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Introdução
Você já notou que, após a decolagem, é bastante fácil prever o tempo de duração de uma viagem de avião, ao
saber dados como a velocidade? Ou, ainda, que é possível prever o tempo e a distância percorrida por um veículo
acelerando? Ou o tempo necessário para encher uma piscina com água? Neste capítulo, vamos explorar conceitos
e propriedades de funções do primeiro e segundo graus, que são muito utilizadas para modelar diversos
fenômenos como os descritos. Além disso, ao aprender a manipular estas funções e suas representações gráficas,
você estará melhorando sua capacidade de raciocínio e conseguirá identificar e interpretar com mais facilidade
situações e problemas que envolvem funções.
Aqui, também iremos conhecer as características fundamentais da cinemática, que envolve o estudo do
movimento. Os conceitos e expressões da cinemática são utilizados em diversos contextos da física, desde o
cálculo de movimentos retilíneos em uma dimensão até o cálculo de movimentos em duas e três dimensões.
Também vamos estudar funções do primeiro grau, que modelam fenômenos lineares, ou seja, para intervalos de
alterações iguais na variável independente, os intervalos de variação na variável dependente são iguais. Já
quanto as funções do segundo grau, estas modelam fenômenos que variam de forma quadrática. Diferentemente
das funções do primeiro grau, para cada intervalo de variação na variável independente haverá uma variação
que é proporcional ao seu quadrado na variável dependente. Na verdade, funções do primeiro grau ou do
segundo grau podem modelar uma infinidade de fenômenos, o que dirá se é uma, outra ou nenhuma das duas,
será o comportamento apresentado pelo fenômeno.
Vamos, então, conhecer as características das funções de primeiro e segundo graus, bem como suas aplicações na
cinemática. Vamos em frente!
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Quadro 1 - Propriedades para resolver equações de primeiro grau.
Fonte: Elaborado pelo autor, baseado em DEMANA et al., 2013.
Verificamos, com isso, a veracidade da igualdade para o valor da incógnita que encontramos anteriormente.
Note, também, que existe apenas um número que satisfaz tal igualdade, ou seja, a equação possui apenas uma
solução: . Ter apenas uma solução ou raiz é uma característica das equações lineares.
As equações de primeiro grau podem envolver uma ou mais incógnitas, de modo a relacionar dois termos
desconhecidos em uma mesma equação. Assim, teremos, por exemplo, . Neste caso, para
encontrarmos os valores das duas incógnitas precisamos de uma segunda equação que nos forneça o valor de e
ou outra relação entre elas, como . Sem a segunda equação, a primeira possui infinitas soluções, ou
seja, são infinitas as combinações para os valores de e que satisfaçam a equação .
Com as duas equações, temos o seguinte sistema:
A resolução desse sistema consiste em encontrarmos o par de coordenadas ( ) que torne verdadeiras as duas
equações. Podemos resolver utilizando o método da substituição, no qual isolamos o valor de uma variável em
uma das equações e substituímos na outra. Veja na interação a seguir.
Vamos, então, isolar o valor de na equação (2): . Para tal, vamos subtrair nos dois lados da igualdade:
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Em seguida, vamos dividir os lados da equação por :
Uma forma interessante de resolver equações é por meio de gráficos, já que as soluções de uma equação com
duas incógnitas representam pares ordenados de um sistema cartesiano de coordenadas. Podemos resolver, por
exemplo, a equação com o gráfico de , fazendo , a fim de encontrar a raiz da equação, ou
seja, o ponto em que a reta intercepta o eixo . Note que facilmente podemos encontrar a solução de :
O par ordenado (3, 0) é, portanto, a solução da raiz para . No gráfico, o ponto representa o ponto em que
a reta intercepta o eixo das abscissas.
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Figura 1 - Gráfico da função .
Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.
Note na figura que a reta atravessa o eixo exatamente no ponto (3, 0), que é o par ordenado da solução de
. Assim, para resolvermos as equações é necessário encontrar o valor de por onde a reta intercepta o
eixo horizontal. Este valor, ou seja, a solução da equação, é chamado de raiz da equação.
Agora que já conhecemos algumas características das equações de primeiro grau, vamos aprofundar nossos
conhecimentos sobre elas enquanto funções.
