e t á c u l o
 de t o d o s o s tempos. E quando a grande A v- e
n i d a d e Niemayer s e c o l o r i u d e v e r d e e ro
s a , a c o n t e c e u a c o n s a g r a ç ã o d e uma f e s t a , :
a p o t e o s e do samba." (381

Com o e n r e d o " Y e s , NQS temos Braguinha" do C a r n a v-

a
l e s c o Max L o p e s , a M a n g u e i r a d e u uma l i ç ã o de o r i g i n a l i d a d e e
empolgação, rompendo é c l a r o , com o r e g u l a m e n t e , m a s q u e se
sobrepoç ao luxo e grandiosidade de suas concorrentes. A s duas
p r i m e i r a s c o l o c a ç Õ e s do Grupo I - A caberiam Mangueira e 5 P o-r
tela, q u e s e a p r e s e n t o u com o e n r ê d o " C o n t o s d e A r e i a " , d i s p-
u
t a n d o o S u p e r c a m p e o n a t o com a s d u a s p r i m e i r a s c o l o c a d a s d o G r -
u
po 1-8 e a s t r ê s p r i m e i r a s c o l o c a d a s no G r u p o I - A n o s d o i s d e-
s
files. O t i t u l o d e Supercampeã s e r i a dado à Mangueira.

2.3.4 - CARNAVALESCO E ESCOLAS D E SAMBA - O RITMO SE ACELERA

A segunda metade da década de 80 s i n t e t i z o u o s vári -

o s a s p e c t o s d a p r o f i s s ã o do Carnavalesco e s u a s i t u a ç ã o das
E s c o l a s d e Samba. P e l o S a l g u e i r o p a s s a r a m F e r n a n d o P a m p l o n a , A-
r
lindo Rodrigues, Edmundo B r a g a , Paulino Espirito Santo, Maria
Augusta Rodrigues, Max L o p e s , Mario Monteiro, Viriato, Renato
L a g e e ~ o ã o z i n h oT r i n t a . E s t a s p e s s o a s c o m p u s e r a m uma geração
d e C a r n a v a l e s c o s d e fo.rmação q u a s e q u e c o n j u n t a , enquanto que
f o r a do S a l g u e i r o o u t r o s Carnavalescos continuavam a t u a n t e s , c o
mo F e r a n d o P i n t o , Ney A y a n , Geraldo Cavalcanti e J u l i o Mattos.

O trânsito destes profissionais nas Escolas de Sam-

ba t o r n o u - s e um f a t o comum, sendo sua permanência condicionada
p o r f a t o r e s t a i s como i d e n t i f i c a ç ã o com a E s c o l a , contrato e
resultados obtidos. Fernando P i n t o 6 um e x e m p l o d e i d e n t i f i c-
a
ç ã o e a f i n i d a d e , a c o n t e c i d a s com a M o c i d a d e I n d e p e n d e n t e de
\ P a d r e M i g u e l , s ó i n t e r r o m p i d a s p o r s u a m o r t e , mas q u e m a r c a r a m

1 I 3 8 1 R e v i s t a MANCHETE, nQ1666, 21/3/84 op.cit.p.4

\
a Escola e a transformaram, dando-lhes -
c a r a c t e r í s t i c a s q u e sem
p r e remetem ao t r a b a l h o d e s t e C a r n a v a l e s c o .

O carnaval de 1985 f o i e c l é t i c o quanto aos enredos -

a
presentados, que t a n t o t i n h a o e n f o q u e do p a s s a d o , como o da
Portela, "Recordar E Viver", a b o r d a n d o t a m b ê m t e m a s d o c o t i d i-
a
no, como o I m p é r i o , com " S a m b a S u r o e C e r v e j a " e a S . C l e m e n t e ,
com " Q u e m C a s a Q u e r C a s a " . Outras Escolas abordaram temas his
tóricos, c o m o a M a n g u e i r a com " A b r e A l a s Q u e Eu Q u e r o P a s s a r " ,
(Chiquinha Gonzagal, U n i ã o d a I l h a com "UM H e r o i , U m a Canção,Um
Enredo" ( ~ o ã oC â n d i d o 1 e o u t r a s a b o r d a r a m t e m a s o n f r i c o s , como
a B e i j a F l o r com " L a p a d e A d ã o e E v a e a I m p e r a t r i z L e o p o l d-
i
n e n s e com " A d o l ã . A Cidade Misteriosa".

Dentre os enredos, destacou-se "Ziriguidum, 2 0 0 1 , C a-

r
naval das Estrelas, d e Fernando P i n t o p a r a a Mocidade I n d e p e-
n
dente de Padre Miguel, q u e v e r s a v a s o b r e a s E s c o l a s d e Samba e
o seu futuro.

"Quem b u s c a r a l g o n o i n c o n s c i ê n t e coletivo
b r a s i l e i r o n a s E s c o l a s d e Samba, o e n c o-n
t r a r á m a i s n o v i s u a l d o q u e n a s l e t r a s . Ha -
v i a d e t u d o n o s samba e n r e d o s d e 85, para
S t a n i s l a w P o n t e P r e t a nenhum b o t a r d e f e i t o .
De e x a l t a ç õ e s a l i b e r d a d e a t é e l o g i o s a
-
ditadura ( a de Vargasl; dos inadimplentes
da c a s a p r ó p r i a a o c a v i a r do I b r a h i n , da
prooaganda da c e r v e j a (combustivel da i l u
s ã o ) , a o c a r n a v a l s i d e r a l do ~ i r i ~ u i d u m
2001. A v i t ó r i a do neologismo, enaltecido
em v e r s o s c o r n o " c e r v e j a n d o l a s e v a i o dis -
sabor" e o crioulo só quer "michael- j e
- - r r r -
k i a r " . D i a n t e d e t a n t o l a l a l a l a i á e oooooo
o q u e e x p l o d i u n a a v e n i d a f o r a m mesmo a
garra dos sambistas e criações dos C a r n-a
v a l e s c o s , c o l o r i d a s e d e l i r a n t e s como nun
c a , c o m p o n d o um e s p e t á c u l o d e d e s c o n t r a ç ã õ
e a l e g r i a , Único no munao."(391

1 3 9 1 MUGGIATI, ROBERTO, i n R e v i s t a Manchete, nq1715, ano 33,de

2/3"85, op.cit.p.1
 Esta explosão conjunta de Carnavalescos e Escolas de
S a m b a r e f l e t e o p a i n e l d i v e r s i f i c a d o em q u e s e e n c o n t r a v a O

Carnaval Carioca. Usava-se pela primeira vez o r a i o laser, num

r e c u r s o s o f i s t i c a d o u t i l i z a d o p e l a União da I l h a p a r a e n r i q u-
e
cer sua apresentação. Sofisticação seria a palavra chave sdes-
t e s cinco anos para aumentar a e x p e c t a t i v a que sempre envolveu
o s d e s f i l e s d a s E s c o l a s d e Samba.

S o f i s t i c a ç ã o e s t a que deu o t i t u l o Mocidade I n d-

e
pendente de Padre Miguel, em s e u e n r ê d o f u t u r i s t a s o b r e um n ã o
t ã o d i s t a n t e ano d e 2001. A e r a e s p a c i a l a t e r r i s o u na A v e n-
i
da, na visão c r i a t i v a de Fernando Pinto, que v e s t i u a bateria
d a E s c o l a com f a n t a s i a s d e m a r c i a n o s , a s b a i a n a s com capace -
t e s de astronautas, e c r i o u g a l á x i a s onde a s e s t r e l a s do c a r n-
a
v a l eram b r a s i l e i r a s , c o m o o b u m b a meu b o i , o s ranchos e os i -
m
pressionantes discos voadores..

E m 1 9 8 5 a c o n t e c e u t a m b é m uma e x p e r i ê n c i a i n é d i t a q u e
e n v o l v e u um g r u p o d e C a r n a v a l e s c o s n o t r a b a l h o c o n j u n t o de
c r i a ç ã o d o c a r n a v a l p a r a a recém c r i a d a P o r t e l a ~ r a d i ç ã o . M a r i a
Augusta Rodrigues, a f a s t a d a da a t i v i d a d e de Carnavalesca, foi
p r o c u r a d a no mês d e o u t u b r o d e 1 9 8 4 p o r ~ é s i oN a s c i m e n t o , P r-
e
sidente da Tradição [nome d e f i n i t i v o d a E s c o l a ) e por Viriato
Ferreira, e d e s t e encontro formou-se um g r u p o q u e e l a b o r o u o
carnaval da Escola para 1985.

O primeiro carnaval de criação c o l e t i v a reuniu Rosa

~ a g a l h ã e s ,Licia Lacerda, Virato Ferreira, Braga, Paulino e
Maria Augusta, c u j o esquema de t r a b a l h o durou a t é o ingresso

f
da E s c o l a no p r i m e i r o Grupo, em 1 9 8 8 , quando e s t a e q u i p e se

f dissolveu. O primeiro enrêdo apresentado f o i "Passaro G u e-

r
\ reiro" baseado na r e v o l t a dos i n d i o s do Parque Nacional d o X i-
n
\ gu, dando 5 E s c o l a o s e u p r i m e i r o t i t u l o . N u m esquema d e t r a b-
a
Y l h o em q u e o t e m p o f o i b a s t a n t e escasso, o processo envolveu a
 todos profundamente, como r e l a t a L i c i a L a c e r d a :

" F o i uma v o l t a n o t e m p o , p o r q u e a Tradição

a p e s a r de t e r e s t r u t u r a , não e r a r i c a . Era
e u , V i r i a t o , R o s a , A u g u s t a , t o d o s 1; tra
b a l h a n d o j u n t o s [ . . . l e r a uma n o v a v i s ã o d e
t r a b a l h o e s a i u um c a r n a v a l s ó d e c r i a ç ã o ,
em p o u c o t e m p o [ . . . I n ã o t i n h a b a r r a c ã o , a- r
r a n j a m o s um e s p a ç o p e q u e n o no P a v i l h ã o , c o m
u m d e t a l h e , n ã o c o b r a m o s um c e n t a v o , foi
t u d o d e g r a ç a , f o i uma c o i s a d e a m o r ao
s a m b a , uma c o i s a a n t i g a ( . . . I tão antiga
q u e t o d o mundo f e z d e g r a ç a ( ... I"
L.ic.ia Lacenda

A ~ r a d i ~ ãa no o a p ó s a n o f e z uma t r a j e t ó r i a v i t o r i-
o
sa, e o f i n a l d a d ê c a d a d e 8 0 a p r e s e n t o u m a i s um fenômeno
s i g n i f i c a t i v o p a r a a s E s c o l a s d e Samba, o do p l a n e j a m e n t o pri
e s t a b e l e c i d o d a c h e g a d a a o s g r u p o s s u p e r i o r e s em um t e m p o m i n-i
mo. Este planejamento, q u e e n v o l v i a uma i n f r a e s t r u t u r a f i n a-
n
c e i r a e a d m i n i s t r a t i v a c o m p a t i v e i s com o p r o j e t o , inclufa -
tam
bem a c o n t r a t a ç ã o d e b o n s C a r n a v a l e s c o s .

E s t e & o c a s o p o r exemplo da Acadêmicos da Rocinha,

q u e d a v i t ó r i a n o g r u p o d e A c e s s o em 1 9 8 9 c h e g o u a o G r u p o 2 e
em 1 9 9 1 p a s s o u p a r a o G r u p o I , s o b o comando d e C a r l o s D ' An-
drade que assumiu o l u g a r d e Joãozinho T r i n t a para e l a b o r a r o
carnaval da Escola para 1992. Por outro. lado, e s c o l a s como a
Viradouro, q u e e s t r e o u n o G r u p o E s p e c i a l em 1 9 9 1 , contam com
a p r e s e n ç a d e Max L o p e s , que realizou u m b e l i s s i m o d e s f i l e , c o-
mo a c o n t e c e u t a m b é m com a L e ã o d e I g u a ç Ú , campeã do Grupo I,
em 1 9 9 1 com a C a r n a v a l e s c a L i l i a n R a b e l l o , e que já está no
Grupo E s p e c i a l .

, E s t e f e n o m e n o p r e s s u p õ e a e x i s t ê n c i z d e uma " f ó r m-
u
la" para o sucesso meteórico de determinadas Escolas,e sem
\ dúvida para e s t e objetivo s e r alcançado, um bom Carnavalesco
\ p a s s a a s e r um g r a n d e i n v e s t i m e n t o .

\
 Em 1 9 8 6 J u l i o M a t t o s r e t o r n o u Mangueira, uma v 0-
1
t a q u e d e m o n s t r a a i m p o r t â n c i a d a e x p e r i ê n c i a d e s t e C a r n a v a l e-
s
c o e s u a i d e n t i f i c a ç ã o com a E s c o l a , principalmente pelos r-
e
sultados obtidos.

Nos a n o s d e 1 9 8 6 e 1 9 8 7 a M a n g u e i r a v e n c e u o s dois
concursos, com o s e n r ê d o s " C a y n m i M o s t r a a o Mundo o Q u e a -
Ba
h i a e a M a n g u e i r a Tem" e "O R e i n o d a s P a l a v r a s , C a r l o s Drumond
de Andrade", e Julinho perdeu o % r i c a m p e o n a t o p o r um p o n t o :

"(...]me chamaram d e novo, na M a n g u e i r a , a s

c o i s a s e s t a v a m r u i n s e q u e r i a m a m i n h a o p- i
n i ã o , e u me e m p o l g u e i e d e i a s u g e s t ã o -
Caymmi - e a c a b e i f i c a n d o d e n o v o c o m o C a-r
navalesco, fazendo figurino, alegoria e
e n r ê d o . F u i campeão novamente e d e p o i s a
p r e s e n t a m o s C a r l o s Drumond d e A n d r a d e e
"Cem A n o s d e L i b e r d a d e " , em q u e perdemos
p o r um p o n t o , q u e s e r i a o t r i c a m p e o n a t o d e
minha a u t o r i a . "
J u l i o Matios

Nestas três décadas e s t e f o i o t e r c e i r o retorno de

J u l i o Mattos ã Mangueira, sempre mantendo a t i v a a s u a f á b r-
i
ca de a l e g o r i a s e e s c u l t u r a s . S e h a v e r á um n o v o r e t o r n o , nem
e l e mesmo c o n f i r m a , mas c o n t i n u a r á s e n d o s s m p r e o " J u l i n h o da
Mangueira".

2.3.5 - FINAL D A DECADA DE 8 0 - A V I R A D A DO S ~ C U L O XX

" A i e i e u Mamãe Oxum

~ ~ m a n jMamãe
á Seheia
S a l v e an ÜguaA de OxaLá
Uma e a f n e l a me c l a t e i a ( B I S )
É na chuê chue
E no chuê ' c h á
Não yueno nem s a b e h
AA águan vão n o l a k n ( 4 0 1
!
1401 Samba e n r ê d o d a M o c i d a d e I n d e p e n d e n t e d e P a d r e M i g u e l ,
"Chuê,~huá ...
a s h g u a s Vão R o l a r " p a r a o a n o d e 1 9 9 1 .
 O carnaval de 1989 apresentou um p a r a d o x o e n t r e o
tradicional e o revolucionário n a s E s c o l a s d e Samba e n a c r i-
a
çãos de dois Carnavalescos. Max L o p e s a p r e s e n t o u n e s t e a n o um
enrêdo histórico, várias vezes explorado, "Liberdade Liberdade
Abre A s Asas S o b r e N ~ s " ,na Imperatriz Leopoldinense, d e s c r-
e
vendo a h i s t õ r i a da Independência do B r a s i l . F o i um r e t o r n o a o
carnaval tradic-onal, não sa p e l o t e m a , mas p o r s u a execução,
com f a n t a s i a s q u e v e s t i a m t o t a l m e n t e o s c o m p o n e n t e s , d i f e r e n c-
i
ando-se da nudez e x p l í c i t a dos d e s f i l e s d a s o u t r a s E s c o l a s .

~ o ã o z i n h oT r i n t a , por sua vez, criou para a Beija

F l o r um e n r ê d o p o l ê m i c o e c r i t i c o , "Ratos e Urubus, Larguem a
Minha F a n t a s i a " , f a l a n d o também d e l i b e r d a d e , mas d a l i b e r d-
a
de do carnaval. Um d e s f i l e que f o i s u r p r e e n d e n t e pela
explícita teatralizaçã- do enredo, u t i l i z a n d o uma a l a d e -
men
d i g o s c o m p o s t a d e a t o r e s d e t e a t r o m e também p e l a proibição
f e i t a pela I g r e j a da u t i l i z a ç ã o d a a l e g o r i a C r i s t o Mendigo. E-
s
t a proibição f o i contornada pelo Carnavalesco e pela Escola,
q u e c o b r i r a m a a l e g o r i a com p l á s t i c o s p r e t o s e c o l o c a r a m uma
p l a c a dizendo:"Mesmo proibido, o l h a i por nós".

Duas c o n c e p ç õ e s d e c a r n a v a l d i f e r e n t e s . De um lado
~ o ã o z i n h oT r i n t a a q u i n z e a n o s n a mesma E s c o l a , evocando a l-
i
berdade, sua e de sua agremiação, d e c o l o c a r n a A v e n i d a a o u s-
a
d i a em s u a p l e n i t u d e . T ~ Oe x t r e m a a ponto de s e r proibida, a
e l e q u e na d é c a d a d e 70 d e s p i u m u l a t a s d e s t r o n a n d o a s grandes
campeãs.
Do o u t r o Max L o p e s , com uma v a s t a e x p e r i ê n c i a o b t-
i
da na passagem p o r d i v e r s a s E s c o l a s , como a U n i ã o d a I l h a , a
Vila I s a b e l e a Mangueira, em q u e a b s o r v e u d i f e r e n t e s d i s c u-
r
sos. Com e s t a b a g a g e m , o p t o u p o r um c a r n a v a l q u e também e v o c-
a
va a liberdade, não s ó a liberdade histporica, mas a d e v e s t i r
t o d a a E s c o l a num m o d e l o "antigo" de carnaval.
 Foram d u a s a p r e s e n t a ç õ e s d e g r a n d e i m p a c t o e beleza,
e a Imperatriz veneceu, e m b o r a e m p a t a d a com a B e i j a F l o r , e
Max L o p e s com t r e z e a n o s d e c a r n a v a l t e v e s e u nome c o n s a g r a d o ,
num d e s f i l e a o q u a l n ã o f a l t o u p o l ê m i c a e g r a n d i o s i d a d e .

" ( . . . ) a I m p e r a t r i z ganhou paradoxalmente,

e m p a t a d a com a B e i j a F l o r q u e p e r d e u por
um p o n t i n h o 1 2 q u a l q u e r e f o i p a r a s e g u-
n
d o . Mas a B e i j a F l o r f o i t r e m e n d a m e n t e r-
e
volucionária. Talvez Joãozinho Trinta com
o C r i s t o e o s U r u b u s em " R a t o s e Urubus
L a r g u e m M i n h a F a n t s s i a " , uma r e v o l t a mara
v i l h o s a do J o ã o , a q u i l o r e v o l u c i o n o u e s t-z
ticamente o carnaval de maneira que s e pg
d e r i a d i z e r r e v o l u c i o n á r i a , m0derna.A p r-i
meira p a r t e eram o s mendigos, t r a p o s , e
eram a t o r e s e x c e p c i o n a i s , e t i r o u juntc
com a I m p e r a t r i z , com o Max, q u e t e v e a c - c
ragem d e v e s t i r a E s c o l a t o d a , e não SE
v i u nem b a r r i g a d e f o r a , v e s t i u d e forma
t r a d i c i o n a l , que, p a r e c i a que estavamos ven
d o a s E s c o l a s d e Samba d e v i n t e a n o s a t r á s
(...)a Beija Flor veio diamentralmente c
p o s t a , e o j u r i d e u p a r a um e . p a r a outro.
o que s i g n i f i c a que o c a r a não deve s e g u i r
m o d i s m o s , ou e l e v a i p a r a o tradicional
como o Max f o i ( . . . ) ou c a i p a r a o u l t r a r-
e
v o l u c i o n á r i o , como o J o ã o z i n h o T r i n t a ( . . . )
um e r a o c o n t r á r i o d o o u t r o , e o s dois
c h e g a r a m 1 2 em c i m a , p o r q u e e s t a v a muito
bem f e i t o e 6 a i q u e e n t r a a m a r c a d e c a d a
um."

Modismos, modernismo e t r a d i ç ã o s ã o o s caminhos p a r a

a Última década do s é c u l o . Os Ú l t i m o s anos da década de 80
t r o u x e r a m p e r d a s i r r e p a r á v e i s com a s m o r t e s d e Carnavalescos
i m p o r t a n t e s como A r l i n d o R o . d r i g u e s , Fernando P i n t o , Braga, Pau
l i n o e em 1 9 9 1 Ney A y a n , deixando espaços a serem preenchidos
p e l o s C a r n a v a l e s c o s a t u a n t e s e p o r a q u e l e s que e s t ã o começando.

O esquema de i d e n t i d a d e / i d e . n t i f i c a ç á o torna-se cada

vez mais importante, p o i s e l e m e n t o s como o r i g i n a l i d a d e , q u a l-
i
dade, competencia e bons r e s u l t a d o s são p a r a o s Carnavalescos
r e q u i s i t o s b á ' s i c o s p a r a o. s u c e s s o d e s e u t r a b a l h o . Compreender
a E s c o l a d e Samba p e l a q u a l é c o n t r a t a d o é um f a t o r essencial
para alcançar os objetivos propostos.

" F e r n a n d o P i n t o m a r c o u uma G p o c a , v o c ê p o d e
f a l a r d a M o c i d a d e a n t e s e d e p o i s d o F e r n a-n
d o P i n t o . E l e n ã o s ó m a r c o u uma é p o c a do
c a r n a v a l , mas também a p r ó p r i a E s c o l a -a
preendeu o sentido dele(...) a Escola com
preendeu o Carnavalesco e o Carnavalescõ
c o m p r e e n d e u a E s c o l a . A i vem a d u p l a Rena
t o e L i l i a n , q u e n ã o f a z e m o c a r n a v a l com;
f a z i a o F e r n a n d o , mas tambêm b a t e u certo,
t a n t o q u e no a n o p a s s a d o e n e s t e a n o com
" ~ h u ê , ~ h u á e" com a q u e l e e n r e d o q u e era
uma s a u d a ç ã o própria Escola - Vira Virou
f i c o u c l a r a a i a e n t i d a d e e n t r e a s d u a s p a-r
t e s [...I1'

A homenagem d a c a m p e ã ' d e 1 9 9 0 , M o c i d a d e I n d e p e n d e n t e
aos Carnavalescos Arlindo Rodrigues e Fernando P i n t o reúne
passado e f u t u r o demonstrando que a v i t a l i d a d e das Escolas e-
s
t á s e d i m e n t a d a n a s l i ç õ e s e m o d e l o s e x i s t e n t e s , e também na
busca e o u s a d i a d e novos caminhos. O bicampeonato obtido com
o b e l o t r a b a l h o d e Renato Lage e L i l i a n Rabelo r e a f i r m a que
a s l a c u n a s d e i x a d a s p e l o s C a r n a v a l e s c o s f a l e c i d o s podem ser
s u b s t i t u f d a s com c o m p e t ê n c i a e c r i a t i v i d a d e .

Do / s u p e r e s p e t ~ c u l o " d a d é c a d a d e 8 0 c h e g a - s e -
a o "me
gaespetáculo de cor, sonho e f a n t a s i a " do c a r n a v a l de 1991, -
a
p r e s e n t a d o n o s b e l o s d e s f i l e s d a s E s c o l a s e s o b r e t u d o no enrê
d o a b s t r a t o e. o n i r i c o , de i n f i n i t a s possibilidades da r i o c i d-
a
de Independente.

"O impecável c a r n a v a l da Mocidade Indepen

t e d e Padre Miguel (...linundou a Sapucal
de alegria. Quatro m i l sambistas t r a v e s t-
i
dos de peixes, sereias, pinguins,surfistas
e Iemanjás fizeram a superfesta. O recado
 d a Mocidade f o i f u n d o na c o n s c i ê n c i a eco
lógica brasileira, carnavalescamente a d o-r
nada de b r i l h o s , plumas e p a e t ê s . " ( 4 1 1

Termos s u p e r l a t i v o s s ã o a q u e l e s m a i s u t i l i z a d o s p a r a
d e f i n i r a s E s c o l a s d e Samba e s e u s C a r n a v a l e s c o s , e já não se
c o n c e n t r a m m a i s t í t u l o s em E s c o l a s c o n s a g r a d a s . Em 1 9 9 1 a -
Man
gueira e o Império Serrano, g r a n d e s campeãs, obtem a s Últimas
colocaçÕes, sendo que o I m p é r i o f o i r e b a i x a d o p a r a o Grupo 1 , e
i s t o é um s i n a l d e q u e é n e c e s s á r i o a l g o m a i s q u e a f a m a para
g a r a n t i r o p o s i c i o n a m e n t o no Grupo E s p e c i a l .

O papel do Carnavalesco é i n c o n t e s t á v e l n e s t a histó

ria, e sua renovação e evolução confirma o c a r a c t e de suportt
q u e a d q u i r i u a o l o n g o d o s a n o s no c a r n a v a l d a s E s c o l a s d e Sa-
r
ba.

"As p e s s o a s g o s t a m m u i t o d e c r i a r t e o r i a s 6
d i s c u t i r n a f r e n t e d o e s p e l h o . É como
samba e n r ê d o , t o d o mundo f a l a m a l e voe;
tem s e m p r e sambas q u e f i c a m m a r c a n d o a a n b ,
o s a m b a t e m uma r e n o v a ç ã o c o n s t a n t e , e é - u m á
f o n t e de t a l e n t o muito grande, e que está
s u j e i t o a b o n s e maus momentos e r e s u l t-
a
dos (...I a E s c o l a d e S a m b a 6 um organis
mo em m u t a ç ã o p e r m a n e n t e p o r q u e e l a refle
t e a s o c i e d a d e em q u e e l a e s t á , o n d e
c r i a d a e e x i s t e , e a E s c o l a d e Samba
foT-
e
uma r e a l i d a d e ( . . . I e l a muda e i s s o q u e é
b o n i t o , e l a não é e s t a g n a d a ( . . . I acho
q u e uma p r o v a d i s s o 6 o a p a r e c i m e n t o de
novos Carnavalescos I...) é uma c o i s a q u e
prova a v i t a l i d a d e do c a r n a v a l , d a s Esco
l a s d e Samba, e e s t e p e s s o a l v a i trazendã
a sua ccntribuição, r e s u l t a d o de suas a n-
ã
l i s e s , de sua c u l t u r a , da compreensão do
fenômeno do c a r n a v a l , da r e l a ç ã o carnaval
/povo( ... 10s q u e s ã o b o n s , f i c a m , o s que
não s ã o , não f i c a m ( . . . I e é uma c o i s a q u e
é uma a u t o f a g i a ( . . . ) f i c a m a q u e l e s que
r e a l m e n t e tem alguma c o i s a a d i z e r . "

1411 R e v i s t a M a n c h e t e , n Q 2 0 2 8 . d e 23/3/91, op.cit.p.22

 E por ter sempre alguma coisa nova a ser dita, os
Carnavalescos continuam fazendo belos carnavais, contribuindo,
sem dúvida, para a dinãmica e c o n t i n u i d a d e d a s E s c o l a s d e -
Sarn
ba, com seu lugar reconhecido e assegurado.
I11 - A RELAÇAO PROFISSIONAL

3.1 - O CARNAVALESCO E A ESCOLA DE SAMBA

A relação profissional existente entre o C a r n a v a l e-

s
c o e a E s c o l a d e Samba é e s t a b e l e c i d a a t r a v é s d e s u a c o n t r a t-
a
ção p a r a a execução do c a r n a v a l . o q u e s e chama comumente
de " f a z e r o carnaval". H i s t ó r i c a m e n t e i s t o não s i g n f i c a v a que
e s t e p r o f i s s i o n a l f o s s e remunerado, e este contrato, m u i t a s v-
e
z e s f e i t o verbalmente e s t a b e b e l i a o compromisso e n t r e a s paf
tes, pelo trabalho executado pelo Carnavalesco e a s condições
dadas pela Escola.

A n t e s mesmo d a d é c a d a d e 6 0 a s E s c o l a s d e S a m b a c o-
n
tratavam profissionais, remunerando-os, m a s e r a uma f a t o raro
Da d é c a d a d e 6 0 , quando o c a s a l Nery, A r l i n d o e Pamplona r e-
a
l i z a r a m c a r n a v a i s p a r a o S a l g u e i r o sem r e m u n e r a ç ã o a t é o s d i a s
de hoje, a l t e r a ç õ e s s i g n i f i c a t i v a s d e s t a r e l a ç ã o desencadearam
o processo p r o f i s s i o n a l i z a n t e do Carnavalesco.

Para s e compreender a a t u a ç ã o do Carnavalesco é n-

e
c e s s á r i o descrever os s e t o r e s mais importantes da Escola, com
os quais e l e deverá t r a b l h a r e que l h e forneceram os meios n-
e
c e s s á r i o s para execução de sua proposta. A E s c o l a d e Samba 6
c o m p o s t a d e d o i s s e t o r e s q u e a t u a m em d i f e r e n t e s n í v e i s d e i-
n
t e n s i d a d e d u r a n t e o ano:

1. SETOR ADMINISTRATIVO: que a t u a o ano i n t e i r o e 6 composto

p e l a s p e s s o a s 2 s s o c i a d a s à Agremiação, que 6 r e g i d a p o r um
Estatuto Social. A Assembléia Geral, p o d e r máximo n a Esco -
la, e l e g e o C o ~ i s e l h oD e l i b e r a t i v o , que por sua vez elege
a Oiretoria Administrativa, que d i r i g e a Escola e é c o n-
s
t i t u í d a dos seguintes cargos:
PRESIDENTE - A u t o r i d a d e s u p r e m a e r e s p o n s á v e l p-
e
l a orientação e representação da
Escola.
VICE-PRESIDENTE - S u b s t i t u t o do P r e s i d e n t e .
SECRETARIO - Coordenador da S e c r e t a r i a da Esco-
la.
TESOUREIRO - Coordenador da p a r t e f i n a n c e i r a .
DIRETOR DE PATRIMÕNIO - Coordenador dos m a t e r i a i s e i n s t a l a
ç õ e s da E s c o l a .
DIRETOR S O C I A L - Coordenador de Programação das A t i -
vidades festivas.
DIRETOR DE ESPORTE - Coordenador de a t i v i d a d e s e s p o r t-i
vas.
R E L A Ç ~ E SP ~ B L I C A S ' - R e s p o n s á v e l p e l o s c o n t a t o s com o
meios de comunicação.
DIRETOR CULTURAL - Responsável p e l a programação c u l t-
u
ral.
DIRETOR DE CARNAVAL - Responsável p e l a supervisão e o r i e
tação das a t i v i d a d e s carnavalescas
CONSELHO F I S C A L - Responsável p e l a f i s c a l i z a ç ã o .

SETOR CARNAVALESCO : que a t u a na organização e execução

do c a r n a v a l , funcionando mais ativamente no perfodo de p r-
e
p a r a ç ã o do d e s f i l e . E s t e s e t o r t e m como Ó r g ã o m á x i m o a
COMISSÃO DE CARNAVAL, que t o d o ano é e l e i t a pelo Setor A-
d
ministrativo, e s e r e l a c i o n a r á com a q u e l a s p e s s o a s e n v o l v-i
das nas a t i v i d a d e s de p l a n e j a m e n t o e execução.
Os s e g m e n t o s q u e s e r e l a c i o n a m d i r e t a m e n t e com a Comissão
de C a r n a v a l são:
D i r e t o r de C a r n a v a l
D i r e t o r de Harmonia
D i r e t o r de B a t e r i a
P r e s i d e n t e de A l a s
A l a de C o m p o s i t o r e s
D i r e t o r de E n s a i o s
 O C a r n a v a l e s c o s e r e l a c i o n a com a m b o s o s s e t o r e s , m a s
sua integração maior e mais d i r e t a 6 com o S e t o r C a r n a v a l e s c o ,
com o q u a l t r a b a l h a r á e d i v i d i r á a s r e s p o n s a b i l i d a d e s . Em con
t a t o com a C o m i s s ã o d e C a r n a v a l e l e p r o c e d e r á a o c u m p r i m e n t o e
realização das etapas de seu trabalho, s e m p r e com a aprovação
d e s t a Comissão. Esta organização 6 imprescindível para a cor-
r e t a execução do c a r n a v a l , e o c o n t a t o com e s t e s s e t o r e s prc
p i c i a a o C a r n a v a l e s c o um c o n t r o l e m a i s s e g u r o d o t r a b a l h o r e-
a
lizado.

A posição d o C a r n a v a l e s c o no c o n t e x t o d a E s c o l a de
Samba é d e g r a n d e d e s t a q u e e m o b i l i d a d e , o n d e f u n c i o n a como u m
elemento mediador e n t r e os v á r i o s s e t o r e s da Escola.Relaciona-
n
do-se com e l e m e n t o s i m p o r t a n t e s d e s t a e s t r u t u r a , ele está -
sub
metido 5 s u a h i e r a r q u i a , n ã o a p a r e c e n d o como um e l e m e n t o fixo
n o s q u a d r o s . A e x c e ç ã o é q u a n d o , e l e é nomeado D i r e t o r d e C a-
r
naval, costume de algumas Escolas, onde acumula e s t e c a r g o e
mais a s suas atividades.

A compreensão das c a r a c t e r i s t i c a s da Escola que O

c o n t r a t a é f u n d a m e n t a l p a r a um bom r e s u l t a d o . Deve o C a r n a v-
a
lesco e s t a r consciente dos aspectos que caracterizam e i n d i v-
i
dualizam a Escola, t a i s como s u a s c o r e s , comunidade que a com
-
põe e a linha de carnaval que melhor s e adapta Escola.

A s E s c o l a s d e S a m b a c o n s t i t u e m h o j e um m e r c a d o de
t r a b a l h a a m p l o q u e a b s o r v e uma e n o r m e q u a n t i d a d e d e pessoas,
s o b r e t u d o no p e r í o d o d e e x e c u ç ã o do c a r n a v a l . Nos b a r r a c õ e s o
t r a b a l h o em e q u i p e r e u n e u m v a r i a d o n ú m e r o d e p e s s o a s , especia -
l i z a d a ou n ã o , q u e formam a mão-de-obra da Escola. Algumas E-
s
c o l a s d e Samba t e m m a n i f e s t a d o i n t e r e s s e em d e s e n v o l v e r um
processo de aprendizado específico de técnicas relativas ao
carnaval, de maneira a s e t o r n a r e m autônomas na p r o d u ç ã o d e-
s
t e s serviços.
 C1 C a r n a v a l e s c o J o ã o z i n h o T r i n t a , p e r c e b e n d o a p o s s-
i
b i l i d a d e do a p r o v e i t a m e n t o da mão-de-obra própria da c o m u n i d-
a
de, i n i c i o u n a B e i j a F l o r em 1 9 7 6 um t r a b a l h o d e treinamento
d e p e s s o a s r e s i d e n t e s em N i l Ó p o l i s , sobretudo crianças e a d-
o
lescentes, a p r o v e i t a n d o e s t e p o t e n c i a l com e x c e l e n t e s r e s u l t-
a
dos. Transmitindo a e s t a s pessoas os conhecimentos técnicos e
a r t i s t i c o s do B a r r a c ã o , o Carnavalesco conseguiu formar diver
s a s e q u i p e s que h o j e não e s t ã o l i m i t a d a s a o c a r n a v a l . A possi -
b i l i d a d e do aprendizado p r o f i s s i o n a l , aliada a atração destas
pessoas pela Escola, terminaram por t o r n a r a Beija F l o r a u t-
o
suficiente, não n e c e s s i t a n d o c o n t r a t a r p r o f i s s i o n a i s de fora,
m a s r e m u n e r a n d o e a p r o v e i t a n d o a q u e l e s q u e e l a mesma f o r m o u .

Observamos que e s t a e x p e r i ê n c i a de J o ã o z i n h o Trintt

com a B e i j a F l o r é um f a t o Ú n i c o e n t r e o s C a r n a v a l e s c o s , Por
sua duração, v i s t o que a quinze anos é o Carnavalesco f i x o da
Beija Flor, e por seus resultados. A preocupação com a f o r m e-
ç ã o d e mão d e o b r a e s p e c i a l i z a d a c o m e ç a a i S s e r uma c o n s t a n t e en
todas as Escolas, n o s e n t i d o d e uma a s s i s t ê n c i a m a i o r 2s e q u i -
pes, m a s n ã o c o n s t i t u i uma p r e o c u p a ç ã o g e n e r a l i z a d a e n t r e 05

Carnavalescos, q u e veem e s t e a p r e n d i z a d o m u i t o m a i s como um e

c o n t i n g ê n c i a d o B a r r a c ã o d o q u e uma f i n a l i d a d e em s i m e s m a .

O C a r n a v a l e s c o com6 e o o r d e n a d o r g e r a l d o B a r r a c ã a , o n
d e t r a b a l h a com a a s s i s t ê n c i a d e C h e f e s d e S e t o r e s e s p e c f f-
i
tos, não e s t á a l h e i o ao aprendizado e t r e i n a m e n t o necessário
a q u e l e s q u e sem e x p e r i ê n c i a p r é v i a i n t e g r a m a s e q u i p e s . Para
t a n t o e l e geralmente possui percepção e sensibilidade, necessi
r i a s a q u a l q u e r p o r f i s s ã o q u e i n c l u a o t r a b a l h o em e q u i p e , p a r a
a v a l i a r a q u a l i d a d e d a mão d e o b r a d i s p o n í v e l , e na medida do
possivel colaborar para a sua especialização.

"O que a g e n t e q u e r f a z e r realmente é d e s ~

volver a a r t e n e s t e lado s o c i a l , acho qi
s e r - i a um c a m i n h o , p o i s o c a r n a v a l como d i ~
11 é
~ o ã o z i n h oT r i n t a com m u i t a s a b e d o r i a ,
 uma c o i s a m i l a g r o s a 1 ' , é uma c o i s a q u e v-
o
cê.pÕe o mais a l t o nível s o c i a l e o mais
baixo trabalhando junto,[...] 6 uma c o i s a
m i l a g r e i r a (...)Não s e resume ao d e s f i l e ,
s ã o o i t o , nove meses de t r a b a l h o , de c o-
n
g r a ç a m e n t o . I'
Max Lapea
"C ... 1 0 c a r n a v a l é c i c l i c o , e você tem o p e
r á r i o s que trabalham p r a t i c a m e n t e s ó n e s t e
p e r í o d o , e é um u n i v e r s o d e profissionais
gigantesco [...]Na Estácio a gente f e z um
t r a b a l h o q u e n ã o e n c e r r a com o c a r n a v a l . D e-
p o i s do c a r n a v a l o p r e s i d e n t e montou uma
firma de construção cenográfica que conti
n u a d a n d o p r o s s e g u i m e n t o a o t r a b a l h o d u r a ;-
t e o a n o t o d o I... I 1 '

"(...leu comecei a f a z e r dez c a s a i s de c r i -

anças, meninos e meninas, e ensaia-los c2
mo M e s t r e S a l a e P o r t a B a n d e i r a . C o m e c e i a
organizar a ala das crianças, a bateria
m i r i m I...) comecei a b o t a r muitos jovens
nas equipes de chapeleiro, de decoração,de
e s c u l t u r a ( . . . ] t a n t o q u e h o j e eu tenho
aqui dentro garotos d e v i n t e anos que e-
s
t ã o comigo a q u i n z e , que c o n h e c i pequenos
e h o j e e s t ã o bem e n c a m i n h a d o s . "

Um exemplo r e c e n t e de que o t r a b a l h o d e ~oãozinho

T r i n t a p o d e r á s e r t r a n s f o r m a d o num m o d e l o a c o n t e c e u n a Escola
d e Samba U n i d o s d a R o c i n h a , que t e v e a i n i c i a t i v a de organizar
um p r o j e t o c o m u n i t á r i o u n i n d o a E s c o l a d e S a m b a e o trabalho
profissionalizante, convidando o C a r n a v a l e s c o C a r l o s D'Andrade
p a r a a s s u m i r não s ó o c a r n a v a l da E s c o l a , mas também c o l a b o r a r
no p r o j e t o .

"(...leu t e n h o um t r a b a l h o c o m u n i t á r i o i m e -
n
s o p a r a s e r f e i t o na R o c i n h a , e eu vou fa
z e r o c a r n a v a l d a Rocinham p a r a l e l o a e s t e
trabalho comunitário (...)para f a z e r cur
s o s p r o f i s s i o n a l i z a n t e s num g a l p ã o onde
tem d e t u d o que é máquina, d e s e r r a l h e r i a ,
 c a r p i n t a r i a , e e l e s querem que eu d i r i j a
a q u i l o (...I e e l e s me e x i g i r a m dedicação
e x c l u s i v a como C a r n a v a l e s c o e também para
d i r i g i r os cursos p r o f i s s i o n a l i z a n t e s da
comunidadeI...l"
CahRoa V ' Andhade

As E s c o l a s d e Samba s ã o p a r a o C a r n a v a l e s c o s o s " P-
a
trÔes" q u e o c o n t r a t a m p o r um t e m p o d e t e r m i n a d o p a r a executar
o carnaval, e sua atuação e s t á l i m i t a d a p o r d e t e r m i n a d a s -
ins
tancias:

CAMPOS DE A T U A Ç Ã O
-

SETOR A D M I N I S T R A ESCOLA DE SAMBA SETOR CARNAVALESCO

TIVO
I

PRESIDENTE E
DIRETORIA
I CARNAVAL I
I

P R E S I D E N T E S DE ALA

G'R,?F'T'C'O' T1 L I M I T E S DE A T U A Ç Ã O

FINANCEIRAS REGULAMENTO

CARACTERISTICAS
I
E I D E N T I D A D E DA LIESA/AESCRJ
ESCOLA DE SAMBA RIOTUR L
i *

RESULTADO DEMISS~O
DA RECONTRA.TAÇAO
r
APURAÇÃO
.TRANSFERENCIA
 O Grafico I demonstra o s s e t o r e s que configuram o
campo d e a t u a ç ã o do C a r n a v a l e s c o e s e u s d e s d o b r a m e n t o s . O -
Grá
f i c o I1 d e m o n s t r a o s f a t o r e s q u e l i m i t a m a a t u a ç ã o d o C a r n a v-
a
l e s c o em t e r m o s o p e r a c i o n a i s , e como c o n s e q u e n c i a a s u a manu
-
t e n ç ã o ou d i s p e n s a d a f u n ç ã o q u e e l e e x e r c e .

3.2 - - ASSOCIAÇÕES REPRESENTATIVAS DAS ESCOLAS D E SAMBA

3.2.1 - A SSOCIAÇÃO DAS ESCOL,AS DE SAMBA D O R I O DE JANEIRO E

A L I G A INDEPENDENTE

T ~ Oi m p o r t a n t e q u a n t o a e s t r u t u r a d a E s c o l a d e Sambe
é para o Carnavalesco, a s entidades que a s representam c o n -:
t i t u e m um n f v e l h i e r á r q u i c o s u p e r i o r à s E s c o l a s q u e , p o r sue
a t u a ç ã o atingem o t r a b a l h o do Carnavalesco. Compreender alguns
aspectos de sua formação e i n f l u ê n c i a é importante para s i t u a r
o Carnavalesco neste contexto que abrange a sua felação prc
fissiona1.-

A t u a l m e n t e o C a r n a v a l C a r i o c a p o s s u i 58 E s c o l a s de
Samba, e duas entidades a s representam, a Associação das E s c-
o
l a s d e Samba d o R i o d e J a n e i r o , AESCRJ, composta p o r 42 E s c-
o
l a s e a L i g a I n d e p e n d e n t e d a s E s c o l a s d e Samba, a LIESA, -
com
p o s t a p o r 1 6 E s c o l a s d e Samba.

O d e s f i l e d a s E s c o l a s d e S a m b a s e d i v i d e em Grupos,
s e n d o q u e a AESCRJ a d m i n i s t r a o s G r u p o s I , I I , I I I e o G r u p o de
Acesso, ou E s c o l a s d e S a m b a d o s G r u p o s d e B a s e . Em 1 9 9 0 f o i
c r i a d o o Grupo E s p e c i a l , a t u a l e m n t e a d m i n i s t r a d o p e l a LIESA,do
q u a l p a r t i c i p a m E s c o l a s d e Szrr,ba f i l i a d a s 2s d u a s A s s o c i a ç Ó e s .

Em 1 9 8 4 , a n o d a i n a u g u r a ç ã o d o ~ a m b Ó d r o m o , a f u n d-
a
ç ã o d a LIESA f o i u m f a t o i m p o r t a n t e p a r a a s E s c o l a s d e Samba.
Antes, r e p r e s e n t a d a s p e l a AESCRJ, p o s s u i a m um p o d e r d e p r e-
s
são bastante limitado, reduzido praticamente à sua a p r e s e n t-
a
ção e o recebimento de pequenas subvenções dadas pelo Governo
do M u n i c i p i o . A organização destes desfiles carecia de i n f r-
a
estrutura, e eram c o r r e n t e s a s f a l h a s d e coordenação, o que
i n c l u i a g r a n d e s a t r a s o s do i n í c i o da a p r e s e n t a ç ã o , e também r-
e
l a c i o n a d a s com a s v e r b a s a e l a s d e s t i n a d a s , sempre distantes
da r e a l i d a d e dos c u s t o s do c a r n a v a l . E s t a subvenção não c o b r i a
o s g a s t o s d e um c a r n a v a l c a d a v e z m a i s c a r o , e sua -liberação
e r a f e i t a num p e r i o d o m u i t o p r ó x i m o a o c a r n a v a l , o que d i f i c u l
tava muito a sua viabilização.

Estes d o i s problemas, organização e verba, e também

a s d i v e r g ê n c i a s i n t e r n a s h a v i d a s n a AESCRJ, originaram a d i-
ç
ç i d ê n c i a de dez E s c o l a s a e l a a s s o c i a d a s : Mangueira, Portela,
Beija Flor, M o c i d a d e I n d e p e n d e n t e d e P a d r e M i g u e l , S a l g u e i r o , I m-
pério Serrano, Unidos de V i l a I s a b e l , U n i ã o d a I l h a d o G o v e r n-
a
dor e Caprichosos de Pilares. Comandadas p e l o e n t ã o P r e s i d e n t e
da Mocidade, C a s t o r de Andrade, e pelo Presidente da Vila I ç-
a
bel, A i l t o n ~ u i m a r ã e sJ o r g e , fundaram a Liga Independente das
E s c o l a s d e S a m b a em 2 3 d e j u l h o d e 1984.

A p a r t i r d a ' f u n d a ç ã o d a LIESA c o m e ç o u a e x i s t i r um
n o v o r e l a c i o n a m e n t o e n t r e a s E s c o l a s d e Samba e o P o d e r P Ú b l-
i
co, b a s e a d o na p r e s t a ç ã o d e s e r v i ç o s q u e p a s s o u a representar
o d e s f i l e p a r a a s E s c o l a s d e Samba. I n i c i a l m e n t e a LIESA e a
Riotur fizeram contratos de prestação de serviços que reuniam-
num s ó w p a c o t e " a a r r e c a d a ç ã o , comercialização e .transmissão
do d e s f i l e . A LIESA p a s s o u a c o n d u z i r a s n e g o c i a ç õ e s d e s t e c o -
n
trato, p e l a s E s c o l a s q u e p a r t i c i p a v a m d o d e s f i l e d o G r u p o I em
1984.

A p a r t i r d e 1 9 8 8 a LIESA s e r e s p o n s a b i l i z o u p o r a-
s
pectos antes restritos RIOTUR, incluindo a organização do
e ç p e t á c u l o e a e l a b o r a ç ã o do Regulamento do d e s f i l e , que é r-
e
f e r e n d a d o p e l o P r e s i d e n t e d a RIOTUR, como e x p l i c a s e u P r e s i d e -
n
t e A i l t o n ~ u i m a r ã e sJ o r g e , ou C a p i t ã o G u i m a r ã e s , como é mais
c o n h e c i d o no mundo d o s a m b a .

"O que o c o r r e u f o i que n ó s liberamos a RIO

TUR d e uma s é r i e d e e n c a r g o s , antigamente
t i n h a aquelas brigas, você s e lembra como
t i n h a b r i g a no r e s u l t a d o d o c a r n a v a l , h o j e
não tem m a i s , h o j e tem s a í d o o resultado
que o povo e s p e r a v a ( ...I Então depois que
o J u r i d o d e s f i l e v e i o p a r a n o s s a mão não
h o u v e q u e i x a , h á uma l a m e n t a ç ã o d e u n s e
o u t r o s , mas também s e n ã o h o u v e r n ã o é sam 7
ba, e a Única Escola que nunca reclama e
a que ganha (.. .
1"
AhLkon Guhmanães Johge

No G r u p o E s p e c i a l d e s f i l a m E s c o l a s f i l i a d a s 2 LIESI
e AESCRJ, m a s c a b e 2 LIESA a a d m i n i s t r a q ã o f i n a n c e i r a e a o :
ganização da apresentação, para a qual escolhe os Julgadores ,
que p a r t i c i p a m do Curso d e J u r a d o s p o r e l a promovido. Produz
a i n d a o Manual do J u l g a d o r , a R e v i s t a R i o Samba, em conjuntc
com a RIOTUR, e a R e v i s t a Abre Alas, e m d o i s volumes, contendc
a s i n f o r m a ç õ e s s o b r e t o d a s a s E s c o l a s q u e d e s f i l a m n o G r u p o E-
s
pecial. Uma d e s u a s p r o v a s d e e f i c i ê n c i a f o i r e s o l v e r u m prc
blema que sempre f o i c r í t i c o , o a t r a s o do Desfile. Em 1 9 9 1 nem
o i n i c i o d o s d e s f i l e s nem a s E s c o l a s a t r a s a r a m , e os horários
foram rigorosamente cumpridos.

A s negociações e n t r e a s AssociaçÕes e a RIOTUR -

sem
pre transcorrem sob intensa pressão, s o b r e t u d o no q u e d i z r e s
p e i t o às verbas. A c a d a a n o s u r g e m n o v o s i m p a s s e s e a t r i t o s , g-
e
r a l m e n t e acompanhados d e ameaças d e suspensão do d e s f i l e e a t é
mesmo s u a t r a n s f e r ê n c i a p a r a o u t r o l o c a l , p r i n c i p a l m e n t e o d e-
s
f i l e do Grupo E s p e c i a l . Apesar d e s t a s divergências, o contrato
é assinado conforme o s a c e r t o s e n t r e a s partes,que sempre che-
gam a um a c o r d o .
 A LIESA tem com r e l a ç ã o a o C a r n a v a l e s c o , uma p o s i ç ã o
d e diálogo e atenção que c r e s c e a cada ano. A ~ Õ So carnaval
realiza reuniões e a primeira delas é justamente com o s C a-
r
n a v a l e s c o s d a s E s c o l a s do Grupo E s p e c i a l , para discussão dos
r e s u l t a d o s do d e s f i l e e para o u v i r s u a s opiniões.

"A f i g u r a d o C a r n a v a l e s c o é f u n d a m e n t a l e
h o j e mais d o q u e nunca o s Carnavalescos
t e m uma a t u a ç ã o m u i t o g r a n d e . Na L I G A e l e s
t e m uma p a r t i c i p a ç ã o m u i t o g r a n d e , depois
com o s P r e s i d e n t e s . A p r i m e i r a r e u n i ã o q u e
n ó s t i v e m o s e s t e a n o f o i com o s C a r n a v a l e- s
tos, p a r a e l e s e m i t i r e m a s o p i n i õ e s d e l e s ;
como v a m o s t e r o u t r a s d u r a n t e o a n o , pare
s a b e r o que p r e c i s a mudar d e n t r o daquele
manual do j u l g a d o r , s e o s q u e s i t o s estão
muito f e c h a d o s , se e s t á e n t r a v a n d o a c r i a -
tividade[. ..
I"
A i L t a n ~ u i m a h ã e hJ a n g e

3.2.2 - O CARNAVALESCO E O REGULAMENTO

O julgamento d a s E s c o l a s d e Samba s e m p r e f o i uma

q u e s t ã o complexa desde a r e a l i z a ç ã o d o s p r i m e i r o s concursos.
c r i t é r i o s de avaliação e escolha dos julgadores sempre foram
p o n t o s p o l ê m i c o . ~ , v i s t o q u e uma c o n c e p - ã o ou e s c o l h a m a l f e-
i
t a s p o d e m s i g n i f i c a r uma a v a l i a ç ã o d i s t o r c i d a d o d e s f i l e , com
graves consequências. A competição 6 um dos elementos vitais
do c a r n a v a l d a s E s c o l a s d e Samba, regido pela mobilidade e x i-
s
t e n t e e n t r e o s Grupos, que p o s s i b i l i t a que a s Escolas ascen-
dam o u d e s ç a m c o n f o r m e o r e s u l t a d o o b t i d o .

E s t a m o b i l i d a d e p r o v o c a a b u s c a d a s u p e r a ç ã o em c a d a
desfile, e o perigo do rebaixamento e sobretudo a conquista do
t í t u l o máximo, são o s elementos delimitadores desta competição
na q u a l a s E s c o l a s d e S a m b a i n v e s t e m t o d o s o s s e u s r e c u r s o s .
 O Regulamento, ponto c r i t i c o de tensões e pressões,
passou p o r mudanças que o adequaram às apresentações das E s c-
o
las, s o b r e t u d o a s do Grupo E s p e c i a l . Neste Grupo, em q u e as
experiências e inovações tecnico-artísticas s e concentram mais
acentuadamente, a avaliação baseia-se na a n á l i s e de minimas
diferenças, regulamentadas s o b c r i t é r i o s c a d a v e z m a i s m i n u c i-
o
sos. C a b e a LIESA e l a b o r a r o R e g u l a m e n t o d o G r u p o E s p e c i a l , e
2 RIOTUR c a b e e l a b o r a r o R e g u l a m e n t o p a r a o s d e s f i l e s d o s G r-
u
p o s d e B a s e d a AESCRJ, com o s m e s m o s c r i t é r i o s .

Neste Regulamento e s t ã o d e t e r m i n a d a s t o d a s a s normas

de apresentação das Escolas, desde a obrigatoriedade de enrz
dos nacionais a t é a quantidade e dimensão dos c a r r o s alegór
cos. C a d a J u l g a d o r r e c e b e um Mapa, onde escreve a s notas,segu
do o s c r i t é r i o s d e ' a v a l i a ç ã o p a r a c a d a q u e s i t o . E dada tambél
uma o r i e n t a ç ã o g e r a l d e como d e v e p r o c e d e r o j u l g a d o r e o s i-
t e m a d e c o n c e s s ~ od e n o t a s , no q u a l a n o t a i n f e r i o r a d e z i-
m
plica numa j u s t i f i c a t i v a e s c r i t a dos motivos.

O s quesitos atualmente julgados s ã o o s mesmos para

t o d o s o s Grupos, e cs c r i t é r i o s d e a v a l i a ç ã o e normatização
não d i f e r e m muito, guardadas a s diferenças entre o porte das
E s c o l a s d e Samba. 0s quesitos julgados são:í421

ENREDO
FANTASIA
ALEGORIAS E ADEREÇOS
BATERIA
SAMBA-ENREDO
HARMONIA
EVOLUÇÃO
COMISSÃO DE FRENTE
MESTRE SALA E PORTA-BANDEIRA
CONJUNTO

( 4 2 1 LIESA, Manual do J u l g a d o r , Carnaval 1991. Carnaval 91 Rio

M a n u a l d o s J u l g a d o r e s d o s D e s f i l e s d a AESCRJ.
 P a r a o C a r n a v a l e s c o o conhecimento do Regulamento 6
indispensável, pois e l e deverá adequar o carnaval da Escola à s
exigências feitas, cabendo à Escola o cumprimento de t o d a s as
normas. O d e s f i l e é um p r o d u t o d o e s f o r ç o c o n j u n t o d o C a r n a v-
a
l e s c o e d a E s c o l a d e Samba, no s e n t i d o d e c u m p r i r a o máximo
a s d e t e r m i n a ç õ e s p r e s c r i t a s no R e g u l a m e n t o , para que a a v a l i-
a
ção s e j a a melhor possivel.

Para a obtenção deste resultado a s Escolas de Samba

necessitam de recursos, gerados pela subvenção e por outras
fontes de financiamento. Na d é c a d a d e 7 0 a f i g u r a d o " P a t r o n o l '
que e x e r c e o p a p e l d e "mecenas" p a t r o c i n a d o r do c a r n a v a l , teve
sua importância cada vez mais acentuada. A obtenção de recu
s o s p a r a a r e a l i z a ç ã o d o c a r n a v a l e s t á a p o i a d a em d i v e r s a s a
ternativas, como a a j u d a d e c o m e r c i a n t e s d e á r e a s p r ó x i m a s
Agremiação e o " L i v r o d e Ouro", usado para doações, costume a
t i g o que remonta a o s tempos dos Ranchos e Grandes Sociedades.

