Você está na página 1de 28

Introdução ao Cálculo

UNIDADE 1

OBJETIVO
Ao final desta
unidade,
esperamos
que possa:

> Identificar o conjunto


dos números reais,
seus subconjuntos e
suas propriedades.

> Identificar e
representar as
funções de várias
formas (tabelas,
gráficos fórmulas e
descrição verbal).

16 SUMÁRIO
Introdução ao Cálculo

1 PROPRIEDADE DE
NÚMEROS REAIS E FUNÇÕES
Quando uma grandeza está associada à variação de outra, podemos descrever a ex-
pressão que as relacionam através de uma lei matemática, uma função. Grandeza é
tudo aquilo que conseguimos mensurar com algum instrumento de medida e, para
tanto, é analisado e comparado utilizando um conjunto numérico, o conjunto dos
números reais. Assim, ao trabalharmos com funções reais de variáveis reais, estamos
manipulando elementos pertencentes a esse conjunto.

O conceito de função é um dos mais fundamentais da matemática. Podemos inter-


pretá-lo simplesmente como uma correspondência entre conjuntos, ou seja, uma
associação biunívoca entre os elementos de um conjunto a elementos de outro. E, de
maneira mais abrangente, temos as funções como relações entre grandezas que pos-
suem dependência entre si. As funções são empregadas na descrição de fenômenos
naturais e sociais, e amplamente utilizadas em áreas como Economia, Engenharia,
Física, Biológicas, etc. Assim, vamos iniciar os estudos sobre as funções e suas diversas
representações.

1.1 PROPRIEDADES DE NÚMEROS REAIS E


FUNÇÕES

1.1.1 NÚMEROS REAIS

Para organizarmos os conhecimentos numéricos acumulados pela humanidade,


nós os agrupamos em conjuntos. De acordo com a utilidade dos números, são clas-
sificados em naturais, inteiros, racionais, irracionais, reais e complexos. Os números
reais se referem a possíveis resultados de medições, ou seja, a valores de grandezas.
No conjunto dos números reais, representado por R. estão contidos os demais con-
juntos numéricos – naturais, inteiros, racionais e irracionais.

SUMÁRIO 17
Introdução ao Cálculo

Utilizamos conjuntos com muita frequência em nosso dia a dia. Assim, te-
mos uma noção intuitiva de conjuntos. Toda vez em que se agrupa objetos,
coisas conforme uma propriedade ou característica estamos formando um
conjunto. Exemplo: ao organizar e decidir onde os objetos de uma casa fica-
rão, levamos em consideração a sua utilização, como: o papel higiênico fica
no banheiro, as panelas na cozinha, etc. Assim, podemos considerar cada
espaço da casa um conjunto e os objetos, seus elementos.

Sendo assim, temos:

O conjunto dos números naturais N, também chamado de conjunto da contagem, é


um conjunto infinito de números positivos, ou seja:

ℕ = {0, 1, 2, 3, 4, 5, ..., 20, 21, 23, ..., 100, 101, ..., 500, ...}

Ao realizar a operação de soma entre os elementos do conjunto dos números natu-


rais ℕ, obteremos outro elemento também pertencente ao conjunto dos números
naturais ℕ. Fato esse que não ocorre com a subtração, multiplicação e divisão.

Quando formos representar o conjunto dos naturais não nulos (excluindo o zero),
simbolizado por N*, representamos assim:

ℕ*= {1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, ...}, ou seja, ℕ*= ℕ- {0} , ℕ* ⊂ ℕ.

Qualquer que seja o elemento de N, há sempre um sucessor. Como todo elemento


de N tem um sucessor, dizemos que o conjunto N é infinito. Assim, indicamos a con-
tinuidade do conjunto com as reticências:

ℕ= {0, 1, 2, 3, 4, 5, ...}

18 SUMÁRIO
Introdução ao Cálculo

A necessidade do ser humano de contar coisas e objetos remonta ao começo dos


tempos. Assim, a ideia de um, dois, três ou mais apareceu naturalmente, materializa-
da nas transações de troca de itens e mercadorias.

O conjunto dos números inteiros Z é um conjunto infinito de números positivos e


negativos, ou seja:

ℕ = {..., - 10, -9, ..., -3, -2, -1, 0, 1, 2, 3, ..., 9, 10, ...}

Observe que esse conjunto é composto por todos os elementos de N e seus opostos
(ou simétricos).

