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Capítulo 1

Números Complexos
Neste capítulo, vamos discutir alguns detalhes relacionados aos números
complexos. Vamos analisar propriedades e características desses números com
o objetivo de estabelecer este conjunto como um conjunto universo geral, no qual
todos os números reais estão inseridos.

Podemos iniciar com um problema motivador.

Alguns problemas práticos são modelados com equações algébricas.


Supondo que estamos diante da expressão , quais os valores que
a variável x pode assumir?

Vamos voltar a este problema no decorrer de nossos estudos. Inicialmente é


importante conhecer um pouco da História da Matemática.

Um número imaginário ou complexo é uma ideia matemática precisa. Cardano


(1501 – 1576), um grande matemático do século XVI, foi o primeiro a reconhecer
a verdadeira importância desses números. Na sua obra “Ars Magna”, Cardano
discute a Álgebra e dá especial atenção às raízes negativas de uma equação e ao
cálculo com números complexos.

O que é um número complexo?

Vamos acompanhar o raciocínio de Rafael Bombelli (1526 – 1572) quando


analisou os métodos de Cardano. Vejamos a equação

Bombelli aplicou as fórmulas de Cardano e obteve a expressão que você vai olhar
e achar muito sofisticada. Bem, ela foi chamada de sofística.

9
Capítulo 1

Bombelli percebeu que x = 4 é solução da equação e concebe a


existência de uma expressão do tipo que poderia ser considerada como
raiz cúbica de .

Este matemático sentia-se muito à vontade para operar livremente com raízes
quadradas de números negativos. Mostrou que . Percebeu
claramente a importância do seu achado e usa expressões como:

•• piú di meno para representar o que chamamos hoje de i ou ;


•• meno di meno para representar o que chamamos hoje de -i ou .

Durante anos, os matemáticos não puderam negar a existência de equações


como .

A formalização do conjunto dos números complexos aconteceu automaticamente.

Euler (1707 – 1783) representou , uma notação usada até hoje.

William Rowan Hamilton (1805 – 1865) através de motivações físicas formalizou a


notação .

Isto significa olhar para um número complexo como um par de números reais.
Veja que vamos ter, por exemplo:

•• ;

•• ;

•• .

Observe que os matemáticos buscaram facilitar a compreensão dos números


complexos a partir dos números reais. Vamos sempre ter isso em mente no
decorrer de todo este capítulo para revisar e discutir os números complexos.

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Números e Funções Complexas

Seção 1
Definição e representações dos números complexos
Nesta seção, vamos formalizar a definição dos números complexos, discutir
as representações semióticas e conceitos introdutórios que auxiliarão no
desenvolvimento de suas habilidades para os momentos adequados de uso de
cada representação semiótica.

1.1 Definição de número complexo


Um número complexo z é um par ordenado de números reais sujeito a regras:

•• Dois pares ordenados são iguais se, e somente se, apresentarem


os primeiros termos iguais e os segundos termos iguais.
Simbolicamente temos:
.

•• A soma de dois pares ordenados é um novo par ordenado como segue:


.

•• O produto de dois pares ordenados é um novo par ordenado tal que:


.

•• O conjunto dos números complexos foi formalizado de


uma maneira natural e atualmente usamos a notação:
.

Para exemplificar, podemos considerar que:

(1) ;

(2) ;

(3) o par é um número complexo que também pode ser denotado


por .

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Capítulo 1

1.2 Plano de Wessel, Argand e Gauss


Gaspar Wessel (1745-1818), Jean Robert Argand (1768-1822) e Gauss (1777-
1855) foram os primeiros autores a notar a associação entre os números
complexos e os pontos do plano real, apesar de haver registros de que John
Wallis (1616-1703) já fazia referência de representação gráfica com a reta real.

A Figura 1.1 apresenta o plano real denotado neste contexto de Plano de Wessel,
Argand e Gauss. Observamos uma relação entre os números complexos e os
pontos reais do plano.

Figura 1.1 – Plano de Wessel, Argand e Gauss

Podemos afirmar que todo número real é um número complexo e pode ser escrito
na forma: .

Observe que as representações gráficas mostradas a seguir serão todas


trabalhadas com o uso de softwares livres, uma competência que você deve
construir no decorrer do seu estudo.

Alguns detalhes importantes sobre o número imaginário i:

(1)

(2) é um número real

(3) é um número dito imaginário puro, já que a parte real é 0.

(4) é um número complexo nulo.

Se o conjugado de é dado por .

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Números e Funções Complexas

1.3 Representações semióticas dos números complexos


Há um número significativo de representações semióticas para os números
complexos. Vamos agora detalhar um pouco mais essas representações,
buscando sempre visualizar os momentos em que cada uma se insere de forma
mais adequada ou mais simples. É o momento de você adquirir as habilidades
necessárias para realizar operações fazendo escolhas para facilitar os cálculos.

1.3.1 Par ordenado


O número complexo como um par ordenado de números reais está evidenciado
na definição. O primeiro elemento do par é denotado como parte real e o segundo
elemento do par como parte imaginária. Por exemplo, o número complexo
tem como parte real o valor a e como parte imaginária o valor b.
Podemos fazer dois destaques interessantes.

• O número representa o número real a. Por exemplo: representa o


número real 2.

• representa o número imaginário i ou denotado como unidade imaginária.

