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FUNDAMENTOS DE CIÊNCIAS EXATAS

CAPÍTULO 2 – O QUE SÃO FUNÇÕES DO


PRIMEIRO E SEGUNDO GRAU E QUAIS SUAS
RELAÇÕES COM MODELOS FÍSICOS
ASSOCIADOS À CINEMÁTICA?

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Introdução
Você já notou que, após a decolagem, é bastante fácil prever o tempo de duração de uma viagem de avião, ao
saber dados como a velocidade? Ou, ainda, que é possível prever o tempo e a distância percorrida por um veículo
acelerando? Ou o tempo necessário para encher uma piscina com água? Neste capítulo, vamos explorar conceitos
e propriedades de funções do primeiro e segundo graus, que são muito utilizadas para modelar diversos
fenômenos como os descritos. Além disso, ao aprender a manipular estas funções e suas representações gráficas,
você estará melhorando sua capacidade de raciocínio e conseguirá identificar e interpretar com mais facilidade
situações e problemas que envolvem funções.
Aqui, também iremos conhecer as características fundamentais da cinemática, que envolve o estudo do
movimento. Os conceitos e expressões da cinemática são utilizados em diversos contextos da física, desde o
cálculo de movimentos retilíneos em uma dimensão até o cálculo de movimentos em duas e três dimensões.
Também vamos estudar funções do primeiro grau, que modelam fenômenos lineares, ou seja, para intervalos de
alterações iguais na variável independente, os intervalos de variação na variável dependente são iguais. Já
quanto as funções do segundo grau, estas modelam fenômenos que variam de forma quadrática. Diferentemente
das funções do primeiro grau, para cada intervalo de variação na variável independente haverá uma variação
que é proporcional ao seu quadrado na variável dependente. Na verdade, funções do primeiro grau ou do
segundo grau podem modelar uma infinidade de fenômenos, o que dirá se é uma, outra ou nenhuma das duas,
será o comportamento apresentado pelo fenômeno.
Vamos, então, conhecer as características das funções de primeiro e segundo graus, bem como suas aplicações na
cinemática. Vamos em frente!

2.1 Funções afins


A partir de agora, vamos compreender melhor o conceito e as propriedades das funções do primeiro grau, com o
objetivo de identifica-las e resolvê-las em problemas e situações, seja de forma algébrica ou por meio de
representação gráfica.
Partiremos da ideia de equações de primeiro grau, para, depois, verificarmos sua aplicabilidade na análise de
fenômenos reais descritos por expressões de primeiro grau.

2.1.1 Equações de primeiro grau


As sentenças matemáticas que relacionam termos desconhecidos, representados por incógnitas (letras), com
valores conhecidos a partir de uma igualdade de duas expressões algébricas, são chamadas equações.
As equações de primeiro grau têm a forma , sendo os coeficientes e números reais, e . Já o éa
incógnita desconhecida, ou seja, o termo a determinar, e pode ser qualquer número da reta dos ( ). As
incógnitas podem ser representadas por qualquer letra, mas, normalmente, utilizamos , e , os quais têm
sempre seus expoentes iguais a 1 (DEMANA et al., 2013)
No quadro a seguir, temos as equações em que as propriedades são importantes para resolvermos os problemas.

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Quadro 1 - Propriedades para resolver equações de primeiro grau.
Fonte: Elaborado pelo autor, baseado em DEMANA et al., 2013.

Vejamos, por exemplo, a resolução da equação .


Chamamos de 1º membro da equação a relação antes da igualdade, que, em nosso exemplo, é . Já o 2º
membro é o que se encontra depois da igualdade, ou seja, o 13.
Para resolvermos a equação e encontrarmos o valor da incógnita, precisamos isolar o em um dos lados da
equação. Faremos isto da seguinte forma: temos que , então, vamos subtrair de cada lado da equação o
número 7, para que tenhamos apenas o antes da igualdade: .
Note que podemos somar, subtrair, dividir ou multiplicar os valores que quisermos na equação, mas é
imprescindível que seja feito a mesma intervenção dos dois lados da igualdade.
Assim, temos que . Agora, podemos dividir os dois lados da equação por 3, de modo a termos a incógnita
multiplicada pelo número 1. Vejamos: .
Dessa forma, temos que .
Podemos, inclusive, verificar na equação inicial se o valor de satisfaz a igualdade:

Verificamos, com isso, a veracidade da igualdade para o valor da incógnita que encontramos anteriormente.
Note, também, que existe apenas um número que satisfaz tal igualdade, ou seja, a equação possui apenas uma
solução: . Ter apenas uma solução ou raiz é uma característica das equações lineares.
As equações de primeiro grau podem envolver uma ou mais incógnitas, de modo a relacionar dois termos
desconhecidos em uma mesma equação. Assim, teremos, por exemplo, . Neste caso, para
encontrarmos os valores das duas incógnitas precisamos de uma segunda equação que nos forneça o valor de e
ou outra relação entre elas, como . Sem a segunda equação, a primeira possui infinitas soluções, ou
seja, são infinitas as combinações para os valores de e que satisfaçam a equação .
Com as duas equações, temos o seguinte sistema:

A resolução desse sistema consiste em encontrarmos o par de coordenadas ( ) que torne verdadeiras as duas
equações. Podemos resolver utilizando o método da substituição, no qual isolamos o valor de uma variável em
uma das equações e substituímos na outra. Veja na interação a seguir.
Vamos, então, isolar o valor de na equação (2): . Para tal, vamos subtrair nos dois lados da igualdade:

Assim, temos que .


Podemos, agora, substituir na equação (1), de modo que:

Resolvendo as operações algébricas, temos:

Somando 18 nos dois lados da igualdade, temos que:

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Em seguida, vamos dividir os lados da equação por :

Temos, portanto, que .