Principais subconjuntos dos números inteiros ℤ:

ℤ*={..., -4, -3, -2, -1, 1, 2, 3, 4, ...}, ou seja, ℤ *= ℤ- {0}

ℤ+ = {0, 1, 2, 3, 4, 5, ...}, ou seja, ℤ+ = ℕ (o conjunto dos números inteiros positivos é igual


ao conjunto dos números naturais)

ℤ– = {..., -6, -5, -4, -3, -2, -1, 0} (o conjunto dos números inteiros negativos)

A necessidade de representar medidas e fazer comparações fez surgir o conjunto dos


números racionais ℚ.

O conjunto dos números racionais ℚ é o conjunto das frações p , com p e q inteiros


q
e q ≠ 0.

ℚ = {0, ± 1,±1/2,±1/3,…,±2,±2/3,±2/5,…,±3,±3/2,±3/4,…}

Subconjuntos dos números racionais ℚ:

ℚ* = ℚ – {0} conjunto dos números ℚ sem o zero.

Q+ = conjunto dos números ℚ positivos.

ℚ– = conjunto dos números ℚ negativos.

SUMÁRIO 19
Introdução ao Cálculo

Assim, temos que os números inteiros também são racionais: 2 é racional pois pode
ser escrito como 2 , e assim também acontece com os demais números inteiros.
1
Ao dividirmos uma fração, podemos nos deparar com números decimais, que po-
dem ser:

a. Números decimais exatos: b. Dízimas periódicas ou infinitas:


Forma fracionária

A parte de decimal é periódica


e infinita. O período é o valor
A parte decimal que se repete
do número é finita. initerruptamente, no caso, 6.

Os números decimais exatos e periódicos (dízi-


mas periódicas) possuem uma representação
fracionária, ou seja, podemos encontrar uma
fração que representa esse número. Da mesma
Numerador
forma, dada uma fração, podemos encontrar
sua representação decimal, efetuando a divi-
Denominador
são do numerador pelo denominador.

Assim como existem números decimais que podem ser escritos como frações – com
numerador e denominador inteiros, há os que não admitem tal representação. Tra-
ta-se dos números decimais não exatos. Esse conjunto de números é chamado de
conjuntos dos números irracionais e o representamos por 𝕀.

Um exemplo de número irracional é o número � que é obtido pela divisão do com-


primento da circunferência pelo seu diâmetro:

A parte de decimal é infinita,


mas não é periódica.

Assim também 3 = 1, 7320508... , 2 = 1, 414213... e outros números são irracionais.

20 SUMÁRIO
Introdução ao Cálculo

Ao reunirmos os conjuntos dos números irracionais com o dos racionais, formamos


o conjunto dos números Reais, representado por ℝ. Portanto, os números naturais,
inteiros, racionais e irracionais são números Reais.

1.1.1.1 REPRESENTAÇÃO DO CONJUNTO DOS


NÚMEROS REAIS ℝ NA RETA NUMÉRICA

Uma forma de representar graficamente os números Reais é utilizando a reta numé-


rica. Considerando que uma reta é um conjunto infinitos de pontos alinhados, pode-
mos relacionar de forma biunívoca cada número a um ponto da reta.

FIGURA 1 - REPRESENTAÇÃO NA RETA NUMÉRICA

-4.4 - 5 -1/2 0.8 2.5 23

-6 -5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6

2 2.1

2 2.01 2.02 2.03 2.04 2.05 2.06 2.07 2.08 2.09 2.1

Fonte: Elaborada pela autora.

Para saber mais sobre esse assunto, procure na internet vídeos sobre conjun-
tos Numéricos e a reta numérica.

SUMÁRIO 21
Introdução ao Cálculo

É interessante observarmos que entre dois pontos quaisquer da reta existem infini-
tos números, por exemplo, entre os números 2 e 3 existe uma infinidade de valores,
como 2,1; 2,01; 2,001, 2,00001 etc.

1.1.1.2 INTERVALOS REAIS

Ao nos referimos a quaisquer dois ou mais valores no conjunto dos números


Reais, não podemos deixar de trabalhar o infinito, conforme citado anteriormente.
Portanto, utilizamos subconjuntos denominados intervalos, ou seja, conjuntos com
todos os valores delimitados por dois números, os quais são determinados por meio
de desigualdades que delimitam trechos contínuos que os representam.

Intervalo aberto de extremos a e b.

]a,b[ = {x ϵ ℝ/ a< x < b} (Lê-se: x é um número pertencente ao conjunto dos números


reais e x também pertence ao intervalo entre a e b, em que x é um valor maior do que
a e menor do que b.)

Exemplo:

FIGURA 2 - REPRESENTAÇÃO DO INTERVALO ABERTO

5 8
Fonte: Elaborada pela autora.

As bolinhas vazias indicam que os extremos não pertencem ao intervalo, por isso
ele é chamado de aberto.

Intervalo fechado de extremos a e b.