1.3.2 Representação algébrica


A representação algébrica é uma das mais usuais no dia a dia da resolução de
equações polinomiais que apresentam raízes complexas. De um modo geral,
podemos escrever . Observe que a representa a parte real e b a parte
imaginária do número complexo.

Por exemplo, quando resolvemos a equação aplicando a fórmula


de Bhaskara, vamos obter as raízes complexas e . As raízes
complexas sempre aparecem em dupla nas equações do tipo da equação dada e
são denotadas como conjugadas.

1.3.3 Representação gráfica


Usando o Plano de Wessel, Argand e Gauss, podemos visualizar os pares ordenados
em um sistema cartesiano que representam números complexos. Veja na Figura 1.2
exemplos de números complexos, representados na forma de par ordenado. Temos:

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Capítulo 1

•• no primeiro quadrante os números e ;


•• no segundo quadrante os números e ;
•• no terceiro quadrante o número ;
•• no quarto quadrante o número ;
•• no eixo dos x o número .

Figura 1.2 – Exemplos de números complexos

1.3.4 Representação vetorial


Com a notação algébrica ou com a notação de par ordenado, podemos obter a
representação vetorial de um número complexo, ou seja, um vetor que representa
o número complexo ou .

Vamos considerar o vetor de (0,0) ao ponto , como mostra a Figura 1.3.

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Números e Funções Complexas

Figura 1.3 – Forma vetorial do número complexo

0 x

Como exemplo, podemos dizer que o par ordenado (5,7) pode indicar o número
complexo ou também pode representar um vetor, como mostra a Figura 1.4.

Figura 1.4 – Número complexo

Um número complexo pode representar um vetor aceleração de módulo


igual a .

1.3.5 Representação polar ou trigonométrica


A forma polar é visível quando olhamos a representação gráfica vetorial e
identificamos um triângulo retângulo com catetos a e b, como mostra como
mostra a Figura 1.5.

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Capítulo 1

Figura 1.5 – Forma polar ou trigonométrica no número complexo

b P

0 a x

Vamos denotar a hipotenusa do triângulo retângulo como . Assim, podemos


escrever:

e .

Dessa forma, temos e e

sendo r o módulo do número complexo e o ângulo β o argumento do número


complexo.

Cada área de estudo privilegia uma determinada representação. Por


exemplo, na Engenharia Elétrica é usual a forma trigonométrica e a
exponencial. Nas áreas consideradas não exatas, o uso dos números
complexos é bastante restrito e a notação algébrica é a mais usada.

1.3.6 Representação exponencial


A forma exponencial do número complexo é dada por

ou

Podemos fazer uma relação entre a forma trigonométrica com a forma polar.
Para tal demonstração, precisamos do uso de relações estudadas no contexto
das séries infinitas. Trata-se da fórmula de Euler, que pode ser escrita como
.

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Números e Funções Complexas

Veja que é uma aplicação direta:

Lembrando que r é o módulo de z e é o argumento de z.

Nas engenharias, a forma polar e a forma exponencial são muito utilizadas.


Usualmente a forma polar aparece representada com a notação .

1.3.7 Representação esférica


Observe a Figura 1.6 que apresenta o plano complexo P e uma esfera unitária, ou
seja, uma esfera de raio igual a 1. Veja que a esfera é tangente ao plano no ponto
. Por construção, o diâmetro NS é perpendicular ao plano P. O ponto N é
denotado de polo norte e o ponto S de polo sul.

Figura 1.6 – Projeção estereográfica

Vamos agora fazer a construção de uma reta NA que intercepta a esfera no


ponto . Podemos fazer essa construção para cada ponto do plano P e vamos
verificar que:

“Cada ponto do plano complexo P corresponde a um e somente um ponto da


esfera, e podemos representar qualquer número complexo por um ponto sobre
a esfera”.

O ponto N vai corresponder ao “ponto no infinito” do plano.

O conjunto de todos os pontos do plano complexo, incluindo o ponto no


infinito, é chamado plano complexo inteiro, ou plano z inteiro, ou ainda plano
complexo estendido.

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Capítulo 1

O processo descrito, denotado por projeção estereográfica, transforma o plano


na esfera. A esfera é chamada esfera de Riemann.

1.4 Conceitos no conjunto dos complexos


Vamos, nesta seção, salientar três conceitos que são muito usados no contexto
dos números complexos: parte real e parte imaginária; números complexos
conjugados e valor absoluto ou módulo.

Observe que o plano complexo é o plano cartesiano bidimensional, que


denotamos por , ou seja, um conjunto de pares de números reais. O
conjunto dos números complexos, também poderá ser representado por C.

1.4.1 Parte real e parte imaginária


Para , denominamos:

•• a parte real de z;
•• a parte imaginária de z.

Por exemplo, para o número complexo temos que a parte real é igual a
(-3) e a parte imaginária igual a 4, ou podemos escrever que:

•• ;
•• .

1.4.2 Números complexos conjugados


Dado um número complexo ou , podemos definir o seu
conjugado como: ou .

Por exemplo, o conjugado do número complexo:

•• (5,7) é o número complexo (5,-7);


•• é o número complexo .

Geometricamente significa a reflexão de em torno do eixo


horizontal. Veja exemplos na Figura 1.7.