Agora, com o conhecimento do valor de uma das incógnitas, podemos retornar à uma das equações e substituir o
valor de . Faremos isto utilizando a equação (2):

Adicionando 4 nos dois lados da igualdade, temos que:

Veja que a solução satisfaz as equações (1) e (2):

Uma forma interessante de resolver equações é por meio de gráficos, já que as soluções de uma equação com
duas incógnitas representam pares ordenados de um sistema cartesiano de coordenadas. Podemos resolver, por
exemplo, a equação com o gráfico de , fazendo , a fim de encontrar a raiz da equação, ou
seja, o ponto em que a reta intercepta o eixo . Note que facilmente podemos encontrar a solução de :

O par ordenado (3, 0) é, portanto, a solução da raiz para . No gráfico, o ponto representa o ponto em que
a reta intercepta o eixo das abscissas.

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Figura 1 - Gráfico da função .
Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.

Note na figura que a reta atravessa o eixo exatamente no ponto (3, 0), que é o par ordenado da solução de
. Assim, para resolvermos as equações é necessário encontrar o valor de por onde a reta intercepta o
eixo horizontal. Este valor, ou seja, a solução da equação, é chamado de raiz da equação.
Agora que já conhecemos algumas características das equações de primeiro grau, vamos aprofundar nossos
conhecimentos sobre elas enquanto funções.

2.1.2 Funções afins


As funções afins, também conhecidas como funções polinomiais de primeiro grau, são funções do
tipo , sendo os coeficientes e números reais, e para todo . Note que uma função do
primeiro grau é uma função polinomial de grau 1, já que o expoente da variável é 1 (DEMANA et al., 2013).
Sabemos que a função afim representa graficamente uma reta, em que o coeficiente é chamado de coeficiente
angular, por vezes representado por . Este coeficiente determina a inclinação da reta, de modo que, quando
positivo, a reta é dita crescente, e, quando negativo, a reta é decrescente. Já o chamamos de coeficiente linear,
que representa o valor em que a reta intercepta o eixo do plano cartesiano.
Assim, o valor de influencia na inclinação da reta, enquanto que o valor de determina a posição da reta no
plano. Quando , a reta passa pela origem do plano cartesiano.

A seguir, temos as representações de duas retas, uma crescente ( ) e outra decrescente ( ) (DEMANA et

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A seguir, temos as representações de duas retas, uma crescente ( ) e outra decrescente ( ) (DEMANA et
al., 2013).

Figura 2 - Reta crescente à esquerda e decrescente à direita.


Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.

Temos, então, função crescente ou decrescente. Veja na interação a seguir.


Função crescente
Conforme os valores de x aumentam, os valores de também aumentam.
Função decrescente
Conforme os valores de aumentam, os valores de diminuem.
As funções lineares de primeiro grau, por vezes, expressam modelos matemáticos para fenômenos naturais.
Vejamos, por exemplo, a relação entre as escalas de temperatura Celsius, utilizada em muitos países, como o
Brasil; e o Farenheit, uma escala utilizada em países como Inglaterra e Estados Unidos. Para construir a relação
entre essas duas escalas, utilizamos dois valores de temperatura (pontos de uma reta) que são conhecidos em
cada uma delas: temperatura de congelamento da água e temperatura de ebulição.
Em Celsius, a água congela a 0ºC e entra em ebulição a 100ºC. Já na escala Farenheit, a água congela a 32F e ferve
a 212F. Sabendo que é um modelo linear, temos os pontos e (Celsius e Farenheit, respectivamente) para o
congelamento e para a ebulição da água (HALLYDAY, 2002).
Assim, a partir de dois pontos de uma reta podemos determinar o coeficiente angular da reta. Partindo da
expressão , podemos considerar dois pontos pertencentes a reta: e . Veja a
figura a seguir.

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Figura 3 - Pontos escolhidos para construção da equação da reta.
Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.

Aplicando os pontos na reta, sabemos que:

Note que, aqui, temos um sistema em que precisamos descobrir o valor de . Para isto, vamos reescrever as
equações da seguinte forma, para que possamos igualá-las:

Podemos, então, igualar as duas equações, de modo que:

Agora, podemos utilizar a relação para encontrarmos o coeficiente angular da expressão linear que relaciona as
temperaturas em Celsius e Farenheit. Lembrando que temos os seguintes pontos: e
. Ao aplicarmos eles na expressão do coeficiente angular, em que e , temos que:

Sabemos que a relação entre Celsius e Farenheit obedece a expressão , ou, melhor, . Sendo
, temos que .

Agora, podemos aplicar qualquer um dos pontos para encontrarmos o valor de . Vamos utilizar arbitrariamente

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Agora, podemos aplicar qualquer um dos pontos para encontrarmos o valor de . Vamos utilizar arbitrariamente
o ponto :

Finalmente encontramos a expressão completa, que relaciona qualquer temperatura em Celsius e Farenheit:
.
Agora que já dominamos os conceitos relacionados às equações e funções de primeiro grau, vamos compreender
as propriedades das funções de segundo grau, com o objetivo de identificá-las e resolvê-las em problemas e
situações, de forma algébrica ou por meio de representação gráfica. Acompanhe!

2.2 Funções quadráticas


Aqui, teremos como ponto de partida a ideia de equações quadrática para, posteriormente, verificarmos sua
aplicabilidade na análise de fenômenos reais descritos por expressões de segundo grau. Faremos, para isto, a
análise do movimento de um objeto, dadas algumas condições, como velocidade e posição iniciais, além de sua
aceleração, que pode ser expresso por uma função quadrática.

