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editorial

Editora Saber Ltda.


Diretores
Hélio Fittipaldi
Thereza M. Ciampi Fittipaldi Ele já tem data marcada para nascer: no dia
13 de maio o Portal Mecatrônica Atual estará no
MECATRÔNICA ar. A data para o lançamento do nosso novo
FÁCIL veículo contempla a abertura da 27ª Feira In-
www.mecatronicafacil.com.br
ternacional da Mecânica que acontece entre
Editor e Diretor Responsável
Hélio Fittipaldi os dia 13 e 17, no Pavilhão de Exposições do
Conselho Editorial Anhembi, em São Paulo. Esta é uma das prin-
Luiz Henrique C. Bernardes, cipais feiras de máquinas e equipamentos para
Márcio José Soares,
Newton C. Braga
a indústria. Ela é promovida e organizada pela
Reed Exhibitions Alcantara Machado, com o
Redação
Viviane Bulbow apoio da Associação Brasileira da Indústria de
Auxiliar de Redação Máquinas e Equipamentos (Abimaq).
Claudia Tozetto, O evento irá apresentar soluções para insta-
Fabieli de Paula
lações industriais nas áreas de produção, ma-
Produção nutenção, transporte, armazenagem, controle
Diego M. Gomes
de qualidade e automação. E nossa equipe de
Design Gráfico
Diego M. Gomes, profissionais irá cumprir mais um ano com o
Fernando Almeida, papel de imprensa especializada, levando as novidade da feira para nossos
Tiago Paes de Lira
leitores. Através do portal você ficará por dentro de tudo o que acontece em
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Carla de Castro Assis,
tempo real.
Ricardo Nunes Souza Neste mês entre as novidades esta edição traz uma republicação do robô
Octa – I. Esta idéia surgiu de diversos leitores que entraram em contato pelo
PARA ANUNCIAR: (11)2095-5339
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do aos pedidos, você leitor, terá a oportunidade de viajar pelo túnel do tempo
Colaboradores
Alexandre Guimarães, Débora de Lima Faili, Egídio Tram- e rever o robô Octa-I, publicado na edição nº 1 da revista, que encontra-se es-
baiolli Neto, Jeff Eckert, José Antonio de Carvalho, José gotada. Aqueles que não leram terão a oportunidade de aprender a montar um
Augusto Brandão, Lucas Remoaldo Trambaiolli, Marcelo
Damasceno, Mauro Vianna, Wellington Rocha Domingos robô que faz parte da história da nossa revista.
Capa
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Leitor
L
Seção do
Leitor
Robô RF - MF 15 Lembre-se que o transmissor con-
tinua a enviar os bits relacionados ao
endereço de operação para que o re-
“Montei o projeto ‘Robô RF’ publi- ceptor possa reconhecer os dados. No
cado na edição nº 15 de acordo com caso de nenhum botão pressionado,
errata. Tudo parece funcionar, porém, os bits que estarão zerados são os bits
algumas vezes a alimentação dos de dados (A6/D6 a A9/D9).
motores não é cortada quando paro Um outro ponto que deve ser verifi-
de pressionar o botão do controle re- cado é a antena utilizada. Certifique-se
moto. O problema não acontece sem- que ela tem o tamanho recomendado
Robô Luzbô - MF 20 pre, mas é freqüente. O que devo e que foi acomodada o mais próximo
fazer?” possível do seu ponto de ligação à pla-
Vladimir Grijó ca. Fios muito compridos para a liga-
“Ao ler o artigo “Luzbô”, publicado Engenheiro ção da antena, podem ser interpreta-
na edição nº20, fiquei interessado na Santos / SP dos pelo circuito como parte integrante
montagem. Gostaria de saber onde da antena, alterando completamente
encontrar a caixa de redução que uti- Vladimir, na operação do robô RF, o tamanho da mesma e assim a sua
lizaram no projeto. Vocês podem me após pressionar o botão um conjunto eficiência.
ajudar?” de bits é enviado ao receptor para ati- Além do pontos que destacamos,
var os motores, de acordo com o co- confira se a distância de operação não
Isac Caldas mando dado (veja na tabela T3, página está excedendo 50 metros em área livre
Belo Horizonte / MG 42). Note que mesmo sem pressionar (com paredes, lajes e outros obstáculos
qualquer botão, o transmissor sempre essa distância máxima cai bastante).
Caro leitor, a caixa de redução enviará um conjunto de bits para o re- Esperamos que as dicas acima se-
que usamos no projeto “Robô Luzbô” ceptor, para manter os motores desliga- jam suficientes para resolver
pode ser encontrada na loja virtual dos. Trata-se do conjunto de bits “0000” o problema de seu robô. Se
Saber Marketing. Entre em contato (descrito na página 42 do artigo). precisar de mais alguma
pelo fone (11) 2095-5330 ou acesse o Assim, se algo estiver errado com ajuda, por favor, não deixe
site (www.sabermarketing.com.br). seu transmissor, o problema relatado de nos consultar. Teremos
por você poderá ocorrer. Verifique no- prazer em ajudá-lo.
vamente a montagem de seu trans- Márcio José Soares,
missor. Para confirmar se ele possui Colaborador MF
Link algum problema, basta testar a
saída Dout (pino 15) de CI1
no transmissor. Se ne-
“Encontrei um site muito interes- nhum botão for pres-
sante que mostra máquinas e robôs sionado não deverá
que são movidos a vapor. Acesse o haver pulsos, mas se
link: www.crabfu.com/steamtoys” existirem botões pres-
sionados existirão
Jackson Costa alguns pulsos, de
Operador de Centro CNC acordo com a tabe-
São Leopoldo / RS la mencionada.

