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Unidade II

Unidade II
5 GERAÇÃO DE TENSÃO ALTERNADA

Segundo a teoria básica do eletromagnetismo, uma espira (condutor enrolado de forma apropriada)
em movimento dentro de um campo magnético produz uma corrente elétrica que circula no condutor
da espira. Esse fenômeno pode ser utilizado para gerar tensões alternadas, montando‑se o aparato
mostrado a seguir.
Polos magnéticos

Fluxo magnético
N
S

Anéis captadores
Condutor giratório

Escovas de carvão Tensão alternada


Sentido de gerada
rotação

Figura 56 – Gerador elementar de tensão alternada

O aparato é um gerador elementar de tensão alternada. No corte, pode‑se observar um imã


permanente posicionado de forma a permitir a introdução de uma espira de material condutor (no
exemplo, a espira é simbolizada pelos fios vermelho e azul). Nas extremidades das espiras são acoplados
anéis metálicos, os responsáveis pela captação da tensão alternada gerada. Conforme a espira gira
dentro do campo magnético, correntes variáveis são induzidas em seu interior. Se a rotação é mantida
constante, pode‑se gerar uma tensão alternada como mostrada na figura.

É obvio que esse é um gerador simplificado, para fins acadêmicos. Uma única espira produziria
uma tensão muito pequena, com aplicação bastante limitada. Na prática, os grandes geradores são
construídos com muitas espiras, de forma a aumentar a tensão de saída de forma apropriada. Em geral,
também não se usam imãs permanentes e, sim, eletroímãs para gerar os campos magnéticos. Se o
sistema for projetado adequadamente, uma tensão alternada praticamente perfeita pode ser gerada.

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FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

Saiba mais

Nikola Tesla foi um dos cientistas responsáveis pelo desenvolvimento da


tensão alternada. Para mais informações, recomenda‑se a leitura do livro:

TESLA, N. Minhas invenções: a autobiografia de Nikola Tesla. São Paulo:


Unesp, 2012.

5.1 Sinal senoidal

O termo sinal senoidal é usado para expressar os sinais cuja função no tempo é um seno ou um
cosseno. No estudo de circuitos elétricos em regime de corrente alternada (CA), também chamada
tensão alternada, podem ser adotadas tanto a função seno como a função cosseno. Em nosso curso
adotaremos a função cosseno.

A seguir, temos a representação da tensão cossenoidal.

v(t) = Vm cos(ωt + θv )

Onde:

• Vm é a amplitude do sinal cossenoidal;

• ω é a frequência angular em rads/s;

• θv é a defasagem;

• t é o tempo em segundos.

A figura a seguir mostra um sinal cossenoidal com seus principais elementos.


v

vm

π π 3π 2π ωt (rad/s)
2 2

Figura 57 – Sinal cossenoidal

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Observação

Da figura anterior pode‑se obter as demais características do sinal cossenoidal.

T é o período (tempo que a espira leva para completar um giro completo).


Na figura, um período é dado de 0 a 2 . π. O período é dado em segundos (s)
e pode ser calculado como:
1
T = , onde F é a frequência do sinal em Hz
F
Já a frequência angular (ω) é dada por: ω = 2 . pi . F.

Saiba mais

Para mais informações sobre formas de onda de sinais, leia a obra


indicada a seguir.

THOMAS, R.; ROSA, A.; TOUSSAINT, G. Análise e projeto de circuitos


elétricos lineares. Porto Alegre: Artmed, 2009.

5.2 Valor eficaz ou RMS (valor médio quadrático)

Como visto anteriormente, a corrente contínua não muda de sentido, e, portanto, o consumo de
potência em um resistor pode ser calculado facilmente com as equações mostradas a seguir.

P = VI

P = RI2

V2
P=
R

Nos sinais senoidais ou cossenoidais as correntes mudam constantemente de sentido, portanto, não
se pode igualar simplesmente uma determinada corrente contínua a uma corrente alternada. Por isso,
na maioria das aplicações, usa‑se o valor eficaz (ou RMS) para tensões e correntes alternadas.

Em cada instante de um sistema de geração de energia alternada, os pontos máximos da crista


da onda são chamados de corrente e tensão de pico (ou corrente e tensão instantâneos). Quando um
equipamento é ligado, nem toda essa corrente e essa tensão são absorvidas: o que é realmente absorvido
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é chamado de tensão eficaz e corrente eficaz. Ou seja, corrente alternada eficaz é a corrente alternada
equivalente à corrente contínua em quantidade capaz de transferir a mesma potência a uma carga.

Os sistemas de potências são medidos tanto em corrente eficaz como em tensão eficaz (dessa forma,
os valores medidos em um multímetro são valores eficazes tanto para corrente quanto para tensão).
Quando se fala em valor eficaz, normalmente se pensa na sigla RMS, do inglês root mean square, “valor
médio quadrático” (isto é, um cálculo médio estatístico de um valor variável, que pode ser usado para
definir também o valor eficaz).

Matematicamente, o valor eficaz de uma tensão ou corrente é definido como:

T
1 2
T ∫0
Arms = A dt

Onde:

• A é uma função periódica;

• T é o período.

Para o sinal senoidal A = A0.cos(ωt+θ), o valor eficaz é dado por:

A0
Arms =
2

Ou seja, o valor eficaz da tensão ou da corrente senoidal é o seu valor de pico dividido pela raiz
quadrada de dois. Assim, uma tensão senoidal com valor eficaz de 127 V tem um valor de pico de 179,61 V.

Lembrete

De forma geral, deve‑se sempre utilizar os valores eficazes (RMS)


referindo‑se a tensões e correntes alternadas. Lembrando sempre que os
multímetros analógicos e digitais indicam valores eficazes, os osciloscópios
analógicos indicam valores de pico e pico a pico e os osciloscópios digitais
podem indicar tanto valores eficazes como de pico e pico a pico.

6 REPRESENTAÇÃO DO SINAL SENOIDAL NO DOMÍNIO DA FREQUÊNCIA

O sinais de CA, como visto, podem ser representados no domínio do tempo, por meio de funções
trigonométricas associadas às funções seno ou cosseno, no entanto, operações matemáticas envolvendo
essas funções podem ser muito trabalhosas em seu desenvolvimento.
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Tais operações de cálculo envolvendo CA podem ser simplificadas com o uso de operadores
conhecidos como fasores. Fasores são, na realidade, vetores que giram em uma determinada velocidade
em um círculo trigonométrico, dando origem às funções senoidais. Por isso, toda função senoidal pode
ser representada por um fasor.