Concorrem a i n d a p a r a aumentar o s r e c u r s o s f i n a n c e-
i
r o s da Escola, a s suas próprias Alas, que organizam f e s t a s pa
r a promover s e u s F i g u r i n o s . -
A l a s como a d o s C o m p o s i t o r e s e t a m
bém a B a t e r i a c o s t u m a m p r o m o v e r f e s t a s e f a z e r a p r e s e n t a ç o e s e
shows f o r a da E s c o l a , que por sua vez organiza v ~ r i o s eventos
que aumentarão sua r e c e i t a para o carnaval.No que s e refere
aos Patronos, pessoas de poder financeiro elevado, em geral
j u s t j f i c a m s e u e n v o l v i m e n t o com a s E s c o l a s d e S a m b a p o r um
p r o f u n d o e d e v o t a d o amor a e s t a s , das q u a i s s e orgulham e o-
n
de são por vezes considerados verdadeiros lideres comunitários.

E s t a d e d i c a ç ã o a o s a m b a t e m s i d o um f a t o r decisivo
p a r a a s c o n q u i s t a s d a LIESA. S u a d e t e r m i n a ç ã o na d e f e s a dos
direitos das Escolas 6 uma q u e s t ã o q u e e n v o l v e p e s s o a s l i g a d a s
a diversas atividades, i n c l u i n d o o p o p u l a r Jogo do 8icho.A pre-
s e n ç a d e s t a s p e s s o a s é um f a t o i n e g á v e l , não s ó p e l o suporte
financeiro, m a s p o r e x e r c e r e m o p a p e l d e P a t r o n o s e mesmo e x e-
r
cerem o c a r g o d e P r e s i d e n t e s , o q u e o s c o l o c a s e m p r e em e v i d ê -
n
tia.

A intervenção dos Patronos, seja qual f o r a a t i v i d-

a
d e p o r e l e s e x e r c i d a f o r a d o mundo d o s a m b a t e m d i m i n u i d o a t r-
a
v é s d a c r e s c e n t e a u t o n o m i a f i n a n c e i r a d a s E s c o l a s d e Samba. No
Grupo E s p e c i a l , a distribuição das verbas se f a z pelo posicio
n a m e n t o no " R a n c k i n g " do c a m p e o n a t o , e como s ã o v e r b a s s i g n-
i
ficativas, a n e c e s s i d a d e do f i n a n c i a m e n t o a t r a v é s dos P a t r o n o s
vem d e c r e s c e n d o , mas p e r m a n e c e a s u a i m p o r t â n c i a no contexto
d e cada Agremiação.

P a r a o C a r n a v a l e s c o t r a b a l h a r numa E s c o l a d e Samb
q u e p o s s u a um s u p o r t e f i n a n c e i r o c a p a z d e v i a b i l i z a r t o d o I

p r o j e t o do c a r n a v a l é sempre a melhor opção, ainda que rara

v i s t o q u e p o u c a s E s c o l a s podem s e r c o n s i d e r a d a s h o j e como
talmente auto suficientes financeiramente.

3.3 - - A ASSOCIAÇÃO DE CARNAVALESCOS DE ESCOLAS DE SAMBA

3.3.1 - A CONSCIENTIZAÇÃO PROFISSIONAL

A s E s c o l a s d e S a m b a s e m p r e c o n t a r a m com entidades
que a s representaram e defenderam seus d i r e i t o s . O Carnavalesco
em s e u p r o c e s s o d e p r o f i s s i o n a l i z a ç ã o e sua crescente importân -
tia n ã o p o d e r i a p r e s c i n d i r d e uma e n t i d a d e q u e o r e p r e s e n t a-
s
se, r e s u l t a n t e d e uma c r e s c e n t e c o n s c i e n t i z a ç ã o ' d e s e u papel
e também d e s u a v a l o r i z a ç ã o i n d e p e n d e n t e da p r ó p r i a E s c o l a de
Samba.

A c r i a ç ã o da Associação de Carnavalescos d e Escolas

d e Samba, a ACES, baseou-se na n e c e s s i d a d e da r e g u l a m e n t a ç ã o e
reconhecimento da p r o f i s s ã o do Carnavalesco, e a determinação
dos pré-requisitos para exerce-la. Nos p r i m e k r o s tiempos, ainda
nas d é c a d a s d e 50 e 60, a t u a v a m como C a r n a v a l e s c o s p e s s o a s c-
u
ja experiência técnica estava ligada á á r e a s como as Artes
~ l á s t i c a se a C e n o g r a f i a . Com a c r e s c e n t e n e c e s s i d a d e d e prc
f i s s i o n a i s e a f a l t a d e c o n t r o l e d a q u e l e s que eram contrata
d o s p e l a s E s c o l a s d e Samba, h o u v e uma a b e r t u r a -
generalizada,^^
jo r e s u l t a d o f o i a a b s o r ç ã o d e p e s s o a s com f o r m a ç ã o d a s mais
diversificadas áreas, t a i s como m g d i c o s , bancários, e n g e n h e-
i
ros, psicólogos. e outros, o q u e g e r o u uma d i s t o r ç ã o q u a n t o a o
que h a b i l i t a r i a uma p e s s o a a s e r C a r n a v a l e s c o .

Esta d i s t o r ç ã o ocasiounou uma c o r r i d a a o m e r c a d o dc

trabalho oferecido pelas Escolas, de pessoas cujo conhecimen-
t o e h a b i l i t a ç ã o t é c n i c a nem s e m p r e c o r r e s p o n d ê r a m às e x i g é-
n
tias. A r e a l i d a d e vivida pelos Carnavalescos f o i outro fator
i m p o r t a n t e n a C r i a ç ã o d a ACES, no q u e s e r e f e r e às condições
d e t r a b a l h o o f e r e c i d a s p e l a s E s c o l a s d e Samba, nem s e m p r e sa
tisfatõrias. O s u r g i m e n t o d e uma nova g e r a ç ã o d e C a r n a v a l e s c o s
f o r m a d a no e s t e i o d a p r i m e i r a g e r a ç ã o d o s a n o s 6 0 , possuidora
d e uma n o v a v i s ã o a c e r c a d e s e u t r a b a l h o t a m b é m c o l a b o r o u para
a i d e a l i z a ç ã o da Associação.

Baseados nestes aspectos, um g r , u p o d e Carnavalescos

d e ambas a s g e r a ç õ e s , composto p o r Luis Fernando Reis, Roberto
Costa, Lilian Rabello, Renato Lage, C a r l o s D'Andrade, G i l R -i
c o n e G e r a l d o C a v a l c a n t i f u n d o u a ACES em d e z e m b r o d e 1987. A
ACES c o n s t i t u i , em c o n j u n t o com a c r i a ç ã o d a LIESA e a c o n s t r u -
ç ã o d o SambÓdromo, um f a t o novo e s i g n i f i c a t i v o na h i s t ó r i a d o
c s r n a v a l d a s E s c o l a s d e Samba. Não só pelo impacto causado,mas
p o r s e r o p r i m e i r o m o v i m e n t o o b j e t i v o em d i r e ç ã o a o r e c o n h-
e
cimento da p r o f i s s ã o do Carnavalesco.

"l...lo mentor i n t e l e c t u a l d i s s o f o i uma

pessoa muito politizada, o Roberto Costa,
q u e t e m a s u a p a s s a g e m p e l o MR8, e o L u i s
 Fernando Reis, que na época e r a candidato
a deputado federal. E n t ã o e r a uma turma
m u i t o p o l i t i z a d a a u e a o mesmo t e m o o c a-u
s o u uma r e a ç ã o e n t r e b a n q u e i r o s e presi
dentes de Escolas, e paralelamente a istã
uma p a u r a n o s m e n o s d e s a v i s a d o s , n o s m e n o s
conscièntes."

LiLian Rabello, Pnesidente da ACES

"C. ..]nos u n i m o s um d i a p o r q u e t i n h a que
a c a b a r com a q u e l a c o i s a d o C a r n a v a l e s c o d a
P o r t e l a s e r u m m o n s t r o e n ã o f a l a r com o
C a r n a v a l e s c o da Mangueira, e t o d o s não se
f a l a v a m em f u n ç ã o d a s E s c o l a s concorrerem
e i s s o n ã o t e m n a d a a v e r , o s p r ó p r i o s P r- e
s i d e n t e s comem n a mesma m e s a , s ã o a m i g o s , e
porque não o s C r a n a v a l e s c o s ? "

Canlas DIAndnade, Fundadon da ACES

"O grupo é muito heterogêneo, a maior p a r t e
d o s C a r n a v a l e s c o s s ã o ' p e s s o a s que não tem
um t r a b a l h o f i x o , n,ão p o d e p a g a r uma m e n s a
l i d a d e . P a r a t e r m o s um g r u p o r e l a t i v a m e n t e
bom, t e r i a m o s q u e t e r t o d a s a s c l a s s e s de
Escolas, primeiro, segundo, t e r c e i r o grx
po, e o s C a r n a v a l e s c o s do t e r c e i r o grupo
n ã o vem, e l e s t e m medo, a c h a m q u e fazendo
p a r t e d a ACES o p r e s i d e n t e n ã o v a i contra
t a r (...I s e t o d o s t e m d i r e i t o a uma a s s o z
c i a ç ã o , p o r q u e óÇ . n ã o ? "

Genaldo Cavalcanti, Fundadon da ACES

Desta forma, f o i f u n d a d a e s t a A s s ' o c i a ~ ã o , com

d e t e-
r
m i n a ç õ e s d i s p o s t a s em s e u E s t a t u t o , do q u a l transcrevemos uma
pequena p a r t e i n i c i a l :

ESTATUTO SOCIAL

C A P ~ T U L OI - DA DENOMINAÇÃO, CONSTITUIÇÃO, NATUREZA

FINALIDADE, SEDE, D U R A Ç Ã O E P A T R I M ~ N I O .
ARTIGO 1? - A Associação de Carnavalescos de Esco
l a s d e S a m b a , f u n d a d a em 2 8 d e dezem
b r o d e 1 9 8 7 , n a c i d a d e d o R i o d e J a n e-i
 r o o n d e t e m s e d e e f o r o , 6 uma E n t i d-
a
de de c l a s s e , que propõe-se r e u n i r e
representar os Carnavalescos e outros
p r o f i s s i o n a i s q u e com e l e s participem.
na r e a l i z a ç ã o a r t í s t i c a d o s desfiles
d e E s c o l a s d e Samba e o u t r a s ativida
des art?sticas, plásticas e artesanais."
1431

A p a r t i r d o m o m e n t o em q u e s e c o n s o l i d o u c o m o p e s s o a
..
juridica, s o b a n a t u r e z a d e A s s o c l a ~ ã o , a ACES s e constituiu
na p r i m e i r a e n t i d a d e r e p r e s e n t a t i v a d o s C a r n a v a l e s c o s , com o-
b
j e t i v o s d e t e r m i n a d o s p o r a s p i r a ç õ e s c o l e t i v a s q u e visavam a r-
e
gulamentação l e g a l da profissão.

O caráter associativo, de congregação s o c i e a l e pro

f i s s i o n a l ainda s o f r e algumas l i m i t a ç õ e s , dadas por alguns a-
s
pectos p a r t i c u l a r e s da profissão. A competição e n t r e a s E s c-
0
ias c o n d i c i o n a uma c o m p e t i ç ã o e n t r e o s C a r n a v a l e s c o s , como em
q u a l q u e r p r o f i s s ã o q u e t e m um c a m p o d e t r a b a l h o r e s t r i t o em
suas ofertas. A i n e x i s t ê n c i a d e r e g u l a m e n t a ç ã o e d e um código
d e é t i c a q u e n o r m a t i z e a s a t i v i d a d e s f a z com q u e e s t e s p r o f i-
s
sionais trabalhem isoladamente. O próprio sistema de c o n t r a t-
a
ção, a t r a v é s d e c o n v i t e ou c o n c o r r ê n c i a , não p o s s i b i l i t o u a
c r i a ç ã o d e normas é t i c a s , e m u i t a s v e z e s um C a r n a v a l e s c o p o d-
e
rã s e a d i a n t a r a o u t r o , o f e r e c e n d o Escola seus serviços por
um p r e ç o bem m e n o r .

A dificuldade de s e reunir profissionais tão h e t e r-

o
gêneos e competitivos, mesmo q u a n d o o s p r o p ó s i t o s s ã o o i n t e-
r
câmbio de informações t é c n i c a s e a r t í s t i c a s e a regulamentação
da atividade, f a z com q u e a ACES s e a f i r m e a t r a v e s d e um prc
cesso lento. Hoje, ao completar quatro anos de existência, pc
de-se considerar que apesar de seus recursos escassos, a ACES
conseguiu a b r i r caminho p a r a o d i á l o g o e n t r e o s Carnavalescos
e a s E s c o l a s d e Samba, s o b r e t u d o com a L I E S A , mesmo q u e seja
uma a b e r t u r a em e s t á g i o i n i c i a l .

c 4 3 1 ACES., Estatuto Social, op.cit.p.1. C ó p i a i n t e g r a l no a n e -

xo d e E n t r e v i s t a s e Documentação.
 A questão da regulamentação da profissão de Carnava
lesco é c o n t r o v e r t i d a q u a n t o a o s s e u s a s p e c t o s g e r a i s . Não -
e
x i s t e a p r o f i s s ã o i n t i t u l a d a " C a r n a v a l e s c o " no Q u a d r o d e ~ i-t u
1 0 s e D e s c r i ç ã o d e F u n ç õ e s c u j o s d e s d o b r a m e n t o s r e u n e m a s a t -i
v i d a d e s d e A r t i s t a s e T é c n i c o s em E s p e t á c u l o s d e D i v e r s õ e s , r -
e
lacionados 5s A r t e s ~ ê n i c a s . Não e x i s t e t a m b é m n e n h u m c u r s o d e
n z v e l u n i v e r s i t á r i o q u e c o n c e d a um d i p l o m a e s p e c i f i c o . O fluxo
de p e s s o a s p r o c e d e n t e s da E s c o l a s d e B e l a s A r t e s e da á r e a do
T e a t r o p a r a o mercado d e t r a b a l h o do c a r n a v a l não g e r o u a c r i-
a
ção de escolas o f i c i a i s para e s t a atividade, e no q u e s e r e f-
e
re 5 s u a f o r m a ç ã o , o C a r n a v a l e s c o com o s r e c u r s o s d o a p r e n d-i
zado p r á t i c o em o u t r a s á r e a s e m a i s e s p e c i f i c a m e n t e n o s B a r r-
a
cÕes d e E s c o l a s d e Samba.

E x i s t e m no e n t a n t o p o n t o s o b j e t i v o s , q u e s e n ã o e s p-
e
c i f i c a m a a t i v i d a d e c o m o uma p r o f i s s ã o legalmente r e g u l a m e n t-
a
da, oferecem a l t e r n a t i v a s a t r a v é s das quais o s Carnavalescos
buscam s u p r i r e s t a s d e f i c i ê n c i a s , s e j a junto ao Sindicato de
Artistas e Técnicos CSBATI, o u o b t e n d o d i p l o m a s d e c u r s o s s u p-
e
riores, como o s d e A r t e s C ê n i c a s d a E s c o l a d e B e l a s A r t e s e o
d e T e a t r o na U N I R I O .

O Carnavalesco s e e n c a i x a no p e r f i l d a q u e l e i n d i v-i
duo l i g a d o a o s e s p e t á c u l o s d e d i v e r s õ e s , d e s c r i t o na L e i -
nÜme
r o 6.533 d e 24/5/78, que regulamenta a s profissões de Artistas
e ~ é c n i c o sem E s p e t á c u l o s d e D i v e r s õ e s :

"Artista é o profissional que c r i a , inter

p r e t a ou e x e c u t a o b r a d e c a r á t e r c u 1t Ü
r a l de qualquer riatureza, para e f e i t o de
exibição e divulgação pública, através de
m e i o s d e c o m u n i c a ç ã o d e m a s s a ou locais
onde s e r e a l i z a m e s p e t á c u l o s de diversão
pública." (441

1441 L e i n 9 6 . 5 3 3 , 2 4 / 5 / 7 8 , Artigo Zg,Inciso 1,op.cit.

 No Q u a d r o d e T 5 , t u l o s e Descrição d e F u n ç õ e s d o SBAT
constam a t i v i d a d e s l i g a d a s 5s á r e a s d e A r t e s ~ ê n i c a s , Cinema.
Fotonovela, Teatro e Radiodifusão, e com r e l a ç ã o 5s f u n ç õ e s -e
xercidas pelo Carnavalesco, três a t i v i d a d e s abrangem a s u a a t-f
vidade: Cenógrafo, Diretor e Figurinista. Atualmente alguns
C a r n a v a l e s c o s optam p e l o r e g i s t r o n e s t a s c a t e g o r i a s , Este r-
e
g i s t r o dá c o n d i ç õ e s d e b e n e f i c i a r - s e d e uma r e g u l a m e n t a ç ã o j u -
n
t o ao Sindicato, a i n d a que não s e j a e s p e c i f i c a m e n t e r e l a c i o n-
a
d o à p r o f i s s ã o q u e e x e r c e como C a r n a v a l e s c o .

" I . . . I t e m um t r a b a l h o s e n d o f e i t o j u n t o ao
Sindicato de Artistas e Técnicos de Tea
t r o e A f i n s , q u e f o i uma c o i s a m u i t o inte
ressante (...I n ó s r e c e b e m o s um atestadp
d e c a p a c i t a ç ã o p r o f i s s i o n a l , quem e s c r e v i a
e d i r i g i a o enredo recebeu o t i t u l o de D i
r e t o r , quem f a z i a t a m b é m f i g u r i n o s , r e c e b i ã
o t i t u l o d e F i g u r i n i s t a , e quem f a z i a a
p a r t e cenagráfica do Barracão e a l e g o r i a s ,
recebia o t i t u l o d e Cenógrafo."
Canlaa V ' Andhade

E s t a d i v e r s i f i c a ç ã o d e c o r r e do f a t o d e que o C a r n a v-
a
l e s c o p o d e e x e r c e r a p e n a s uma d a s a t i v i d a d e s r e l a c i o n a d a s
.a
sua profissão, dividindo-a com o u t r o C a r n a v a l e s c o o u o u t r o p r o
f i s s i o n a l q u e e x e c u t e um d e t e r m i n a d o t r a b a l h o . Desta forma há
o C a r n a v a l e s c o q u e s8 e s c r e v e o e n r e d o , e n q u a n t o q u e o u t r o p r-
o
f i s s i o n a l poderá desenhar Figurinos e Alegorias. O ~ r á f i c o111
i l u s t r a de maneira simplificada a s principais atividades do
Carnavalesco:

AUTOR 0 0 E N R ~ D O CARNAVALESCO DESENHA OS FIGURINOS

A U T O R D A SINOPSE PROJETA AS ALEGORIAS

AUTOR D O ROTEIRO PROJETA A D E C O R A Ç Ã O

A R M A A ESCOLA COORDENA O B A R R A C Ã O
 A f i l i a ç ã o d a ACES j u n t o a um S i n d i c a t o d a r i a a s e u s
i n t e g r a n t e s um r e s p a l d o j u r í d i c o m a i o r , através de conquistas
t r a b a l h i s t a s como C a r t e i r a A s s i n a d a , Aposentadoria, Seguro S-
o
c i a l e p r o t e ç ã o quanto ao rompimento d e c o n t r a t o . No entanto
o a s p e c t o tempo;atio d e s e u c o n t r a t 0 . é um f a t o r d e i m p e d i m e-
n
to, v i s t o que p o r s e r p o r tempo d e t e r m i n a n d o não c r i a vinculo
empregaticio. I s t o no e n t a n t o n ã o i m p e d e q u e s e j a beneficiado
como p r o f i s s i o n a l a u t õ n o m o q u e é, pelos direitos trabalhistas,
como em q u a l q u e r o u t r a p r o f i s s ã o .

N e s t e s e n t i d o a ACES é um i m p o r t a n t e a v a n ç o , não só
por agregagar os Carnavalescos, mas p o r a b r i r e s p a ç o p a r a t-
o
d o s a q u e l e s p r o f i s s i o n a i s q u e t r a b a l h a m na á r e a d o c a r n a v a l e
q u e n ã o c o n t a m com e s t a p r o t e ç ã o .

"A ACES é uma i d é i a m u i t o a n t i g a e q u e a

quatro anos s e concretizou (...I quando co
meçou e r a s ó p a r a o s C a r n a v a l e s c o s , [
j e temos s õ c i o s adjuntos que são
...
aderecis
lhõ

t a s , f i g u r i n i s t a s , não tem s ó C a r n a v a l e- s
c0.s. ( . . . I A ACES n ã o é um S i n d i c a t o (. . . I
m a s com um p r o p ó s i t o d e uma d e d i c a ç ã o t r"- a
balhista para estes profissionais,que nao
p a g a m I N P S ( . . . ) n ã o t e m a p o s e n t a d o r i a . Mor
reram Carnavalescos que foram enterrado:
em c o v a r a s a p o r q u e n ã o s e t i n h a o dinhei
r o para f a z e r o funeral [...I A ACES tem
o propÓsito de cuidar dos profissionais de
c a r n a v a l , o que a t é h o j e nunca aconteceu,
nenhuma i n s t i t u i ç ã o d o R i o d e J a n e i r o ou
N a c i o n a l t i n h a f e i t o uma d e d i c a ç ã o a este
p r o f i s s i o n a l . Em média temos q u a r e n t a s- ó
c i o s , mas q u e r e m o s m u i t o m a i s p a r a q u e t- o
me f o r ç a . l . . . I V
S i d CamiLo , Dd~dahda ACES

ònsiderando que o Carnavalesco 6 o autor intelectual

d o ~ n r ê d o , e e x e c u t o r t é c n i c o d o c a r n a v a l d e uma E s c o l a d e Sam -
ba, d e s d e o m o m e n t o em q u e a s s i n a e s t e t r a b a l h o e l e deveria
t e r direitos sobre ele, como o s t e m o c o m p o s i t o r s o b r e o Sam-
enrêdo. V o l t a n d o 5 a n a l o g i a com a o p e r a , o Carnavalesco é O

a u t o r do t e x t o d a peça a p r e s e n t a d a - o Enrêdo - e a Escola de

Samba 6 o c o n j u n t o d e a t o r e s q u e a a p r e s e n t a m , com a c e n o g r-
a
f i a por e l e criada - a s Alegorias - os Figurinos por e l e d e s-
e
nhados - a s Fantasias - num e s p a ç o c ê n i c o f e c h a d o destinado
sua apresentação, o Sambódromo.

A a u t o r i a i n t e l e c t u a l d e um e n r ê d o e a e x e c u ç ã o do
carnaval pressupõe que o p r o j e t o pertença aquele que o assina
e e x e c u t a , d e s d e s u a c o n c e p ç ã o a t é s u a a p r e s e n t a ç ã o na Avenida.
Neste sentido, o D i r e i t o Autoral que o Carnavalesco poderia
receber por e s t a obra l i t e r á r i a e t e a t r a l que 6 o carnaval da
Escola; ainda 6 uma q u e s t ã o q u e n ã o f o i r e s o l v i d a . E n q u a n t o a s
E s c o l a s d e S a m b a r e c e b e m r e m u n e r a ç ã o p o r s u a a p r e s e n t a ç ã o a t r -t
v é s d o D i r e i t o d e A r e n a e vendem a T r a n s m i s s á o d o D e s f i l e p a r e
a s EmissÕras d e Televisão, n ã o s e e n c o n t r o u a i n d a uma fórmula
que b e n e f i c i e o a u t o r do espetáculo.

Não c a b e n a p r e s e n t e p e s q u i s a , nem a nossa intenção,

d e t e r m i n a r s o l u ç Õ e s p o s s ~ v e i s , m a s s i m f a z e r um p a r a l e l o e n t r E
aqueles que são beneficiados quanto aos D i r e i t o s Autorais,comc
o s c o m p o s i t o r e s d e samba e a s p r ó p r i a s E s c o l a s , e apontar este
lacuna que é'um d o s a s p e c t o s da p r o f i s s ã o do Carnavalesco.Este
p r o b l e m a vem s e n d o d i s c u t i d o n a ACES, mas a i n d a s e e n c o n t r a a
uma g r a n d e d i s t â n c i a d e s u a s o l u ç ã o .

A i n f r a e s t r u t u r a d a ACES c a r e c e d e s u p o r t e f i n a n c e-i
r o para seu funcionamento, como s e d e p r ó p r i a , telefone e f u-
n
cionários. Suas atividades são r e s t r i n g i d a s pela própria a t u-
a
ç ã o d o s C a r n a v a l ~ e s c o s , q u e em s e u p e r i o d o d e t r a b a l h o estâõ
c o m p l e t a m e n t e a b s o r v i d o s p e l a s E s c o l a s d e Samba. O esforço de
sua Diretoria, da qual a Carnavalesca Lilian Rabello é a atual
Presidente, tem o b t i d o c o n q u i s t a s i m p o r t a n t e s , t a i s como -
cre
d e n c i a i s p a r a o d e s f i l e , mesmo p a r a o s C a r n a v a l e s c o s ' n ã o a t u a -
n
tes, f e s t a s d e a p r e s e n t a C ã o d o s e n r ê d o s e o ~ r o f é uACES, um
prêmio c r i a d o pela Associação que escolhe o s melhores t r a b-
a
b a l h o s e p r e m i a a q u e l a s p e r s o n a l i d a d e s q u e d u r a n t e o a n o d e a-
1
guma m a n e i r a b e n e f i c i a r a m o s C a r n a v a l e s c o s . No q u e s e refere
a um v e i c u l o d e d e f e s a d e s e u s i n t e r e s s e s , a ACES p o d e r á b e n-
e
f i c i a r n ã o s ó o s C a r n a v a l e s c o s , mas t o d o s a q u e l e s prof i s s i-
o
n a i s q u e t r a b a l h a m no campo d o c a r n a v a l .

"C...] a g e n t e t e m um g r u p o bom. D e n t r o d o
nível c u l t u r a l dos Carnavalescos existe
, uma d i v i s ã o , e i n f e l i z m e n t e e s t a é a r e a l i
d a d e . H; a q u e l e s C a r n a v a l e s c o s q u e tem u m ã
f o r m a ç ã o e d u c a c i o n a l d e um m e i o m e l h o r , m a s
existem a q u e l e s que fazem q u e s t ã o de tri
pudiar e s e manter d i s t â n c i a . Não achÕ
i s s o l e g a l , porque a t é para desenvolver a
t u a c a b e ç a no campo a r t í s t i c o v o c ê t e m q u e
t e r c o n t a t o com o u t r o s a r t i s t a s . "

Max Loped
"Temos uma A s s o c i a ç ã o , mas o s C a r n a v a l e s c o :
n ã o s ã o u n i d o s , n ã o s e i s e é p e l o f a t o d~
no momento em q u e a g e n t e s ó s e l e m b r a ni
época do C a r n a v a l , e quando a g e n t e esti
l i g a d o no C a r n a v a l n ã o t e m t e m p o d e i r 5 :
r e u n i õ e s nem p r o c u r a e s t a r j u n t o s . a c o i s e
f i c a meio d i s p e r s a . "

"L...)eu f a ç o p a r t e da Associação. Estavam

tentando c r i a r regras, a s pessoas c o m b i n-a
vam uma c o i s a d e p o i s f a z i a - s e o u t r a , Por
c a u s a da v a i d a d e , e eu d e r e p e n t e atrasc
meu c o n t r a t o com a P o r t e l a , e n q u a n t o nãc
t i v e r r e u n i ã o n a A s s o c i a ç ã o , t o d o mundo f a z
u m a c o r d o p a r a n ã o a s s i n a r , a i v a i um E
p a s s a a p e r n a , f a z p e l a metade do q u e eu
f a r i a , não e x i s t e é t i c a . "

S i L v i o Cunha
"Não, eu não s o u s ó c i o , na r e a l i d a d e não
gosto deste t i p o de Associaç~o,porque i s s o
não l e v a a nnda, a c h o que v o c ê não pode t a
b e l a r os Carnavalescos porque v a i cometer
m u i t a s i n j u s t i ç a s (...Iw
"I...lEssa Associação, da maneira que está
c o n s t i t u $ d a [....I dificilmente ela terá
poder d e f o r ç a , d e d e c i s ã o , porque eu acho
que todos o s p r o f i s s i o n a i s envolvidos no
c a r n a v a l d e v e r i a m p e r t e n c e r a ACES.Por e
xemplo, o c h e f e da s e r r a l h e r i a , o cenotéc
n i c o I . . . ) se você f e c h a r e s s a sociedade
s ó em t o r n o d o s C a r n a v a l e s c o s , q u e é um
número p e q u e n o , v o c ê não v a i t e r f o r ç a . "

"você v& que a gente conseguiu a t é colocar

o nome d o s C a r n a v a l e s c o s n o s d i s c o s ! Isto
f o i um p a s s o g i g a n t e s c o , p o i s é um r e c o n h - e
cimento informal de nossa a u t o r i a [...I O
u n i v e r s o d o c a r n a v a l tem p o u c o s C a r n a v a l e-
s
tos c o n c e i t u a d o s e m u i t a s E s c o l a s , s ó que
ao invés dos Carnavalescos deixarem que
a s Escolas corram para nós, o s Carnavales
c o s é q u e saem d e s e s p e r a d o s se o f e r e c e n d õ
p a r a a s E s c o l a s [...Iw
L i L i a n RabeRRo
PneaLdenXe da ACES
"Acho q u e e l e s t e m d i r e i t o a u t o r a l porque
a q u i l o é c o n s i d e r a d o um d e s f i l e dramático
num r e c i n t o f e c h a d o , e t e m a SBAT q u e não
q u e r a c e i t a r a i n s c r i ç ã o do Carnavalesco.
S e a SBAT a c e i t a s s e e l e t i n h a o d i r e i t o d e
c o b r a r d e z p o r c e n t o como c r i a d o r dramáti
co (...I o a r t i s t a é extremamente indivi
dualista, os Artistas Plásticos raramente
tem r e i n v i n d i c a ç ã o c o l e t i v a , c a d a um quer
o s e u e n i n g u é m tem o s e n t i d o d o coletivo
[ . . . ) d e m a n e i r a q u e o mesmo f e n ô m e n o s e v ê
com o s C a r n a v a l e s c o s n o s d o i s s e n t i d o s , n o
sentido oportunista, d i r e t o e pragmático,e
no s e n t i d o a r t i s t i c o . "

" A c h o q u e a ACES f o i um p a s s o importante

p a r a a c o n s o l i d a ç ã o d a c l a s s e , mas aconte
c e q u e a ACES, c o m o d i s c u t e m u i t o a parte
f i n a n c e i r a , n ã o v a i t e r a mesma u n i ã o que
t e m a s E s c o l a s porque P r e s i d e n t e não tem
r e m u n e r a ç ã o [ . . . ) A c h o q u e a ACES p e c a no
m o m e n t o em q u e e l a d i s c u t e p o u c o o l a d o a r
t T s t f c o , acho que a contribuição para issõ
no momento s e r i a m a i o r p a r a q u e e l e s vis
sem o q u e p r e c i s a m u d a r , o n d e e l e s pude;-
sem v a l o r i z a r a p r ó p r i a c l a s s e . "
 "Eu t e n h o me c o l o c a d o um p o u c o margem d e s
t a o r g a n i z a ç ã o p e l o s e g u i n t e motivo,^ meu
-
t r a b a l h o d e n t r o d a E s c o l a d e Samba é m u i t o
m a i s um t r a b a l h o q u e e u p o s s o d i z e r q u e 6
além do p r o f i s s i o n a l , e e s s a é a r a z ã o p o r
q u e e s t o u a q u i n z e a n o s na B e i j a F l o r , e- n
q u a n t o nenhum C a r n a v a l e s c o p a s s a m a i s de
d o i s a n o s numa e s c o l a a n ã o s e r q u e e l e e s
t e j a d a n d o p o s i ç õ e s C...) e n t ã o a minha cÕ
locação é totalmente diferente dos outro;
C a r n a v a l e s c o s , q u e t e m um e n f o q u e comer
c i a l pela f r e n t e , d a i gerou a r o t a t i v i d a d e
(...I eu não sou a b s o l u t a m e n t e c o n t r a a
ACES, a o c o n t r á r i o , d o u f o r ç a a e l a (...I
e u n ã o p o s s o p a r t i c i p a r d e uma Associação
quando a minha p o s i ç ã o é e s p e c i a l , eu sP
r i a uma p e s s o a c o n t r a p r o d u c e n t e p a r a e l e s '
e s p e r o que e l e s entendam i s t o . "

3.3.3 - A REMUNERAÇÃO 0 0 CARNAVALESCO

A q u e s t ã o da remuneração do Carnavalesco 6 um dos

aspectos mais complicados de sua profissionalização. Contrata
d o p a r a r e a l i z a r um t r a b a l h o q u e e n v o l v e a l t o s g a s t o s , p r i n c-
i
p a l m e n t e n a s E s c o l a s d e Samba d o G r u p o E s p e c i a l , pressupõe -se
q u e p o r s u a a t i v i d a d e e r e s p o n s a b i l i d a d e e l e r e c e b a uma alta
quantia, o q u e nem s e m p r e c o n d i z com a r e a l i d a d e . 0 s a l t o s c u-
s
t o s d e um c a r n a v a l d e E s c o l a d e S a m b a t e r m i n a r a m p o r g e r a r uma
m i t i f i c a ç ã o em t o r n o d a r e m u n e r a ç ã o d o C a r n a v a l e s c o , endossa -
da p e l o grande m i s t é r i o f e i t o p e l o s p r ó p r i o s d i r i g e n t e s , no
sentido de valorizar suas Escolas e seus contratados.

A remuneração 6 d e t e r m i n a d a na n e g o c i a ç - ã o d o c o n t r -i
to, e sua forma d e pagamento geralmente & p a r c e l a d a . Em nossi
pesquisa, a p e n a s um d o s C a r n a v a l e s c o s e n t r e v i s t a d o s r e v e l o u o
v a l o r de seu c o n t r a t o e a remuneração mensal recebida, mas n ã o
f o i n o s s a i n t e n ç ã o r e a l i z a r um l e v a n t a m e n t o d a m é d i a salarial
dos Carnavalescos, e s i m conhecer a avaliação desta r e m u n e r e-
ção, e no q u e d i z r e s p e i t o a i s t o , a m a i o r i a s e considerou mal
remunerada, em f a c e d a g r a n d e r e s p o n s a b i l i d a d e e d o desgaste
que o t r a b a l h o proporciona.

Um d o s p r o b l e m a s p r i n c i p a i s 6 a d i f i c u l d a d e d e s e e-
s
t a b e l e c e r um p i s o s a l a r i a l p a r a o C a r n a v a l e s c o , o u mesmo uma
tabela de valores fixos, dada a m u l t i p l i c i d a d e de Escolas de
Samba, suas d i v i s õ e s em G r u p o s e s e u s r e c u r s o s d i s p o n < v e i s . O
primeiro parâmetro para a remuneração do Carnavalesco é o seu
próprio histórico profissional. Um C a r n a v a l e s c o q u e t e n h a em
seu h i s t ó r i c o muitas v i t ó r i a s e bons posicionamentos, com um
t r a b a l h o consolidaddo p o r bons r e s u l t a d o s , certamente poderá
impor um preço p a r a sua c o n t r a t a ç ã o , d i f e r e n t e d a q u e l e em -
iní
c i o d e c a r r e i r a o u com p o s i ç Õ e s f r a c a . I n e x i s t i n d o uma tabela
a remuneração s e f a z a t r a v é s da l i v r e negociação, em q u e o C a-r
navalesco e a Escola negociam o preço do c o n t r a t o .

No c o n t e x t o d a s E s c o l a s d e S a m b a , o Carnavalesco é o
profissional cujo contrato 6 o mais longo, com a s negociações
s e n d o i n i c i a d a s g e r a l m e n t e a p ó s a Semana S a n t a . A Escola -
com
promete-se a pagar e d a r condições de trabalho adequadas, e
a l g u m a s E s c o l a s montam v e r d a d e i r o s e s t u d i o s n o s B a r r a c Õ e s , p a r a
que o Carnavalesco tenha 5 mão t o d o o m a t e r i a l e instrumentos
n e c e s s ~ r i o sp a r a e x e c u t a r s e u t r a b a l h o . Esta infraestrutura s-
e
rá t a n t o melhor quanto maiores foram a s condições financeiras
da Escola, bem c o m o m a i o r s e r á a r e m u n e r a ç ã o d o C a r n a v a l e s c o .

Nos B a r r a c õ e s d a s . E s c o l a s d e Samba e x i s t e m outres

profissionais contratados, cuja remuneração obedece a p a r â m-
e
t r o s d i f e r e n t e s por sua especificidade. P r o f i s s i o n a i s como o
Escultor, costumam t r a b a l h a r num p r a z o d e tempo menor, muitas
v e z e s n o s i s t e m a d e e m p r e i t a d a c o b r a b d o p e l o c o n j u n t o d e E s c u-l
t u r a s e r e a l i z a n d o t r a b a l h o s p a r a v á r i a s E s c o l a s a o mesmo -
tem
po. O mesmo a c o n t e c e com C a r p i n t e i r o s e F e r r e i r o s , com r e l-
a
ç ã o a o p r a z o e número d e s e r v i ç o s e x e c u t a d o s , o que resulta,em
alguns casos comparativamente, numa r e m u n e r a ç ã o bem s u p e r i o r a
do C a r n a v a l e s c o .
 Com r e l a ç ã o a o C a r n a v a l e s c o a situação 6 diferente,
v i s t o q u e acumula um m a i o r número d e a t i v i d a d e s e s e r e s t r i n g e
a uma Ú n i c a E s c o l a , na m a i o r i a d o s c a s o s . Esta multiplicidade,
no e n t a n t o , não i m p l i c a que cada e t a p a d e seu t r a b a l h o seja
remunerada, v i s t o que o pagamento totaliza o carnaval por ele
feito.

Paralelo a multiplicidade das etapas de seu trabalho

há o acumulo d e s t a s e t a p a s , em q u e a l g u m a s a t i v i d a d e s s e r ã o -
e
x e r c i d a s a o mesmo t e m p o , como p o r e x e m p l o d e s e n h a r o s f i g u r-
i
nos e a l e g o r i a s , executar os protótipos de figurino estando ao
j á em f a s e d e t r a b a l h o s d e B a r r a c ã o . No B a r r a c ã o o
mesmo t e m p o
trabalho prático é fundamental, e muitas vezes o Carnavalesco
precisará c o n f e c c i o n a r um d e t e r m i n a d o e l e m e n t o p a r a d e m o n-s
t r a r a solução por e l e desejada. Poderá t r a b a l h a r diretament~
n a c o n f e c ç ã o d e um p r o t ó t i p o o u a l e g o r i a , experimentando m a -t ~
r i a i s n o v o s o u i n s t r u i n d o a e q u i p e q u e com e l e t r a b a l h a .

Para executar o projeto, o Carnavalesco deve possuir

um u n i v e r s o d e c o n h e c i m e n t o c o n d i z e n t e com a s e x i g ê n c i a s d e u r
c a r n a v a l d e E s c o l a d e Samba, muito mais porque d e l e depender
todas a s soluçÕes para a viabilização d e s t e projeto. A c o o r d-
e
nação e supervisão f e i t a s por e l e são fundamentais para o c o-
n
t r o l e d e q u a l i d a d e d e t o d a s a s e t a p a s q u e compõem o c a r n a v a l .

Desta maneira, a remuneração d e s t e p r o f i s s i o n a l não

p o d e s e r d i v i d i d a c o n f o r m e a s e t a p a s ou e s p e c i f i c i d a d e s , visto
q u e t o d a s a s a t i v i d a d e s d e s e n v o l v i d a s formam o c o n j u n t o d e s u a
competência. A valoração r e a l de seu trabalho é aquela que e l e
mesmo p r o p õ e , e que v a r i a não s ó d e E s c o l a p a r a E s c o l a mas de
um Carnavalesco para outro.

Uma d a s p r o p o s t a s d a A C E S é e n c o n t r a r uma s o l u ç ã o p a -
r a o problema da remuneração do Carnavalesco. N u m campo d e t r -
a
balho onde impera a l i v r e negociação e o s c r i t é r i o s s ã o arbi-
t r a d o s p e l a a c e i t a ç ã o ou r e j e i ç ã o do. p r e ç o , o - estabelecimento
d e um p i s o t o r n a - s e inviável, a p a r t i r d o m o m e n t o em q u e c r-
i
tério's' c o m p a r a t i v o s s ã o u s a d o s . A credibilidade e competência
do C a r n a v a l e s c o v i a b i l i z a s u a c o n t r a t a ç ã o , e s ã o comuns l o n g a s
n e g o c i a ç õ e s p a r a ' s e d e f i n i r o v a l o r t o t a l do c o n t r a t o . A e x-
e
ção f i c a para contratos renovados, em q u e s ã o n e g o c i a d o s os
p r e ç o s e conforme o r e s u l t a d o do c a r n a v a l a n t e r i o r e s t a b e l e c-
e
se o valor total.

Em 1 9 9 1 t e n t o u - s e uma m o d a l i d a d e i n é d i t a d e r e m u n-
e
raçãc, e s t a b e l e c e n d o uma l i g a ç ã o e n t r e o v a l o r d o c o n t r a t o e
um p e r c e n t u a l sobre a verba recebida pela Escola, que ficaria
em t o r n o d e 1 8 % . A i n i c i a t i v a p a r t i u d a ACES, porém não e n c o-
n
t r o u r e s p a l d o n a s E s c o l a s d e Samba, a p e n a s a s E s c o l a s C a p r i c h-
o
s o s de P i l a r e s e S.Clemente concordaram, n e g o c i a n d o com seus
C a r n a v a l e s c o s em s e g u i r o s i s t e m a d e p e r c e n t u a l p a r a r e m u n e r-
a
ção, enquanto a s o u t r a s mantiveram o sistema de l i v r e n e g o c i-
a
ção. Esta posição se esclarece quantdo é relacionada e x p e-
c
t a i v a do r e s u l t a d o do t r a b a l h o do C a r n a v a l e s c o , q u e na v e r d-
a
d e não. d e v e r i a s e r v i r d e p a r ã m e t r o p a r a a r e m u n e r a ç ã o , visto
q u e o r e s u l t a d o d o c o n c u r s o s d e p e n d e também d a E s c o l a d e Samba
e de sua apresentação.

"C.. . ) é c l a r o q u e a q u e l e s que tem resulta

d o s , t ~ t u l o s , e l e t e m q u e t e r uma cotaçãõ
m a i o r , e n t ã o na l i v r e i n i c i a t i v a , o m é r-ri
t o que você adquire é a forma que voce
v a i d i s c u t i r o s e u s a l á r i o . [ . . . l v o c ê s ó -e.r
x i g e quando tem r e s u l t a d o s , porque s e voce
e x i g e h o j e um c o n t r a t o c o m i g o . e v o c ê me
d i z " v o u f a z e r um b e l o c a r n a v a l " , e u vou
p a r t i r d a p r e m i s s a d e q u e v o c ê v a i me c o l - o
c a r 15 n o p r i m e i r o , s e g u n d o , t e r c e i r o lu
g a r e s , m a s s e e u t e p a g o um b e l o s a l á r i o 2
v o c ê me p õ e , e u e s t a n d o em q u i n t o , p a r a o
s e g u n d o g r u p o , o q u e vou f a z e r c o n t i g o ? "
 A r e m u e r a ç z o b a s e a d a n o p e r c e m t u a l s e g u e o mesmo -
mo
d e 1 0 a p l i c a d o p e l a L I E S A em r e l a ç ã o à s E s c o l a s d e S a m b a , c o m a
p a r t i c i p a ç ã o d i r e t a nos r e c u r s o s gerados pelo d e s f i l e . No c a s o
do C a r n a v a l e s c o , sua remuneração s e r i a aplicad sobre a verba
recebida pela Escola. Conforme o p o s i c i o n a m e n t o d a E s c o l a e a
verba correspondente, a remuneração do Carnavalesco torna.-- s e
um " c o n t r a t o d e r i s c o " , em q u e d e p e n d e n d o d o r e s u l y a d o o v-
a
l o r poderá s o f r e r f o r t e s variações dentro da expectativa do
profissional.

" N Ó ~ temos b r i g a s grandes pelo p i s o s a l a r-i

a l . Eu m u i t o me o r g u l h o d e s e r o primeiro
Carnavalesco a conquistar o piso criadc
p e l a ACES, q u e d e i n i c i o t o d o s a c h a r a m un
absurdo (...I n ó s n a S . C l e m e n t e n ã o s ó no:
tornamos os Carnavalescos mais caros, ma:
t a m b é m o s m a i s bem p a g o s , g r a ç a s a um p r ~
s i d e n t e jovem q u e r e c o n h e c e u q u e a un:
a n o s a t r á s e l e não t i n h a c o n d i ç õ e s d e cun
p r i r , m a s quando pode e l e cumpriu.( ... 1 TÜ -
do f e i t o na b a s e d e c o n t r a t o l e g a l , porque
n o r m a l m e n t e o s c o n t r a t o s d e E s c o l a s d e Sam -
ba s ã o c o n t r a t o s v e r b a i s [ . . . I

l l ( . . . l f o i o q u e a c o n t e c e u na S . C l e m e n t e , c
Presidentel...) achou i n t e r e s s a n t e o l a n c ~
6 um c o n t r a t o d e r i s c o q u e s e c o r r e j u n t c
com e l e , p o r q u e s e n ã o f a t u r a r n a d a e :
verba f o r pequena, o c a r a ganha pouco, E
t e m uma c e r t a l ó g i c a . P o r e x e m p l o , uma Es
c o l a g a s t a 1 8 0 a 1 9 0 m i l h õ e s num carnaval
10% d i s s o o que é? 19 m i l h õ e s , o que é is
s o num t r a b a l h o q u e é d u r a n t e o a n o i n t e-i
ro?"

RenaZo Lag e
Um o u t r o a s p e c t o r e l a c i o n a d o 3 regulamentação e à r-
e
m u n e r a ç ã o s e r i a a p r o t e ç ã o d e ambas a s p a r t e no q u e s e refere
a e v e n t u a l i d a d e s t a i s como d e m i s s ã o ou a b a n d o n o d o c o n t r a t o , c
q u e o r i g i n a r i a um c ó d i g o é t i c o e n o r m a s q u e r e g u l a r i a m o b j e t -i
vamente a r e l a ç ã o c o n t r a t u a l e n t r e o Carnavalesco e a Escol?
d e Samba. Determinações c o n t r a t u a i s s ã o sempre b e n é f i c a s , pela
proteção t r a b a l h i s t a que representam e pela determinação dos
d i r e i t o s e deveres de cada p a r t e envolvida. A fórmula melhor e
mais r e a l i s t a de s e remunerar o Carnavalesc- a i n d a não f o i e-
n
trada, e a s alternativas de se fixarem valores são limitadas a
a s p e c t o s da p r o p r i a p r o f i s s ã o e do meio d e t r a b a l h o . Mito ou
verdade, o s a l á r i o d e um C a r n a v a l e s c o n ã o é a f o r t u n a q u e m u-
i
t o s gostam de d e c l a r a r , e que todos os Carnavalescos g o s t a r-
i
am q u e f o s s e r e a l i d a d e .

" D e n t r o d a B e i j a F l o r e u s e m p r e t i v e uma s- i
t u a ç ã o muito a b e r t a , nunca f i z . g r a n d e s co
b r a n ç a s , p o r q u e eu q u e r o acima d e t u d o t e ?
a m i n h a l i b e r d a d e , p o r q u e q u a l q u e r um da
comunidade, quando eu e x i g i s s e qualquer
c o i s a p o d e r i a me j o g a r n a c a r a q u e e u gf
nho r i o s d e d i n h e i r o ( . . . ) n u n c a vou e x i g i r
nada além do mínimo d e s o b r e v i v ê n c i a , t a i
o A n i s i o que não s e cansa d e r e p e t i r iss
e n ã o e n t r o em d e t a l h e s p o r q u e n ã o me i n t
ressa (...leu não tenho somente e s t a a t i
vidade. '

" ( . . . ) e l e s q u e r e m o m e l h o r mas não quere

pagar o melhor, e f i c a muito d i f í c i l um
negociação d e c o n t r a t o [...)Ano passado.
t 1 9 9 0 1 f o i uma n o v e l a , f i c a m o s q u a s e d o i s
meses e q u a s e não f i z e m o s a Mocidade, por
q u e v i r o u uma c o i s a m u i t o c o m e r c i a l e des
gastante, quer dizer todo aquele passad
de campeonato, d e d e z e m tudo, e l e s esqu
cem, n ó s f a z i a m o s c o n t r a t o s e s c r i t o s , t u d
bonitinho, e s s e ano é que a c o i s a fico
.
m e i o n a p a l v r a mesmo t . . 1 A l i á s bem po
c o s f a z e m o c o n t r a t o . com e l e s t e m q u e e
crever, a f i n a l , e ç t á 15-no t a l ã o deles,não
e s t á , o "vale o que está e s c r i t o ? "

Renato Lage
" C.. . I Sou a p o . l o g i s t a d a l i v r e negociaçã
o que pode s e r pouco p a r a o Renato Lage,p
d e s e r o b a s t a n t e p a r a o A l e x a n d r e Louzad

ALexandne Louzada
"I ... Ié'um trabalho muito d i f í c i l e s t i p u l a r
p r e ç o , e é uma c o i s a q u e t e r i a q u e s e r a v a
liada a t é pelos Presidentes (...)Falam que
a g e n t e ganha m u i t o e não é a r e a l i d a d e . "

"(...IA E s c o l a r e c e b e uma v e r b a , a c h o q u e o
C a r n a v a l e s c o t i n h a o b r i g a ç ã o em primeiro
l u g a r d e e x i g i r uma p o r c e n t a g e m , q u e - d e v e
r i a ser o c o r r e t o , s o b r e a a r r e c a d a ç a o dã
E s c o l a . E l e t e r i a a o mesmo t e m p o q u e t r a b a
l h a r d e f o r m a p l a n e j a d a n o s e n t i d o e c o n õ m-i
c o , como p o r e x e m p l o e u f a ç o n a T V ( . . . ) s e
e u f i z e r o mesmo p r o c e s s o n a E s c o l a v o u v:
l o r i z a r a p o r c e n t a g e m q u e e u vou receber,
p o r q u e e u v o u f a z e r um c a r n a v a l d e n t r o da
v e r b a q u e a E s c o l a d i s p õ e I . . . ] n ã o vou e-
n
d i v i d a r a E s c o l a nem g a n h a r um a b s u r d o . "

Mania MonXeiho

"(....)é d e a c o r d o com a E s c o l a . As v e z e s v o
c ê c a l c u l a uma i m p o r t â n c i a " x " e a ~ s c o l ;
não q u e r pagar, a í você a b a i x a o p r e ç o ( . .
á s v e z e s c h e g a a h o r a d o d e s f i l e e a Esc1
l a n ã o tem m a i s d i n h e i r o e n ã o t e p a g a me-
mo[...)"

P a u t a CanXa

"[...Ia minha remuneração na Mangueira foi

m a i s emocional, e eu f a r i a novamente,e não
6 s Ó pelo dinheiro (...I Uma p e s s o a que
depende do c a r n a v a l p a r a v i v e r d e repente
tem e s s a s u r p r e s a d e e s t a r desempregado."

" ~ a i x í s s i m a , a gente praticamente paga para

t r a b a l h a r , m a s como e s s e e r a n o s s o objeti -
v o e s t e a n o , e n t ã o e s t á t u d o bem, é i n i c i o
de carreira [...Iw
Vehonica*'Mahinho

"(...)para você acumular todas essas respon

s a b i l i d a d e s e funções desde maio a t ê a g o r ã
[ f e v e r e i r o l n ã o d e u nem hum m i l h ã o e t r e z e n
7
t o s , que não dá pra você f a z e r nada(...) e
a m a i o r i l u s ã o d o m u n d o a c h a r q u e uma pes
soa que f a z carnaval ganha milhÕes[...I"

On w a t d a J a n d i m
3.4 - O i i ~ DE E FUTEBOL"
~ ~ ~ ~ ~

3.4.1 - O F E N O M E N O D A ROTATIVIDADE

Uma d a s c o n s e q u ê n c i a s d a p r o f i s s i o n a l i z a ç ã o d o C a r n-
a
v a l e s c o f o i um f e n ô m e n o q u e s e d i f u n d i u n a d é c a d a d e 8 0 , a -
Ro
tatividade. Com a s t r a n s f o r m a ç Ó e s d o D e s f i l e e o crescimento
d a s E s c o l a s d e Samba, o envolvimento do Carnavalesco t o r n o u - s e
mais comercial, distanciando-se daquela visão i n i c i a l da l i g-
a
ç ã o com a E s c o l a p o r a m o r , mas s i m b a s e a n d o - s e em c r i t é r i o s o -
b
jetivos e profissionais. A s E s c o l a s d e Samba s e t o r n a r a m para
o s C a r n a v a l e s c o s um c a m p o d e t r a b a l h o a b e r t o 2 s u a e s c o l h a , c-
u
j o s d e t e r m i n a n t e eram a s condições o f e r e c i d a s p a r a o d e s e n v o-
l
vimento de seu trabalho.

Em c o n t r a p a r t i d a a e s t a o p ç ã o , a estabilidade num
E s c o l a passou a s e r determinada p e l o r e s u l t a d o do t r a b a l h o n
l a realizado, e pelo retorno oferecido,não só financeiro, mas
de identificação entre a s partes. A i m a g e m d o C a r n a v a l e s c o " f-
i
e l " a uma u n i c a E s c o l a t o r n a v a - s e c o i s a do passado, com exc
ç ã o d e ~ o ã o z i n h oT r i n t a , contratado permanente da Beija Flor.

A disputa cada vez mais a c i r r a d a pelos t í t u l o s no

campeonato levou a s E s c o l a s a disputarem o s Carnavalescos mais
competentes e conceituados. A s s i m sendo, " v e s t i r a camisa" de
uma E s c o l a , s e a n t e r i o r m e n t e d a v a a o C a r n a v a l e s c o um conheci
mento mais profundo d a Agremiação, p a s s o u a s e r um f a t o r r e l-
a
tivo e secundário, submetido a d o i s aspectos, sua propria op
ç ã o e a d e c i s ã o d a E s c o l a em m a n t e - 1 0 .

O t r a n s i t o d o C a r n a v a l e s c o em um n ú m e r o m a i o r d e E
c o l a s amplia de maneira s u b s t a n c i a l o seu conhecimento gera
nos aspectos técnicos e a r t i s t i c o s . I s t o s e r e f l e t e t a m b é m num
conhecimento maior de v á r i o s discursos de Escolas d i f e r e n t e s .
 A v i s ã o e m p r e s a r i a l d a s E s c o l a s d.e S a m b a t e n d e a va
l o r i z a r o trabalho do p r o f i s s i o n a l , seu competência e r e s u l t-
a
dos, o q u e d i m i n u i a i m p o r t â n c i a d o i n d i v í d u o como uma pessoa
a s e r i n t e g r a d a e a b s o r v i d a p e l a comunidade da Escola. I s t o p-
o
rém n ã o l i b e r a o C a r n a v a l e s c o d e uma i n t e g r a ç ã o i n f o r m a l com
a s p e s s o a s q u e compõem a E s c o l a , v i s t o que seu t r a b a l h o o c o l o
c a em c o n t a t o d i r e t o com v ã r i o s s e g m e n t o s d a A g r e m i a ç ã o .

'L
O termo " ~ é c n i c od e F u t e b o l " é uma a n a l o g i a f e i t a a
R o t a t i v i d a d e d o s ~ é e n i c o sd o s t i m e s d e f u t e b o l , que condicio -
nam s u a p e r m a n ê n c i a a o s r e s u l t a d o s o b t e i d o s . Esta analogia co
l o c a a s E s c o l a s d e S a m b a c o m o g r a n d e s " C l u b e s " q u e d i s p u t a m um
campeonato, e conforme o r e s u l t a d o , a possibilidade da troca
d e " t é c n i c o " é uma r e a l i d a d e c o n s t a n t e . .-

E i n t e r e s s a n t e e s t a a n a l o g i a como o t i m e d e f u t e b o l ,
v i s t o que 6 mais f á c i l t r o c a r o f ' f é c n i c o " do q u e mudar o time
inteiro, a atualmente alguns integrantes das Escolas de Samt
comportam-se como v e r d a d e i r o s j o g a d o r e s d e f u t e b o l , como 6
caso dos Mestre-Salas e Porta-Bandeiras, que são contratados
por outras Escolas, mediante o pagamento d e seu "passe". Esta
s e m e l h a n ç a r e s i d e a p e n a s no d e s t a q u e q u e e s t a s f i g u r a s tem na
Escola, v i s t o que a Agremiação não p o s s u i , como no f u t e b o l , o
"passe" d e um c a s a l d e M e s t r e S a l a e P o r t a B a n d e i r a .