A seguir, temos as representações de duas retas, uma crescente ( ) e outra decrescente ( ) (DEMANA et
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A seguir, temos as representações de duas retas, uma crescente ( ) e outra decrescente ( ) (DEMANA et
al., 2013).
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Figura 3 - Pontos escolhidos para construção da equação da reta.
Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.
Note que, aqui, temos um sistema em que precisamos descobrir o valor de . Para isto, vamos reescrever as
equações da seguinte forma, para que possamos igualá-las:
Agora, podemos utilizar a relação para encontrarmos o coeficiente angular da expressão linear que relaciona as
temperaturas em Celsius e Farenheit. Lembrando que temos os seguintes pontos: e
. Ao aplicarmos eles na expressão do coeficiente angular, em que e , temos que:
Sabemos que a relação entre Celsius e Farenheit obedece a expressão , ou, melhor, . Sendo
, temos que .
Agora, podemos aplicar qualquer um dos pontos para encontrarmos o valor de . Vamos utilizar arbitrariamente
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Agora, podemos aplicar qualquer um dos pontos para encontrarmos o valor de . Vamos utilizar arbitrariamente
o ponto :
Finalmente encontramos a expressão completa, que relaciona qualquer temperatura em Celsius e Farenheit:
.
Agora que já dominamos os conceitos relacionados às equações e funções de primeiro grau, vamos compreender
as propriedades das funções de segundo grau, com o objetivo de identificá-las e resolvê-las em problemas e
situações, de forma algébrica ou por meio de representação gráfica. Acompanhe!
Agora, para encontrarmos o valor de , vamos aplicar a raiz quadrada dos dois lados da equação:
Assim, encontramos as raízes e 5 para que a equação seja verdadeira. Desta forma, temos a
solução .
Agora, consideremos a equação , em que o coeficiente . Para resolvermos, vamos isolar a variável
com a fatoração, já que ela se repete em todos os termos:
Para que o produto de e seja igual a zero, é necessário que um dos dois fatores seja igual a zero, isto é,
ou .
Para encontrarmos as raízes da equação quando ela está completa, precisamos de um método que envolve a
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Para encontrarmos as raízes da equação quando ela está completa, precisamos de um método que envolve a
fórmula de Bháskara, , em que . Para encontrarmos a solução da equação quadrática,
inicialmente identificamos os coeficientes , e para aplicarmos na fórmula.
A partir do valor de , já é possível conhecer algumas características da solução.
Note que , o que significa que encontraremos duas raízes reais e distintas.
Em seguida, devemos aplicar o valor de na fórmula de Bháskara:
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O coeficiente também determina a abertura da concavidade da parábola, sendo que, quanto maior seu valor,
mas aberta ela se torna.
O coeficiente , por sua vez, nos diz o comportamento da curva ao interceptar o eixo . Se , o gráfico é
crescente quando encontra o eixo das ordenadas, mas se , a curva é decrescente nesse ponto. Se , a curva
intercepta o eixo em seu vértice, ou seja, em seu ponto de mínimo ou máximo, em que ocorre a transição da
simetria da parábola.
Por fim, o coeficiente representa o valor de , em que , ou seja, o ponto ( ) em que a curva intercepta o
eixo .
Veja, por exemplo, o gráfico da função :
Para criarmos o gráfico de uma função quadrática, precisamos encontrar as raízes da função. Elas expressam os
valores que a parábola intercepta o eixo , nos casos em que as raízes possuem valores reais.
Vejamos como exemplo o comportamento da função . Para encontrarmos suas raízes,
precisamos aplicar os coeficientes , e na fórmula de Bháskara. No entanto, note que já calculamos todos os
procedimentos anteriormente e sabemos que as raízes da função são e 3. Assim, já temos em mãos algumas
características importantes para criar o gráfico:
, portanto, a concavidade da parábola é voltada para cima.
, portanto, a curva é decrescente ao interceptar o eixo .
, portanto, a parábola intercepta o eixo no ponto ( ) do plano cartesiano.
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A parábola intercepta o eixo nos pontos ( )e( ).