A representação fasorial é simples, apesar de se basear na teoria dos números complexos. Observa‑se
também que o tamanho do fasor é exatamente igual ao máximo atingido pela função (ou seja, sua
amplitude). A representação algébrica da notação fasorial, como dito, está fundamentada na teoria
dos números complexos, porém pode‑se fazer uma simplificação da teoria, utilizando a análise vetorial
com um pouco de trigonometria para entender as operações com fasores. Para isso, podem‑se definir
dois eixos (ver figura a seguir), um real (eixo horizontal) e um imaginário (eixo vertical). Esses dois eixos
formam o que se chama matematicamente de plano complexo (ou plano imaginário).
Eixo imaginário

Plano complexo

Eixo real

Figura 58 – Plano complexo

A representação de um fasor no plano complexo é muito simples: basta transladar o fasor do círculo
trigonométrico para o plano complexo, observando a fase inicial do fasor, conforme mostrado na sequência.
Eixo imaginário

|A|
b

θ
Eixo real
a

Figura 59 – Representação do número complexo A no plano complexo

No plano complexo, o fasor pode ser representado por um número complexo A, que possui uma
parte real a e uma parte imaginária b. Pode‑se também representá‑lo por seu módulo (tamanho do
fasor) e seu ângulo (fase do fasor). Essas duas formas de representação dão origem às formas retangular
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e polar de se representar um número complexo, discriminadas a seguir. Como, na maioria dos casos,
a análise de circuitos em regime CA ocorre numa determinada frequência, ela pode ser suprimida na
representação dos sinais senoidais. Vale destacar que a representação mais utilizada é a forma polar.

A = A ∠θ

A forma anterior representa o gráfico da figura anterior apenas com o seu valor eficaz e fase. Por convenção,
o módulo de A, que representa o valor da tensão ou corrente, em nosso curso, sempre será dado em RMS.

Observação

Na representação do fasor, a frequência é omitida, no entanto, é importante


ter em mente que a frequência do sinal será utilizada na determinação das
reatâncias que os componentes indutor e capacitor apresentam quando
excitados por tensão alternada.

6.1 Fasor nas formas retangular e polar

A representação do fasor dada está na forma polar, mas ele também pode ser representado,
dependendo da conveniência, na forma retangular, como feito a seguir.

A = a + jb

Onde:

• j é o número imaginário.

6.2 Relações entre as formas polar e retangular

Para fazer a transformação de uma forma para a outra, podemos usar as relações mencionadas a
seguir, partindo da fórmula:

a + jb = Arms ∠θ

• Para fazer a transformação da forma retangular para a forma polar:

Arms = a2 + b2

b
θ = tan−1
a

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• Para fazer a transformação da forma polar para a forma retangular:

a = Arms cos(θ)

b = Arms sen(θ)

Exemplo de aplicação

1. Transforme o fasor da forma retangular para a forma polar.

A = 5 − j7

| A |= 52 + 72 = 8,6023

−7
θ = tan−1( ) = −54,462
5

ou

θ = 125,537

É importante destacar que existem dois ângulos com a mesma tangente, o que torna necessária uma
análise, com base nos sinais da parte real e imaginária, para determinar em qual quadrante se encontra
o fasor. Como, nesse caso, a parte real é positiva e a parte imaginária é negativa, o fasor está no
4º quadrante, portanto o ângulo θ é igual à –54,462°. Assim, a resposta final é:

A =| A | ∠θ = 8.6023∠ − 54,462

2. Transforme o fasor da forma polar para a forma retangular.

A = 9∠54,462

a = 9cos(54,462) = 5,23

b = 9sen(54,462) = 7,32

A = a + jb = 5,23 + j7,32

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FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

6.2.1 Aritmética com fasores

Soma: deve‑se transformar de polar para retangular.

A = a + jb

C = d + je

A + C = (a+ d) + j(b+ e)

6.2.2 Subtração: deve‑se transformar de polar para retangular

A = a + jb

C = d + je

A − C = (a− d) + j(b − e)

6.2.3 Multiplicação: deve‑se transformar de retangular para polar

A = a∠b

C = d∠e

A.C = a.d ∠b + e

6.2.4 Divisão: deve‑se transformar de retangular para polar

A = a∠b

C = d∠e

A a
= ∠b − e
C d

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Lembrete

As conversões retangular‑polar e polar‑retangular podem ser realizadas


de forma muito simples com o uso de calculadoras científicas. Assim,
pode‑se conferir os resultados dos cálculos realizados.

7 RESISTÊNCIA, INDUTÂNCIA E CAPACITÂNCIA EM REGIME SENOIDAL

Conforme vimos, a resistência elétrica era a única grandeza que oferecia alguma dificuldade
à passagem da corrente elétrica. No estudo da corrente alternada, aparecem outros efeitos além
do resistivo, efeitos que afetam a passagem de corrente em um circuito. Por exemplo, circuitos
contendo indutores (bobinas), capacitores ou uma associação desses com resistores. Para
circuitos desse tipo, quando excitados por fontes senoidais, existem relações mais complexas
que permitem determinar as correntes e tensões. Assim, a razão entre tensão e corrente para
circuitos excitados por fontes senoidais recebe o nome de impedância. Estudaremos agora os
efeitos da excitação senoidal nos componentes de circuito.

7.1 Capacitância

Um capacitor é um elemento passivo projetado para armazenar energia em seu campo elétrico. Os
capacitores são amplamente usados em todos os ramos da eletrônica e da eletricidade. A figura a seguir
mostra um capacitor típico.
Dielétrico

Placas de metal

A B

Figura 60 – Capacitor de placas planas

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Verifica‑se que um capacitor consiste em duas placas condutoras separadas por um material isolante (ou
dielétrico). Na maioria das aplicações práticas, as placas podem ser de papel alumínio, enquanto o dielétrico
pode ser ar, cerâmica, papel ou mica. O capacitor mostrado na figura, no entanto, tem pouca aplicação
prática, principalmente em razão de seu tamanho e da baixa capacitância (capacidade de armazenamento).
Na prática, as placas e o dielétrico são enrolados em forma espiral, como mostrado a seguir.

Dielétrico

A B

Placa A

Placa B

Figura 61 – Capacitor comercial visto por dentro

Conforme apresentado, o capacitor é usado para armazenar a carga elétrica. A quantidade de carga
armazenada, representada por q, é diretamente proporcional à tensão aplicada v, conforme explicita a
fórmula a seguir.

q = Cv

Onde:

• C é uma constante de proporcionalidade chamada capacitância do capacitor.

A unidade de capacitância é o farad (F), em homenagem ao físico inglês Michael Faraday. A capacitância
pode ser definida como a quantidade de carga nas placas de um capacitor em consequência de uma
diferença de potencial aplicada entre as duas placas, medida em farads (F). Considera‑se que 1  farad
equivale a 1 coulomb/v.