[a,b] = {x ϵ ℝ/ a � x < b} (Lê-se: x é um número pertencente ao conjunto dos números


reais e x também pertence ao intervalo entre a e b, em que x é um valor maior ou
igual a a e menor ou igual a b.)

22 SUMÁRIO
Introdução ao Cálculo

Exemplo:

FIGURA 3 - REPRESENTAÇÃO DO INTERVALO FECHADO

5 8
Fonte: Elaborada pela autora.

As bolinhas cheias indicam que os extremos pertencem ao intervalo, por isso ele é
chamado de fechado.

Intervalo fechado à esquerda e aberto à direita, de extremos a e b.

[a,b[ = {x ϵ ℝ/ a � x < b} (Lê-se: x é um número pertencente ao conjunto dos números


reais e x também pertence ao intervalo entre a e b, em que x é um valor maior ou
igual a a e menor do que b.)

Exemplo:

FIGURA 4 - REPRESENTAÇÃO DO INTERVALO FECHADO À ESQUERDA E ABERTO À DIREITA

5 8
Fonte: Elaborada pela autora.

Intervalo aberto à esquerda e fechado à direita, de extremos a e b.

]a,b] = {x ϵ ℝ/ a < x ≤ b} (Lê-se: x é um número pertencente ao conjunto dos números


reais e x também pertence ao intervalo entre a e b, em que x é um valor maior do que
a e menor ou igual a b.)

Exemplo:

FIGURA 5 - REPRESENTAÇÃO DO INTERVALO ABERTO À ESQUERDA E FECHADO À DIREITA

5 9
Fonte: Elaborada pela autora.

SUMÁRIO 23
Introdução ao Cálculo

Intervalo de menos infinito até a, fechado em a.

]–∞ ,a] = {x ϵ ℝ/ x ≤ a} (Lê-se: x é um número pertencente ao conjunto dos números


reais e x também pertence ao intervalo entre - e a, em que x é um valor menor ou
igual a a.)

Exemplo:

FIGURA 6 - REPRESENTAÇÃO DO INTERVALO DE MENOS INFINITO ATÉ UM VALOR

9
Fonte: Elaborada pela autora.

Intervalo de a até mais infinito, aberto em a.

]a,+ [ = {x ϵ ℝ/ x ≥ a} (Lê-se: x é um número pertencente ao conjunto dos números reais


e x também pertence ao intervalo entre a e + , em que x é um valor maior do que a.)

Exemplo:

FIGURA 7 - REPRESENTAÇÃO DO INTERVALO ABERTO EM UM VALOR À


ESQUERDA ATÉ MAIS INFINITO

5
Intervalo que representa a reta real

Fonte: Elaborada pela autora.

Observação:

Há outras formas de representar os intervalos abertos utilizando parênteses:

[5, + ∞ [=[5, + ∞) ]–∞,9[=(–∞,9)

24 SUMÁRIO
Introdução ao Cálculo

Na tabela abaixo são apresentados alguns símbolos utilizados em Matemá-


tica e importantes para a compreensão do conteúdo abordado. Sejam x e y
números.

QUADRO 1 - ALGUNS SÍMBOLOS MATEMÁTICOS

SÍMBOLO SIGNIFICADO
Chaves: indica a delimitação dos elementos de um conjunto. Ex.: {a,b,c} re-
{,}
presenta o conjunto composto pelos elementos a, b e c.

Conjunto vazio: significa que o conjunto não tem elementos, é um conjunto


{ } ou φ
vazio.

∀ "para todo" ou "para qualquer que seja". Ex.: ∀ x > 0, x é positivo. Significa que
para qualquer x maior que 0, x é positivo.

“tal que”. Ex.: considere o conjunto A = {x ϵ ℝ/ x ≥ 5. Significa que esse con-


/ junto A contém números reais, tais que (satisfaçam a condição) de serem
maiores ou iguais a 5.
ϵ “pertence” Ex.: 6 ϵ ℤ indica que o 6 pertence aos números inteiros.

∉ Não pertence. Ex.: –1 ∉ N. Significa que o número -1 não pertence aos nú-
meros naturais.
Lê-se: "igual a". Ex.: x = y, significa que x e y possuem o mesmo valor.
=
Por exemplo: 3 + 5 = 7 + 1

� Lê-se: “diferente de” Ex.: x � y, significa que x e y possuem valores diferentes.


Por exemplo: 3 + 4 � 7 + 3
Fonte: Elaborada pela autora.

Operações com intervalos

Ao representar um intervalo, também estamos definindo um conjunto. Assim sendo,


podemos realizar operações de união (∪), intersecção (∩) e diferença. Preferencial-
mente, elas são realizadas tendo como suporte as representações geométricas des-
ses intervalos.