Mecatrônica Fácil nº38 3


n notícias

Robonews
USP São Carlos vence o Baja
SAE Brasil - Petrobras
“Hexacampeã” esse é o título da bras 2008 que terminou dia 16 de mar- Universidade de São Paulo (USP) totali-
equipe Mitsubishi EESC USP 1 na 14ª ço, em Piracicaba (SP). Os alunos da zaram 936,34 pontos na competição.
competição Baja SAE Brasil - Petro- Escola de Engenharia de São Carlos da A equipe Mitsubishi EESC USP foi
a vencedora do enduro de resistência,
completando 75 voltas em um percurso
USP São Carlos é hexa- de 1,35 km. Os competidores atribuiram
campeã da competição sua performance aos 150 kg do carro.
O evento contou com 59 bajas e a equi-
pe campeã, além da segunda colocada
a equipe Poli Arsenal, terão a oportuni-
dade de representar o Brasil na compe-
tição Baja SAE Montreal que será rea-
lizada nos dias 11 e 14 de junho pela
SAE Internacional, no Canadá.
Segundo a SAE Brasil, organizado-
ra do evento, a competição apresentou
um alto nível na parte mecânica e um
grande desenvolvimento de eletrônica
embarcada. A disputa entre os estudan-
tes serviu também de palco para novos
talentos de engenharia automotiva.
“Todos os anos, as equipes aparecem
com novidades interessantes. A evolu-
ção acontece a cada ano, com sistemas
cada vez mais complexos” afirma o in-
tegrante do comitê técnico, Fernando
Gonzales.

Cobenge 2008 recebe inscrições


de trabalhos a partir deste mês
Quem está interessado em apre- Com o tema “Educação, mercado e Durante o Cobenge serão realiza-
sentar trabalhos no Cobenge 2008 desenvolvimento: mais e melhores en- das mesas redondas, sessões dirigidas
(Congresso Brasileiro de Educação genheiros”, a 36ª edição do Cobenge e sessões técnicas de artigos. Entre os
em Engenharia), já pode fazer sua reúne professores, pesquisadores, estu- temas que estarão em debate, desta-
inscrição e enviar o material, por meio dantes e profissionais que atuam nas vá- cam-se: As avaliações no processo de
do site www.cobenge.com.br), até o rias modalidades da Engenharia. O evento ensino e aprendizagem; Implementação
dia 10 de junho. Os resultados serão é promovido pela Associação Brasileira de diretrizes curriculares; Inovação tec-
divulgados no mês de julho e a data de Educação em Engenharia - Abenge, nológica e empreendedorismo; Pesqui-
limite para apresentação da versão e organizado pela Escola de Engenharia sa e extensão na formação profissional;
final dos trabalhos é 10 de agosto. O Mauá, do Centro Universitário do Instituto Internacionalização do ensino de Enge-
congresso acontece no período de 09 Mauá de Tecnologia, e pela Escola Politéc- nharia; Integração entre as Escolas de
a 12 de setembro, em São Paulo. nica da Universidade de São Paulo - USP. Engenharia e as de Ensino Médio.

