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ANÁLISE DE

CIRCUITOS
ELÉTRICOS
Jordana Leandro Seixas
Excitação senoidal e fasores
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Reconhecer as propriedades da senoide.


 Determinar as características da excitação senoidal.
 Analisar a aplicação de fasores.

Introdução
Agora estudaremos a análise de circuitos alimentados por fontes de tensão
ou de corrente variáveis no tempo. Estamos interessados, especialmente,
em excitações senoidais — circuitos alimentados por essas fontes são
denominados circuitos CA. Uma corrente senoidal é denominada corrente
alternada (CA); ela permuta periodicamente e tem valores positivos e
negativos alternados.
Existem razões importantes para a escolha da excitação senoidal.
Primeiro, a natureza é tipicamente senoidal. Há variações senoidais na
vibração da corda, no movimento do pêndulo e no movimento das
ondas do oceano, por exemplo. Na área de circuitos elétricos, a senoide
tem um papel importante na análise de sinais periódicos; além disso, ela
é facilmente operada matematicamente.
Neste capítulo, você vai estudar sobre as propriedades da senoide,
conhecer as características da excitação senoidal e analisar circuitos com
aplicação de fasores.
2 Excitação senoidal e fasores

Propriedades da senoide
Vamos analisar circuitos alimentados por fontes de tensão ou de corrente que
variam com o tempo, especialmente as fontes em que o valor da tensão ou
da corrente varia de forma senoidal. A fonte senoidal tem papel fundamental
em circuitos elétricos, especialmente a tensão alternada senoidal, gerada
em usinas de energia elétrica no mundo inteiro e empregada em áreas como
transmissão, distribuição e consumo de energia elétrica, sob condições de
regime permanente principalmente senoidais. A tensão variante no tempo é
conhecida popularmente por tensão CA (corrente alternada); similarmente,
corrente CA é a corrente variante no tempo. O termo “alternada” indica que
o valor da tensão ou da corrente varia no tempo entre dois níveis definidos
previamente.
As leis fundamentais de Kirchhoff e de Ohm, utilizadas para circuitos
CC (corrente contínua), podem ser aplicadas em circuitos CA, embora o nível
de complexidade matemática seja superior para CA. Dentre as dificuldades,
podemos citar a formulação adequada das equações e os cálculos no domínio
dos números complexos. Podemos analisar uma função que varia senoidal-
mente usando a função seno ou a função cosseno. Embora, ambas funcionem
de forma similar, vamos dedicar esta seção revendo algumas propriedades
da função senoidal.
Escrevemos uma tensão que varia senoidalmente como:

(1)
Onde:

 Vm = amplitude da senoide
 ω = frequência angular em radianos/s
 ωt = argumento da senoide

A Figura 1a mostra a senoide em função de seu argumento, e a Figura 1b,


em função do tempo. Vale salientar que a senoide se repete a cada período de
tempo T, em segundos.
Excitação senoidal e fasores 3

Figura 1. Esboço de Vm sen ωt: (a) em função de ωt; (b) em função de t.


Fonte: Alexander e Sadiku (2013, p. 331).

A partir de ambos os gráficos da Figura 1, observamos que:

(2)

Com uma breve demonstração, podemos verificar que v(t) se repete a cada
T segundos. Substituindo-se t por t + T na Equação (1), obtemos:

(3)

Portanto,

(4)

Dessa forma, a função v(t) apresenta o mesmo valor da função v (t + T).


Logo, é uma função periódica. Por definição, a função periódica é aquela
que satisfaz a igualdade f(t) = f(t+ nT), para todo t e para todos os inteiros n.
Como visto anteriormente, o período T é o tempo de um ciclo completo ou
o número de segundos por ciclo. O inverso do período T ou o número de ciclos
por segundo é denominado frequência cíclica f da senoide. Assim,

(5)

Substituindo-se o valor de T da Equação (2) na Equação (5), obtemos:

(6)
4 Excitação senoidal e fasores

Onde:

 ω = frequência angular em radianos por segundo (rad/s)


 f = frequência, em hertz (Hz)

O Quadro 1 fornece diferentes valores de graus e o correspondente em


radianos.