União de intervalos ∪: é o intervalo formado por todos os elementos que pertençam


a um ou a outro intervalo.

SUMÁRIO 25
Introdução ao Cálculo

Exemplo:

Sejam os intervalos A = [-2, 3]; B = [2, 5[.

Cada intervalo será representado graficamente e depois a operação de união entre


eles:

FIGURA 8 - UNIÃO DE INTERVALOS REAIS

-2 3
B

2 5

A ∪B
-2 5

Fonte: Elaborada pela autora.

Intersecção de intervalos: é o intervalo formado por todos os elementos que perten-


çam a um ou a outro intervalo.

Exemplo:

Sejam os intervalos A={x ϵ ℝ/ -2 ≤ x ≤ 3}; B = [2, 5[.

Cada intervalo será representado graficamente e depois a operação de intersecção


entre eles:

FIGURA 9 - REPRESENTAÇÃO DE INTERSECÇÃO ENTRE OS INTERVALOS A E B

A
-2 3
B
5
2
A∩B
2 3

Fonte: Elaborada pela autora.

26 SUMÁRIO
Introdução ao Cálculo

Diferença de intervalos: é o intervalo formado por todos os elementos que perten-


çam ao primeiro intervalo excluindo os elementos pertencentes ao segundo intervalo.

Dados os intervalos: A = [-2, 7] e B ={x ∈ ℝ/1 ≤ x ≤ 8}

A–B

FIGURA 10 - REPRESENTAÇÃO DA DIFERENÇA ENTRE OS INTERVALOS A E B

A
-2 7

B 1 8

A-B
-2 1
Fonte: Elaborada pela autora.

A - B= {x ∈ ℝ/ -2 ≤ x < 1} = [-2,1[

Para se aprofundar nesse assunto, pesquise na internet sobre operações com


intervalos reais.

Propriedades operatórias dos números reais

Sejam os números pertencentes ao conjunto dos números reais a, b, c e d, são válidas


as seguintes propriedades operatórias:

1ª: Comutativa

a.b = b.a

a+b=b+a

SUMÁRIO 27
Introdução ao Cálculo

Exemplo:

2.3 = 3.2

2+3=3+2

2ª: Associativa

a.(b.c) = (a.b).c

a+(b+c) = (a+b)+c

Exemplo:

2.(3.5) = (2.3).5

2+(3+5) = (2+3)+5

3ª: Elemento neutro

Existe um elemento neutro para a operação de soma (zero) e para a multiplicação,


(um) e ele é único.

a+0=a

a.1 = a

4ª: Elemento inverso

Existe um elemento inverso para a soma (oposto do número) e para a multiplicação,


e ele é único.

a + (–a) = 0

a.1/a = 1

28 SUMÁRIO
Introdução ao Cálculo

Exemplo:

2+(-2)=0

3/4. 4/3=1

5ª: Distributiva

a.(b+c)=a.b+a.c

Exemplo:

2.(x+3)=2.x+2.3 =2x+6

3x.(x-1)=3x²-3x

A propriedade distributiva é utilizada no sentido inverso na fatoração de


expressões.

1.2 FUNÇÕES

1.2.1 CONCEITO DE FUNÇÕES

O conceito de função sempre está presente quando relacionamos duas grandezas


variáveis. Veja o exemplo:

Uma diarista cobra por dia de trabalho R$ 120,00, e ela prefere receber o pagamento
no final do mês. Sendo assim, quanto ela receberá? Esse valor dependerá do quê?

SUMÁRIO 29
Introdução ao Cálculo

Perceba que há duas grandezas envolvidas nesse problema, uma é o valor que a dia-
rista receberá e a outra o tempo, ou seja, os dias trabalhados. Para o cálculo do valor
do pagamento, é necessário saber quantos dias a diarista trabalhou. Neste caso, di-
zemos que o valor pago depende dos dias trabalhados, que assim será denominado
variável dependente e os dias trabalhados, variável independente.

Vamos, então, construir uma tabela explicitando como calcular os valores do paga-
mento para que possamos observar a relação existente entre as duas grandezas e
verificar a lei que as relaciona:

QUADRO 2 - VALORES A SEREM PAGOS POR DIA

QUANTIDADE DE DIAS TRABALHADOS (D) VALOR A SER PAGO (P)

0 P = 120.0 = 0

1 P = 120.1 = 120

2 P = 120.2 = 240

3 P = 120.3 = 360

4 P = 120.4 = 480

5 P = 120.5 = 600

6 P =120.6 = 720

. .

. .

. .

d P = 120.d

Fonte: Elaborada pela autora.

Observe que podemos encontrar o valor do pagamento pela expressão P = 120.d,


logo, essa é uma relação descrita por uma lei matemática.