2.2.1 Equações de segundo grau


As equações de segundo grau, também chamadas de equações quadráticas, são equações em que a variável tem
expoente 2, da forma . Assim como nas equações de primeiro grau, o representa uma incógnita
de valor desconhecido, enquanto que , e são coeficientes da equação, de modo que . Note que, caso ,
a equação se torna de primeiro grau (DEMANA et al., 2013).
Para resolvermos uma equação quadrática, precisamos encontrar no máximo dois valores reais da incógnita que
tornem e equação verdadeira, chamadas raízes da equação.
Quando , e são diferentes de zero, a equação é do tipo completa: . Se e/ou forem iguais a
zero, então temos uma equação quadrática incompleta, por exemplo, , ou (DEMANA
et al., 2013).
Quando uma equação de segundo grau é incompleta, basta isolarmos a variável para encontrarmos suas raízes.
Vejamos, inicialmente, um exemplo em que o coeficiente : . Vamos isolar o na equação,
primeiramente somando 50 dos dois lados da igualdade e, em seguida, dividindo toda a equação por 2:

Agora, para encontrarmos o valor de , vamos aplicar a raiz quadrada dos dois lados da equação:

Assim, encontramos as raízes e 5 para que a equação seja verdadeira. Desta forma, temos a
solução .
Agora, consideremos a equação , em que o coeficiente . Para resolvermos, vamos isolar a variável
com a fatoração, já que ela se repete em todos os termos:

Para que o produto de e seja igual a zero, é necessário que um dos dois fatores seja igual a zero, isto é,
ou .

Perceba que, se aplicarmos na equação , temos uma relação verdadeira: . O

mesmo acontece se aplicarmos na equação . Encontramos, portanto, as raízes 0 e 3 da


equação quadrática incompleta.

Para encontrarmos as raízes da equação quando ela está completa, precisamos de um método que envolve a

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Para encontrarmos as raízes da equação quando ela está completa, precisamos de um método que envolve a
fórmula de Bháskara, , em que . Para encontrarmos a solução da equação quadrática,
inicialmente identificamos os coeficientes , e para aplicarmos na fórmula.
A partir do valor de , já é possível conhecer algumas características da solução.

Quadro 2 - Propriedades das equações em função do valor de .


Fonte: Elaborado pelo autor, 2018.

Vamos, então, considerar a equação . Perceba que os coeficientes são , e . Para


encontrarmos as raízes, vamos calcular o valor de :

Note que , o que significa que encontraremos duas raízes reais e distintas.
Em seguida, devemos aplicar o valor de na fórmula de Bháskara:

Assim, temos duas raízes:

As raízes que tornam verdadeira a equação são, portanto, e 3.

2.2.2 Funções quadráticas


As funções quadráticas são funções polinomiais de segundo grau, dadas pela forma , em
que , e são números reais constantes, e .
A representação gráfica das funções de segundo grau tem a forma de uma parábola, com concavidade voltada
para cima ou para baixo, dependendo do valor do coeficiente . Observe o quadro a seguir para entender melhor.

Quadro 3 - Concavidade da parábola em função do coeficiente angular.


Fonte: Elaborado pelo autor, 2018.

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O coeficiente também determina a abertura da concavidade da parábola, sendo que, quanto maior seu valor,
mas aberta ela se torna.
O coeficiente , por sua vez, nos diz o comportamento da curva ao interceptar o eixo . Se , o gráfico é
crescente quando encontra o eixo das ordenadas, mas se , a curva é decrescente nesse ponto. Se , a curva
intercepta o eixo em seu vértice, ou seja, em seu ponto de mínimo ou máximo, em que ocorre a transição da
simetria da parábola.
Por fim, o coeficiente representa o valor de , em que , ou seja, o ponto ( ) em que a curva intercepta o
eixo .
Veja, por exemplo, o gráfico da função :

Figura 4 - Gráfico da função .


Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.

Para criarmos o gráfico de uma função quadrática, precisamos encontrar as raízes da função. Elas expressam os
valores que a parábola intercepta o eixo , nos casos em que as raízes possuem valores reais.
Vejamos como exemplo o comportamento da função . Para encontrarmos suas raízes,
precisamos aplicar os coeficientes , e na fórmula de Bháskara. No entanto, note que já calculamos todos os
procedimentos anteriormente e sabemos que as raízes da função são e 3. Assim, já temos em mãos algumas
características importantes para criar o gráfico:
, portanto, a concavidade da parábola é voltada para cima.
, portanto, a curva é decrescente ao interceptar o eixo .
, portanto, a parábola intercepta o eixo no ponto ( ) do plano cartesiano.

A parábola intercepta o eixo nos pontos ( )e( ).

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A parábola intercepta o eixo nos pontos ( )e( ).
Sendo assim, agora, precisamos encontrar o ponto em que a curva tem seu valor de máximo ou de mínimo. Para
a função com coeficiente , sabemos que o gráfico é expresso por uma parábola com concavidade voltada
para cima, portanto, terá um ponto de mínimo. Já a função com coeficiente terá um ponto de máximo, pois
possui sua concavidade voltada para baixo. O ponto do vértice de uma parábola, , pode ser calculado

utilizando os coeficientes , e : .

VOCÊ QUER LER?


Para compreender com mais profundidade como é possível chegar às relações que fornecem o

ponto do vértice de uma parábola, dado por leia o material do link:


<https://cdn.geogebra.org/material/0zwvy9COjzemYZMkAvEmgqz2dotHZzMu/material-
ZhgC7r5h.pdf>
Nele, podemos encontrar outras informações sobre as características e propriedades das
funções quadráticas, bem como alguns exemplos.

Dada a função , temos que .


Para calcularmos o , vamos utilizar o valor de encontrado anteriormente: . Assim, sabemos
que o ponto mínimo da função tem o vértice no ponto , de modo que o gráfico de é:

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Figura 5 - Gráfico.
Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.

As funções quadráticas estão comumente presentes em modelos que expressam o comportamento de algum
fenômeno. É o que ocorre, por exemplo, com a relação da posição em função do tempo para um objeto acelerado,
ou seja, em movimento uniformemente variado.

VOCÊ QUER LER?