A capacitância C de um capacitor é diretamente proporcional à área A das placas e inversamente


proporcional à distância entre elas. Por exemplo, para o capacitor de placas paralelas mostrado na figura
anterior, a capacitância é dada por:

εA
C=
d

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Onde:

• A é a superfície de cada placa;

• d é a distância entre as placas;

• ε é a permitividade do material dielétrico entre as placas.

A seguir são listados fatores que também determinam a capacitância.

• A área superficial das placas: quanto maior a área, maior a capacitância.

• O espaçamento entre as placas: quanto menor o espaçamento, maior a capacitância.

• A permitividade do material: quanto maior a permitividade, maior a capacitância.

Os capacitores são comercialmente disponíveis em diferentes valores e tipos. De forma geral, eles
têm valores em picofarad (pF), nanofarads (nF) ou microfarad (μF) e são especificados pelo tipo do
material dielétrico de que são feitos, além do tipo (fixo ou variável). O esquema a seguir mostra os
símbolos para capacitores fixos e variáveis.
C C

Figura 62 – Símbolos mais usados para os capacitores

Existem capacitores fixos, como os de poliéster, que são leves, estáveis e cuja mudança de
capacitância com a temperatura é previsível. Além de poliéster, outros materiais dielétricos, como
a mica e o poliestireno, podem ser usados. Os capacitores de filme são enrolados e alojados em
filmes de metal ou plástico. Os capacitores eletrolíticos apresentam capacitância bastante elevada.

Há também capacitores variáveis. O condensador trimmer é um capacitor de pequena


capacitância, ideal para pequenos ajustes. Em geral, é colocado em paralelo com outro capacitor
para que a capacitância equivalente atinja o valor necessário. A capacitância do capacitor a ar
variável é alterada girando‑se o eixo. Os capacitores variáveis são usados em rádio para realizar a
sintonia das estações.

Os capacitores são usados também para bloquear corrente contínua, permitir a passagem de
corrente alternada, alterar a fase de uma tensão/corrente alternada, realizar armazenamento de
energia, servir como auxiliar na partida de motores e eliminar ruídos quando utilizados em filtros
adequadamente projetados.

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FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

Como visto, a capacitância (C) de um capacitor tem como unidade o farad (F) e pode ser definida
segundo a fórmula a seguir.

Q
C=
V

Onde:

• Q é a quantidade de cargas elétricas armazenadas (em coulombs);

• v é a diferença de potencial aplicada aos terminais do capacitor (em volts).

Com base nessa equação, temos que:

Q = CV

Derivando ambos os termos com relação ao tempo:

dQ d(Cv )
=
dt dt

Como C é uma constante, temos:

dQ dv
=C
dt dt

O membro à esquerda dessa equação é a corrente elétrica, portanto:

dv
i(t) = C
dt

A equação obtida de i(t) mostra que só há passagem de corrente elétrica pelo capacitor se a tensão
variar no tempo, ou seja, não há corrente elétrica no capacitor se a tensão for contínua e constante. Isso
pode ser comprovado pela derivada da tensão em relação ao tempo.

7.1.1 Associação de capacitores em série e em paralelo

Na primeira parte do curso foram analisadas diversas associações de resistores tendo como objetivo
obter um componente com valor diferente ou mesmo para realizar uma redução do circuito; essa técnica
pode ser utilizada também para capacitores. O objetivo é substituir alguns capacitores interligados por
um único capacitor equivalente (Ceq).

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7.1.2 Associação em paralelo

Para obter a capacitância equivalente (Ceq) de n capacitores em paralelo, considere o circuito a


seguir. Observa‑se que os capacitores têm a mesma tensão V aplicada.

i1 i2 i3 iN

+
C1 C2 C3 CN v
i -

Figura 63 – Associação de capacitores em paralelo

Aplicando a lei de Kirchhoff das correntes, temos:

i = i1 + i2 + i3 + ... + iN

Sabendo que:

dv
i=C
dt

Temos:

dv dv dv dv
i = C1 + C2 + C3 + ... + CN
dt dt dt dt

 N  dv dv
i =  ∑ CL  = Ceq
 L =1  dt dt

Ou seja, a capacitância equivalente em um circuito composto de capacitores em paralelo é igual à


soma dos capacitores constituintes. Assim:

Ceq = C1 + C2 + C3 + ... + CN

Vale destacar que capacitores associados em paralelo se comportam da mesma forma que resistores
em série.

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FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

7.1.3 Associação em série

A figura a seguir apresenta uma associação em série de capacitores. O objetivo é determinar a


capacitância equivalente dessa associação.
i C1 C2 C3 CN

+ v1 - + v2 - + v3 - + vN -
v

Figura 64 – Capacitores ligados em série

Com base no esquema mostrado, podemos perceber que a corrente é a mesma em qualquer parte
do circuito. Aplicando a lei de Kirchhoff das tensões no circuito mostrado, temos:

v = v1 + v2 + v 3 + ... + vN

Mas:

q q q q
v1 = , v 2 = , v 3 = , vN =
C1 C2 C3 CN

1 1 1 1
= q  + + ,... 
 C1 C2 C3 CN 

q 1
Ceq = =
v 1 + 1 + 1 ,... 1
C1 C2 C3 CN

Ou seja, para capacitores associados em série, a capacitância equivalente é igual ao inverso do


inverso dos capacitores individuais. Note‑se ainda que poderá ser utilizada a simplificação adotada
quando temos apenas dois resistores em paralelo no circuito. Dessa forma:

1 C1C2
Ceq = =
1 1 C1 + C2
+
C1 C2

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Unidade II

Observação

Estamos utilizando um modelo ideal de capacitor. Na prática,


observa‑se que existem perdas no dielétrico, indutâncias parasitas e
resistências que afetam o funcionamento do componente em altas
frequências. Deve‑se atentar, portanto, à frequência de trabalho a que o
componente estará submetido.

Na associação paralela de capacitores, o valor do capacitor equivalente


obtido é sempre maior que o maior capacitor individual do circuito.

Na associação em série de capacitores, o valor do capacitor equivalente


obtido é sempre menor que o menor capacitor individual do circuito.

7.1.4 Comportamento do capacitor quando submetido à corrente alternada

Observe a figura a seguir supondo que a tensão aplicada ao capacitor seja:

v = Vmcos(ωt + θv).
i

Sabe-se que:
v C
i = C dv
dt

Figura 65 – Capacitor sendo excitado por uma fonte de tensão alternada

Realizando a operação de derivação na equação anterior, temos:

d(Vm cos(ωt + θv )
i=C = ωCVm ( −sen(ωt + θv )) = ωCVm cos(ωt + θv + 90 )
dt

Ou seja, a corrente está adiantada 90 graus em relação à corrente em um capacitor ideal.