Você consegue descrever alguma relação entre grandezas em seu dia a dia?

Perceba que frequentemente estabelecemos relações entre grandezas. A física e a


química, assim como as demais ciências, descrevem relações entre grandezas que
são seus objetos de estudos, e essas aparecem descritas pelas fórmulas que utilizam.

30 SUMÁRIO
Introdução ao Cálculo

Para que uma relação seja considerada uma função ela tem que atender a um critério:

Uma função f:A → B é uma lei ou regra que associa a cada elemento de A
um único elemento de B.

Escrevemos f: A → B uma função.

x → f(x)

Vamos considerar 10 dias do exemplo do cálculo do pagamento da diarista, sendo


os Dias trabalhados (conjunto D) e Valor do pagamento (conjunto P). Assim, temos a
seguinte representação desses dois conjuntos e a relação entre eles:

FIGURA 11 - DIAGRAMA DOS CONJUNTOS E A RELAÇÃO EXISTENTE ENTRE ELES

f: D → P

0
0
1
120
Verifique que todos valores do conjunto
2
240
3
D encontram um único resultado, ou seja,
360
4
um único valor no conjunto P. Portanto, P
480
5
está em uma função de D, assim, essa rela-
600
6 ção representa uma função.
720
.
Logo, a função f: D → P (função de D em P)
.
120d
é dada pela lei P = 120.d.
.

d
P
D

Fonte: Elaborada pela autora.

De modo geral, denominamos o conjunto D (variável independente – varia sem de-


pender de nenhuma outra variável) de Domínio D(f) e x seus elementos, o conjunto
P de contradominio CD(f) e o subconjunto formado pelos elementos de P que estão
associados aos elementos de D de imagem (variável dependente – valores de y de-
pende da variação da variável x ).

SUMÁRIO 31
Introdução ao Cálculo

Vejamos outro exemplo:

Sejam os conjuntos A = {1, 2, 3, 4} e B = {2, 3, 4, 5}.

Vamos associar a cada elemento x ∈ A o elemento y ∈ B.

Seja g: A → B, podemos ter uma função de A em B representada pelo diagrama a


seguir.

FIGURA 12 - DIAGRAMA DA RELAÇÃO DO CONJUNTO A EM B

g: A ⟶ B
B
A

1 2

2 3
Valores de y
(Imagem – variável
3 4
dependente).
4 5

6
Valores de x
(Domínio –
variável Contradomínio,
independente). formado por
todos os
elementos de B.
Fonte: Elaborada pela autora.

Nesse caso, observe que a lei de correspondência que associa cada número real x ao
número real y é x → x + 1.

Observe que essa relação representa uma função, pois todos os elementos de A (do-
mínio) encontram um valor no contradomínio. Mesmo que o elemento 6 pertencen-
te ao conjunto B, contradomínio, não corresponda a nenhum valor, temos a função g
que associa os valores de A em B.

32 SUMÁRIO
Introdução ao Cálculo

Assim, temos as seguintes observações:

• Todos os elementos pertencentes ao domínio da função possuem, obrigato-


riamente, uma, e somente uma, imagem no contradomínio da função.

• Não podemos ter um elemento do domínio sem uma imagem corresponden-


te ou um elemento do domínio com mais de uma imagem.

• Em contrapartida, podemos ter elementos do contradomínio que não são


imagens de nenhum elemento do domínio.

• O conjunto imagem está contido no conjunto do contradomínio da função f,


podendo o conjunto imagem ser igual ao conjunto contradomínio, ou o con-
junto imagem ser um subconjunto (uma parte) do contradomínio.

Determinar f(–1) + f(2) da função definida por f(x) = x + 2.

f(x) tem o mesmo significado do y. No caso, f(-1) significa que se deseja saber
o valor de y (imagem) quando x=2 (domínio). Assim sendo, para calcular os
valores das imagens substitui o valor do domínio na expressão que descreve
a função. Logo,

f(x) = x+2 f(x) = x+2

f(–1) = –1+2 f(2) = 2+2

f(–1) = 1 f(2) = 4

Portanto, f(-1) +f(2) = 1+4 = 5

SUMÁRIO 33
Introdução ao Cálculo

1.2.2 DETERMINAÇÃO DO DOMÍNIO

Muitas vezes se faz referência a uma função f dizendo apenas qual é a lei de cor-
respondência que a define. Quando não é dado explicitamente o domínio D de f,
deve-se subentender que D é formado por todos os números reais que podem ser
colocados no lugar de x na lei de correspondência y = f(x), de modo que, efetuados os
cálculos, resulte em um y real.