Sendo assim, agora, precisamos encontrar o ponto em que a curva tem seu valor de máximo ou de mínimo. Para
a função com coeficiente , sabemos que o gráfico é expresso por uma parábola com concavidade voltada
para cima, portanto, terá um ponto de mínimo. Já a função com coeficiente terá um ponto de máximo, pois
possui sua concavidade voltada para baixo. O ponto do vértice de uma parábola, , pode ser calculado
utilizando os coeficientes , e : .
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Figura 5 - Gráfico.
Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.
As funções quadráticas estão comumente presentes em modelos que expressam o comportamento de algum
fenômeno. É o que ocorre, por exemplo, com a relação da posição em função do tempo para um objeto acelerado,
ou seja, em movimento uniformemente variado.
Se partirmos da ideia de que a aceleração média de um corpo é relacionada com a variação da velocidade em um
determinado tempo por , e que seu deslocamento, neste caso, é dado por , temos que:
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Essa equação de movimento uniformemente variado também pode ser expressa por:
Podemos perceber que tal equação se comporta como uma função de segundo grau, em que a posição é
dependente da variável : , sendo , e os coeficientes constantes. Essa relação pode ser
utilizada, por exemplo, para investigar a posição de um objeto em diversos momentos ou o tempo que um objeto,
ao ser arremessado verticalmente para cima, leva para chegar ao seu ponto máximo (TIPLER; MOSCA, 2006).
Vamos considerar que alguém lança um objeto para o alto de modo que ele alcance uma determinada altura ,
que varia em função do tempo. O objeto parte da mão da pessoa, a uma altura que consideramos o ponto de
partida, portanto, . O objeto sai com velocidade de e que a aceleração é a gravidade,
. Note que a velocidade e a aceleração possuem sinais contrários, pois, enquanto a pedra é
arremessada com velocidade para cima, a gravidade é uma aceleração que age contrária ao movimento, por isso,
seu é sinal negativo.
Assim, temos a variação da posição do objeto em função do tempo para as condições dadas:
Note que chegamos a uma equação de segundo grau , com seus coeficientes bem definidos:
, e .
Agora, para verificarmos como a função se comporta graficamente, precisamos encontrar as raízes da função.
Faremos isto com a fórmula de Bháskara .
Inicialmente, calcularemos o valor de :
Veja que encontramos , o que já nos informa que encontraremos para a função duas
raízes reais distintas. Assim, temos que:
Sabemos, portanto, que a curva intercepta o eixo das abscissas ( ), nos pontos em que e . Como
, sabemos que a concavidade da parábola é voltada para baixo, ou seja, possui um ponto de máximo, e
que , o que significa que a curva passa pelo eixo das ordenadas ( ) em . O vértice da parábola, por sua
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Figura 6 - Gráfico.
Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.
Note no gráfico que as raízes da função são exatamente os pontos em que e , ou seja, nos momentos
em que o objeto se encontra em sua origem (mão do lançador).
Com o gráfico, também podemos identificar que o tempo total de movimento do objeto é de quatro segundos.
Desta forma, verificamos que o objeto leva um tempo de para alcançar uma altura máxima de 20 metros
quando lançada para o alto, a uma velocidade de , que é justamente o ponto .
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Veja que, no gráfico da função , com os coeficientes , e , temos a
função da variação da distância percorrida pelo objeto nessas condições: . Assim, conseguimos
verificar a posição do objeto em qualquer tempo, como, por exemplo, depois de um segundo que objeto já subiu:
Isto significa que, após um segundo, o objeto já alcançou uma altura de 15 metros.
Assim, a partir de uma função e dos coeficientes constantes, conseguimos analisar todo o deslocamento do
corpo. Após dois segundos do lançamento, o objeto alcança a altura máxima e inicia o retorno à mão do lançador,
para, por fim, levar mais dois segundos para retornar ao ponto de partida, completando os quatro segundos em
movimento.
Agora que já conhecemos as características das funções de primeiro e segundo graus, vamos estudar alguns
fenômenos da física em que elas podem ser aplicadas.
2.3 Cinemática
A cinemática, enquanto área de estudo da física, envolve fenômenos associados ao movimento. A área busca
descrever diferentes situações para o movimento dos objetos em uma, duas ou três dimensões. Cabe ressaltar
que ela não se preocupa em explicar as causas do movimento, assunto que começa a ser tratado no estudo das
forças, mais precisamente com as Leis de Newton.