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Números e Funções Complexas

Figura 1.7 – Exemplo de complexos conjugados

1.4.3 Valor absoluto ou módulo


Dado um número complexo , definimos o valor absoluto ou
módulo de z de forma análoga à definição do módulo de um número real, ou seja,
como a distância do ponto à origem . Formalmente temos:

Por exemplo, o módulo de

1.5 Exemplos
(1) Apresente o número complexo nas diversas formas de representação.

Seguem as representações:

•• Representação algébrica: ;
•• Representação na forma par ordenado:
;

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Capítulo 1

•• Forma Polar: ou . Nesse caso o


argumento é 45° e o módulo ;
•• Forma exponencial: .

As representações gráficas podem ser visualizadas nas Figuras 1.8 e 1.9.

Figura 1.8 – Ponto no plano do número complexo

Figura 1.9 – Forma vetorial no número complexo

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Números e Funções Complexas

(2) Dada a equação , desenvolva os seguintes itens:

(a) Verifique que a solução dessa equação está no conjunto dos


números complexos.
(b) Identifique o módulo e o argumento de cada um dos complexos
obtidos.
(c) Apresente as diferentes representações das raízes obtidas.

Vamos resolver a equação para desenvolver o exemplo proposto.

(a) Usando a fórmula de Bhaskara, temos:

Portanto, identificamos as raízes complexas conjugadas. Observe que vale as


notações:

(b) O módulo dos números complexos obtidos é dado por:

Observe que vale a relação ou de um modo mais geral


.

O argumento dos números complexos encontrados é obtido usando, por

exemplo, a forma polar, considerando-se que e .

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Capítulo 1

Para o complexo , temos e

Usando um recurso tecnológico, podemos obter o valor aproximado do


argumento como sendo 80,54o.

Para o complexo , temos e

Usando um recurso tecnológico, podemos obter o valor aproximado do


argumento como sendo .

(c) As raízes complexas encontradas podem ser escritas em diferentes representações:

•• Algébrica: e ;

•• Par ordenado: e ;

•• Forma Polar: e
2

;
2

•• Forma exponencial: e ;
2 2

As representações gráficas estão na Figura 1.10 e foram construídas utilizando-se


o software Geogebra.

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Números e Funções Complexas

Figura 1.10 – Representações gráficas das raízes complexas

1.6 Atividades de autoavaliação


(1) Escreva as representações: par ordenado; ponto no plano; polar ou
trigonométrica, exponencial e vetorial para o número complexo .

(2) Utilize um software livre para fazer as representações gráficas do número


complexo e do seu conjugado.

(3) Escreva a forma polar e a forma exponencial dos números complexos dados e
represente-os graficamente usando o software Geogebra:

(a) (b)

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Capítulo 1

Seção 2
Operações no conjunto dos complexos
Assim como no contexto dos números reais, temos técnicas para desenvolver
as operações com os números complexos. Veja a seguir como operacionalizar
números complexos nas suas diferentes formas de representação.

2.1 Adição
Vamos realizar a adição de números complexos por meio das representações: par
ordenado; polar ou trigonométrica e vetorial.

2.1.1 Par ordenado


A soma de dois números complexos, e , na forma de par
ordenado, é definida como:

Por exemplo, dados os números complexos e a soma pode


ser dada por:

2.1.2 Forma polar ou trigonométrica


A soma de dois números complexos, e ,
na forma polar ou trigonométrica, é definida como:

Por exemplo, dados os números complexos e

a soma pode ser dada por:

2.1.3 Forma vetorial


A soma de dois números complexos na forma vetorial corresponde à soma dos
vetores e pode ser representada conforme Figura 1.11.

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Números e Funções Complexas

Figura 1.11 – Soma de dois números complexos na forma vetorial

Por exemplo, dados os números e , a soma vetorial pode ser


identificada na Figura 1.12.

Figura 1.12 – Soma de e na forma vetorial

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Capítulo 1

2.2 Subtração
A operação subtração é uma operação inversa da adição, logo podemos escrever:

Dessa forma, podemos representar a subtração de números complexos como:

Por exemplo:

•• Na forma de par ordenado, dados os complexos e


, a subtração é dada por ;

•• Dados os números complexos e

, a subtração é dada por

•• Na forma vetorial, a diferença entre os vetores para os


números pode ser visualizada na Figura 1.13.

Figura 1.13 – Subtração na forma vetorial de , com

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Números e Funções Complexas

2.3 Multiplicação
Vamos realizar a multiplicação de números complexos por meio das
representações: par ordenado e polar ou trigonométrica.

2.3.1 Par ordenado


O produto de dois números complexos, e , na forma de par
ordenado, é definido como:

Por exemplo, dados os números complexos e , o produto


pode ser dado por:

2.3.2 Forma Polar ou Trigonométrica


O produto de dois números complexos, e
, na forma polar ou trigonométrica, é dado por:

Por exemplo, dados os números complexos e

, o produto pode ser representado por:

2.4 Divisão
Vamos apresentar a operação da divisão de dois números complexos usando as
formas: algébrica e a polar ou trigonométrica.

A divisão é uma operação inversa da multiplicação. Assim,

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Capítulo 1

A divisão de dois números complexos, e , na forma


algébrica é dada por:

Substituindo na expressão anterior, temos:

Portanto, podemos escrever:

Por exemplo, dados os números complexos e , a divisão de


por pode ser dada por:

2.5 Potenciação
Vamos fazer algumas considerações adicionais para a operação de potenciação
no contexto dos números complexos.