O caráter "descartãvel" que envolve o Carnavalesco

contrapõe-se m á x i m a d e " n ã o s e d e v e m e x e r em t i m e q u e está
ganhando". e enquanto o Carnavalesco d e r t l t u l o s 3 Escola,ela
o p t a r á p o r mante-10 no p o s t o , caso contrário o demitirá.

"A minha observação p e s s o a l s o b r e o Carna

v a l e s c o , a o meu v e r , e x i s t e m d o i s tipo:
de Carnavalesco: a q u e l e que compreende e
f a z a Escola, c r i a o enrêdo ã semelhança
d a E s c o l a , e n t e n d e o s c o m p o n e n t e s , e e x i-
s
t e outro Carnavalesco, primeiramente c-o
 m e r c i a l , que s a c a o enrêdo e pode servir
p a r a a E s c o l a " A " ou p a r a a E s c o l a "BW,"C"
ou "D", para a Escola que a c e i t a r Pagar
m e l h o r . E l e 6 um p r o f i s s i o n a l e n ã o h á n e
nhum d e s d o u r o n i s s o , n ã o v a i a 5 nenhum;
c r i t i c a e é apenas a constatação do que a
c o n t e c e h o j e em d i a . H; o C a r n a v a l e s c o p r õ
f i s s i o n a l q u e e s t á em l e i l ã o , g a n h e o u n ã ã
o carnaval (...)é um p o u c o c o m o treinador
d e f u t e b o l , quando o t i m e p e r d e o c a r a no
dia seguinte já vai arranjar outro emprg
go

3.4.2 - DEMISSÃO, UMA QUESTÃO ETICA

"A r o t a t i v i d a d e n e s t e meio é i m p r e s s i o n a n t
S i l v i o Cunha, que j á f o i do S a l g u e i r o , e s t
na P o r t e l a , onde j á a t u o u V i r i a t o , que h
j e e s t á na I m p e r a t r i z , onde o C a r n a v a l e s c
e r a Max L o p e s , q u e a g o r a e s t á n a V i r a d o u r
A s E s c o l a s compram p a s s e s d e C a r n a v a l e s c o
c o n s a g r a d o s e podem d e m i t i - l o s sem cerim
n i a , s e n ã o c o r r e s p o n d e r e m 5s e x p e c t a t i v a
(451

A c o n t r a t a ç ã o d o C a r n a v a l e s c o o b e d e c e a c r i t é r i o s e-
s
tahelecidos, como c o n v i t e , concorrência, contrato e renovação,
m a s em c o n t r a p a r t i d a , a s c i r c u n s t â n c i a s que envolvem a d e m i-
s
s ã o d e um C a r n a v e l s c o e s t ã o b a s e a d a s em o u t r o s p a r ã m e t r o s , por
vezes bastante subjetivos. Se a t u a l m e n t e o C a r n a v a l e s c o tem a
possibilidade de escolher a Escola para a qual vai trabalhar,
nem s e m p r e c a b e r á a e l e d e c i d i r s u a p e r m a n a n c i a , e s t a n d o s u j e-i
t o a f a t o r e s que e s t ã o f o r a de seu controle.

A q u e s t ã o é t i c a da demissão do Carnavalesco reflete

um c o n j u n t o d e e l e m e n t o s i n e r e n t e s à E s c o l a d e S a m b a , no qual
s e o b s e r v a uma r e l a t i v i z a ç ã o d a p o s i ç ã o d o $ r o f i s s i o n a l . -
Con
tratado para esta função, e l e não pode e s t a b e l e c e r critérios
de estabelidade que protejam o c o n t r a t o a t é o seu término.

C451 TEREZA, IRANI, J o r n a l do B r a s i l , 10/12/91, op.cit.p.7

 Como em q u a l q u e r p o r f i s s ã o , o Carnavalesco e s t á su
jeito a a v a l i a ç õ e s d e s e u desempenho. e também 5 interrupção
de sua atividade, embora não s e conheçam r e g r a s t r a b a l h i s t a s e
punições, t a i s como m u l t a s r e s c i s Õ r i a s , que protejam o t r a b-
a
l h o p o r e l e r e a l i z a d o no momento d e s u a s u s p e n s ~ o . I s t o quer
d i z e r q u e p o r q u a l q u e r m o t i v o e l e p o d e s e r s u b s t i t u i d o em pl=
no e x e r c l c i o d e s e u t r a b a l h o , o u . mesmo s e r a v i s a d o a o t é r m-i
no d o c o n t r a t o .

Portanto, numa E s c o l a d e S a m b a , a d e m i s s ã o p o d e o c o-r

r e a q u a l q u e r e s t á g i o do t r a b a l h o , sem a v i s o p r é v i o ou e x p l i c-
a
ção. F a t o r e c e n t e o c o r r e u com a C a r n a v a l e s c a R o s a M a g a l h a g s n o
Salgueiro, depois de t e r obtido a s e g u n d a c o l o c a ç ã o no d e s f i l e
de 1991, f o i s u b s t i t u i d a pelo Carnavalesco Flavio Tavares, sem
saber dos motivos. Este por sua vez sofreu identico tratamento:

"A c o n t a d e 1 6 c a r n a v a l e s c o s p a r a 1 6 anos
s e m v i t ó r i a s , com o. b i s d e R o s a Magalhães
em 1 9 9 0 e 9 1 , n ã o p o d e r i a d a r c e r t o s e n e- s
t e ano o S a l g u e i r o não t i v e s s e s e s u p e r-
a
d o . A n t e s mesmo d e o C a r n a v a l c o m e ç a r , a E- s
c o l a t r o c o u d e m ã o s . H; q u a r e n t a d i a s o
Carnavalesco Flávio Tavares f o i demitido e
s u b s t i t u i d o p o r Mario B o r r i e l o . O enrêdo
" O Negro q u e V i r o u Ouro Nas T e r r a s d o Sal
g u e i r o " c o n t a n a v e r d a d e , a h i s t ó r i a d e um
c a f é q u e j á f o i m e x i d o p o r m a i s d e uma co
l h e r , a n t e s mesmo d e s e r s e r v i d o n a M a-r
q u ê s d e S a p u c a i . S e m medo d e d e s a n d a r a re
c e i t a , a E s c o l a t r o c o u d e c a r n a v a l e s c o poÜ -
co m a i s d e t r ê s meses a n t e s do carnaval."O
~ l á v i ot i n h a p o u c o t e m p o p a r a s e d e d i c a r .
E l e só podia c h e g a r ao b a r r a c ã o d e p o i s d a s
d e z e s s e i s h o r a s " , a l e g a P a u l o C e s a r Magano.
"Me d e m i t i r a m p o r t e l e f ' o n e e a t é a g o r a n ã o
s e i a justificativan,garante Flávio./461

T a i s p r o c e d i m e n t o s q u e d e m o n s t r a m uma c o n c e p ç ã o de
v a l o r e s é t i c o s e s t a b e l e c i d o s s o b uma v i s ã o a u t o r i t á r i a e h i-
e
rarquizada d a E s c o l a d e Samba, variam conforme a s c i r c u n s t â n c i -
-- -

1461 M O N E R ~ , M A R I U C H A , " S a l g u e i r o , um sonho de 16 a n o s W J o r n a l

do B r a s i l , Caderno Cidade,8/1/92, op.cit.p.4.
as, m a s d e um modo g e r a l s ã o d e t e r m i n a d o s p e l o r e s u l t a d o o b t-
i
d o p e l a E s c o l a no d e s f i l e , q u e s e t o r n a r e s u l t a d o "do C a r n a v a -
lesco".

"Esta e x p e r i ê n c i a f o i v i v i d a p o r exemplo.pe
10 C a r n a v a l e s c o Max L o p e s em 1 9 8 8 . Na épg
c a a união da I l h a , onde e l e desenvolveu o
e n r ê d o n ã o f o i bem s u c e d i d a n o d e s f i l e . N a x
f o i demitido p e l a d i r e ç ã o da Escola ainda
n a P a s s a r e l a , e l á mesmo a c e r t o u a s u a i d a
p a r a a I m p e r a t r i z , com um t e m a h i s t ó r i c o e
convencional, "Liberdade Liberdade" d e r r-
o
tando a B e i j a F l o r (...1"(471

Ao a n a l i s a r m o s a e s t r u t u r a f o r m a l d e uma E s c o l a de
S a m b a o b s e r v a m o s q u e e l a e s t á b a s e a d a numa r f g i d a hierarquia,
d i v i d i d a s em s e g m e n t o s d i s t i n t o s q u e s e i n t e r e l a c i o n a m . O exe
c i c i o d o p o d e r e s t á c o n c e n t r a d o n a mão d e p o u c o s i n d i v í d u o s , e
o Carnavalesco, apesar de sua posição privil'êgiada e do t r a-
n
s i t o a t r a v é s da e s t r u t u r a da Escola, n a r e a l i d a d e é um eleme
t o externo 5 c o m u n i d a d e d a E s c o l a d e Samba, n ã o e s t a n d o suje
t o a p a d r õ e s d e f i x a ç ã o comuns a o s d e m a i s i n d i v í d u o s q u e exer -
cem c a r g o s n a E s c o l a .

E s t a s i t u a ç ã o do Carnavalesco é c o n t r a d i t ó r i a , ma
i s t o s e explica pela dinâmica de expansão e absorção das Esc
l a s d e Samba no q u e s e r e f e r e a e l e m e n t o s e x t e r n o s . Ao mesmo
t e m p o em q u e p r i v i l e g i a o C a r n a v a l e s c o , dando-lhe uma posição
de destaque, concedendo-lhes poderes de pressão e atuação que .

s e limitam ao Presidente, t a m b é m o t r a t a c.omo um e l e m e n t o e-

x
t e r n o a ela', c o n t r a t a d o p a r a p r e s t a r um s e r v i ç o q u e 5 c r i t é r i o
d e s e u s D i r i g e n t e s pode s e r suspenso.

Economicamente a s E s c o l a s d e Samba, sobretudo a s de

maior poder financeiro, d e t e m a o p ç ã o d e e s c o l h a q u a n t o a o C a-
r
navalesco, e t o d a s d i s p u t a m o s m a i s bem c o n c e i t u a d o s , e a o c o-
n
t r á r i o d o s i n d i v i d u o s q u e ocupam c a r g o s f i x o s na E s c o l a , como
o Presidente e os Diretores, o C a r n a v a l e s c o não p a s s a p o r n
niium p r o c e s s o d e e l e i ç ã o q u e d e t e r m i n e s u a p e r m a n e n c i a n a E
 N ~ pretendemos
O a n a l i s a r o s c r i t é r i o s e v a l o r e s usa-
d o s p e l a s E s c o l a s d e Samba p a r a d e m i t i r ou c o n t r a t a r C a r n a v-
a
lescos. C a b e a p e n a s c o n s i d e r a r q u e como em q u a l q u e r profissão
c u j o mercado 6 r e s t r i t o e poucos s ã o o s p r o f i s s i o n a i s e s p e c i-
a
lizados, h á q u e s e o b s e r v a r um r e s p e i t o i m e d i a t o a o trabalho
destes profissionais, em c o n t r a p a r t i d a a o r e s p e i t o d e v i d o às
Escolas que os contratam. E s t e r e s p e i t o m ú t u o n ã o s e b a s e i a n-
u
ma c o n c e s s ã o p r i v i l e g i a d a , mas n o c u m p r i m e n t o d e a s p e c t o s pro-
f i s s i o n a i s que tornam e s t a r e l a ç ã o mais o b j e t i v a .

E s t e p r o c e s s o r o m p e r i a com a p a s s i o n a l i d a d e i n e r e n t e
a m u i t a s s i t u a ç õ e s c r i a d a s no a m b i e n t e d a s E s c o l a s d e Samba,am
b i e n t e e s t e c a r a c t e r i z a d o p o r um a l t o g r a u d e t e n s ã o e e m o ç ã c
E s t a p a s s i o n a l i d a d e e n v o l v e d e s d e o amor 5 E s c o l a a t é a d i s p u t
m a i o r e n t r e t o d a s a s E s c o l a s d e Samba, que sempre estimulou c
rivalidade existente entre elas. Este caráter passional também
e x i s t e nas torcidas e clubes de futebol, que possuem o mesmo
aspecto competitivo.

E t a p a s c r i t i c a s como a e s c o l h a d o S a m b a e n r ê d o , f o n t e
d e d i v u l g a ç ã o máxima d a E s c o l a , ilustram o quanto é intensa e s -
sa caracteristica passional, q u e também s e r e f l e t e n a s d i s p-
u
tas polfticas internas, s o b r e t u d o em é p o c a d e e l e i ç ã o d e n o v a s
diretorias. Todo o p r o c e s s o d o c a r n a v a l d a E s c o l a d e Samba e-
s
t á permeado p o r e s t e c a r á t e r p a s s i o n a l , que chega ao á p i c e no
momento d a d i v u l g a ç ã o d a s n o t a s . N e s t e momento d e t e n s ã o e l-
e
vada, m u i t a s v e z e s o d e s t i n o d o C a r n a v a l e s c o é d e c i d i d o c o n f o-
r
me a p o n t u a ç ã o r e c e b i d a p e l a E s c o l a . e s o b r e e l e recaem o s e l e
m e n t o s q u e l e v a r a m a E s c o l a d e Samba a o g r a n d i o s o s u c e s s o ou
ao inevitável fracasso.

3.4.3 - FRACASSO E SUCESSO, PARAMETROS DO C A R N A V A L '

D o i s e x t r e m o s d e l i m i t a m o r e s u l t a d o o b t i d o p e l a E s c-
0

l a d e Samba q u e s e r e f l e t e m i n c i s i v a m e n t e na a v a l i a ç ã o d o t r-
a
b a l h o do C a r n a v a l e s c o , aquele que r e f l e t e o sucesso, ou s e j a , a
v i t ó r i a o u uma b o a c o l o c a ç ã o n o c o n c u r s o , e a q u e l e que r e f l-
e
t e o fracasso, o r e b a i x a m e n t o ou a c o l o c a ç ã o n a s Ú l t i m a s p o s-
i
ções.

O s t r ê s elementos básicos de a v a l i a ç ã o quedeterminam

o resultado são a dança, a música e a apresentação v i s u a l da
E s c o l a d e Samba n o d e s f i l e . Ainda que c a i b a ao C a r n a v a l e s c o -
i
d e a l i z a r e p r o j e t a r o c a r n a v a l em t o d a s a s s u a s e t a p a s e -
acom
panha-las em s u a r e a l i z a ç ã o , cabe à Escola controlar os ele-
mentos que são de sua responsabilidade, pois e s t a qualidade de
o r g a n i z a ç ã o r e s u l t a r á numa b o a o u má a p r e s e n t a ç ã o .

No q u e s e r e f e r e a e s t a , a D i r e ç ã o d e Harmonia teve
e t e m um p a p e l p r e p o n d e r a n t e n o D e s f i l e , d e s d e s u a a r m a ç ã o , c o n-
dução e c o n t r o l e , a t é a d i s p e r s ã o dos componentes. Um f a t o i-
m
p o r t a n t e a s e r c o n s i d e r a d o é q u e em s u a t o t a l i d a d e o desfile
d e uma E s c o l a d e S a m b a r e ú n e um g r a n d e c o n t i n g e n t e d e pessoas
q u e nã.0 p a s s a r a m p o r um e n s a i o g e r a l , o u s e q u e r um m a i o r c o n h-
e
cimento pessoal, como o c o r r e em e s p e t á c u l o s t e a t r a i s e Ó p e r a s .
Mesmo o e n s a i o d a b a t e r i a n ã o 6 f e i t o com a t o t a l i d a d e d e s e u s
componentes, ensaiando-se por grupos, dada a d i f i c u l d a d e em
s e r e u n i r o g r a n d e número d e r i t m i s t a s q u e a compõe..

Ainda assim, s e m um e n s a i o p r é v i o , muitas vezes ape

n a s com v i s i t a s e s p o r á d i c a s ã s q u a d r a s , m a s em g e r a l r e u n i n d -
o
s e a s A l a s no momento i m e d i a t o d o d e s f i l e , e s t e grande c o n t i-
n
g e n t e h u m a n o s e i n t e g r a num c o n j u n t o h a r m o n i o s o e c o e s o . Sem
uma p r e p a r a ç ã o a n t e r i o r , a não s e r o c o n h e c i m e n t o do samba e
do l o c a l do d e s f i l e , bem como a A l a a q u a l p e r t e n c e , este g r i
po s e u n i f i c a e f a z o a c o n t e c i m e n t o do e s p e t á c u l o . Neste a c o-
n
tecimento, é o b v i o que m u i t o s e l e m e n t o s fogem d o c o n t r o l e t a-
n
t o d a ~ i r e ç ã od e H a r m o n i a q u a n t o d o C a r n a v a l e s c o , e sempre se
t r a b a l h a com uma m a r g e m d e e r r o s e s u r p r e s a s q u e p o d e r ã o s u-
r
g i r no momento d a a p r e s e n t a ç ã o .
 O g r a u d e expectativa d e uma E . s . c o l a d e Samb.a quanto
ao r e s u l t a d o do d e s f i l e 6 muito a l t o , e muitos são o s e l e m e-
n
t o q u e podem s i g n i f i c a r o " f r a c a s s o " , q u e a u m e n t a p r o p o r c i o n a-
l
mente quanto p i o r f o r a colocação o b t i d a . Neste caso, muitas
v e z e s o mau r e s u l t a d o é c r e d i t a d o a o C a r n a v a l e s c o , mesmo que
o s f a t o r e s que o ocasionaram fujam de sua á r e a de competencia.

No c a s o o p o s t o , quando o s u c e s s o 6 um f a t o r e a l , ge
ralmente e l e 6 creditado 5 Escola, dividindo-se por sua boa
exibição, pela excelência de seu conjunto visual, por seu -
sam
ba e p e l a c r i a t i v i d a d e do C a r n a v a l e s c o .

"(...)Normalmente quando não dá c e r t o , e l e s

creditam o f r a c a s s o ao Carnavalesco.Se a
n o t a do e n r ê d o não f o i d e z , a c u l p a é do
Carnavalesco (.,.I q u a n d o d á s u c e s s o é uma
gama e n o r m e d e g e n t e r e s p o n s á v e l [ ...
I"

Max Loped
" E l e nem s e m p r e é o r e s p o n s ~ v e l , m a s s e m p r e
é o responsabilizado. "

"Normalmente o C a r n a v a l e s c o 6 responsável
p e l o f r a c a s s o . Quando a E s c o l a f a z s u c e s s o
a h a r m o n i a e r a m a r a v i l h o s a , o samba era
incrivel (...)e o Carnavalesco e r a muito
bom. Q u a n d o a E s c o l a s e d á m a l , o C a r n a v-a
l e s c o e r a uma d r o g a , c r i o u a l e g o r i a s e f i
"-
gurinos esquisitos, todos os defeitos süo
dele (...I E se a Porta-Bandeira tomar um
tombo, a b a t e r i a b a t e r e r r a d o , o Diretor
d e Harmonia a b r i r b u r a c o s na E s c o l a ? ~udo'
i s s o f a z p a r t e da minha preocupação, mas
na h o r a e u r e l a x o , não tem s o l u ç ã o , carna
v a l v o c ê p e r d e e g a n h a e n t r a n d o na Avenidã.

"Ele sendo a mola m e s t r a não q u e r d i z e r que

sozinho dê conta (...I porque carnaval é
uma e q u i p e ( . . . I a E s c o l a t e m uma infraes
t r u t u r a , uma d i r e t o r i a , uma d i r e ç ã o d e c a -
n a v a l , e quando você a p r e s e n t a o projet'
e l e s estudam e viabilizam. Para i s s o te1
o d i r e t o r d e harmonia, o mestre de b a t e r i
 o s compos.itores C...lquando a c o n t e c e o
s u c e s s o v o c ê T i c a p r e s t i g i a d o , mas todos
querem s e r o p a i d a c r i a n ç a , na h o r a do i - n
s u c e s s o ninguém q u e r a s s u m i r . "

R e n a t a Lage
" E u me a n a l i s e i e v i q u e n ã o t i v e c u l p a no
r e s u l t a d o , e como e r a m u i t o e m o c i o n a l o
meu t r a b a l h o a l i , e u s a i m u i t o m a c h u c a d o e
me s i n t o como um f i l h o e x p u l s o d e c a s a , e
t e n h o c o n s c i ê n c i a d e q u e f i z um bom traba
l h o , o e n r ê d o e r a c o n s i d e r a d o um d o s m e l h Õ
r e s , t i r o u d e z e n o v e ( . . . l q u a n d o nÕs tirã
mos o o i t a v o l u g a r a n o p a s s a d o e ganhamos
o i t o E s t a n d a r t e s d e O u r o t o d o mundo ficou
n a q u e l e c l i m a d e e u f o r i a (...I Este ano
t i r a m o s o d é c i m o s e g u n d o l u g a r com dois
Estandartes e o Carnavalesco é sacrificado

E n n e b t o Nan c i m e n t a
" I s s o é um p r o c e s s o q u e e u c o n s i d e r o intei
r a m e n t e e r r a d o mas q u e é v e r d a d e i r 0 , q u a n d Õ
dá c e r t o é a d i r e t o r i a , quando dá errado
é o C a r n a v a l e s c o , m a i s ou m e n o s como a c o n
t e c e com o t é c n i c o d e f u t e b o l , e é um dos
p r o b l e m a s s é r i o e , n o meu e n t e n d e r o Carn
v a l e s c o e a E s c o l a t e m q u e t e r um temp
p a r a m o n t a r o c a r n a v a l i d e a l [...Iv

Mania AugunXa

Um d o s p o n t o s i m p o r t a n t e s que d e l i m i t a m a c r i a ç ã o do
carnaval para a Escola é a apreensão f e i t a pelo Carnavalesco
das c a r a c t e r i s t i c a s que a particularizam. Cada E s c o l a possui
t r a ç o s i n d i v i d u a i s que a personificam, e é com e s t e universo
que o Carnavalesco deve t r a b a l h a r , sem i m p o r Escola a sua
p e r s o n a l i d a d e como c r i a d o r . Não s e t r a t a a p e n a s d e o b e d e c e r a o
regulamento, mas o b e d e c e r a o s p r ó p r i o s l i m i t e s d a E s c o l a , que
n o r t e a r ã o a proposta. e o encaminhamento dado a o c a r n a v a l .

"Ao mesmo t e m p o s o u um c o r p o e s t r a n h o n a E s
c o l a , um d i r e t o r c o n t r a t a d o p a r a produzir
um e v e n t o , e é i m p o r t a n t e c o n h e c e r o p o t e n
c i a l d o t e u e l e n c o , t a n t o q u e no primeir
a n o q u e eu f a ç o c a d a E s c o l a , no a n o s e g u i
t e eu s i n t o q u a i s a s C a r a c t e r í s t i c a s daqu- '
i a Escola, do grupo e da comunidade I...)
 s e n t i r o e s t i l o da Escola é fundamental e
vocs só s e n t e o e s t i l o da Escola vendo a
E s c o l a d e s f i l a r na A v e n i d a I...)"

Mania Monteina
" ( . . . ) o Carnavalesco é o v e i c u l o que t r a n-s
f o r m a o c a r n a v a l d a E s c o l a em r e a l i d a d e , e
e l e tem que t e r s e n s i b i l i d a d e de compreen
d e r a E s c o l a , não a g r e d i r , não v i o l e n t a r ã
E s c o l a q u e r e n d o i m p o r um m o d e l o e s t é t i c o , a
s u a c r i a ç ã o p e s s o a l . Não f a z e r d a Escola
o campo para exibir a sua personalidade.
O C a r n a v a l e s c o tem e s s a i m p o r t â n c i a , mas a
Escola é mais i m p o r t a n t e do que e l e . "

N o - c a r n a v a l d e 1 9 9 1 a E s c o l a d e Samba I m p é r i o S e r r -z
n o f o i um e x e m p l o d e s t a q u e s t ã o d a r e s p o n s a b i l i d a d e d a Escolc
q u a n t o a o r e s u l t a d o do d e s f i l e e a i d e n t i f i c a ç ã o do e n r ê d o p r-
c
p o s t o p e l o C a r n a v a l e s c o com a i d e n t i d a d e d a E s c o l a . A p r e s e n t a-
r
d o o e n r s d o " E P o r A; Q u e Eu V o u " d o f a l e c i d o C a r n a v a l e s c o Neq
Ayan, a E s c o l a c o n t o u na Avenida o d i a a d i a d o s c a m i n h o n e i r o :
o cotidiano das e s t r a d a s e o f o l c l o r e das f r a s e s de parachoque
d e caminhão. Na r e a l i d a d e uma p r o p o s t a o u s a d a , referindo-se ao
aspecto "country" que f o i incorporado ao e s t i l o s e r t a n e j o , mas
q u e n a A v e n i d a o b t e v e um mau r e s u l t a d o p a r a a E s c o l a .

B a s e a d o no R e g u l a m e n t o d o s D e s f i l e s e l a b o r a d o par
o Grupo E s p e c i a l , que proibe a u t i l i z a ç ã o de merchandising s
p l i c i t o ou i m p l i c i t o , a LIESA p u n i u o ~ m p é r i o S e r r a n o , desco
tando cinco pontos de sua nota. O motivo: utilização de c a r r-
e
t a s e c a m i n h õ e s d e uma d e t e r m i n a d a e m p r e s a , o que infringiu
outra regra, a d e não serem p e r m i t i d o s v e í c u l o s motorizados.E-
s
t e s c i n c o p o n t o s não foram c e r t a m e n t e o s r e s p o n s á v e i s p e l o r-
e
baixamento da Escola, mas t o d o o c o n j u n t o d e n o t a s d a d o pelos
jurados. O enrêdo não e s t a v a mal r e p r e s e n t a d o , mas h o u v e uma
fidelidade execssiva 2 realidade, que terminou por p r e j u d i c a r
a Escola. [ v i d e i l u s t r a ç ã o pág. seguinte)
E S C O L A D E S A M B A INPERIO S E R R A N O , 1 3 ~ o l o c a d an o d e s f i l e de
1991 do Grupo Especial, r e b a i x a d a p a r a o Grupo I
 U m d o s p r o b l e m a s d e s t e d e s f i l e d o império Serrano
f o i a descaracterização de seus traços individuais. Lembramos
que Fernando Pinto, na d é c a d a d e 7 0 f o i c o n t r a t a d o p o r esta
Escola para adequa-la 5s n o v a s l i n g u a g e n s do d e s f i l e s , " m o d e-
r
nizando-a" sem a l t e r a r s u a s c a r a c t e r í s t i c a s m a i s t r a d i c i o n a i s .
Um e s t i l o l u x u o s o e i m p o n e n t e s e m p r e f o i a t õ n i c a d o desfile
do Império, e no d e s f i l e d e 1 9 9 1 n ã o f o i o q u e a c o n t e c e u na
Avenida, r o m p e n d o com s e u m o d e l o c l ~ s s i c od e a p r e s e n t a ç ã o .

" Ú l t i m o a d e s f i l a r na P a s s a r e l a d o Samba,
o I m p é r i o S e r r a n o e n t r o u num l a b i r i n t o ao
a p r e s e n t a r o e n r ê d o " E P o r A{ Q u e Eu V o u " .
[ . . . ) N o d e s f i l e p r e d o m i n a r a m a s r o u p a s u s-a
d a s no c o t i d i a n o p o r m o t o r i s t a s d e cami
nhão, f r e n t i s t a s , p o l i c i a i s da ~ a t r u l h ã
Rodoviária e mecênicos. 0s c a r r o s princi
p a i s não eram a l e g ó r i c o s , eram. caminhÓes
e c a r r e t a s que deveriam t e r saTdo da Sapu-
c a i direto para cumprir contratos de fre-
t e s . Mas o r e s u l t a d o é i m p r e v i s i v e l , a Es
c o l a t a n t o pode d e s c e r na b a n g u e l a a l a d e i
r a p a r a a G r u p o I c o m o s e r c o n s i d e r a d a o r-i
g i n a l (...)"(481

A a p r e s e n t a ç ã o d e um e n r E d o c o n c e b i d o s o b uma visão
p l á s t i c a m u i t o ~ r ó x i m ad a r e a l i d a d e r o m p e o c a r ã t e r d e f a n t-
a
s i a que c a r a c t e r i z a o carnaval. O uso ostensivo de elementos
r e a i s com p o u c o t r a t a m e n t o " c a r n a v a l e s c o " r o m p e u com um dos
p r i n c í p i o s b á s i c o s d o d i s c u r s o d o ~ a r n a v a l :s ~u s p e n ç ã o d a -
rea
l i d a d e em f a v o r d o i m a g i n á r i o , do f a n t a s t i c o e do o n í r i c o .

A utilização d e W m e r c h a n d i s i n g " t e m um p e s o m a i o r se
considerarmos que s e sobrepõe ao elemento alegÓrico, remetendo
diretamente ao que o i d e n t i f i c a - simbolo, empresa, propaganda.
Tornando-se um v e í c u l o d e p r o p a g a n d a , a Escola diminui o seu
carater de manifestação cultural, deixando de s e r portadora de
uma m e n s a g e m p r o p r i a . S e e s t a mensagem é a d u l t e r a d a , l i m i t a n d-
o
s e a o b j e t o s e x p l í c i t o s d e um d e t e r m i n a d o s e g m e n t o , perde o
c a r ã t e r mais amplo que a t o r n a r e c e p t i v e l pelo píblico. Esta
capacidade de recepção e transmissão é que confere à Escola
o d i á l o g o t r a v a d o em n í v e i s i n t e r n o s - componentes/Escola - e

C481 EEZERRA,MUCIO. Carnaval 91, O Globo, 13/02/91,op.cit.p.9

externos - Escola/pÚblico - gerando a empatia.

Seja qual f o r o enredo, é importante para a Escola

d e Samba t r a n s m i t i r não s Ó a mensagem n e l e c o n t i d a , mas também
a sua própria personalidade, que permite que s e j a reconhecida,
não s ó p e l a s c o r e s q u e a s i m b o l ~ z a m , mas p e l o s e u d i s c u r s o i-
n
dividual.

" A c h o q u e a p r o p o s t a d o Ney A y a n é interes

s a n t e d o p o n t o d e v i s t a d e n ã o f e r i r a e c- õ
l o g i a , de só u s a r m a t e r i a l n a t u r a l , mas
concordo que a r e a l i z a ç ã o f o i realmente
muito i n f e l i z . Pode-se t r a b a l h a r sobre os
d a d o s d o c o t i d i a n o , como é o c a s o d o s c-
a
minhoneiros, e e l e poderia t e r f e i t o uma
v i a g e m a l e g r e a t r a v é s d o s d i t o s d e p a r a c h-
o
que. p o r e x e m p l o [ . . . I E a Império passou
sem b r i l h o e d e s f i g u r a d a n ã o s Ó n a s suas
c o r e s , m a s t a m b é m em s u a m a n e i r a d e s e r . "
(491

''O Ney A y a n é u m C a r n a v a l e s c o d e g r a n d e po
t e n c i a l i d a d e . Com o d e s a p a r e c i m e n t o d e a1
L-

g u n s nomes d e r e a l v a l o r , p r e c i s a m o s nao
s ó r e v e l a r mas p r e s e r v a r o s i n e g á v e i s t-
a
l e n t o s . E o Ney 6 um d e l e s . Q u e e s t e insu
cesso do Império Serrano s i r v a de liqão:
R e p i t o : E l e não pode s e r c r u c i f i c a d o assim.'
í50)

Uma p r o p o s t a o r i g i n a l e o u s a d a nem s e m p r e é garantia

d e q u e o d e s f i l e t e r á u m bom r e s u l t a d o , mas d e v e - s e lembrar a
r e s p o n s a b i l i d a d e d a E s c o l a d e S a m b a n o m o m e n t o em q u e aceita
o enredo proposto, e sobretudo nos elementos sobre os quais a
Direção é r e s p o n s ã v e l , a q u e l e s que e s t ã o determinados p e l o Re
-
gulamento, e q u e n o c a s o d o império S e r r a n o , f o r a m uma das
principais causas de seu rebaixamento. Como q u a l q u e r p r o f i s s i -
o
nal, o Carnavalesco e s t á s u j e i t o 5 falhas e acertos, e c r e d-
i
t a r e x c l u s i v a m e n t e a e l e o f r a c a s s o d e uma E s c o l a d e S a m b a é

C491 THEODOR0,HELENA: J u r i d o E s t a n d a r t e d e O u r o , O G l o b o , 1 3 / 0 2
/91, o p . c i $ . p . l 3
L501 ALVES, A O E L Z O N , i d e m , o p . c i t . p . 13
uma v i s ã o d i s t o r c i d a d e s e u t r a b a l h o e d e t o d a a e s t r u t u r a q u e
compõe a E s c o l a d e Samba, e sem a q u a l n e n h u m a p r o p o s t a pode
ser concretizada.

" S e v o c ê f i z e r um e n r ê d o q u e n ã o s e j a ade-
quado p a r a a E s c o l a , v o c ê na Avenida vai
s e n t i r o r e f l e x o d i s t o , porque é o compo
n e n t e , q u e 6 d e quem a g e n t e d e p e n d e dire
tamente p a r a o s u c e s s o da Escola e do de;
f i l e , e e l e n ã o v a i t e r o mesmo e m b a l o q u e
t e r i a n u m e n r ê d o em q u e a g e n t e c o l o c a e l e
a v o n t a d e , q u e tem a s c a r a c t e r l s t i c a s da
Escola."

" [ . . . l ã s v e z e s e l e t e m um e n r ê d o c o m o o D e- s
c o b r i m e n t o do B r a s i l , na P o r t e l a s e r i a de
uma m a n e i r a , n a M a n g u e i r a d e o u t r a , e não
s e p o d e r i a f a z e r n a mesma s i t u a ç ã o porque
a s características das Escolas são total
mente d i f e r e n t e s ( . . . I E muito mais f á c i l
g a n h a r o c a r n a v a l com a M a n g u e i r a , o S a-
l
g u e i r o , d o q u e com a U n i d o s d a P o n t e o u o
A r r a n c o , p o r q u e o nome s e i m p õ e . "

"[...Ia M a n g u e i r a j á e s t á t o m a n d o uma f o r m a
nova, deixando a q u e l a f a c e s i s u d a d e l a , p o r
q u e a M a n g u e i r a é uma m o ç a m u i t o bonita:
mas q u e n ã o g o s t a d e s e p i n t a r , d e cuidar
do c a b e l o ( . . . I a idéia era pegar essa ca
r a b o n i t a , e s s e c a r i s m a que e l a tem, v e s t i
I a , p e n t e a - l a , b o t a r uma b o n i t a m a q u i a g e m T
e c o l o c a - l a n a A v e n i d a , quem s a b e e l a não
s e r i a a campeã do c o n c u r s o ? I . . . l e s s e s j u i
z e s q u e e s t ã o 15 a g e n t e p e r c e b e c l a r a m e ;-
t e q u e e l e s não tem i n t e n ç ã o d e o l h a r e m a
M a n g u e i r a c o m o uma E s c o l a com t r a d i ç ã o , a p - e
10 p o p u l a r , a c e r v o c u l t u r a l , e l e s querem
e s t e oba oba que e s t á acontecendo, o boni
t o , o f a n t á s t i c o , e n ã o há r e g u l a m e n t o q u e
conserte isto."

E r n e s t o Nascimento certamente f e z o melhor possivel

p a r a q u e a M a n g u e i r a f i z e s s e um bom d e s f i l e . A s razões que a
c o l o c a r a m n a Ú l t i m a p o s i ç ã o n o c o n c u r s o nem s e m p r e f a z e m j u s t -
i
ç a a o c a r i s m a e h i s t ó r i a d e s t a g r a n d e E s c o l a , mas demonstram
q u e a t u a l m e n t e nenhuma E s c o l a e s t á l i v r e d e um r e s u l t a d o como
e s t e , i n d e p e n d e n t e d e s u a f a m a o u d o C a r n a v a l e s c o . T o d a s r e a l-
i
zam belos desfiles, como a Mangueira,lilustração abaixol,todas
são emocionant8s e grandiosas, e dentre elas, a que c o n s-
e
guir maior impacto e fizer o desfile mais surpreendente, - c o-
n
q u i s t a r ã o t i t u l o m ã x i m o d e C a m p e ã , c o m o a M o c i d a d e I n d e p e n d e-
n
te d e Padre Miguel, ilustrada nas págins seguintes.

E S C O L A DE S A M B A M A N G U E I R A - 1 2 7 c o l o c a d a no c a r n a v a l d e 1 5 9 1
Desfile do Grupo Especial, Carnava1esco:Ernesto Nascimento
ESCOLA DE SAMBA MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE V I G U E L ,
campeã do c a r n a v a l de 1991, D e s f i l e do Grupo E s p e c i a l ,
Carnavalescos: Renato Lage e L i l i a n R a b e l l o
ESCOLA DE SAMBA MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL
campeã do c a r n a v a l d e 1991, d e s f i l e do Grupo E s p e c i a l
Carnavalescos: Renato Lage e L i l i a n R a b e l l o
IV - ESPAÇO E TEMPO, AS R E S P O N S A B I L I D A D E S DO CARNAVALESCO

4.1 - CONTEXTO DE TRABALHO

No p r o c e s s o de execução do c a r n a v a l d e uma E s c o l a d e
Samba, dois fatores são f u n d a m e n t a i s e tem de ser controlados
rigidamente não s ó p e l o C a r n a v a l e s c o mas também p e l a Escola:
E s p a ç o e Tempo. Estes elementos definem as diversas etapas do
trabalho e dependem d a s c o n d i ç õ e s dadas pela Escola para t o t a l
cumprimento dos o b j e t i v o s propostos.

O Carnavalesco trabalha em c o n j u n t o com a Co

de Carnaval, que aprova e d i s t r i b u i os elementos para as
pertinentes de execução, como i l u s t r a o G r á f i c o IV:

II SINOPSE DO ENREDO I
r I
1 PROJETO DO CARNAVAL 1
I
I I I
DihRhibui -'- - - ~ ; S l < 0 DE D i a t h ibui
I I
I I

1-
I I I

Dia2n; b u i
I COMPOSITORES -

1
PRESIDENTES
DE ALAS
'----r--

FANTASIAS
I
1
--
~OIREÇAO

I ARMAÇAO
I-
I

C___k
ROTEIRO

OE
I
1

DA ESCOLA

DESFILE
I
-.
HARMONIA

1
I
I ALEGORIAS
- E AOEREÇOS

j E N R E B o
I
L 4 I
 0 s elementos de Espaço s ã o a q u e l e s r e l a t i v o s a o s E-
s
paços f í s i c o s onde o Carnavalesco executa seu trabalho: quadra
barracões e pistas de desfile. O s e l e m e n t o s d e Tempo s ã o aque
l e s com o s q u a i s o C a r n a v a l e s c o p r i g r a m a r á seu trabalho, d i v-
i
dindo-o em e t a p a s p l a n e j a d a s d e a c o r d o com a e x e c u ç ã o d o c a-
r
naval, a t é chegar 5 a p r e s e n t a ç ã o na A v e n i d a , c a s o e l e p a r t i c-i
p e d a a r m a ç ã o d a E s c o l a d e Samba.

A primeira etapa é a apresentação do enrêdo. Muitas

E s c o l a s d e Samba c o s t u m a m a b r i r c o n c o r r ê n c i a p a r a a e s c o l h a d o
enrêdo, que 6 a n a l i s a d o e a p r o v a d o . O e n r e d o p o d e ou n ã o ser
do C a r n a v a l e s c o , pode s e r p r o p o s t o p e l a Escola e pode ainda
s e r de a u t o r i a de outra pessoa. N e s t e d o i s Ú l t i m o s c a s o s o C a-
r
navalesco desenvolve a pesquisa, c a s o o enrêdo não t e n h a sido
explorado, e e x e c u t a o c a r n a v a l em c i m a d o t e m a p r o p o s t o .

Feito o Contrato, o s procedimento variam conforme a s

propostas acima, sendo que a Sinopse é sempre r e a l i z a d a após
a p e s q u i s a d o t e m a . Uma. S i n o p s e m a i s c o m p l e x a é e n t r e g u e 5 E-s
cola para s e r repassada para a Associação a que pertence, para
s e r v i r d e base para o s l i b r e t o s d a s E s c o l a s a serem d i s t r i b u-
i
d o s p a r a a Comissão J u l g a d o r a . Outra Sinopse, mas r e s u m i d a , é
e n t r e g u e 5 Comissão d e Carnaval, que a d i s t r i b u i para a Ala
dos Compositores. O C a r n a v a l e s c o p o d e r á s e r e u n i r com e s t a A l a
p a r a f a z e r uma e x p o s i ç ã o o r a l d o t e m a .

De p o s s e d e s t a s i n o p s e , o s c o m p o s i t o r e s f a r ã o o s Sam
bas enrêdo, e a Escola procederá no c o r t e d o s s a m b a s , g e r a l m e-
n
t e com a p r ~ s e n ç ad o C a r n a v a l e s c o , q u e p o d e r á ou não p a r t i c-
i
p a r da Comissão J u l g a d o r a . A l g u n s C a r n a v a l e s c o s costumam i n d-
i
c a r n a S i n o p s e d o s c o m p o s i t o r e s p a l a v r a s e e x p r e s s õ e s q u e d e s-
e
jam v e r i n c l u í d a s no s a m b a , ou i n d i c a m a s f a s e s d e d i v i s ã o do
enrêdo, conforme o r o t e i r o , p a r a q u e o Samba a c o m p a n h e a d e-
s
crição f e i t a pelo desfile,
4.1.1 - SINOPSE D O E N R ~ D O

A S i n o p s e d o E n r e d o é o i n s t r u m e n t o l i t e r á r i o com o
qual o Carnavalesco trabalhar;, contendo todos o s elementos
por e l e pesquisados, n ã o s e n d o a l t e r a d a em s u a e ç s z n c i a . Os mo
-
delas d e a p r e s e n t a ç ã o d e S i n o p s e s n ã o s o f r e r a m a l t e r a ç õ e s q u a n
t o ã sua e s t r u t u r a c ã o e p e s q u i s a desde a década de 60. Houve -
a
p e n a s uma a m p l i a ç ã o d a s f o n t e s e a s o f i s t i c a ç ã o g r ã f i c a , q u e -
in
c l u i a u t i l i z a ç ã o d e c o m p u t a d o r e s p a r a e l a b o r a ç ã o do t e x t o e
do desenho d a s a l e g o r i a s .

O Roteiro do D e s f i l e é a a p r e s e n t a ç ã o da ordem das

Alas conforme o enrêdo, definindo a orientação para a Armação
d a E s c o l a na A v e n i d a . Para a Comissão J u l g a d o r a , quanto mais
detalhados forem a Sinopse e o Roteiro, melhor s e r á o processo
de compreensão e julgamento do D e s f i l e .

Elaborada e entregue a Sinopse, o C a r n a v a l e s c a p r o c-

e
der: a um L e v a n t a m e n t o d e C u s t o s , f a z e n d s uma p r e v i s ã o d o s g a ~
t o s do Carnaval. E s t e l e v a n t a m e n t o i n c l u i r á o s m a t e r i a i s n e c e-
s
s á r i o s para a confecção d a s Alas que são de responsabilidade
da Escola, Bateria, Crianças e Baianas, e dos materiais para
o s Adereços e Alegorias, sendo entregue 5 omissão d e C a r n a v a l
para avaliação e aprovação.

A e s t a Comissão de Carnaval o Carnavalesco e n t r e g a r ;

a Sinopse e os Figurinos, e t a p a s que variam conforme o método
d e t r a b a l h o d e c a d a um:

"Eu t r a b a l h o com p e s q u i s a e f i g u r i n o j u n t o s
eu costumo s e n t i r o c a r n a v a l p e l o f i g u r i n o
(...I quando j á tenho uns dez f i g u r i n o s d e
s e n h a d o s , e s t u d o a q u i l o e v e j o s e e s t o u nÕ
c a m i n h o c e r t o , d a i e m b a r c o mesmo ( . . . I no
e n r ê d o e na p e s q u i s a . "

S i l v i a Cunha
 "A g e n t e i d e a l i z a o enrêdo, f a z a p e s q u i s a ,
e monta a s i n o p s e . Fazemos uma sinopse
m a i o r e a o u t r a a g e n t e a b r e v i a p a r a o sam
ba e n r ê d o . E d e s t a s i n o p s e m a i o r a gente
divide para passar para o elemento visual
C...) e começa a f a z e r o s f i g u r i n o s . "

Max Lopea
" E u i m a g i n o uma h i s t ó r i a , q u e r o f a l a r de
a l g u é m o u d e a l g u m a c o i s a , c o n t a r um f a t o
(...I q u a n d o e s t á m a i s ou m e n o s definida,
d i v i d o e s s a h i s t ó r i a como s e f o s s e n o v e l a ,
em c a p i ' t u l o s , o q u e a g e n t e c h a m a d e seto
res, destes setores parto para os f i g u r-i
nos[...ln

"(...lmentalizo e g o s t o d e s e g u i r um rotei
r o , s e m p r e f a ç o h i s t o r i n h a s q u e tem i n í c i õ
meio e f i m p a r a j u s t a m e n t e não f u g i r da
p r o p o s t a p o p u l a r . O s meus e n r ê d o s s ã o de
f á c i l entendimento, não p r e c i s a b u l a para
e n t e n d e r , e u t e n h o q u e t e r um e n r ê d o que
e u c o n t e p a r a m i n h a mãe e e l a e n t e n d a I . . . l l '

"Eu s o u m u i t o b a g u n c e i r o , i m a g i n o o e n r z d o ,
fantasia. alegorias, tudo misturado.[...l
eu não c o n s i g o começar o c a r n a v a l p o r um
i t e m , e u p e n s o t u d o a o mesmo t e m p o . M e u p o n
t o d e p a r t i d a é uma i d é i a d e e n r ê d o n a ca
b e ç a , uma f a n t a s i a p a r a a b a t e r i a , uma f a n
t a s i a para a s minhas baianas e o r e s t o s a i . "

ALexandxe Louzada
" ( . . . I a e l a b o r a ç ã o do tema, na q u a l a d i "-
re
ç ã o d a E s c o l a t e compra e s s a i d é i a ou nao
[ . . . I t e m q u e t e r p a l e s t r a com o s c o m p o s i t o
r e s na e n t r e g a d a s i n o p s e e d e p o i s a g e n t e
e n t r a no p r o c e s s o d e f a z e r f i g u r i n o s [ ...I"
Rena;to Lage
A c o n c e p ç ã o d o e n r ê d o p o d e s e r i n d i v i d u a l o u em c o-
n
junto, quando s ã o c o n t r a t a d o s mais d e um C a r n a v a l e s c o . E s t e tra-
b a l h o em c o n j u n t o p o d e r á i m p l i c a r n a d i v i s ã o d e a t i v i d a d e s , c o m
c a d a C a r n a v a l e s c o e n v o l v i d o m a i s p r o f u n d a m e n t e com uma d e t e-
r
minada e t a p a , ou d i v i d i n d o i g u a l m e n t e a e x e c u ç ã o d o carnaval.
E s t e mêtodo d e t r a b a l h o , d a d a s a s g r a n d e s d i m e n s õ e s d e uma E-
s
c o l a d e Samba, tem s u a s v a n t a g e n s , pois diminui o desgaste f -i
s i c o do acumulo d e m u i t a s f u n ç õ e s , e n ã o c o n s t i t u i um 'método
novo, v i s t o q u e C a r n a v a l e s c o s como A r l i n d o R o d r i g u e s e F e r n a-
n
do Pamplona, Braga e P a u l i n o já o utilizavam.

" ( . . . ) O s C a r n a v a l e s c o s d e v i a m f a z e r como e u
e N a u r o f a z e m o s , como o R e n a t o e a Lilian
fazem, o Pamplona e o A r l i n d o f i z e r a m a
v i n t e a n o s . A c o i s a t e m q u e s e r um pouco
d i v i d i d a , não s ó p e l o a s p e c t o do cansaço,
a t é pelo aspecto psicolÓgico, pois enquan
t o eu e s t o u na E s c o l a i n c e n t i v a n d o a gale
r a a i r a l u t a , o Mauro s e g u r a a s ponta:
n o B a r r a c ã o com c e n t o e t a n t o s f uncionã
r i o s [...Irnas a n z v e l a r t í s t i c o a g e n t e e;-
t á junto."
Max Lapea, patrcenia com
Mauha QuinXaea em 1 9 9 1 na
Vitradout~o .

4.1.2 - FIGURINOS E O P R O T Õ T I P O DE FANTASIAS

O desenho dos Figurinos e s t á ajustado ao enrêdo, d-

e
vendo s e g u i r a r e p r e s e n t a ç ã o d o s s e t o r e s que s e r ã o transforrna-
" .
d o s em A l a s , e aqueles elementos individualizados, que ao as
f a n t a s i a s dos Destaques. Devem a t e n d e r a i n d a 2s A l a s fixas
da Escola, Comissão d e F r e n t e , Baianas, Bateria, Crianças, D -i
r e t o r i a e também a o s p e r s o n a g e n s individuais, o Mestre Sala e
a P o r t a B a n d e i r a e a R a i n h a ou M a d r i n h a d a B a t e r i a .

A e x e c u ~ g od o s F i g u r i n o s p o d e f i c a r a c a r g o e x c l u s-
i
vamente do Carnavalesco quanto idealização e artefinalização,
ou p o d e r á e l e c o n t r a t a r um F i g u r i n i s t a q u e f a ç a e s t e t r a b a l h o ,
enquanto e l e supervisiona. Poderá ainda f a z e r esboços prévios,
repassando-os p a r a um F i g u r i n i s t a o u D e s e n h i s t a , que seguindo
a sua orientação, p r o c e d e r á 2 a r t e f i n a l do F i g u r i n o .
 " ( . . . l e u conheci o V i l e l a quando e s t a v a f-
a
z e n d o um s h o w p a r a o P l a t a f o r m a , e a o me?
mo' t e m p o f a z i a a B e i j a F l o r , e n t ã o n a rea
l i d a d e não t i n h a tempo d e f a z e r o s f i g u r-i
n o s p a r a o s d o i s l u g a r e s , e n t ã o eu SÕ r i-
s
cava e e l a a c a b a v a d e c o l o r i r , eu e s c r e v i a
- t a l c o r a q u i , a l i - e e l e pegou o e s t-i
...
10 p e r f e i t a m e n t e ( 1"

Quando o F i g u r i n o é enviado à Comissão d e Carnaval ,

acompanhado ou não d o P r o t ó t i p o , junto a e l e o C a r n a v a l e s c o c-
o
loca amostras de tecidos e materiais a s e r e m u s a d o s em s u a c o -
n
fecção, escolhidos mediante pesquisa prévia.

A organização dos t r a b a l h o s de execução de Fantasias

quanto ao seu aspecto t é c n i c o evoluiu t a n t o quanto a s Escolas
d e Samba, a c o m p a n h a n d o a s m o d i f i c a ç õ e s n e c e s s á r i a s p a r a um -
me
I
l h o r suporte mecânico e a r t i s t i c o d e s t e trabalho. O improviso
que perdurou a t é a década de 60 f o i sendo s u b s t i t u í d o , d a manu -
fatura 2 localização, p a r a a d e q u a r - s e 3 demanda exigida.

Duas g r a n d e s a l t e r a ç õ e s o r i g i n a r a m - s e desta a d e q u-
a
ção, o s Barracões d e Ala e o P r o t ó t i p o d e F a n t a s i a . No começo
a s F a n t a s i a s e r a m c o n f e c c i o n a d a s em " a t e l i e r s " d o m ~ s t i c o sc u j o
acesso era d i f i c u l t a d o por sua localização, g e r a l m e n t e n o s ,o:
ros e subúrbios, e p o r v e z e s a s f a n t a s i a s d e uma a l a e r a m f e-
i
t a s em l o c a i s s e p a r a d o s , o q u e p r o v o c a v a d i s t o r ç Õ e s no r e s u l t -
a
do f i n a l . A razão para o surgimento dos Barracões de Alas, ge
ralmente situados nas casas dos Presidentes de Alas, f o i a de
s e o b t e r uma c e n t r a l i z a ç ã o d a m a n u f a t u r a e um maior controle
do r e s u l t a d o f i n a l , tornando-o o mais próximo p o s s í v e l dp f i g u -
rino apresentado. A c o m e r c i a l i z a ç ã o d a s F a n t a s i a s também f o i
um d o s m o t i v o s q u e l e v a r a m o s P r e s i d e n t e s d e A l a a t o m a r e m a
f r e n t e desta confecção, supervisionando junto com o C a r n a v-
a
I

lesco a produção de seus Barracões de Ala.

 O ~ r o t ó t i p od e F a n t a s i a f o i a complementação do -
Bar
ratão de Ala, a t e n d e n d o a n e c e s s i d a d e d e proximidade d o resul
t a d o com o F i g u r i n o . O P r o t ó t i p o c o n f e r e a o F i g u r i n o uma r e a l-i
dade imediata, n u m e s t á g i o em q u e p o d e r ã o s e r f e i t a s a l t e r --
a
ções. Pode s e r e x e c u t a d o p e l o C a r n a v a l e s c o , pelo Presidente de
A l a o u p e l o s d o i s em c o n j u n t o , devendo s e r financiado p e l a E-
s
c o l a ou p e l o P r e s i d e n t e d e A l a . A s E s c o l a s costumam f a z e r uma
f e s t a d e a p r e s e n t a ç ã o d o s P r o t ó t i p o s na q u a d r a d e e n s a i o , e p o-
s
t e r i o r m e n t e f i c a m e x p o s t a s na q u a d r a f o t o s d a F a n t a s i a p a r a a
sua comercialização. A n t e s d o a d v e n t o do ~ r o t ó t i p o ,e r a m o s f -
i
g u r i n o s a p r e s e n t a d o s em s e s s o e s f e c h a d a s p a r a o s P r e s i d e n t e s e
a l g u n s componentes. ou mesmo com uma f e s t a p a r a s u a a p r e s e n t a -
-
çao.

Muitas Fantasias são escolhidas pelas Alas, depois

de aprovadas p e l a Comissão d e Carnaval. O Carnavalesco traba
l h a c i e n t e d e a l g u n s e l e m e n t o s t a i s como s e x o , faixa etária e
poder aquisitivo, para e l a b o r a r f a n t a s i a s adequadas pára os
destinatários. Algumas E s c o l a s possuem A l a s f i x a s para as
q u a i s o C a r n a v a l e s c o d e t e r m i n a uma f a n t a s i a c o n d i z e n t e com a
Ala que v a i v e s t i - l a . E x e m p l o d i s t o s ã o a s " A l a s d a s Damas" e
a "Alas dos Lordes", t r a d i c i o n a i s na P o r t e l a , cam u m t i p o paz
t i c u l a r de Figurino.

A maioria dos Carnavalescos entrevistados c o n f e c c i-

o
nou seus ProtÓtipos, m a s h á v a r i a ç õ e s d e a c o r d o com a E s c a l a e
o profissional:

" ( . . . I a p a r t e do P r o t Ó t i p o , a g e n t e f a z o e s
boço d a r o u p a , do f i g u r i n o , e vamos t r a b-
ã
l h a r e m cima d a montagem da r o u p a , p o r q u e o
F i g u r i n o t e d á uma i d é i a , m a s é uma coisa
que é p a p e l (. . . I na r e a l i d a d e quando você
começa a montagem d a s c o i s a s e l a s s e t r a n s
f o r m a m em t e r m o s d e e x e c u ç ã o , d e mobilidã
de, p a r a o componente e v o l u i r . O material,
a proporção, tudo i s s o é importante (...I
e s s a f a s e é d e d o i s m e s e s , em q u e v o c ê t r - a
 b a l h a c o m P r o t ó t i p o s , i n c l u s i v e com a s co
res (...I é c o m o um g r a n d e q u e b r a - c a b e ç a s ,
q u e quando v o c ê j u n t a , toma f o r m a . "

Renaka Lage

Segundo o Carnavalesco Renato Lage, o Protótipo f o i

um r e c u r s o u t i l i z a d o p e l a p r i m e i r a v e z n o c a r n a v a l p o r A r l i n d o
Rodrigueç, justamente p a r a d a r uma m a r g e m d e s e g u r a n ç a quanto
5s falhas de interpretação dos Figurinos, o q u e t e r i a a c o n t e c-i
do na d é c a d a d e 7 0 na I m p e r a t r i z L e o p o l d i n e n s e . Renato Lage
e Arlindo Rodrigues difundiram o uso do P r o t ó t i p o p e l o s seus
excelentes resultados, o q u e s e t o r n o u um c o s t u m e a i n d a n a d-
é
cada d e 70.

Ta.nto o B a r r a c ã o d e Ala q u a n t o o P r o t Ó t i p o s ã o r e c u r -
s o s c r i a d o s na d é c a d a d e 70, e são vantajosos para o C a r n a v-
a
l e s c o e p a r a a s E s c o l a s d e Samba, que obtiveram maior q u a l i d-
a
d e na p r o d u ç ã o d a s F a n t a s i a s p e l o c o n t r o l e e x e r c i d o s o b r e e-
s
ta. A m a n u f a t u r a d e um P r o t ó t i p o p o r v e z e s e n v o l v e uma equipe
d e p r o f i s s i o n a i s que executarão cada p a r t e do modelo, execução
e s t a r e p e t i d a no B a r r a c ã o d e A l a , que i n i c i a a produção em s-
é
rie.