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notícias n
Robonews
Jeff Eckert

Robô sobe as paredes


Carnegie Mellon Nanorobotics Lab / Divulgação Ele anda como um lagarto. O Wall-
bot não precisa de ímãs ou disposi-
tivos a vácuo para grudar em planos
verticais. Essa invenção, da Carnegie
Mellon (www.cmu.edu), usa fibras
finas nos pés para aderir a qualquer
tipo de superfície.
O pequeno robô se comporta como
dois conjuntos de três rodas aderen-
tes, cada qual com seu próprio motor.
A cauda em forma de mola mantém o
sistema empurrando a superfície con-
tra a parede.
O controle de movimento, incluin-
do a direção, é fornecido por um mi-
crocontrolador PIC e alimentado por
baterias de lítio-íon. As aplicações
O CMU Wallbot projetadas possuem a inspeção, se-
sobe nas paredes
gurança e também possibilidade de
usando adesão seca.
fazer reparos em naves espaciais.

Removedor de neve
O robô Yuki-taro da Research De- com) é o resultado de sete anos de das com muita eficiência.
velopment Inc (RDI, www.rdi-japan. trabalho e pode limpar ruas e calça- Desenvolvido por um consórcio da
prefeitura da cidade de Niigata, no
RDI / Divulgação Yuki-taro, o robô que Japão, ele utiliza um sistema GPS e
remove a neve. câmeras montadas nos seus olhos.
Ele pesa 400 kg e produz blocos
de gelo 60 x 30 x 15 cm, aproxima-
damente. Dada a natureza de sua
dieta, você provavelmente não vai
querer quebrar os blocos de gelo para
pôr no seu cocktail. Mas o gelo pode
ser armazenado para refrigeração ou
sistema de ar condicionado para os
meses quentes.
O Yuki-taro ainda não está pronto
para a produção em massa, porém
seus inventores esperam vendê-lo em
cinco anos. O preço estimado é de
9.000 dólares.

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n notícias

Cidade de Arabia / Divulgação O parque temático


“The Restless Planet”
(Planeta em Repouso)

Dinossauros rugem
terá mais de 100 dinos-
sauros mecatrônicos.

em pleno século XXI


Dubai é a segunda maior nação O projeto atual é o Restless Planet, primeiro a sair será o T. Rex que será
dos Emirados Árabes Unidos, mes- um parque temático que vai criar em 11 capaz de seguí-lo com seus olhos fa-
mo ocupando apenas 4.114 quilôme- hectares uma paisagem de como era o mintos. Além disso, ele vai mexer os lá-
tros quadrados. Sua população de mundo há 100 milhões de anos atrás. bios e respirar, porém será inofensivo
1. 422.000 desfruta de um produto O parque, projetado a um custo de Uma série de excursões levará os
interno bruto de 46 bilhões de dóla- 1,1 bilhões de dólares, terá 109 robôs vistantes a uma coleção de efeitos de
res, o que significa que eles possuem instalados em um domo de 75 metros, alta tecnologia que ilustram o nasci-
dinheiro para muitos projetos que constituindo-se na maior coleção do mento do planeta e a criação de seus
envolvam diversões. Foram eles que mundo de dinossauros animatrônicos. detalhes topográficos e oceanos. O
criaram o primeiro arquipélago parti- Os bots estão sendo criados pela final é uma visita à era dos dinossau-
cular de ilhas na forma de condomínio Kokoro Co. do Japão, sob a direção do ros. O parque tem previsão de abertu-
e o primeiro hotel submarino. famoso paleontologista Jack Horner. O ra no final deste ano.

Robô em formato de foca melhora a saúde


física e mental de doentes e idosos
A maior parte dos robôs que con- humanos, principalmente doentes e sores táteis, de luz, áudio, tempera-
hecemos possuem algum tipo de apli- idosos, e fazendo-os sentir-se emo- tura e postura de modo a agir com as
cação industrial ou de serviço. Mas, cionalmente ligados a ele. pessoas e seu ambiente. Ele pisca
os desenvolvedores japoneses estão De acordo com a empresa, tais seus olhos e faz o mesmo barulho
envolvidos no que eles denominam aparelhos proporcionam três efei- das focas, além de reconhecer a luz
“cult of cute” e uma de suas mais tos terapêuticos básicos: psicológico e dormir no escuro.
adoráveis criações é o Paro, o bebê- (como relaxação e motivação), fisio- O robô gosta de ser acariciado e
foca da Intelligent Systems Co. (www. lógico (dando sinais vitais), e social tenta fugir de você se tentar beijá-lo.
intelligent-system.jp). (estimulando a comunicação entre os Paro pode até reconhecer palavras e
Classificado como um “robô de pacientes e os cuidadores). de onde sua voz vem. O preço da foca
comprometimento mental” ele é de- Muito além de um animal comum em formato de robô é de $ 3.200.
senvolvido para interagir com seres empalhado, o Paro incorpora sen-