2.5.1 Potenciação
Em princípio, a potenciação desenvolve-se usando os processos da multiplicação
sucessiva, pois , é a multiplicação de n fatores iguais a

Por exemplo, . Fazendo os cálculos vamos


obter:

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Números e Funções Complexas

O que surge de diferente do contexto dos reais são as potências no número i. Se


observarmos a sequência de potências de i, vamos verificar que há uma regra ou
lei de formação. Veja:

; ; ; ; ; ; ; ; ; etc.

Qual é a regra ou lei de formação?

Você deve ter percebido que a partir de n=4 os valores das potências se repetem
a cada quatro novas potências sequenciais. Dessa forma, diante de uma potência
de i, podemos dizer que: sendo que q é o quociente da divisão de n por
4 e r o resto da divisão, ou seja, . Portanto, podemos afirmar que:
.

2.5.2 Teorema de Moivre


Abraham De Moivre (1667-1754) ficou famoso por demonstrar um teorema que
relaciona os números complexos com a trigonometria. Esse teorema, também
conhecido como Fórmula de Moivre, é bastante utilizado no contexto do cálculo
de potências e raízes de números complexos, principalmente na forma polar.

Garbi (1997) afirma que a fórmula de Moivre já era conhecida antes de Moivre, e
que esses equívocos históricos se devem ao fato das grandes dificuldades de
comunicação e divulgação de resultados.

Teorema de Moivre:

Se aplicarmos esse teorema no cálculo de uma potência na forma polar, vamos obter:

Por exemplo, se estamos diante da potência , fica bem desgastante


resolvê-la de forma manual utilizando essa representação algébrica. Vamos então
resolver essa potência usando a forma polar e aplicando a fórmula de Moivre.

Inicialmente vamos escrever o complexo dado na forma polar. Temos o cálculo do


valor absoluto ou módulo:

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Capítulo 1

O argumento dos números complexos encontrados é obtido usando


1
e . Para o complexo , temos e

6 3
. Assim, é o ângulo cujo cosseno vale e cujo seno

vale . Da trigonometria sabemos que estamos diante de um ângulo no terceiro

quadrante, ou seja, estamos diante do ângulo notável de 210 graus ou


radianos.

Usando a fórmula de Moivre podemos escrever a potência dada:

2.6 Radiciação
Um número w é dito uma raiz n-ésima de um número complexo z se ,e
escrevemos ou .

Do teorema de Moivre podemos escrever, para n, um inteiro positivo:

Para k = 0, 1, 2, ..., n-1.

Dessa forma, existem n valores diferentes ou n diferentes raízes para a raiz


n=ésima de z, desde que z seja diferente de zero.

Por exemplo, temos que:

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Números e Funções Complexas

Assim, temos:

•• Se k = 0, vamos ter a raiz ;

•• Se k = 1, vamos ter a raiz ;

•• Se k = 2, vamos ter a raiz .

Na Figura 1.14 têm-se as três raízes apresentadas. Observe que há graficamente


uma formação interessante, com um triângulo inscrito em um círculo com as raízes
distribuídas de modo que há uma divisão do círculo em três partes iguais. O círculo
ficará sempre dividido em n partes iguais sintonizado com o número n de raízes.

Figura 1.14 – Representação gráfica de

2.7 Propriedades e conceitos no conjunto dos complexos

2.7.1 Propriedades
A seguir vamos enunciar um conjunto de propriedades que são válidas no
contexto do conjunto dos números complexos.

31
Capítulo 1

(1) A lei comutativa é válida para a adição e a multiplicação. Assim, podemos escrever:

••
•• .

(2) Vale a relação , dessa forma podemos escrever de forma indiferente as


notações: ou .

(3) Vale a lei associativa para a adição e multiplicação. Portanto, podemos


escrever que:

••
•• .

(4) Se implica que ou .

(5) O conjugado da soma é a soma dos conjugados: .

(6) De forma similar ao item (5) temos que: ; e

(7) A soma de um número complexo com o seu conjugado vai resultar em um


número real.

(8) A diferença de um número complexo com o seu conjugado vai resultar em um


número imaginário puro.

(9) Associado a cada número complexo há três números reais que se relacionam:

(10) Valem as desigualdades triangulares:

••
•• .

2.7.2 Fórmula de Euler


A fórmula de Euler é dada por:

32
Números e Funções Complexas

Podemos provar esta fórmula.

Inicialmente vamos considerar a série infinita

Fazendo temos:

Admitindo-se que podemos rearranjar os termos, fica:

Considerando-se do estudo de séries que:

podemos escrever que , o que prova a Fórmula de Euler.

2.8 Produto interno e vetorial


Considerando-se que um número complexo pode ser considerado como um vetor,
é possível estabelecer as operações relativas aos vetores.

2.8.1 Produto interno entre dois números complexos


Dados os números complexos e , definimos o produto
interno ou produto escalar como .

É possível também mostrar que:

•• ;
•• .

33
Capítulo 1

Por exemplo, se e , o produto interno ou produto escalar vai ser:

2.8.2 Produto vetorial entre dois números complexos


Dados os números complexos e , definimos o produto
vetorial como .