Transformando para fasores, temos:

I = ωCVm∠θv + 90 = ωCVm∠θv (1∠90)

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FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

Mas:

Vm∠θ v = V

1∠90 = j

De onde:

I = jωCV

A impedância do capacitor (Zc), de acordo coma lei de Ohm, pode ser calculada como:

V 1 1 1
Zc = = = −j = ∠ − 90
I jωC ωC ω C

Com a reatância capacitiva do capacitor sendo dada por:

1
Xc =
ωC

7.2 Indutância

Um indutor é um elemento passivo cuja principal função é armazenar energia em seu campo magnético.
Os indutores têm inúmeras aplicações em sistemas eletrônicos e de energia elétrica, sendo usados em
fontes de alimentação, transformadores, rádios, TVs e motores elétricos, entre outras inúmeras aplicações.

Qualquer condutor de corrente elétrica possui alguma quantidade de propriedades indutivas,


podendo ser considerado como um indutor. Mas, para aumentar o efeito indutivo, um indutor prático é
geralmente formado em uma bobina cilíndrica composta por um determinado número de voltas de fio
condutor, em geral cobertas com um isolante, como mostrado a seguir.

Comprimento, l

Núcleo

Espiras

Figura 66 – Indutor com núcleo metálico

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Unidade II

Aplicando‑se uma corrente elétrica pelo indutor, há a formação de um campo magnético perpendicular
à seção do enrolamento, criando, assim, um fluxo magnético. Supondo‑se que esse fluxo varia no tempo,
surge, então, um força eletromotriz (tensão ou diferença de potencial) entre os terminais do indutor.

A indutância, cuja unidade é o henry (H), é definida como:

φ
L=
i

Onde:

• φ é o fluxo magnético em webers (Wb);

• i é a corrente em amperes (A).

Observação

A unidade de indutância é o henry (H), em homenagem ao inventor


americano Joseph Henry (1797‑1878).

Pela lei de Faraday:


v=
dt

Onde:

• v é a tensão (força eletromotriz) em volts (V).

Aplicando essa equação na fórmula da indutância, temos:

d(Li)
v=
dt

Como L (incógnita da indutância) é uma constante, temos:

di
v =L
dt

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FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

Onde:

• L é a constante de proporcionalidade chamada indutância do indutor, em henrys (H).

Observando a equação anterior, percebemos que 1 henry corresponde a 1 volt‑segundo por ampere.
Assim, a indutância de um indutor depende da sua dimensão física e de sua construção.

Em outras palavras, pode‑se dizer que aparecerá uma tensão V nos terminais do indutor
sempre que houver uma variação da corrente i em função do tempo. Vale destacar que equações
montadas em função do tempo e relacionadas ao regime senoidal podem ser transformadas,
associando‑as ao domínio da frequência. Ou seja, pode‑se transformar essas equações para a
forma fasorial.

Várias fórmulas que permitem o cálculo da indutância de diversos tipos de indutores são obtidas
com base na teoria eletromagnética, podendo ser encontradas em manuais de engenharia elétrica. Para
um caso mais simples, como o do indutor (solenoide), temos:

N2µA
L=
l

Onde:

• N é o número de espiras;

• l é o comprimento em metros (m);

• A é a seção transversal da área em metros (m2);

• μ é a permeabilidade do núcleo em Wb/A.m.

Pela equação, pode‑se observar que a indutância é diretamente proporcional ao número de espiras
elevado ao quadrado. Dessa forma, a indutância pode ser aumentada: com o aumento do número de
espiras, com o uso de um material com maior permeabilidade como núcleo, com o aumento da seção
transversal ou, ainda, com a redução do comprimento da bobina.

Os indutores disponíveis comercialmente têm diferentes valores e tipos. Os indutores práticos


típicos possuem valores de indutância variando de alguns microhenrys (μH), como os utilizados em
sistemas de comunicação, até dezenas de henrys (H), caso daqueles empregados em sistemas de
energia elétrica. Os indutores podem ser fixos ou variáveis, e o material do núcleo pode ser feito
de ferro, aço, plástico, ferrite ou ar.

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Unidade II

Observação

O símbolo mais utilizado para o indutor é o dado a seguir.

7.2.1 Propriedades do indutor

Da equação da tensão no indutor, verifica‑se que, se não houver variação de corrente em função
do tempo, a tensão desenvolvida nos terminais do indutor é igual a zero. Assim, pode‑se afirmar que o
indutor ideal é um curto‑circuito para corrente contínua.

Ainda de acordo com essa equação, percebe‑se que uma mudança instantânea na corrente no
indutor requer uma tensão infinita, que não é possível fisicamente. Assim, um indutor opõe‑se a uma
mudança rápida da corrente que circula através dele.

É importante destacar também que, como o capacitor ideal, o indutor ideal não dissipa energia.
A energia armazenada no seu campo magnético pode ser recuperada mais tarde, segundo a
forma mais conveniente (dependendo do projeto). Assim, o indutor, pode‑se dizer, retira alguma
energia do circuito, armazenando‑a em seu campo magnético e devolvendo‑a ao circuito em
algum momento posterior.

Na prática, no entanto, não é possível obter um indutor ideal. Os indutores reais sempre apresentam
uma componente resistiva, em razão de o condutor não ser ideal e haver uma capacitância parasita,
inerente à proximidade das espiras. Assim, a presença dessa resistência no enrolamento transforma o
indutor em um elemento armazenador e dissipador de energia. A figura a seguir mostra um modelo que
poderia ser utilizado como indutor não ideal.
A L R B

Figura 67 – Indutor não ideal

Deve‑se destacar que a capacitância parasita entre as espiras tem uma grande importância quando
se utiliza o indutor em frequências elevadas. Para frequências mais baixas, em geral, a capacitância
parasita pode ser desprezada.

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FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

7.2.2 Associação de indutores em série e em paralelo

Assim como os resistores e capacitores, é possível realizar inúmeras combinações de ligação entre os
indutores. Para descobrir a indutância equivalente de uma associação em série, por exemplo, considere
a figura a seguir.
i L1 L2 L3 LN

v1 v2 v3 vN
v

Figura 68 – Indutores em série

Aplicando a lei de Kirchhoff das tensões no circuito anterior, temos:

v = v1 + v2 + v 3 + ... + vN

Sabendo‑se que :

di
v =L
dt

Temos:

di di di di
v = L1 + L 2 + L 3 + ... + LN
dt dt dt dt

 N  di di
v =  ∑ Lm  = L eq
 m=1  dt dt

L eq = (L1 + L 2 + L 3 + ... + LN )

Ou seja, em uma associação em série de indutores, deve‑se somar os indutores individuais. Já a


próxima figura trata da associação paralela. Vejamos.

