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Horta Osório: mudar o mundo, salvar

bancos e nadar com tubarões


por Alexandre Soares, Publicado em 20 de Janeiro de 2010

http://www.ionline.pt/conteudo/42748-horta-osorio-mudar-o-mundo-salvar-
bancos-e-nadar-com-tubaroes

Horta Osório foi considerado um dos 50 ex-alunos do INSEAD que


mudaram o mundo. Durante a crise liderou o Abbey National,
apontado como exemplo de sobrevivência

Nadar com tubarões tornou-se uma anedota. Quando António Horta Osório, presidente do
conselho executivo do Abbey National, guiou o banco inglês através da crise financeira e
conquistou um crescimento de dois dígitos, todos os jornalistas recuperavam o passatempo
do português e repetiam a piada: habituado a tubarões está ele. Este ano, a INSEAD
(considerada a melhor escola de negócios do mundo) comemora o seu 50º aniversário e
decidiu comemorar a data distinguindo cinquenta antigos alunos. O banqueiro de 45 anos
foi um dos escolhidos. Recebeu o prémio este domingo, em Abu Dhabi, terra firme.

A escola não facilitou nos critérios: "Indivíduos que não só tenham tido uma carreira
excepcional e grande impacto no mundo, mas também tenham tocado vidas e incorporado
os valores do INSEAD". Um antigo professor não fica surpreendido com a distinção. "Foi o
melhor aluno que tive", diz.

Horta Osório licenciou-se em Economia e Gestão na Universidade Católica, à qual ficou


ligado como professor, mas integrou imediatamente os quadros do Citibank. "Mostrou,
desde muito cedo, um gosto especial pelas áreas da banca e do marketing", explica o
professor. "Não era alguém que estudasse muito, mas era extremamente inteligente,
acompanhava as aulas com muita atenção e sobretudo é muito focado." Por duas vezes foi a
exame na faculdade, para subir um 18 para um 19. É este método que o amigo Fernando
Adão Da Fonseca, presidente do Banco Privado Português (BPP), lhe reconhece. "Porta-se
nos negócios como no mergulho. O mergulho é um desporto que pode ser perigoso se é feito
de forma amadora. Nos bancos, a falta de profissionalismo também pode ser fatal." Adão da
Fonseca assegura que Horta Osório tem "uma postura moral irrepreensivel" e confirma que
o amigo nunca sobe o tom de voz quando se zanga. "Tem uma postura épica."

Passou quatro anos no City Bank, mas, como diz numa entrevista disponível no site da
INSEAD, "sempre quis aprofundar o background académico". Quando termina o MBA,
recebe o prémio Henry Ford II, atribuído ao melhor aluno. Parte depois para o Goldman
Sachs e é ao serviço do banco de investimento que o espanhol Santander o recruta, quando
tem 28 anos. Passado um ano, recebe o prémio "Euromoney" para o melhor banco
estrangeiro a operar em Portugal. Depois de uma passagem no Brasil, torna-se o primeiro
Presidente do Conselho Executivo do Santander Totta, quanto a instituição bancária
compra o terceiro maior banco privado português. Emilio Botín, chairman do Santander,
distingue o valor ibérico e chama-o para liderar a recuperação do Abbey, no Reino Unido.
Em 2008, enquanto os bancos ingleses se afundam nas águas de tempestade económica,
coordena a aquisição do Bradford & Bingley's, do Alliance & Leicester e outras 197 filiais.
Dá entrevistas, aparece nos jornais, nas televisões e nasce a anedota dos tubarões.

Como balança a tendência esquizofrénica da vida de um português a trabalhar para um


banco espanhol no Reino Unido? "O facto de não ser espanhol ajuda na questão Espanha-
Reino Unido. Tens coisas boas em cada cultura, o meu objectivo é conseguir reunir o
melhor das duas", explica numa entrevista ao "Telegraph". É critico dos bónus à americana,
mas defende que não são responsáveis pela crise financeira. "Precisa-se de boa governação,
não é suficiente nomear um comité. É preciso uma cultura que promova o debate e
promova os melhores". Casado com uma maratonista, tem três filhos e fala com a certeza de
quem tem no currículo 850 mergulhos, 100 deles com tubarões: "Rangiroa [na Polinésia
Francesa] é o melhor lugar do mundo para tubarões". No Natal de 2008, semanas depois da
falência da Lehman Brothers, estava na África do Sul, fechado numa jaula debaixo de água,
com três tubarões brancos. Continua a regressar a Portugal, mas 15 anos depois da partida
habituou-se à vida na capital do Reino Unido. "A comida é muito melhor e o tempo está a
melhorar, com o aquecimento global."

Horta Osório foi considerado um dos 50 ex-alunos do INSEAD que


mudaram o mundo. Durante a crise liderou o Abbey National,
apontado como exemplo de sobrevivência

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