É possível também mostrar que:

•• ;

•• .

Por exemplo, se e , o produto vetorial vai ser igual a:

Fique atento para a simbologia da operação utilizada. O sinal tradicional


de vezes pode ser usado para representar o produto vetorial, mas também
continua sendo válido para representar um produto entre dois números
reais ou complexos.
Temos, portanto, três diferentes produtos que podemos trabalhar no
conjunto dos números complexos.

2.8.3 Proposições
Seguem duas proposições válidas no contexto dos números complexos:

•• Uma condição necessária e suficiente para que dois números


complexos na sua representação vetorial sejam perpendiculares e
que o seu produto escalar seja igual a zero.
•• Uma condição necessária e suficiente para que dois números
complexos na sua representação vetorial sejam paralelos e que o
seu produto vetorial seja igual a zero.

34
Números e Funções Complexas

2.9 O corpo dos complexos


Considerando-se a definição de números complexos dada em 1.1 e
considerando-se a definição da adição e multiplicação de números complexos,
podemos afirmar que estamos diante de um conjunto munido de uma soma e de
um produto para os quais valem as condições:

(1) Comutatividade:

•• ;
•• .

(2) Associatividade:

•• ;
•• .

(3) Elemento neutro aditivo para todo z complexo.

(4) Identidade multiplicativa para todo z complexo.

(5) Simétrico aditivo quando todo tem um simétrico aditivo


tal que vale .

(6) Inverso multiplicativo quando todo tem um

inverso multiplicativo, o número , tal que vale

(7) Distributividade do produto em relação à soma .

Dessa forma, estamos diante do Corpo dos Números Complexos.

35
Capítulo 1

2.10 Atividades de autoavaliação


(1) Realize as operações indicadas para os seguintes números complexos,
e usando as formas algébrica e trigonométrica:

(a) (b) (c)

(2) Efetue as seguintes operações com números complexos:

(a) (b) (c) .

(3) Mostre que pode ser reescrito como .

(4) Calcule as seguintes raízes e as represente graficamente:

(a) (b) (c)

(5) A soma de um número complexo com o seu conjugado é igual a 18 e o


produto igual a 145. Determine esses números.

(6) Desenhe no plano complexo um polígono regular cujos vértices são as


soluções da equação . Qual a área deste polígono?

(7) Prove que .

(8) Prove a desigualdade triangular para números complexos.

(9) Prove o Teorema de Moivre: , sendo


que n é um número inteiro positivo. (Sugestão: utilizar o princípio da indução
matemática).

(10) Calcule o produto vetorial e produto escalar entre os números complexos


e . Represente os números vetorialmente e usando um recurso
computacional, calcule o ângulo entre as duas representações vetoriais dos
números dados. Verifique se há uma fórmula para calcular esse ângulo usando o
produto vetorial ou o produto escalar.

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Números e Funções Complexas

Seção 3
Equações polinomiais
As equações estão presentes na resolução da maioria dos problemas oriundos da
Matemática, da Física, da Química e de diversas outras áreas de conhecimento.
Esses problemas podem ser modelados por meio de equações algébricas ou
polinomiais e equações transcendentais.

Nesta seção daremos destaque à resolução de equações polinomiais. Observe


que no decorrer desta seção o nosso conjunto universo é o conjunto dos
números complexos.

Equações algébricas: são aquelas que podem ser escritas na forma polinomial ou
que podem ser reduzidas a uma forma polinomial.

Equações transcendentais: são aquelas que não podem ser reduzidas a uma
forma polinomial. Geralmente as equações transcendentais envolvem funções do
tipo exponencial, logarítmica, trigonométrica etc.

Apesar de na educação básica usarmos a equação do segundo grau para sinalizar


a existência dos números complexos, já sabemos por estudos históricos que a
introdução dos números complexos não surgiu com a equação do segundo grau.

Ripoll et al. (2011, p. 376) apresentam formalmente um questionamento


contextualizado com os aspectos históricos:

“Dada uma equação polinomial com coeficientes num campo numérico K, é


possível obter as raízes que estão em K por meio do cálculo de uma fórmula
envolvendo os coeficientes dessa equação?”

A partir da ideia de que somente serão permitidas operações algébricas válidas


em K, ficamos diante da situação de que se o campo numérico for o conjunto dos
reais (K = R), a resposta é “sim” para as equações do primeiro e segundo graus;
entretanto a resposta é “não” para as equações cúbicas, ou seja, equações do
terceiro grau.

Desse modo, a famosa Fórmula de Tartaglia-Cardamo para calcular raízes de


equações cúbicas não funciona quando temos raízes complexas.

Portanto, a percepção inicial da existência de raízes não reais, ou seja, raízes


complexas, surgiu no contexto das equações do terceiro grau, com o travamento

37
Capítulo 1

da aplicação da Fórmula de Tartaglia-Cardamo no contexto dos números reais,


mas pode ser legitimada no contexto dos números complexos.

Ripoll et al. (2011, p. 381-382) apresentam um teorema que esclarece muito bem
essa discussão sobre a fórmula de Tartaglia-Cardamo.