Para conhecer mais sobre as equações de primeiro e segundo graus, indicamos um material
que, além de elucidar sobre as funções, traz diversas aplicações para as funções lineares e
quadráticas. Acesse o link de Bruno Tenório da S Lopes, para se aprofundar um pouco mais a
respeito do assunto:
<http://www.cdcc.usp.br/livros/Matematica/FuncoesAplicacoes.pdf>

Se partirmos da ideia de que a aceleração média de um corpo é relacionada com a variação da velocidade em um
determinado tempo por , e que seu deslocamento, neste caso, é dado por , temos que:

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Essa equação de movimento uniformemente variado também pode ser expressa por:

Podemos perceber que tal equação se comporta como uma função de segundo grau, em que a posição é
dependente da variável : , sendo , e os coeficientes constantes. Essa relação pode ser
utilizada, por exemplo, para investigar a posição de um objeto em diversos momentos ou o tempo que um objeto,
ao ser arremessado verticalmente para cima, leva para chegar ao seu ponto máximo (TIPLER; MOSCA, 2006).
Vamos considerar que alguém lança um objeto para o alto de modo que ele alcance uma determinada altura ,
que varia em função do tempo. O objeto parte da mão da pessoa, a uma altura que consideramos o ponto de
partida, portanto, . O objeto sai com velocidade de e que a aceleração é a gravidade,
. Note que a velocidade e a aceleração possuem sinais contrários, pois, enquanto a pedra é
arremessada com velocidade para cima, a gravidade é uma aceleração que age contrária ao movimento, por isso,
seu é sinal negativo.
Assim, temos a variação da posição do objeto em função do tempo para as condições dadas:

Note que chegamos a uma equação de segundo grau , com seus coeficientes bem definidos:
, e .
Agora, para verificarmos como a função se comporta graficamente, precisamos encontrar as raízes da função.
Faremos isto com a fórmula de Bháskara .
Inicialmente, calcularemos o valor de :

Veja que encontramos , o que já nos informa que encontraremos para a função duas
raízes reais distintas. Assim, temos que:

Sabemos, portanto, que a curva intercepta o eixo das abscissas ( ), nos pontos em que e . Como
, sabemos que a concavidade da parábola é voltada para baixo, ou seja, possui um ponto de máximo, e
que , o que significa que a curva passa pelo eixo das ordenadas ( ) em . O vértice da parábola, por sua

vez, é encontrado pelo ponto . Assim, temos que .


Para calcularmos o , vamos utilizar o valor de encontrado anteriormente: . Assim,
podemos construir o gráfico da função :

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Figura 6 - Gráfico.
Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.

Note no gráfico que as raízes da função são exatamente os pontos em que e , ou seja, nos momentos
em que o objeto se encontra em sua origem (mão do lançador).
Com o gráfico, também podemos identificar que o tempo total de movimento do objeto é de quatro segundos.
Desta forma, verificamos que o objeto leva um tempo de para alcançar uma altura máxima de 20 metros
quando lançada para o alto, a uma velocidade de , que é justamente o ponto .

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Veja que, no gráfico da função , com os coeficientes , e , temos a
função da variação da distância percorrida pelo objeto nessas condições: . Assim, conseguimos
verificar a posição do objeto em qualquer tempo, como, por exemplo, depois de um segundo que objeto já subiu:

Isto significa que, após um segundo, o objeto já alcançou uma altura de 15 metros.
Assim, a partir de uma função e dos coeficientes constantes, conseguimos analisar todo o deslocamento do
corpo. Após dois segundos do lançamento, o objeto alcança a altura máxima e inicia o retorno à mão do lançador,
para, por fim, levar mais dois segundos para retornar ao ponto de partida, completando os quatro segundos em
movimento.
Agora que já conhecemos as características das funções de primeiro e segundo graus, vamos estudar alguns
fenômenos da física em que elas podem ser aplicadas.

2.3 Cinemática
A cinemática, enquanto área de estudo da física, envolve fenômenos associados ao movimento. A área busca
descrever diferentes situações para o movimento dos objetos em uma, duas ou três dimensões. Cabe ressaltar
que ela não se preocupa em explicar as causas do movimento, assunto que começa a ser tratado no estudo das
forças, mais precisamente com as Leis de Newton.
Galilei Galilei se destacou no estudo de fenômenos associados ao movimento, especialmente de queda livre. Foi
ele quem descobriu, a partir de várias experiências, que a velocidade de um corpo em queda livre é proporcional
ao quadrado do tempo. Galilei foi um dos primeiros físicos, na época chamados de filósofos da natureza (século
XVII), ao utilizar de forma mais estruturada de artifícios matemáticos no estudo de fenômenos naturais
(HALLYDAY, 2003; GINGRAS, 2001).

VOCÊ O CONHECE?
Além de ter sido um dos primeiros físicos a abordar matematicamente fenômenos de forma
mais estruturada, Galileu Galilei também fez várias descobertas, como a das crateras da Lua e
os satélites de Júpiter. Suas descobertas iam contra as teorias geocestristas, por isso, Galilei foi
condenado à prisão domiciliar pelo tribunal da inquisição. Saiba mais a respeito do assunto
através do link:
<http://www.canalciencia.ibict.br/personalidades_ciencia/galileu_galilei.html>

Já no final do século XVII, Isaac Newton revoluciona a matemática — não sozinho — com a invenção do cálculo. A
cinemática teve importantes contribuições para personagens como ele. Vamos entender um pouco mais a
respeito do assunto a partir de agora!

2.3.1 Movimento retilíneo uniforme (MRU)


O MRU, ou movimento retilíneo uniforme, é uma forma de estudar e descrever o movimento de corpos. Em nosso
dia a dia, temos vários exemplos de MRU, como o movimento de automóveis, de aviões e de pessoas.

O MRU se caracteriza pela velocidade constante durante os movimentos. Em outras palavras, dizemos que a

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O MRU se caracteriza pela velocidade constante durante os movimentos. Em outras palavras, dizemos que a
velocidade dos objetos não muda conforme o tempo passa. Isto significa que o objeto percorre distâncias iguais
em intervalos de tempos iguais (TIPLER; MOSCA, 2006). Veja um exemplo clicando na interação a seguir.

Imagine que dado indivíduo sai de seu trabalho todo dia e pega um ônibus no terminal central de sua cidade,
deslocando-se até sua casa.

Imagine, ainda, um cenário ideal, em que não há trânsito, nem sinaleiras, de modo que o ônibus possa sair do
terminal e andar até o ponto mais próximo da casa sem parar, com velocidade constante.