Galilei Galilei se destacou no estudo de fenômenos associados ao movimento, especialmente de queda livre. Foi
ele quem descobriu, a partir de várias experiências, que a velocidade de um corpo em queda livre é proporcional
ao quadrado do tempo. Galilei foi um dos primeiros físicos, na época chamados de filósofos da natureza (século
XVII), ao utilizar de forma mais estruturada de artifícios matemáticos no estudo de fenômenos naturais
(HALLYDAY, 2003; GINGRAS, 2001).
VOCÊ O CONHECE?
Além de ter sido um dos primeiros físicos a abordar matematicamente fenômenos de forma
mais estruturada, Galileu Galilei também fez várias descobertas, como a das crateras da Lua e
os satélites de Júpiter. Suas descobertas iam contra as teorias geocestristas, por isso, Galilei foi
condenado à prisão domiciliar pelo tribunal da inquisição. Saiba mais a respeito do assunto
através do link:
<http://www.canalciencia.ibict.br/personalidades_ciencia/galileu_galilei.html>
Já no final do século XVII, Isaac Newton revoluciona a matemática — não sozinho — com a invenção do cálculo. A
cinemática teve importantes contribuições para personagens como ele. Vamos entender um pouco mais a
respeito do assunto a partir de agora!
O MRU se caracteriza pela velocidade constante durante os movimentos. Em outras palavras, dizemos que a
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O MRU se caracteriza pela velocidade constante durante os movimentos. Em outras palavras, dizemos que a
velocidade dos objetos não muda conforme o tempo passa. Isto significa que o objeto percorre distâncias iguais
em intervalos de tempos iguais (TIPLER; MOSCA, 2006). Veja um exemplo clicando na interação a seguir.
Imagine que dado indivíduo sai de seu trabalho todo dia e pega um ônibus no terminal central de sua cidade,
deslocando-se até sua casa.
Imagine, ainda, um cenário ideal, em que não há trânsito, nem sinaleiras, de modo que o ônibus possa sair do
terminal e andar até o ponto mais próximo da casa sem parar, com velocidade constante.
A distância entre o terminal central ao ponto mais próximo é de aproximadamente 2880 m. Para saber o tempo
da viagem, o indivíduo utiliza um cronômetro e começa a marcar o tempo no momento em que sai do terminal.
Veja a tabela vemos na tabela a seguir os dados coletados pelo indivíduo.
A partir de agora, iremos sempre colocar a respectiva unidade junto a grandeza física que estamos associando.
Assim, para a distância temos o metro ( ) e para o tempo temos o segundo ( ). Acompanhe o esquema da
situação:
Figura 7 - Representação esquemática da viagem do ônibus até o ponto mais próximo da casa do indivíduo.
Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.
Dizemos que o indivíduo saiu da posição inicial e andou de ônibus até a posição final ,
percorrendo a distância total de 2880 m. Neste caso, o deslocamento total foi de 2880 m, pois
.
Estamos, então, adotando um referencial em que o movimento da esquerda para a direita é positivo, e que, no
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Estamos, então, adotando um referencial em que o movimento da esquerda para a direita é positivo, e que, no
início do movimento, o ônibus está no marco zero (ou posição zero) na referência que tomamos.
A velocidade escalar média ( ) com que o ônibus deve ter percorrido o trajeto pode ser determinada a partir
do tempo e da distância percorrida, conforme vemos com a expressão a seguir:
Na expressão, (lê-se “delta ” em função da letra grega delta ) representa a variação entre as posição final (
) e inicial ( ). Já (lê-se “delta ”) representa a variação entre o tempo final ( e o tempo inicial .
Considere que o ponto coincida com o ponto final do ônibus, sendo que, a partir dali, ele retorna ao
terminal pelo mesmo trajeto retilíneo. Perceba, ainda, que a divisão entre comprimento e tempo resulta na
divisão das unidades no caso metro ( ) dividido por ( ), ou seja, metros por segundo ( ), unidade oficial no SI
para velocidade.
Agora, imagine outra situação. Certo dia o indivíduo dormiu no ônibus e, quando viu, o automóvel já havia
passado o ponto final e estava quase no terminal novamente, no ponto . Neste caso, o indivíduo
percorreu de ônibus os 2880 m, mais um trecho corresponde à diferença entre e :
.