Relativamente à equação cúbica de coeficientes reais,


, e à respectiva fórmula de Tartaglia-Cardamo

temos que:
(i) sempre que os coeficientes da equação fizerem com que o
cálculo da fórmula de Tartaglia-Cardamo não trave em aritmética
real (equivalentemente: se os coeficientes da mesma forem
tais que seja possível calcular, em aritmética real, os valores da
fórmula de Tartaglia-Cardamo), o valor produzido pela fórmula
será uma raiz (real) da equação dada;
(ii) contudo, a fórmula pode travar em aritmética real, mesmo
nos casos em que a equação tenha raízes reais, sendo então
impossível legitimar tal fórmula em aritmética real.

Quem mostrou que “nem tudo estava perdido” foi o italiano Bombelli, que em
1572 percebeu (com a introdução da ousadia de admitir) a existência de números
cujos quadrados sejam reais negativos, ou seja, os números complexos.

O que é uma equação polinomial?

Seja um polinômio na variável


x, a equação ou é dita uma
equação polinomial ou, simplesmente, equação algébrica.

O número é denominado raiz (ou zero) da equação polinomial se .

A busca de todas as raízes de uma equação polinomial mobilizou muitos


matemáticos em diferentes épocas. Hoje sabemos que uma equação polinomial
de grau admite e somente raízes. Essas raízes podem ser números
reais ou números complexos.

De modo geral, sabemos que as equações são importantes no nosso dia a dia,
pois elas modelam os problemas. Garbi (1997, p. 1) inicia seu livro afirmando que
a própria linguagem cotidiana já incorporou o verbo “equacionar” e expressões
como “o xis do problema”.

38
Números e Funções Complexas

Veremos nesta seção as equações focando a presença tanto de raízes reais como
as raízes complexas.

3.1 Desafios das equações cúbicas


Vamos apresentar o desafio dos matemáticos dos anos de 1500 com um exemplo
atual. Vamos considerar a equação . Considerando-se que as
suas raízes podem ser iguais às raízes ou zero de uma função polinomial, podemos
analisar graficamente como mostra a Figura 1.15. O desafio dos matemáticos se
resumia em adicionar um valor à expressão polinomial e constatar que na maioria
das vezes as raízes não eram encontradas (ver Figura 1.16).

Figura 1.15 – Gráfico da função

Figura 1.16 – Gráfico da função

Uma pergunta que é sempre feita por estudantes ou leigos.

Como vamos achar o “xis” do problema?

39
Capítulo 1

Para achar o “xis”, é necessário resolver a equação que modela o problema. Para
tal, visualizamos a correlação que ela expressa e encontramos “alguma coisa”
que desconhecemos e que costumamos denominar de incógnita.

Em 1799, Gauss (1777–1855) defendeu o seu doutorado brindando o mundo com


o seu famoso Teorema fundamental da Álgebra:

Toda equação polinomial de coeficientes reais ou complexos tem pelo menos uma raiz.

Este importante teorema permitiu que outras propriedades das equações


polinomiais pudessem ser estabelecidas. Na história da Matemática, muitos
nomes estão ligados ao desenvolvimento da teoria das equações algébricas.

3.2 Teorema Fundamental da Álgebra (TFA)


Ripoll et al. (2011) apresentam quatro versões do Teorema Fundamental
da Álgebra: enumerativa, existencial, fatoração linear e fatoração real. As
demonstrações parciais ou completas poderão ser obtidas no autor citado ou
em livros mais avançados.

3.2.1 TFA – Versão existencial


Toda equação polinomial com coeficientes no corpo dos números complexos tem
ao menos uma raiz nesse corpo.

Em termos mais completos, temos que “toda equação polinomial com


coeficientes em um corpo K que tem ao menos uma raiz em tal corpo” é
verdadeira em um único corpo numérico K = C.

A demonstração desse teorema é dada por Gauss, aproximadamente em 1800.

3.2.2 TFA – Versão enumerativa


Toda equação polinomial de grau n maior ou igual a um, e coeficientes no corpo
dos números complexos, tem exatamente n raízes neste corpo, entendendo-se
que contamos cada raiz tantas vezes quanto valer a sua multiplicidade.

A prova desse teorema pode ser consultada em Ripoll et al. (2011, p. 457-458).

3.2.3 TFA – Versão fatoração


O conhecimento de todas as raízes (podendo estar repetidas), de
uma equação polinomial de grau n e
cujos coeficientes são números complexos, nos permite escrever a fatoração do
polinômio associado:

40
Números e Funções Complexas

De forma equivalente, considerando-se os valores distintos das raízes


denotados por podemos escrever

sendo que são as multiplicidades das raízes.

3.2.4 TFA – Versão fatoração real


Qualquer polinômio de coeficientes reais pode ser fatorado no corpo dos
números reais, em termos de fatores reais lineares e/ou fatores reais quadráticos.

Essa versão é a utilizada no Cálculo Diferencial e Integral, ou em matemática mais


elementar, quando o campo de estudos é o conjunto dos números reais.

3.3 Formalizando cálculos e aplicações do TFA


As diferentes versões do Teorema Fundamental da Álgebra têm aplicações
práticas quando estamos lidando com polinômios ou equações polinomiais,
tanto no contexto teórico das funções polinomiais como no contexto prático da
resolução de situações problemas.

3.3.1 Equação na forma fatorada


Inicialmente podemos considerar a seguinte proposição:

O polinômio é divisível por x-c se, e somente se, o número c for raiz do
polinômio , isto é, se e somente se

Então, se é raiz de , temos que . Continuando


este procedimento e sendo também raiz de , fica .
Podemos sucessivamente obter a equação na forma fatorada em fatores lineares.