A distância entre o terminal central ao ponto mais próximo é de aproximadamente 2880 m. Para saber o tempo
da viagem, o indivíduo utiliza um cronômetro e começa a marcar o tempo no momento em que sai do terminal.
Veja a tabela vemos na tabela a seguir os dados coletados pelo indivíduo.

Tabela 1 - Marcação do tempo de viagem.


Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.

A partir de agora, iremos sempre colocar a respectiva unidade junto a grandeza física que estamos associando.
Assim, para a distância temos o metro ( ) e para o tempo temos o segundo ( ). Acompanhe o esquema da
situação:

Figura 7 - Representação esquemática da viagem do ônibus até o ponto mais próximo da casa do indivíduo.
Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.

Dizemos que o indivíduo saiu da posição inicial e andou de ônibus até a posição final ,
percorrendo a distância total de 2880 m. Neste caso, o deslocamento total foi de 2880 m, pois
.

Estamos, então, adotando um referencial em que o movimento da esquerda para a direita é positivo, e que, no

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Estamos, então, adotando um referencial em que o movimento da esquerda para a direita é positivo, e que, no
início do movimento, o ônibus está no marco zero (ou posição zero) na referência que tomamos.
A velocidade escalar média ( ) com que o ônibus deve ter percorrido o trajeto pode ser determinada a partir
do tempo e da distância percorrida, conforme vemos com a expressão a seguir:

Na expressão, (lê-se “delta ” em função da letra grega delta ) representa a variação entre as posição final (
) e inicial ( ). Já (lê-se “delta ”) representa a variação entre o tempo final ( e o tempo inicial .
Considere que o ponto coincida com o ponto final do ônibus, sendo que, a partir dali, ele retorna ao
terminal pelo mesmo trajeto retilíneo. Perceba, ainda, que a divisão entre comprimento e tempo resulta na
divisão das unidades no caso metro ( ) dividido por ( ), ou seja, metros por segundo ( ), unidade oficial no SI
para velocidade.
Agora, imagine outra situação. Certo dia o indivíduo dormiu no ônibus e, quando viu, o automóvel já havia
passado o ponto final e estava quase no terminal novamente, no ponto . Neste caso, o indivíduo
percorreu de ônibus os 2880 m, mais um trecho corresponde à diferença entre e :
.
Note que fizemos o cálculo porque a posição final considerada é . Aqui, podemos compreender uma
diferença importante entre dois conceitos: deslocamento e distância percorrida. A distância total percorrida
pelo ônibus até o indivíduo acordar foi a distância entre e , somada à distância entre e , que resulta em
2880 m + 1920 m = 4800 m. Entretanto, o deslocamento total é o resultado da diferença entre as posições
inicial e final, sendo a posição inicial e a posição final . Logo, o deslocamento total do indivíduo
nessa situação foi de .
O deslocamento sempre considera a distância em linha reta entre dois pontos, sem importar a forma com que o
trajeto foi percorrido.
Agora, vamos entender a situação a partir de uma equação que relaciona posição, velocidade e tempo: a função
horário do MRU.
É possível escrever a equação para velocidade escalar média ( , a partir de agora, será representada apenas

pela letra ) na forma geral da equação horária do MRU: , em que


representa a posição final do corpo, e representa a posição inicial do corpo. Assim, podemos determinar a
velocidade do ônibus a cada intervalo.
Vamos calcular as velocidades nos intervalos AB, BC e CD, conforme vemos na interação a seguir.
No intervalo AB:

Assim, temos que:

No intervalo BC:

Assim, temos que:

No intervalo CD:

Assim, temos que:

Ou seja, pudemos notar que as velocidades nos intervalos AB, BC e CD são iguais a 16 m/s, o que nos indica que a
velocidade é constante.
Para determinar a velocidade em km/h, podemos multiplicar o resultado por 3,6, como segue:
.
Já para converter a unidade de km/h para m/s, basta dividirmos o valor em km/h por 3,6.
Podemos concluir, assim, que a velocidade constante com que o ônibus percorreu os 2880 m foi de 16 m/s ou
57,6 km/h.
Agora, imagine que queremos determinar o tempo que o indivíduo levo desde que entrou no ônibus até ter

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Agora, imagine que queremos determinar o tempo que o indivíduo levo desde que entrou no ônibus até ter
acordado na posição . Aqui, vamos utilizar a equação horária ou . Precisamos ter cuidado
porque o movimento do ônibus muda de direção quando chega ao ponto final . Note que ele retorna
neste ponto, o que implica em uma mudança no sentido da velocidade, que será negativa (lembre-se de que
assumimos o sentido positivo do movimento à direita). Assim teremos duas expressões:
De até
De até
Ou seja, o tempo total do percurso foi de ou quatro minutos. Note que seria uma maravilha um
ônibus percorrer um trajeto retilíneo sem interrupções e com velocidade constante durante 2880 m. O indivíduo
chegaria em casa em pouco mais de quatro minutos, o que não daria tempo nem para ele encontrar um assento,
não é mesmo?
Uma ferramenta extremamente útil para análise de movimentos são os gráficos. Eles são muito usados pelo
Departamento de Trânsito, por exemplo, para avaliar características da mobilidade urbana das cidades. Podemos
usar a tabela com os dados apresentados lá no início do problema e montar um gráfico da situação.
No MRU, o gráfico a ser construído da posição em função do tempo é dado pela equação horária do MRU, que é
uma função linear. Isto significa que o gráfico será uma reta.
Para construir o gráfico devemos preencher mais uma coluna para a velocidade, conforme vamos na tabela da
sequência.

Tabela 2 - Dados de tempo, posição e velocidade da viagem do indivíduo.


Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.

Em seguida, plotamos os pontos (tempo e posição) no plano cartesiano e traçamos o gráfico, conforme vemos a
seguir.

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Figura 8 - Gráfico da posição x em função do tempo t.
Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.

Note que o gráfico da posição em função do tempo ( ) trata de uma função linear crescente. Conforme o
tempo passa, a posição fica cada vez maior.