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eletrônica
Bioengenharia
e

ELETRÔNICA
Mecatrônica Fácil Nº -130
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Março
Maio 2008
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13
e eletrônica

Flickr/divulgação
Fibras ópticas
Na primeira parte deste
artigo foram analisados parte2
alguns conceitos básicos
Newton C. Braga
relativos à natureza da luz,
além do modo segundo o
qual uma fibra de material Conforme vimos na pri- zido em passos em direção à superfí-
transparente, como o vidro, meira parte deste artigo, a utilização cie externa.
pode através de reflexões de uma capa de material de índice de Para o sinal óptico, esta estrutura
sucessivas, conduzir a luz. refração menor, envolvendo um cerne tem um comportamento interessante:
diferente (que é a parte condutora de um raio de luz que tenha de se propa-
Não precisamos voltar a luz propriamente dita) além de eli- gar por esta fibra é curvado numa tra-
lembrar do que isso signifi- minar os problemas de arranhões e jetória como a desenhada na própria
ca em termos práticos para interferências de corpos estranhos, figura 1, ficando “preso” ao material.
a tecnologia atual, levando nos possibilita fabricar fibras ópticas A trajetória deste raio é, então, for-
de maior confiabilidade e rendimento. mada por segmentos de reta que têm
em conta que a atenuação
A partir desta estrutura, diversas seus extremos nos pontos em que
que um sinal óptico sofre outras técnicas foram desenvolvidas ocorrem as refrações ou reflexões de
numa fibra é dezenas ou para permitir a elaboração de fibras uma camada para outra.
centenas de vezes menor com bons rendimentos e até maior Um outro tipo de fibra, que apre-
do que aquela sofrida por resistência mecânica. senta um comportamento óptico seme-
Assim, um tipo interessante de fibra lhante à anterior é visto na figura 2.
um sinal elétrico em um fio é a que emprega materiais com índices Nesta fibra, temos um material
de metal. Nesta segunda de refração escalonados que são for- em que o índice de refração varia de
parte de nosso artigo abor- mados por deposição em torno de um maneira contínua do centro em dire-
daremos mais as proprieda- cerne, conforme mostra a figura 1. ção a periferia, de tal forma a se com-
A partir do cerne de material de portar como se existissem camadas,
des e princípios de funcio-
maior índice de refração forma-se um como no caso anterior. Desta forma,
namento dessas fibras e de conjunto de anéis concêntricos de tal a luz sofre um desvio constante à
seu processo de fabricação. forma que o índice de refração é redu- medida que vai encontrando regiões