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Unidade II

i1 i2 i3 iN

v
L1 L2 L3 LN

Figura 69 – Indutores em paralelo

Pode‑se observar no circuito apresentado que, ao injetar uma corrente i na associação, ela se divide
em várias correntes individuais através de cada indutor. Assim:

i = i1 + i2 + i3 + ... + iN

1 1 1 1
L1 ∫ L2 ∫ L3 ∫ LN ∫
i= v(t)dt + v(t)dt + v(t)dt + ... + v(t)dt

1 1 1 1
i =  + + + ... +  ∫ v(t)dt
 L1 L 2 L 3 LN 

 1
i =   ∫ v(t)dt
 L eq 

Onde:

 1 1 1 1 1
 L  =  L + L + L + ... + L 
 eq   1 2 3 N

Ou:

1
L eq =
1 1 1 1
+
 L L L + + ... +
1 2 3 LN 

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FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

Ou seja, em uma associação de indutores em paralelo, a indutância equivalente é igual ao inverso da


soma dos inversos dos indutores individuais presentes no circuito. Vale lembrar que podemos utilizar a
simplificação adotada quando temos apenas dois resistores no circuito. Dessa forma:

1 L1L 2
L eq = =
 1 1 L1 + L 2
 L + L 
1 2

Observação

Estamos utilizando um modelo ideal de indutor. Na prática,


observa‑se que existem perdas em razão da resistência do fio usado
no enrolamento. Existem ainda perdas em razão do núcleo, das
capacitâncias parasitas e perdas motivadas pelo efeito skyn. Essas
perdas afetam o funcionamento do componente, principalmente em
altas frequências. Deve‑se atentar, portanto, à frequência de trabalho a
que o componente estará submetido.

Na associação em série de indutores, o valor do indutor equivalente


obtido é sempre maior que o maior indutor individual do circuito.

Na associação paralela de indutores, o valor do indutor equivalente


obtido é sempre menor que o menor indutor individual do circuito.

Saiba mais

Para saber mais sobre aplicações práticas dos resistores, capacitores e


indutores, sugere‑se a obra indicada a seguir.

SCHERZ, P.; MONK, S. Practical Electronics for Inventors. Nova York:


McGraw Hill, 2016.

7.2.3 Comportamento do indutor quando submetido à corrente alternada

Observar a figura a seguir supondo que a corrente injetada no capacitor seja:

i = Im cos(ωt + θi )

89
Unidade II

L v

i(t)

Figura 70 – Indutor excitado por uma fonte de corrente alternada

Sabe‑se que:

di
v =L
dt

Calculando a tensão V no indutor com base na equação anterior, temos:

di
v =L = −ωLImsen(ωt + θi ) = ωLIm cos(ωt + θi + 90 )
dt

Usando o mesmo procedimento de cálculo para o capacitor:

V
ZL = = jωL = ωL∠90
I

Onde:

• ω é a frequência angular do sinal senoidal.

O termo XL = ωL é chamado de reatância indutiva do indutor.

A relação V/i que aparece nos desenvolvimentos anteriores é a própria lei de Ohm que, aplicada ao
regime senoidal, recebe a denominação de impedância. A impedância, portanto, tem como unidade o
ohm e as características de uma resistência.

Os módulos das impedâncias são chamados de reatância. Assim, o capacitor apresenta reatância
capacitiva (XC), e o indutor, reatância indutiva (XL). Em nosso curso, de forma a diferenciar a impedância
da resistência pura, adotaremos o símbolo a seguir para fazer referência a ela.

90
FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

Figura 71 – Símbolo sugerido para representar uma impedância

Tanto a lei de Ohm como as leis de Kirchhoff são aplicáveis a impedâncias, correntes e tensões na
forma fasorial. Consequentemente, as impedâncias equivalentes para as diversas associações (série e
paralelo) obedecem às mesmas regras da resistência.

Exemplo de aplicação

Considere o circuito elétrico a seguir, em regime permanente senoidal. Calcule a impedância


equivalente identificada pela fonte e a corrente elétrica na forma fasorial. Dado: V1 = 127.cos(377t+60).
R1
1 kΩ

L1
I 1mH
+

-
V1

C1

1 µF

Figura 72 – Circuito contendo resistor, indutor e capacitor

Resolução

Para a resolução do exercício, o primeiro passo é transformar todos os valores para a forma fasorial.

Tensão da fonte:

127
Vrms = = 89,8026V
2

Tensão na forma fasorial:

V = 89,8026∠60V

Impedância do resistor:

ZR = 1.000∠0 Ω = 1.000 Ω
91
Unidade II

Impedância do indutor:

ZL = j . ωL = j . 377 . 1 . 10-3 = j0.3770 = 0.3770 ∠ 90 Ω

Impedância do capacitor:

1 1
ZC = ∠ − 90 = ∠ − 90 = 2652.519∠ − 90 Ω
ωC 377.1.10 −6

ou

zc = - j2652.519 Ω

Representando, no circuito, as impedâncias e os fasores, temos:

ZR

+
V1 ZL
-

ZC

Figura 73 – Componentes transformados em suas respectivas impedâncias

A impedância equivalente identificada pela fonte é calculada por meio da fórmula da associação em
série adaptada à impedância.

Zeq = ZR + ZL +ZC

No exemplo, temos:

Zeq=1000 + j0.3770‑j2652,519 = 1000 – j26652,142 Ω

Na forma polar, temos:

Zeq = 2834.4068∠‑69,34º Ω

92
FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

Aplicando a lei de Ohm, obtemos a corrente.

V 89,8026∠60
I= = = 0,03168∠129,34A
Zeq 2834,4068∠ − 69,34

No domínio do tempo, a corrente é dada por:

i(t) = 0,03168. 2 cos(377t + 129,34  ) A

As tensões em cada componente podem ser facilmente achadas fazendo‑se os cálculos a seguir.

ZR

VR

+
V1 ZL
- VL

VC

ZC

Figura 74 – Quedas de tensão nas impedâncias

VR = ZRI = 1.000(0,03168∠129,34  ) = 31,68∠129,34  V

VL = ZLI = j0,377(0,03168∠129,34  ) = 0,01194∠ ‑140,659 V

VC = ZCI = − j2652,519(0,03168∠129,34  ) = 84,039∠ 39,34  V

Por fim, pode‑se aplicar a lei das tensões de Kirchhoff (LKT) para verificar os resultados.

V = VR + VL + VC = 89,802∠60ºV

7.2.4 Comportamento do resistor quando submetido à corrente alternada

O resistor ideal é um elemento não reativo sob o ponto de vista da CA. Ou seja, é um elemento
passivo que não altera a fase nem a frequência do sinal aplicado. Dessa forma, pode‑se usar a expressão
a seguir para o resistor.
93
Unidade II

ZR = R ∠ 0º Ω

Onde:

• R é o valor da resistência em ohms (Ω).