Figura 9 - Velocidade v em função do tempo t.


Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.

Perceba que o gráfico da velocidade ( ) em função do tempo também é uma reta. Entretanto, como a
velocidade é constante, o gráfico também é uma constante, por isso, não muda para qualquer tempo . Caso a

velocidade fosse negativa, significaria que o ônibus estaria andando no sentido contrário, ou seja a velocidade v

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velocidade fosse negativa, significaria que o ônibus estaria andando no sentido contrário, ou seja a velocidade v
em função do tempo t para o caso de constante, e o gráfico seria:

Figura 10 - Gráfico.
Fonte: Elaborado pelo autor, 2018.

Avalie que, em todo o exemplo, consideramos que o ônibus partiu com velocidade inicial igual a 16 m/s ou 57,6
km/h. Isto significa que não consideramos que ele estava parado e acelerou até atingir a velocidade, pois, se
fizéssemos isto, teríamos que incluir uma variável nova no problema: a aceleração. Além disso, o momento não
seria mais uniforme, mas, sim, uniforme variado, como veremos a seguir com o item da sequência.

2.3.2 Movimento retilíneo uniformemente variado (MRUV)


Vimos que, no MRU, a velocidade não varia com o passar do tempo, ou seja, ela é constante. Contudo, em
inúmeras situações a velocidade varia. Por exemplo, um automóvel que está parado (parte do repouso) tem sua
velocidade inicial e atinge a velocidade de (ou 108 km/h). Neste caso, é possível perceber que a
velocidade aumentou. Ou, no caso de o carro frear devido a algum problema ou para parar em um semáforo,
podemos perceber que o fato de frear diminui a velocidade do carro.
Nas situações em que a velocidade varia (aumenta ou diminui com o passar do tempo), temos um movimento
acelerado. Esta é a principal característica do MRUV: há uma variação uniforme na velocidade, ou seja, aumenta
quantidades iguais em tempos iguais. Isto significa que a aceleração é constante (HALLYDAY, 2003).

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CASO
Um Guepardo é o felino mais rápido entre os animais terrestres. Ele pode atingir uma
velocidade de 115 km/h. Em dois segundos ele consegue sair do repouso e atingir 72 km/h. Já
o jamaicano Ulsain Bolt é o recordista mundial como o homem mais rápido do mundo. Na
prova em que o fato ocorreu, no Campeonato Internacional de Atletismo de Berlin, em 2009, o
homem correu 100 metros em 9,58 segundos, a uma velocidade média de 10,4 m/s (ou 38 km
/h). Com isso, temos que ele conseguiu partir do repouso e, em cerca de 4,5 segundos, atingir a
velocidade máxima de 12 m/s (aproximadamente 43 km/h).
Para estudar com precisão a variação na velocidade desses supercorredores, usamos a noção

de aceleração escalar média, que é definida como , em que é a velocidade


final atingida pelo móvel, é a velocidade inicial do móvel e é a aceleração escalar média do
móvel.
A aceleração nada mais é do que a indicação de quão rápido a velocidade aumenta em
determinado intervalo de tempo . Note, aqui, que temos a divisão da velocidade, que é dada

em pelo tempo que é dado em . Isto resulta na unidade , ou seja, metros por
segundo ao quadrado, que é a unidade oficial no SI para aceleração. Também podemos
representa-la como .
Podemos, assim, determinar a aceleração do Guepardo e de Ulsain Bolt. Mas qual dos dois terá
maior aceleração?

Fonte: Elaborado pelo autor, 2018.


Podemos notar claramente que o Guepardo tem uma aceleração bem maior do que o corredor
Ulsain Bolt, sendo quase quatro vezes mais rápido.

O conceito de aceleração escalar média é muito importante. No movimento retilíneo uniformemente variado
(MRUV), iremos considerar a aceleração sempre dentro deste conceito.
Do mesmo modo que determinamos uma equação horária para o MRU, podemos determinar uma equação
horária da velocidade para o MRUV.
Veja que . Note que a equação é para a velocidade em função do tempo . Também
é possível determinar uma função para a posição do móvel em função do tempo , no caso do movimento
acelerado. A equação horária do tempo fica , em que é a posição final do móvel, é a posição
inicial do móvel, é a velocidade inicial do móvel, é a aceleração do móvel e é o tempo em que se encontra o
móvel.
Uma terceira equação que facilita muito a análise de situações no MRUV se dá quando não temos informações a

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Uma terceira equação que facilita muito a análise de situações no MRUV se dá quando não temos informações a
respeito do intervalo de tempo que um movimento acontece. Ou seja, podemos escrever uma expressão em que
o tempo não aparece, combinando as equações horárias para a velocidade e para o tempo, que resulta na
Equação de Torricelli: .
Vamos, então, analisar o comportamento do móvel descrito pelos dados a seguir, a partir dos respectivos
gráficos para as equações.
Considere a tabela de dados e que, para , :

Tabela 3 - Dados para um problema genérico.


Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.

Note que a cada segundo a variação da velocidade é a mesma, correspondente a , ou seja, trata-se de um
movimento uniformemente variado (MRUV).
Pegando dois intervalos quaisquer da tabela, temos que:
e
e

A partir desses dados, podemos escrever as expressões:

Observe pela tabela que até cinco segundos o valor da velocidade é positivo, e para cada aceleração é negativo.
Isto significa que o objeto está diminuindo a velocidade até parar em ( ).
Vamos construir os gráficos para o intervalo de zero até 10 segundos de , e . Acompanhe:

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Figura 11 - Velocidade em função do tempo.
Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.