 Mecatrônica
MecatrônicaFácil
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eletrônica
e
de índices de refração menores, cur- 1 2
vando-se de tal forma que não pode
escapar do interior desse material.
Se o raio de luz entrar na fibra por
um ângulo oblíquo, conforme ilustra
a figura 3, os curvamentos ocorrem
de tal maneira que a luz se propaga
segundo uma trajetória em espiral.
O resultado líquido da transmis-
são de luz através deste tipo de fibra
é o que importa no caso: temos uma
baixa dispersão da luz pela estrutura,
enquanto que na estrutura escalonada iguais de modo a haver a soma, caso 3
em cada passagem de uma camada em que teremos pontos de máximos.
para outra ocorre uma pequena perda Nos pontos em que as fases forem
por dispersão. opostas teremos mínimos ou nulos.
Um outro fator importante que Este fenômeno pode ser obser-
deve ser considerado é o seguinte: vado com fontes pontuais de luz
enquanto na fibra com cerne de mate- como, por exemplo, dois orifícios num
rial de densidade única onde a luz se painel opaco, quando então forma-se
propaga, a velocidade é constante uma imagem que consiste em pontos
para qualquer ponto, na fibra com de máximos e mínimos em forma de 4
densidade descrescente, os raios de anéis.
luz se propagam mais rapidamente Estes anéis de interferência são
nesta região do que no centro. amplamente estudados em óptica
O resultado é que as velocidades ondulatória, sendo vistos na figura 5.
diferentes de propagação podem ser Nos locais em que as radiações
responsáveis pelo fenômeno da inter- incidem com a mesma fase temos
ferência. máximos e, portanto, regiões claras
ou anéis claros.
Interferência Nos locais em que os sinais inci-
Para facilitar o entendimento dos dem com as fases opostas, há o can-
princípios básicos de funcionamento celamento e com isso aparecem os
das fibras ópticas, mais uma vez faze- anéis escuros.
mos uso de analogias. Em uma fibra óptica o fenômeno
Assim, inicialmente, costumamos da interferência pode ocorrer com a
considerar a luz que se propaga nas radiação que se propaga segundo
fibras como sendo formada por raios trajetórias diferentes no próprio mate-
infinitamente finos que têm um des- rial, uma vez que a fonte de emissão 5
locamento em linha reta. No entanto, normalmente não é pontual, mas sim
não é isso o que ocorre na prática. algo extensa.
O caráter ondulatório da radiação Pode suceder então que jus-
luminosa não pode ser esquecido, tamente no ponto em que o sinal
principalmente em função de alguns luminoso deve ser captado na outra
fenômenos importantes que podem extremidade da fibra tenhamos um
acontecer. ponto de interferência destrutiva, com
Podemos então supor que tenha- o cancelamento deste sinal, ou seja,
mos duas fontes de sinais eletromag- um ponto de “escuro” com menor
néticos, que podem ser de luz comum intensidade de sinal.
ou infravermelha, e que emitam em É o que acontece, por exemplo,
freqüências iguais, conforme exibe a na figura 6 em que temos duas traje- trajetórias possíveis na transmissão
figura 4. tórias diferentes para a luz dentro de da luz. Este fato faz com que seja uti-
A combinação dos dois sinais em uma fibra óptica, de tal modo que os lizada uma classificação dos modos
qualquer ponto considerado pode raios que seguem os caminhos dis- segundo os quais a luz se propaga
resultar em uma soma de suas ampli- tintos chegam ao mesmo ponto com numa fibra óptica.
tudes ou no seu cancelamento, con- fases opostas, ocorrendo a interferên- Temos, então, o modo de ordem
forme as suas fases (veja na mesma cia destrutiva. mais baixa que corresponde justa-
figura). O diâmetro de uma fibra óptica mente à propagação direta, ou seja,
Isso significa que teremos pontos influi de modo a permitir que tenha- àquele em que não é preciso haver
em que as fases dos sinais serão mos maior ou menor “quantidade” de reflexão alguma para que ele chegue