Quadro 1. Conversão de graus para os seus radianos correspondentes

Graus (°) Radianos (rad)


0 0
30 π/6
45 π/4
60 π/3
90 π/2
135 3π/4
180 π
225 5π/4
270 3π/2
315 7π/4
360 2π

Fonte: Adaptado de Sadiku, Musa e Alexander (2014, p. 291).

Identifique a amplitude e a frequência angular da função senoidal abaixo e encontre


o seu período e frequência:

Solução:
 A amplitude é Vm = 12 V.
 A frequência angular é ω = 50 rad/s.
 O período é .

 A frequência é .

Fonte: Sadiku, Alexander, Musa (2014, p. 292).


Excitação senoidal e fasores 5

Determinar as características da excitação


senoidal
A excitação senoidal é uma das excitações mais importantes estudadas em
circuitos elétricos, uma vez que quase toda excitação empregada em enge-
nharia elétrica pode ser resolvida em componentes senoidais. As senoides são
encontradas em grande quantidade na natureza, a saber: no movimento de
um pêndulo, no quicar de uma bola e nas vibrações de cordas ou membranas,
conforme leciona Johnson, D.; Hilburn e Johnson, J. (1994).
Como abordamos na seção anterior, as funções seno e cosseno funcionam
de forma similar; no entanto, não podem ser utilizadas simultaneamente.
Utilizando-se a função cosseno como excitação senoidal, de forma similar à
Equação (1), obtemos:
(7)

Onde:

 Vm = amplitude da senoide
 ω = frequência angular em radianos/s
 ωt = argumento da senoide
 ϕ = ângulo de fase

O ângulo de fase ϕ da tensão senoidal (Equação (7)) determina o valor


da função senoidal em t = 0; ou seja, a partir de t = 0 começamos a medir
o tempo da onda periódica. Quando o ângulo de ϕ muda, a função senoidal
se desloca ao longo do eixo dos tempos. Essa mudança não afeta o valor da
amplitude (Vm) nem o valor da frequência angular (ω). A Figura 2 apresenta a
função seno (curva tracejada) deslocada ϕ/ω unidades de tempo para a direita,
quando ϕ é reduzido a zero.

Figura 2. Tensão senoidal deslocada para a direita quando φ = 0.


Fonte: Adaptada de Nilsson e Riedel (2009).
6 Excitação senoidal e fasores

Outra característica importante da tensão (ou corrente) senoidal é seu


valor eficaz, ou rms (root mean square). O valor eficaz da tensão senoidal não
depende da frequência nem do ângulo de fase; depende apenas da amplitude
máxima de v(t); ou seja, de Vm.

(8)

Dessa forma, um sinal senoidal pode ser descrito completamente se a


frequência, o ângulo de fase e a amplitude (o valor máximo ou o valor eficaz)
forem conhecidos.

Podemos representar uma senoide em termos de seno ou de cosseno utilizando as


seguintes identidades trigonométricas:
(9)

(10)
A partir das Equações (9) e (10), podemos encontrar facilmente as seguintes equações:

(11)

Utilizando as equações acima, podemos converter uma senoide da forma seno


para a forma cosseno e vice-versa. A Figura 3 demonstra a forma gráfica de relacionar
essas equações.
Excitação senoidal e fasores 7

Figura 3. Forma gráfica de relacionar seno e cosseno: (a) cos (ωt – 90º); (b) sen (ωt +
180º) – sen ωt.
Fonte: Alexander e Sadiku (2013, p. 333).

No exemplo a seguir, determinaremos as características de uma tensão


senoidal.

A excitação senoidal é dada pela tensão:

Calcule:
a) O período da tensão, em ms.
b) A frequência, em hertz.
c) A magnitude de v em t = 2,778 ms.
d) O valor eficaz de v.