O domínio da função definida pela lei y = 5x – 2 é ℝ, pois, qualquer que seja


o valor real atribuído a x, o número 5x – 2 também é real.

x +2
O domínio da função dada por y = é ℝ*, pois, para todo x real diferente
x +2 x
de 0, o número é real.
x
O domínio da função dada por y = x + 1 é D = {x ∈ | x ≥ −1}, pois x + 1
só é real se x + 1 ≥ 0.

x +2
A função dada por y = + x + 1 só é definida para x ≠ 0 e x ≥ –1, então
x
seu domínio é D = {x ∈ ℝ|x ≥ –1 e x ≠ 0}.

1.2.3 NOÇÕES BÁSICAS DE PLANO CARTESIANO

O plano cartesiano é composto por dois eixos: um eixo horizontal, pode ser chamado
de eixo Ox, ou também de eixo das abscissas, e um eixo vertical pode ser chamado
de eixo Oy e também de eixo das ordenadas. O ponto O (interseção de Ox com Oy) é
chamado de origem. O plano que contém Ox e Oy é o plano cartesiano. Esse plano
é bidimensional (duas dimensões), e o utilizamos para representar um par ordenado
(x, y) ou ponto qualquer (x, y).

34 SUMÁRIO
Introdução ao Cálculo

Cada eixo representa o conjunto dos números reais, e o conjunto infinito de pares
ordenados existentes formam um plano. Os eixos Ox e Oy dividem esse plano em
quatro partes, denominadas quadrantes. A numeração dos quadrantes é feita no sen-
tido anti-horário.

FIGURA 13 - PLANO CARTESIANO E OS SINAIS DE UM PONTO P(X,Y) NOS QUADRANTES

Y (eixo das ordenadas)

2º Quadrante 1º Quadrante

(-, +) (+, +)

Sendo an-horário

O (origem) x (eixo das abscissas)


(-, -) (+, -)

3º Quadrante 4º Quadrante

Fonte: Elaborado pela autora.

Para representarmos geometricamente um par ordenado (x, y) no plano cartesiano,


podemos proceder da seguinte maneira:

1) desenhamos dois eixos perpendiculares e usamos a interseção O como origem


para cada um deles;

2) marcamos no eixo horizontal o ponto A, que representa o valor de x;

3) marcamos no eixo vertical o ponto B, que representa o valor de y;

4) traçamos uma reta s paralela ao eixo horizontal passando por B e outra reta r pa-
ralela ao eixo vertical;

5) destacamos a interseção das retas r e s, chamando-a de P, que é o ponto que re-


presenta graficamente o par ordenado (x, y). O par (x, y) é chamado de coordenadas
de P.

SUMÁRIO 35
Introdução ao Cálculo

Sendo um ponto de coordenadas (x,y), veja:

• A(3,5) é o par ordenado em que o primeiro elemento é 3, valor de x, e o segun-


do é 5, valor de y.

• B(5,3) é o par ordenado em que o primeiro elemento é 5, valor de x, e o segun-


do é 3, valor de y.

• C(-2,0) é o par ordenado em que o primeiro elemento é -2, valor de x, e o se-


gundo é 0, valor de y.

• D(0,-2) é o par ordenado em que o primeiro elemento é 0, valor de x, e o se-


gundo é -2, valor de y.

• E(0,0) é o par ordenado em que o primeiro elemento é 0, valor de x, e o segun-


do é 0, valor de y.

FIGURA 14 - REPRESENTAÇÃO DE PONTOS (X, Y) NO PLANO CARTESIANO

y A
5

4
B
3

1
C E x
-3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6 7
-1
D
-2

Fonte: Elaborado pela autora.

Note que os pares A e B, C e D diferem entre si pela ordem de seus elementos, e o


ponto E se encontra na origem dos eixos.

36 SUMÁRIO
Introdução ao Cálculo

1.2.4 CONSTRUÇÃO DE GRÁFICOS

Seja f uma função. O gráfico de f é o conjunto de todos os pontos (x, f(x)) de um plano
coordenado, em que x pertence ao domínio de f.

Para determinar o gráfico de uma função, assinalamos uma série de pontos, fazendo
uma tabela que nos dá as coordenadas, calculadas por meio da lei y = f(x). Represen-
tamos cada par ordenado (x,y) da tabela por um ponto no plano cartesiano. O con-
junto dos pontos obtidos constitui o gráfico da função.

Exemplo 1: Vejamos como construir o gráfico da função y = 3x. Salientamos alguns


pontos, de acordo com a tabela.