Note que fizemos o cálculo porque a posição final considerada é . Aqui, podemos compreender uma
diferença importante entre dois conceitos: deslocamento e distância percorrida. A distância total percorrida
pelo ônibus até o indivíduo acordar foi a distância entre e , somada à distância entre e , que resulta em
2880 m + 1920 m = 4800 m. Entretanto, o deslocamento total é o resultado da diferença entre as posições
inicial e final, sendo a posição inicial e a posição final . Logo, o deslocamento total do indivíduo
nessa situação foi de .
O deslocamento sempre considera a distância em linha reta entre dois pontos, sem importar a forma com que o
trajeto foi percorrido.
Agora, vamos entender a situação a partir de uma equação que relaciona posição, velocidade e tempo: a função
horário do MRU.
É possível escrever a equação para velocidade escalar média ( , a partir de agora, será representada apenas
No intervalo BC:
No intervalo CD:
Ou seja, pudemos notar que as velocidades nos intervalos AB, BC e CD são iguais a 16 m/s, o que nos indica que a
velocidade é constante.
Para determinar a velocidade em km/h, podemos multiplicar o resultado por 3,6, como segue:
.
Já para converter a unidade de km/h para m/s, basta dividirmos o valor em km/h por 3,6.
Podemos concluir, assim, que a velocidade constante com que o ônibus percorreu os 2880 m foi de 16 m/s ou
57,6 km/h.
Agora, imagine que queremos determinar o tempo que o indivíduo levo desde que entrou no ônibus até ter
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Agora, imagine que queremos determinar o tempo que o indivíduo levo desde que entrou no ônibus até ter
acordado na posição . Aqui, vamos utilizar a equação horária ou . Precisamos ter cuidado
porque o movimento do ônibus muda de direção quando chega ao ponto final . Note que ele retorna
neste ponto, o que implica em uma mudança no sentido da velocidade, que será negativa (lembre-se de que
assumimos o sentido positivo do movimento à direita). Assim teremos duas expressões:
De até
De até
Ou seja, o tempo total do percurso foi de ou quatro minutos. Note que seria uma maravilha um
ônibus percorrer um trajeto retilíneo sem interrupções e com velocidade constante durante 2880 m. O indivíduo
chegaria em casa em pouco mais de quatro minutos, o que não daria tempo nem para ele encontrar um assento,
não é mesmo?
Uma ferramenta extremamente útil para análise de movimentos são os gráficos. Eles são muito usados pelo
Departamento de Trânsito, por exemplo, para avaliar características da mobilidade urbana das cidades. Podemos
usar a tabela com os dados apresentados lá no início do problema e montar um gráfico da situação.
No MRU, o gráfico a ser construído da posição em função do tempo é dado pela equação horária do MRU, que é
uma função linear. Isto significa que o gráfico será uma reta.
Para construir o gráfico devemos preencher mais uma coluna para a velocidade, conforme vamos na tabela da
sequência.
Em seguida, plotamos os pontos (tempo e posição) no plano cartesiano e traçamos o gráfico, conforme vemos a
seguir.
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Figura 8 - Gráfico da posição x em função do tempo t.
Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.
Note que o gráfico da posição em função do tempo ( ) trata de uma função linear crescente. Conforme o
tempo passa, a posição fica cada vez maior.
Perceba que o gráfico da velocidade ( ) em função do tempo também é uma reta. Entretanto, como a
velocidade é constante, o gráfico também é uma constante, por isso, não muda para qualquer tempo . Caso a
velocidade fosse negativa, significaria que o ônibus estaria andando no sentido contrário, ou seja a velocidade v
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velocidade fosse negativa, significaria que o ônibus estaria andando no sentido contrário, ou seja a velocidade v
em função do tempo t para o caso de constante, e o gráfico seria:
Figura 10 - Gráfico.
Fonte: Elaborado pelo autor, 2018.
Avalie que, em todo o exemplo, consideramos que o ônibus partiu com velocidade inicial igual a 16 m/s ou 57,6
km/h. Isto significa que não consideramos que ele estava parado e acelerou até atingir a velocidade, pois, se
fizéssemos isto, teríamos que incluir uma variável nova no problema: a aceleração. Além disso, o momento não
seria mais uniforme, mas, sim, uniforme variado, como veremos a seguir com o item da sequência.
