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Demonstração da Irracionalidade

do Número de Euler ( e )
Rodrigo R. Gonçalez

ABSTRACT: This article seeks to demonstrate the irrationality of Euler's


number, through simple mathematical tools.

1. Introdução.

“Na matemática, o número de Euler, denominado em homenagem ao matemático suíço


Leonhard Euler, é a base dos logaritmos naturais. As variantes do nome do número
incluem: número de Napier, constante de Néper, número neperiano, constante
matemática, número exponencial, etc. A primeira referência à constante foi publicada
em 1618 na tabela de um apêndice de um trabalho sobre logaritmos de John Napier. No
entanto, este não contém a constante propriamente dita, mas apenas uma simples lista
de logaritmos naturais calculados a partir desta. A primeira indicação da constante foi
descoberta por Jakob Bernoulli, quando tentava encontrar um valor para a seguinte
expressão (muito comum no cálculo de juros compostos):

n
1
lim 1 e.
n n

(Fonte: Wikipèdia.com.br).”

Evidentemente, com o auxílio do cálculo computacional, ficou extremamente simples


obter o número de Euler. Mas, nenhum computador existente poderá obter todas as
casas decimais de tal número, pois ele é irracional.

Pela expressão mostrada acima, temos aquilo que denominamos de uma indeterminação
matemática. Isso porque, quando n tende ao infinito, 1 n tende a zero e não podemos
afirmar o que ocorre com a expressão 1 . Devemos lembrar ao leitor que o infinito é
uma idéia, e não um número. Não é algo mensurável e que possui controle. Imagine o
infinito como algo tão extenso quanto nossa imaginação possa alcançar, e isso ainda
seria ínfimo.

Fixemos nossa imaginação nos tempos de Bernoulli, Euler e Napier, por exemplo.
Como nós poderíamos ter a absoluta certeza de que tal famoso número é mesmo
irracional? A demonstração desse fato é o interesse principal deste artigo.

1
2. Sequências e Séries.

n
1
Tomemos uma sequência cujo termo geral é xn 1 , n  . Pelo teorema
n
Binomial, podemos reescrever esse termo como:

n
1 n n 1
1 (1)n k k
n k 0 k n

Logo,

n
1 n 1 n 1 n 1 n 1 n1 n 1
1 ...
n 0 n0 1 n1 2 n2 3 n3 n 1 nn 1 n nn

n
1 1 n (n 1) 1 n (n 1)(n 2) 1 n (n 1)(n 2)(n 3) 1 1
1 1 n ... n
n n 2! n2 3! n3 4! n 4
n

n
1 n (n 1) 1 n (n 1)(n 2) 1 n (n 1)(n 2)(n 3) 1 1
1 1 1 2 3 4
... n
n n 2! n 3! n 4! n

n
1 n 1 1 n 1 n 2 1 n 1 n 2 n 3 1 1
1 1 1 ... n
n n 2! n n 3! n n n 4! n

n
1 1 1 1 2 1 1 2 3 1 1
1 1 1 1 1 1 1 1 1 ... n
n n 2! n n 3! n n n 4! n

Se n tende ao infinito, observamos que o termo tende a

n
1 1 1 1
lim 1 1 1 (1 0) (1 0) (1 0) (1 0) (1 0) (1 0) ...
n n 2! 3! 4!

n
1 1 1 1 1 1
lim 1 1 1 ... ... e 
n n 2! 3! 4! n! n 0 n!

Concluímos, dessa forma, que número de Euler também pode ser escrito como o
resultado de convergência da série infinita:

2
1 1 1 1 1
e 1 1 ... ... .
2! 3! 4! n! n 0 n!

1
Observemos, portanto, que a série dá-nos o número de Euler.
n 0 n!

De fato, tal série é monótona e limitada, portanto converge. Para demonstrar isso,
escrevamos suas somas parciais:

1 1 1 1 1 1
1 ... ...
n 0 n! 1! 2! 3! 4! n!

S1 1
S2 1 1
1
S3 1 1
2
1 1 1 1 1 1
S4 1 1 1 1 1 1
2 3! 2 2 2 2 22
1 1 1 1 1 1 1 1 1
S5 1 1 1 1 1 1
2 3! 4! 2 2 2 2 2 2 2 22 23
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
S6 1 1 1 1 1 1
2 3! 4! 5! 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 22 23 24

1 1 1 1 1 1 1
Sn 1 1 ... 1 1 2 3
... n 2
2 3! (n 1)! 2 2 
 2 2
série geométrica menor que 2

1 1 1 1
Observação: Verifiquemos que 1 ... é uma série geométrica de
i 0 2i 2 22 23
1
razão , cujo limite da soma é:
2

1
lim S lim S 2
n 1 n
1
2

3
3. Conclusão.

1
Portanto, temos que 2 Sn 3 , sendo (Sn ) monótona e limitada. Então,
n 0 n!
converge.

1
Seja e . Como vimos anteriormente, 2 e 3 . Reescrevamos e de forma
n 0 n!
que:

k
1 1 1 1 1
e ...
n 0 n! (k 1)! (k 2)! (k 3)! (k 4)!

1 1 1 1 1 1
... 1 ...
(k 1)! (k 2)! (k 1)! (k 2) (k 3)(k 2) (k 4)(k 3)(k 2)

1 1 1 1 1 1
1 ... 1 ...
(k 1)! (k 2) (k 1)! k 1 (k 1)(k 1) (k 1)(k 1)(k 1)

1 1 1 1 1 1 1
1 ... 1 ...
(k 1)! (k 2) (k 3)(k 2) (k 1)! k 1 (k 1)2 (k 1)3

k
1 1 1 1 1
0 e 1 ...
n 1 n! (k 1)! k 1 (k 1)2 (k 1)3

1 1 1 1
Temos que 1 ... é uma série geométrica, de razão , cujo
k 1 (k 1)2 (k 1)3
k 1
limite da soma é:

1 k 1 1
lim S lim S 1
n 1 n k k
1
k 1

Substituindo o termo anterior na expressão obtida:

1 1 1 1 1 k 1 1
1 ...
(k 1)! k 1 (k 1)2 (k 1)3 (k 1)! k k k!

4
Portanto:

k
1 1
0 e
n 1 n! k k!

Ora, se e  , por hipótese, então existem p, q  tal que e p q . Podemos


escrever:

q
p 1 1
0
q n 0 n! q q!

Multiplicando os membros da desigualdade por q q!, obtemos:

q
p 1
0 q q! q q! 1
q n 0 n!

q
q!
0 p q! q 1
n 0 n!

q
q! q! q! q! q!
Observe que q q q! q! ... .
n 0 n! 2! 3! 4! q!

q
q!
Como p q!  e q  , é um absurdo que a diferença ente dois números
n 0 n!
naturais esteja entre 0 e 1.

Logo, e é um número irracional entre 2 e 3, como queríamos demonstrar.

Observação: Euler calculou tal número com 23 casas decimais!

e 2,71828182845904523536028...

5
BIBLIOGRAFIA

LIMA, Elon L.: Curso de Análise, Vol.1. 14 ed. Rio de Janeiro: IMPA, 2012. (Projeto
Euclides).

ÁVILA, Geraldo.: Introdução à Análise Matemática. 2 ed. São Paulo: Ed. Edgard
Blucher LTDA, 1999.

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