Lembramos que podemos escolher números reais para atribuirmos para x (variável
independente); e, a partir desses valores escolhidos, substituímos na função dada
y = 3x, gerando os valores de y. A união desse valor para x e seu correspondente para y
será as coordenadas do ponto (x,y) que iremos marcar no gráfico. Para isso, devemos
atribuir alguns valores para x, gerando os pontos calculados, e ligar esses pontos, vi-
sualizando o gráfico da função dada.

QUADRO 3 - CÁLCULO DE ALGUNS PONTOS PERTENCENTES À FUNÇÃO F(X) = 3X

x y = 3x (x,y)

-3 f(-3)=3. (-3) = - 9 A (- 3, - 9)

-2 f(-2)=3.(- 2) = - 6 B (- 2, - 6)

-1 f(-1)=3.( - 1) = - 3 C ( - 1, - 3)

0 f(0)=3.(0) = 0 D (0, 0)

1 f(1)=3.(1) = 3 E (1, 3)

2 f(2)=3.(2 )= 6 N (2, 6)

3 f(3)=3.(3) = 9 O (3, 9)

Fonte: Elaborada pela autora.

SUMÁRIO 37
Introdução ao Cálculo

Normalmente, para facilitar nossas contas, escolhemos números menores positivos,


negativos e o número 0. Ou seja, vamos atribuir a x os valores de - 3, - 2, - 1, 0, 1, 2, 3.
Como é a função y ou f(x) que depende de x, atribuímos os valores para x e depois
substituímos na função y = 3x (f(x) = 3x), como mostra a tabela anterior.

Depois de encontrarmos as coordenadas de cada ponto, vamos representar (ou mar-


car) esses pontos no plano cartesiano a seguir. Após a representação de cada um dos
pontos, vamos ligá-los, visualizando a reta que esboça o gráfico da função y = 3x.

FIGURA 15 - REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA FUNÇÃO Y = 3X

y O y
O
8 8

N N
6 6

4 4
E E
2 2

D x D x
4 -2 0 2 4 4 -2 0 2 4

-2 -2
C C
-4 -4

B B
-6 -6

-8 -8
A A

Fonte: Elaborado pela autora

Legenda:
a) Localização das coordenadas dos pontos no plano cartesiano.
b) Formação da reta que representa o gráfico da função y = 3x.

Ao ligarmos todos os pontos, temos a representação do gráfico, no caso uma reta.

Exemplo 2: Seja f: ℝ → ℝ definida por


x+3 se x ≤ − 1 
 
f(x)= x2 , se − 1 < x ≤ 2
5, se x > 2 
 

38 SUMÁRIO
Introdução ao Cálculo

A função anterior é chamada de função definida por várias sentenças. Os números reais
x do domínio dessa função foram subdivididos em três partes, cada uma delas referen-
te a uma função específica (ou a uma sentença dada). Ou seja, ao escolher valores de x
menores que – 1 (escreve-se x ≤ – 1), esses valores irão corresponder à função f(x) = x + 3.

Ao escolher valores de x entre os números – 1 e 2 (escreve-se -1 < x ≤ 2), esses valores


irão corresponder à função f(x) = x².

Ao escolher valores de x maiores que 2 (escreve-se x >2 ), esses valores irão correspon-
der à função f(x) = 5.

É importante lembrar que o sinal ≤ (lê-se menor ou igual) indica que o número – 1
pertence à sentença f(x) = x+3. Graficamente, representamos isso colocando “uma bo-
linha fechada” no ponto (-1, 2), indicando que esse ponto pertence à reta da função
f(x) = x+3. Assim, no ponto (-1, 1) temos uma “bolinha aberta” indicando que o valor de
x = –1 não estará representando na reta de função f(x) = x².

Do mesmo modo, o ponto x = 2 estará representado na função f(x) = 5, pois temos o


sinal ≤ (lê-se menor ou igual) para o valor x = 2 nessa função. Então, temos a “bolinha
fechada” no ponto (2, 4) associado à função f(x) = x². Em contrapartida, esse valor x = 2
tem a “bolinha aberta” para a função f(x) = 5, ou seja, no ponto (2,5), pois como pode
ser observado na terceira sentença, temos x > 2 (lê-se x maior que 2).

A seguir temos o esboço do gráfico dessa função definida por várias sentenças

FIGURA 16 - REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA FUNÇÃO F(X)

6 y

x
-4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6

-1

-2

Fonte: Elaborado pela autora.

SUMÁRIO 39
Introdução ao Cálculo

A partir da representação gráfica em um sistema cartesiano é possível identificar se


uma relação é ou não uma função utilizando o teste da reta vertical.

Temos que, para uma relação representar uma função, todos os elementos x (do-
mínio) devem corresponder univocamente a um elemento y (contradomínio).
Assim, podemos identificar se um gráfico representa ou não uma função, traçando
retas paralelas ao eixo y. Para ser função, cada reta deve interceptar o gráfico em
um único ponto.