Solução:
a) Na expressão de v(t), ω = 120π rad/s. Como ω = 2 π/T, T = 2 π/ω = 1/60s ou T =
16,667 ms.
b) A frequência é 1/T, ou 60 Hz.
c) A partir de (a), ω = 2 π/16,667; assim, em t = 2,778 ms, ωt será aproximadamente
1,047 rad ou 60°. Dessa forma, v(2,778 ms) = 300 cos(60° + 30°) = 0 V.
d) Veficaz = 300/√2 = 212,13 V.
Fonte: Nilsson e Riedel (2009).
8 Excitação senoidal e fasores

Analisar a aplicação de fasores


As senoides podem ser expressas facilmente pelo uso de grandezas chamadas
fasores. Basicamente, um fasor é um número complexo que apresenta as in-
formações de amplitude e ângulo de fase de uma função senoidal, conforme
explica Alexander e Sadiku (2013). Os fasores facilitam a análise de circuitos
lineares excitados por fontes senoidais.
Antes de iniciarmos a análise de circuitos com fasores, precisamos estar
familiarizados com os números complexos. O Quadro 2 resume as formas de
representação do número complexo z.

Quadro 2. Formas de representar o número complexo z

Forma retangular z = x + jy

Forma polar z=r∠ϕ

Forma exponencial z = rejϕ = r(cos ϕ + jsen ϕ)

Onde:

 j = √−1
 cos ϕ = Re(ejϕ); Re = parte real
 sen ϕ = Im(ejϕ); Im = parte imaginária

As formas polar e exponencial são similares: z = r ∠ ϕ = rejϕ, onde r é a


magnitude de z e ϕ é a fase de z.
A Figura 4 apresenta a relação entre a forma retangular e a forma polar
do número complexo z, onde o eixo x é a parte real de z, e o eixo y é a parte
imaginária de z. Dados x e y, podemos encontrar r e ϕ:

e (12)
Da mesma forma, se soubermos os valores de r e ϕ, podemos encontrar x e y:

e (13)

Portanto, z pode ser representado, resumidamente, como segue:


Excitação senoidal e fasores 9

O Quadro 3 mostra as representações no domínio do tempo e no


domínio dos fasores.

Eixo dos números


imaginários

Eixo dos
números reais

Figura 4. Representação de um número complexo z = x + jy = r ∠ φ.


Fonte: Alexander e Sadiku (2013, p. 336).

Quadro 3. Transformações senoide-fasor

Representação do Representação do
domínio do tempo domínio dos fasores

Fonte: Adaptado de Alexander e Sadiku (2013, p. 340).


10 Excitação senoidal e fasores

Dados i1(t) = 4 cos(ωt + 30°) A e i2(t) = 5 sen(ωt + 20°) A, determine a sua soma.

Solução:
Antes de iniciar a soma, vamos verificar se a frequência angular é a mesma, ou seja,
se é igual a ω.
A corrente i(t) na forma fasorial será: I1 = 4 ∠ 30° A
Vamos expressar a corrente i2(t) na forma de cosseno. A transformação será da
seguinte forma: i2(t) = 5 cos(ωt – 20° – 90°) = 5 cos(ωt – 110°) A
E seu fasor será: I2 = 5 ∠ 110 ° A
Realizando-se a soma:
I = I1 + I2 = 4∠ 30° + 5 ∠–110° = 3,464 + j2 – 1,71 – j4,698
= 1,754 – j2,698 = 3,218 ∠ – 56,97° A
No domínio do tempo, será: i(t) = 3,218 cos (ωt – 56,97°) A
Fonte: Alexander; Sadiku (2013).

ALEXANDER, C. K.; SADIKU, M. N. O. Fundamentos de circuitos elétricos com aplicações.


Porto Alegre: Bookman, 2013.
JOHNSON, D. E.; HILBURN, J. L.; JOHNSON, J. R. Fundamentos de análise de circuitos
elétricos. 4. ed. Rio de Janeiro: Prentice-Hall do Brasil, 1994.
NILSSON, J. W.; RIEDEL, S. A. Circuitos elétricos. 8. ed. São Paulo: Pearson, 2009.
SADIKU, M. N. D.; ALEXANDER, C. K.; MUSA, S. Análise de circuitos elétricos com aplicações.
Porto Alegre: Bookman, 2014.

Leituras recomendadas
BOYLESTAD, R. L. Introdução a análise de circuitos. 12. ed. São Paulo: Pearson, 2012.
HAYT JR., W. H.; KEMMERLY, J. E.; DURBIN, S. M. Análise de circuitos em engenharia. 8.
ed. Porto Alegre: Bookman, 2014.
NAHVI, M.; ADMINISTER, J. A. Circuitos elétricos. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2014.
(Coleção Schaum).

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