Observação

Estamos utilizando um modelo ideal de resistor. Na prática, observa‑se


que existem no resistor indutâncias e capacitâncias parasitas cujos
valores dependem do modo como o resistor é construído. Essas componentes
parasitas afetam o funcionamento do componente em altas frequências.
Deve‑se atentar, portanto, à frequência de trabalho a que o componente
estará submetido.

8 ANÁLISE DE CIRCUITOS ELÉTRICOS EM REGIME SENOIDAL (CA)

8.1 Introdução

Pode‑se analisar um circuito em regime senoidal aplicando‑se qualquer técnica estudada em regime
CC (ou seja, quaisquer métodos de redução do circuito já estudados, como análise de malhas, análise
nodal, teoremas de Thevenin e Norton e teorema da superposição). A principal diferença é que, na
análise de circuitos em CC, trabalha‑se apenas com números reais, enquanto em CA deve‑se trabalhar
com números complexos.

8.2 Redução do circuito

Esse método pode ser utilizado para circuitos com uma única fonte de tensão (ou corrente) tendo por
objetivo reduzir o circuito a apenas uma impedância equivalente e uma fonte de tensão (ou corrente).
A seguir, pode‑se calcular a corrente fornecida pela fonte e as demais correntes e tensões em todos os
elementos do circuito.

Exemplo de aplicação

Para o circuito a seguir, calcule a corrente i1 e as quedas de tensão em todos os elementos do


127
circuito. Dados: V1 = 127 . cos(377t + 60) e tensão da fonte = V1rms = = 89.8026V .
2

94
FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

R1 R2
10 Ω 12 Ω

L1 C1 L2
+ 1H 100 µF 10 H
V1
-

Sentido da
redução

Figura 75 – Circuito de exemplo para redução de circuito

Resolução

A redução desse circuito se dá da direita para a esquerda.

ZEQ1 = ZC1// ZL2 = –j26,713 Ω

ZEQ2 = ZR2+ZEQ1 = 12 – j26,713 Ω

ZEQ3 = ZL1//ZEQ2 = 13,88 – j28,27 Ω

ZEQ = ZR1+ZEQ3 = 23,88 – j28,27 Ω

V1 89,80∠60
IR1 = = = 2,426∠109,81 A
ZEQ 23,88 − j28,27

VR1 = R1.I = 1000(2,426∠109,81 ) = 24,26∠109,81 V

ZEQ2
IL1 = 2,426∠109,81 ( ) = 0,2027∠‑44,035 A
ZEQ2 + ZL1

VL1 = ZL1.IL1 = 377i( 0,2027∠ ‑44,035 ) = 76,42∠45,96 V

VL1 76,42∠45,96
IR2 = = = 2,60∠111,77 A
ZEQ2 12 ‑ j26,713

ZL 2 j3770
IC1 = IR2 ( ) = 2,60∠111,77( ) = 2,62∠111,77 A
ZL 2 + ZC1 j3770 ‑ j26,52

VC1 = ZC1(IC1) = − j26,52( 2,62∠111,77 ) = 69,71∠21,77 V

95
Unidade II

VC1 69,71∠21,77
IL 2 = = = 0,0184∠‑68,22 A
ZC1 ‑j26,52

Lembrete

O método de redução de circuito pode ser sempre utilizado para resolver


diretamente um circuito que tenha uma única malha. Pode ser também
utilizado para simplificar um circuito com várias malhas antes da aplicação
da análise matricial.

8.3 Análise de malhas

A análise de malhas é realizada da mesma forma que a análise de circuitos CC. O sistema terá
um determinado número de equações, correspondentes ao número de malhas internas do circuito. As
incógnitas são as correntes de malhas, determinadas pela equação do tipo: Z . i = V.

Exemplo de aplicação

No circuito a seguir, calcule as correntes de malha usando a análise de malhas matricial. Dados:
V1 = 127 . cos(377t + 60), V2 = 144 . cos(377t) e V3 = 55 . cos(377t + 20).
R1 R2
10 Ω 12 Ω

I1 I2 C1
L1 100 µF
+ 1H
V1
-
+ +

- -
V2 V3

Figura 76 – Correntes de malha

Resolução

São fornecidas tensões no domínio do tempo, no formato cossenoidal. Portanto, deve‑se transformar
as tensões para o formato fasorial.

127 144 55
V1rms = = 89,8026V, V2rms = = 101,823V, V3rms = = 38,890V
2 2 2

96
FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

Convertendo para fasores, temos:

V1 = 89,8026∠60 V
V2 = 101,823∠0 V
V3 = 38,890∠20 V

ZR1 = R1 = 10Ω
ZR2 = R2 = 12Ω
ZL1 = jωL1 = j377Ω
1
ZC1 = ‑ j = − j 26,525Ω
ωC1

Montando a matriz Z por inspeção, temos:

Z(1,1) = ZR1 + ZL1 = 10 + j377


Z(1,2) = −ZL1 = − j377
Z(2,1) = −ZL1 = − j377
Z(2,2) = ZL1 + ZR2 + ZC1 = 12 + j350,474

Então, montamos o vetor das tensões:

V(1) = V1 − V2 = ‑ 56,922 + j77,771


V(2) = V2 − V3 = 65,277 ‑ j13,301

Por fim, o sistema completo fica:

10 + j377 − j377  I1  ‑56,922 + j77,771


 − j377 12 + j350,474  I  =  65,277 ‑ j13,301 
  2  

Resolvendo por Cramer, obtemos:

I1 = 1,82∠127,86 A

I2 = 1,84 ∠134,30 A

97
Unidade II

Lembrete

É importante ressaltar que a análise de malhas matricial, quando


aplicada a reatâncias, é realizada exatamente da mesma forma como
quando aplicada a circuitos de corrente contínua. Deve‑se atentar apenas
ao fato de que, nesse caso, os cálculos envolvem números complexos.

8.4 Análise nodal

A análise nodal também é realizada de forma idêntica daquela em análise de circuitos CC. O sistema
terá um determinado número de equações que correspondem ao número de nós no circuito. As
incógnitas são as tensões dos nós, determinadas pela equação do tipo: Y.V=I.