"A Escola v i a b i l i z a toda e s s a produção de

f e i t u r a d o ~ r o t õ t i p o , t e m uma e q u i p e de
costureiros, chapeleiros, aderecistas, es
c u l t o r e s , porque às vezes a gente f a z plz
c a s p a r a c h a p é u s com m o l d e ç e o escultor
também t r a b a l h a . ( . . . ] D e p o i s a Escola mar
c a a e n t r e g a d e c a d a p r o t Õ t i p o d e s t e s par;
cada Presidente de Ala, e e l e v a i Pegar
e s t a f a n t a s i a e p r o d u z i r em t e r m o s d e prz
dução i n d u s t r i a l . "

RenaXo Lage
A v a l i d a d e d o p r o t ó t i p o como m o d e l o d a F a n t a s i a SÕ
s e confirma pelo seu c a r á t e r d e proximidade do Figurino. Nem

. s e m p r e um P r o t ó t i p o c o n f e c c i o n a d o c o m m a t e r i a s d e a l t o custo
\ poderá s e r copiado fielmente. O Protótipo informa, a quem o
. confecciona, o material e a maneira de executar a Fantasia, e
 quanto mais habilidoso o individuo, maior s e r á a qualidade -
a
t i n g i d a e m e l h o r s e r á o r e s u l t a d o d a p r o d u ç ã o em s é r i e .

"(...I a gente vai ver( ...

lpoder aquisitivo
d a s a l a s , p o r q u e mesmo q u e a g e n t e f a ç a um
~ r o t ó t i p o , p o r u m l a d o e u a c h o uma bestei
r a , p o r q u e s e o c a r a não tem p o s s i b i l i d a d ~
d e f a z e r a q u i l o não fará,como e s t á a c o n t-
e
cendo e m v á r i a s E s c o l a s , e n t ã o eu f a ç o a-s
s i m (...I na V i r a d o u r o eu já a c h e i q u e ti
n h a q u e s e r a A l a quem o f a r i a e realme;
t e funcionou, porque e l e s procuraram f a z e r
o melhor."

"Sou a i n d a um p o u c o a n t i g o , g o s t o d e d a r li
b e r d a d e 5s p e s s o a s p a r a t e r a p a r t i c i p a ç ã õ
popular, e n t ã o acho que se o Chefe de Ala
f i z e r a roupa e l e v a i exatamente demons
t r a r o s a b o r que e l a tem, popularmente.
l ó g i c o que s e não a t i n g i r o s o b j e t í v o s , c o ~
pete ao Carnavalesco esclarecer a s mudan
ç a s . S e f a z - a E s c o l a t o d a em P r o t ó t i p o f i c ã
muito uniforme, você vê, a s Escolas estão
muito i g u a i s , todas usando a c e t a t o ( . . . l p a
d r o n i z o u , e é bom q u a n d o a s p e s s o a s d ã o o
seu toque."

O c o n t r o l e da produção d e F a n t a s i a s f o i r e d u z i d o c i-
n
sideravelmente, centralizando-se nos P r e s i d e n t e s de Ala,na -
Co ,

m i s s ã o d e C a r n a v a l e no C a r n a v a l e s c o . No c a s o d a s A l a s d e r e-
s
ponsabilidade da Escola, Bateria, Crianças e Baians, estas ge
r a l m e n t e n ã o f e i t a s num " a t e l i e r " m o n t a d o d e n t r o d o Barracão
da Escola, com s e t o r e s p a r a a r m a z e n a g e m d e m a t e r i a l e d a s F a-
n
tasias prontas.

I Nas p á g i n a s s e g u i n t e s a p r e s e n t a m o s a l g u m a s i l u s t r-
a
çÓes d e F i g u r i n o s , que a n t e s eram denominados " r i s c o s " , e que
, s ã o a p r i m e i r a imagem q u e o C a r n a v a l e s c o f o r n e c e d a Fantasia
k que i l u s t r a r á o enredo do c a r n a v a l .
\
 Um d o s a s p e c t o s i m p o r t a n t e s da p r o f i s s ã o do C a r n a v-
a
lesco 6 a simultaneidade que permeia seu processo de trabalho.
Ainda que apoiado p e l a Comissão d e C a r n a v a l , e l e , t e r g de e x e-
r
cer diversas atividades e coordenar a s diversas equipes que
desenvolverão o c a r n a v a l d e n t r o do Barracão da Escola.

O B a r r a c ã o d a E s c o l a d e Samba é o l o c a l o n d e estão
ç e d i a d a s a s o p e r a ç õ e s e x e c u t i v a s do c a r n a v a l , e 2 frente des-
t a s e s t á o C a r n a v a l e s c o e um g r u p o d e C h e f e s p a r a o s setores
especializados. Neste l o c a l s ã o c o n f e c c i o n a d o s o s c a r r o s a l e g-
ó
r i c o s da Escola, bem como t o d o s o s e l e m e n t o s r e l a c i o n a d o s com
a p a r t e c e n o g r ã f i c a do d e s f i l e , os tripés, quadripés, e s t a n d a-
r
t e s e adereços, o que requer p r o f i s s i o n a i s especializados e
uma e q u i p e d e a s s i s t e n t e s q u e a t u a r ã o n a s d i v e r s a s e t a p a s .

O t r a b a l h o de equipe sempre f o i fundamental p a r a que

a s E s c o l a s d e Samba f i z e s s e m s e u c a r n a v a l , e p a r a o C a r n a v a l e-
s
c o c o n s t i t u i u um d o s s u p o r t e s p r i n c i p a i s p a r a q u e p o s s a a t i-
n
g i r seus objetivos. Das e q u i p e s d e D i r c e u e Marie Louise Nery,
Pamplona e A r l i n d o no S a l g u e i r o , passando pela reduzida equi-
pe d e s e i s p e s s o a s do C a r n a v a l e s c o J u l i o Mattos, 2s grandes
equipes atuais, q u e chegam a o número s u r p r e e n d e n t e d e d u z e n t a s
pessoas, a concepção.de d i v i s ã o d a s t a r e f a s sempre f o i uma
c o n s t a n t e n a s E s c o l a s d e Samba.

O grupo de trabalho do Barracão s e s u b d i v i d e em s e t -

o
r e s conforme a a t i v i d a d e que realizam, e cada s e t o r possui um
Chefe, q u e m a n t e r á c o n t a t o com o C a r n a v a l e s c o e a C o m i s s ã o de
Carnaval. O s s e t o r e s p r i n c i p a i s do Barracão são chefiados pe
10s s e g u i n t e s p r o f i s s i o n a i s :

, 1. Ferreiro
4
2. Escultor
7
 3. Eletricista
4. Carpinteiro
5. Pintor
6. Mecânico

O B a r r a c ã o p o d e r á c o n t e r a i n d a um "Atelier", com um
D i r e t o r ou C h e f e r e s p o n s á v e l , uma C o s t . u r e i r a e u m Chapeleiro.
Poderão ainda s e r exercidas o u t r a s atividades, t a i s c o m o A d e r-
e
cista, Decorador, Larninador, E m p a s t e l a d o c e R e s p o n s á v e l p o r F-i
bra de Vidro, a l é m d a q u e l a s f u n ç Õ e s a d m i n i s t r a t i v a s como -
Almo
xarife, Limpeza, Compras, Portaria, Segurança e Secretaria.
Quanto maior f o r o contingente de pessoas trabalhando, mais
complexa s e r á a d i v i s ã o , e s t a n d o t o d o s s u b m e t i d o s a um D i r e t o r
Geral do Barracão.

0 s p r o f i s s i o n a i s e s p e c i a l i z a d o s e n v o l v i d o s na e x e c-
u
ção do c a r n a v a l s ã o de grande i m p o r t â n c i a . Sua h a b i l i d a d e e
e competência são muito valorizadas pelo conhecimento t é c n-
i
co que possuem, Trabalhando junto ao Carnavalesco, estes pro
f i s s i o n a i s não s ó executam a s e t a p a s p r e s c r i t a s , mas auxiliam
com s u g e s t õ e s e s o l u ç õ e s .

"I ... ) V o c ê t e m em t e r m o s p r o f i s s i o n a i s , g e p
t e q u e v o c ê não p o d e a b r i r mão, p o n t o s c h a
v e como o E s c u l t o r , e e u p r i m o s e m p r e por
t e r u m bom E s c u l t o r , u m bom Carpinteiro
e um bom S r r r a l h e i r o ( . . . I o básico tem
q u e e s t a r bem f e i t o p a r a q u e o p r o d u t o f i
n a 1 d ê um bom r e s u l t a d o ( . . . I No acabame;
t o 6 q u e e n t r a e s s e p e s s o a l menos q u a l i f-i
cada p r o f i s s i o n a l m e n t e , e s ã o p e s s o a s que
e s t ã o 15 g a n h a n d o u m s a l á r i o pequenininho
( . . . I Quando o c a r a pergunta você s e n t e o
i n t e r e s s e e a l i pintam v á r i a s i d é i a s atra
7
vés da discussão (...I O grande lance e
e s t e , v o c ê n ã o d a r uma d i f e r e n ç a d e p o s-i
ç ã o no B a r r a c ã o , t r a t a r p o r i g u a l porque
e l e s crescem muito, e s s e negócio de e s t r-e
l a - porque t e m , n é ? - não c o n s e g u e nada."
C
Renata Lage
 0 s p r o j e t o s dos Carros A l e g o r i c o s contem as plantas
b a i x a s da e s t r u t u r a d e montagem, especificando a parte de C a-
r
pintaria, Ferragem, Mecânica ~ m o v i m e n t a ç ã o l e E l e t r i c i d a d e . C o m-
plementam a i n d a o p r o j e t o a r e p r e s e n t a ç ã o d e s u a decoração,com
a s E s c u l t u r a s e demais e l e m e n t o s que comporão a a l e g o r i a . O C a-
r
n a v a l e s c o p o d e r á s e r a u x i l i a d o p o r um a r q u i t e t o o u engenheiro
na p a r t e d e c á l c u l o s e d e s e n h o , o u p o d e r á e k e mesmo e l a b o r a r o
projeto. Com a m a i o r c o m p l e x i d a d e d o s C a r r o s , s u r g i u a n e c e s s-
i
d a d e d e um m a i o r d e t a l h a m e n t o d o s p r o j e t o s e a d e s c r i ç ã o p r e c L
sa das soluçÕes t e c n i c a s e e s t é t i c a s , q u e e n v o l v e m também a
s e g u r a n ç a d o c o m p o n e n t e q u e i r á em c i m a d o c a r r o .

Alguns p r o f i s s i o n a i s e s p e c i a l i z a d o s costumam t e r -e
q u i p e s i n t i n e r a n t e s q u e t r a b a l h a m em m a i s d e uma E s c o l a , o que
g e r a l m e n t e a c o n t e c e com E s c u l t o r e s , Carpinteiros e Ferreir0s.A
f l e x i b i l i d a d e d e h o r á r i o s p o s s i b i l i t a a uma mesma e q u i p e f a z e r
serviços para várias Escolas, t r a b a l h a n d o i n t e n s a m e n t e no pg
riodo que antecede o carnaval.

A s ilustrações a s e g u i r apresentam algumas e t a p a s da

execução do c a r n a v a l , bem como o s l o c a i s q u e s e r v e m d e B a r r-
a
cÕes p a r a a s E s c o l a s , geralmente espaços b a s t a n t e amplos para
que possam c o n t e r a s A l e g o r i a s d e g r a n d e s dimensões. O espaço
m a i s a n t i g o u s a d o como b a r r a c ã o a t é m e a d o s d e 1 9 9 1 f o i o P a v-
i
lhão de S.CristÓvão, q u e p o r c a u s a d e um a c i d e n t e em q u e o t-
e
lhado desabou, deixou de t e r e s t a finalidade. Atualmente a l g-
u
mas E s c o l a s s e a l o j a m n o s g a l p õ e s d o C a i s d o P o r t o , mas a g r a-
n
d e m a i o r i a c o n t i n u a e n f r e n t a n d o um a n t i g o p r o b l e m a , o de não
t e r um l o c a l c o n d i z e n t e p a r a d e s e n v o l v e r o s e u c a r n a v a l .
P R O J E T O PARA CARROS ALEGORTCÓS

C A R N A V A L DA E S C O L A D E S A M E A M O C T D A D E T N D E N P E N D E D E P A D R E M T G U E L

ANO D E 1 9 9 7

CARNAVALESCOS: RENATO LAGE E L I L T A N RABELLO

PROJETOS APRESENTADOS:

P R O J E T O 7 - CARRO "MAGIA D A S AGUAS"

PROJETO 7 7 - CARRO f'ENCffENTE URBANA" (com Ó o X o )

ENREDO: "cHu~ C H U A , A S A G U A S VXO R O L A R "

PROJETO 7
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PROJETO 11
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B A R R A C Ã O d a E s c o l a d e Samba V i l a Isabel, 1988. Adereços.Alego-

r i a s e Esculturas.
BARRACÃO d a Mocidade I n d e p e n d e n t e d e P a d r e Miguel. Detalhe
de Alegorias.

Renato Lage, Carnavalesco da Mocidade, em c i m a d e u m d o s

C a r r o s A l e g o r i c o s d a M o c i d a d e p a r a o C a r n a v a l d e 1 9 9 1 . D-
e
t a l h e da decoração.
BARRACÃO da Mocidade Independente d e Padre Miguel, A d e r e c i-
s
t a s t r a b a l h a n d o em d e c o r a ç ã o . Ao f u n d o d e t a l h e d e um Carro
Aleg

B A R R A C Ã O d o S a l g u e i r o . Amplo g a l p ã o s i t u a d o n a s D o c a s do
Rio de J a n e i r o , e s t e Barracão comporta v á r i o s c a r r o s de
g r a n d e s d i m e n s õ e s , como o C a r r o A l e g ó r i c o a c i m a , composto
de várias esculturas.
Carnaval de 1991
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BARRACÃO d a U n i d o s d a T i j u c a , G a l p ã o d a s D o c a s no R i o d e
J a n e i r o . Etapa i n i c i a l da execução do c a r n a v a l , o Ferrei
s o l d a a e s t r u t u r a p a r a r e c e b e r a madeira. [Acima)

Ao mesmo t e m p o em q u e a e s t r u t u r a d e f e r r o 6 a r m a d a , a1
guns elementos e s c u l t Ó r i c o s vão sendo p r e p a r a d o s . (Acima7
Unidos da Tijuca, Carnaval de 1992.
4.2 - MATERIAIS E TECNICAS - D A PASTA A FIBRA DE V I D R O

O s B a r r a c õ e s d e E s c o l a d e Samba também sof reram

t r a n s f o r m a ç Ó e s r e l a c i o n a d a s com a e v o l u ç ã o d o c a r a n a v a l . O a-
u
mento do tempo d e t r a b a l h o , das dimensões dos Barracões e O

aparecimento de novos m a t e r i a i s e t é c n i c a s foram alguns dos f-

a
t o r e s que alteraram a e s t r u t u r a ç ã o dos Barracões, hoje b a s t a-
n
t e complexa.

"Hoje o s Carnavalescos são grandes profis

s i o n a i s que trabalham o ano todo dentro d e
um e s q u e m a , e n q u a n t o n ó s a n t i g a m e n t e tra
balhãvamos t r ê s , q u a t r o meses. O trabalhõ
d e Barracão não e r a d i f e r e n t e , apenas O
m a t e r i a l e a m a n e i r a d e f a z e r eram dife
r e n t e s , não h a v i a " f i b e r g l a s s " , e o B a r r ã
c ã o s e t o r n o u d e z v e z e s m a i o r , mas f o i
praticamente a inovação do m a t e r i a l sua
m a i o r e v o l u ç ã o , o t r a b a l h o e r a o m e s m o , c- o
mo o t r a b a l h o t e a t r a l n ã o m u d o u d e s d e os
gregos, tendo o maquinista, os-aderecistas
o p i n t o r , o e s c u l t o r , o contra-regra.O que
mudou f o i o u s o d o s m a t e r i a i s , a tecnolo
g i a que cada vez mais i n t e g r a a s p o s s i b-i
lidades de realização estética para o a- r
tista plástico."

Fennando PampLo na
E x i s t e uma e s t r e i t a r e l a ç ã o e n t r e soluçÕes fécnicas
e soluçÕes e s t é t i c a s , e nesta relação e s t á presente de maneira
decisiva o improviso e a experimentação. Em c o n f o r m i d a d e com
cada época, a s descobertas constituiram evoluçÓes que r e s u l t-
a
ram n a s m u d a n ç a s d o s a s p e c t o s v i s u a i s d o s d e s f i l e s . Neste u n-
i
v e r s o d e e x p e r i ê n c i a s o d o m í n i o d e n o v a s t e c n o l o g i a s vem se
afirmando junto ao improviso e experimentação. O s novos m a t-
e
r i a i s também f a c i l i t a m a e x e c u ç ã o d o c a r n a v a l , pela sua versa -
t i l i d a d e e maior quantidade de opções.

" ( . . . ) E u j á l e v o vantagem porque sou da ge

ração 60 " p o l i " - o poliuretano, polipropi
l e n o , p o l i é s t e r , i s o p o r , l a t e x , PVC, a c e t -
ã
 t o , "vacum f o r m " , e p o r a i a f o r a . E u já
t e n h o t o d a uma f a c i l i d a d e p a r a e x e c u t a r e-s
t e trabalho [...I"

" ( . . . l q u a n d o o S a l g u e i r o começou a crescer

o s c a r r o s a l e g á r i c o s , com o J o ã o z i n h o T r i n
t a no c a r n a v a l d e 1 9 7 4 , e a i f o i s e n d o d-e
s e n v o l v i d o o q u e a g e n t e chama h o j e d e i n
d ú s t r i a do c a r n a v a l . ( . . . I essa evolÜçãz
e s t á l i g a d a a o s m a t e r i a i s , p o r e x e m p l o : ma -
d e i r a , o s c h a s s i s que eram d e m a d e i r a paz
saram a s e r d e f e r r o (. .. 1 as esculturas
eram d e p a s t a , d e p a p e l , e a i n d a existe
gente que usa, passaram para o isopor e a
f i b r a d e v i d r o , m a t e r i a i s q u e c o e x i s t e m he
j e . Para acabamento a cada ano aparecem
novos m a t e r i a i s ( . . . I os espelhos,( ... I as
p l a c a s , q u e é um m a t e r i a l m u i t o u s a d o [ . . . )
também c h a p e l a r i a , o c h a p é u d e p a l h a , que
a i n d a e x i s t e também, mas q u e p a s s o u p a r a o
uso do chapéu d e a c e t a t o . "

Mania AugunXa

O Salgueiro n a s d é c a d a s d e 60 e 70 f o i o g r a n d e l-
a
b o r a t ó r i o e x p e r i m e n t a l d e novos m a t e r i a i s e t é c n i c a s , i m p u l s i o -
nado p e l a c u r i o s i d a d e e i n v e n t i v i d a d e d e s e u s C a r n a v a l e s c o s , e
a necessidade d e s t e s de superarem a f a l t a de recursos f i n a-
n
ceiros. O i s o p o r d e s c o b e r t o p o r J o ã o z i n h o T r i n t a na d é c a d a de
7 0 f o i uma g r a n d e d e s c o b e r t a , por sua leveza e possibilidade
d e m a n i p u l a ç ã o em e s c u l t u r a s .

A versatilidade dos materiais, aliada pesquisa de

a l t e r a ç õ e s de forma e função, ampliou consideravelmente o u n-
i
verso de materiais, enriquecido de maneira significativa com
o acetato. E s t e m a t e r i a l p r o p o r c i o n o u uma d i v e r s i f i c a ç ã o sem
precedentes, p e l a p o s s i b i l i d a d e d e s u a r e p r o d u ç ã o em s é r i e -
a
t r a v é s d e p l a c a s m o l d a d a s s o b r e um d e s e n h o p r p o s t o . A fibra de
vidro veio substituir, mas não t o t a l m e n t e , o " p a p i e r maché" ,
ou "escultura de pasta", tornando-se um r e c u r s o l a r g a m e n t e u s -
a
d o n a p r o d u ç ã o em s é r i e d e e s c u l t u r a s e a d e r e ç o s .
2 . - A "FABRICA" D O C A R N A V A L

A confecção de alegorias e adereços de carnaval sem

p r e t e v e um a s p e c t o a r t e s a n a l q u e f o i s e n d o s u b s t i t u i d o p o r no
vos métodos de confecção. Na d é c a d a d e 5 0 o C a r n a v a l e s c o J ú l i o
M a t t o s m o n t o u uma f á b r i c a d e A l e g o r i a s e E s c u l t u r a s em Ramos
no R i o d e J a n e i r o , i n i c i a n d o um c o m é r c i o q u e f o r n e c e u às Esco
l a s d e Samba d i v e r s o s e l e m e n t o s p a r a s e u s d e s f i l e s .

Para montar e s t e acervo, além d a s E s c u l t u r a s que e l e

mesmo f a z i a , costumava i r aos Barracões e "ateliers" de a r t i-
s
t a s a i n d a na é p o c a d a s G r a n d e s S o c i e d a d e s e R a n c h o s , e p o s t-
e
r i o r m e n t e n a s E s c o l a s d e Samba, c o m p r a n d o ou g a n h a n d o a s p e ç a s
que mais o interessam, Grande conhecedor de m a t e r i a i s e t é-
c
nicas para o carnaval, J u l i o Mattos participou das descobertas
de novos m a t e r i a i s , c o n t r i b u i n d o p a r a i s t o com s u a e x p e r i ê n c i a .

" V i n h a s e m p r e t r a b a l h a n d o com i s o p o r , faço

isopor, f i b r a de vidro, e papel march6,que
dava t a n t a firmeza quanto a f i b r a de v i d r o
(...I o p a p e l m a r c h é ' n ã o é a n t i q u a d o , ; uma
e s c u l t u r a mais l e v e que a f i b r a de vidro e
m a i s b a r a t a q u e o i s o p o r , p o r i s s o s o u m u- i
t o procurado, p e l o papel marché, f a ç o pe
ç a s g i g a n t e s e o s Carnavalescos gostam mul
t o , mas o c a r n a v a l e v o l u i u . "

E s t a f á b r i c a d e a l e g o r i a s g e r o u um f a t o q u e m a i s t a -
r
d e s e r e p e t i u com o s u r g i m e n t o d o a c e t a t o , em e s c a l a m a i o r . Ao
v e n d e r s u a s p e ç a s p a r a v á r i a s E s c o l a s a o mesmo t e m p o , -
J u l i o Ma
t o s d e t e r m i n o u uma s e m e l h a n ç a e n t r e e l a s , pela repetição das
peças que apareciam nos d e s f i l e s .

"Dos vivos e atuantes, o Carnavalesco que

eu c o n h e ç o m a i s a n t i g o e q u e começou a n t e s
d e m i m e d o D i r c e u N e r y é o J u l i n h o , q u e h-
o
j e chamam d e J u l i n h o d a M a n g u e i r a , e na
verdade era Carnavalesco de cinco, seis
Escolas, e teve ocasião a t é de fazer dez.
 e l e t i n h . a uma f á b r i c a d e r e p r o d u ç ã o d e f o- r
mas, e v e n d i p a r a o i n t e r i o r também.( ... 1
Busto de Caxias e l e t i n h a , s e f o s s e cavalo
g r e g o e l e t i n h a . B a s t a v a t i r a r a p a s t a , n- a
q u e l e t e m p o n ã o t i n h a " f i b e r g l a s s n , n e m e- s
s e s m a t e r i a i s modernos d e h o j e e a coisa
e r a f e i t a em p a s t a , q u e o f r a n c ê s c h a m a d e
" p a p i e r m a c h é " , s e c a d o com l u z o u com sol
e t o d a s a s E s c o l a s eram f e i t a s p e l o J u l-i
nho."

Fetnando PampLona

A produção em s é r i e f o i um f a t o r i m p o r t a n t e p a r a os
trabalhos de Barracão e sua dinamização. 0s materiais a l t e r n-
a
t i v o s também f a z e m p a r t e d e s t a t r a n s f o r m a ç ã o , que encontrou na
s u c a t a e n a s s o b r a s i n d u s t r i a i s uma r i c a f o n t e d e r e c u r s o s .

"O " D o m i n g o " f o i u m c a r n a v a l d e g a s t o c u r t o

em q u e s e a p r o v e i t a r a m m a t e r i a i s com abso
l u t o r e a l i s m o - um b a r c o e r a mesmo um bar
co, forrado de Contact para f a c i l i t a r a r i
t i r a d a sem d a n o d o m a t e r i a l ( . . ] e sem d a n õ
a o s u p o r t e . T r a b a l h a v a - s e m u i t o com o nome
e l e g a n t e de "material a l t e r n a t i v o " que n-a
da mais e r a que a d m i t i r que a sobra d e a1
g u é m com nome d e " l i x o " p u d e s s e s e r Útil:
U s a m o s m u i t a s u c a t a d e s a r d i n h a em que
s e u s a v a m - a s f o l h a s i n t e i r a s em q u e eram
recortadas e estampadas a s latas,usando a s
folhas vasadas e cobrindo os carros."

N ~ Osó a s dificuldades f i n a n c e i r a s das Escolas l e v-

a
ram o s C a r n a v a l e s c o s a e x p e r i m e n t a ç õ e s , mas também a b u s c a p o r
novidades,da modernidade e da manipulação d e formas e f un-
ções, i n i c a d a s na d é c a d a d e 6 0 p o r Pamplona e A r l i n d o .

"(...)já h a v i a uma p r e o c u p a ç ã o n o g r u p o q u e
l:?abalhava, que e r a o Pamplona, o Arlindo
e o João, de procurar coisas diferentes,
n ã o s ó a l t e r n a t i v a s no s e n t i d o d e serem
mais modernas, novidades, e o Salgueiro
sempre t e v e e s s a p r e o c u p a ç ã o , e a g e n t e ex
perimentava de tudo, desde isopor, que f o i
o e s t o u r o d o S a l g u e i r o em 7 1 , a t é panelas,
 enfim tudo o que encontravamos nas lojas
a gente experimentava, para ver a s formas
q u e p o d e r i a m e n t r a r na e x e c u ç ã o d e figuri
n o s e a l e g o r i a s , sem s e r necessáriamente
mandado f a z e r p a r a a q u i l o [ . . . I havia o i n
I-

t e r e s s e d e uma c o i s a d i f e r e n t e , q u e nao
e r a só o c u s t o menor."

O u n i v e r s o s d e s t e s m a t e r i a i s sempre i n s t i g o u a c u r i-
o
sidade dos Carnavalescos d i a n t e dos e f e i t o s p l á s t i c o s que prg
porcionavam. Na r e a l i d a d e n ã o h á l i m i t e s n e s t a s e x p e r i m e n t-
a
ções, q u e s ã o u s a d a s em c o n j u n t o com o s m a t e r i a i s i n d u s t r i a l i -
zados próprios para o carnaval, t a i s como t i n t a s , acetato,met-
a
lõide, tecidos, isopor, purpurina, c o r t i ç a e o u t r o s que c o n-
s
tituem o acervo de materiais utilazdos pelos Carnavalescos.

Um d o s e x e m p l o s d e q u e e s t a e x p a n s ã o c o n t i n u a f o i o
a p a r e c i m e n t o d a Espuma "Pack". A e s p u m a comum s e m p r e f o i um
m a t e r i a l u t i l i z a d o no c a r n a v a l , mas e s t a n o v a m o d a l i d a d e , sob
a f o r m a d e uma f o l h a m a l e á v e l e r e s i s t e n t e , propicia soluçÓes
práticas, que vão desde a confecção d e adereços e f a n t a s i a s ao
revestimento de carros alegÓricos.

"I ... )sempre t r a b a l h e i para pobre [...I e

sempre f u i obrigado a i n v e n t a r c o i s a s bara
t í s s i m a s e que funcionassem (...I ~ s t o Ü
n e s t e b a r r a c ã o e t e m g e n t e t r a b a l h a n d o com
placa de a c e t a t o , que f o i descoberto por
Arlindo Rodrigues, que é largamente usada
simples e prática, t i r a - s e centenas de c6
p i a s e e l a b r i l h a m u i t o , mas 6 u m t r o ç o c ã
r o e eu n ã o t e n h o nenhuma p l a c a d e a c e t-
ã
t o neste barracão (...I t e n h o mania d e re
s o l v e r m i n h a s c o i s a s d e o u t r a m a n e i r a , do;
o u t r a solução (. ..
I"

" ( . . . ) D i z e m que tem que s e r c r i a t i v o (...I

m a s c h e g a m o s a um p r o b l e m a t ã o g r a n d e no
p a í s , que s e v o c ê ' d i z e r que v a i f a z e r uma
a l e g o r i a t o d a em c a i x a d e f Ó s f o r o s , u m a a l e -
g o r i a tem d e z m e t r o s p o r c i n c o d e a l t u r a ,
f a z o cálculo de quantas caixas de fósf- o
 você g a s t a e v a i v e r que s a i r i a mais b a r-
a
t o f a z e r com a c e t a t o . C o p i n h o d e c a f é ( . . . I
p r a t o s laminados, roupa de l i s o l e n e que
p a r e c i a s e d a p u r a , n a o u t r a é p o c a d a v a , ho -
j e nada é b a r a t o . "

S i l v i a Cunha
"A p r i m e i r a e s c o l a q u e e u f i z e s t a v a com
p r o b l e m a s s e r f s s i m o s com um p a l h a ç o para
s e r f e i t o , p r o b l e m a s d e e s c u l t u r a , e eu i - m
p r o v i s e i uma e s t r u t u r a d e . a r a m e , uma cara
d e p a l h a ç o , madei comprar, e x a g e r a n d o , t o n e
ladas de pipoca e f i z e s t e palhaço todo,
e r a p i p o c a e s t o u r a d a na a r e i a q u e n t e , foi
a t é engraçado, porque pintou muita f o r m-
i
g a mas f i c o u l i n d i s s i m o . "

Paulo C a s t a
"I...)eu p o s s o t r a b a l h a r com p l a c a d e a c e t a
t o , que 6 a c o i s a mais f á c i l de decorar
e é r á p i d o C...) mas a f o r m a com q u e vo
c; t r a b a l h a q u e f a z d i f e r e n ç a [ . . . I desde
que vocé amassa o p a p e l , o rnetalõide, você
dá a c o n t r i b u i ç ã o naquele m a t e r i a l . "

Alexandhe Louzada

4.2.2 - D O R A I O LASER A O C O M P U T A D O R

A e x e c u ç ã o do c a r n a v a l i n c l u i u além d a s t é c n i c a s de
manufatura e decoração, uma t e c n o l o g i a q u e f o i s e n d o d e s c o b e-
r
t a e absorvida p e l o s C a r n a v a l e s c o s no q u e s e r e f e r a o s r e c u-
r
sos complementares de apresentação. A s E s c o l a s d e Samba s e m p r e
c o n t a r a m com e f e i t o s e s p e c i a i s , t a i s como m o v i m e n t a ç ã o d e a l-
e
g o r i a s a t r a v é s de e s t r u t u r a s i n t e r n a s que permitiam a -
movimen
tação de suas p a r t e s sobre eixos. E s t e s r e c u r s o s também eram
u t i l i z a d o s p e l o s Ranchos C a r n a v a l e s c o s e Grandes S o c i e d a d e s , 2
t r a v é s da e x p e r i e n c i a de p r o f i s s i o n a i s e s p e c i a l i z a d o s nestas
t é c n i c a s o r i g i n a d a s da c e n o g r a f i a t e a t r a l .

A b u s c a d e nova t e c n o l o g i a e a s o f i s t i c a ç ~ od o des
f i l e s e i n t e n s i f i c o u na década d e 80. A u n i ã o d a I l h a no c a-
r
naval de 1987 p e l a p r i m e i r a vez i n t r o d u z i u em s u a a p r e s e n t a ç ã o
o uso do Raio Laser. A u t i l i z a ç ã o d a l u z ~ e Ó nt a m b é m f o i o u t r o
r e c u r s o s d e s t a déc'ada, hoje largamente utilizado. bem c o m o a
f a r t a iluminação dos carros e esculturas, c o n f o r m e vemos na
i l u s t r a ç ã o da página seguinte, no A b r e A l a s d a E s c o l a d e Samba
~ s t á c i o d. e sã, do Carnavalesco Mario Monteira.

R e c u r s o s t é c n i c o s como a f u m a ç a , bonecos infláveis,

e a s b o l h a s d e sabão u t i l i z a d a s p e l a Mocidade I n d e p e n d e n t e no
d e s f i l e de 1991, s e n ã o c o n s t i t u e m uma novidade, p e l o m e n o s e-
n
riquecem visualmente o desfile, d e p e n d e n d o d a f o r m a como são
utilizados. A própria e n t r a d a da Escola na A v e n i d a a a l g u m rem
-
p o vem s e n d o p r e c e d i d a de fogos de a r t i f i c i o multicoloridos, o
q u e g e r a uma e x p e c t a t i v a emocionada da p l a t é i a .

Estes e f e i t o s especiais estão associados ao caráter

de superespetáculo, e dependem m u i t o d a s c o n d i ç õ e s f i n a n c e i r a s
de cada Escola. Em s e t r a t a n d o d a q u e l a s d o G r u p o E s p e c i a l , s-
o
bretudo a s mais r i c a s , a e x p l o r a ç ã o d e s t e s r e c u r s o s n ã o t e m l-
i
mites. Este repertório técnico tornou-se uma e x i g ê n c i a d o c-
o
nhecimento que deve t e r o Carnavalesco, e na d i s p u t a r e a l i z a d a
na A v e n i d a , c a d a n o v o " t r u q u e " p o d e s i g n i f i c a r uma surpresa
q u e d e t e r m i n a r á uma n o t a m a i o r .

U m d o s e x e m p l o s c l ~ s s i c o sd a ~ i s t Ó r i ad o C a r n a v a l d e
E s c o l a s d e Samba é o c a r r o Abre A l a s da P o r t e l a , que t r a n s p o-
r
t a o símbolo da Escola, a Aguia. Ano a p ó s a n o e f e i t o s m e c â n-
i
tos e sonoros são incorporados sua apresentação, q u e s e m o v-
i
menta em v á r i a s d i r e ç õ e s , mexendo o b i c o e a s a s a s , emitindo
g r i t o s de águia e n e s t e Último carnaval, sua grande inovação
f o i cumprimentar o público "falando".

Nas p á g i n a s seguintes ilustramos t r ê s modelos d i f-

e
r e n t e s da Aguia da P o r t e l a , dos a n o s d e 1982.1985 e 1991. -
sem
pre causando grande impacto e surpreendendo o público.
Carro Abre-Alas d a E s c o l a d e Samba E s t á c i o d e s ã , com o s Lc
Ões, simbolo da Escola, iluminados internamente. Carnaval de
1991.
Carro Abre-Alas d a E s c o l a d e Samba P o r t e l a , com o sibolo, da
Escola, a hguia, no carnaval de 1982.
 O computador também f a z parte, atualmente, do a r s-
e
na1 de r e c u r s o s u t i l i z a d o s p e l o carnavalesco para a prooução e
execução do c a r n a v a l . Elaborando s i n o p s e s cada v e z m a i s d e t-
a
lhadas e c a r r o s a l e g o r i c o s de p r o j e t o s m a i s complexos,é n a t-
u
r a l que a b s o r v a a t e c n o l o g i a da informática para f a c i l i t a r o
seu t r a b a l h o . Da e l a b o r a ç ã o g r á f i c a mais rápida e precisa aos
estudos cromáticos f a c i l i t a d o s , todo o planejamento pode ser
viabilizado a t r a v é s ao computador, embora poucos c a r n a v a l e-
s
tos o utilizem. Em f u n ç ã o d o c r e s c i m e n t o d o d e s f i l e , este será
m a i s um r e c u r s o s p a r a o e n r i q u e c i m e n t o d o e s p e t á c u l o das E s c-
0
ias d e Samba.

" O c r e s c i m e n t o d a s E s c o l a s d e Samba e r a i n e
v i t á v e l , p o r q u e o e s p e t á c u l o aumentou,^ :e
pectador passou a t e r m a i o r d i s t a n c i a m e n t õ
em r e l a ç ã o a o d e s f i l e . V o c ê t i n h a q u e c r e s
ter o e s p e t á c u l o p o r q u e 6 i m p o r t a n t e que
e l e e v o l u a , v a i e v o l u i n d o senão morre.Esse
g i g a n t i s m o é i m p o r t a n t e p a r a as E s c o l a s de
Samba, e l a t e m q u e v i r a r um s u p e r e s p e t á c u -
10, n ã o t i n h a o u t r o r e c u r s o , s e n ã o acaba
r i a m o r r e n d o como o s R a n c h o s , a s Grandes
Sociedades, os d e s f i l e s de F r e v o s ( . . . I O
importante é preservar dentro deste super
espetáculo as c a r a c t e r í s t i c a s fundamentaiç
q u e t e m a E s c o l a d e Samba."

4.3 - BOTANDO A ESCOLA NA AVENIDA

4.3.1 - UM ESPAÇO C ~ N I C O CHAMADO " S A M B ~ O R O M O "

A b u s c a d e um E s p a ç o C ê n i c o a d e q u a d o para o desfile
d a s E s c o l a s d e Samba f o i uma c o n s t a n t e n a s d é c a d a d e 6 0 , 70 e
80. Em 1 9 2 3 o d e s f i l e d a s E s c o l a s d e Samba p a s s o u a f a z e r paz
t e do p r o g r a m a o f i c i a l do C a r n a v a l Carioca;em 1942 r e a l i z o u - s e
o Ü l t i m o c a r n a v a l na P r a ç a Onze. N e s t a época os eventos c a r n-
a
valescos a c o n t e c i a m n a Rua d o O u v i d o r e na A v e n i d a Central. Em
1962 f o r a m c o n s t r u i d a s a s p r i m e i r a s a r q u i b a n c a d s na Avenida
Rio Branco [ a n t i g a Avenida Central) e a c o m e r c i a l i z a ç ã o d o d e-
s
f i l e t e m i n í c i o com a v e n d a d o s ingressos.
 Deve-se considerar a mudança d o s D e s f i l e s d a s E s c-
o

l a s d e Samba n o q u e s e r e f e r e a o E s p a ç o C ê n i c o em d o i s p e r í-
o
dos d i s t i n t o s :

1. No p e r i o d o a n t e r i o r a o SambÓdromo, com a construção

ção das arquibancadas na Avenida R i o Branco, em 1 9 6 2 , e as
suas sucessivas transferências: Presidente Vargas - 1963 a
1973, Avenida Presidente Antonio Carlos - 1974 a 1974, C-i
dade Nova - 1976, Avenida Presidente Vargas - 1977 [ p r Ó x-i
mo 2 Praça Onzel, e Avenida Marques de Sapuca - 1978 a
1983. Neste período, que compreende 21 anos, o crescimento
r e s u l t o u a elevação das arquibancadas, embora f o s s e um e-
s
paço menor e que r e c e b i a decoração, sendo portanto um e-
s
p a ç o q u e g u a r d o u d i f e r e n ç a s r e l e v a n t e s com r e l a ç ã o aquele
que o substituiu.

P i s t a d o D e s f i l e d a s E s c o l a s d e Samba, na Marquês de Sapucai,

ano de 1978. As a r q u i b a n c a d a s eram montadas e desmontadas to-
dos o s anos, e a p i s t a recebia decoração.
P i s t a d o . D e s f i l e d a s E s c o l a s d e Samba, A v e n i d a M a r q u ê s d e S a p-
u
cai, ano d e 1979. O d e s f i l e o b e d e c i a p r o p o r c i o n a l m e n t e a o E s p-
a
ço cênico, fechado pelos elementos decorativos da Avenida.
2. P e r í o d o p o s t e r i o r a o SambÓdromo, com a c o n s t r u ç ã o d a
" P a s s a r e l a do Samba", q u e s e i n i c i a em 1 9 6 4 o n d e s ã o rea-
lizados os desfiles atuais, na Avenida Marquês de Sapucai.
O novo e s p a ç o C ê n i c o f o i p r o j e t a d o com d i m e n s õ e s maiores
de arquibancadas e largura de pista, não recebendo d e c o r-
a
ç ã o e com o s i s t e m a d e i l u m i n a ç ã o d i f e r e n t e d a s p i s t a s a-
n
teriores, que r e c a i a apenas sobre a Escola.

N e s t a s t r ê s d é c a d a em q u e s u c e s s i v a s v e z e s foram
transferidas de local, a s E s c o l a s d e Samba a d a p t a r a m - s e 5s d-
i
f l c u l d a d e s d e acesso decorrentes da disposição urbana da c i d-
a
de, e a o s novos e s p a ç o s que l h e s eram d e s t i n a d o s . Esta a d a p t-
a
ção t r o u x e mudanças s i g n i f i c a t i v a s na e s t r u t u r a v i s u a l do des
f i l e e em s u a o r g a n i z a ç ã o c o m o e s p e t á c u l o .

O ângulo visual d o p Ú b l i c o f o i a l t e r a d o com a eleva A

ção das arquibancadas, verticalizando esta visualização, e em

resposta a isto, cresceram os elementos visuais das Escolas, -
a
d e r e ç o s d e mão m a i s longos, chapéus e esplendores maiores e
carros alegiricos mais a l t o s . J á na Avenida P r e s i d e n t e Vargas
e s s a s a l t e r a ç õ e s se f i z e r a m p r e s e n t e s :

"(...)na apresentação da Presidente Vargas

e s t e v i s u a l começa a mudar d e â n g u l o , quan
d o a s a r q u i b a n c a d a s c o m e ç a r a m a t e r uma v i A

s ã o d o a l t o , e n ã o n a h o r i z o n t a l , e s e i n -i
tia n e s t e p e r i o d o o u s o d a s a l e g o r i a s de
m ã o , p a r a l e v a n t a r o v i s u a 1 , e tanibém os
c a r r o s a l e g ó r i c o s começaram a c r e s c e r , p o r
que s e eles continuassem pequenos f i c a r i a m
mais achatados, já que a v i s ã o e r a do a l t o
para baixo."

De 1 9 6 2 a 1963 o s d i v e r s o s Espaços, além de mudarem

de localização, recebiam elelemntos decorativos, o q u e o s d i f-
e
r e n c i o u d o SambÓdromo. Com a c o n s t r u ç ã o d a P a s s a r e l a d o Samba
o d e s f i l e d a s E s c o l a s t o m a uma nova dimensão, para acomodar-se
a um e s p a ç o m a i o r t a n t o n a s a r q u i b a n c a d a s q u a n t o n a p i s t a .
 Conforme observamos na i l u s t r a ç ã o da p á g i n a a n t e r i o r
na P l a n t a d a P i s t a d o D e s f i l e , a disposição das arquibancadas,
feita em m ó d u l o s , r o m p e com o e s p a ç o f e c h a d o , ao serem s e p a r-
a
das por vãos de t r i n t a metros. Estes espaços vazios afetaram
não s ó a c u s t i c a m e n t e o d e s f i l e , mas também na i n t e g r a ç ã o com
u público, p e l o d i s t a n c i a m e n t o e n t r e um m 6 d u l o e o u t r o .

A s arquibancadas d i s p o s t a s do lado esquerdo, no s e-

n
tido entrada/Praça da Apoteose, s e contrapõem a o s camarotes,
e nos espacos i n i c i a l m e n t e destina-os ao público, localizados
na p a r t e t é r r e a , foram colocadas cadeiras de p i s t a e mesas, n-
u
ma s o l u ç ã o q ~ ee l e v o u o c u s t o d e s t e s s e t o r e s . A idéia original
do a u t o r do P o r j e t o , o a r q u i t e t o Oscar Niemayer, e r a m a n t e r e-
s
t e espaço livre, em q u e o s i n g r e s s o s s e r i a m o s m a i s b a r a t o s , p -
a
r a d a r a c e s s o a s c a m a d a s m a i s c a r e n t e s d a p o p u l a ç ã o p a r a a s s i-
s
tir o desfile.

"A primeira i d é i a do Niemayer f o i excepcio

n a l , e l e f e z a c o i s a p a r a o povo e hoje
é injustamente atacado. Ele elevou a s a r
q u i b a n c a d a s p a r a q u e m p u d e s s e p a g a r e o põ -
vo e n t r a v a embaixo. Acontece que esquece
ram a i d é i a d o O s c a r , a d a " g e r a l " d o ~ a r ã
c a n ã s o b a s a r q u i b a n c a d a s , e b o t a r a m c a d e-i
r a d e p i s t a a l i embaixo, e o Oscar jamais
f a r i a um p r o j e t o d a q u e l e s sem p e n s a r n o p - o
v0 ."

A s p i s t a s d e d e s f i l e s a n t e r i o r e s a o SambÓdromo eram
c o n s t i t u i d a s d e a r q u i b a n c a d a s d e ambos o s l a d o s , e a decoração
d a p i s t a c o m p u n h a um " t e t o " . que tornava o espaço mais fechado,
cuja iluminação incidia sobre o desfile. Em s u a a t u a l d i s p-
o
sição, grande parte da p i s t a s ó p o s s u i a r q u i b a n c a d a s d e um l-
a
do e mÓdulos p a r a c a m a r o t e s do o u t r o , com e x c e ç ã o d a p a r t e f i
na1 da p i s t a , onde r e t o r n a a duplicidade d a s arquibancadas. A
Praça da Apoteose, d e s t i n a d a a uma f i n a l i z a ç ã o d o d e s f i l e sob
uma f o r m a "circular", não o b t e v e r e s u l t a d o s s a t i s f a t Ó r i o s , d a d a
a natureza l i n e a r do d e s f i l e , s e n d o a l t e r a d a e ocupados o s seus
e s p a ç o s com c a d e i r a s d e p i s t a , c o n f o r m e a s i l u s t r a ç õ e s s e g u i n t e s .
I l u s t r a ç ã o da v i s t a aérea da Praça da Apoteose. O espaço amplo
d e s t e l o c a l r o m p i a com o d e s f i l e l i n e a r , cuja solução f o i pre-
e n c h e r e s t e e s p a ç o com c a d e i r a s d o p i s t a , alongando o trecho
f i n a l da Avenida.
~AMBORDROMO Com a a p l i c a ç ã o d e D e c o r a ç ã o na P i s t a , experiên-
cia realizada em 1 9 8 8 .
 No a n o d e 1 9 . 8 8 a P a s s a r e l a d o S a m b a r e c e b e u d e c o r-
a
cão, mas e s t a e x p e r i ê n c i a n ã o f o i r e p e t i d a , e nos anos seguin -
t e s o SarnbÓdro.mo v o l t o u a ser utilizado sem e l e m e n t o s d e c o r-
a
tivos. Um d o s beneficias d o ~ a m b Ó d r o m of o i a s u a f i x a ç ã o , o
que permitiu a s u s p e n s ã o do p r o c e s s o d e montagem e desmontagem
das arquibancadas, com a l t o s c u s t o s e t r a n s t o r n o s p a r a o t r a-
n
s i t o urbano.

Ao c o n c e b e r e s t e e s p a ç o a r q u i t e t o n i c o , o estilo p e ~
soa1 do a r q u i t e t o I s c a r Niemayer produziu um c o m p l e x o d e m a j e-
s
tosa beleza e grand-osidade, adequado ao espetáculo para O

qual f o i destinado. O maior problema parece s e r justamente es

te: n ã o f o i um e s p a ç o c ê n i c o p r o j e t a d o p a r a s e r v i r a um d e t e-
r
minado e s p e t á c u l o , e s i m um e s p e t á c u l o q u e t e v e d e s e adaptar
a o novo Espaço C ê n i c o .

A p e s a r d o s b e n e f ~ c i o st r a z i d o s p e l a f i x a ç ã o , os pro
c e s s o s complementares do d e s f i l e - concentração e armação ( i n-i
cio1 e dispersão ( f i n a l ) constituem problemas a i n d a não r e s o-
l
vidos, pelas poucas a l t e r n a t i v a s oferecidas pela localização
do ~ambÓdromo.

O maior problema, razão de c r i t i c a s contundentes,foi

a f a l t a de consulta prévia às pessoas diretamente interessadas
mo E s p a ç o C ê n i c o , q u e i m p l i c a r i a a o G o v e r n o f a z e r uma p e s q u i s a
d a s c o n d i ç õ e s a d e q u a d a s p a r a um p r o j e t o d e t a m a n h a i m p o r t â n c i a
levando-se em c o n s i d e r a ç ã o o r e t o r n o f i n a n c e i r o p a r a o G o v e r n o
e ara a s E s c o l a s d e S a m b a .

"Eu s e m p r e d i s s e q u e o Sambódromo e r a uma

s o l u ç ã o e x c e p c i o n a l , econõrnica, p o r q u e em
c i n c o a n o s , m e s m o s e m g a n h a r um t o s t ã o , s Õ
o d i n h e i r o d a montagem e desmontagen econo
mizado já pagavam o d i n h e i r o i n v e s t i d o . C o ~
m a i s tempo o Niernayer t e r i a e s t u d a d o
l h o r e f i c o u a q u e l e problema d e a c ú s t i c a
muito d i f i c i l d e r e s o l v e r e que não
rne-

f o i
.
previsto."
 " A c h o q u e o S a m b õ d r o m o f o i uma d a s m a i o r e s
agressões c u l t u r a i s , porque e l e f o i cons
t r u i d o sem n e n h u m a p e s q u i s a , s e m nenhum:
o b s e r v a ç ã o ( . . . ) p o r q u e o um p r o j e t o a r q u i
t e t õ n i c o d e v e s e r f e i t o e m c i m a d e uma r e ã
l i d a d e p a r a a q u a l e l e v a i s e r construido^"

Muitas são a s c r z t i c a s , positivas e negativas,feitas

pelos Carnavalescos entrevistados, e alguns pontos são c o n-
s
t a n t e s em d e u s d e p o i m e n t o s :

" A q u i l o é p ~ s s i m o , q u e me d e s c u l p e o Oscar
Niernayer, mas o s C a r n a v a l e s c o s d e v i a m te-
p a r t i c i p a d o , t e r s i d o o u v i d o s a l i na -
ma
quete mostrada ao P r e f e i t o , porque isso
s i m d e s c a r a c t e r i z o u o d e s f i l e das Escolas,
não o s C a r n a v a l e s c o s ( . . . I "

"[...)já e r a tempo do R i o d e J a n e i r o t e r um
palco para e s t e espetáculo. profundamen
t e c r i t i c a d o , mas eu a c h o q u e é f u n c i o n a l
o q u e f a l t a a l i n o f i n a l é uma c u r v a , por
q u e quando c h e g a na A p o t e o s e o povo P e&
s a que já acabou e ainda e s t á sendo julg- a
do Evolução e o u t r a s c o i s a s . "

"(...Ia Sapucaí é cinza, f a l t a iluminação

decoração, cor de carnaval, e o Niemayer
.
p r o j e t o u uma p i s t a d e d e s f i l e m a s e s q u e c e u
que existem ruas, postes, para s e chegar
ã Marques d e S a p c u a i . O g r a n d e problema é
o acesso e a dispersão, onde a g e n t e perde
p o n t o e s e s u j e i t a a m u l t a p o r uma obra
f a r a ô n i c a , l i n d i s s i m a , m a s em l u g a r erra
d o , I'

Alexandke Louzada
" A c h o q u e é um m a l n e c e s s á r i o , o C a r n a v a l e s
co não t e v e a c e s s o a o papo s o b r e o S a m b-
z
d r o m o , n ã o h o u v e uma c o n s u l t a , f o i 1 4 en
t r e e l e s mesmos e p r o n t o . Tudo bem,a i n t e n
c ã o d e l e com a A p o t e o s e e r a f a z e r s h o w s , a i
c r i a r a m e s s a p r a ç a e no p r i m e i r o desfile
 q u e t e v e n a q u e l e p o n t o f o i um v e x a m e , uma
desarmação t o t a l C...)"

Rena20 Lag e
" ( ... l h á um d e s e q u i l f b r i o d e m a s s a t e r r f v e l
d e um l a d o a q u e l e s c a m a r o t e s a p e r t a d o s , o -n
d e você percebe a s mordomias, o c a v i a r , a
champanhe, a s p e s s o a s m u i t a s v e z e s vendo o
d e s f i l e p e l a TV, p o r comodismo, e p o r ou
t r o lado, a s arquibancadas distantes,friaç
e m o d u l a d a s , com um i n t e r v a l o d e 3 0 m e t r o s
onde você vê longe, a t r á s d a s grades o v i a
d u t o , o povo que d e v e r i a e s t a r a s s i s t i n d o T
e que e s t á d i s t a n t e , o que 6 chocante."

Joãozinho Tninka
"(...lQuantos d e nós poderiamos i n d i c a r a-
t r a v é s de l u z a necessidade de aconchego ,
d e aproximação, de vibração das pessoas,as
que estão desfilando, do Mestre Sala e da
P o r t a Bandeira, d a s Baianas que adoram f a
z e r cumprimentos (...I isso tudo muitos
d e nós que fomos do t e a t r o , que temos
nhecimento de cochia, de iluminação,
co
isso
-
p o d e r i a t e r ajudado e não fomos ouvidos."

O processo d e distanciamento f í s i c o do público com

r e l a q ã o a s d e s f i l e t e v e i n i c i o em 1 9 6 2 , quando a s a r q u i b a n c-
a
das foram construídas, elevando o ppublico. Muitas vezes este
distanciamento "físico" é c o n f u n d i d o c o m um d i s t a n c i a m e n t o "-
e
mocional" q u e na r e a l i d a d e não e x i s t e . O que e x i s t e é uma a l t -e
ração do Espaço Cênico, que anteriormente era construido com
um o u t r o t i p o d e m a t e r i a l , a madeira, q u e propiciava um outro
tipo de vibração, a l é m de' a n t e s p o s s u i r d e c o r a ç ã o , o que lhe
d a v a um "clima" diferente daquele de hoje.

O público do D e s f i l e , e m b o r a n ã o s e j a o mesmo de
trinta anos atrás, pelas condições financeiras e pelo e n c a r-
e
cimento da f e s t a , c o n t i n u a i n d o a o d e s f i l e movido p e l o lazer
e p e l o d e s e j o d e v e r a s E s c o l a s d e Samba. Não p r o c e d e em - s ~ a
totalidade, a argumentação d e que o "povão", aquela faixa mais
carente de recursos, f o i a f a s t a d o do d e s f i l e e d a s Escolas de
Samba. A própria E s c o l a d e S a m b a e o D e s f i l e s o f r e r a m um prg
cesso de ampliação e absorveram, a i n d a na d e c a d a d e 7 0 , p e ç s o a s
oriundas de o u t r o s segmentos da sociedade, atraidas pela sua
crescente imoortãncia no C a r n a c a l C a r i o c a .

A acolhida d a s E s c o l a s d e Samba n ã o d e p e n d e apenas

de sua apresentação, m a s t a m b é m d a e m p a t i a p o r e l a s c r i a d a . M u-
i
t a s E s c o l a s tem n a s a r q u i b a n c a d a s t o r c i d a s o r g a n i z a d a s , em
moldes i d ê n t i c o s 5 t o r c i d a s d e f u t e b o l , que comparecem a o d e-
s
f i l e para estimular a sua Escola, e i s t o prova que a comunida A

de d e l a não se afasta, não i m p o r t a n t o o n i v e l social a que

pertença.

O ~ a m b Ó d r o m ot e m d e f e i t o s e qualidade, mas é o E s p-
a
ço Cênico onde a s E s c o l a s Desfilam, e onde o p ú b l i c o a s r e c-
e
be, e e s t a r e c e p ç ã o não s e a l t e r o u d u r a n t e t o d a a h i s t ó r i a d a s
E s c o l a s d e Samba. para e s t e espaço que o Carnavalesco p r o j-
e
t a o c a r n a v a l da Escola, l a n ç a n d o mão d e s e u s r e c u r s o s e c0
nhecirnentos, em q u e o o b j e t i v o é s e m p r e r e a l i z a r o m e l h o r d e-
s
file.

"O ~ a m b ó d r o m o f o i p o s i t i v o em r e l a ç ã o a o e s
paço f í s i c o destinado ao d e s f i l e das ESC;
ias. um e s p a ç o f r i o , a n t i g a m e n t e n a ~re
sidente Vargas s e montava a q u e l a s arqui
b a n c a d a s com t u b o s d e f e r r o e t á b u a s h o r r- õ
r o s a s , mas a c o n t e c i a o c a l o r humano, com
mais brilho e n t r e o d e s f i l e e o assistente.