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CASO
Um Guepardo é o felino mais rápido entre os animais terrestres. Ele pode atingir uma
velocidade de 115 km/h. Em dois segundos ele consegue sair do repouso e atingir 72 km/h. Já
o jamaicano Ulsain Bolt é o recordista mundial como o homem mais rápido do mundo. Na
prova em que o fato ocorreu, no Campeonato Internacional de Atletismo de Berlin, em 2009, o
homem correu 100 metros em 9,58 segundos, a uma velocidade média de 10,4 m/s (ou 38 km
/h). Com isso, temos que ele conseguiu partir do repouso e, em cerca de 4,5 segundos, atingir a
velocidade máxima de 12 m/s (aproximadamente 43 km/h).
Para estudar com precisão a variação na velocidade desses supercorredores, usamos a noção
em pelo tempo que é dado em . Isto resulta na unidade , ou seja, metros por
segundo ao quadrado, que é a unidade oficial no SI para aceleração. Também podemos
representa-la como .
Podemos, assim, determinar a aceleração do Guepardo e de Ulsain Bolt. Mas qual dos dois terá
maior aceleração?
O conceito de aceleração escalar média é muito importante. No movimento retilíneo uniformemente variado
(MRUV), iremos considerar a aceleração sempre dentro deste conceito.
Do mesmo modo que determinamos uma equação horária para o MRU, podemos determinar uma equação
horária da velocidade para o MRUV.
Veja que . Note que a equação é para a velocidade em função do tempo . Também
é possível determinar uma função para a posição do móvel em função do tempo , no caso do movimento
acelerado. A equação horária do tempo fica , em que é a posição final do móvel, é a posição
inicial do móvel, é a velocidade inicial do móvel, é a aceleração do móvel e é o tempo em que se encontra o
móvel.
Uma terceira equação que facilita muito a análise de situações no MRUV se dá quando não temos informações a
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Uma terceira equação que facilita muito a análise de situações no MRUV se dá quando não temos informações a
respeito do intervalo de tempo que um movimento acontece. Ou seja, podemos escrever uma expressão em que
o tempo não aparece, combinando as equações horárias para a velocidade e para o tempo, que resulta na
Equação de Torricelli: .
Vamos, então, analisar o comportamento do móvel descrito pelos dados a seguir, a partir dos respectivos
gráficos para as equações.
Considere a tabela de dados e que, para , :
Note que a cada segundo a variação da velocidade é a mesma, correspondente a , ou seja, trata-se de um
movimento uniformemente variado (MRUV).
Pegando dois intervalos quaisquer da tabela, temos que:
e
e
Observe pela tabela que até cinco segundos o valor da velocidade é positivo, e para cada aceleração é negativo.
Isto significa que o objeto está diminuindo a velocidade até parar em ( ).
Vamos construir os gráficos para o intervalo de zero até 10 segundos de , e . Acompanhe:
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Figura 11 - Velocidade em função do tempo.
Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.
Observe que o gráfico resulta em uma reta decrescente, o que já era esperado, uma vez que a velocidade atinge
valores matematicamente cada vez menores. Aqui, é muito importante perceber que, quando , o móvel para
( ). Em seguida, a velocidade começa a atingir valores negativos cada vez maiores. Fisicamente, quer dizer
que o móvel estava freando até os cinco segundos (aceleração negativa e velocidade positiva). Depois, volta a
acelerar (aceleração negativa e velocidade também negativa, ambos do mesmo sinal), ou seja, o móvel muda de
sentido a partir dos cinco segundos e volta a acelerar.
Outro aspecto a se levar em conta no gráfico é que a área abaixo da curva até o eixo corresponde ao
deslocamento do móvel no intervalo de tempo (TIPLER; MOSCA, 2006). Vamos analisar apenas o intervalo de
zero até cinco segundos:
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Figura 12 - Determinação do deslocamento de um móvel.
Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.
Note que a função é uma função quadrática ou de segundo grau. Como já era de se esperar, o gráfico
corresponde a uma parábola com concavidade voltada para baixo (aceleração negativa). Os pontos (0, 0) e (10,
0) são as duas raízes da função, visto que a parábola intercepta o eixo nos dois pontos.