Observe que o gráfico resulta em uma reta decrescente, o que já era esperado, uma vez que a velocidade atinge
valores matematicamente cada vez menores. Aqui, é muito importante perceber que, quando , o móvel para
( ). Em seguida, a velocidade começa a atingir valores negativos cada vez maiores. Fisicamente, quer dizer
que o móvel estava freando até os cinco segundos (aceleração negativa e velocidade positiva). Depois, volta a
acelerar (aceleração negativa e velocidade também negativa, ambos do mesmo sinal), ou seja, o móvel muda de
sentido a partir dos cinco segundos e volta a acelerar.
Outro aspecto a se levar em conta no gráfico é que a área abaixo da curva até o eixo corresponde ao
deslocamento do móvel no intervalo de tempo (TIPLER; MOSCA, 2006). Vamos analisar apenas o intervalo de
zero até cinco segundos:

Figura 12 - Determinação do deslocamento de um móvel.

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Figura 12 - Determinação do deslocamento de um móvel.
Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.

Para determinar a área de um triângulo fazemos . Substituindo os valores,


teremos que: . Confira este resultado no gráfico a seguir, em que a posição do móvel
para corresponde a exatamente 25 m.

Figura 13 - Posição em função do tempo.


Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.

Note que a função é uma função quadrática ou de segundo grau. Como já era de se esperar, o gráfico
corresponde a uma parábola com concavidade voltada para baixo (aceleração negativa). Os pontos (0, 0) e (10,
0) são as duas raízes da função, visto que a parábola intercepta o eixo nos dois pontos.
Observe, ainda, que até os cinco segundos a parábola está crescendo, para, após os cinco segundos, decrescer.
Isto indica que o ponto de máximo ( neste caso) — ou de mínimo, no caso de uma parábola com a
concavidade virada para cima ( ) — será sempre o ponto em que a velocidade será zero ( ) e o
movimento mudará de sentido a partir daí. Dizemos, então, que o movimento é “retardado” (diminuir a
velocidade) entre zero e cinco segundos, e “acelerado” (aumenta a velocidade) de cinco a 10 segundos.

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VOCÊ QUER VER?
Para consolidar sua compreensão sobre conceitos básicos associados à cinemática escalar,
confira os vídeos sobre movimento unidimensional na plataforma Khan Academy, disponíveis
pelo link:
<https://pt.khanacademy.org/science/physics/one-dimensional-motion>

Ainda temos outro tipo de movimento que possui aceleração constante e se enquadra como MRUV: o
movimento de queda livre. Ele acontece quando um objeto cai de determinada altura apenas sob a ação da
aceleração da gravidade . A equação horária nesse caso sofre algumas modificações, uma vez que, agora, o
movimento se dá na vertical, enquanto que a aceleração é . Convencionamos o valor positivo para o
movimento para baixo, na direção da Terra. Assim, chamamos a posição inicial do movimento de , e a posição
final de , em que temos a equação horária como:

Aqui, corresponde à velocidade inicial do movimento na vertical e é a aceleração da gravidade, que vale
. Além disso, o valor da aceleração é constante.
Como se trata de uma equação quadrática ou de segundo grau, os gráficos da velocidade em função do tempo (
) e da posição em função do tempo ( ) possuem as mesmas características já descritas.
A equação horária para a velocidade em função do tempo e de Torricceli também são válidas, considerando-se as
posições verticais em e a aceleração da gravidade .

VOCÊ SABIA?
O tempo de queda livre não sofre influência alguma da massa do objeto. Isto pode ser notado,
por exemplo, pela ausência de algum termo que inclua a massa do objeto nas expressões do
movimento em queda livre. Acontece que, em muitas situações reais, a presença de ar oferece
certa resistência de acordo com o formato do objeto. Faça uma experiência: solte, da mesma
altura e ao mesmo tempo, uma bola de papel bem amassado e um objeto pesado, como um
martelo ou uma pedra. Quem chega primeiro ao chão?

Perceba que o movimento de queda livre se trata de um corpo em movimento vertical lançado para cima ou
abandonado do repouso a certa altura. Há outras formas para este movimento, que pode envolver outras
acelerações que não apenas a da gravidade, no entanto, estes casos são tratados com o auxílio das Leis de
Newton.
Agora que já conhecemos os conceitos e expressões associadas aos movimentos retilíneo uniforme e
uniformemente variado, vamos aplicar os conhecimentos em problemas de cinemática. Acompanhe o tópico a
seguir!

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2.4 Cinemática: resolução de problemas
Problema 1 (Adaptado de Ferraro e Soares (2009))
Ao detectar um problema, um motorista leva cerca de 0,7 s para reagir e acionar os freios de um carro, que, por
sua vez, podem reduzir a velocidade do veículo à razão máxima de 5 m/s em cada segundo.
Considere que o veículo esteja viajando a uma velocidade constante de 10 m/s quando detecta um problema.
Nestas condições, responda:
• o tempo mínimo decorrido entre o instante em que avista algo inesperado, que o leva a acionar os freios,
até o instante em que o veículo para;
• a distância percorrida nesse tempo;
• o gráfico do movimento.
Solução
Perceba que se trata de dois tipos de movimento: MRU para o intervalo de 0,7 s e MRUV após o intervalo inicial
de 0,7 s até o veículo parar. Para resolver o primeiro item, precisamos determinar o tempo que o veículo leva
para parar.
Sabemos que a velocidade inicial do veículo é de , que a velocidade final será de e que a
desaceleração se dá a . Note que, como se trata de um movimento “retardado”, velocidade e aceleração
devem ter sinais opostos.
Assim, vamos considerar que o veículo se desloca no sentido positivo da trajetória, logo, a velocidade é positiva e
a aceleração será negativa, ou seja, .
Listando os dados, temos:
MRU:

(constante)

(equação horária)
(distância percorrida durante 0,7 s)
MRUV (início da frenagem até parar):
(posição final)
(tempo percorrido)
(posição no início da frenagem)
(velocidade no início da frenagem)
(velocidade final, parado)
Podemos usar a equação horária da velocidade para determinar o tempo percorrido até parar:

(tempo percorrido entre início da frangem até parar)


Com esse tempo, podemos determinar a posição final do veículo a partir da equação horária da posição:

(posição final do carro)


Sendo assim, o tempo total do movimento fio é de .
Além disso, o veículo andou 7 metros até iniciar a frenagem, mais 10 metros até parar completamente,
totalizando 17 m percorridos. Caso tivéssemos considerado em vez de nos cálculos do MRUV,
deveríamos somar as distâncias encontradas no MRU (7 m) e MRUV (10 m) para chegarmos aos 17 m.
Já o gráfico , temos que:

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Figura 14 - A reta azul corresponde ao movimento MRU e a curva parabólica vermelha corresponde ao
movimento MRUV.
Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.