" ( . . . ] F o i solucionada a Praça do "Apocalip A

se", porque a q u i l o e r a a praça do caos, e

que a s E s c o l a s chegavam a l i e debandavam
p o r q u e v o c ê n ã o t e m como c o o o r d e n a r um
t r a b a l h o d e d e c a d a s e d é c a c a d s q u e sã a c o n
t e c e em s u a h a r m o n i a e c o n j u n t o numa 1i
nha r e t a [ . . . ) porque o e s p i r i t o do desfi
7
l e 6 em l i n h a r e t a - o u t r o g r a v e a s p e c t o e
a i m p o s s i b i l i d a d e d e uma d e c o r a ç ã o , a uti
l i z a ç ã o d a q u e l a i l u m i n a ç ã o pode ser Õtimã
p a r a TV, mas 6 p é s s i m a p a r a a s E s c o l a s de
Samba, p o r q u e é d e m e r c u r i o , iluminação
 p a r a e s t á d i o d e f u t e b o l , não d e um local
d e e s p e t á c u l o c o l o r i d o , o n d e a c o r e a f o-r
ma [ . . . . I são a s t õ n i c a s da Escola. (...I
aquela luz de mercúrio deixa a platéia to
da iluminada, não f a c i l i t a n d o a atençãõ
que a n t e s a c o n t e c i a quando a iluminação
e r a em c o m a d a s E s c o l a s .

4.3.2 - A ESCOLA D E D E S F I L E - CLIKAX DO CARNAVAL

O D e s f i l e d a E s c o l a d e Samba s i g n i f i c a o momento de
maior expectativa para todos o s seus componentes, p a r a o p Ú b l-
i
co e para o Carnavalesco. Um d o s f a t o r e s d e v i t a l i d a d e do prh
prio Desfile é a competição e a apresentação pública, q u e p o l-
a
r i z a m d u r a n t e m u i t o tempo g r a n d e s e n e r g i a s da Agremiação e da
queles que por e l a trabalham.

O Carnavalesco, quando a Escola segue para a Avenida

já concluiu seu trabalho, e acompanha a E s c o l a p a r a coordenar
sua armação junto com o s D i r e t o r e s d e H a r m o n i a , q u e montam a
Escola a t r a v e s do r o t e i r o que determina sua organização.

O D e s f i l e d e E s c o l a s d e S a m b a h o j e t e m uma concepção
de organização que n u i t o se a p r o x i m a d a b p e r a , d a i sua c l a s s-i
f i c a ç ã o d e "Opera d e Rua". O Carnavalesco Joãozinho Trinta f o i
um d o s p r i m e i r o s a t r a b a l h a r o b j e t i v a m e n t e n e s t e s e n t i d o :

"(...leu comecei a v e r que o d e s f i l e de E-

s
c o l a s d e Sama é e x a t a m e n t e a e s t r u t u r a da
Ópera, do grande espetáculo, a p a r t i r do
i n s t a n t e em q u e o d e s f i l e s e b a s e i a num
l i b r e t o , e e s t e l i b r e t o , o e n r ê d o , me d-
e
senvolve a parte de cenografia, que são os
carros alegóricos, a parte de coreografia
q u e é o s a m b a , a d a n ç a , o d a r no p é , d i v-
i
d i d o s e s a t a m e n t e como na o p e r a , no corpo
d e b a i l e que são o s p a s s i s t a s , que sambam
e não cantam, e tem que se f a z e r e s t a d i v i
s ã o na Escola (...I como numa ò p e r a este
" d a r no pé" 6 dança p u r a , é o b a i l a d o ( . . . 1
 quem c a n t a , quem e v o l u i , quem f a z o m o v-
i
mente c o m o c o r p o d e c o r a l s ã o a s A l a s ( . . . )
o s c a n t o r e s , a s p r i m a s - d o n a s q u e em E s c-
o
l a s d e Samba s ã o o s d e s t a q u e s . ( ...
1 a e-
s
t r u t u r a t e a t r a l é a mesma, v o c ê t e m a o-
r
q u e s t r a , que 6 a b a t e r i a , e sobretudo v-
o
c ê tem que t e r a o r g a n i z a ç ã o .

E s t a v i s ã o t e a t r a l s o b a f o r m a d e uma g r a n d e opera
p o p u l a r obrigou a organização e coordenação do e s p e t á c u l o a
uma d i s c i p l i n a c a d a v e z m a i o r , d i f e r e n t e do p a d r ã o inicial
d a s p r i m e i r a s E s c o l a s d e Samba. P e l o crescimento do c o n t i-
n
g e n t e humano e p e l o a u m e n t o d o s C a r r o s A l e g o r i c o s , o i m p r o v-
i
s o e a d e s o r d e n a ç ã o d a montagem d o s d e s f i l e s f o r a m s e n d o s-
u
b s t i t u i d o p o r uma i n f r a e s t r u t u r a mais técnica de direção
de espetáculo, p a r a a t e n d e r 3 s s u a s e x i g ê n c i a s e também a um
regulamento cada vez mais detalhado e r í g i d o para o julgamen
t o das Escolas.

Antes do Carnavalesco a b s o r v e r a a t i v i d a d e de Dire-

t o r de Espetáculo, v i s t o que a t é a década de 70 e l e apenas -a
judava a armar a Escola, o principal personagem responsável
p e l a armação e r a o D i r e t o r d e Harmonia. Hoje a s E s c o l a s pos-
s u e m uma e q u i p e d e D i r e t o r e s d e H a r m o n i a , que controlam as
v á r i a s e t a p a s do d e s f i l e , conforme a cronometragem que e-
s
t ã o submetidas.

"Claro que a q u e l a harmonia f e i t a a n t e s pe

10 D i r e t o r d e H a r m o n i a e r a p o s s i v e l por
q u e a s E s c o l a s e r a m m e n o r e s , com menos
componentes e a q u e l a f i g u r a do Diretor
d e Harmonia p o d i a na h o r a na a v e n i d a a r
1 "-
rumar o s c a r r o s , que eram pequenos. Nao
havia o problema d e tempo, você t i n h a o
tempo que q u i s e s s e e c o n t i n u a v a arrumando,
a s c o n d i ç õ e s eram d i f e r e n t e s ( . . . I a s c o-i
s a s a c o n t e c i a m um p o u c o a l e a t ó r i a m e n t e . E
com uma v i s ã o t e a t r a l , s o b r e t u d o d e q u e o
d e s f i l e é um e s p e t á c u l o á u d i o - v i s u a l , f o i
q u a n d o começou a s e a l t e r a r e s t e sentido
d e harmonia (....Ia; s i m , começa a despon
t a r a f i g u r a do Carnavalesco,aquele C o o-r
 d e n a d o r , p a r a q u e d e r e p e n t e n ã o a c o n t e c e-
s
s e o samba d o c r i o u l o d o i d o . "

Carnavalescos mais antigos, como J u l i o M a t t o s , c o n h-

e
4

c i a m f õ r m u l a s bem m a i s s i m p l e s p a r a c o l o c a r a E s c o l a n a A v e n-
i
da, fÓrmulas que s e adequavam a o tamanho d a s Agremiações e ao
grau de intimidade possível entre o Carnavalesco e a s Alas,que
p e r m i t i a uma m a i o r p r o x i m i d a d e e controle.

"[...leu s e i e s c a l a r o meu t i m e e f a z e r ga
n h a r , a m a i o r i a na M a n g u e i r a , f u i e u quem
formou a s a l a s , pegava a q u e l e s grupos, não .
t i n h a nada d e A l a s R e u n i d a s , pegava o s g r- u
p o s d e d e z , v i n t e , e e u mesmo d a v a o s no
mes d a s A l a s , b o t a v a n o l i v r o e d a v a os
Figurinos, e conhecia todas a s Alas que
c a n t a v a m bem e a s q u e n ã o c a n t a v a m , a que
e v o l u i a mais e a que não evoluiam e eu e-
s
calava c o m o um t i m e d e f u t e b o l . Q u a n d o a
Escola e n t r a v a eu botava a primeira e se
g u n d a a l a a r r e b e n t a n d o , no m e i o e no fi
n a l , a s A l a s m a i s f o r t e s vinham na frente:
a i e s t o u r a v a o c a r n a v a l e o samba também
a j u d a v a , g a n h a v a a q u e l e q u e e r a bom."

A elaboração do r o t e i r o , que ser; entregue Direção

d e H a r m n i a e também comissão Julgadora, deve ser a mais d e-
s
critiva possivel, podendo s e r i l u s t r a d o com d e s e n h o s o u e s q u-
e
mas q u e r e p r e s e n t e m a d i v i s ã o d a E s c o l a e o p o s i c i o n a m e n t o d o s
Carros Alegóricos, como e s t á r e p r e s e n t a d o no R o t e i r o d a E s c o l a
d e Samba E s t á c i o d e s;, do Carnavalesco Mario Nonteiro. na pa
gina seguinte, d e s i g n a n d o t o d a s a s p o s i ç õ e s d o s s e t o r e s d o d e-
s
file.

A 'etra d o S a m b a f u n c i o n a c o m o um "roteiro" musical,

que descreve o enredo e completa na Avenida a conjugação dos
elementos audio-visuais do d e s f i l e , Nusica, Canto, D a n ç a e Ce-
nograf i a .
 1 ,.. :. i :,-,L .,: ,,. -.i - . .. . 7 II
.-_^ __l_.-l._. .-- ...-
1 ; ; r-.-
1
.j * ! i.!
i :--- .;:,,
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FINI~L DO DESFILE
 !
Oh, !Yi(?:j [3i-XiI
É i:ii:,~l~,6 Dreya Bis
(;c pjg;:r o I~ici.:ocoirie
Se clevcr o bicno prqa

Veja, tati: a bcl<?z;ic? pcjesia

Traz o circo i3r;isiI... E3ra:;iI ... BicisiI...
A f c;tAc:iv e1i.i r:ic?lorlia
II-(.III~Z;I o cii;~i ] dia
,,
I-lr:li(:, niy b;ii)y", scnie o toclue
O "[?oll;li-" 6 r1i:::I;g (jinI1rir.o
() i;ic.ii S;-jri.iha dai ii:a "coc k"
Ti~clofalso-vcrdoicieiro

. Gira, bniiiiia, giiou

Cnrrnc?ni Mil-ancirivirou
Atner ic;:t-ta, r ~ i r i ~ h [;I ? i i
O!tiii o qli(' (1 t?1:1l;ifl~lr0~ C L
\/olkoii iatariclo ingles
O "Br~iriI" rntir-coti t~obeira .

Televis5o
D e i ~ s ad ; ~fil:;~iil;l~.2~i
B;llcão ti(: fnnt;isiii
De prc)(Juio:;i?iTiprC ii(>bi-e
Cega r ~cc),C C ~ ; Ipobrc:
É .coi-iscirpo, Iiipocrisia
Quat1tci çiii.idi>ri~>
De iiossos v;.~loics CLI!tiit.ai~
' Pir,i;iyciiriha e Nocl
O f unciacfor 1srn;iel
E outros imoi-tais
 Para o Carnavalesco, armar a Escola 6 a sintese de
um e x t e n s o e d e s g a s t a n t e t r a b a l h o , um momento d e g r a n d e t e n s ã o
e também d e r e a l i z a ç ã o a r t í s t i c a . O carnaval que e l e i d e a l i z o u
e projetou c h e g a a o s e u p o n t o máximo, representado por atores
anonimos e desconhecidos, q u e n a q u e l e momento s e unem no g r a-
n
d e e s p e t á c u l o a p r e s e n t a d o p e l a E s c o l a d e Samba. Um c l i m a x Ú n-
i
co e emocionante, em q u e t o d a s a s E s c o l a ç , independente de seu
poder f i n a n c e i r o , são a s mais b e l a s e r i c a s manifestações -
popu
l a r e s do C a r n a v a l C a r i o c a .
V - QUE P R O F I S S Ã O ESTA?

5.1 - 0 Q U E E SER CARNAVALESCO.

F O R M A Ç Ã O PROFISSIONAL

P a r a c o m p r e e n d e r m o s a e v o l u ç ã o d a p r o f i s s ã o d e C a-
r
navalesco, é n e c e s s á r i o a n a l i s a r um d e s e u s p o n t o s b á s i c o s , a
sua formação. E s t a formação s e p r o c e s s a a t r a v é s do a p r e n d i z a - -
odireto junto a outros Carnavalescos, geralmente dentro do
proprio Barracão. Uma e x p e r i ê n c i a p r o f i s s i o n a l p r é v i a é na
maioria das vezes necessária, p o i s a s á r e a s que oferecem s u-
b
s i d i o s para o s conhecimentos - como C e n o g r a f i a e B e l a s A r t e s ,
não e s t ã o d i r e t a m e n t e l i g a d a s a o c a r n a v a l . .

A r e a s como a C e n o g r a f i a e a s A r t e s P l á s t i c a s cos-
tumam f o r n e c e r a b a s e t e ó r i c a e a r t i s t i c a , bem como a e x p e r i -
ência das áreas de espetáculos, shows e t e l e v i s ã o . Como já
foi dito, n ã o e x i s t e um c u r s o e s p e c i f i c o d e f o r m a ç ã o p a r a C a-
r
navalescos, e a s á r e a s a f i n s f u n c i o n a m como s u p o r t e . O que
não impede que p r o f i s s i o n a i s d e o u t r a s área-s façam c t i n t a t o
c e ; l , d e s c u b r a m n o c a r n a v a l um m e i o d e e x p r e s s ã o e c a m p o d e t r-
a
balho. E o q u e a c o n t e c e com a q u e l e s q u e s ã o e n g e n h e i r o s , m é d-i
tos, fonoaudiÓlogos, professores, designers e outros. O con-
t a t o com a E s c o l a d e S a m b a e a o p o r t u n i d a d e a b r e m c a m i n h o p:
para a profissionalização.

Em p r i n c i p i o p o r t a n t o , n ã o h á um p r é - r e q u i s i t o o f-
i
c i a l p a r a q u e o i n d i v i d u o s e t o r n e um C a r n a v a l e s c o . Mas h á -
a
queles elementos i n e r e n t e s à a t i v i d a d e que o habilitam a e l a .
A t r i b u t o s como c r i ú t i v i d a d e , conhecimentos de desenho e s o-
n
cepção a r t i s t i c a s ã o i m p o r t a n t e s p a r a a formação do p r o f i s s i -
o
nal.

~ i s t õ r i c a m e n t e ,a formação do Carnavalesco s e pro

c e s s a a t r a v é s do aprendizado p r á t i c o d i r e t o do Barracão. Na
e q u i p e d e Fernando Pamplona, na d é c a d a d e 6 0 , e s t e aprendiza-
d o f o i p r e c e d i d o d e uma p a r t i c i p a ç ã o n a e t a p a i n i c i a l d o s p r -
o
jetos, fossem e l e s de decoração de clubes e ruas, fossem no
c a r n a v a l d a E s c o l a d e Samba.

Um f i g u r i n i s t a , um e s c u l t o r o u um a d e r e c i s t a p o d e m
a o s e f i x a r numa e q u i p e , p r o s s e g u i r o mesmo c a m i n h o d e um C a-
r
navalesco, c o m o f o i o c a s o d e Wany A r a ú j o , que p a r t i c i p o u da
e q u i p e d e J o ã o z i n h o T r i n t a na B e i j a F l o r , tornando-se e s c u-
l
t o r e mais t a r d e Carnavalesco,

O u t r o s C a r n a v a l e s c o s podem a i n d a d i v i d i r s e u t r-
a
b a l h o com um p a r c e i r o , iniciando-o na p r o f i s s ã o , m a n t e n d o . ou
não a p a r r c e i r a , como f o i o c a s o d e E r n e s t o N a s c i m e n t o com
Fernando Pinto. Por sua vez, em t o r n o d e F e r n a n d o P i n t o a g r-
u
param-se individuos que, absorvendo o s conhecimentos técnicos
e a r t i s t i c o s p r e s e n t e s no b a r r a c ã o , partiram para experiências
pessoais, como C a r l o s D ' A n d r a d e e Roberto Costa.

i m p o r t a n t e c o n s i d e r a r que e s t e s i s t e m a d e a p r e-
n
dizado e transmissão de conhecimento torna-se uma f o r m a d e s -
e
leção entre os profssionais, v i s t o que só a p a r t i r da e x p e r-i
e n c i a d i r e t a é q u e o C a r n a v a l e s c o p o d e c o m p r o v a r s u a c o m p e t e-
n
cia. Sem o a p r e n d i z a d o d o B a r r a c ã o , , onde toma c o n t a t o não
s ó com a s t é c n i c a s , m a s com o p r o p r i o m u n d o d a E s c o l a d e -
Sam
ba, d i f i c i l m e n t e o i n i c i a n t e s e r á c o n v i d a d o a f a z e r um c a r n a -
val.

Em t r i n t a a n o s p o u c a s f o r a m a s a l t e r a ç õ e s neste
processo de formação, a não s e r a a m p l i a ç ã o d a s f o n t e s f o r n-
e
cedoras de pessoas aptas a fazer o carnaval. Levando-se em
c o n s i d e r a ç ã o que a m a i o r i a d a s p e s s o a s tem d u r a n t e o ano uma
ocupação p a r a l e l a , nem s e m p r e a p r i m e i r a e x p e r i ê n c i a como C a-
r
n a v a l e s c o r e s u l t a r á na sua continuidade, e muitas vezes f u-
n
c i o n a r á como uma o c u p a ç ã o a l t e r n a t i v a , mesmo com t o d a a c a r g a
de absorção que a a t i v i d a d e exige.
 A l g u n s p r o f i s s i o n a i s e q u i l i b r a m a a t i v i d a d e d e C a-
r
n a v a l e s c o s com o u t r a s q u e e x e r c e m f o r a d o m u n d o d o s a m b a , t o-
r
nando a e x p e r i e n c i a r i c a d e t r o c a d e informações, como é O

c a s o do Cenógrafo Mario Monteiro, q u e t r a b a l h a p a r a a R e d e G l-

o
bo e é C a r n a v a l e s c o d a E s t á c i o :

"Acho q u e o c e n ó g r a f o r e u n e t o d o s e s s e s a
t r i b u t o s , e u s o u um c e n ó g r a f o p r o f i s s i o r
na1 e a cenografia é muito abrangente
n e s t e s e n t i d o , porque quando você vai
f a z e r um c e n á r i o t e m q u e e s t u d a r o te- x
t o , t e m q u e c o n v e r s a r com o d i r e t o r , c o - n
c e i t u a r o t r a b a l h o , c o n v e r s a r com o au
t o r p a r a o t r a b a l h o t e r uma u n i d a d e . r
e s s a experiência, e s s a vivência, que co-
l o c a o c e n ó g r a f o em c o n d i ç õ e s f a v o r á v e i s
p a r a f a z e r uma E s c o l a d e S a m b a , p o r q u e
e l e reúne tudo isso."

Por v e z e s pode a c o n t e c e r o i n v e r s o , e o C a r n a v a l e-
s
c o s e r c o n v i d a d e p a r a t r a b a l h a r na T e l e v i s ã o a t r a v é s do t r-
a
b a l h o a p r e s e n t a d o na A v e n i d a , como f o i o c a s o d e S i l v i o C u n h a :

"[...)recebi um c o n v i t e d a TV M a n c h e t e , f -
a
z i a o f i g u r i n o d o B a r A c a d e m i a , e 1; fi
q u e i a t é d o i s a n o s a t r á s , t r a b a l h a n d o em
t o d a s a s p r o g r a m a ç õ e s d a c a s a , m a s o c o- n
v i t e f o i f e i t o a t r a v é s d o meu c a r n a v a l .
(...I Eu s o u um C a r n a v a l e s c o q u e s a i u d o
c a r n a v a l p a r a a TV, o c a s o do ~ á r i o f o i
o c o n t r á r i o , d a T V p a r a o c a r n a v a l . H; .
esse intercâmbio."

SiLvio Cunha
Deve-se c o n s i d e r a r q u e h o u v e uma a c e l e r a ç ã o no
processo d e aprendizado do Barracão, f a c i l i t a d o p o r um u n i v e -
r
so maior de t é c n i c a s e m a t e r i a i s mais a c e s s i v e i s que ampliaram
os recursos e conhecimentos dos Carnavalescos. A abertura do
mercado de t r a b a l h o , s o b r e t u d o na d é c a d a d e 7 0 , favoreceu a
e n t r a d a d e p r o f i s s i o n a i s c o m n o v o s conhecimentos, c u j o o b j e t i -
v o e r a d e s e e s t a b e l e c e r e m como C a r n a v a l e s c o . E s t a aceleração
f o i a u x i l i a d a t a m b é m p e l a f a c i l i d a d e d e o b s e r v a ç ã o d o s d i v e-
r
sos trabalhos, amplamente divulgados p e l o s meios d e comunica
ção de massa. A s u p e r v a l o r i z a ç ã o d a E s c o l a d e Samba e d o e-
s
p e t á c u l o g e r o u a v a l o r i z a ç ã o do p r o f i s s i o n a l que f a z i a o c a r
naval, determinando a f i x a ç ã o de e s t i l o s que caracterizaram
os Carnavalescos mais destacados.

Esta formação de aprendizado p r á t i c o n ã o é uma c -

a
r a c t e r i s t i c a da profissão de Carnavalesco, s e n d o c o m p a r t i l h-
a
da por o u t r o s p r o f i s s i o n a i s , como o C a r p i n t e i r o , o Ferreiro
e o Escultor, que t i r a m da v i v e n c i a do Barracão o s elementos
formadores de seu conhecimento.

" ( . . . ) n ã o e x i s t e uma " e s c o l a 1 ' d e C a r n a v a

l e s c o s , o processo é d e n t r o do ~ a r r a c ã õ
d a s E s c o l a s . Todo C a r n a v a l e s c o q u e eu
conheço f o i formado d e s t a maneira e a
g e n t e p o d e t e r uma f o r m a ç ã o a n t e r i o r o u
n ã o d e A r t e s P l ã s t i c a s , m a s a m a i o r p a- r
t e d o s C a r n a v a l e s c o s nunca passou p o r
uma e s c o l a d e A r t e s ~ l á s t i c a s , e nem
por i s s o deixou de s e r Carnavalesco, é
o proprio processo que ensina ( . . . I se
não p a s s a r p e l o B a r r a c ã o não v a i s e r
Carnavalescos, 6 a vivência que leva a
pessoa a s e r Carnavalesco.
Maaia Augunta

Neste sentido, nas décadas d e 60 e 70 a s equipes

q u e t r a b a l h a r a m com A r l i n d o R o d r i g u e s , F e r n a n d o P a m p l o n a , F e-
r
n a d o P i n t o e J o ã o z i n h o T r i n t a i l u s t r a m bem e s s a i d é i a d e g r -
u
pos geradores de p r o f i s s i o n a i s , que a t r a í d o s p e l o mercado d e
t r a b a l h o do c a r n a v a l , aproximaram-se -
d a q u e l e s q u e n a q u l e s mo
mentos encabeçavam a p r i m e i r a g e r a ç ã o d e C a r n a v a l e s c o s . Essa
aproximação é muito i m p o r t a n t e quando determina a c o n s o l i d a -
ção dos e s t i l o s a serem seguidos e que i n f l u e n c i a r i a m d i r e -
~ a
ou i n d i r t a m e n t e a n o v a g e r a ç ã o d e C a r n a v a l e s c o s . .
5.1.2 - UMA PROFISSÃO WULTTPLA

P a r a d e f i n l r m o s o p e r f i l d o p r o f i s s i o n a l C a r n a v a l e-
s
c o 6 n e c e s s á r i o também c o n s i d e r a r a s a t i v i d a d e s q u e e l e d e s e n -
volve nas d i v e r s a s e t a p a s doa execução do c a r n a v a l . Por ser
uma p r o f i s s ã o q u e vem s e d e l i n e a n d o a o l o n g o d e t r ê s d é c a d a s ,
algumas mudanças r e l a c i o n a d a s a s s u a ç ' á r e a s d e a t u a ç ã o s e pro
cessaram, ampliando significativamente a quantidade de funções
acumuladas pelo Carnavalesco.

Muitas denominações, i n c l u s i v e a p l i c a d a s p e l o s p r-
ó
prios profissionais entrevistados, d e c o r r e m d e uma q u a l i f i c a -
ç ã o c a d a v e z mais e s p e c i a l i z a d a e q u e p o r s u a v e z diminuem o
c o n c e i t o g e n é r i c o do que 6 " f a z e r um c a r n a v a l " . O tempo de
d u r a ç ã o d o c o n t r a t o também s o f r e u a l t e r a ç õ e s , abrangendo um
período mais extenso.

Pelo grau de envolvimento e absorção exigido por

seu trabalho, o Carnavalesco geralmente acumula d i v e r s a s e t-
a
pas, n u m e s q u e m a c o n t i n u o e s e m um h o r á r i o r i g i d o , o que o l-
e
va, p r i n c i p a l m e n t e no p e r í o d o m a i s p r Ó x i m o a o d e s f i l e , a se
i n s t a l a r em h o r á r i o s c a d a v e z m a i s l o n g o s n o b a r r a c ã o , em h-
o
r á r i o s que implicam t u r n o s continuos junto 2 s e q u i p e s q u e com
e l e e x e c u t a m o c a r n a v a l d a E s c o l a d e Samba.

Ao l o n g o d e s u a p r o f i s s i o n a l i z a ç ã o e com s u a c r e s -
cente importância n a s E s c o l a s d e S a m b a p e s t e acumulo d e r e s p o-
n
sabilidades tornou-se um m d e d i o r comum d a a t i v i d a d e p o r e l e -
e
xercida, e é n a t u r a l s u r g i r e m a n a l o g i a s com n o m e n c l a t u r a s r e -
lacionadas a profissiÕes de outras áreas, cujas atribuições
s e aplicam ao trabalho por e l e desenvolvido. Em n o s s a p e s q u i -
s a relacionamos a s mais importantes pela aplicação destas -
a
tribuições:
1. A U T O R D O ENREDO - Quando propõe o enredo p a r a o Carna-
v a l d a E s c o l a d e Samba.

2. ESCRITOR E PESQUISADOR - Quando e s c r v e a Sinopse, par

tindo do enredo proposto, p e s q u i s a n d o o s e l e m e n t o s n e c e-
s
s ã r i o s p a r a o desenvolvimento do argumento..

3. ROTEIRISTA - Quando e l a b o r a o R o t e i r o p a r a organização

e a r m a ç ã o d a E s c o l a d e Samba no D e s f i l e .

4. CEN~GRAFO - Q u a n d o c r i a o p r o j e t o d e d e c o r a ç ã o d o s c a-
r
r o s a l e g r o i c o s d e E s c o l a d e Samba.

5. FIGURINISTA - Quando d e s e n h a o s F i g u r i n o s , elaborando

também a p e s q u i s a d o m a t e r i a l p a r a f a n t a s i a s e o s e s q u e -
mas c r o m á t i c o s a serem a p r e s e n t a d o s .

6. ADERECISTA - Quando e x e c u t a o s P r o t o t i p o s d e F a n t a s i a s
e p a r t i c i p a da execução dos adereços e açegorias, muitas
v e z e s t e n d o q u e e x e c u t a r d e t e r m i n a d a s p e ç a s p a r a r e p r e s e-
n
t a r a solução por e l e desejada para sua confecção. Isto
p r e s s u p õ e q u e o C a r n a v a l e s c o p o s s a também f a z e r e s c u l t u -
ras, e t r a b a l h a r na p a r t e d e c o s t u r a e c h a p e l a r i a .

7. PROJETISTA - Quando p r o j e t a a s e s t r u t u r a s p a r a o s c a r r o s
alegóricos, contendo a descrição detalhada da ferragem,
carpintaria, mecânica (movimento d e elementos d e c o r a t i -
v o s do c a r r o 1 e i n s t a l a ç ã o e l é t r i c a e h i d r á u l i c a , c o n f o r -
me o s e f e i t o s e s p e c i a i s p o r e l e d e s e j a d o s .

8; PRODUTOR DE ESPETACULO - Quando d e t e r m i n a o p o s i c i o n a -

mento d o s d e s t a q u e s e a e s c o l h a d e t i p o s e s p e c i f i c o s pa-
r a p a p ê i s a s e r e m r e p r e s e n t a d o s no e n r e d o . Q u a n d o p o s i c-
i
ona a s Alas conforme a f a i x a e t á r i a e sexo, e a i n d a con-
forme o ritmo e c a r a c t e r i s t i c a s i n d i v i d u a i s de cada a l a .
9. PESQUISADOR DE MERCADO - Quando f a z o levantamento do
c u s t o p r e v i 0 do c a r n a v a l , :envolvendo custo de alas e
c u s t o do b a r r a c ã o , determinando os materiais a s e r e m u t-
i
lizados. Nesta atividade, é f e i t a em c o n j u n t o com a
que
-
omissão d e C a r n a v a l , m u i t a s v e z e s o C a r n a v a l e s c o é t a m
- bém o C o m p r a d o r d e m a t e r i a l .

10. COORDENADOR - Quando f a z a coordenação g e r a l dos t r a b-

a
lhos de Barracão, em c o n j u n t o com o s C h e f e s n o m e a d o s pa
ra a s diferentes áreas. Quando f a z a checagem d a s alas
em c o n j u n t o com a C o m i s s ã o d e C a r n a v a l e o s P r e s i d e n t e s
de Alas, solucionando problemas de a l t e r a ç õ e s nas fanta--
sias.

11. DIRETOR D E ESPETACULO -- Q u a n d o em c o n j u n t o com o D e i r e -

t o r d e Harmonia d i r i g e e arma a E s c o l a d e Samba, acompa-
nhando-a a t é a dispersão.

12. C O N T R A REGRA - Quando na a r m a ç ã o e no d e s f i l e 6 chama-

do a r e s o l v e r problemas d e Última h o r a com o s c a r r o s a l e -
góricos, destaques e alas, em c o n j u n t o com a e q u i p e de
a p o i o d a d a p a r a e s t e f i m p e l a E s c o l a d e Samba.

13. R E L A Ç ~ E SP ~ B L I C A S -- Quando f o r n e c e à I m p r e n s a e a o s
meios de comunicação a s informações necessárias para a
d i v u l g a ç ã o do s e u t r a b a l h o e d a E s c o l a d e Samba. Esta -
a
t i v i d a d e é f e i t a também p e l o D e p a r t e m n t o C u l t u r a l . No p e-
riodo anterior ao d e s f i l e o Carnavalesco 6 muito s o l i c i -
tado por constantes v i s i t a s aos barracões p e l a s emissÕras
de rãdio e elev vi são, bein como p e l o s j o r n a i s . E sempre
s o l i c i t a d o a e x p o r num tempo b a s t a n t e e x i g u o , todo o car -
n a v a l q u e a E s c o ' l a d e Samba a p r e s e n t a r á no d e s f i l e .

14. ARTISTA PLASTICO - No s e n t i d o m a i s a m p l o d o t e r m o , q u a n -

d o l i d a com a e x p r e s s ã o f o r m a l e com a c a r a c t e r i z a ç ã o
p l á s t i c a do enredo.
15. ARQUTTETO - No s e n t t d o d e q u e um c a r n a v a l 6 todo um
p r o j e t o c o m p l e x o e m i n u c i o s o d e uma g r a n d e e s t r u t u r a , q u e
s e r á e x e c u t a d o em e t a p a s p o r d i v e r s a s e q u i p e s e p e s s o a s ,
mas c u j a a s s i n a t u r a f i n a l é d o C a r n a v a l e s c o .

Tendo e m v i s t a t o d a s e s t a s a t r i b u i ç õ e s , o conheci-
mento do Carnavalescodeve s e r abrangente, no s e n t i d o d e c a p-
a
citado a e s c o l h e r t e c i d o s e m a t e r i a i s p a r a c o n f e c ç ã o d e fan-
tasias, materiais para revestimento de carros alegóricos, ti
pos de madeira e ferragens para sua confecção, materiais para
confecção de e s c u l t u r a s e conhecimento d e proporções para a
execução destas. O conhecimento de todo e s t e universo de t e-
c
n i c a s e m a t e r i a i s s e a l i a a o c o n h e c i m e n t o d a c o n c e p ç ã o d o p r-
ó
prio espetaculo, sem o s q u a i s s e r á i m p o s s i v e l r e a l i z a r seus
propÓsitos.

A articulação d e s t a s funçÓes, u n i f i c a d a s numa só

proftssão revela antes de tudo que o Carnavalesco 6 um p r o f i -
s
sional múltiplo, centralizando em t o r n o d e s u a p e s s o a a s d -i
v e r s a s e t a p a s do carnaval, s e m p r e em c o n c o r d â n c i a com a e s t r i
t u r a o f e r e c i d a p e l a E s c o l a d e Samba. I s t o de c e r t a forma faz
d e l e um e l e m e n t o m i t i c o , d o n o d e t o d a s a s s o l u ç Õ e s e r e s p o n s-
á
vel pelo resultado obtido.

"Uma d e f i n i ç ã o g r o s s e i r a d o C a r n a v a l e s c o ?
Um b r u x o q u e c u i d a d a e x o r c i z a ç ã o c o l e t i
v a d e c i n c o m i l p e s s o a s no d i a d o d e s f i Y
l e , coordena essa exorcização loucal...)
A gente 6 meio parapsicÓlogo, porque a s
p e s s o a s t e e n v o l v e m numa a u r a d e m i t o d e
que você l i d e r o u a h i s t ó r i a , tudo pergun
t a m a v o c ê , v o c ê tem q u e t e r r e s p o s t a o_- b
j e t i v a p a r a t u d o , n ã o s e a c e i t a um nao
s e i , tem q u e t e r r e s p o s t a e v o c ê a c a b a
respondendo. "

Alguns Carnavalescos dividem a s e t a p a s d e execução

d o C a r n a v a l com o u t r o s C a r n a v a l e s c o s , e mesmo q u e n ã o e x e c u t e
qualquer dessas etapas, a p a r t i r d o m o m e n t o em q u e a s s i n a o
enredo da escola e l e passa a s e r o Carnavalesco que f a z aquele
carnaval. O esquema d e p a r c e i r a t e m m u i t a s v e z e s s u p r i d o a d-
i
v i s ã o d e f u n ç õ e s p e l o acumulo d e a t i v i d a d e s , o que f a c i l i t a
q u a n t o o a s p e c t o t é c n i c o e d i m i n u i também o d e s g a s t e f i s i c o
inerente a esta profissão.

"[...lestou v o l t a n d o e meu Ú l t i m o c a r n a v a l
f o i na P o r t e l a , e d e p o i s v o l t e i à s minhas
v e r d a d e i r a s o r i g e n . ~ ,q u e 6 s e r f i g u r i n i s
t a , e s e m p r e t r a b a l h e i com o J o ã o [ ~ r i n t a l
o que dava muito ce.rto, e u e e l e ; então
n ó s s e m p r e t r a b a l h a m o s j u n t o s , e u como F L
g u r i n i s t a . N a t u r a l m e n t e e u não t i n h a 100%
d e 1 i b e r d a d e . e ~t i n h a a p e n a s 50% porque
e s t a v a t r a b a l h a n d o d e n t r o do enredo de
outra pessoa. "
. . Vitiato Fenneina
"NÕS temos espaços t ã o c l a r a m e n t e d i v i d i -
d o s q u e n ã o há m u i t o s p r o b l e m a s [ . . . l M u i -
t a s vezes a gente troca informações, e l e
dá o p i n i ã o s o b r e a q u e s t ã o do enredo,mas
na q u e s t ã o d a F a n t a s i a eu não o u s o q u e s -
t i o n a r d e m a n e 5 r a nenhuma p o r q u e é ele
quem t e m o d o m i n i o d e d e s e n h o , d a f u n c i o -
nalidade da c o i s a [...leu posso pensar
como v a i s e r uma f a n t a s i a , t o r o n a r esta
f a n t a s i a uma r e a l i d a d e é c o i s a d e l e [ p e -
ronlI...lna parte de alegoria e gente
pega j u n t o , n a c o n c e p ç ã o e na f i n a l i z a ç á o
na d s c o r a ç ã o e no r e s t o . "

Rogenio Figueineda
Observamos d e s t a forma, um c o n j u n t o d e q u i n z e a t r i -
buiçÕes, r e l a c i o n a d a s c o n f o r m e s e c a r a c t e r i z a m numa t e r m i n o 1 -
0
g i a que mais s e aproxima das responsabilidades a e l a s r e l a c i-
o
nadas. N ~ Os e pode e s q u e c e r que a q u e l a s f u n ç õ e s que remetem
á r e a administrativa estão necessá'riamente ligadas ao suporte
d a d o p e l a E s c o l a d e Samba. O Carnavalesco deverá,desta forma,
t r a b a l h a r em c o n j u n t o com a C o m i s s ã o d e C a r n a v a 1 , c o m a q u e l e s
e n c a r r e g a d o s com o s e t o r d e a l m o x a r i f a d o e com a a d m i n i s t r a ç ã o
do B a r r a c ã o . No g r á f i c o s e g u i n t e e s p e c i f i c a m o s a s a t i v i d a d e s
conforme sua á r e a d e concentração:
 2 3 7-A

CARNAVALESCO

A R E A DE DESENVOLVIMENTO AREA DE C O N C E P Ç Ã O AREA -

ADMINISTRA
PLASTICO/VISUAL INTELECTUAL TIVA

CEN~GRAFO AUTOR DO ENREDO PESQUISADOR DE

MERCADO
FIGURINISTA ESCRITOR E -
PES RELAÇÕES P~~BLI
QUISADOR CAS
AOERECISTA ROTEIRISTA

PROJETISTA COORDENADOR Em canjun-to com

a C ~ m i ~ ~ ãdeo
PRODUTOR CONTRA-REGRA Cahnavat
ARQUITETO . DIRETOR DE ESPE-
TACULO
ARTISTA PLASTICO

5.2 - AS T R ~ SGRANDES "ESCOLAS" DE ARLINOO RODRIGUES,FERNAN-

DO P I N T O E JOÃOZINHO TRINTA

O Carnavalesco como c r i a d o r a r t í s t i c o do enrêdo,impr-

i
me a o s e u t r a b a l h o sua p e r s o n a l i d a d e a t r a v é s de'marcas que o c
r a c t e r i z a m e o d i f e r e n c i a m dos demais p r o f i s s i o n a i s . Considera
do o c a r n a v a l como uma "Escola Estética" c u j a forma de e x p r e-
s
são e n g l o b a a elaboração de F i g u r i n o s , Alegorias e Adereços,que
p e r f a z e m o c o n j u n t o v i s u a l do D e s f i l e , pode-se determinar em
a l g u n s a r n a v a l e s c o s uma u n i d a d e d e e l e m e n t o s e x p r e s s i v o s que
d e t e r m i n o u um e s t i l o p r ó p r i o d e f a z e r carnaval.

O e f e i t o v i s u a l d o c o n j u n t o d e uma E s c o l a d e Samba r -
e
m e t e a uma c a r a c t e r i z a ç ã o "barroca", no s e n t i d o de que t o d o s os
e l e m e n t o s i n d i v i d u a l i z a d o s s ó f u n c i o n a m em s u a p l e n i t u d e quan-
do r e u n i d o s n o t o d o da E s c o l a , e p e l a s suas c a r a c t e r f s t i c a s de
exuberância, g r a n d i o s i d a d e e ornamentação.
 Sabemos q u e é m u i t o complexo a p l i c a r c a t e g o r i a s ou
classificaçÕes est6ticas.ao carnaval, sob o r i s c o d e submete-
10 a uma limitação valorativa. Se considerarmos o d e s f i l e de
E s c o l a s d e S a m b a uma A r t e ~ ê n i c ap o r e x c e l ê n c i a , e s t a propos-
t a d e c l a s s i f i c a ç ã o d e v e r á m a n t e r uma a b e r t u r a d e i n t e r p r e t a -
ç õ e s d e maneira a não r e s t r i n g i - l a , nem a o s C a r n a v a l e s c o s a
s i m p , l e z c a t e g o r i a s e s t ~ t i c a s ,e s i m b a s e a n d o - s e n o p r o p r i o v-
o
cabulário que i d e n t i f i c a e s t e t i p o de produção a r t í s t i c a .

Dois f a t o r e s básicos determinam a configuração de

um e s t i l o p a r a o C a r n a v a l e s c o : a m a n e i r a como e l e t r a b a l h a o s
e l e m e n t o s v i s u a i s e o s m a t e r i a i s q u e n e l s u t i l i z a e o esquema
cromático que aplica ao desfile. No p r o c e s s o d e f o r m a ç ã o do
Carnavalesco, s e u t r a b a l h o p a s s a r á p o r d e p u r a ç õ e s q u e a m a d u r-
e
terão suas t é c n i c a s e sua linguagem, e e s t e processo indivi -
dual, como q u a l q u e r o u t r o p r o c e s s o a r t i s t i c o p r o f i s s i o n a l , 6
passivel de influências externas, a d v i n d a s d e m o d e l o s j á e s t-
a
b e l e c i d o s e q u e f u n c i o n a m como r e f e r e n c i a s a o p r o f i s s i o n a l .

No c o n t e x t o d a s t r ê s d é c a d a s a n a l i s a d a s n e s t a d i s -
sertação, podemos o b s e r v a r q u e t r ê s C a r n a v a l e s c o s se d e s t a c a -
ram p o r s u a a t u a ç ã o e p e l a s i n o v a ç õ e s p o r e l e s i n t r o d u z i d a s , e
que seus trabalhos influenciaram, d i r e t a ou i n d i r a t a m e n t e na
formação de outros p r o f i s s i o n a i s , como m o d e l o s ou "estilos"
que foram sendo seguidos por novos Carnavalescos. Muitas v-
e
zes os e s t i l o s destes Carnavalescos serfem de referência para
c o m p a r a ç ã o com o t r a b a l h o d e o u t r o s C a r n a v a l e s c o s , e isto r-
e
afirma o seu valor.

Estes três Carnavalescos - Arlindo Rodrigues, F e-

r
nando P i n t o e J o ã o z i n h o T r i n t a - foram o r p r e c u r s o r e s do que
c o n s i d e r a m o s a s t r ê s " e s c o l a s " q u e d o m i n a r a m e d o m i n a m o c e n-
á
r i o gerador d e novos Carnavalescos, pelos elementos que no
t r a b a l h o d e c a d a um d e s t a c a m o s a s e g u i r :
 A R L I N D O RODRIGUES - O CARNAVALESCO D A "FORMA"

O t r a b a l h o d e A r l i n d o R o d r i g u e s p o d e s e r c a r a c t e r-
i
z a d o p e l o a b s o l u t o c u i d a d o com a "forma", seja ela individua-
l l z a d a p o r c a d a e l e m e n t o q u e c o m p õ e uma F a n t a s i a ou A l e g o r i a ,
s e j a pelo conjunto que configura a tokalização dos d e s f i l e s
por e l e criados.

S e u t r a b a l h o com o s m a t e r i a i s s e m p r e f o i d e a l t a
precisão, d e t a l h a d o na e l a b o r a ç ã o d e s o l u ç Õ e s t é c n i c a s que
compõem a s s o l u ç Õ e s e s t é t i c a s p o r e l e d e s e n v o l v i d a s . Isto se
t r a d u z na e s c o l h a d e t e c i d o s p e r t i n e n t e s a o u s o q u e l h e s
-
e
dao, geralmente tecidos caros, em q u e o c u i d a d o a r t e s a n a l
t r a n s f o r m a c a d a p e ç a numa p e ç a e x t r e m a m e n t e t r a b a l h a d a , s o b r e
a qual a expressão formal do a r t i s t a sobrepõe-se a aparência
individual da peça. Um exemplo d i s t o s ã o a s f a n t a s i a s d e b a i-
a
n a s c o n f e c c i o n a d a s com r e n d a s f r a n c e s a s , onde o r e q u i n t e se
estendia à s a n a g u a s r e n d a d a s , q u e mesmo e s c o n d i d a s , e r a m a l v o
d e uma a p u r a d a e x e c u ç ã o .

No c a r á t e r t e a t r a l e p e l a e x u b e r â n c i a q u e m a r c o u o
trabalho de Arlindo Rodrigues, podemos d i z e r q u e e l e p o s s u i
uma c a r a c t e r i s t i c a " b a r r a c a " neste sentido de exuberância e
vitalidade formal, que s e estende a s alegorias "ornamentais"
q u e f u n c i o n a v a m como s u p o r t e c e n o g r á f i c o d e s e u s d e s f i l e s .

N ~ Op r e t e n d e m o s no e n t a n t o d e f i n i - l o como u m c a r n-
a
valesco "barroco", v i s t o q u e i s t o d a r i a margem a a p l i c a r m o s
o u t r a s c a t e g o r i a s da h i s t o r i a da a r t e a todos o s Carnavales -
cos, q u a n d o no momento d a m o s p r e f e r e n c i a a d e f i n i r , p e l o s s e u s
proprios elementos que o caracterizam, o " e s t i l o Arlindo".

A r l i n d o R o d r i g u e s s e d e s t a c a também p e l a p e r t i n e n -
c i a de sua harmonia cromática, q u e s e r v e como c o n t r a p o n t o $
exuberância formal dos elementos visuais de seu desfile. Nos
c a r n a v a i s do S a l g u e i r o , por exemplo, sobe determinar harmoni-
a s cromáticas leves que respeitavam os enredos d e linha afro-
brasileira, utilizando sobretudo a s cores da Escola, o verme-
lho e o branco.

Neste sentido, outra caracteristica é o realismo

d a d o a o t r a t a m e n t o e m a n i p u l a ç ã o d e m a t e r i a i s e a t é mesmo da
propria Escola. No c a s o d o S a l g u e i r o , em um e n r d e o a f r o - b r a s -
i
l e i r o A r l i n d o p o d e r i a t r a z e r a B a t e r i a com a s c a b e ç a s t o t a l -
mente raspadas, e a l a s v e s t i d a s com f a n t a s i a s f e i t a s c o m p a -
l h a da c o s t a e vime, m a t e r i a i s que e l e não modificava para
r e a l ç a r s e u p a p e l no e n r e d o .

Sem d ú v i d a , por sua importância na d é c a d a d e 60, é

natural que tenha s e t o r n a d o um r e f e r e n c i a l para outros C a-
r
navalescos, levando-se em c o n s i d e r a ç ã o q u e com s u a p a r c e i r a
com F e r n a n d o P a m p l o n a , f o r m o u uma e q u i p e d e p r o f i s s i o n a i s que
p r o s s e g u i r a m como C a r n a v a l e s c o s . A r l i n d o R o d r i g u e s f o i um C a-
r
-
n a v a l e s c o q u e e x e c u t o u c a r n a v a i s p a r a d i v e r s a s E s c o l a s d e Sam
ba, como S a l g u e i r o , Imperatriz, União da I l h a , Mocidade, s e-
n
d o q u e no S a l g u e i r o e na Imperatriz Leopoldinense passou por
fases diferentes em s e u p r o c e s s o a r t i s t i c o . Na p r i m e i r a f a s e
um p r o c e s s o d e d e s c o b e r t a e a d a p t a ç ã o d e seu c o n h e c i m e n t o de
t e a t r o ao d e s f i l e , e na segunda f a s e , a a f i r m a ç ã o d e s e u e s t-
i
10 n o p r o c e s s o a r t i s t i c o d o C a r n a v a l .

A transferencia d e s t e s conhecimentos para o desfi-

l e d e E s c o l a s d e Samba, em q u e a c o n t e c e r a m m u i t a s e x p e r i e n c i -
as e revisões, c r i a r a m um m o d e l o d e c a r n v a v a l e x u b e r a n t e e
"teatralizado", no s e n t i d o d a f o r ç a d e e x p r e s s ã o f o r m a l c o n t i
da nos elementos c r i a d o s por Arlindo Rodrigues para o s desfi-
l e s d a s E s c o l a s d e Samba.
O CARNAVAL D E ARLINDO RODRIGUES: F a n t a s i a de "Chica da Silva1'
para o enredo "O R e i da C o s t a do M a r f i m V i s i t a Chica da Sil-
va em D i a m a n t i n a " , I m p e r a t r i z Leopoldinense, 1983
CARNAVAL DE ARLINDO RODRIGUES: R i q u e z a d e d e t a l h e s n a f a n t a s i a
p a r a o Destaque, E n r e d o " O R e i da C o s t a do M a r f i m V i s i t a C h-i
c a d a S i l v a em D i a m a n t i n a " , Imperatriz Leopoldinense,l983
CARNAVAL DE ARLINDO RODRIGUES, e n r Ê d o " O T e u C a b e l o N ~ ON e g a " ,
a g r a n d i o s i d a d e e a f o r ç a d a s f o r m a s bem t r a b a l h a d a s . Impera-
t r i z Leopoldinense, 1981
C A R N A V A L D E A R L I N D O RODRIGUES, e n r ê d o " E s t r e l a D I A l v a " , F o r m a s
d e l i c a d a s e r n u l t i c o l o r i d a s compõem uma g i g a n t e s c a a l e g o r i a . I m-
p e r a t r i z , 1987
 F e r n a n d o P i n t o é um d o s C a r n a v a l e s c o m a i s c o n t r o v e r t-i
dos e t a l v e z o mais ousado e e c l é t i c o de todos. Sem t e r p a s s a d o
p o r uma convivgncia em e q u i p e , iniciou seu trabalho j á c o m o f o -r
mador d e novos p r o f i s s i o n a i s . Quando Fernando P i n t o chegou ao
império S e r r a n o a d é c a d a d e 6 0 já h a v i a t e r m i n a d o , com t o d o s o s
n o v o s e l e m e n t o s q u e f o r a m a b s o r v i d o s no d e s f i l e d a s E s c o l a s de
Samba, e q u e s e a f i r m a r i a m na d é c a d a d e 7 0 .

M u i @ o m a i s q ~ se u a e x p e r i ê n c i a c o m o c e n Ó g r a f o , F e r n a n-
do P i n t o t r o u x e o conhecimento d e m a n i f e s t a ç õ e s f o l c l Ó r i c a s do
nordeste, que somados ao seu p o t e n c i a l c r i a d o r l h e deu c o n d-
i
çÓes d e c a p t a r a e s s ê n c i a do Carnaval Carioca. Esta captação
s e r e f l e t e pelo caráter critico, s a t i r i c o e debochado comuns
ao "eçpirito carnavalesco" que sempre estiveram presentes em
seus e n r ê d o s . A n t e s d a e x p r e s s ã o p l á s t i c a , o carnaval de F e-
r
n a n d o P i n t o f o i um c a r n a v a l r e f l e x i v o , n ã o num s e n t i d o i n t e l e -
c
tualizado e hermético, mas no s e n t i d o d a c r i t i c a d e s c o n t r a í d a ,
c o n t i d a s em s u a s m e n s a g e n s .

T a n t o é a s s i m q u e uma c o n s t a n t e em s e u s d e s f i l e s f o i
o "indio aculturado", que passou por diversas releituras, ora
usando p a t i n s e maletas d e executivo, ora fazendo o papel de
omissão d e F r e n t e , u s a n d o Ó c u l o s e s c u r o s e g r a v a t a , m a s a n t e s
d e tudo um "i'ndio" em s u a e s s ê n c i a .

A capacidade d e e s t i l i z a ç ã o da forma, conjugando i-

n
f o r m a ç õ e s d i v e r s a s p a r a uma solução que ultrapassasse a forma
privilegiando a p r ó p r i a mensagem, f o i uma c a r a c t e r í s t i c a de
seu t r a b a l h o q u e s e c o n f i r m o u na d e c a d a d e 80, nos carnavais
da Mocidade Independente d e Padre Niguel. Este trabalho de e-
s
tllização d a f o r m a f a z com q u e a p l a s t i c i d a d e d o c a r n a v a l de
F e r n a n d o P i n t o n ã o s e d e t e n h a em d e t a l h e s o u sofisticação e x-
a
g e r a d a no u s o d o s m a t e r i a i s . E x p l o r a n d o menos a f o r m a t r a b a l h-
a
da do que o r e s u l t a d o d e sua c o m p o s i ç ~ o ,Fernando P i n t o rea-
CARNAVAL D E FRENANDO P I N T O - Alegoria para o enrêdo "Oscarito,
Carnaval e Samba, uma C h a n c h a d a n o A s f a l t o " , do Império Serra-
no, p a r a o c a r n a v a l de 1978
C A R N A V A L DE FERNANDO P I N T O : Fantasias da Bateria da Mocidade
Independente, apresentando os indios estilizados. para o enredo
"Tropicália Maravilha", ano de 1980
C A R N A V A L DE FERNANDO P I N T O : Fantasias e alegorias para o enrê
do "Ziriguidum 2001 Carnaval d a s E s t r e l a s " p a r a a Mocidade I-
n
dependente d e Padre Miguel, ano d e 1985
l i z o u c a r n a v a i s de extrema leveza e grande impacto.

F e r n a n d o P i n t o também s e c a r a c t e r i z a p o r uma linha

" t r o p i c a l i s t a " , que marcou a e x e c u ç ã o de s e u s e n r ê d o s . T r-
opi
c a l i s t a no s e n t i d o d e e x p l o r a r n ã o s ó c o r e s e t o n a l i d a d e s quen
tes e vibrantes, mas também na e x p l o r a ç ã o d a t e m ã t i c a n a c i o n-
a
lista, não s ó h i s t ó r i c a e f o l c l ó r i c a , mas também s o b r e o s prc
blemas sociais, como o c o n t r a b a n d o e a i n f l u ê n c i a do c a p i t a l i-
s
mo a m e r i c a n o . I s t o s e r e v e l a em e n r ê d o s como "Tropicália -
Mara
vilhoça", "Como E r a V e r d e o Meu X i n g u " , " ~ a m ã eE u ~ u e r oM a n a u s "
e "TupinicÓpolis".

F e r n a n d o P i n t o n ã o s e r e s t r i n g i u a e n r ê d o s n a c i o n a l i-
s
tas, e soube e x p l o r a r a c r i a ç ã o o n f r i c a e f a n t a s i o s a , s e m p r e c-
a
racterizados pela c r i t i c a irreverente, como no e n r ê d o " Z i r i g u i -
dum, 2001 Carnaval d a s E s t r e l a s " , um s u r p r e e n d e n t e c a r n a v a l f-
u
turista.

E s t a c a r a c t e r f s t i c a d e " a t u a l i z a ç ã o " t a n t o d e s e u s e-
n
r ê d o s q u a n t o da forma p l á s t i c a , f a z com q u e o t r a b a l h o d e F e-
r
nando P i n t o t e n h a um t r a ç o d e m o d e r n i d a d e que f o i c o n s t a n t e em
seus carnavais. Uma m o d e r n i d a d e em q u e o e x a g e r o e a s u p e r d-i
menção d a s f o r m a s p l ã s t i c a s , d e v i b r a ç ã o d e c o r e s s e r e f l e t i u no
conteúdo c r i t i c o e pleno de " e s p i r i t o carnavalesco" que sempre
c a r a c t e r i z a r a m seu c a r n a v a l , e terminaram p o r i n f l u e n c i a r novos
Carnavalescos.

5.2.3 - J O Ã O Z I N H OT R I N T A , O CARNAVALESCO D A "APARENCIA"

O uso de m a t e r i a i s a l t e r n a t i v o s e a experimentação de
n o v a s t é c n i c c a s s e m p r e f o i uma c o n t i n g ê n c i a no c a r n a v a l d a s E-
s
c o l a s d e Samba em f u n ç ã o d a s d i f i c u l d a d e s f i n a n c e i r a s q u e sem
-
pre atravessaram. O C a r n a v a l e s c o J o ã o z i n h o T r i n t a na d é c a d a de
6 0 f e z d e s t a c o n t i n g ê n c i a a experiência c e n t r a l d e s e u traba
lho.. A u t i l i z a ç ã o o b j e t i v a d e m a t e r i a i s a l t e r n a t i v o s c a r a c t e r i -
z a o t r a b a l h o d e J o ã o z i n h o T r i n t a e d e l a d e c o r r e m o u t r o s e l e m e-
n
t o s reveladores de seu e s t i l o .

A improvisação de elementos decorativos através do

uso de m a t e r i a i s remodelados, com a a l t e r a ç ã o d e s u a f o r m a e
função foram solucÕes técnicas que Joãozinho T r i n t a s u p e r d i m e-
n
sionou, a ponto de seu carnaval primar pela aparência, pela i l-
u
são e pelo artifício. Ou seja, a riqueza e x u b e r a n t e s e r na v e-
r
d a d e uma "aparência" rica, luxuosa, conseguida por materiais e
t e c n i c c a s que passam e s t a informação. Esta solução só 6 c o n s-
e
g u i d a a t r a v é s d a p e r f e i t a t r a n s m u t a ç ã o d e m a t e r i a i s em s u a f o-
r
ma e f u n c i o n a l i d a d e .

A v i s ã o d e Joãozinho T r i n t a d e que o d e s f i l e d e Escu-

l a s d e S a m b a tem s e m e l h a n ç a s com a Õ p e r a o c o l o c a numa posição
diferenciada, v i s t o que f o i o primeiro Carnavalesco a refletir
e p o s i c i o n a r o d e s f i l e s o b um a s p e c t o t é c n i c o q u e l h e d a v a uma
nova o r d e n a ç ã o .

Caracteriza o seu trabalho p l á s t i c o essa concepção de

s u p e r e s p e t ~ c u l o ,de grandiosidade d e dimensões, não só dos c a-r
r o s mas também d o s F i g u r i n o s . G r a n d i o s i d a d e q u e se r e f l e t e em
s e u s e n r ê d o s e n a a b e r t u r a d e s u a s p r o p o s t a s a uma exploração
do imaginário b r a s i l e i r o . Em s e u t r a b a l h o , forma e conteúdo de
unificam a t r a v é s da valorização do conjunto, na r i q u e z a de sua
e x p r e s s ã o e mo l u x o , aparente, de sua representação.