FIGURA 17 - IDENTIFICAÇÃO DE UMA FUNÇÃO PELO TESTE DA RETA VERTICAL

a) b)

y
f(x2)
y

y2

x
x1
x1 x2

y1
x
f(x1)

Fonte: Elaborada pela autora.

Legenda:

a. O ponto de abscissa x1 tem duas imagens diferentes y1 e y2, portanto, o gráfico


não representa uma função.

b. Para o ponto de abscissas x1 existe apenas uma única imagem f(x1), e, para todo
ponto pertencente ao gráfico, haverá uma única imagem. Assim, o gráfico repre-
senta uma função.

Também é possível identificar na representação gráfica da função o conjunto domí-


nio e imagem. Para isso, é necessário projetar o sobre o eixo das abscissas, obtendo o
domínio, e sobre o eixo das ordenadas, obtendo a imagem.

40 SUMÁRIO
Introdução ao Cálculo

Observando um gráfico obtemos o domínio D(f) de uma função na projeção do grá-


fico sobre o eixo das abscissas (eixo x) e a imagem Im(f) na projeção sobre o eixo das
ordenadas (eixo y).

Dado o gráfico de f(x) representado a seguir, identifique o conjunto domínio D(f) e a


imagem Im(f)

FIGURA 18 - IDENTIFICAÇÃO DO DOMÍNIO E IMAGEM DA FUNÇÃO

y
5

3
Imagem No gráfico temos:
2
D(f)={x ∈ ℝ/ 1< x ≤ 5} =]1,5]
1
Im(f)= {y ∈ ℝ/ -3 < y ≤ 5} =]-3,5]
x
0 1 2 3 4 5 6 Observe que o ponto (1,-3) não pertence ao
-1 gráfico, fato indicado pela “bolinha aberta”.
Domínio

Fonte: Elaborado pela autora.

Os conceitos vistos nesta unidade alicerçam os demais que iremos estudar nas próxi-
mas unidades. Assim, a compreensão da linguagem matemática e suas simbologias
torna-se essencial para o entendimento das funções.

SUMÁRIO 41
Introdução ao Cálculo

Para aprofundar esses e demais assuntos necessários para o entendimento


das funções e suas relações, pesquise na internet sobre a série de vídeos
da Universidade de São Paulo (USP). Esses vídeos revisões de conceitos so-
bre matemática elementar e podem ser encontrados com a denominação
– “Fundamentações Matemáticas T1 - Aula 01” e “Fundamentações Matemá-
ticas T1 - Aula 02 – parte 1/4 “

CONCLUSÃO
Hoje, em qualquer área de atuação, há várias fontes que fornecem dados que po-
dem ser trabalhados e transformados em informações. Essas informações servem de
suporte para planejamento estratégico, otimização de processos, gerenciamento de
pessoas, melhoria na qualidade de produtos e serviços, etc. Quando essas informa-
ções envolvem grandezas que apresentam uma relação de dependência entre si em
uma correspondência biunívoca entre si, são chamadas de funções. Dessa forma, po-
dem ser representadas graficamente por uma expressão matemática em tabelas ou
verbalmente. Frequentemente nos deparamos com situações em que duas grande-
zas apresentam uma relação de dependência entre si, por exemplo: o valor pago em
uma compra depende da quantidade de itens comprados e o valor unitário de cada
um; o valor pago de imposto de renda depende da renda recebida durante o ano; o
tempo gasto para percorrer uma determinada distância depende da velocidade.

Assim, nesta primeira unidade, foi apresentado o conceito de função e seus elemen-
tos (domínio, contradomínio e imagem), o plano cartesiano e a construção de gráfico
de funções, utilizando, para isso, alguns valores pertencentes ao domínio da função e
as propriedades do conjunto dos números reais. Nosso objetivo foi expor o conceito
de função e sua relação com modelos matemáticos. Em nossos estudos, os conjuntos

42 SUMÁRIO
Introdução ao Cálculo

envolvidos sempre serão subconjuntos de ℝ. As funções neles definidas são chama-


das funções reais de variável real. O conjunto dos números reais ℝ é formado pelos
números racionais (ℚ) e irracionais (𝕀), ou seja, números que podem ser representados
na forma fracionária – com numerador e denominador inteiros – e outros que são de-
cimais não exatos, que possuem representação infinita não periódica.

Por fim, o conceito de função é um dos mais fundamentais da matemática que des-
crevem fenômenos presentes na ciência naturais e sociais. Seu estudo e aprofunda-
mento tornam-se importantes nas diversas áreas do conhecimento.

SUMÁRIO 43

Você também pode gostar