Exemplo de aplicação

Usando a análise nodal matricial, calcule as tensões dos nós 1 e 2 do circuito a seguir. Dados:
I1 = 10 . cos(377t + 60) e I2 = 20 . cos(377t + 30).
R1 1 R2 2
10 Ω 12 Ω

L1
1H
C1
I1 100 µF
I2

Figura 77 – Circuito exemplo para cálculo de análise nodal

Resolução

10 20
I1rms = = 7,0710A, I2rms = = 14,1421A
2 2

Convertendo para fasores, temos:

I1 = 7,0710∠60 A
I2 = 14,142∠30 A

98
FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

ZR1 = R1 = 10Ω
ZR2 = R2 = 12Ω
ZL1 = jωL1 = j377Ω
1
ZC1 = ‑ j = − j 26,525Ω
ωC1

Então, montando a matriz Y por inspeção:

1 1
Y(1,1) = + = 0,183 ‑ j0,00265
ZR1 ZL1
1
Y(1,2) = − = −0,083
ZR2
1
Y(2,1) = − = −0,083
ZR2
1 1
Y(2,2) = + = 0,083 + j0,0377
ZR2 ZC1

Montando o vetor das correntes, temos:

I(1) = 3,53 + j6,12A


I(2) = 12,24 + j7,07A

O sistema completo fica:

0,183 ‑ j0,00265 −0,083   V1   3,53 + j6,12 


=

 −0,083 0,083 + j0,0377   V2  12,24 + j7,07 

Por fim, resolvendo por Cramer, obtemos:

V1 = 150,09 + j27,11V

V2 = 288,63 – j18,61V

Observação

A matriz Y obtida para a análise nodal é uma matriz muito especial. Muito
utilizada em sistemas de potência, ela nos dá uma fotografia do sistema.

99
Unidade II

A matriz Y é, em geral, de grandes dimensões. Inúmeras metodologias de


resolução de matrizes foram desenvolvidas para sistemas de grande porte,
quase sempre usando algoritmos computacionais bastante complexos.

Resumo

Tensão alternada é o tipo de tensão senoidal produzida quando uma


espira (condutor enrolado de forma apropriada) está em movimento dentro
de um campo magnético.

O termo sinal senoidal é usado para expressar os sinais cuja função no tempo
é um seno ou um cosseno. Nesse curso utilizaremos os sinais cossenoidais.

A representação de um sinal cossenoidal é dada pela fórmula:

v(t) = vmcos(ωt + θv)

É chamada de corrente alternada eficaz a corrente alternada que


é equivalente à corrente contínua em quantidade capaz de transferir
potência a uma carga. O valor eficaz da tensão ou corrente senoidal é o seu
valor de pico dividido pela raiz quadrada de dois.

Fasor é a representação de um determinado número complexo em um


plano cartesiano (chamado plano complexo). Pode ser representado de
forma retangular, por A = a+jb, ou na forma polar, como: A = |A| ∠ θ.

A transformação retangular‑polar pode ser resumida da seguinte forma:

a + jb = Arms ∠θ

Arms = a2 + b2

b
θ = tan−1
a

Já a transformação polar‑retangular baseia‑se nas equações a seguir.

a = Arms cos(θ)

b = Arms sen(θ)

100
FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

A transformação de funções no domínio do tempo para fasores se dá


com base nas equações discriminadas a seguir.

Domínio do tempo Domínio fasorial

Vm cos(ω t + θv ) Vm∠θv

Vm s en(ω t + θv ) Vm∠θv − 90

Im cos(ω t + θi ) Im∠θi

Im s en(ω t + θi ) Im∠θv − 90

Capacitor é um elemento passivo projetado para armazenar energia em


seu campo elétrico. Consiste em duas placas condutoras separadas por um
material isolante (ou dielétrico). A capacitância do capacitor é dada pela
εA
equação C = .
d
dv
A corrente no capacitor é dada pela equação i(t) = C .
dt
Conforme mostrado, quando a tensão em um capacitor é constante, não
variando com o tempo (isto é, temos tensão CC), a corrente através do capacitor
é zero. Portanto, o capacitor é um circuito aberto para corrente contínua.

O capacitor resiste a uma mudança rápida da tensão através dele.


Uma mudança descontínua na tensão requer uma corrente infinita, o
que seria fisicamente impossível. No entanto, a corrente através de um
capacitor pode mudar instantaneamente. Assim, o capacitor descarregado
se comporta como um curto‑circuito.

O capacitor ideal não dissipa energia. O capacitor armazena energia


na forma de campo elétrico e retorna energia armazenada anteriormente
ao circuito. No entanto, o capacitor real tem perdas, o que não permite
devolver integralmente ao circuito toda a energia armazenada.

Um capacitor não ideal, apresenta uma perda através do dielétrico,


podendo a resistência de perdas ser tão alta quanto 100 M ohms e, em
geral, pode ser desprezada na maioria das aplicações.

101
Unidade II

Na associação paralela de capacitores, a capacitância equivalente


em um circuito composto de capacitores em paralelo é igual à soma dos
capacitores constituintes. Assim, Ceq = C1 + C2 + C3 + ... + CN.

Na associação em série de capacitores, a capacitância equivalente é


igual ao inverso do inverso dos capacitores individuais. Dessa forma,
1
Ceq = .
1 1 1 1
+ + ,...
C1 C2 C3 CN
Reatância capacitiva, de forma simplificada, é a oposição que o
capacitor oferece à passagem da corrente alternada. É dada pela equação
1
Xc = .
2πFc
A impedância do capacitor é definida como a tensão dividida pela
corrente no capacitor, sendo dada pela fórmula Zc = – jXc.

Indutor é o elemento passivo cuja principal função é armazenar energia


em seu campo magnético.
φ
A indutância, cuja unidade é o henry (H), é definida como L = .
i
di
A tensão no capacitor é dada pela equação v = L .
dt
Verifica‑se que, se não houver variação de corrente em função do
tempo, a tensão desenvolvida nos terminais do indutor é igual a zero.
Assim, pode‑se afirmar que o indutor ideal é um curto‑circuito para
corrente contínua.

Na associação em série de indutores, deve‑se somar os valores das


indutâncias individuais. Assim, Leq = (L1 + L2 + L3 + ... + LN).

Na associação paralela de indutores, a indutância equivalente é igual ao


inverso da soma dos inversos dos indutores individuais do circuito. Dessa
1
forma, L eq = .
1 1 1 1
 L + L + L + ... + L 
1 2 3 N

Reatância indutiva, de forma simplificada, é a oposição que o indutor


oferece à passagem da corrente alternada. É dada pela fórmula XI = 2πFC.

Impedância do indutor é definida como a tensão dividida pela corrente


no indutor, sendo dada pela equação ZL = - jXL.
102
FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

Exercícios

Questão 1. (Enade 2014) Um consumidor registrou queixa junto à empresa de distribuição de


energia elétrica por causa da forte oscilação do brilho de lâmpadas incandescentes em sua residência.
Segundo o reclamante, isso ocorria devido ao uso de equipamentos de solda elétrica em uma oficina
vizinha ao seu domicílio.