A e s t e "luxo", q u e s e t o r n o u um m o d e l o n a d é c a d a de
70, ccm e x c e s s o s e c o n t r a p o s i ç Õ e s , soma-se uma m a n e i r a particu
l a r de trabalhar a s cores expressivamente, tornando-as mais do
q u e uin e l e m e n t o v i s u a l , m a s um e l e m e n t o e x p r e s s i v o valorizado
pelos dourados, prateados e brancos.

O e s t i l o d e ~ o ã o z i n h oT r i n t a 6 s u p e r l a t i v o , não com
-
portando reduções quanto a detalhes, v i s t o que o impacto do e-
s
CARNAVAL DE JOÃOZINHO TRINTA: Fantasia da A l a d a s B a i a n a s , p a-
r a o enrêdo "A Grande Constelação das E s t r e l a s Negra".de 1983
C A R N A V A L DE J O Ã O Z I N H O TRINTA, a exuberância e riqueza plásti-
c a d e s u a a l e g o r i a p a r a a B e i j a F l o r d e ~ i l ó p o l i s ,no c a r n a v a l
de 1991
CARNAVAL D E J O Ã O Z I N H O TRINTA; Alegoria para o enrêdo 'Alice no
Brasil das Maravilhas" para a Beija Flor. no c a r n a v a l d e 1 9 9 1
petáculo é a sua linguagem. Tão " t e a t r a l " q u a n t o A r l i n d o R o d r-
i
gues, Joãozinho Trinta ultrapassa o t e a t r o para chegar 5 s u p e-
r
produção quase cinematográfica. Exuberante e i l u s i o n i s t a , J o ã-
o
zinho Trinta é revolucionário, gerando várias "rupturas" como
no c a r n a v a l d e 1 9 7 6 com o e n r ê d o " S o n h a r Com R e i d á ~ e ã o "e em
1989, com o e n r e d o " R a t o s e U r u b u s , L a r g u e m M i n h a F a n t a s i a " arn-
bos na B e i j a F l o r .

A frase célebre, de sua autoria: "Pobre gosta de luxo

quem g o s t a d e m i s é r i a é i n t e l e c t u a l " s e r e f e r e muito mais ao
"luxo" e riqueza humana d o s a m b i s t a no a m o r s u a E s c o l a d e Sam
-
ba e no o r g u l h o q u e d e l a s e n t e . S e o c o n c e i t o d e l u x o s o f r e u o-
t r a s interpretações, tornando-se m u i t o m a i s um l u x o m a t e r i a l do
q u e e s s e n c i a l do c a r n a v a l , i s t o d e c o r r e na liberdade de e x p l-
o
r a ç ã o d a s i d é i a s e m o d e l o s l a n ç a d o s no c a r n a v a l d a s E s c o l a s de
Samba, e que sempre e s t a r á s u j e i t o a r e v i s õ e s e novas d e s c o b e-
r
tas, como a q u e l a s r e a l i z a d a s p o r J o ã o z i n h o T r i n t a .

E n v o l v i d o com n o v o s c a m i n h o s q u e o d i r e c i o n a r a m a
preocupações s o c i a i s , o carnaval de 1991 demonstra que J o ã o z-
i
nho T r i n t a a o r e a l i z a r " A l i c e no B r a s i l d a s M a r a v i l h a s " soube
e x p l o r a r o c a r n a v a l d a B e i j a F l o r como um v e i c u l o d e g r a n d e f o -
r
ça para transmissão d e i d é i a s e mensagens que ultrapassam até
mesmo a c o n c e p ç ã o d e V f a z e r uma E s c o l a d e S a m b a 1 ' . N a s i l u s t r-
a
çÕes s e g u i n t e s s e l e c i o n a m o s a l g u n s momentos d o s c a r n a v a i s de
~ o ã o z i n h oT r i n t a , sempre b e l o s e g r a n d i o s o s .

5.3.4 - O C A R N A V A L C O M O U M CAMPO A B E R T O D E INFLUENCIAS

0 s t r ê s e s t i l o s a q u i a p o n t a d o s d e m o n s t r a m q u e o t r a b-
a
l h o d o C a r n a v a l e s c o n ã o e s t á s u b m e t i d o a p a d r õ e s r i g i d o s ou a
c l a s s i f i c a ç Õ e s q u e l i m i t a r i a m o C a r n a v a l d a s E s c o l a s d e Samba a
l i n g u a g e n s d e t e r m i n a d a s ou f ó r m u l a s , eceto aquelas experiências
p e s s o a i s q u e f u n d a m e n t a m um c a r a t e r i n d i v i d u a l q u e m a r c a o pro
fissional.
 A identificação com a E s c o l a é u m e l e m e n t o i m p o r t a n t e ,
bem c o m o o r e s p e i t o à s s u a s c a r a c t e r i s t i c a s i n d i v i d u a i s , e os
três Carnavalescos c i t a d o s apresentam e s t e s aipectos, que nada
mais s ã o q u e uma c o e r ê n c i a p r o f i s s i o n a l d e s e t r a b a l h a r dentro
dos l i m i t e s que l h e s são apresentados. Na r e a l i d a d e a E s c o l a d e
S a m b a n ã o é um c o n j u n t o p a s s i v o , ao qual s e i m p õ e uma d e t e r m i n -
a
da proposta. Da c o m u n h ã o d e t o d o s o s e l e m e n t o s surge o r e s u l t-
a
do d e s u a a p r e s e n t a ç ã o , e c a b e a o Carnavalesco r e s p e i t a r este
potencial a o mesmo t e m p o q u e o b e d e c e 5s s u a s p r o p r i a s d e t e r m i n-
a
ções criadoras.

A l g u n s C a r n a v a l e s c o s e n t r e v i s t a d o s remetem s e u s t r a b-
a
lhos aos estilos aqui descritos, v i s t o que guardam semelhanças
q u e n ã o d e v e m s e r c o n s i d e r a d a s c o m o uma "padronização". Sendo
uma p r o f i s s ã o q u e c o n s t a n t e m e n t e r e v e l a n o v o s v a l o r e s , e que -
a
campanha o processo dinâmico d e evolução das Escolas de Samba,
o s Carnavalescos não só recebem i n f l u ê n c i a s d e modelos que f-
o
ram i m p o r t a n t e s mas também c o n t i n u a m a m a d u r e c e n d o seus estilos
individuais, que formarão novos p r o f i s s i o n a i s e novas c o r r e n t e s .

" [ . . . ) c a d a C a r n a v a l e s c o tem o seu e s t i l o , a

sua forma d e f a z e r o carnaval. Por exemplo,
o A r l i n d o e r a u m b a r r o c o , um d e t a l h i s t a , o
homem d a f i l i g r a n a . E l e f a z i a uma b a i a n a em
que a anágua e r a d e renda francesa, e n i-n
guém v i a , e s e e l a r o d a s s e e e l e v i s s e , f i
cava s a t i s f e i t o , f o r a os carros de ArlindÕ,
a c o n c e p ç ã o d e l e e r a uma c o n c e p ç ã o b a r r o c a ,
d e t a l h i s t a . O F e r n a n d o P i n t o e r a a e x u b e r â-
n
tia, a c o r , o t r o p i c a l i s m o , n a s u a expres
são mais r a d i c a l que explodia. O Joãozinho-
T r i n t a já É o Carnavalesco do absurdo, do
a b s t r a t o (...I0 Max L o p e s s e a p r o x i m a d o A r
l i n d o , o Max g o s t a d a c o i s a r e b u s c a d a , bem
t r a b a l h a d a . A R o s a M a g a l h ã e s é uma " m e d i-e
val", e l a gosta daquelas coisas suntuosas.
[ .. . I E n t ã o é r e a l m e n t e bom, b o n i t o e s a u d á
v e l que você possa s e n t i r , d e f i n i r cada ar
n a v a l e s c o em s e u e s t i l o , n ã o h á uma " g e l e í ã
g e r a l " , uma a c o m o d a ç ã o [ . . . I

HafioLdu C o s t a
 Anova geração d e Carnavalescos, sobretudo aqueles que
s e i n i c i a m d i r e t a m e n t e no c a r n a v a l , traz experiências c o n s o l-
i
d a d a s em o u t r o s c a m p o s , e sua formação e aprendizado s e p r o c e-
s
sa de maneira mais acelerada, mas n ã o d e s c a r t a a r e f e r ê n c i a de
m o d e l o s b a s e a d o s n o t r a b a l h o d e o u t r o s C a r n a v a l e s c o s nem u o -
a
prendizado do barracão, grande universo formador deste p r o f i-
s
sional.

" N ~ Ovou d i z e r q u e a l g u é m me e n s i n o u porque

n i n g u é m me e n s i n o u n a d a ( . . . I tudo o que
s e i sobre f a n t a s i a devo a V i r i a t o Ferrei-
r a e a J o ã o z i n h o T r i n t a , q u e f o i quem me
d e s c o b r i u em N i t e r Ó i [ . . . I e ele acreditou
n o meu t r a b a l h o , q u e e u p u d e s s e t r a b a l h a r
para e l e nos f i g u r i n o s . Talvez a t é para eu
s e g u i r d e p e r t o a c a r r e i r a do V i r i a t o . T a-l
v e z n o i n i c i o d o meu t r a b a l h o f o s s e uma c o i
s a m u i t o c a l c a d a no d e s e n h o do V i r i a t o , h o j e
não, f a ç o c o i s a s muito maiores. O Viriato
tem a e l e g â n c i a d o c a r n a v a l ( . . . I s e a gep
t e q u e r s e r bom, v o c ê t e m q u e s e espelhar
n o m e l h o r , um d o s m e l h o r e s c a m i n h o s é o do
V i r i a t o e do Joãozinho T r i n t a j u n t o s , não
separados."

ARexandne Lauzada
"Eu a p r e n d i m u i t o com A r l i n d o R o d r i g u e s e s ó
a p r e n d i " t o t a i s " do Arlindo, eu g o s t o de
babadinhos, d e l a c i n h o s , d e b r o c h e s , eu p l
x e i a e l e barbaramente, sempre f u i admira
d o r f e r r e n h o d o t r a b a l h o d e A r l i n d o , a f o t-õ
grafia, os figurinos."

Max Lapen
"Minha g r a n d e p a i x ã o f o i e é F e r n a n d o P i n t o ,
q u e p a r a m i m é o g r a n d e P a p a d o c a r n a v a l no
R i o d e J a n e i r o , o g r a n d e nome ( . . . ] e l e n u-
n
c a deixava d e s e r magnífico, e l e não canse
g u i a ser v u l g a r , s e r óbvio, e l e sempre f o i
performático."

" T i v e i f i f l u ê n c i a do S i l v i o Cunha d a Portela,

sim, a g e n t e s e m p r e a b s o r v e a bagagem d e a 1
g u é m com q u e m a g e n t e t r a b a l h o u e estamo;
a t r ê s a n o s d i r e t o com e l e , e a t é c o n s e g u i r
 mos a n o s s a l i n g u a g e m , e l e v a i e s t a r muito
p r e s e o t e em n o s s o t r a b a l h o . "

Cida Dana;to
"A g e n t e t i n h a q u e p e g a r a l g o d o S i l v i o Cu
n h a , a g e n t e t e n t a b o t a r um p o u c o d a gente
m a s é d i f í c i l [ . . . ) m a s nem p o r i s s o t e m c o- i
s a só d e l e , a g e n t e v ê v i d e o s , a d m i r a o-
u
t r o s C a r n a v a l e s c o s como a R o s a M a g a l h ã e s , o
M a r i o M o n t e i r o , c a d a um t e m uma c o i s a i n t-
e
ressante."

" Q u a n d o v o c ê c o m e ç a , v o c ê é um p o u c o v o c ê , u m
p o u c o o A r l i n d o R o d r i g u e s , q u e e r a meu a m-i
g0 B um p o u c o o R e n a t o L a g e , q u e t e m um d e s - e
nho q u e eu a c h a v a f a n t á s t i c o . Você tem a a
l e g r i a d e um, o t o q u e d e o u t r o . A í v o c ; v a i
p e r d e n d o um p o u c o d a s i n f l u ê n c i a s d o s ou-
t r o s , t i r a n d o um p o u c o d a t é c n i c a q u e você
observou, e adaptando a sua propria m a n e-
i
r a de trabalhar."

"[...)o carnaval de Fernando Pinto e r a gran

d i o s o , s u p e r d i m e n s i o n a d o , e tem um p r o c e s s õ
d e s s a s d i m e n s õ e s q u e e x i g e m m c a r r o s com me-
n o s f o r m a s [ . . . ) e a s f a n t a s i a s também ( . . . I
t u d o t e n d e n d o p a r a o e x a g e r a d o . F e r n a n d o t- i
n h a um l a d o c r i t i c o q u e s e m p r e a p a r e c i a na
c r i a ç ã o e que eu lamento que tenha desapa
r e c i d o . O A r l i n d o c r i o u um p r o c e s s o mais
ligado ao barroco, mais detalhado, mais e l a
b o r a d o i n c l u s i v e na c o n f e c ç ã o [ . . . I JO~O -Z T
n h o T r i n t a t a m b é m c r i o u um e s t i l o , o p r o c e s
so d e crescimento, do gigantismo d a s -
Esc;
l a s v e i o d o ~ o ã o ,e e s p e c i a l m e n t e , o q u e e
muito importante, é a valorização dos c a-r
ros alegóricos, essa supervalorização que
gerou o gigantismo dos c a r r o s que veio do
~ o ã o z i n h oT r i n t a e q u e d e p o i s s e difundiu
em o u t r a s E s c o l a s T a m b é m . "

Mania Augus Xa
"I...lnessa e q u i p e q u e eu t r a b a l h a v a t i v e o
prazer de conhecer o Arlindo Rodrigues, que
f a z i a p a r t e da equipe do Fernando Pamplona
e eu sempre admirava o t r a b a l h o do Arlindo
e r a meu i d o l o , n ã o q u e e u q u i s e s s e f a z e r a
m e s m a c o i s a , m a s e u a d m i r a v a o bom g o s t o d - e
 l e , a c o i s a a p u r a d a , f o i m u i t o em comum c o m
a minha maneira d e v e r , eu não q u e r i a f a z e r
i g u a l m a s t e r o mesmo t r a t a m e n t o p l á s t i c o e
a r t i s t i c o que e l e tinha e f u i alcançando o
meu e s t i l o ( . ..
1"

RenaZcr Lage
"O F e r n a n d o P i n t o v e i o com uma c o i s a jovem,
nova, não quero chamar d e vanguarda, com
m u i t o humor, m u i t a b r a s i l i d a d e , m u i t o t u p-i
niquim. E l e começou a p e g a r e s s a c o i s a an
tropofágica que é o carnaval, o tropicalisl
mo m e s m o , e i s s o a c h o g e n i a l n e l e . ( ...
l O
F e r n a n d o P i n t o f o i uma p e s s o a o u s a d a que
b u s c o u m u i t o , e a s s i m como a g e n t e e s t á tra
b a l h a n d o na l i n g u a g e m e s t é t i c a e plástica
d o c a r n a v a l , e l e também c o n s e g u i u e f o i
uma p e n a q u e m o r r e u , m a s d e i x o u um grande
m a t e r i a l para nós. "

5.4 - EM DEFESA 0 0 CARNAVALESCO

5.4.1 - A C R ~ T I C A A O CARNAVALESCO - DOMINAÇÃO OU EVOLUÇÃO?

Uma d a s q u e s t õ e s m a i s c o n t r o v e r t i d a s q u e s e estendem
d e s d e a d é c a d a d e 60 é a d a r e s p o n s a b i l i z a ç ã o d o Carnavalesco
q u a n t o a s a l t e r a ç õ e s h a v i d a s no d e s f i l e d a s E s c o l a s d e Samba,
pressupondo-se uma d e s c a r a c t e r i i a ç ã o a t r a v é s d a s i n o v a ç õ e s t r-
a
zidas por alguns destes profissionais.

No p r o c e s s o h i s t ó r i c o d a s E s c o l a s d e Samba, todos os
e l e m e n t o s q u e e l a a b s o r v e u t i v e r a m uma f u n ç ã o a d a p t a t i v a a f a
tores externos, s e j a por exigência do espaço cênico, seja por
exigencia do i n t e r e s s e cada vez maior sobre e l a s . O crescimento
d a s E s c o l a s d e Samba t o r n o u - a s o centro de atenção dos eventos
carnavalescos do Rio d e J a n e i r o , e sua transformação c o r r e s p o-
n
deu a i s t o .
 A s c r i t i c a s f e i t a s ao. C a r n a v a l e s c o e s t ã o b a s e a d a s em
p r i n c i p i o na p e r d a d e e s p a ç o d o s a r t i s t a s q u e o r i u n d o s d a pre
p r i a E s c o l a d e Samba e x e c u t a v a m o s c a r n a v a i s d e s e u s primeiros
desfiles, s e n d o s u b s t i t u ~ d o s s o b a f o r m a d e uma "imposição" e
mesmo d e " i n v a s ã o " , por o u t r o s a r t i s t a s denominados "eruditosWe
intelectuais, o que t e r i a i n i c i a d o o p r o c e s s o d a p e r d a d e a u t e-
n
ticidade:

"Desde o s p r i m e i r o s a n o s da década d e 1930,

eram o s p r ó p r i o s s a m b i s t a s que bolavam t u d o
dentro da Escola, criando enrêdos, f a n t a s-
i
as, alegorias e fabricando os próprios ins
t r u m e n t o s . Mas o h u m i l d e c r i o u l o q u e che
g o u a s e d e s l o c a r a t é uma b i b l i o t e c a pÚbli
c a p a r a p o d e r f a z e r um e n r ê d o , m a i s tarde
t e v e q u e e n f r e n t a r um i n t e l e c t u a l e inclu
sive seus desenhos e alegorias tiveram que
c o m p e t i r com o s d e u m a r t i s t a p o r t a d o r de
diploma de Escola d e Belas Artes. E acabou
p e r d e n d o , p o i s e l e e r a s i m p l e s m e n t e um a-
r
t e s ã o p o p u l a r . T u d o i s s o c o m e ç o u com o c-a
lar d a d i s p u t a , p o i s n a â n s i a d e o b t e r no
vas vitórias, os dirigentes das ~ s c o l a s
deixaram de r e c o r r e r aos seus carnavales
cos, indo contratar gente de fora que,inclÜ
s i v e , t i n h a m a i s nome, p a r a p o d e r influenci
a r no julgamento. (...)Mas não só a r t i s t a ;
passaram a desenhar para a s escolas, suas
d i r e t o r i a s passaram a s e r c o n s t i t u i d a s por
advogados, médicos, engenheiros, professo
r e s , a r q u i t e t o s e m u i t a g e n t e d e uma c l a-s
s e s o c i a l mais elevada, que passaram a f a
z e r s u a " h i g i e n e m e n t a l " n a q u e l e m e i o . E a -s
s i m com a c h e g a d a d e g e n t e e s t r a n h a n o s e u
ambiente, o modesto sambista f o i aceitando
sugestões (muitas vezes impostas), perdendo
com i s s o , t u d o o q u e t i n h a d e a u t e n t i c o . "
(511

No t e x t o a c i m a , t r a n s c r i t o d o l i v r o "Do B a t u q u e E-
s
c o l a d e Samba", e d i t a d o em 1 9 7 6 , ou s e j a , em p l e n a e f e r v e c ê n c-
i
a d a s mudanças d o s d e s f i l e s , com o s c a r n a v a i s S e J o ã o z i n h o T r i -
n

( 5 1 1 MUNIZ J R . J . , Do B a t u q u e ã E s c o l a d e Samba, op.cit.p.122

t a e a p ó s a d é c a d a d e 6 0 com a s t r a n s f o r m a ç Õ e s d o S a l g u e i r o , pg
demos n o t a r a l g u m a s d i s t o r ç õ e s d e j u l g a m e n t o .

E c e r t o que nos p r i m e i r o s anos d e sua formação a s E-

s
c o l a s d e S a m b a r e a l i z a v a m o s s e u s d e s f i l e s s o b uma g r a n d e i m p r -
o
visação, q u e n ã o d e v e s e r c o n f u n d i d a com a a u t e n t i c i d a d e desta
manifestação. Ao a b s o r v e r e m e l e m e n t o s d o s R a n c h o s e G r a n d e s S-
o
ciedades, s e u d e s e n v o l v i m e n t o n ã o f o i s& n o s e n t i d o d a o r g a n i z -
a
ção, mas no a p r i m o r a m e n t o v i s u a l d o d e s f i l e . A s Escolas não a1
teraram suas bases tradicionais, v i s t o q u e e l a s já nascem com
caracteristicas p r ó p r i a s q u e não morrem, apesar das transforma-
ções havidas.

A absorção e t r a n s f e r ê n c i a dos Técnicos que já t r a b-

a
lhavam nos Ranchos e G r a n d e s S o c i e d a d e s s e deu em f u n ç ã o d o m e r
cada d e t r a b a l h o e da competição que e x i s t i a entre as Escolas
e e s t e p r o c e s s o não f o i i m e d i a t o , mas s i m l e n t o e g r a d u a l .

Nas d é c a d a s d e 6 0 e 7 0 , a o s e r e m o b j e t o d e um i n t e r e -
s
s e maior de o u t r o s segmentos da s o c i e d a d e e dos meios d e -
comu
nicação, a s E s c o l a s d e S a m b a r e a l i z a r a m uma b u s c a d e elementos
q u e a t r a i s s e m e s t e novo c o n t i n g e n t e . Não s e p o d e c o n s i d e r a r q u e
e l a s fossem manifestações estanques, -
r e s t r i t a s a c o m u n i d a d e s po
bres e "humildes crioulos". E s t a v i s ã o r e l a t i v i z a a imagem do
sambista, t i d o como n e c e s s á r i a m e n t e m a r g i n a l i z a d o p o r s u a c o n d-
i
ção s o c i a l , sua cor e c u l t u r a , q u a n d o na v e r d a d e a s E s c o l a s de
Samba c o n s t i t u i r a m o r g a n i s m o s a l t a m e n t e i n t e g r a d o r e s d a s d i v e-
r
s a s camadas da s o c i e d a d e , e uma f o n t e d e l a z e r e d i v i s a s t u r i-
s
ticas.

Outra distorção e s t á relacionada à intelectualidade e

erudição dos Carnavalescos, que "tomaram espaço" daqueles c o-
n
siderados artesões, o que não é a r e a l i d a d e . J u l i o Wattos, o J-
u
l i n h o da Mangueira, d e s d e a d é c a d a d e 5 0 t r a b a l h o u como C a r n a v -
a
lesco, i g u a l a A n t o n i o C a e t a n o na P o r t e l a , e ambos c o n t r i b u i r a m
 -
p a r a a e v o l u ç ã o p l á s t i c o v i s u a l d o s d e s f i l e s d a s E s c o l a s d e Sam
ba, e a Ú n i c a d i f e r e n ç a e r a a d e n ã o s e r e m p o r t a d o r e s d e um -
di
ploma ou e x e r c e r e m p r o f i s s i Õ e ç ligadas C e n o g r a f i a T e a t r a 1 , D i-
s
c r i m i n a r o s p r o f i s s i o n a i s p o r s u a t i t u l a ç ã o ou p r o f i s s ã o 6 tão
n o c i v o e e q u i v o c a d o q u a n t o d i s c r i m i n a r o e n g e n h e i r o ou o advo -
g a d o q u e e n t r o u p a r a uma D i r e t o r i a d e E s c o l a d e S a m b a , -
c u j a com
posição é f e i t a através de eleição.

Nenhum C a r n a v a l e s c o d a d é c a d a d e 6 0 i m p ô s o s e u t r-
a
b a l h o ou e x i g i u m u d a n ç a s q u e n ã o f o s s e m o d e s e j o comum d a s E s c o
ias. O S a l g u e i r o 6 um e x e m p l o d i s t o , q u a n d o s e p r o p o s a s e r uma
Escola " d i f e r ~ n t e " , t e n d o uma p r o p o s t a d e d e f e n d e r a s r a l z e s d a
cultura brasileira, o negro, o folclore e a própria Escola de
Samba.

Em 1 9 6 2 , Edson C a r n e i r o r e d i g i u a " C a r t a a o S a m b a " d-

o
cumento que equacionava o s p o n t o s d e p r e s e r v a ç ã o d a s c a r a c t-
e
r i s t i c a s t r a d i c i o n a i s d a s E s c o l a s d e Samba "sem e n t r e t a n t o lhe
n e g a r ou t i r a r a e s p o n t a n e i d a d e e p e r s p e c t i v a s d e p r o g r e s s o " ( 5 2 1
F r u t o d e u m t r a b a l h o r e a l i z a d o no I C o n g r e s s o N a c i o n a l d o Sam
-
ba, em 1 9 6 2 , em q u e s e r e u n i r a m sambistas, compositores, i n t é-
r
pretes, e s t u d i o s o s e amigos do samba, e s t e documento focaliza
a s transformações jã d e t e c t a d a s n a s E s c o l a s d e Samba.

R e f l e t i n d o s o b r e a e v o l u ç ã o n a t u r a l d o samba e das
Escolas, em q u e a r e n o v a ç ã o d e e n e r g i a s e n o v o s h o r i z o n t e s e r a m
fatores importantes, propunha-se preservar e proteger esta e v-
o
lução, sem c o l o c a r em p e r i g o a liberdade de criação artística.
O texto refere-se s o b r e t u d o a o samba e s u a s a l t e r a ç õ e s m e l ó d-
i
tas, à apresentação dos passistas e a autenticidade das Escolas
d e Samba. A C a r t a a o S a m b a n ã o s e r e f e r e em m o m e n t o n e n h u m aos
Carnavalescos que já naquela 6poca atuavam, preocupando-se com

1 5 2 1 CARNEIRO,EDSON, Folguedos Tradicionais, " C a r t a a o Samba",

o p . c i t . p.161
 N ~ Op r e t e n d e m o s discutir as alterações relativas ao
samba e n r ê d o , vL3to que e x i s t e v a s t a literatura sobre o assunto
e que e s t e não p e r t e n c e à nossa área de análise. Cabe r e s s a l t a r
q u e a a l t e r a ç ã o d o samba e n r ê d o - parte musical - e da apresen-
t a ç ã o do s a m b i s t a - parte coreográfica - formam, junto com as
alterações visuais - parte cenográfica - o conjunto das grandes
transformações do d e s f i l e d e E s c o l a s d e Samba.

Sob d i v e r s o s a s p e c t o s a f i g u r a do C a r n a v a l e s c o f o i
sendo atacada individualmente sob a alegação de que seu t r a b-
a
lho espelharia o gosto de c l a s s e s dominantes, como no livro
"Samba N e g r o , Espoliação Branca", no q u a l a s t r a n s f o r m a ç õ e s dos
d e s f i l e s e d a s E s c o l a s d e Samba s ã o s u b v e r t i d a s a c o n t r a p o s i ç ã o
dominante X dominado. O enfoque dado a o Carnavalesco, num li-
v r o e d i t a d o em 1 9 8 4 é a d o " i n v a s o r " , i n t e l e c t u a l e branco em
o p o s i ç ã o a o g r u p o n e g r o d o m i n a d o e v i o l e n t a d o em s u a m a i s a-
u
têntica manifestação popular. C u r i o s a m e n t e o C a r n a v a l e s c o é c r-i
ticado pela " r é g i a " remuneração recebida, enquanto os sambistas
nada recebiam por sua apresentação. O Carnavalesco t e r i a p e r c-
e
b i d o o d e s f i l e como "um m e r c a d o d e t r a b a l h o q u e s e a b r i a para
especialistas no s e t o r , com i m p l i c a ç õ e s p a r a t o d a a indústria
c u l t u r a l 1 ' 15310 q u e p a r e c e i n s i n u a r que s e não f o s s e o C a r n a v-
a
lesco, t u d o o que s e r e f e r i a a execução do c a r n a v a l não n e c e s s-
i
t a r i a de apoio financeiro e t o d o s o s q u e com e l e c o l a b o r a s s e m e
nele trabalhassem,não precisassem s e r pagos.

porém não p a r e c e s e r a questão da remuneração [régia)

que sempre e x i s t i u nas e q u i p e s de barracão, com o u sem a i n c u-
r
são dos Carnavalescos, como d e m o n s t r a o h i s t ó r i c o a n t e r i o r
- -
a
década d e 60 e nos Ranchos d e S o c i e d a d e s . H á uma q u e s t ã o d e -i
dentificaçaõ entre o trabalho "superior" introduzido nas E s c-o
las e a " c l a s s e dominante":

I 5 3 1 RODRIGUES,ANA MARIA, Samba N e g r o E s p o l i a ç ã o B r a n c a , o p . c i t .

pi46
 "A consequencia imediata das primeiras
transformações f o i o sucesso da Escola de a
o b t e n ç ã o d e p r i m e i r o s l u g a r e s em desfiles
de carnavais consecutivos. Este sucesso,con
s i d e r a d o a p e n a s no â m b i t o d o g r u p o brancõ
dominante ( . . . I s e e n q u a d r a na expectativa
da a n á l i s e ; s e não esquecermos que o s mem
b r o s d a C o m i s s ã o J u l g a d o r a f a z i a m p a r t e d e- z
t e g r u p o dominante e que não e x i s t e m sam
bista ou c o m p o n e n t e d e e s c o l a s d e sambã
p a r t c i p a n d o da Comissão J u l g a d o r a d e D e-
s
f i l e s d e C a r n a v a l , na c i d a d e d o R i o d e Ja
neiro.[...lAfinal, os juizes identificaram -
s e , p e l a p r i m e i r a v e z , com s e u s p r o p r i o s v - a
lares c u l t u r a i s , s u a r e a l i d a d e s o c i a l , seu
c o n c e i t o p a r t i c u l a r d e "bom g o s t o " . N ã o ha
v i a porque negar o ê x i t o a e s t a escola. T a l
vitória incitou outros dirigentes a conse
g u i r e m também s e u s c a r n a v a l e s c o s e a r r a f-
e
ceu p o s s f v e i s r e s i s t e n c i a s que poderiam e-
s
t a r l a t e n t e s nos sambistas."(541

O t e x t o acima r e f e r e - s e E s c o l a d e Samba S a l g u e i r o , e
o s u c e s s o a l c a n ç a d o na d é c a d a d e 6 0 . A identificação dos juizes
com " s e u s p r ó p r i o s v a l o r e s c u l t u r a i s " pressupõe que anteriorme-
n
t e a s E s c o l a s d e Samba f o s s e m j u l g a d o s c o n f o r m e c r i t é r i o s b a s e-
a
d o s em v a l o r e s d e uma o u t r a r e a l i d a d e c u l t u r a l e d e um outro
"gosto" f o r a da e s f e r a não só das Comissões Julgadoras, q u e p e-
r
t e n c i a m a uma " c l a s s e dominante", mas f o r a d a e s f e r a d e t o d o o
público e componentes que prestigiavam o s D e s f i l e s . Caberia r-
e
f l e t i r que c r i t é r i o s seriam e s t e s que regeram o s julgamentos
a t é a déc'ada d e 5 0 , para qual "classe" o desfile era destinado,
e a que "classe" p e r t e n c i a m a s ComissÕes J u l g a d o r a s , o público,
e a ç p r p o p r i a s E s c o l a s d e Samba.

E s t a v i s ã o c l a s s i f i c a t Ó r i a d e d o m i n a d o r e d o m i n a d o p-
a
r e c e s e r um t a n t o e x a g e r a d a , v i s t o q u e a s CornissÕes julgadoras
eram e s c o l h i d a s e a p r o v a d a s p e l a s E s c o l a s d e Samba, e dela par
t i c i p a v a m p e s s o a s como E n e i d a , Edson C a r n e i r o , Haroldo Costa e
outros bastante identificados e conhecedores daquilo a que se
propunham a v a l i a r . S u b m e t e r a E s c o l a d e S a m b a a uma p o s i ç ã o de
"dominadal" é m i n i m i z a r a f o r ç a d e s u a m a n i f e s t a ç ã o e daqueles
q u e e f e t i v a m e n t e c o l a b o r a r a m em s u a t r a n s f o r m a ç ã o .

(.541 RODRIGUES, ANA M A R I A , idem, op.cit.p.47

 ~ ã po r e t e n d e m o s j u l g a r a Q t i c a p a r t i c u l a r que posici
o n a a E s c o l a d e S a m b a e s e u s i n t e g r a n t e como " d o m i n a d o s " e c o-
n
sequentemente o Carnavalesco, e o s d e m a i s e l e m e n t o s e x t e r n o s c-
o
mo d o m i n a d o r e s , v i s t o que e s t a d i s c u s s ã o não é p o r nós c o m p a-
r
t i l h a d a e respeitamos a s opiniões e conclusÕes encontradas. Con
sideramos que o Carnavalesco não pode s e r c l a s s i f i c a d o através
d e um p o s i c i o n a m e n t o i d e o l Ó g i c o q u e n a r e a l i d a d e n ã o t e v e , e nem
seu t r a b a l h o pode ser a n a l i s a d o p e l o seu n í v e l social,titulaç~o,
c o r ou sexo. Tais c r i t é r i o s myitas vezes s e prestam a reflexões
que distorcern a r e a l i d a d e não SÓ do p r o f i s s i o n a l , mas d a Pr
:
p r i a E s c o l a d e Samba, considerando-a como um c o n t e x t o d e g r a-
n
de riqueza, integrador de vários segmentos s o c i a i s e c u l t u r a i s .

A d i s c u s s ã o s o b r e o p a p e l do C a r n a v a l e s c o n a s E s c o l a s
d e Samba a i n d a é g e r a d o r a d e m u i t a s p o l ê m i c a s e d e b a t e s , desde
a década de 60 a t é os d i a s a t u a i s .

"I ... l q u e m m u d o u mesmo f o i a g e r a ç ã o d e Pam

plona, essa s i m , a p a r t i r d a i o Carnavaleç
c o p a s s a a t e r um p a p e l f u n d a m e n t a l n a Esc;-
l a d e Samba, p o r v á r i a s r a z õ e s . P o r q u e O
F e r n a n d o Pamplona e a e q u i p e mudaram mesmo,
e v i d e n t e m e n t e , não vamos d i s c u t i r s e isto
f o i bom o u s e n ã o f o i . E u n a é p o c a - achei
r u i m , a t é e s c r e v i , m a s d e p o i s f i q u e i em dÚ
v i d a , m a ç e r a o q u e m a i s me c h a m a v a a a t e ;-
ç ã o e r a um t i p o d e d i s c u s s ã o q u e t i n h a na
época e que e r a o s e g u i n t e , o Pamplona sem
p r e f o i um g r a n d e a r t i s t a , d e e x t r e m o bom
g o s t o , i d e n t i f i c a d o com o p o v o , e l e queria
s e i d e n t i f i c a r com o p o v o , mas h a v i a um c e r
t o autoritarismo [...I O n e g ó c i o d o arn na vã -
lesco individualizou muito o indivíduo, O
a r t i s t a q u e f a z t u d o , e E s c o l a d e Samba 6
uma c o i s a m a i s a m p l a . Q u e r d i z e r , a falta
d e e s p í r i t o c o l e t i v o na E s c o l a d e Samba n ã o
é uma c o n s e q u e n c i a e x c l u s i v a d a ascençao
.
d o C a r n a v a l e s c o , há o u t r a s c o i s a s , a p o l í t i
c a , a mudança d a c i d a d e , o modelo econÔmi
co, a transformação das comunidades,que lè
v a r a m a c o i s a a n ã o s e r m a i s como antigã
m e n t e . Mas q u e o C a r n a v a l e s c o t e m muitã
r e s p o n s a b i l i d a d e com i s s o t e m . "
 O termo "autoritarismo", aplicado ao Carnavalesco,poç
si'velmente t e m p o r b a s e a i m p o s i ç ã o d e um d e t e r m i n a d o " m o d e l o " ,
e no p r o c e s s o d a s E s c o l a s d e Samba o u t r o s m o d e l o s f o r a m aplica
d o s s e m n e c e s s a r i a m e n t e c o n s t i t u i r e m uma a t i t u d e a u t o r i t á r i a , O
exemplo d e Paulo da P o r t e l a , a o m u d a r a imagem d o s a m b i s t a m a-
r
g i n a l i z a d o p a r a o s a m b i s t a bem v e s t i d o , de terno e gravata, f o i
uma c o n s c i e n t i z a ç ã o q u e i n f l u e n c i o u d e m a n e i r a d e c i s i v a n a e-
s
sentia d o s a m b i s t a n a década de 50, a sua apresentação pessoal.
O modelo que s u r g i u com o s C a r n a v a l e s c o v e i o d e u m p r o c e s s o a-
n
t e r i o r a e l e e que é i n e r e n t e p r o p r i a E s c o l a d e Samba, e não
um a c o n t e c i m e n t o e x t e r n o a e l a . S e r i a uma v i s ã o m u i t o s i m p l i s t a
i m a g i n a r que o s C a r n a v a l e s c o s d e algumas E s c o l a s começassem a
"impor" modelos a e s t r u t u r a s t ã o complexas e autõnomas, que paz
sivamente os aceitariam. Na r e a l i d a d e n e n h u m a a l t e r a ç ã o f o i i-
m
posta de forma a u t o r i t á r i a , m a s s i m uma a b s o r ç ã o d e elementos
v i s u a i s que s e tornaram modelos por seu próprio r e s u l t a d o , e por
i s s o mesmo a c e i t o s p e l a s E s c o l a s d e S a m b a .

Muitas vezes o que s e r e v e l a nestas discussÓes é um

questionamento de "posse" d o Samba e d a s E s c o l a s d e Samba, seja
no s e n t i d o d e d i s c u t i r a q u e s e g m e n t o s o c i a l p e r t e n c e m , seja
p o r r q u e d e v e m m a n t e r um m o d e l o q u e e s t á r e s t r i t o a o p a s s a d o e
q u e com a s i n ú m e r a s t r a b s f o r m a ç Ó e s c o n s t i t u i a f o r m a a t u a l das
E s c o l a s d e Samba. Discute-se muito a sua sobrevivencia e p e r m-
a
nência, sua padronização e descaracterizaç~o,por vezes minimi -
z a n d o a s u a g r a n d e i m p o r t â n c i a como m a n i f e s t a ç ã o c u l t u r a l n a c i-
o
nal, que p o r sua v i t a l i d a d e e dinâmica não pode f i c a r restrita
a o s s e u s l o c a l d e o r i g e m nem n o s m o l d e s d e s u a s a p r e s e n t a ç õ e s -
i
niciais.

Desta maneira abre-se um e s p a ç o p a r a c o n c e i t o s m u i t a s

vezes equivocados, que r e l a t i v i z a m o problema sob o ângulo da
dominação c u l t u r a l , como s e a s E s c o l a s d e S a m b a f o s s e m c o n s t-i
t u i d a s p o r uma m a s s a p a s s i v a , alienada e "dominada" que ainda
vivesse o tão falado "sonho de Cinderela", o de s e r r e i e r a-
i
n h a p o r um d i a , p a r a no d i a s e g u i n t e r e t o r n a r sua condição de
oprimido.
 Muitas vezes a p r o f i s s i o n a l i z a ç ã o d o C a r n a v a l e s c o tem
sido alvo de reflexões arbitrárias, que inclusive a relacionam
com a s t r a n s f o r m a ç õ e s d e c u n h o a d m i n i s t r a t i v o o c o r r i d a s n a s E-
ç
c o l a s d e Samba como s e t o d o s e s t e s f a t o r e s h o u v e s s e m a c o n t e c-i
do s i m u l t a n e a m e n t e . P o r i g n o r a r o p r o c e s s o d e s u r g i m e n t o d o C a-
r
navalesco, s e u s campos d e origem q u e f o r a m a m p l i a d a o s e s e u pa
pel na e v o l u ç ã o do D e s f i l e , muitas d e s t a s r e f l e x õ e s carecem de
respaldo real.

"A d e s c a r a c t e r i z a ç ã o f o i t ã o completa que,de

associaçÕes de manifestação cultural, a s Es
c o l a s tornaram-se cada vez mais verdadeiro;
t i p o s d e o r g a n i z a ç ã o com m o d e l o d e empreen
dimento comercial. Quanto à f i g u r a do ar
n a v a i e s c o , pouco a pouco, mas firmemente7
t o r n o u - s e o b r i g a t ó r i a em q u a l q u e r e s c o l a d e
samba. A t u a l m e n t e d e i x a r a m d e s e r " c o n v i d-a
d o s " . Nem t e n t a m e s c o n d e r q u e s ã o r é g i a m e n -
t e p a g o s p a r a " a r m a r " o c a r n a v a l d e uma es
c o l a . Como m e r c a d o p r o f i s s i o h a l a b e r t o a e:
s a categoria, a s escolas passaram a a t r a i r
e l e m e n t o s d a s E s c o l a s d e B e l a s A r t e s ou o-
u
t r o s que tivessem qualquer experiência co
r e o g r á f i c a . Os m a i s f a m o s o s h o j e s ã o dispÜ
tados pelas mais r i c a s escolas que, entre
t a n t o , o s substituem a semelhança de t é c n-i
c o s d e f u t e b o l : se f o r e m s u c e s s o , p e r m a n-
e
cem, s e não o f o r e m , s ã o e x c l u i d o s . ( 5 5 1 ( . . . I
A a t u a ç ã o do c a r n a v a l e s c o na e s c o l a d e sam
ba s e r i a m e n o s n e g a t i v a , s e e l e n ã o assumin ..-
s e poskuka d e "gnande libeaZadoa1l e s e n a 0
tivesse c o m p o r t a m e n t o d e dominadok 6nen.te
a gkupos c o l o n i z a d o s , ( . . . 1 ( 5 6 l [ g r i f o n o s s o 1
.
"I.. ] C h a m a d o a " f a z e r .o c a r n a v a l " d a
l a , p o d e e s t a b e l e c e r como c o n d i ç ã o
esc0
básicã
para a r e a l i z a ç ã o do t r a b a l h o a aceitação
i n t e g r a l d e s u a s proposiçÕes. Dessa maneira
encontrando-se a cavaleiro para cobrar a -e
xecução de suas determinações, disputa de
um p o d e r n ã o f o r m a l i z a d o , m a s s u f i c i e n t e p a
r a manter sob pressão qualquer setor sobre
o q u a l e s t e n d e s u a a t i v i d a d e , em e s p e c i a l o

( 5 5 1 RODRIGUES, A N A M A R I A , idem, op. cit. p. 47

(561 idem, op. c i t . p.49
 p r e s i d e n t e da agremiação. O a r t i s t a desem
p e n h a uma f u n ç ã o c u j a i m p o r t â n c i a em a l g u n s
a s p e c t o s , a u p e t a a d o p 4 o p 4 i . o p4eaidenXe."
( 5 7 l ( g r i f o nosso1

" ( . . . ) o C a r n a v a l e s c o moderno, a t u a l , e n g a j- a
d o n i s s o , o mesmo C a r n a v a l e s c o q u e f a z o e - s
p e t á c u l o d e T V é m a i s o u m e n o s o mesmo que
f a z o d e s f i l e d a s E s c o l a s d e Samba. S e v o c e
f i z e r uma a n á l i s e d e t o d o s o s C a r n a v a l e s c o s
que a i estão, e l e s todos de c e r t a f a i x a de
c o n s u m o , hão A o d o 6 ohiundoa da T V , lidam
com s h o w , som e s p e t á c u l o s , e n t ã o t e m que
t e r e s s e t i p o de noção de "timing" dentro
da Escola de Samba."(grifo nosso1

D e s t a s o p i n i õ e s e c o n c e i t o s o a u e s e pode apreender
é q u e e x i s t e a t e n d ê n c i a a um p r é - j u l g a m e n t o e a posicionar o
Carnavalesco como um e l e m e n t o s e m p r e " e x t e r n o " 5 Escola de -
Sam
ba, q u e em n e n h u m i n s t a n t e r e v e l a uma r e l a ç ã o m a i o r e m a i s pro
funda do que a da "dominação" e da remuneração. Nascido da prg
p r i a E s c o l a d e S a m b a em r e s p o s t a 2s s u a s n e c e s s i d a d e s , s u a r e l -
a
ç ã o com a mesma 6 t r a t a d a d e um modo s u p e r f i c i a l e s o b r e t u d o c -
o
m e r c i a l que não c o r r e s p o n d e 5 realidade.

M a r i a ~ Ú l i aG o l d w a s s e r , n o livro "O ~ a l á c i od o S a m b a " ,

denomina o C a r n a v a l e s c o p e l o termo " e x p e r t o " e a t r i b u i a o s i n d-
i
d i d u o s p o s s u i d o r e s do " s a b e r c a r n a v a l e s c o " - no c a s o e s p e c i f i c o
da Mangueira - um poder d e l i d e r a n ç a que o s t o r n a i n d i s p e n s-
ã
veis. A p e s a r d e em m o m e n t o a l g u m f a z e r r e f e r ê n c i a a o p r o f i s s i-
o
na1 Carnavalesco, a i n d a m a i s numa E s c o l a q u e t e m em s e u quadro
um C a r n a v a l e s c o como J u l i o M a t t o s , o p o r t u n a m e n t e chamado d e J-
u
l i n h o "da Mangueira", que t a n t o s carnavais executou para esta
agremiação, a a u t o r a d e f i n e o conhecimento do f a z e r artisiti-
c o e t 6 c n i c o d o c a r n a v a l d e uma f o r m a c l a r a , extraida de sua
p e s q u i s a na E s c o l a , e m b o r a com e s t a i n c o m p r e e n s s ~ v e l o m i s s ã o .

( 5 7 1 LEOPOLOI, J O S E SAVIO, E s c o l a d e Samba. Ritual e Sociedade.

op.cit.p.79
 " F a z e r o c a r n a v a l " ou " e n t e n d e r d e c a r n a v a l "
c o n s t i t u i uma t a r e f a a l t a m e n t e e s p e c i a l i z-
a
d a d e n t r o d e uma E s c o l a d e S a m b a . A f o r a o
p r o b l e m a d e o r g a n i z a r e d i s c i p l i n a r uma vo
l u m o s a m a s s a d e p a r t i c i p a n t e s , h á uma s é r i e
d e " s o l u ç Õ e s " c a r n a v a l e s c a s q u e já foram
l o n g a e r e p e t i d a m e n t e t e s t a d a s na história
d a s E s c o l a s d e Samba e q u e devem s e r c o n h-
e
c i d a s p e l o s expek,tab( ... ) ( g r i f o nossol0 "sa
ber"carnava1esco d i f e r e de outras formas d e
conhecimento a r t í s t i c o . Ele e s t á dentro da
c h a m a d a " c u l t u r a p o p u l a r " no s e n t i d o d e q u e
c o m p r e e n d e uma f o r m a d e a p r e n d i z a d o espon
tâneo e informal, depende assim da v i v ê n c i ã
e c o n v i v ê n c i a d e n t r o d e u m m e i o d e " e s p e c i- a
l i s t a s " . I s s o p o r o u t r o l a d o , p r o t e g e o "e:
p e r t o " c a r n a v a l e s c o da i n f i l t r a ç ã o e c o-
n
corrência de outros expertos de fora.(...]
~ l é md o s principias g e r a i s d o D e s f i l e , há
c a r a c t e r ? s t i c a s p a r t i c u l a r e s a cada Escola
d e Samba q u e o e x p e r t o t e m q u e distinguir.
A l g u m a s s ã o i m e d i a t a m e n t e v i s ~ v e i s , como a s
c o r e s v e r d e e r o s a da Mangueira, o u t r a s me
nos t a n g p i v e i s . E x i s t e a l g o que s e poderi;
d e n o m i n a r o " e s t i l o " ou a " m a r c a i d e n t i f-i
c a d o r a " d e c a d a E s c o l a d e S a m b a , m a s q u e em
g e r a l s e descrevem por atributos emocio -
n a i s e não p o r v a r i á v e i s o b j e t i v a s . " ( 5 8 1

Este "saber carnavalesco" representa o conhecimento

t é c n i c o e a r t f s t i c o que o.Carnavalesco possui, a c r e s c i d o do -
co
nhecimento da identidade da Escola para a qual trabalha. O grau
d e e s p e c i f i c i d a d e q u e e n v o l v e o " f a z e r o c a r n a v a l " c o l o c a o C a-
r
navalesco numa p o s i ç ã o d e e s p e c i a l i s t a q u e o d i s t i n g u e no c o-
n
t e x t o da E s c o l a d e Samba, o n d e c o n h e c i m e n t o s e h a b i l i d a d e s e s p-
e
c í f i c a s são bastante valorizados, como n o c a s o d o s " M e s t r e s " d e
Bateria, D i r e t o r e s d e Harmonia e c a s a i s d e Mestre-Sala e P o r t-
a
Bandeira.

C i e n t e s do v a l o r d e s t e conhecimento, atualmente OS

C a r n a v a l e s c o s s e p o s i c i o n a m d e uma m a n e i r a m a i s c o n s c i e n t e pe
r a n t e a E s c o l a d e Samba e o p r ó p r i o t r a b a l h o q u e e x e c u t a . Em t -
o

1 5 8 1 GOLDWASSER, M A R I A JULIA, O P a l á c i o do Samba,op.cit.p.l74 e

175
do p r o c e s s o t r a n s f o r m a d o r , m u i t a s v e z e s o s s e u s a g e n t e s não tem
a i m e d i a t a noção da e x t e n s ã o e e f e i t o s que a s a l t e r a ç õ e s nas
q u a i s s e encontram e n v o l v i d o s possam v i r a causar, e neste c-
a
s o p o d e m o s a f i r m a r q u e o C a r n a v a l e s c o f o i um d o s a g e n t e s das
transformações h a v i d a s no d e s f i l e , conscie.nte de suas inovações
e d e s c o b e r t a s na é p o c a .

A c o n s c i ~ n c i ad e s t a t r a n s f o r m a ç ã o f o i s e n d o c o n s o l-
i
dada aos poucos, a p a r t i r d o m o m e n t o em q u e o h i s t ó r i c o d a s a-
1
terações e resultados f o i configurando o quadro r e a l dos e f e-
i
t o s d a s t r a n s f o r m a ç õ e s d a s E s c o l a s d e Samba, e o posicionamento
do Carnavalesco n e s t e c o n t e x t o .

H o j e podemos a f i r m a r q u e o C a r n a v a l e s c o tem c o n d i ç õ e s
de medir suas proprias i n t e r f e r ê n c i a s , proposições e limitações,
o q u e e v i d e n c i a um m a i o r s e n s o c r i t i c o ( q u e s e m p r e e x i s t i u ) com
relação ao seu trabalho. Hoje e l e tem c o n d i ç õ e s m e l h o r e s d e v-
i
s u a l i z a r o u n i v e r s o s d o c a r n a v a l d a s E s c o l a s d e Samba d o q u e a
t r i n t a anos a t r á s , p o d e n d o mesmo p l a n e j a r e d e t e r m i n a r o s carni
n h o s m a i s s e g u r o s a s e r e m e x p e r i m e n t a d o s com r e l a ç ã o a o D e s f i l e .

Outro aspecto importante é que e x i s t e atualrnente um

movimento no s e n t i d o d e o b s e r v a ç ã o d o s e l e m e n t o s m a i s t r a d i c i-
o
n a i s e a u t ê n t i c o s d a s E s c o l a s d e Samba. J á não há, c o m o n a d ê c-
a
da de 60 a l i b e r d a d e d e p r o p o s i ç Õ e s q u e v i a b i l i z o u t a n t a s o u s-
a '

d i a s e inovações. Quanto mais s e i g u a l a o conhecimento dos C a-

r
n a ' v a l e s c o s e o s r e c u r s o s f i n a n c e i r o s d a s E s c o l a s d e Samba, m a i s
s e a p r o x i m a o D e s f i l e d e uma " p a d r o n i z a ç ã o " d e s u a a p r e s e n t a ç ã o
e é n e s t e s e n t i d o que novos enfoques poderão s u r g i r , não só da
criatividade dos Carnavalescos, m a s d a p r o p r i a e x i g e n c i a d o D e-
s
file.

A consciência dos limites a serem r e s p e i t a d o s r e f l-

e
tem o amadurecimento p r o f i s s i o n a l , e condicional os C a r n a v a l e-
s
c o s a r e f l e x õ e s que envolvem t u d o o que já f o i f e i t o n a s E s c-
o
l a s d e Samba e q u e h o j e s e r v e m d e p a r â m e t r o p a r a n o v a s proposi -
-
çoes.
11. ( ...
I a n o s s a f u n ç ã o , minha e do Mauro, é f a
z e r v o l t a r um p o u c o a o s c a r n a v a i s q u e ja
foram esquecidos, não só a n i v e l d e enrêdo
mas a n i v e l d e E s c o l a , d e c h ã o , d e samba no
p é , p o r q u e a c o i s a v i r o u um e x c e s s o d e e f e i
tos especiais, raio laser, tá caminhandõ
para o Spielberg, enquanto que o principal
q u e e l e s m a i s g o s t a m e s t á semdo e s q u e c i d o ,
q u e 6 o samba, a r a i z ( . . . I Claro que eu
f u i um p o u c o c u l p a d o [...I acho que o g i g a p
tismo, a mecânica d e s u b i r e descer carros
eu c r i e i , agora v á r i a s Escolas e s t ã o f a z e-
n
do i s t o (...Irnas p a r a m i m i s s o já perdeu a
g r a ç a , e u e s t o u m a i s no p r i m i t i v o , o cara
empurrrarido..."

Max L o p e n

" ( . . . ) n a m e d i d a em q u e a c o i s a f o i evoluin
d o , a g e n t e também t e m q u e p e n s a r q u e h2
um r a c i s m o e n o r m e em v o c ê d i z e r q u e o bran
co não tem d i r e i t o d e sambar ( . . . I o C a r n-
ã
v a l e s c o não determina s e o p r e t o tem que
s a i r e o branco entrar, muito pelo c o n t r-
ã
r i o . Faço questão de b o t a r mulatas nos c a-r
r o s , mas q u e r o b o t a r m u l a t a s b o n i t a s POT
q u e t o d o mundo q u e r v e r ( . . . I 1 *

"(...Iisso 6 uma c o n t i n g e n c i a d a m o d i f i c a ç ã o
do c a r n a v a l , do d e s f i l e , da g e o g r a f i a da c i
d a d e I...)j á n a M a r q u e s d e S a p u c a ? quandõ
não e r a a i n d a Sambódromo, eram a s arquiban
cadas e e l a s foram ficando cada vez mais a i
t a s , e é c l a r o q u e é a q u e s t ã o d o p r o f i s s i- õ
na1 compreender o s e n t i d o do espetáculo, e
o s C a r n a v a l e s c o s c o m e ç a r a m a f a z e r um c a-r
naval mais v e r t i c a l , senão a s pessoas que
e s t a v a m n a s a r q u i b a n c a d a s riao p o d e r i a m ver
. [ . . . I I s s o f o i uma n e c e s s i d a d e , n ã o uma i-n
v e n ç ã o d o C a r n a v a l e s c o . Hã c o i s a s p o r exem
p l o q u e f o r a m e x a c e r b a d a s , como o n ú m e r o d e
c a r r o s alegóricos, c a r r o s demais, grandes,
o que não a c r e s c e n t a nada à Escola, só a t r a
p a l h a o d e s e n v o l v i m e n t o d a E s c o l a d e samba;
só a n i q u i l a a p o s s i b i l i d a d e do p a s s i s t a se
e x i b i r e h á p o u c o s p a s s i s t a s em f u n ç ã o dis
s o , e d a d i m i n u i ç ã o d o t e m p o , q u e f a z o p a- ç
s i s t a correr a t r á s dos carros."

iianaLdo C o n t a
"(....)muita g e n t e f a l a dos Carnavalescos,mas
s e você não a t e n d e r 2s e x i g ê n c i a s do desfi
l e v o c ê não será c o n v i d a d o no ano seguinte
para trabalhar (...I Todo o c e n á r i o mudou,
a s luzes são diferentes, o Carnavalesco que
não t i v e r p r á t i c a , v i s ã o d a c o i s a , da d i-
s
t â n c i a em q u e o p ú b l i c o e s t á a s s i s t i n d o , e
a s pessoas assistem a quase duzentos metros,
q u e pagam e t e m o d i r e i t o d e a s s i s t i r , de
v e r b o n i t o e v o c ê d i s p e n s a um trabalhinho
bem f e i t o , com m a i s e l e g ê n c i a , p o r q u e são
t r a ç o s f o r t e s que tem que i r presença de
quem e s t á a s i s t i n d o ( . . . I O Carnavalesco
é um i n s t r u m e n t o d i s t o t u d o , e acompanhou
e s t e processo, apesar de toda essa evolução
em q u e m u i t a c o i s a p o d e r i a t e r s i d o preser
v a d a , c o n s e r v a d a p e l o menos na b a s e , o prz
p r i o s a m b a . Não f o i S Õ o C a r n a v a l e s c o , o
compositor f o i a t é muito mais culpado de
m u i t a c o i s a , p o r q u e o samba h o j e 6 t o t a-
l
mente d i f e r e n t e . "

" E u s o u um q u e p o r e x e m p l o l e v o c u l p a , p o r q u e
modifiquei, eu c o n s e n t i que modificasse a
apresentação da Comissão d e F r e n t e , que é
a q u e l a c o i s a d e algum tempo a t r á s serem a s
pessoas mais velhas da Escola, todas vesti-
d a s a r i g o r e eu f u i um dos que consentiu
em m o d i f i c a r , c r i a r uma c o r e o g r a f i a , uma
d a n ç a , uma h i s t ó r i a em c i m a d i s s o e todos
f i z e r a m a m e s m a c o i s a . Mas v a m o s f a z e r uma
reciclagem disso porque a gente e s t á dei
xando a c o i s a i r muito a l é , e nós estamo:
envolvidos por sugestão dos dirigentes, O
que é muito importante, o s dirigentes que .
rem c a d a v e z m a i s , n ã o s e d ã o a o trabalho
d e p e n s a r o q u e f o i uma E s c o l a d e S a m b a a
cinquenta anos a t r á s , e l e s já entraram, a-1
g u n s d e l e s , num p e r i ' o d o a l t e r a d o , e f o i a1
t e r a n d o c a d a v e z m a i s , e e l e s querem muita;
m u l h e r e s em c i m a d o s c a r r o s , m u i t a p l u m a , p a
e t ê , e f e i t o s e s p e c i a i s , g á s , r a i o laser, f- o
gos, tudo, e de repente você para e pensa,
O que é i s s o ? "
 A q u e s t ã o d o e n v o l v i m e n t o com o s D i r i g e n t e s e a t é m e-
s
mo uma submissão 2s s u a s e x i g ê n c i a s é um f a t o r e a l , q u e existe
em f u n ç ã o d o p o d e r q u e e s t á c o n c e n t r a d o n a s f i g u r a s m a i s i m p o r -
t a n t e s da Escola, s e j a o P r e s i d e n t e ou o P a t r o n o . Este poder i -
m
p l i c a em q u e e x i s t a m d e t e r m i n a d a s i m p o s i ç õ e s q u e l i m i t a m o -
cam
po d e a t u a ç ã o d o C a r n a v a l e s c o , p o r v e z e s a f e t a n d o o p1anej:arnen-
t o por e l e feito.