Observe, ainda, que até os cinco segundos a parábola está crescendo, para, após os cinco segundos, decrescer.
Isto indica que o ponto de máximo ( neste caso) — ou de mínimo, no caso de uma parábola com a
concavidade virada para cima ( ) — será sempre o ponto em que a velocidade será zero ( ) e o
movimento mudará de sentido a partir daí. Dizemos, então, que o movimento é “retardado” (diminuir a
velocidade) entre zero e cinco segundos, e “acelerado” (aumenta a velocidade) de cinco a 10 segundos.
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VOCÊ QUER VER?
Para consolidar sua compreensão sobre conceitos básicos associados à cinemática escalar,
confira os vídeos sobre movimento unidimensional na plataforma Khan Academy, disponíveis
pelo link:
<https://pt.khanacademy.org/science/physics/one-dimensional-motion>
Ainda temos outro tipo de movimento que possui aceleração constante e se enquadra como MRUV: o
movimento de queda livre. Ele acontece quando um objeto cai de determinada altura apenas sob a ação da
aceleração da gravidade . A equação horária nesse caso sofre algumas modificações, uma vez que, agora, o
movimento se dá na vertical, enquanto que a aceleração é . Convencionamos o valor positivo para o
movimento para baixo, na direção da Terra. Assim, chamamos a posição inicial do movimento de , e a posição
final de , em que temos a equação horária como:
Aqui, corresponde à velocidade inicial do movimento na vertical e é a aceleração da gravidade, que vale
. Além disso, o valor da aceleração é constante.
Como se trata de uma equação quadrática ou de segundo grau, os gráficos da velocidade em função do tempo (
) e da posição em função do tempo ( ) possuem as mesmas características já descritas.
A equação horária para a velocidade em função do tempo e de Torricceli também são válidas, considerando-se as
posições verticais em e a aceleração da gravidade .
VOCÊ SABIA?
O tempo de queda livre não sofre influência alguma da massa do objeto. Isto pode ser notado,
por exemplo, pela ausência de algum termo que inclua a massa do objeto nas expressões do
movimento em queda livre. Acontece que, em muitas situações reais, a presença de ar oferece
certa resistência de acordo com o formato do objeto. Faça uma experiência: solte, da mesma
altura e ao mesmo tempo, uma bola de papel bem amassado e um objeto pesado, como um
martelo ou uma pedra. Quem chega primeiro ao chão?
Perceba que o movimento de queda livre se trata de um corpo em movimento vertical lançado para cima ou
abandonado do repouso a certa altura. Há outras formas para este movimento, que pode envolver outras
acelerações que não apenas a da gravidade, no entanto, estes casos são tratados com o auxílio das Leis de
Newton.
Agora que já conhecemos os conceitos e expressões associadas aos movimentos retilíneo uniforme e
uniformemente variado, vamos aplicar os conhecimentos em problemas de cinemática. Acompanhe o tópico a
seguir!
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2.4 Cinemática: resolução de problemas
Problema 1 (Adaptado de Ferraro e Soares (2009))
Ao detectar um problema, um motorista leva cerca de 0,7 s para reagir e acionar os freios de um carro, que, por
sua vez, podem reduzir a velocidade do veículo à razão máxima de 5 m/s em cada segundo.
Considere que o veículo esteja viajando a uma velocidade constante de 10 m/s quando detecta um problema.
Nestas condições, responda:
• o tempo mínimo decorrido entre o instante em que avista algo inesperado, que o leva a acionar os freios,
até o instante em que o veículo para;
• a distância percorrida nesse tempo;
• o gráfico do movimento.
Solução
Perceba que se trata de dois tipos de movimento: MRU para o intervalo de 0,7 s e MRUV após o intervalo inicial
de 0,7 s até o veículo parar. Para resolver o primeiro item, precisamos determinar o tempo que o veículo leva
para parar.
Sabemos que a velocidade inicial do veículo é de , que a velocidade final será de e que a
desaceleração se dá a . Note que, como se trata de um movimento “retardado”, velocidade e aceleração
devem ter sinais opostos.
Assim, vamos considerar que o veículo se desloca no sentido positivo da trajetória, logo, a velocidade é positiva e
a aceleração será negativa, ou seja, .