Sabendo que esses eram os dois únicos consumidores conectados ao transformador de distribuição
de energia, um engenheiro da concessionária foi enviado para fazer uma verificação. Ele instalou um
analisador de energia que registrou, simultaneamente, a tensão no ponto de conexão da residência
(Vres) do consumidor que fez a queixa e a corrente consumida pela oficina (Iof). Durante a medição,
todas as cargas da residência estavam desligadas.

Em um dos registros obtidos durante as medições, os padrões de tensão e corrente mostraram


corrente de 100 A, correspondente à queda de tensão de 20 V. Nessa situação, o fator de potência
medido foi indutivo com valor nulo. A tensão medida em Vres, quando a corrente da oficina também
era nula, foi igual a 220. Todos os valores são eficazes.

Para explicar o que acontecia, o engenheiro desenhou o circuito equivalente da figura a seguir.
Informou que XL se referia ao comportamento do transformador de distribuição (reatância de dispersão).
Afirmou também que desconsiderou os cabos de conexão entre o transformador e os pontos de medição,
pois eram distâncias relativamente muito curtas.
XL

Vx Iof

Carga
+ equivalente
V Vres da oficina
-

Figura 78

Nesse contexto, o módulo da tensão V é:

A) 110 V

B) 220 V

C) 330 V

103
Unidade II

D) 127 V

E) 20 V

Resposta correta: alternativa B.

Justificativa geral

De acordo com o enunciado, o valor da tensão Vres com a corrente da oficina nula foi de 220 V (e
também com todas as cargas da residência desligadas). Logo, o valor de V é de 220 V.

Questão 2. (Enade 2014) Denominam‑se cargas os elementos de um circuito elétrico que se opõem à
passagem de corrente elétrica. Essencialmente, distinguem‑se três tipos de cargas: resistivas, capacitivas
e indutivas. As cargas resistivas dissipam energia, enquanto as puramente capacitivas ou puramente
indutivas são consideradas armazenadoras de energia.

L2

1F

+ L3
12 V 1H

L1

Figura 79

Se o circuito mostrado é alimentado por uma fonte de tensão contínua de 12 V e as lâmpadas são
de 12 V/6 W, observa‑se que, em regime permanente:

A) As três lâmpadas, L1, L2 e L3, ficarão apagadas, pois lâmpadas incandescentes só operam com
corrente alternada.

B) Somente L2 e L3 ficarão acesas, pois a corrente que passa em L2 é a soma das correntes em L3 e
no indutor.

C) As três lâmpadas, L1, L2 e L3, ficarão acesas, pois estão ligadas à fonte de alimentação.

D) Somente L2 ficará acesa, pois está em série com a fonte de alimentação.

E) Somente L1 ficará acesa, pois está em série com o capacitor.

Resolução desta questão na plataforma.


104
FIGURAS E ILUSTRAÇÕES

Figura 5

ALEXANDER, C.; SADIKU, M. Fundamentals of Electric Circuits. Nova York: McGraw‑Hill, 2012. p. 29.

Figura 6

ALEXANDER, C.; SADIKU, M. Fundamentals of Electric Circuits. Nova York: McGraw‑Hill, 2012. p. 29.

Figura 26

ALEXANDER, C.; SADIKU, M. Fundamentals of Electric Circuits. Nova York: McGraw‑Hill, 2012. p. 50.

Figura 27

ALEXANDER, C.; SADIKU, M. Fundamentals of Electric Circuits. Nova York: McGraw‑Hill, 2012. p. 51.

Figura 29

ALEXANDER, C.; SADIKU, M. Fundamentals of Electric Circuits. Nova York: McGraw‑Hill, 2012. p. 54.

Figura 60

ALEXANDER, C.; SADIKU, M. Fundamentals of Electric Circuits. Nova York: McGraw‑Hill, 2012. p. 202.

REFERÊNCIAS

Textuais

ALEXANDER, C.; SADIKU, M. Fundamentos de circuitos elétricos. Porto Alegre: Bookman, 2005.

BARTKOWIAK, R. A. Circuitos elétricos. São Paulo: Makron Books, 1994.

BOLTON, W. Análise de circuitos elétricos. São Paulo: Makron Books, 1994.

BOYLESTAD, R. L. Introdução a circuitos elétricos. São Paulo: Pearson, 2011.

DORF, R. C.; SVOBODA, J. A. Introdução aos circuitos elétricos. São Paulo: LTC, 2016.

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA. Tabela: resistividade elétrica


de alguns materiais. [s.d.]. Disponível em: <http://docente.ifrn.edu.br/edsonjose/disciplinas/
fisica‑ii‑licenciatura‑em‑quimica‑1/tabela‑resistividade‑eletrica‑de‑alguns‑materiais/view>. Acesso
em: 16 jul. 2018.
105
INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, QUALIDADE E TECNOLOGIA (INMETRO). Tradução da publicação
do BIPM: resumo do Sistema Internacional de Unidades. mar. 2006. Disponível em: <http://www.
inmetro.gov.br/consumidor/pdf/Resumo_SI.pdf>. Acesso em: 16 jul. 2018.

MARIOTTO; P. A. Análise de circuitos elétricos. São Paulo: Pearson, 2002.

MARTINS, J. B. História da eletricidade. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2007.

NAHVI, M.; EDMISTER, J. Circuitos elétricos. Porto Alegre: Bookman, 2005.

SCHERZ, P.; MONK, S. Practical Electronics for Inventors. Nova York: McGraw‑Hill, 2016.

TESLA, N. Minhas invenções: a autobiografia de Nikola. São Paulo: Unesp, 2012.

THOMAS, R.; ROSA, A.; TOUSSAINT, G. Análise e projeto de circuitos elétricos lineares. Porto Alegre:
Artmed, 2009.

TROTTA, F. Matemática por assunto: sistemas lineares, matrizes e determinantes. São Paulo: Scipione, 1988.

Exercícios

Unidade I – Questão 1: INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO


TEIXEIRA (INEP). Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) 2014: Engenharia elétrica.
Questão 23. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2014/17_
engenharia_eletrica.pdf>. Acesso em: 16 jul. 2018.

Unidade I – Questão 2: INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO


TEIXEIRA (INEP). Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) 2014: Engenharia de
controle e automação. Questão 19. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/
enade/provas/2014/15_engenharia_controle_automacao.pdf>. Acesso em: 16 jul. 2018.

Unidade II – Questão 1: INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO


TEIXEIRA (INEP). Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) 2014: Engenharia elétrica.
Questão 3. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2014/17_
engenharia_eletrica.pdf>. Acesso em: 16 jul. 2018.

Unidade II – Questão 2: INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO


TEIXEIRA (INEP). Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) 2014: Engenharia elétrica.
Questão 10. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2014/17_
engenharia_eletrica.pdf>. Acesso em: 16 jul. 2018.

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Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000

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