"(...)Os C a r n a v a l e s c o s , p r i n c i p a l m e n t e em E -
s
c o l a d e Samba q u e e x i s t e um p o d e r maior
e l e s s ã o t o l h i d o s em s u a c r i a t i v i d a d e , por
q u e c h e g a o p a t r ã o ou p a t r o n o e d i z - que
r o um c a r r o a s s i m p a r a b o t a r a m i n h a mu
l h e r - e o c a r a t e n t a e x p l i c a r que não c a b e
aquele c a r r o a l i , para colocar a mulher de
l e , p o r q u e o c a r n a v a l v a i s e d e s e n v o l v e r em
t a n t o s c a r r o s , e a i o p a t r ã o d i z , quem é q u e
e s t á t e pagando? E o Carnavalesco v a i e f a z "

C e r t a m e n t e e s t e t i p o d e i m p o s i ç ã o n ã o é uma r e g r a ge
r a l na r e l a ç ã o p r o f i s s i o n a l entre Carnavalesco e a s Escolas de
Samba, mas a p a r t i r d e s t e p r e c e d e n t e p o d e - s e a v a l i a r que -
sem
p r e que ocorreram novidades que "modernizaram" o desfile,a p r e-
s
são f e i t a pelos Dirigentes sobre os seus Carnavalescos deve
t e r s i d o c o r r e s p o n d e n t e não s ó vontade de i m i t a r o s novos mo
-
delas, m a s também a o s r e s u l t a d o s o b t i d o s p o r e s s a s i m i t a ç õ e s .

Atualmente o Carnavalesco, como c o n h e c e d o r d a -

histÓ
r i a d a s E s c o l a s d e Samba e d o p r o c e s s o d e e v o l u ç ã o d o q u a l fez
parte, tem s e p o s i c i o n a d o tambem no s e n t i d o d e p r e s e r v a r d e t e-
r
minados elementos t r a d i c i o n a i s , protegendo-os de maiores t r a n-
s
formações.

"Eu a c h o q u e a s p r ó p r i a s E s c o l a s d e v i a m ser
mais "escolas", e n s i n a r mais, porque hoje
n ã o e n s i n a m m a i s n a d a . Uma c o i s a q u e discu
t o é a perda do Mestre S a l a e P o r t a BandeiT
r a , p o r q u e h o j e n ã o d a n ç a m , f i c o u uma c a-i
s a a c r o b á t i c a , e l e s s a l t a m , pulam, 6 con
c u r s o d e g i r o , não tem m a i s d a n ç a e ele;
 tentam i m i t a r o balé c l á s s i c o , porque o que
e l e s v ã o g o s t a r 6 d o " p a d e t p o u r r é " , d a q u-i
10 q u e e l e f a z b o n i t o n a p o n t a d o p é , e o
passo de l i g a ç ã o do Mestre-Sala e Porta-Ban
d e i r a não é o "padet pourré", é o " c h a-
s
s e z " , o a r r a s t a d o e i s t o e s t á mudando m u-
i
t o (...I os p r ó p r i o s negros prederam a q u-
e
l a i n t u i ç ã o que e l e t i n h a , porque o negro
t i n h a uma i n f o r m a ç ã o m u i t o b o a , d e distin
qão dos avós, do pai, daquela ele
g â n c i a q u e v o c ê v ê na v e l h a Guarda d a Esc- Õ
l a d e S a m b a , em q u e v o c ê v ê v e r d a d e i r o s se
n h o r e s q u e s ã o p r i n c i p e s , r e i s em dignidã
d e , em p o s t u r a . H o , j e o p r e t i n h o t e m jeitõ
d e M i c h a e l J a c k s o n , do q u e e l e s tem para
v e r n a T V , n o c i n e m a , e é uma p e n a q u e as
. E s c o l a s não s e previnam.

"0 importante é preservar dentro d e s t e super

e s p e t ~ c u l oe s s a s c a r a c t e r i s t i c a s fundame;
t a i s q u e tem a E s c o l a d e Samba. Você valÕ
r i z a r o s c o m p o n e n t e s t r a d i c i o n a i s [ . . . I A ;E
t á c i o e s t e a n o tem c o i s a s q u e s ã o t r a d i c i-
õ
n a i s em E s c o l a s d e S a m b a , q u e e u f i z ques
t ã o de manter e a t é de acrescentar. A Esta
c i o não t i n h a Ala d a s Cabrochas, e a s Cabrõ
c h a s s ã o uma t r a d i ç ã o em E s c o l a d e S a m b a . r
a nova g e r a ç ã o e tem t r ê s f a s e s na Escola
q u e c o m e ç a com a s c r i a n ç a s , d e p o i s p a s s a p a
a Ala d a s Cabrochas e d e p o i s p a r a a Ala d a s
B a i a n a s I . . . )e e s s a s f a n t a s i a s e u acho
que tem que s e r d o a d a s p e l a E s c o l a , para
manter a comunidade unida e manter e s s a es
p i n h a d o r s a l d a E s c o l a d e Samba [ . . . I Parã
m i m é fundamental manter os personagens
p r i n c i p a i s que são e s s a s três a l a s , esses
t r ê s s e g m e n t o s , com a t u r m a d o E s t á c i o , s e m
e n x ê r t o d e e s p é c i e a l g u m a , p o r q u e a: você
e s t a r á mantendo a base da Escola."

Mania Monteino

5.5 - O CARNAVALESCO E O CONTEXTO C U L T U R A L DAS ESCOLAS DE

SAMBA

Ao d e f e n i r m o s o p e r f i l do p r o f i s s i o n e l C a r n a v a l e s c o ,
d e v e m o s c o n s i d e r a r s e u p a p e l no c o n t e x t o c u l t u r a l o n d e d e s e-
n
volve seu trabalho. E s t a é uma q u e s t ã o c o m p l e x a , e sabemos que
 e l a n ã o s e e s g o t a numa Ú n i c a a n á l i s e . Cabe r e f l e t i r s o b r e as
transformaçÕes c u l t u r a i s p e l a s q u a i s passou a c i d a d e do Rio
de J a n e i r o e o s r e f l e x o s d e s t e s movimentos nas E s c o l a s de -
Sam
ba e c o n s e q u e n t e m e n t e no t r a b a l h o d o C a r n a v a l e s c o .

O d e s f i l e d a s E s c o l a s d e Samba surgiu das camadas

m a i s p o b r e s d a s o c i e d a d e c o m o uma m a n i f e s t a ç ã o c u l t u r a l p e r t e-
n
tente a o C a r n a v a l C a r i o c a . Com a c i v i l i z a ç ã o d o C a r n a v a l , suas
m a n i f e s t a ç õ e s mudaram d o s v i o l e n t o s e n t r u d o s p a r a a s f e s t a s u -r
banas. A própria E s c o l a d e Samba p a s s o u por e s t e processo de
civilização, impulsionado pelo i n e t r e s s e despertado pelo genero
musical que possui, o samba,gravado em d i s c o em 1 9 1 7 p e l a p r-
i
meira vez.

A o f i c i a l i z a ~ ã od a s E s c o l a s d e S a m b a em 1 9 3 2 e o pri-
m e i r o c o n c u r s o em 1 9 3 7 f o r a m o s p o n t o s c h a v e s p a r a o d o m i n i o c -
a
d a v e z m a i o r d a s E s c o l a s d e Samba no C a r n a v a l C a r i o c a , até a
d é c a d a d e 6 0 q u a n d o s e a f i r m a r a m como g r a n d e m a n i f e s t a ç ã o c a-
r
navalesca. A E s c o l a d e Samba n ã o s e manteve c r i s t a l i z a d a como
uma m a n i f e s t a ç ã o f o l c l ó r i c a , q u e mantém s u a s t r a d i ç õ e s p r a t-
i
c a m e n t e i n a l t e r a d a s c o m o a c o n t e c e com o Burnba Meu B o i e a F e-
s
t a do Divino. Sua d i n â m i c a d e a d a p t a ç ã o , absorção e evolução a
c o l o c a no â m b i t o d e m a n i f e s t a ç ã o d e c u l t u r a p o p u l a r .

A s s o c i e d a d e s c o n t e m p o r â n e a s d i v i d e m s e u u n i v e r s o c u-
l '

t u r a l em t r ê s u n i d a d e s b á s i c a s - a cultura erudita, a cultura

de massa e a c u l t u r a popular. Esta classificação é não l i m i t a d a
por f r o n t e i r a s d i s t i n t a s e há i n t e r e l a ç õ e s e n t r e seus campos,
sem o q u e s e t o r n a r i a m c l a s s i f i c a ç õ e s e s t r a t i f i c a n t e s .

I
A noção d e C u l t u r a P o p u l a r no B r a s i l começou a s e -
a

i
f i r m a r na d é c a d a d e 6 0 , com g r a n d e s q u e s t i o n a m e n t o s e 6 just-
a

t m e n t e n e s t a d é c a d a q u e um p r o c e s s o d e a b e r t u r a e i n t e r e s s e c o l -
o
h c a s o b f o c o d e a t e n ç õ e s a s E s c o l a s d e Samba. Para compreender
I e s t e p r o c e s s o 6 n e c e s s ~ r i os i t u a r h i s t Ó r i c a m e n t e ' a s E s c o l a s de
t Samba q u a n t o a o c l i m a d e e f e r v e c ê n c i a c u l t u r a l d o s a n o s 6 0 , e
>
n e s t e senti'do entender a s razões de sua a b e r t u r a para outros
segmentos da sociedade, incluindo a c l a s s e média e o s i n t e l e-
c
tuais, q u e m u i t o s c r i t i c o s c o n s i d e r a m como " i n v a s o r e s " , e sob
este rótulo incluem o Carnavalesco.

5.5.1 - A " I N V A S Ã O ~ D A CLASSE MEDIA N A S ESCOLAS DE SAMBA

"[...INa verdade a c l a s s e média contou com

o estimulo dos dirigentes das Escolas, que
r e c e b i a m c o m o p r o v a d e p r e s t i g i o a i n t r o m i-
s
s ã o d o s b r a n c o s d e c a d e i r a d u r a em s e u sam
ba. E l e s não percebiam que a o a c e i t a r e m a
quelas pessoas desfilando estavam prejudi
c a n d o a p r ó p r i a e f i c i ê n c i a d a e s c o l a na com -
p e t i ç ã o da Avenida, p o i s f o i a p a r t i r do
momento q u e o s d e s f i l e s começaram a contar
com uma a s s i s t ê n c i a d e c l a s s e m é d i a q u e c-o
meçaram a m o d i f i c a r - s e . " (581

Em 1 9 5 4 h a v i a m d o i s c o n f l i t o s n a a p r e s e n t a ç ã o d a s E-
s
c o l a s d e Samba. A q u e l e e x i s t e n t e na p l a t é i a , que s e t r a n s f o r m-
a
v a num p a l c o d e v e r d a d e i r a s batalhas entre a policia e o p Ú b l-
i
co, e a q u e l e e x i s t e n t e na c r i t i c a j o r n a l í s t i c a , s u e não poupa
va a s a l e g o r i a s d a s Escolas, denominando-as de "barnboleanteç
monstrengos s o b r e t a b l a d o s d e c a r r o s d e s c o n j u n t a d o s " ~ 5 9 1A v i-
o
l ê n c i a da p o l i c i a , que atingia não s ó o p ú b l i c o mas também os
~ u í z e se a u t o r i d a d e s , unia-se v i o l ê n c i a do público, que i n v-
a ,

dia a s áreas reservadas à estas autoridades. Estes fatos d-

e
r a m i n í c i o a um p r o c e s s o d e o r g a n i z a ç ã o d o d e s f i l e , com a c o n-
s
trução de tablados e arquibancadas, solucionando o problema.

Quanto à violência da c r i t i c a , que cobrava profissio-

n a i s e s p e c i a l i z a d o s p a r a um m e l h o r r e s u l u t a d o n a a p r e s e n t a ç ã o ,
esta l e v o u a s E s c o l a s d e Samba a o c o m i n h o d e c o n t r a t a r p r o f i-
s
s i o n a i s cujo conhecimento técnico e a r t í s t i c o correspondes-
-
(581 CABRAL, SERGIO, A s E s c o l a s d e Samba, op.cit. p.149
t591 idem, op. cit. p. 125
se 5s e x p e c t a t i v a s não só da c r i t i c a , m a s d o ~ Ü b l i c oe d a s prq
p r i a s E s c o l a s d e Samba.

O q u e s e p e r c e b e é q u e em r e l a ç ã o ãs transformações -
o
c o r r i d a s nas Escolas de'samba, há uma g r a n d e p r e o c u p a ç ã o em se
encontrar os "culpados", e geralmente a c l a s s e média é p o s i c i-
o
n a d a como i n v a s o r a , e d i f i c i l m e n t e a s E s c o l a s d e Samba s ã o r-
e
c o n h e c i d a s como uma m a n i f e s t a ç ã o d e C u l t u r a P o p u l a r q u e a s c e-
n
deu v e r t i g i n o s a m e n t e d o s s u b ú r b i o s , o n d e e r a m m a n i f e s t a ç õ e s b a-
i
rristas, para serem o c e n t r o d e a t e n ç ã o do C a r n a v a l C a r i o c a .

Para a s o c i e d a d e b r a s i l e i r a a d é c a d a d e 6 0 f o i um pe
r?odo de grande turbulência polítuca que t e v e seu r e f l e x o no
campo c u l t u r a l . Durante e s t e p e r i o d o r a d i c a i s mudanças ocorre -
ram, incluindo a posse de dois Presidentes, um R e g i m e d e G o v e-
r
no P a r l a m e n t a r i s t a e o Golpe M i l i t a r d e 1964. Em 1 9 6 2 graves
problemas econÔmicos e s o c i a i s , que i n c l u i a m o aumento d a s po
p u l a ç õ e s u r b a n a s c u l m i n a r a m em p r e s s õ e s p o l í t i c a s q u e p o r sua
v e z geraram o s a c o n t e c i m e n t o s d e março d e 1964. H a v i a uma f o r t e
mobilização d a s o c i e d a d e em s u a s v á r i a s c a m a d a s , e os anseios
d e uma n o v a o r d e m s o c i a l d e t e r m i n a r a m o s u r g i m e n t o a e uma j u v e -
n
tude intelectualizada, i n s p i r a d a p e l o combate a o imperialismo -
a
m e r i c a n o e na d e f e s a s d o s e l e m e n t o s n a c i o n a i s .

O PCB, P a r t i d o Comunista B r a s i l e i r o c e n t r a l i z a v a e s s a
tendência nacionalistas, e o s jovens de"esquerdan voltavam seus
okhos para a C u l t u r a P o p u l a r e o s e g m e n t o d a s o c i e d a d e g e n é r i c-
a
mente denominado "povão". Esta juventude s e uniu a t r a v é s de e-
n
t i d a d e s p o l i t i c a s como a U N E , União Nacional d o s Estudantes,UME
u n i ã o M e t r o p o l i t a n a d o s E s - L u d a n t e s e UEE, U n i ã o E s t a d u a l d o s E-
s
tudantes, entre outras, propondo e n t r e o u t r a s c o i s a s , a R e f o-
r
ma U n i v e r s i t á r i a . A UNE, a p e s a r do não cumprimento d e s t a P
posta, s e a f i r m o u como uma d a s m a i s f o r t e s e r e p r e s e n t a t i v a s e -
n
t i d a d e s e s t u d a n t i s da década d e 60.

Esta efervecência polftica no m e i o e s t u d a n t i l s e e-

x
plica pela a t u a ç ã o n o s a n o s i n i c i a i s d a d é c a d a d e 60 d a s o r g-
a
nizações de esquerda, que muito influenciaram nos movimentos
reinvindicatórios. A p a l a v r a d e ordem p a r a a intelectualidade
brasileira era "engajamento", a p a r t i c i p a ç ã o a t i v a na mudança
da sociedade, e sob e s t a perspectiva valorizaram-se manifesta -
çÕes c u l t u r a i s o r i u n d a s do povo, que passou a ser o c e n t r o das
atenções.

Dois movimentos importantes surgiram d e s t e p o s i c i o n-

a
mento: o MCP, Movimento d e C u l t u r a P o p u l a r , e o CPC, Centro P-
o
pular de Cultura, num m o m e n t o em q u e o s s e g m e n t o s intelectuais
e a r t í s t i c o s da s o c i e d a d e c o n s i d e r a v a m com a p u r a d a a t e n ç ã o O

sentido do termo "popular",aliados a o s meios de comunicação de

m a s s a q u e a l e r t a v a m p a r a uma m a i o r c o n s c i e n t i z a ç ã o p o l i t i c a e
ideológica. Pretendia-se a s s i m c o n j u g a r num t r a b a l h o c o m u m e
p a r t i c i p a t i v o a massa da população brasileira e o s s e g m e n t o s a -r
tisticos e intelectuais.

Manifestações expressivas da Cultura, como o T e a t r o ,

q u e n e s t a d é c a d a t e v e uma v i t a l i d a d e m u i t o g r a n d e , o Cinema No
-
v o e a ~ Ú s i c aP o p u l a r a c o m p a n h a v a m i n t e n s a m e n t e e s t a m o b i l i z a -
ção. N e s t e s e n t i d o o CPC t e v e g r a n d e d e s t a q u e , comandado Por
F e r r e i r a Gular e Oduvaldo Viana F i l h o , apoiados sobretudo pela
UNE, radicando-se n o R i o d e J a n e i r o com o o b j e t i v o d e l e v a r a
a r t e p a r a o povo. O CPC n ã o se r e s t r i n g i u apenas a o Rio d e -
Ja
neiro, mas espalhou-se pelo Brasil, sendo tolhido pelas d i f-
i
c u l d a d e s d e uma heterogeneidade c u l t u r a l muito grande e enormes
d e s n i v e i s sócio-econÔmicos q u e o i m p e d i r a m d e c u m p r i r seu o b j-
e
t i v o p r i n c i p a l d e c o n s ~ i e n t i z a ~ ãp oo p u l a r .

Tal proposta de conscientização, na c o n c e p ç ã o d o s te5

r i c o s d o CPC, estava l i g a d a 5 i d é i a do compromisso d a Cultura
P o p u l a r com a r e f o r m a d a s o c i e d a d e b r a s i l e i r a , servindo de i n-
s
trumento vivo para a t i n g i r a s classes trabalhadoras.
 A r e f l e x ã o do que s e r i a a Cultura Popular remetia a
uma d i s s o c i a ç ã o d o F o l c l o r e , q u e e r a v i s t o como a l g o c r i s t a l i z -
a
do, enquanto que a Cultura Popular a e l e s e opõe pelo seu d i n-
a
mismo e c a r á t e r i n o v a d o r .

"A C u l t u r a P o p u l a r é, em s u m a , a t o m a d a de
consciência da realidade b r a s i l e i r a [...I
C u l t u r a P o p u l a r é p o r t a n t o a n t e s d e m a i s n-
a
da, consciência revolucionária." (601

Esta consciência revolucionária, segundo F e r r e i r a Gu

-

llar, deveria e s t a r a t e n t a a o s g r a v e s p r o b l e m a s como o a n a l f-

a
betismo, f a l t a de vagas nas Universidades, condições econõmicas
do povo e o s campos pequenos demais p a r a a s a t i v i d a d e s i n t e l e-
c
t u a i s q u e g e r a v a m p r i v i l é g i o s p a r a um segmento da sociedade.
O g r a n d e p r o b l e m a é q u e h a v i a um c a r á t e r r e d u c i o n i s t a na i d e-
o
l o g i a d o CPC, em q u e s ó o a s p e c t o p o l i t i c o p r e v a l e c i a , em d e t r-i
m e n t o d e o u t r o s como o a s p e c t o l Ú d i c o d a c r i a ç ã o , o estético e
,.
o religioso. P a r a o s t e ó r i c o s d o CPC, a Cultura Popular nao
e r a um p r o d u t o r e s t r i t o d a s camadas populares, pelo contrário,
simbolizava a produção das e l i t e s i n t e l e c t u a i s comprometidas
com e s t a s m e s m a s c a m a d a s , correspondendo :quilo que julgavam
ser s u a s e x p e c t a t i v a s .

Apesar d i s t o , os intelectuais e a r t i s t a s assumiram o

compromisso de das à s camadas populares a q u i l o que e l e s julg-
a
vam s e r n e c e s s á r i o e e x i g i d o p o r e l a s . O "povo" a "massa" n e c e-
s
sitava das elites, e ninguém melhor do que e l a s para suprir a s
suas necessidades básicas. Este posicionamento s e revelou auto
ritário e paternalista, m a s a p e s a r d e s u a s d i s t o r ç õ e s g e r o u uma
grande discussão sobre Cultura Popular.

O CPC v o l t o u sue atenção para a produção de camadas

sociais que incluiam os sambistas, e a g i u c o m o d i v u l g a d o r d e n-
o
mes como C a r t o l a , Zé K e t i e Nelson Cavaquinho, a t r a v é s d e shows
que reuniam g r a n d e número d e p e s s o a s . Na d é c a d a d e 6 0 , com O

s u r g i m e n t o d a B o s s a Nova, o samba ganhou a d e p t o s na c l a s s e mé

-
dia, e com o s n o v o s r i t m o s a m e r i c a n o s , q u e i n f l u e n c i a r a m o m o v-
i
mento da "Jovem Guarda", h a v e r i a uma r e a ç ã o n a d i r e ç ã o d o -
sam
ba a u t ê n t i c o , q u e c o l o c o u em e v i d ê n c i a a r t i s t a s como Paulinho
da Viola e Martinho da Vila.

Toda e s s a a t e n ç ã o d e d i c a d a a o samba se refletiu nas

E s c o l a s d e Samba, que acompanharam e a p r o v e i t a r a m a evidência
dada a o s s e u s c a n t o r e s e compositores.

Com o g o l p e m i l i t a r a U N E e o CPC d e s a p a r e c e r a m , mas

a mobilização continuou, bem c o m o o q u e s t i o n a m e n t o s o b r e a Cul
tura Popular. -
O T e a t r o O p i n i ã o f o i p a l c o d e v á r i o s s h o w s d e sam
b i s t a s que c o n t r i b u i r a m para d i v u l g a r novos e a n t i g o s valores.
A s E s c o l a s d e S a m b a p o r s u a v e z c o n t i n u a v a m o i n t e r c â m b i o com a
c l a s s e média e a l t a , como p o r e x e m p l o a c e i t a n d o a participação
de personalidades que concorriam nos concursos de Fantasias do
Teatro Municipal, sob o argumento de que I s a b e l Valença, s o S a-l
gueiro, t i n h a c o n c o r r i d o n e s t e c o n c u r s o com a F a n t a s i a de Chi-
c a da S i l v a , abrindo espaço para que seus p a r t i c i p a n t e s p u d e-
s
sem s a i r n a s E s c o l a s d e Samba. Desta forma, f i g u r a s como E v a-
n
d r o d e C a s t r o Lima e C l ó v i s Bornay começaram a d e s f i l a r n a s E-
s
colas, e C l ó v i s B o r n a y i n c l u s i v e a t u a r i a como C a r n a v a l e s c o na
Portela na d é c a d a d e 7 0 .

Muitas c r í t i c a s foram f e i t a s 2 participação de perso

n a l i d a d e s da a l t a sociedade, como B e k i K l a b i n , e d o mundo ar-
tístico, sobretudo da t e l e v i s ã o , que fesfilavam nas Escolas, "-
u
sando-as" como v e í c u l o d e a u t o - p r o m o ç ã o Em c o n t r a p a r t i d a , a p a-
r
t i c i p a ç ã o d e s t a s p e s s o a s cada v e z m a i s a t r a i a a a t e n ç ã o não só
d o s m e i o s d e c o m u n i c a ç ã o m a i s também d e p e s s o a s d e c l a s s e s m a i s
elevadas, promovendo o d e s f i l e d a s E s c o l a s d e Samba.Não nos c-
a
be j u l g a r s e e s t e m o v i m e n t o f o i ou não nocivo p a r a a s E s c o l a s , e
consideramos q u e i s t o s e r i a uma r e l a t i v i z a ç ã o s u p e r f i c i a l de
sua própria abrangência como m a n i f e s t a ç ã o p o p u l a r .

Nivelar a s transformações do d e s f i l e d e n t r o d e p a r ;-
metros d e invasão e dominação nos parece d e s m e r e c e r , e s t a m a n-i
festação, que soub absorver o s elementos novos e estranhos as
suas origens, f a z e n d o i n c l u s i v e uma seleção daqueles realmente
negativos, como f o i o c a s o d o " p a s s o m a r c a d o " , coreografia r-
e
jeitada p e l o S a l g u e i r o na década d e 60.

Ao f a z e r m o s e s t e b r e v e h i s t ó r i c o d o s questionamentos
s o b r e a C u l t u r a P o p u l a r na década d e 60, nossa proposta é s-
i
t u a r a s E s c o l a s d e Samba n e s t e c o n t e x t o , e q u e num d a d o momento
voltou seu foco de observação para todos o s elementos que com
-
põem a Cultura Popular, que terminou por valorizar a s próprias
E s c o l a s d e Samba. O Golpe M i l i t a r d e 64 r e f o r ç o u esta a b e r t-
u
r a em d i r e ç ã o à s m a n i f e s t a ç õ e s p ú b l i c a s , v i s t o q u e com a d i t-
a
dura a s f o n t e s p o l í t i c a s de mobilização popular foram s u p r i m-
i
das, r e s t a n d o como c e n t r o s r e u n i d o r e s d e m a s s a s o f u t e b o l , C

E s c o l a s d e Samba e o s c u l t o s r e l i g i o s o s .

O r á p i d o a v a n ç o d o s m e i o s d e c o m u n i c a ç ~ od e masse
p r i n c i p a l m e n t e a TV, c o n d i c i o n a r a m um n o v o e n f o q u e d o desfil
d a s E s c o l a s d e Samba, n a s década d e 60 e 70, em q u e a transmi
são a n f v e l nacional do Desfile ampliou o s limites d e atuaçz
das Escolas, r o m p e n d o com o c i r c u i t o d o R i o d e J a n e i r o . E Õbvi
que a troca de informações e n t r e estes meios e a s Escolas C

S a m b a f o i um f a t o r e v i d e n t e , p i i s de espetáculo ~ Ü b l i c o r e g i-
o
nal, e l a s passaram a ter o "status" d e e s p e t á c u l o d e m a s s a , s- o
rnancJ o - s e a o f a t o d e q u e a s e m i s s o r a s pagavam p e l a
d o cj e s f i l e , q u e se t o r n o u ' p o r s u a v e z um p r o d u t o de

5.5.2 - A PRODUÇÃO A R T ~ S T I C A 0 0 CARNAVAL DAS ESCOLAS DE SAMBA

O SociÓlogo Nestor G a r c i a C a n c l i n i f a z uma anâlis

d o p r o c e s s o a r t í s t i c o a t r a v é s d e uma a p l i c a ç ã o d o m o d e l o sÓci
economico, e s u a s r e f l e x õ e s n o s p a r e c e m c o e r e n t e s com a prod
cão a r t i s t i c a d a s E s c o l a s d e Samba sob determinados aspectos.
 C a n c l i n i d e t e c t a t r ê s momentos d i s t i n t o s no processo
art{stico, Produção, D i s t r i b u i ç ã o e Consumo, q u e p o d e m s e r a p l-
i
c a d o s à m a n i f e s t a ç ã o d a s E s c o l a s d e Samba. Mediante e s t e s três
momentos e l e c a r a c t e r i z a também o s t r ê s t i p o s d e a t i v i d a d e a-
r
tíçtica, a "arte das elites", a " a r t e para a s massas" e a "arte
popular", q u e j u l g a m o s i n t e r e s s a n t e s p e l o p o n t o d e v i s t a c l a s s-i
f i c a t ó r i o dado pelo SociÓlogo. Sabemos q u e t a i s classifica~Ões
não determinam f r o n t e i r a s r í g i d a s d e s u a s proauçÕes, mas d e l-
i
neiam f o r m a s d e s t a s p r o d u ç õ e s q u e não são estratificadas como
no c a s o d a d e f i n i ç ã o d e C u l t u r a P o p u l a r d o m o v i m e n t o d o C P C .

Quanto 2 A r t e E l i t i s t a , Canclini a s i t u a no primeir

momento, o de Produção, de criação individual, em q u e o s o u t r o
d o i s momentos, D i s t r i b u i ç ã o e Consumo, são fatores secund
rios. Quanto 5 A r t e para a s Massas, ele a s i t u a no m o m e n t o d
Distribuição, em q u e 6 produzida p e l a c l a s s e d o m i n a n t e com -
i n t e n ç ã o d e t r a n s m i t i r 2s c a m a d s m a i s b a i x a s a "ideologia b u-
r
guesa", trazendo l u c r o s para a q u e l e s que detem o s meios de d i f-
u
são. E s t e s modelos c e r t a m e n t e não s e a p l i c a m à s E s c o l a s d e Sam
-
ba.

E na d e f i n i ç ã o d e " A r t e P o p u l a r " q u e e n c o n t r a m o s a-
s
p e c t o s q u e m a i s s e aproximam a o campo d e p r o d u ç ã o a r t í s t i c a d a s
E s c o l a s d e Samba:

"A a r t e p o p u l a r produzida p e l a c l a s s e t r a b-a

l h a d o r a ou p o r a r t i s t a s q u e r e p r e s e n t a m os
seus i n t e r e s s e s e o b j e t i v o s , pze toda a sua
t õ n i c a no c o n s u m o n ã o m e r c a n t i l , na utili
dade prazeirosa e produtiva dos objetos que
c r i a , n ã o sem s u a o r i g i n a l i d a d e ou no l u c r o
que r e s u l t a da venda; a qualidade de p r o d-u
ção e a amplitude de sua difusão estão s-u
bordinados ao uso, 2 satisfação de n e c e s s-i
d a d e s do c o n j u n t o do povo. Seu v a l o r supre
mo é a r e p r e s e n t a ç ã o e a s a t i s f a ç ã o s o l-i
d ã r i a d e d e s e j o s c o l e t i v o s . Levada à s suas
Ú l t i m a s c o n s e q u e n c i a s , a a r t e p o p u l a r é um
a r t e de libertação I.. . l"(611
-
(611 C A N C L I N I , Nestor Garcia, A S o c i a l i z a ç ã o da Arte, 0p.cit.p.
50.
 Quanto a o a s p e c t o " l i b e r t a d o r " proposto por Canclini
consideramos que e s t e não s e a p l i c a ao D e s f i l e e 2 produção a-
r
tfstica d a s E s c o l a s d e Samba, p o i s que remete ao pensamento dos
t e ó r i c o s d o CPC, no s e n t i d o d e q u e o povo "necessita" de algum
instrumento para alcançar sua liberdade e sua identidade. Fora
este aspecto, c o n s i d e r a m o s q u e no D e s f i l e d a s E s c o l a s d e Samba
encontramos a satisfação de necessidades coletiva e também O

aspecto f u n c i o n a l do p r o p r i o fazer.^ c a r n a v a l " um t r a b a l h o d i

recionado não s ó p a r a c o m p e t i ç ã o , mas também p a r a o l a z e r .

No q u e s e r e f e r e a o c o n c e i t o d e A r t e P a r a a s Massas,
cabe aqui r e f l e t i r s e a i inves de s e r "pana" a s massas, o d e-
s
f i l e d a s E s c o l a s d e S a m b a n ã o s e r i a uma "Arte das N a s ç a s , como
um v e i c u l o d e m e n s á g e n s d e uma p r o d u ç ã o p r ó p r i a e autêntica.De-
ve-se lembrar que o Carnaval é um t e m p o d e l i b e r a l i d a d e , em'que
todas a s suas expressões são aceitas e ratificadas, sem q u e com
i s t o s e j a m c l a s s i f i c a d a s como p r o d u ç ã o artística, exceto o caso
d e m a n i f e s t a ç õ e s c a r n a v a l e s c a s como o C a r n a v a l d a s E s c o l a s de
Samba.

R o b e r t o Da M a t t a , no livro "O Que Faz o brasi1,Brasil

d e s c r e v e e s t e t e m p o d e l i b e r a ç ã o c o m o um m o m e n t o d e i g u a l d a d e s e
é e s t a i g u a l d a d e q u e c o n d i c i o n o u i n t e r a ç õ e s como a s q u e o c o r r e -
ram e n t r e a s E s c o l a s d e Samba e o u t r o s s e g m e n t o s s o c i a i s .

" S a b e m o s q u e o c a r n a v a l é d e f i n i d o como " l-i

b e r d a d e " e como p o s s i b i l i d a d e d e v i v e r uma
a u s ê n c i a f a n t a s i o s a ' e utópica d a m i s é r i a , t r-
a
balho, obrigações, pecados e deveres [...I
Entre nós b r a s i l e i r o s r e a l i z a r i s t o é po-
d e r descobrir que o carnaval é percebido co
mo a l g o q u e v e m d e f o r a , c o m o uma o n d a irre
s i s t í v e l que nos domina, c o n t r o l a e , melhor
ainda,seduz inapelávelmente (...I E também
d e s c o b r i r q u e p o r c a u s a d i s s o mesmo, todos
s ã o i g u a i s - o u podem s e r i g u a i s - perante
o carnaval." (621
-
1 6 2 1 D A MATTA,ROBERTO, O Que f a z o Brasi1,Brazil. op.cit.p.77
 Howard S. G e c c k e r também a n a l i s o u sociologicamente o
fenômeno da c r i a ç ã o a r t i s t i c a , classificando os individuos que
trabalham com e s t e c o n t e x t o . a o s q u a i s denomina "artistas". D e v-
e
m o s e s c l a r e c e r q u e em n o s s a p e s q u i s a e v i t a m o s o t e r m o " a r t i s t a l ' e
optamos sempre pelo termo "profissional" ao nos referirmos ao
Carnavalesco, por considerarmos que o primeiro termo gera r e l-
a
c i o n a m e n t o s com á r e a s d i s t i n t a s e d e l i m i t a d a s , como p o r exemplo
a s Artes P l á s t i c a s . Isto limitaria a própria definição do pro-
fissional, ao correlaciona-lo com e s t a e o u t r a s á r e a s , e c o n s-i
d e r a m o s q u e s e u p o s i c i o n a m e n t o em m u i t o se d i f e r e d a q u e l e t o m-
a
d o p o r um P i n t o r o u E s c u l t o r d i a n t e d o p r o p r i o t r a b a l h o .

B e c k e r c o n c e i t u a a o b r a d e a r t e num s e n t i d o d e p r o d-
u
ç ã o c o l e t i v a q u e m u i t o se aproxima d a p r o d u ç ã o a r t i s t i c a d a s E-
s
c o l a s d e Samba e d o C a r n a v a l e s c o :

"E possivel entender a s obras de a r t e consi

d e r a n d o - a s como o r e s u l t a d o d a a ç ã o "
da de todas a s pessoas cuja cooperaçao e
-
c o o r d e n-
ne
ã
-
cessária para que o trabalho s e j a realizad-
da forma que é (...I D e v e m o s em primei
lugar, estabelecer a relação completa dos
pos de pessoa cuja ação contribui para o --
sultado obtido (...I esta relação poderia : i
c l u i r d e s d e a s p e s s o a s que concebem o t r a b-ã
l h o - c o m p o s i t o r e s ou d r a m a t u r g o s [ . . . I ' a s
q u e a e x e c u t a m - como m u s i c o s e a t o r e s -,
que fornecem o s equipamentos e materiais(.
a t é a s que vão compor o p ú b l i c o do trabal
realizado - frequentadores de teatro, cri
c o s , e t c . Embora c o n v e n c i o n a l m e n t e se se
c i o n o u uma o u a l g u m a d e s t a s p e s s o a s c o m o s , ,-,
d o o " a r t i s t a " . a quem a t r i b u i m o s a resp
sabilidade pelo trabalho, parece-nos ao m
mo t e m p o m a i s j u s t o e m a i s p r o d u t i v o , d o p
t o de v i s t a sociolÓgico, considera-lo coi
a c r i a ç ã o conjunta de todos eles.19(631

No q u e s e r e f e r e a o D e s f i l e e a o t r a b a l h o d o Carna
lesco, consideramos que "criação" no s e n t i d o q u e B e c k e r desc

1 6 3 1 BECKER,S.HOWARD, M u n d o s A r t i s t i c o s e T i p o s S o c i a i s , i n A r t
e Sociedade, 0p.cit.p. 9
v e s e r i a m u i t o m a i s no campo d e e x p r e s s ã o e m a n i f e s t a ç ã o c o l e t-
i
v a d e uma c u l t u r a , v i s t o que "fazer o carnaval" é também c r i a - l o
e a a u t o r i a do C a r n a v a l é p r i m o r d i a l m e n t e do C a r n a v a l e s c o , n
e-
q u a n t o q u e a a p r e s e n t a ç ã o d o d e s f i l e p o d e s e r v i s t a como uma
expressão c o l e t i v a do que e l e c r i o u .

E i n t e r e s s a n t e n o t a r q u e e s t a " c r i a ç ã o " c o l e t i v a e n v o-l

ve concepção, execução, fornecimento de meios e público a s s i-
s
tente, mas o r e s p o n s á v e l 6 "selecionado", convencionalmente, s-
e
gundo a a n á l i s e d e Becker, o que d i f e r e do C a r n a v a l e s c o , que é
contratado especificamente para aquele trabalho.

Becker d e f i n e e s t e a r t i s t a s e l e c i o n a d o como um "pr

fissional integrado", q u e p a r t i c i p a n d o d e um m u n d o a r t l s t i c o c
ganizado Iprodução, d i s t r i b u i ç ã o e consumol, se adapta perfeit
mente à s s u a s engrenagens.

" C.. . I Como e s t e , s a r t i s t a s c o n h e c e m ,entend~

e h a b i t u a l m e n t e usam a s c o n v e n ç õ e s q u e reg
lam o f u n c i o n a m e n t o d e s e u mundo, e l e s c
adaptam f a c i l m e n t e a t o d a s a s a t i v i d a d e s r
dronizadas por eles desenvolvidas [...I E ~ E
permanecem p o r t a n t o r e s t r i t o s a o s l i m i t ~
do que o s p ú b l i c o s p o t e n c i a i s e a situaçz
consideram respeitãveis."(641

Esta conceituação s e a p l i c a ao Carnavalesco quanto a

c o n h e c i m e n t o d o m e i o em q u e t r a b a l h a , d o "mundo a r t i s t i c o " da
E s c o l a s d e Samba e s e u p o t e n c i a l , mas não pode s e r a p l i c a d o qua
do Becker s e r e f e r e ao profissional i n t e g r a d o l i m i t a d o a conve
ç Õ e s e com e l a s c o n f o r m a d o , a ponto do r e s u l t a d o d e seu trat
l h o t e r um r e s u l t a d o s e m p r e e f i c i e n t e e f a c i l i t a d o p e l o contr
l e de todas a s suas instâncias. E s t e s e r i a um c o n c e i t o bastant
a r b i t r á r i o e l i m i t a d o r n ã o s Ó d o C a r n a v a l e s c o mas d a s - Escola
d e Samba.

( 6 5 1 BECKER, Howard S . , idem, op.cit. p.13

 "Um m u n d o a r t f s t i c o i n t e i r a m e n t e p r o f i s s i o n-
a
l i z a d o pode t o r n a r - s e escravo d a s próprias
convenções que l h e dão existência, passando
a produzir o que poderiamos chamar(se levar
mos a s é r i o a s c o n s e q u e n c i a s l d e t r a b a l h o d e
rotina."[66)

No t r a b a l h o d o C a r n a v a l e s c o d e s t a c a - s e a principio o
f a t o d e q u e e l e é um c r i a d o r c o n t r a t a d o p a r a f a z e r um trabalho
especifico, com e t a p a s d e f i n i d a s e r e s u k t a d o s p r e v i s i v e i s q u a-
n
t o a sua apresentação. S a b e m o s c o m o uma E s c o l a d e S a m b a s e a p r-
e
s e n t a na Avenida p e l o s ' s e u s e l e m e n t o s p r é - o r d e n a d o s , q u e s ã o s u-
b
m e t i d o s a um r e g u l a m e n t o . O que não s e pode p r e v e r 6 justamente
a m a n e i r a c'omo a E s c o l a v i r a em s u a a p r e s e n t a ç ã o v i s u a l , que d-
e
pende da c r i a ç ã o do Carnavalesco e dos meios que e l e t e r á para
desenvolve-la.

Toda a rede de relações nas diferentes etapas envol\

das neste tipo de ação coletiva está sujeita a tensões e conf:
tos, q u e em uma E s c o l a d e S a m b a s e a c e n t u a m p e l o g r a n d e conti
gente de pessoaos envolvidas. I s t o pressupõe que o Carnavalesco
c o m o um " p r o f i s s i o n a l integrado" d e v a s a b e r a r t i c u l a r com todos
' s níveis. Segundo Becker, aqueles individuos que mais c

t a m a e s t e p r o c e s s o podem s e r chamados d e " p r o d u t o r e s d e I

Lliiall e a q u e l e s i n o v a d o r e s podem s e r c o n s i d e r a d o s como " e s t r e l t

contemporâneas", que consideramos b a s t a n t e próximo da definiç;
dn Carnavalesco:

" a q u e l e s q u e produzem v a r i a ç õ e s e inovaçõ~

m a r g i n a i s , mas q u e não chegam a v i o l a r C

convenções o s u f i c i e n t e para provocar o rc

pimento n e c e s s á r i o , não s ã o chamados de pr
dutores, de rotina. Qualquer que s e j a o t e
mo p o s i t i v o e m p r e g a d o em s e u m u n d o p a r a d e r
mina-los, t a l v e z a melhor forma d e pensarmc
s o b r e e l e s s e j a como e s t r e l a s c o n t e m p o r â n e z
I671

( 6 6 1 BECKER, H W A R D S . i d e m . op.cit.p.13
[671 idem, op.cit.p.14
 N ~ Op retendemos r o t u l a r o Carnavalesco no q u e s e r e f e -
re sua produção a r t i s t i c a , v i s t o que i s s o o l i m i t a r i a a uma
termilogia. Buscamos c o n c e i t o s que, s e n ã o s e a p l i c a m em sua
totalidade, p e l o m e n o s d e s c r e v e m como a produção a r t i s t i c a do
d e s f i l e d a s E s c o l a s d e Samba p o d e ser enquadrada, como A r t e e
Cultura Popular, e como o C a r n a v a l e s c o pode ser r e l a c i o n a d o de
uma f o r m a o b j e t o v a a o m u n d o a r t i s t i c o n o q u a l t r a b a l h a .

A p r o d u ç ã o a r t i s t i c a .do c a r n a v a l d a s E s c o l a s d e Samba
s e c a r a c t e r i z a p o r u m a a b e r t u r a d e l i n g u a g e m q u e t a n t o a d e t e r m-i
na como A r t e P o p u l a r , como a c a p a c i t a a e s t a r em o u t r o s c o n t e-
x
tos. P r o v a d i s t o f o i o r e c e n t e c o n v i t e d a C a r n a v a l e s c a R o s a M a g-
a
lhães para a p r e s e n t a r seu t r a b a l h o d o S a l g u e i r o na Quadrienal
de Teatro de Praga e na B i e n a l d e Arte d e S.Pau10, em 1 9 9 1 . C?=c
s i f i c a d a como e x p o s i ç ã o C e n o g r á f i c a , seu trabalho f o i pré-seli
onado e apresentado j u n t o a diversas correntes artisticas I

compuseram a B i e n a l de S.Paulo.

O Curador da Bienal, Sr. João cândido Galvão, n o s rie l -

a
que tendo sido Curador da p a r t e Cenográfica da Quadrienal de
Praga, teve a i d é i a d e l e v a r um c e n ó g r a f o " e r u d i t o " e uma f
rinista"popu1ar". Na v e r d a d e e l e m e s m o n ã o v ê d i s t i n ç õ e s en
o p o p u l a r e o e r d u i t o no âmbito d a s a r t e s contemporâneas:

" P r i m e i r o p o r q u e eu a c h o q u e n ã o tem sent.

s e p a r a r a s Artes p o r q u e t o d o s o s
d o s m a i s v a r i a d o s campos t r a b a l h a m c
a s , com c o n c e i t o s e m a t e r i a i s d e o u t
r e a s e incorporam este m a t e r i a l e estes I
c e i t o s ao seu trabalho."

J o ã o Candido Galvão
Considerando que a B~?.neal d e Artes de S.Paulo é
i m p o r t a n t e e v e n t o d e Arte, envolvendo manifestaç6e.s artistic
d o mundo i n t e i r o , a presença do t r a b a l h o d e Rosa Magalhães 6
s i n a l de que o forgm rompidas a s f r o n t e i r a s e n t r e a a r t e E r u iJ i -
ta" e a a r t e "popular". A Bienal de S.Paulo a o se t o r n a r uma
I
exposição d e c a r á t e r mais amplo, r e a f i r m a a e x i s t e n c i a d e uma A -r
t e universal, perdendo seu c a r á t e r e l i t i s t a , onde a s diversas
manifestações a r t l s t i c a s podem c o n v i v e r num mesmo c o n t e x t o , i-
n
d e p e n d e n t e d o c a m p o em q u e f o r a m c r i a d a s . Curiosamente a s a l e g-
o
r i a s d e Rosa M a g a l h ã e s f o r a m c l a s s i f i c a d a s p e l a i m p r e n s a como
"instalações", uma m o d a l i d a d e q u e vem o c u p a n d o e s p a ç o s c a d a vez
maiores, mesmo e s t a n d o o t r a b a l h o d a C a r n a v a l e s c a classificado
como c e n o g r a f i a . Sua p r e s e n ç a da B i e n a l i n d e p e n d e d e classifi-
cações e rótulos, como - d e f i n e o C u r a d o r d a E x p o s i ç ã o :

" P r i m e i r o q u e não é p r o i b i d o a o povo p a r t i c-

i
p a r d a B i e n a l a o c o n t r a r i o , eu acho q u e a
e x p o s i ç ã o s ó é boa s e e l a m o s t r a o produto
da c u l t u r a do pais, incluindo todo o t i p o
c u l t u r a . e s e e l a s e d u z o povo d a q u e l e p a i
Eu a c h o q u e o C a r n a v a l a m u i t o d e i x o u d e s
uma f e s t a p o p u l a r n o s e n t i d o d e q u e é
f e s t a f e i t a p e l o povo [ . . . I o Carnava
g r a n d e o p e r a P o p u l a r , é um g r a n d e e
10 t e a t r a l , e q u e p o r t a n t o e s t á m u i t o
amparado c o n c e i t u a l m e n t e p a r a e s t a r n
n a l . Acho q u e n ã o e x i s t e a r t e d e e l i t
t e p o p u l a r , e x i s t e a r t e boa e a r t e r u i m ( . .

J o ã o C a ~ d i d oG a l v ã o

O c o n t a t o e n t r e o C a r n a v a l d a s E s c o l a s d e Samba e
i z r a ~ a l h o d o s C a r n a v a l e s c o s com o u t r o s s e t o r e s a r t i s t i c o s n ã o
um f a t o n o v o . F e r n a n d o P i n t o já t e v e a l g u m a s d e s u a s alegori'
e x p o s t a s em g a l e r i a s d e a r t e ; Joãozinho T r i n t a f o i convidado
r a c o o r d e n a r uma s a l a e s p e c i a l s o b r e C a r n a v a l num m u s e u d a B
g i c a e a E s c o l a d e Samba R o c i n h a t e m p r o m o v i d o c o n c e r t o s sin.
nicos junto com a a p r e s e n t a ç ã o d e s u a B a t e r i a n o m o r r o d a Ro8
nha. E s t e r e l a c i o n a m e n t o n ã o p o d e s e r i n t e r p r e t a d o como uma "e
t i z a ç ã o " do Carnaval, e s i m como uma c o n s e q u ê n c i a n a t u r a l d e SI

u n i v e r s a l i z a ç ~ oc o m o m a n i f e s t a ç ã o a r t í s t i c a p o p u l a r .

E c e r t o que existem b a r r e i r a s , e muitas vezes a res

t ê n c i a p a r t e d a p r ó p r i a E s c o l a d e Sama, como a c o n t e c e u com a C a-
r
n a v a l e s c a Rosa Magalhães, q u e não o b t e v e a u t o r i z a ç ã o d o s d i r-i
gentes da Escola para liberação das Alegorias f e i t a s para o S a-l
gueiro, selecionadas para a Bienal d e S.Paulo. Diante deste prg
blema, a s o l u ç ã o e n c o n t r a d a p e l a C a r n a v a l e s c a f o i r e f a z e r a s a l-
e
gorias, num e s p a ç o c e d i d o p e l a d e c a n i a d ? C e n t r o d e ' l e t r a s e -
Ar
t e s da Universidade.Federa1 do Rio d e J a n e i r o , onde a C a r n a v-
a
lesca l e c i o n a como p r o f e s s o r a d a E s c o l a d e B e l a s Artes. Reunindo
uma equipe de alunos, -
r e f e z a s a l e g o r i a s num c u r t o e s p a ç o d e t e m
po, e as transportou para a Bienal d e S.Paulo contando apenas
com s e u s r e c u r s o s .

O i n t e r e s s e p e l a s E s c o l a s d e Samba n ã o s e l i m i t o u
-
a
exposição das Alegorias, mas também f o i f e i t o um c o n v i t e para
que o Salgueiro s e apresentasse, n o s mesmos m o l d e s d o s eventos
t e a t r a i s e "performances" que fizeram p a r t e da Exposição, não I
v e n d o no e n t a n t o nenhuma r e s p o s t a .

"(...]quando c o n v i d e i a Rosa e e l a s e insci

v e u e f o i ~ c e i t a ,eu e s p e r a v a q u e o Salgut.
r o s e m a n i f e s t a s s e a f a v 0 r . e i s s o não aco;
t e c e u . Eu s e m p r e q u e r o , a s E s c o l a s d e samb;
é que não parecem i n t e r e s s a d a s , não s e i sc
p o r q u e t e m m e d o d e s e m i s t u r a r com o q1
e l a s acham q u e é e l i t e [ . . . I O Salgueiro,
lém d e n ã o c o l a b o r a r , a t r a p a l h o u p o r q u e :
pediu q u e a Rosa f i z e s s e t u d o o que tint
planejado [...I já p a r a P r a g a a Rosa te\
problemas d e r e u n i r a s roupas, já n e s t a 61
c a a E s c o l a n ã o l h e d e u nenhum a p o i o . "

J o ã o Candido Galvão

E s t e s p r o b l e m a s d e m o n s t r a m q u e h á uma r e s i s t ê n c i a c
alguns dirigentes, no s e n t i d o d e v a l o r i z a r o t r a b a l h o reali;
do por s e u s Carnavalescos, mesmo q u a n d o a p r ó p r i a E s c o l a d e SE
b a 6 p o s t a e m evidência. E s t a a t i t u d e , q u e não pode s e r consic
r a d a c o m o uma r e g r a g e r a l , d e m o n s t r a q u e a i n d a e x i s t e um cerl
distanciamento entre o s dirigentes e o s Carnavalescos, no senl
d o d e q u e o t r a b a l h o p o r e l e s r e a l i z a d o s t e n h a um v a l o r e x t r i n :
co àquele que representa no D e s f i l e .
 A i m p o r t â n c i a d a s E s c o l a s d e S a m b a é uma r e a l i d a d e i-
n
constestável, bem c o m o a p r e s e n ç a d o C a r n a v a l e s c o , o trabalho
por e l e realizado e todas a s transformações que resultaram nos
D e s f i l e s como s ã o a p r e s e n t a d o s a t u a l m e n t e . Esta manifestação que
chega a o s s e u s 70 anos d e e x i s t e n c i a , a t r a v é s das década perdeu
seu cunho d e marginalidade e improviso, nacionalizando-se e i-
n
ternacionalizando-se como g r a n d e e s p e t á c u l o e turistico,
a i n d a q u e c o n t i n u e em e s s e n c i a a s e r uma m a n i f e s t a ç ã o d e C u l t-
u
r a Popular, uma F e s t a p ú b l i c a , com a a t i v a p a r t i c i p a ç ã o d o p o v o .

Do a n o n i m a t o d o s 3 6 4 d i a s d o a n o p a r a o e s t r e l a t o dos
90 rninuotos do Desfile, a s pessoas, independente de sua classe,
r a ç a e nacionalidade continuam a v e s t i r suas f a n t a s i a s , que sem
-

p r e t e r ã o um a l t o c u s t o , ou c o n t i n u a r a m a c o m p r a r i n g r e s s o s p a r
a s s i s t i r sua Escola d e s f i l a r . A importância do d e s f i l e d a s E s c-
o
l a s d e S a m b a e d o C a r n a v a l e s c o n ã o r e s i d e em c l a s s i f i c a ç Õ e s cul
turais e artisticas, m a s em s u a e s s e n c i a d e f e s t a p o p u l a r qu
conquistou espaços e multidões.

A presença e permanência do Carnavalesco, se ele n2

f o s s e um e l e m e n t o n e c e s s á r i o e p o s i t i v o , teria sido eliminad
mesmo a n t e s d e s u a a b s o r ç ã o . A s E s c o l a s d e Samba tem autonomi
para perceber o s elementos prejudiciais a ela, e isto f a z part
de sua identidade e amadurecimento constante, que a tornaram
centro do Carnaval Carioca.

E e s t e domínio do espetáculo que demonstra sua forçc

Enquanto e x i s t i r o verde e r o s a mangueirense, a apresentação c
b a i l a r i n a Ana B o t a f o g o "sambando" na p o n t a d a s s a p a t i l h a s ,
C a r n a v a l e s c o s g e n i a i s como F e r n a n d o P i n t o e J o ã o z i n h o T r i n t a , E

t r e tantos outros, o s d e s t i n o s d a s E s c o l a s d e Samba ::ontinuari

sendo d e sua responsabilidade, e seu carnaval continuará n a s c ~
do da i n t e l i g ê n c i a e criatividade de seus Carnavalescos.
5.6.1 - A E X P E R I ~ N C IDEVFAZER
A UM CARNAVAL"

"Não " p o d e a e n ? l u s ã o " , i s s o não

Nem e p t e c i s o pnovan
A V i l a s e a p n e s e n i a na Avenida
C o m PauLinho da V i o l a
Em nOhba maion d e a i a populan. " ( 6 7 1

A e x p e r i ê n c i a de t r a b a l h a r como C a r n a v a l e s c a d e uma E-
s
c o l a d e Samba f o i um s o s p o n t o s d e p a r t i d a p a r a meu i n t e r e s s e s-
o
b r e o tema desta Dissertação. Tendo v i v e n c i a d o este processo d-
u
r a n t e onze meses pude compreender a s p e c t o s que só a prática prc
fissional oferece, embora t e n h a s i d o a minha p r i m e i r a e a t é h o j e
Única experiência, p e l a r i q u e z a de informações e descobertas nã
posso d i z e r que f o i a Ú l t i m a , e em t o d o s o s sentidos f o i Par
m i m uma g r a n d e l i ç ã o de vida.