Listando os dados, temos:
MRU:
(constante)
(equação horária)
(distância percorrida durante 0,7 s)
MRUV (início da frenagem até parar):
(posição final)
(tempo percorrido)
(posição no início da frenagem)
(velocidade no início da frenagem)
(velocidade final, parado)
Podemos usar a equação horária da velocidade para determinar o tempo percorrido até parar:
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Figura 14 - A reta azul corresponde ao movimento MRU e a curva parabólica vermelha corresponde ao
movimento MRUV.
Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.
Note que exatamente em há mudança na forma da curva (reta para curva parabólica), representado a
mudança do movimento MRU para MRUV.
Problema 2
É comum, em construções, os trabalhadores lançarem objetos uns para os outros. Sendo assim, considere que, ao
observar uma obra, você analisa cuidadosamente o lançamento de determinada ferramenta. O trabalhador que
está no chão lança a ferramenta verticalmente para cima, para um trabalhador que está no terceiro andar. Por
exagerar na força de lançamento, o objeto passa da mão do trabalhador que está no terceiro andar 0,69 s após o
lançamento, e, novamente, após 1,68 s após a primeira passagem.
Dessa forma, qual é a altura do terceiro andar, onde o trabalhador se encontra?
Solução
Queremos saber a altura do trabalhador que se encontra no terceiro andar. Para isto, precisamos determinar a
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Queremos saber a altura do trabalhador que se encontra no terceiro andar. Para isto, precisamos determinar a
velocidade do objeto lançado. Como se trata do movimento vertical de queda livre, podemos escrever a posição
do objeto em termos da altura .
Adotamos a posição inicial do objeto como e a altura do terceiro andar do prédio como . Sabemos
que o objeto atinge a altura após (durante a subida) e, também, após
(durante a descida).
Podemos usar esses dados para construir um sistema de duas equações com duas incógnitas, usando a equação
horário da posição .
Subida:
(consideramos o movimento para baixo com sentido positivo, logo, se o objeto está subindo —
desacelerando — a aceleração deverá ser negativa)
(a)
Subida e descida:
(consideramos o movimento para baixo com sentido positivo, logo, se o objeto está subindo —
desacelerando — a aceleração deverá ser negativa)
(b)
Note que podemos montar duas equações e temos duas incógnitas comuns: e . Assim, podemos isolar em
(a) e substituí-lo em (b), em que ficaremos com apenas uma incógnita : (a)
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VOCÊ SABIA?
A análise dimensional permite avaliarmos se o resultado de um cálculo está correto. Veja o
caso do problema anterior.
Vamos analisar apenas as unidades e verificar se os resultados das simplificações batem com a
unidade do resultado (coloca-se as unidades entre colchetes para indicar a análise
dimensional): .
Note que o primeiro termo é adimensional (sem dimensão), pois se trata de segundo
dividido por segundo. Já os temos são simplificados, resultando apenas na dimensão de
metro [ ]. Caso encontrássemos uma unidade diferente do metro para a altura, significaria
que fizemos algo errado.
Com esses dois exemplos detalhados, além dos demais apresentados ao longo de nossos estudos, esperamos que
você possa ter compreendido os conceitos básicos da cinemática, e que possa ter se apropriado de formas de
raciocinar para quando precisar aplicar os conhecimentos em problemas de física que envolvem a cinemática.
Síntese
Aqui, pudemos revisar várias propriedades e características de funções de primeiro e segundo graus, bem como
verificamos como aplicá-las em situações reais. Estudamos, ainda, os modelos matemáticos aplicados à análise
do movimento em uma dimensão, envolvendo o movimento retilíneo uniforme e o movimento retilíneo
uniformemente variado.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
• compreender o que é uma equação de primeiro grau e segundo graus;
• verificar um conjunto de propriedades de funções afins e funções quadráticas;
• aprender a manipular e operar com funções afins e quadráticas;
• construir gráficos de funções afins e quadráticas;
• determinar a função de primeiro e segundo graus a partir da análise gráfica;
• conhecer e identificar os conceitos de deslocamento, velocidade e aceleração;
• conhecer e aplicar as expressões para o movimento retilíneo uniforme e uniformemente variado em
situações-problema.
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