, com raízes de .

Esse resultado nos permite observar que:

•• uma equação polinomial de grau admite raízes;

41
Capítulo 1

•• podemos obter raízes a partir do conhecimento de uma delas.


Tendo obtido o valor de uma raiz real , por exemplo, podemos

fazer . Nesse caso, a equação polinomial terá as

outras raízes de .

3.3.2 Exemplo
Obter as raízes de sabendo que uma de suas raízes é .
Apresentar P(x) na forma fatorada.

Fazendo a divisão obtemos . Resolvendo a equação do

segundo grau , chegamos aos valores das raízes e .

Assim, o polinômio dado pode ser apresentado na sua forma fatorada:

3.3.3 Equações com raízes múltiplas


A decomposição de um polinômio em fatores do primeiro grau pode apresentar
fatores iguais, por exemplo:

Nesse contexto, podemos considerar a seguinte proposição:

é raiz de multiplicidade m (m 1) da equação se, e somente se,


e .

Assim, é raiz de multiplicidade m de quando a decomposição apresentar


m fatores iguais a .

• Na equação do segundo grau , sempre que


as duas raízes são iguais (raiz dupla).

42
Números e Funções Complexas

• Quando todas as raízes da equação polinomial são distintas, isto é,


multiplicidade 1, dizemos que estamos diante de raízes simples.

• É usual, quando apresentado o conjunto de todas as raízes de uma equação


polinomial, mostrar apenas as raízes distintas, pois na notação de conjuntos
convencionamos não repetir elementos.

3.3.4 Exemplos
(1) Para o polinômio , temos a raiz 2 com multiplicidade 3,
portanto temos:

O conjunto solução da equação é representado simplesmente por .

(2) Observe as raízes da equação do segundo grau . Ao aplicar a


fórmula de Bhaskara, vamos encontrar a raiz 3 com grau de multiplicidade 2.
Assim, o conjunto solução é dado por {3}.

3.3.5 Identificação do grau de multiplicidade de uma raiz real usando gráficos


Podemos, ao fazer a leitura gráfica de uma função polinomial, identificar o grau
de multiplicidade das raízes reais.

Na Figura 1.17 temos a função que tem a raiz 1 com


multiplicidade 2 (par), e na Figura 1.18 temos a função que tem a
raiz 2 com multiplicidade 3 (ímpar). Em geral, quando o grau de multiplicidade
é de ordem par, o gráfico toca (tangencia) o eixo dos x; e quando o grau de
multiplicidade é de ordem ímpar o gráfico corta o eixo dos x.

43
Capítulo 1

Figura 1.17 – Gráfico da função polinomial

Figura 1.18 – Gráfico da função polinomial

44
Números e Funções Complexas

3.3.6 Determinando a multiplicidade de uma raiz real utilizando Briot-Ruffini


Para investigar o grau de multiplicidade de uma raiz, podemos utilizar o
dispositivo de Briot-Ruffini.

Dada uma equação polinomial com uma de suas raízes reais ,


podemos aplicar divisões sucessivas de por , observando sempre o
resto da divisão. O processo termina quando encontramos um resto diferente de
zero.

Por exemplo:

(1) Podemos verificar o grau de multiplicidade da raiz 2 na equação .

Vamos utilizar o dispositivo de Briot-Ruffini para fazer sucessivas divisões de


por .

2 1 -6 12 -8
1 -4 4

2 1 -4 4
1 -2 0

2 1 -2
1 0

Na primeira divisão, temos com resto zero. Na

segunda, temos com resto zero e em seguida . Como os

três restos sucessivos são zeros, temos que é uma raiz com multiplicidade 3
de .

45
Capítulo 1

(2) A análise da multiplicidade da raiz 1 na equação


pode ser feita usando o dispositivo de Ruffini. Observe que podemos aplicar todo
o processo sucessivamente. Veja:

1 1 -4 -10 28 -15
1 1 -3 -13 15 0
1 1 -2 -15 0
1 -1 -16

Como encontramos dois restos zeros, o grau de multiplicidade da raiz 1 é dois.

3.3.7 Relações de Girard


Podemos discutir as relações existentes entre as raízes e os coeficientes de uma
equação polinomial. Para tal, temos as relações de Girard.

As relações de Girard para uma equação polinomial

, com expressam
relações entre as raízes e os coeficientes da equação. Algumas dessas relações
podem ser dadas por:

•• soma das raízes é igual a ;

•• o produto das n raízes é igual a .

Quando se trata da busca de raízes de equações do segundo grau, as relações


de Girard servem como um método de resolução. Veja a equação
que pode ser reescrita como .

Se as duas raízes são e , então pelas relações de Girard podemos escrever:

•• ;

•• .

Portanto, a equação pode ser reescrita como .

Por exemplo, para achar as raízes de basta aplicar as relações de


Girard e encontrar as raízes cuja soma vale 5 e cujo produto vale 6. Facilmente
chega-se a 2 e 3 que são as raízes da equação dada.

46
Números e Funções Complexas

3.3.8 Raízes racionais


O fato de uma equação possuir coeficientes inteiros não implica em que terá
raízes inteiras. Algumas das raízes racionais têm relação com os coeficientes.