Em a b r i l S e 1 9 8 9 f o m o s c o n t r a t a d a s , eu e D e n i s e Monte
r o Guimarães, m i n h a mãe, p a r a f a z e r m o s o c a r n a v a l da U n i d o s d
Vila Santa Tereza, E s c o l a d e Samba f u n d a d a em 2 0 12 1956, do
b a i r r o s de C o e l h o N e t o e Rocha M i r a n d a , no s u b ú r b i o do R i o de J
neiro. Em n o s s o p r i m e i r o c o n t a t o com o P r e s i d e n t e e o V i c e - P r e s
dente, ambos e x p u s e r a m a s i t u a ç ã o da E s c o l a , uma E s c o l a pequen
e sem r e c u r s o s f i n a n c e i r o s , que s u b i u p a r a o Grupo I1 n o a n o a
terior com o e n r ê d o q u e h o m e n a g e a v a o c a n t o r J o r g e B e n . A propo
t a era fazer um c a r n a v a l "de manutenção", ou seja, que mantive
se a E s c o l a n e s t e Grupo, sem g r a n d e s p r e t e n s õ e s ao t i t u l o e cie
t e da f o r ç a de Escolas maiores e de m a i o r p o t e n c i a l f i n a n c e i r o .

O enredo', q u e em p r i n c i p i o s e r i a uma homenagem à a r t i-

s
t a Dercy Gonçalves, e p a r a o q u a l começamos a p e s q u i s a r , um mês
d e p o i s f o i abandonado, tendo em v i s t a a E s c o l a não t e r obtido a
autorização da a r t i s t a p a r a f a z e r a homenagem. Em v i s t a disto,n
ma r e u n i ã o em q u e v á r i a s s u g e s t ~ e sf o r a m a p r e s e n t a d a s , f o i esc

C 6 7 1 Samba e n r ê d o d a U n i d o s d e V i l a S a n t a T e r e z a , c a r n a v a l d
1 9 9 0 , " A B e l e z a d a V i l a , com P a u l i n h o d a v i o l a 2 P o e s i a "
lhido o c a n t o r e compositor Paulinho da Viola.

Meu p r i m e i r o p a s s o f o i p o r t a n t o p e s q u i s a r s o b r e a vi-
da e a obra d e s t e a r t i s t a , o q u e i n c l u i u uma e n t r e v i s t a com O

próprio, q u e s e mostrou m u i t o s a t i s f e i t o p o r s e r homenageado p o r

uma E s c o l a p e q u e n a e simples. Pela sua importância -
n o c e n á r i o mu
sical brasileiro e no mundo d o s a m b a , s a b i a m o s q u e e s t e s e r i a um
t e m a q u e s e bem e x p l o r a d o , resultaria num c a r n a v a l q u e a t e n d e r i a
a s c o n d i ç õ e s d a E s c o l a e também ã s u a l i n h a d e e n r ê d o s , que g e
ralmente homenageava p e r s o n a l i d a d e s importantes.

Apresentamos a S i n o p s e n o mês d e j u l h o , com t o d a s a s

informações e o R o t e i r o do D e s f i l e , d e s c r e v e n d o como o e n r ê d o s
r i a desenvolvido através das Alas e Carros Alegóricos. Em segu
d a n o s r e u n i m o s com o s C a m p o s i t o r e s p a r a e x p l i c a r a e l e s o enr
do, d e i x a n d o bem c l a r o q u e e l e s t i n h a m liberdade absoluta par
trabalhar os dados apresentados, sobre o s quais destacamos alg
mas e x p r e s s õ e s r e f e r e n t e s à s c a n ç õ e s d e P a u l i n h o d a V i o l a e qu
g o s t a r i a m o s d e v e r i n c l u í d a s na l e t r a do Samba, caso houvesse
oportunidade. Nesta época ainda estavamos acompanhadas d e Jer
nimo d e P a u l a , que tendo a c e i t a d o t r a b a l h a r conosco pouco temp
depois afastou-se por razões particulares.

Iniciamos então a criação dos Figurinos e Alegorias

serem aprovados pela Diretoria, v i s t o que a Comissão d e Carna
v a l ainda não t i n h a sido eleita. A primeira apresentação, f e i t
através de esboços simples, c o n t i n h a o s F i g u r i n o s d e 24 A l a s
o i t o Carros Alegóricos, e s t e s Ú l t i m o s b a s e a d o s no número d e c h a
sis que a Escola possuia. Aprovados o s F i g u r i n o s e Alegorias,pa
samos 5 sua Arte Finalização, p a r a a p r e s e n t a ç ã o na q u a d r a d e e
saios, e f o i um t r a b a l h o q u e c o n s u m i u d o i s m e s e s d e i n t e n s a pe
q u i s a do m a t e r i a l para confecção d a s F a n t a s i a s e o desenho do
Figurinos.

Era intensa a e x p e c t a t i v a da Agremiação quanto a o no

'abalho, e s e m p r e e r a m f e i t a s c o m p a r a ç õ e s com o a n t i g o Ca
navalesc0 da Escola, por s i n a l muito querido de todos. Sem c o n h-
e
ter nosso trabalho, a g u a r d a v a m com a n s i e d a d e e d e s c o n f i a n ç a não
disfarçada, agravada pelo f a t o de sermos mulheres e e s t r a n h a s 2
comunidade.

Este clima d e desconfiança f o i abrandado s i g n i f i c a t i ,v -

a
mente quando apresentamos o s Figurinos, numa d a s f e s t a s que a
Escola costumava promover p a r a a n g a r i a r fundos p a r a o Carnava1.A
e x p o s i ç ã o na q u a d r a , m o n t a d a num p a i n e l , surpreendeu a todos pe
l a qualidade do trabalho, que diziam s e r f e i t o s para "escola
grande" e p e l o a b s o l u t o r e s p e i t o à s c o r e s da Agremiação, azul e
branco. Nossos f i g u r i n o s eram l e v e s , simples e bonitos, e p r o c-
u
ramos s u g e r i r m a t e r i a i s b a s t a n t e a c e s s i v e i s . Para nossa surpr
sa, a p e s a r da comunidade s e r b a s t a n t e pobre, nenhuma d a s suge
tÔes foram a c e i t a s , pois todos queriam f a z e r suas f a n t a s i a s d
cetim, brocado, lamê e o u t r o s m a t e r i a i s c a r o s . Todos queriam a
F a n t a s i a s bem f e i t a s e v i s t o s a s .

Elaboramos f i c h a s d e cadastramento para a s Alas, com

t o d o s o s d a d o s n e c e s s á r i o s p a r a o c o n t r o l e da produção d e fant
s i a s e número d e componentes, bem c o m o o s p r o f i s s i o n a i s q u e tr
balhariam na c o n f e c ç ã o d a s p e ç a s , costureiras, chapeleiros,sapa
teiros e aderecistas. A Comissão d e Carnaval, constituida PO
I integrantes aa Diretoria da Escola, tomou a o s e u encarg
lastramento e controle das Alas, e passamos para a f a s e s
guinte, a e s c o l h a d o Samba ~ n r ê d o .

No mês d e o u t r o f o r a m i n i c i a d o s o s c o r t e s d e s a m b a ,
c o m o já s a b i a m o s d e s d e o i n i c i o , f o m o s i n c l u i d a s na ~omissã
Julgadoras, i n s t r u i d a s para que trouxessemos mais duas pessoa
d e f o r a da Agremiação, q u e i n d i c a r i a o q u i n t o membro d o J u r i . C o
v i d e i então duas amigas, a Carnavalesca Liana S i l v e i r a e a Sra
Maria J O S ~B erto, que tiveram s e u s nomes a p r o v a d o s p e l a D i r e t o -
r i a da Escola. Um J u r i c o n s t i t u i d o s ó d e m u l h e r e s , o q u e não d e
xou d e c a u s a r s u r p r e s a na E s c o l a e sobretudo entre o s composit~
res
 D u r a n t e t o d o o tempo q u e d u r o u a e s c o l h a do samba e-
n
rêdo, n o s s o t r a b a l h o com o c a r n a v a l f i c o u r e l a t i v a m e n t e parado
p o r n ã o t e r m o s um l o c a l p a r a i n s t a l a r o B a r r a c ã o d a E s c o l a , e tam
-
bém p o r q u e a p r i m e i r a p a r c e l a da subvenção não havia sido paga,
o u u e s ó f o i f e i t o no mes d e novembro.

O c o n t a t o com a c o m u n i d a d e d a E s c o l a e r a f e i t o na quz
dra ae ensaios, a t r a v é s a a s Festas que participávamos, incluindo
o s c o r t e s d e Samba, e d e s t a forma conhecemos a s pessoas mais a-
n
t i g a s da Agremiação, s e u s f u n d a d o r e s e p e s s o a s q u e d e s f i l a v a m c-
o
mo d e s t a q u e s . Vovó L u r d e s e r a a baiana mais antiga, e tinha uma
importância e n o r m e na E s c o l a , s e m p r e n o s t r a t a n d o com c a r i n h o e
consideração, e f o i com m u i t a e m o ç ã o q u e r e c e b e u sua f a n t a s i a da
destaque, em q u e r e p r e s e n t a r i a a M a n g u e i r a n o e n r ê d o p r o p o s t o .

E s t e p r o c e s s o d e conhecimento d a s p e s s o a s f o i fundamt
t a l para nosso trabalho, p o i s e r a p r e c i s o romper o distanciamel
t o e x i s t e n t e e n t r e a comunidade e a s "novas" Carnavalescas,
mesmo f o r m a l m e n t e c o n t r a t a d a s , e r a n e c e s s á r i a a a c e i t a ç ã o d e nc
sa presença para o b t e r a colaboração da comunidade e o envol\
m e n t o d e s t a com o c a r n a v a l . I s t o porque é muito d i f i c i l para
C a r n a v a l e s c o f a z e r um C a r n a v a l sem q u e a E s c o l a e s t e j a e f e t i v a
m e n t e e n v o l v i d a com e l e , em t o d o s o s s e n t i d o s .

Nosso c o n t r a t o s ó f o i a s s i n a d o no f i n a l d e setembrc
d e p o i s d e e x t e n s a s n e g o c i a ç õ e s com r e l a ç ã o a o p r e ç o q u e c o bi
riamos e a forma d e pagamento. De i n i c i o f o i c o n s i d e r a d o um p1.e
ço muito a l t o , mas q u e f o i a c e i t o m e d i a n t e o p a r c e l a m e n t o a t é
fim dos trabalhos. Não e r a um p r e ç o m U i t o a l t o , e do d i n h e i r o i
-
cebido investimos muito ajudando a Escola, e em c o n s e q u e n c i a de
suas dificuldades financeiras, a Última parcela não nos f o i pa
ga *

No mês d e d e z e m b r o h o u v e uma g r a v e c r i s e p o l i t i c a r
D i r e t o r i a da Escola, c r i s e e s t a prenunciada pela f a l t a de org
nização e falhas administrativa, que s e justificavam pela disl
t a pelo poder por duas facções dentro da Escola. Numa tumultuada
r e u n ~ ã od a D i r e t o r i a , nada menos q u e nove d i r e t o r e s , entre eles
t r ê s i n t e g r a n t e s d a C o m i s s ã o d e C a r n a v a l , d e s l i g a r a m - s e d e f i n i t-i
vamente da E s c o l a , transferindo-se p a r a a União d e Rocha Miranda
nossa " c o n c o r r e n t e " no b a i r r o . E s t e s i n t e g r a n t e s da Comissão de
Carnaval eram e n c a r r e g a d o s do c a d a s t r o d a s Alas, e ficaram com
todo o material já p r e e n c h i d o , m e n o s , é claro, os figurinos.

Sem e s t e m a t e r i a l , reiniciamos o processo de cadastra-

mento, e f o i e l e i t a uma nova comissão de Carnaval, d e s t a v e z com
apenas dois integrantes, e nós assumimos a s f u n ç õ e s d e s t a C o m i-
s
são por absoluta f a l t a de pessoas para integra-la. Nosso tral
lho agora limitava-se a o c o n t a t o com o P r e s i d e n t e e e s t a Com
são de Carnaval, uma tarefa b a s t a n t e d i f i c i l com uma infra-est
tura tão deficiente. Diante da c r i s e administrativa, não tivemi
n i i + v aa l t e r n a t i v a a não s e r nos adaptarmos a o p e s s o a l que nI
oferecido, q u e a p e s a r d e t u d o t r a b a l h o u com d e d i c a ç ã o e ami
o ngremiação.

Mesmo com a saida de p a r t e da Diretoria, muito for?m

o s a t r i t o s e n t r e o P r e s i d e n t e da Escola e a D i r e t o r i a r e s t a n t e
sobretudo pelo seu relacionamento com o P r e s i d e n t e d e H o n r a qi
m a n t i n h a o p o d e r mesmo sem f r e q u e n t a r a s s i d u a m e n t e a q u a d r a . Por
t e - 1 a c o n s t r u i d o e s e r o dono do t e r r e n o , mantinha um esquema d e
dominação muito i n t e n s o , que afetou seriamente nosso trabalhr
v i s t o q u e o a n t i g o C a r n a v a l e s c o . e r a uma e s p é c i e d e " a f i l h a d o " ,
por i s s o nzo a c e i t a v a nossa presença, embora não o d e c l a r a s s e .

O enrêdo "?aulinho da V i o l a " d e s p e r t o u o i n t e r e s s e I'

Rede Globo d e T e l e v i s ã o , v i s t o que o a r t i s t a havia sido conti

tado para comentar o s d e s f i l e s d a s Escolas para esta emissora.[
vista disto, fomos p r o c u r a d a s p e l o J o r n a l i s t a José Carlos Net-
p a r a r e a l i z a r uma r e p o r t a g e m s o b r e a E s c o l a , q u e v i v e u um mom~
t o de glória. P o s t e r i o r m e n t e uma E s c o l a d e S a m b a P a u l i s t a ,
" X< \ - q lu' q u e h o m e n a g e a v a P a u l i n h o d a V i o l a t r o u x e um g r u p o d e dii
g e n t e s e c o m p o n e n t e s p a r a uma f e s t a d e c o n f r a t e r n i z a ç ã o em n o s !
quadra. Esta festa, r e a l r z a d a d e p o r 5 d a e s c o l h a d o Samba e n r ê d o ,
s e r v i u p a r a e n v o l v e r m a i s a i n d a o s c o m p o n e n t e s com o t e m a d o c a-
r
naval, nã s ó o e l o d e s t a q u e d a d o p e l a i m p r e n s a , mas p e l o f a t o de
j á t e r s i d o e s c o l h i d o um s a m b a , q u e c o m e ç o u a d a r o " c l i m a " p a r a
o d e s f i l e que s e aproximava.

No i n í c i o d e j a n e i r o d e 1 9 9 0 o P r e s i d e n t e d a E s c o l a , -
a
t r a v é s d e u m c o n t a t o com o s D i r i g e n t e s d a E s c o l a d e S a m b a A r r a-
n
co do Engenho d e D e n t r o , c o n s e g u i u numa E s c o l a M u n i c i p a l deste
b a i r r o a a u t o r i z a ç ã o p a r a u t i l i z a r a q u a d r a d e e s p o r t e s p a r a i n-
s
t a l a r o Barracão da Escola. Não e r a o l o c a l m a i s a d e q u a d o , visto
q u e t r a b a l h a k o s em p l e n o p e r i o d o l e t i v o d e a u l a s , mas f o i o ú n-
i
co l o c a l conseguido, e a e l e tivemos de nos adaptar.

Como d i s s e m o s n o i n i c i o , a E s c o l a não t i n h a r e c u r s o s
a q u e l e s g e r a d o s p e l a s f e s t a s e e n s a i o s mesmo com a s u b v e n ç ã o n;
eram o b a s t a n t e p a r a a g i l i z a r o s p r e p a r a t i v o s n e c e s s á r i o s pa:
o carnaval. A m e n o s d e d o i s m e s e s d o D e s f i l e e s t á v a m o s sem C,
p i n t e i r o e sem F e r r e i r o , e r e c o r r i aos conhecimentos de Liai
S i l v e i r a e Maria Augusta Rodrigues, q u e i n d i c a r a m um p r o f i s s i o
na1 que por s i n a l t r a b a l h a v a p a r a v á r i a s E s c o l a s a o mesmo temp(
no P a v i l h ã o d e S . C r i s t o v ã o .

Todo e s t e p r o c e s s o d e montagem d o s c a r r o s alegórici

f o i b a s t a n t e d i f i c u l t a d o não s6 pela f a l t a de recursos finance.
r o s m a s p e l a f a l t a d e d i á l o g o d o P r e s i d e n t e com a A g r e m i a ç ã o
também c o n o s c o . Conforme s e aproximava o desfile os atritos er(
frequentes, ainda que nossa dedicação fosse intensa, m a s sem m i
t o r e s u l t a d o d i a n t e da f r a c a a d m i n i s t r a ç ã o que a Escola possuib.

A r t i c u l á v a m o s n o s s a a ç ã o no s e n t i d o d e c o l a b o r a r m o s o
máximo p o s s i v e l p a r a q u e o C a r n a v a l f o s s e r e a l i z a d o , tentando si

perar a s d e f i c i ê n c i a s de organização da Escola. I s t o i n c l u i u umi

a d e a p o i o em o u t r a s A g r e m i a ç õ e s , n o q u e c o n t a m o s com gri
juda da Carnavalesca Maria Augusta Rodrigues. Com s u a exl
c i a e conhecimento, e grande t r ã n s i t o nas Escolas, atrávt
ua i n t e r f e r ê n c i a conseguimos muito m a t e r i a l p a r a confecção
dos carros alrgóricos, Um d o s a p s e c t o s i n t e r e s s a n t e s q u e o b s e-
r
vamos é a a j u d a q u e a i E s c o l a s d e S a m b a m a i s r i c a s p r e s t a m 5 s E -s
colas mais pobres, r e p a s s a n d o a l e g o r i a s e a d e r e ç o s que não s e r ã o
mais u t i l i z a d o s . M u i t o s d o s e l e m e n t o s d e o c r a t i v o s u s a d o s em n o s -
s a E s c o l a f o r a m s o b r a s d e c a r n a v a i s d e E s c o l a s como a P o r t e l a , o
~ s t á c i o ,a J a c a r e z i n h o e a L i n s I m p e r i a l . Na E s t á c i o o o f e r e c-
i
mento chegou a o ponto d e m a t e r i a i s novos serem r e t i r a d o s do a-
1
moxarifado, um g e s t o b a s t a n t e g e n e r o s o d e s e u P r e s i d e n t e . Na P o-
r
t e l a o b t i v e m o s a t é mesmo a c a b e ç a d e uma a n t i g a á g u i a , que a p r-
o
v e i t a m o s p a r a montar o Abre A l a s da E s c o l a .

A t r a v é s d o J o r n a l i s t a J o s é C a r l o s N e t t o entramo's em
c o n t a t o com o P r e s i d e n t e d a P o r t e l a , Sr. C a r l i n h o s Maracanã,
auem a p r e s e n t a m o s n o s s o s f i g u r i n o s e a l e g o r i a s e e x p l i c a m o s
d i f :i c u l d a d e ç a r a v e s s a d a s p e l a E s c o l a . . D e l e r e c e b e m o s m a t e r i a i ci e
uma a j u d a f i n a n c e i r a q u e S Õ recebemos quase 2s v é s p e r a s d o cl e-
s
file.

A semana a n t e r i o r a o d e s f i l e f o i m u i t o m a i s problemá
ca, p o i s n o s s o b a r r a c ã o n ã o m a i s c o n t a v a com a e q u i p e d e Carp
ia e Ferragem, v i s t o que abandonaram a Escola por terem c
l i d o um t r a b a l h o em o u t r a A g r e m i a ç ã o . Apesar de tudo o Pre
d e n t e c o n s e g u i u nova e q u i p e d e c a r p i n t e i r o s e f e r r e i r o s , e + j
com o t e m p o m u i t o r e d u z i d o d e m o s p r o s s e g u i m e n t o ã d e c o r a ç ã o do
carros prontos, enquanto o s r e s t a n t e s eram a p a r e l h a d o s .

T r a b a l h a v a m o s com uma p e q u e n a equipe, de a l u n o s da E

cola de Belas Artes, q u e e r a m p a g o s com n o s s o s a l á r i o . Apesar d
m
t o d o s o s p r o b l e m a s f o i um t r a b a l h o d e i n t e n s a d e d i c a ç ã o , e na
havia horário fixo de trabalho, pois o Barracão funcionava ini-
terruptamente. F a l t a n d o p o u c o s d i a s um p e q u e n o g r u p o d e i n t e g r a n -

t e s da Escola, sabendo de nossas d i f i c u l d a d e s , s e dispôs a t

balhar conosco, uma a j u d a t a r d i a e c h e i a d e c r i t i c a s , pois o d
t a n c i a m e n t o e a e x p e c t a t i v a c r i a d a em t o r n o d o B a r r a c ã o n ã o d
xou a c o m u n i d a d e p e r c e b e r a r e a l i d a d e d a q u e l e c a r n a v a l .
 Em t o d a s a s e t a p a s f o i u m t r a b a l h o c h e i o d e p r o b l e m a s ,
agravados pela f a l t a de organização e união da própria Escola.
Surpreendentemente, na quadra a animação e r a extrema, como se
todo o processo c o r r e s s e normalmente sem nenhum p r o b l e m a , e sem
nenhuma p a r t i c i p a ç ã o e f e t f v a d o s c o m p o n e n t e s . Mesmo e s t a e x p e-
c
tativa crescendo, i s t o n ã o g e r o u um m a i o r a p o i o a o n o s s o t r a b a -
lho.

No d i a d o D e s f i l e , ainda sem o A b r e A l a s p r o n t o , os
c a r r o s foram transportados para a Avenida, com uma surpresa, h-
a
v i a m s i d o c o l o c a d o s em d i r e ç ã o c o n t r á r i a 2 p i s t a . Sem t e r p e s s-
o
a s para vigia-los, e n c o n t r e i o s c a r r o s sem m u i t o s d e s e u s e l e m e n
tos decorativos, r o u b a d o s em p l e n a c o n c e n t r a ç ã o d o d e s f i l e .

A i n d a n e s t a mesma t a r d e percebemos que o Abre Alas

Escola não f i c a r i a pronto, em f u n ç ã o d a c h u v a q u e d e s t r u i u to
a sua armação. Em f u n ç ã o d i s t o a solução f o i , com a a j u d a d a C
navalesca Liana S i l v e i r a , adaptar o c a r r o que representaria
Portela para s e r o Abre Alas da Escola. Em p l e n a p i s t a d e des
le, sob f i n a chuva e o o l h a r surpreso dos passantes, preg.am
a t a b u l e t a com o n o m e d a E s c o l a , e com c o l a e p u r p u r i n a a deco
mos. Eu havia levado p a r a a avenida algum m a t e r i a l d e decoraç
que f o i b a s t a n t e p r o v i d e n c i a l não só para e s t e c a r r o , mas pa
aqueles cuja decoração havia sido roubada.

Do p r o j e t o i n i c i a l d e 2 4 A l a s e 8 c a r r o s a l e g o r i c o s ,
que levamos para a Avenida foram Quatro alegorias e o i t o a1
s e n d o q u e a E s c o l a c o n t o u c o m um r e c u r s o s m u i t o u s a d o d e forma
não o f i c i a l p e l a s E s c o l a s d e Grupos i n f e r i o r e s , o do"enxertol' d e
Alas. Mediante p e d i d o do P r e s i d e n t e da P o r t e l a , doze Alas daq
l a Agremiação aumentaram o c o n t i n g e n t e d e d e s f i l a n t e s de nos
Escola, q u e a l c a n ç o u um n ú m e r o d e p e l o m e n o s 7 0 0 p e s s o a s . Dian
deste recurso, n ã o h a v i a como s e g u i r o R o t e i r o p r o p o s t o a n t e r i
e, e junto com o s D i r e t o r e s d e H a r m o n i a , da nossa Escola
ortela, armamaos o D e s f i l e d e n t r o d a s c o n d i ç õ e s que s e ap
avam.
 Apesar de todos 07 p r o b l e m a s a E s c o l a e n t r o u na A v e n-
i
da, e haviam p e l o menoi uns t r i n t a "Diretores", muitos deles t-
o
talmente desconhecidos para mim, mas q u e no momento ' s e a p r e s e-
n
taram e ainda fizeram muitas c r i t i c a s . C r i t i c a s e s t a s t a m b é m f e-
i
t a s pelo antigo Carnavalesco, que f o i 2 Avenida "prestigiar" sua
antiga Escola.

Paulinho da Viola e a Velha Guarda da P o r t e l a estavam

presentes, e d e s f i l a m o s e m b a i x o d e uma i n t e n s a chuva, num d o s mo
-
mentos m a i s e m o c i o n a n t e s d e minha v i d a . Porque por mais pobre e
sem r e c u r s o s que s e j a a Escola, o desfile é s e m p r e um g r a n d e mo
-
mento, em q u e a e m o ç ã o d o c a n t o , da dança, da b a t e r i a e da alas
ultrapassa todas a s dificuldades havidas. Na realidade é um
mento d e sublimação que, como,Carnavalesca quase não pude par
ir, v i s t o q u e s ó n o u l t i m o i n s t a n t e , com uma c a m i s e t a da
retoria, p u d e e n t r a r na p i s t a d e D e s f i l e . Caso c o n t r á r i o a Es
l a d e s f i l a r i a sem s u a s C a r n a v a l e s c a s , p o i s minha mãe, por C

t a do extremo cansaço dos Últimos d i a s , adormeceu no Ô n i b u s

s ó c h e g o u na A v e n i d a quando j á h a v i a t e r m i n a d o n o s s a a p r e s e n t a
ção.

A Escola cumpriu seu p r o p ó s i t o , o d e s e m a n t e r no G

p o 11, o b t e n d o o s é t i m o 1 u g a r . C o m o C a r n a v a l e s c a s , cumprimos c
nossas responsabilidades, lutando contra todas a s dificuldades

A f a l t a d e u n i ã o da comunidade, a deficiência de or,

n i z a ç ã o e d e d i á l o g o com o s d i r i g e n t e s s ã o a s m a i o r e s barreiras
a r e a l i z a ç ã o d e um C a r n a v a l . fundamental em q u a l q u e r E s c -
o
,ue a e s t r u t u r a administrativa seja equilibrada e competente
p a r a q u e s o l u c i o n e a t é mesmo o s p r o b l e m a s f i n a n c e i r o s .

O t r a b a l h o do Carnavalesco, p o r m a i s bem e s t r u t u r a d o
planejado que s e j a , depende d e s t e s f a t o r e s básicos - administ,
ção, comunidade e r e c u r s o s f i n a n c e i r o s - independente do Grul
a que pertençam, e quanto mais s e d e s c e na e s c a l a híerárqu i
c
mais graves s e tornam o s problemas que a s Escolas enfrentam,
consequentemente seus Carnavalescos.

Nosso t r a b a l h o na U n i d o s d e V i l a d e S a n t a T e r e z a nos
c o l o c o u em c o n t a t o com o u n i v e r s o d e p r o b l e m a s q u e a t i n g e m as
E s c o l a s de Grupos i n f e r i o r e s ,
num u n i v e r s o d e r e a l i d a d e bem d i f - e
r e n t e daquela que depois constatamos ao e n t r e v i s t a r o s C a r n a v-
a
l e s c o s do Grupo E s p e c i a l . Apesar das diferenças, a opiniáo ge
r a l é a mesma q u a n t o a o s a l á r i o , e o mito d e que qualquer Escola
d e Samba p a g a "rios de dinheiro" para seus Carnavalescos vale
para todas elas.

Neste u n i v e r s o complexo d e segmentos que s e r e l a c i o n a m

simultaneamen.te, m u i t a s v e z e s há uma r e a l i d a d e "aparente", que
a q u e l a c o l o c a d a em p r i n c i p i o p e l o s d i r i g e n t e s d a E s c o l a , e C

senvolvimento do t r a b a l h o , a verdadeira realidade, por ve

muito dura, se revela através das dificuldades e atritos, e
também p e l a i n t e n s a p r e s s ã o q u e o C a r n a v a l e s c o s o f r e d u r a n t e t
do o p r o c e s s o d e seu t r a b a l h o .

I n d e p e n d e n t e d o Grupo ou E s c o l a p a r a a q u a l t r a b a l h e
Carnavalesco e s t a r á s u j e i t o a estas pressões, e o seu esquema -
U

p e r a c i o n a l não d i f e r e muito, p o i s p a r a t o d a s " f a z e r o c a r n a v a l 11 é

um mesmo t r a b a l h o , e t o d a s p r e t e n d e m o mesmo o b j e t i v o , s e r e m c arn
peãs, e serem a s e s t r e l a s da Avenida.

Desta experiência, guardei muitas lembranças, f i z r n u-i

t a s r e f l e x õ e s q u e r e s u l t a r a m também n e s t a d i s s e r t a ç ã o . Daquele
a v a l a i n d a g u a r d o na lembrança o b e l o samba, que t a n t o ag
ao seu homenageado, e q u e a E s c o l a c a n t o u com m u i t a e m o ç ã o
mesmo a q u e l e s c o m p o n e n t e s q u e c h e g a r a m " n a hora", e q u e como n
passe d e mágica - a mágica do carnaval - aprenderam a l e t r a ,
o belo refrão:
"Roda b a i a n a , t o n n e a nodah
Na paaaanela nÓb vamoa moatnan
Que koda e d s a chama, não v a i a e apagan
Enquanto a t a l e n k a a g e n z e e x a l f a R . . " [ 6 e l

Samba E n r e d o d a U n i d o s d e V i l a S a n t a T e r e z a , c a r n a v a l
1 9 9 0 " A B e l e z a d a V i l a , com P a u l i n h o d a V i o l a Poesia"
5.6.2 - JULGANDO O D E S F I L E D O GRUPO ESPECIAL

"MOCIDADE É D E N O V O A MELHOR

A E s c o l a d e P a d r e M i g u e l f o i a p o n t a d a como a
melhor do Carnaval. S e t e do 1 0 jurados -con
vidados pelo J o r n a l do B r a s i l para a v a l i a r Õ
d e s f i l e n o S a m b Ó d r o m o , c o n s i d e r a r a m e x c e p c i-
o
na1 a e x i b i ç ã o da Mocidade Indenpendente de
P a d r e M i g u e l . Em s e g u n d o l u g a r , e m p a t a d a s , f i
caram P o r t e l a e S a l g u e i r o . Na o p i n i ã o do;
i n t e g r a n t e s d o j ú r i - p r o f i s s i o n a i s d e d i v e- r
s a s á r e a s q u e a c o m a p n h a r n o C a r n a v a l há m u-i
t o s a n o s -, a p i o r a p r e s e n t a ç ã o f o i a da
G r a n d e R i o , d e Duqe d e C a x i a s . " ( 6 9 1

Em 1 9 9 1 , quando r e a l i z a v a a pesquisa d e c a m p o e n t r e v i-
s
tando os Carnavalescos para esta pesquisa, conheci a repórter c
.jornal do B r a s i l , Irany Tereza, que i n t e r e s s a d a p e l o tema sob]
a 1 eu e s t a v a escrevendo, realizou uma reportagem sobre o :
o, publicada neste Jornal. Alguns d i a s mais t a r d e , atrávi
de outra reporter, f u i convidada a p a r t i c i p a r do J u r i JB, ass:
t i n d o o d e s f i l e d a s E s c o l a s d e Samba d o G r u p o E s p e c i a l n o s do:
d i a s de sua apresentação.

Julgar é s e m p r e uma e x p e r i ê n c i a d i f i c i l , seja qual fr

o seu objeto, e muito mais quando este o b j e t o são a s Escolas c
a e o maior espetãculo do Carnaval Carioca. 0s critérios
julgamento eram s i m p l e s e o b j e t i v o s , tabulados por cotaçõc
Excelente, btimo, B o m J c ~ a z n á v e le R u i m , e mesmo n e s t a simplic
dade aparente, c l a s s i f i c a r uma a p r e s e n t a ç ã o t ã o c o m p l e x a f o i u n
tarofa dificil.

Um d o s a s p e c t o s q u e l o g o chamou a a t e n ç a Õ f o i a org
nização p e r f e i t a d a s e t a p a s do d e s f i l e , o n d e nenhuma E s c o l a a t r
sou sua e n t r a d a na Avenida, controladas pelos dirigentes C

LIESA q u e p e s s o a l m e n t e supervisionavam todos o s detalhes. A CI

n o m e t r a g e m f o i um f a t o r d e t e n s ã o e l e v a d a , em q u e a l g u m a s Esc
l a s devido a o seu tamanho, terminavam por d e s f i l a r correndo, c-
o
mo a c o n t e c e u com a u n i ã o d a I l h a , muito aplaudida por terminar o
d e sf i l e f a l t a n d o segundos para o prazo f i n a l . Outras, como a M E
gueir a , em c e r t o s m o m e n t o s q u a s e p a r a v a m n a p i s t a , t e n t a n d o CL

( 6 9 1 ~ o k n a ld o B r a s i l , Carnaval, JURI J B , 13/2/91

p r i r o horárm mínimo d e 60 m i n u t o s . Apesar de tudo t o d a s c o n s-
e
guiram terminar suas apresentações s e m u l t r a p a s s a r o t e m p o d e t e-
r
minado.

A e n t r a d a d e uma E s c o l a d e S a m b a n a A v e n i d a é sempre
muito emocionante, precedida de fogos multicoloridos e dos g r-i
t o s da multidão que j á no f i n a l d a p i s t a a g u a r d a a n s i o s a m e n t e a
passagem da Escola. P o r t e r a s s i s t i d o o d e s f i l e no s e t o r d a Apg
teose, nas cadeiras de pista, f i q u e i n o mesmo n í v e l d o s d e s f-
i
lantes, e 6 surpreendente a vibração que a Escola passa para o
público, seja qual f o r a sua d i s t â n c i a . M a s d e o n d e e u me e n c o-
n
t r a v a pude a v a l i a r a grandiosidade d e s t e t r a b a l h o e deste e s p-
e
táculo, q u e n a q u e l e m o m e n t o s e t r a d u z i a em e m o ç ã o p u r a .

Sem d ú v i d a , um d o s c r i t é r i o s q u e t e m m u i t o p e s o 6 o (

apresentação visual da Escola. Ainda d i s t a n t e , quando o samba

quase inaudível, pode-se o b s e r v a r o i n i c i o do d e s f i l e , as g r a-
n
d e s a l e g o r i a s q u e se aproximam l e n t a m e n t e e d e r e p e n t e t o m a m c o-
n
t a de todo o espaço, unificando o c a n t o e o v i s u a l da Escola.

Um número i n f i n i t o d e f a n t a s i a s , todas diferentes, 1

das relacionadas aos mais diversos enrêdos, c o m p õ e m um cenãr:
de formas vivas e coloridas, d e grande beleza que nunca se t o r r
repetitiva. O toque de cada bateria traduz a identidade de cac
Escola, bem c o m o a v i b r a ç ã o d e s e u s c o m p o n e n t e s e a f o r ç a C

suas cores. 0 s enredos contados através de alegorias e fantasi;

d ~ q c r e v e mf i e l m e n t e c a d a h i s t ó r i a , bem o u m a l d e s e n v o l v i d o s , sc
s ã o a e x p r e s s ã o d e uma m e n t e q u e o s i d e a l i z o u e planejou.

J u l g a r o D e s f i l e f o i uma experiência mais interessant

por t e r v i s t o o processo d e sua elaboração ainda nos barracees
quando e n t r e v i s t a v a o s Carnavalescos. Saber que e s t e processo r
q u e l e m o m e n t o t o m a v a c o r p o e f o r m a em n e n h u m m o m e n t o f e z c o m q i
e s q u e c e s s e q u e p o r t r á s d e c a d a E s c o l a e s t a v a um p r o f i s s i
que este p r o f i s s i o n a l e s t a v a a l i na Avenida, empurrando o
a j u d a n d o na harmonia, agradecendo ao público.
 são muitos o s elementos possiveis para se julgar uma
E s c o l a d e Samba, sua e v o l u ç ã o na p i s t a , sua musica, seu ritmo, a
beleza de suas alegorias, a imponencia d e seus c a s a i s de Mestre-
Sala e Porta Bandeira, a alegria de suas baianas. Neste momento
h á uma u n i v e r s a l i z a ç ã o d a E s c o l a em q u e t o d a s a s p a r t e s e s t ã o r -
e
l a c i o n a d o s com o c o n j u n t o em p l e n a harmonia. Harmonia que s e e-
s
t e n d e em d i f e r e n t e s g r a u s a o p ú b l i c o , e q u e s e r e f l e t e na s u a r-
e
cepção nos componentes da Escola.

Todas foram muito belas, magnificas, mas não eram t-

o
das iguais. A t ã o c r i t i c a d a p a d r o n i z a ç ã o na r e a l i d a d e não e x i-
s
t e q u a n d o uma E s c o l a e s t á n a p i s t a , p o r q u e c a d a uma t r a z a sua
p r ó p r i a mensagem, q u e d i s t i n g u e a B e i j a F l o r com s u a s c r i a n ç a s ,
d a V i r a d o u r o com a a r t i s t a D e r c y G o n ç a l v e s d e m u l e t a s s a m b a n d o e
c a n t a n a o no a l t o d o c a r r o .

Dos c a r r o s a l t i s s i m o s , em q u e a b a i l a r i n a Ana B o t a f o g o
sambava d e s a p a t i l h a s d e B a l é , e em o u t r o d e g r a n d e b e l e z a do
qual saiam bolhas d e sabão, na i m p r e s s i o n a n t e Mocidade I n d e p e-
n
d e n t e de P a d r e Miguel.

Para esta Dissertação, a experiência de julgar o d e s f-

i
l e d a s E s c o l a s d e Samba, com t o d a a t e n s ã o e r e s p o n s a b i l i d a d e -
i
nerentes a este ato, enriqueceu nosso universo de informações e
confirmou a q u i l o que j á haviamos v i s t o nos b a r r a c õ e s e que os
C a r n a v a l e s c o s , c a d a u m a s e u m o d o , n o s h a v i a m d i t o : Ú CannavaR e
puta magia, s e j a como do&, na hona aconZece, e e aemphe d a n ~ á ~ - '

co.
 O campo d e p e s q u i s a oferecido pelo carnaval das
E s c o l a s d e Samba é e x t r e m a m e n t e r i c o e c o m p l e x o , passível de
v á r i a s a n á l i s e s e r e l e i t u r a s que determinam novas reflexões.

A s s i m t a m b é m a c o n t e c e com o C a r n a v a l e s c o .

A t a r e f a d e r e u n i r t o d o s o s d a d o s p o s s i v e i s p a r a d-
e
terminarmos o p e r f i l d e s t e p r o f i s s i o n a l s e apresentou como
um universo i l i m i t a d o de informações, e consideramos que, pg
r a uma incursão i n i c i a l n e s t e tema, a presente pesquisa reu
n i u o s e l e m e n t o s n e c e s s ~ r i o sp a r a uma r e f l e x ã o o b j e t i v a .

Ao s i t u a r m o s n o C a r n a v a l e s c o no s e u t e m p o e em s u a
história, refletimos sobre a sua importância não só p a r a as
r--
o l a s d e Samba, m a s c o m o p e r s o n a g e m c e n t r a l d e um p r o c e s s o
í s t i c o sem p a r a l e l o n a ~ i s t ó r i ad a A r t e B r a s i l e i r a e no
contexto das manifestações de cultura popular. Z
i
.

Um p r o f i s s i o n a l p o l i v a l e n t e c u j a s r e s p o n s a b i l i d a d e s
não s e l i m i t a m 3 p u r a c r i a ç ã o a r t í s t i c a , mas s e e s t e n d e
- a.s
d i v e r s a s i n s t a n c i a s d a s E s c o l a s d e Samba, não p e r d e c o n t u d o
o seu aspecto de criador, d e manipuladõr de essências, f o-
r
mas e t e m a s , em m e n s a g e n s q u e c o n f i g u r a m a v i t a x i d a d e d o c a r -
naval carioca

Ao q u e s t i o n a r m o s sua relação profissional com as

E s c o l a s d e Samba, refletimos sobre questões existentes em
qualquer profissão, a c r e s c i d a s d a s p e c u l i a r i d a d e s d e s e u cam
-
po d e t r a b a l h o . N ~ Oo c o l o c a m o s em c o n t r a p o s i ç ã o 2 s Escolas
d e Samba, mas e x p l o r a m o s o p o s i c i o n a m e n t o p r o f i s s i o n a l e x i-
s
tente nesta relação, e o processo de sua regulamentação que
ora se delineia pelos seus méritos e necessidades.

Ao p e r g u n t a r m o s q u e p r o f i s s ã o é esta, perguntamos
quem é o C a r n a v a l e s c o , p o r q u e e l e s u r g i u e p a r a quem ele
f a z o c a r n a v a l d e uma E s c o l a d e S a m b a . Sua p r e s e n ç a 6 tão
i m p o r t a n t e que não pode s e r desvinculada dos d e s f i l e s de E-
s
c o l a s d e Samba, p r i n c i p a l m e n t e no q u e s e r e f e r e às Últimas
três décadas. E sua presença é t ã o j u s t i f i c a v e l que a n t e r i o r
a s E s c o l a s d e Samba, já o s Ranchos Carnavalescos e a s G r a-
n
d e s S o c i e d a d e s c o n t a v a m com e l a , s o b a denominação de " T-
~ C
nicos".

Ao r e f l e t i r m o s s o b r e a s t r a n s f o r m a ç õ e s do desfile,
não podemos e s q u e c e r q u e o c a s a l Nery, Fernando Pamplona, J-
o
ãozinho T r i n t a e Fernando Pinto foram grandes inovadores, em
s u a s e x p e r i ê n c i a s a u d a c i o s a s q u e f o r a m a b s o r v i d a s no p r o c e-
s
so d e execução do c a r n a v a l .

C e r t a m e n t e o d e s f i l e d a s E s c o l a ç ' d e Samba n ã o terá

U -esmo
LI, d e s t i n o m e l a n c ó l i c o d o s R a n c h o s C a r n a v a l e s c o s e G r a-
n
des Sociedades, e para i s t o o Carnavalesco contribuirá com
s- _e _u p o t e n c i a l c r i a d o r e r e v o l u c i o n á r i o . Como u m g r a n d e a r q u-
i
teto, projetará belissimos carnavais, c o m o um g r a n d e m a e s t r o
conceberá grandes operas populares para pÚblicos e jurados
cada vez mais exigentes.

A nova g e r a ç ã o d e C a r n a v a l e s c o s , que hoje a t u a ao

lado daqueles j á c o n c e i t u a d o s no c e n á r i o d o c a r n a v a l c a r i o c a ,
é a p r o v a d e q u e a s E s c o l a s d e S a m b a c o n t i n u a m a t r a i n d o a q u-
e
l e s que querem a t r a v é s d e l a s e x p r e s s a r e e x p e r i m e n t a r novas
linguagens.

Enquanto houver a com'petição, a poesia, o b a i l a r do

casal de Mestre Sala e Porta Bandeira, o grito de "já ganhou"
da multidão, a s c r í t i c a s dos defensores da autenticidade, a
busca do dez de ponta a ponta, da a l e g o r i a mais surpreenden-
te, do p a s s i s t a m i r i m que simboliza a continuidade d a s E s c-
o
l a s d e Samba; enquanto houver o ritmo d e cada b a t e r i a , o o-
r
gulho das baianas, o c h o r o d o s p e r d e d o r e s e a emoção da -
cam
peã, e x i s t i r á também o C a t r n a v a l e n c o , " ~ a z e n d u e a c o l a " no Can -
navaL Catrioca, pauliaita, b a i a n o , gaúcho, b t r a n i l e i n a , -
enn en
c i a l m e n z e ZtropicaL, eitetrnamenze c a n n a v a l .
 3O 6

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Rio d e J a n e i r o , 27/6/90,ANOXVI,NQ121,Parte V F1.19.

49. J U R I J B - MAPA DE NOTAS, Carnaval, J o r n a l do Brasi1,Rio de

Janeiro, 13/2/91
BTBLTOGRAFTA COMPLEMENTAR - ANEXO D E ENTREVISTAS

50. S i l v i o Cunha Carnavalesco da Portela

51. Max L o p e s C a r n a v a l e s c o d a U n i d o s do V i r a d o u r o

52. Ilvarnar Magalhães Carnavalesco da Unidos de V i l a I ç a-- . - - -

bel

53. Viriato Ferreira C a r n a v a l e s c o d a I m p e r a t r i z L e o p o l d-

i
nense
54. Mario Monteiro C a r n a v a l e s c o d a E s t á c i o d e S;

55. Rogério Figueiredo -

C a r n a v a l e s c o d a U n i ã o d a I l h a d o Go
vernador
56. Ely Peron C a r n a v a l e s c o d a U n i ã o d a I l h a d o Go
-
vernador
59. Paulo Costa Carnavalesco da L i n s Imperial

60. Solange d e Almeida Carnavalesca da Lins Imperial

61. P a u l o Lima C a r n a v a l e s c o d a Unidos do Cabuçu

62. ~ e r õ n i c aM a r i n h o Carnavalesca do Arranco de Engenho

de Dentro
63. Cida Donato C a r n a v a l e s c a do Arranco d e Engenho
de Dentro
Oswaldo J a r d i m Carnavalesco da Unidos da T i j u c a

Rosa Magalhães Carnavalesca do S a l g u e i r o

Alexandre Louzada C a r n a v a l e s c o da C a p r i c h o s o s d e P i l-
a
res
67. Renato Lage C a r n a v a l e s c o d a M o c i d a d e I n d e p e n d e-
n
t e d e Padre Miguel
68. Lilian Rabello C a r n a v a l e s c a da Mocidade Independen
t e de Padre Miguel e P r e s i d e n t e dã
Associação dos Carnavalescos de E-
s
c o l a s d e S a m b a - ACES
69. E r n e s t o Nacimento Carnavalesco da Mangueira

70. ~ o ã o z i n h oT r i n t a Carnavalesco da Beija F l o r

71. C a r l o s D'Andrade Carnavalesco da S.Clemente

72. M a r i a A u g u s t a R o d r-
i Carnavalesca
gues
73. F e r n a n d o Parnplona Carnavalesco

74. Licia Lacerda Carnavalesca

75. E c i l a Cyrne Carnavalesca

76. S i d Camilo Carnavalesco e D i r e t o r d a ACES

77. Sancler Boiron Carnavalesco e D i r e t o r d a ACES

78. Geraldo Cavalcanti Carnavalesco

79. M a r i e L o u i s e Nery Carnavalesca

80. J u l i o Mattos Carnavalesco

81. Iça Pacheco A s s e s s o r a d a C a r n a v a l e s c a Rosa Maga

l h ã e s no B a r r a c ã o do S a l g u e i r o

82. Haroldo Costa Escritor e Comentarista de Carnaval

83. Ailton Guimarães P r e s i d e n t e da Liga Independente das

Jorge E s c o l a s d e Samba

84. Fernando Leandro Presidente da Caprichosos de P i l a r e

85. José Carlos Netto Jornalista e Cronista Carnavalesco

86. Maria Laura V i v e i r o s ~ n t r o ~ ó l oe ~ pae s q u i s a d o r a d e Carn

de Castro val

87. João cândido ~ a l v ã o Curador da X X I Bienal Internanional

d e Artes de S.Paulo

88. Sergio Cabra1 Escritor e pesquisador de Carnaval

89. L u i z Oswaldo P e r e i r a P r o f e s s o r do Curso d e A r t e s ~ ê n i c a

d a Cunha da E s c o l a d e B e l a s Artes/UFRJ

90. Hiran ~ r a ú j o Escritor e pesquisador de Carnaval

E s t e s d e p o i m e n t o s e s t ã o g r a v a d o s em F i t a Cassete
t o t a l i z a n d o o tempo d e 30 C t r i n t a l h o r a s d e e n t r e v i s t a s g r a v a d a
no p e r í o d o d e j a n e i r o d e 1 9 9 1 a s e t e m b r o d e 1 9 9 1 . E n c o n t r a m - - s
a r q u i v a d o s n o e n d e r e ç o : R u a CambaÚba 7 8 5 / 3 0 2 , I l h a d o G o v e r n a d o
Rio d e J a n e i r o , 5 d i s p o s i ç ã o para c o n s u l t a , e constituem mater
a1 fonográfico desta Dissertação.

O ~ i d e od e a p r e s e n t a ç ã o c o n t é m b r e v e s d e p o i m e n t o s
t r e c h o s d e d e s f i l e s d a s E s c o l a s d e Samba d o G r u p o E s p e c i a l , be
como o u t r o s e l e m e n t o s r e f e r e n t e s a o a s s u n t o a n a l i s a d o , e n c o n t r a
d o - s e a r q u i v a d o n o mesmo l o c a l d a s F i t a s C a s s e t e e c o n s t i t u i n d o
m a t e r i a l Audio V i s u a l d e s t a p e s q u i s a .

O s S l i d e s a p r e s e n t a d o s fazem p a r t e do a c e r v o d e d
c u m e n t a ç ã o d e s t a p e s q u i s a , e e s t ã o a r q u i v a d o s n o mesmo l o c
elementos s u p r a - c i t a d o s . Todos e s t e s m a t e r i a i s pertecem 2
ra desta Dissertação.
R E F E R E N C I A S B I B L I O G R ~ F I C A S PARA I L U S T R A-
ÇÕES DE FOTOS

CAPITULO I11

~ á g .1 6 0 : F o t o d o Desfile da Império Serrano - Manchete nVO28

20/2/91, Rio d e Janeiro, Bloch E d i t o r e s
~ á g .1 6 4 : Foto do D e s f i l e da Magueira - idem.
~ á g .1 6 5 : Foto do D e s f i l e da Mocidade Independente d e Padre M -i
guel, idem.
pág. 166: Foto do D e s f i l e da Mocidade Independente d e Padre M -i
guel, idem.

88: Foto do D e s f i l e da Mocidade Independente d e Padre M -i

guel - Mabchete nQ 2028, 20/2/91,Rio de Janeiro,Rloch
Editores.
Foto do Barracão da Vila I s a b e l - Evandro T e i x e i r a -
R e v i s t a d e Domingo, J o r n a l do B r a s i l nQ94 ano3,5/2/78
pág. 15, Rio de Janeiro, J o r n a l do B r a s i l .
Foto do Barracão da Lins Imperial - J o r n a l O G l o b o , C-
a
derno Carnaval 91, pág. 15, 10/2/91, Rio d e Janeiro,O
Globo.
Foto do Barracão da Lins Imperial - Alaor Filho,Revi-
s
t a Domingo, JB, Ano 1 5 n V 7 1 , 1 0 / 2 / 9 1 , p á g . 1 4 . R i o d e J-
a
neiro, J o r n a l do B r a s i l .
Foto do Barracão da Imperatriz Leopoldinense, idem.
F o t o d o B a r r a c ã o d a M o c i d a d e I n d e p e n d e n t e d e P a d r e M -i
guel, Ricardo Mello, idem. p.8.
F o t o d o B a r r a c ã o d a M o c i d a d e I n d e p e n d e n t e d e P a d r e M -i
guel, O Globo, Caderno Carnaval 91, pag.8,10/2/9lPRJ
F o t o d o B a r r a c ã o d a M o c i d a d e I n d e p e n d e n t e d e P a d r e M -i
guel, idem, p.8
Foto do Barracão do Salgueiro, Frederico Rosário, R-
e
v i s t a D o m i n g o J B Ano 1 5 n 9 7 7 1 , 1 0 / 2 / 9 1 , Rio d e Janeiro
J o r n a l do B r a s i l .
Pág. 193: Foto do Barracão da Mangueira, J o r n a l O Blobo, C a d e-
r
no C a r n a v a l 91, 10/2/91, Ivo González, p.lO,Rio de
Janeiro, O Globo. ,

~ á g .1 9 4 : F o t o d o B a r r a c ã o d o I m p é r i o S e r r a n o , idem p.15.
Pág. 195: Foto do Barracão da Beija Flor, Ricardo Mello, C a d e-
r
no C a r n a v a l 91, 10/2/91, p.11, Rio d e Janeiro, O G l-
o
bo.
Pág. 196: Foto do Barracão da Unidos da T i j u c a , Ricardo Mello,
lP Caderno, O Globo, 12/1/92, p.21,Rio de Janeiro, O
Globo.
Pág. 196: Foto do Barracão da Unidos da T i j u c a , idem.p.21.
Pág: 204: F o t o d o D e s f i l e d a ~ s t á c i od e sã, "O S u p r e s h o w d o Sarf
ba", Fatos e Fotos Gente, nP1239, 20/2/91.Rio de
neiro, Bloch Editores.
205: Foto da hguia da P o r t e l a , F a t o s e F o t o s Gente n'
Ano X X , 8 / 3 / 8 2 , p.37, Rio d e Janeiro Bloch Editei,,.

~ á g .2 0 6 : Foto da Aguia da P o r t e l a , , Revista Manchete nP 1715

ano 33, 21/3/85, Rio de Janeiro, Bloch Editores.
Pzg. 207: Foto da Aguia da P o r t e l a , Caderno Cidade, p.C-6, J o -r
na1 do B r a s i l , 13/2/91, Rio d e Janeiro, J o r n a l d o B r-
z
si1
Pág. 210: F o t o d a P i s t a do D e s f i l e d e E s c o l a s d e Samba, -
R u a Mar
quês de Sapucai, 1979. R e v i s t a Abre Alas,nP 8, Rio
de Janeiro, E d i t o r a Mec, Riotur.
pág. 209: Foto da P i s t a do D e s f i l e d e Escolas d e Samba,Carnaval
d e 1978, Suplemento da Revista Manchete nP1350, Rio
de Janeiro, Bloch Editores.
Pág. 212: Planta Baixa Geral da P i s t a do Desfile, Passarela do
Samba (~arnbÕdromo1, Memórias do C a r n a v a l , p.346, Rio
de Janeiro, Oficina do Livro,l991.
~ á g .2 1 4 : F o t o d e V i s t a ~ é r e ad o ~ a r n b Õ d r o m o , P r a ç a d a Apoteose
Fatos e Fotos Gente, nP1177, ano31, Rio de Janeiro,
Bloch Editores.
Pág. 215: F o t o d a P i s t a d o ~arnbÓrdromod e c o r a d a , Ricardo Leoni
O Globo, primeira página, 17/2/88, Rio d e Janeiro, C
Globo.
pág. 241: F o t o d e D e s t a q u e d o e n r ê d o "O R e i d a C o s t a d o Marfim
V i s i t a C h i c a d a S i l v a em D i a m a n t i n a " , Imperatriz L e-
o
poldinense, Revista Manchete, n"611 ano 31, 5/3/83 ,
Rio de Janeiro, Bloch Editores.
F o t o d e D e s t a q u e d o e n r ê d o "Onde C a n t a o S a b i á " , I m p-
e
r a t r i z Leopoldinense, R e v i s t a Manchete nQ1560,ano 30
13/3/82, Rio de Janeiro, Bloch Editores.
~ á g .2 4 3 : F o t o d e A l e g o r i a s do e n r ê d o "O Teu C a b e l o N ~ ON e g a " ,
R e v i s t a Manchete n91509 ano 29, 21/3/81, R i o d e J a n e-
i
ro, Bloch E d i t o r e s . ~ I m p e r a t r i zLeopoldinensel
~ á g .2 4 4 : Foto de Alegorias do enrêdo " E s t r e l a Dalva1'1mperatriz
Leopoldinense, Revista Fatos e Fotos Gente
-
numero
1231, 4/3/87. Rio d e Janeiro, Bloch Editores.
246: F o t o d e A l e g o r i a d o ~ n r ê d o" O s c a r i t o , Carnaval E! Sam
-
ba, Uma C h a n c h a d a no A s f a l t o " , Fatos e Fotos, número
861, ano XVI, 20/2/78, Rio d e Janeiro, Bloch E d i t o r e s
F o t o d a B a t e r i a d a M o c i d a d e I n d e p e n d e n t e d e P a d r- e M -i
guel, enrêdo "Tropicália Maravilha", Revista Yl a n c h-
e
te, nQ1454, ano 28, 1/3/80, Rio d e Janeiro, Bloc
tores.
F o t o d e A l a d o ~ n r ê d o" Z i r i g u i d u m 2001,Carnaval oas
Estrelas", Mocidade Independente d e Padre Miguel
v i s t a R i o Samba, anÓ 8 6 , Rio d e Janeiro, G r á f i c a ,,.
Foto da Ala d a s Baianas, idem.
Foto de Alegoria,idem.
Foto da Bateria, idem.
Foto da li d a s B a i a n a s , e n r ê d o " A G r a n d e C o n s t e ~ a ç a o
d a s E s t r e l a s Negras" Beija Flor, R e v i s t a Manchet
mero 1610, ano 31,26/2/83, Rio d e Janeiro, Bloch
tores.
Foto de Alegoria d o e n r ê d o " A l i c e no B r a s i l d a s M a r-
a
vilhas" Beija Flor, Fatos e Fotos nQl239,20/2/91 , Rie
de Janeiro, Bloch E d i t o r e s
Pag. 253: Foto de Alegoria. idem.