Note que exatamente em há mudança na forma da curva (reta para curva parabólica), representado a
mudança do movimento MRU para MRUV.

VOCÊ QUER VER?


Há muitos problemas que podem ser resolvidos usando as equações do MRU e MRUV. Confira
um exemplo para determinar a aceleração necessária para uma aeronave em um porta-aviões
decolar com o link a seguir:
<https://pt.khanacademy.org/science/physics/one-dimensional-motion/modal/v/accelerati
on-of-aircraft-carrier-takeoff>

Problema 2
É comum, em construções, os trabalhadores lançarem objetos uns para os outros. Sendo assim, considere que, ao
observar uma obra, você analisa cuidadosamente o lançamento de determinada ferramenta. O trabalhador que
está no chão lança a ferramenta verticalmente para cima, para um trabalhador que está no terceiro andar. Por
exagerar na força de lançamento, o objeto passa da mão do trabalhador que está no terceiro andar 0,69 s após o
lançamento, e, novamente, após 1,68 s após a primeira passagem.
Dessa forma, qual é a altura do terceiro andar, onde o trabalhador se encontra?
Solução

Queremos saber a altura do trabalhador que se encontra no terceiro andar. Para isto, precisamos determinar a

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Queremos saber a altura do trabalhador que se encontra no terceiro andar. Para isto, precisamos determinar a
velocidade do objeto lançado. Como se trata do movimento vertical de queda livre, podemos escrever a posição
do objeto em termos da altura .
Adotamos a posição inicial do objeto como e a altura do terceiro andar do prédio como . Sabemos
que o objeto atinge a altura após (durante a subida) e, também, após
(durante a descida).
Podemos usar esses dados para construir um sistema de duas equações com duas incógnitas, usando a equação
horário da posição .
Subida:

(consideramos o movimento para baixo com sentido positivo, logo, se o objeto está subindo —
desacelerando — a aceleração deverá ser negativa)
(a)
Subida e descida:

(consideramos o movimento para baixo com sentido positivo, logo, se o objeto está subindo —
desacelerando — a aceleração deverá ser negativa)
(b)
Note que podemos montar duas equações e temos duas incógnitas comuns: e . Assim, podemos isolar em
(a) e substituí-lo em (b), em que ficaremos com apenas uma incógnita : (a)

Substituindo em (b), temos que:

Substituindo os valores e resolvendo, teremos:

Assim obtemos que a altura do terceiro andar do prédio é de aproximadamente 8,02 m.

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VOCÊ SABIA?
A análise dimensional permite avaliarmos se o resultado de um cálculo está correto. Veja o
caso do problema anterior.
Vamos analisar apenas as unidades e verificar se os resultados das simplificações batem com a
unidade do resultado (coloca-se as unidades entre colchetes para indicar a análise

dimensional): .

Note que o primeiro termo é adimensional (sem dimensão), pois se trata de segundo
dividido por segundo. Já os temos são simplificados, resultando apenas na dimensão de
metro [ ]. Caso encontrássemos uma unidade diferente do metro para a altura, significaria
que fizemos algo errado.

Com esses dois exemplos detalhados, além dos demais apresentados ao longo de nossos estudos, esperamos que
você possa ter compreendido os conceitos básicos da cinemática, e que possa ter se apropriado de formas de
raciocinar para quando precisar aplicar os conhecimentos em problemas de física que envolvem a cinemática.

Síntese
Aqui, pudemos revisar várias propriedades e características de funções de primeiro e segundo graus, bem como
verificamos como aplicá-las em situações reais. Estudamos, ainda, os modelos matemáticos aplicados à análise
do movimento em uma dimensão, envolvendo o movimento retilíneo uniforme e o movimento retilíneo
uniformemente variado.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
• compreender o que é uma equação de primeiro grau e segundo graus;
• verificar um conjunto de propriedades de funções afins e funções quadráticas;
• aprender a manipular e operar com funções afins e quadráticas;
• construir gráficos de funções afins e quadráticas;
• determinar a função de primeiro e segundo graus a partir da análise gráfica;
• conhecer e identificar os conceitos de deslocamento, velocidade e aceleração;
• conhecer e aplicar as expressões para o movimento retilíneo uniforme e uniformemente variado em
situações-problema.

Bibliografia
BRASIL. Galileu Galilei: vida, obra e descobertas. Canal Ciência: portal de divulgação científica e tecnológica,
2011. Disponível em: . Acesso em: 03/12/2018.
DEMANA, F. D. et al. Pré-Cálculo. 2. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2013.

GEOGEBRA. 2018. Disponível em: . Acesso em: 08/11/2018.

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GEOGEBRA. 2018. Disponível em: . Acesso em: 08/11/2018.
______. Matemática I: função quadrática parte 1. Minas Gerais: IFMG, 2015-2017. Disponível em: . Acesso em: 03
/12/2018.
GINGRAS, Y. What did mathematics do to physics?. History of Science, v. 39, 2001, p. 383-416. Disponível em: .
Acesso em: 18/11/2018.
HALLIDAY, D. Física. 5. ed. Rio de Janeiro LTC 2002. Vol. 1.
FERRARO, N. G.; SOARES, P. A. T. Os Fundamentos da Física. 10. ed. São Paulo: Moderna, 2009. Vol. 1.
KHAN Academy. Movimento unidimensional. 2018. Disponível em: . Acesso em:01/12/2018.
LOPES, B. T. da S. Funções e aplicações. São Paulo: USP, mai. 2011. Disponível em: . Acesso em: 01/12/2018.
TIPLER, P. A.; MOSCA, G. Física para Cientistas e Engenheiros. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2006. Vol. 1.

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