Quando a equação com coeficientes inteiros


com e , se e forem

inteiros primos entre si e uma raiz racional da equação, então é divisor de

e é divisor de .

Observe que se , então as raízes racionais da equação serão inteiras e se,


além disso, , então as raízes racionais são –1 ou +1.

Por exemplo, diante da equação , podemos fazer a


seguinte consideração: se esta equação possui raiz racional será da

forma que seja divisor de 3 e divisor de 4. Considerando que os divisores

de 3 são e os divisores de 4 são , as possíveis raízes são

3.3.9 Raízes complexas


Podemos, de forma geral, observar que em uma equação polinomial com
coeficientes reais, isto é, para i = 0, 1, 2, 3, ..., n temos que:

•• se a equação for do primeiro grau, terá uma única raiz real;


•• se for do segundo grau, terá duas raízes que poderão ser duas reais
ou duas complexas conjugadas;
•• se for do terceiro grau, terá três reais ou uma real e duas complexas;
•• se for do quarto grau, poderá ter quatro reais, duas reais e duas
complexas ou quatro complexas;
•• etc.

As raízes complexas aparecem sempre conjugadas. Por exemplo, na equação

quadrática ao usar a fórmula, obtemos

na qual . Se , a equação tem duas raízes complexas que são

47
Capítulo 1

e . O produto dessas duas raízes complexas

conjugadas resultará um número real.

Dessa forma, sempre que uma raiz complexa é conhecida, já temos a certeza de
que a sua conjugada também é raiz. Por exemplo, sabendo que e uma
raiz da equação , com , de imediato
podemos afirmar que também é raiz desta equação.

De fato a divisão

é exata e temos que:

Para encontrar as duas raízes, basta analisar o resultado da divisão que é uma
expressão do segundo grau. Temos:

A equação quociente tem as outras duas raízes que também são


complexas e .

Observe que podemos ter equações em que os coeficientes não são números
reais. Nesse caso, as raízes poderão ser complexas e não necessariamente
conjugadas.

Por exemplo: a equação tem três raízes


complexas. Podemos fazer uma fatoração no campo do complexo utilizando
as técnicas já usadas, entretanto, lidando com números complexos. Temos que
, ou seja, temos as raízes complexas i, -4i e 1+2i. Em se
tratando de uma equação do terceiro grau, vamos nos deparar com as dificuldades
iguais ao contexto das raízes reais para o cálculo de pelo menos uma raiz.

48
Números e Funções Complexas

3.4 Problemas que são modelados com funções polinomiais


A seguir, vamos apresentar alguns problemas que são modelados por funções
polinomiais:

P1: Dois corpos A e B se movimentam com velocidades constantes. Suas


posições são modeladas por funções polinomiais do primeiro grau, dadas por
e , sendo t o tempo dado em segundos. Qual o momento em que
os dois corpos se encontram?

Solução de P1:

O problema já está modelado com duas funções do primeiro grau e a solução


é obtida igualando-se as expressões algébricas e formando uma equação
polinomial do primeiro grau. Veja.

P2: Um comerciante comprou um lote de mercadorias por R$ 540,00. Vai vender


cada unidade por R$ 5,40 e seu lucro será definido em função de x unidades
vendidas. Analisar as seguintes situações:

(a) Qual a função que modela esta situação apresentada?


(b) Quantas unidades devem ser vendidas para que o comerciante
comece a ter lucro?

Solução de P2:

A função que vai modelar esse problema é uma função polinomial do primeiro grau:
, sendo L o lucro e x a quantidade de mercadoria do lote vendida.

O comerciante começa a ter lucro quando a função dada é positiva. Fazendo-se


o gráfico da função (ver Figura 1.19) podemos observar que somente a partir da
centésima unidade do lote vendida é que o comerciante tem lucro.

49
Capítulo 1

Figura 1.19 - Representação gráfica da função lucro

Fonte: Flemming e Luz (2007, p. 112).

3.5 Atividades de autoavaliação


(1) Quantos anos têm Ana e Marta se a soma das idades mais a diferença entre
elas mais seu produto é igual a 100 anos, e Ana é mais velha do que Marta?
(GUELLI, 1993, p. 42).

(2) Obter as raízes da equação .

(3) Exemplifique um polinômio P(x) que tenha a raiz 2 com multiplicidade 3, raiz 1
com multiplicidade 4 e que satisfaça a relação .

(4) Aplique o dispositivo de Ruffini para resolver as seguintes equações:

(a) (b)

(5) Encontre um polinômio do quarto grau que tenha duas raízes complexas iguais
a 1+2i e 1-2i, uma raiz real igual a 1 com multiplicidade 2.

50
Números e Funções Complexas

(6) Resolva a equação sabendo que uma das raízes é .

(7) Resolva a equação sabendo que é uma


das raízes da equação e tem multiplicidade 3.

(8) Cortando-se quadrados de lado 4 cm nos cantos de uma folha quadrada de


papelão de 18 cm de lado e dobrando conforme a Figura 1.20, formamos uma
caixa sem tampa cujo volume é igual a 400 cm3. Existe algum outro valor do
lado do quadrado a ser recortado em cada canto para o qual o volume da caixa
resultante também seja igual a 400 cm3?

Figura 1.20 – Caixa sem tampa.

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