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Maio 2004 
e eletrônica

à outra extremidade, modo de ordem gação de um sinal numa fibra óptica Por outro lado, os sinais de ordem
mais alta, o que corresponde a traje- reduz a faixa passante, visto que mais alta se propagam na maior parte
tória em que ocorre maior número de para um pulso de informação (num do tempo pelo material da periferia,
reflexões. link digital, por exemplo), aumenta a de menor índice de refração. Isso em
Na figura 7 temos a apresentação deformação que ocorre neste pulso, princípio significaria que esses sinais
de três ordens ou modos de propaga- conforme mostra a figura 8. chegariam primeiro na outra extremi-
ção de sinais ópticos numa fibra. O que acontece neste caso é que, dade, pois a velocidade no material
É importante observar que uma para uma fonte de luz de certa exten- menos denso é maior.
quantidade maior de modos de propa- são, na produção do pulso que deve No entanto, a trajetória também é
ser transmitido, raios de luz de diferen- mais longa ocorrendo uma compen-
6 tes regiões entram ao mesmo tempo sação que permite que os tempos de
pela fibra, mas como estes se propa- chegada à outra extremidade sejam
gam segundo trajetórias diferentes, o aproximadamente iguais, o que mini-
resultado final pode ser um complexo miza as interferências e aumenta a
padrão de interferências que afeta a faixa passante.
forma do pulso recebido.
Se a trajetória do sinal for muito Tipos de fibras
longa e os pulsos forem transmitidos Além do vidro, alguns tipos de
muito próximos uns dos outros, ou plásticos também podem ser usados
seja, numa freqüência elevada, a dife- na fabricação de fibras ópticas. Temos
rença entre os tempos de chegada então três tipos básicos de fibras:
para os diversos raios de luz pode ser
suficientemente grande para que a a) fibras de cerne plástico e capa
7 alteração na forma do sinal recebido plástica
prejudique sua confiabilidade. b) fibras com cerne de vidro e capa
Para uma frequência de 200 MHz, plástica, também denominadas
por exemplo, a uma distância de PCS.
100 metros, os pulsos já começam c) fibras com cerne de vidro e capa
a chegar suficientemente próximos de vidro - sílica e ciad sílica.
para haver uma deformação do sinal
capaz de dificultar a recuperação da Os vidros empregados na fabri-
informação. Com 200 metros de per- cação de fibras podem conter ainda
curso, a recuperação desses sinais já materiais como o chumbo, sódio ou
pode tornar-se impossível. boro. As propriedades conferidas por
Uma especificação importante estes materiais podem tornar as fibras
8 para uma fibra óptica é a sua faixa de apropriadas para aplicações específi-
utilização em megahertz x quilômetro cas.
(MHz x km).
Uma fibra óptica de 200 MHz x km Vejamos a seguir, como são fabri-
pode transmitir informações na fre- cadas as fibras mais comuns:
qüência de 200 MHz a uma distância
de 1 km antes que ocorra o “embara- Fibras plásticas
lhamento” que impossibilite sua recu- As fibras ópticas de plástico são
peração. Essa mesma fibra pode ser fabricadas com material transpa-
usada para transmitir informações na rente, apresentando como principais
freqüência de 100 MHz a uma distân- propriedades o diâmetro elevado (da
cia de 2 km. ordem de até 1 mm), flexibilidade e
As fibras de diversas capas, ou com fácil preparação dos acoplamentos.
9 índice de refração que muda gradual- As extremidades podem ser prepa-
mente, apresentam comportamentos radas para receber conexões ópticas
que possibilitam seu uso em uma simplesmente pelo corte com uma
ampla gama de aplicações práticas. lâmina de barbear. Entretanto, estas
Em uma fibra deste tipo, a propa- fibras apresentam perdas razoáveis,
gação para as trajetórias de ordem o que limita suas aplicações, porque
mais baixa se faz segundo um mate- os sinais não podem ir além de alguns
rial de densidade constante, maior do metros ou dezenas de metros.
que o material da periferia, já que eles Também deve ser levado em conta
se propagam mais pelo centro dessa que o plástico não é tão resistente à ação
fibra. O resultado é uma velocidade de temperaturas elevadas, devendo ser
menor. prevista uma proteção especial.

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MecatrônicaFácil
Fácilnnº38
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2004
eletrônica
e
Fibras de vidro 10 11
Pelas suas propriedades, este é o
material preferido na fabricação das
fibras ópticas mais empregadas, se bem
que sejam exigidas técnicas bastante
sofisticadas para se conseguir isso.
Na figura 9 exemplificamos um
processo primitivo em que se parte de
um tubo cilíndrico com vidro fundido
de maior densidade e que é envolvido
por um outro tubo que contém vidro
fundido de menor densidade.
Submetido a uma temperatura ele- Tanto o vidro fundido de maior den- ópticas internas muito baixas, o que o
vada, o vidro fundido escorre, dando sidade como o de menor densidade torna ideal para a fabricação de fibras
origem a um fio fino com maior den- são mantidos em cadinhos de platina, ópticas. Porém, este material apresenta
sidade interna e menor densidade e extrudados por uma única de saída um índice de refração muito baixo em
externa que é a própria fibra óptica. de modo a formar uma fibra única. relação ao vidro e outros materiais
Este processo permite a fabrica- Este processo permite a produ- como o ar que deve envolvê-lo, o que
ção de fibras com perdas algo eleva- ção de fibras com baixas perdas e dificulta sua utilização prática.
das, tendo em vista que a junção é além disso num processo contínuo, Conforme vimos, a capa externa
feita na saída dos cilindros. As perdas o que significa que não há limitação deve ter um índice de refração ainda
são da ordem de 500 dB/km, mas para o comprimento da fibra a ser menor para que ocorram as refrações
a utilização de materiais especiais fabricada. internas desejadas. Para a utilização
possibilita a produção de fibras que deste material, técnicas especiais
são especialmente indicadas para a Fibras de sílica tiveram de ser desenolvidas.
transmissão de dados e mensagens A sílica (SiO2) é um material que Uma delas é a denominada VDS
a curtas distâncias. existe na forma natural como quartzo. (Vapour Deposited Silica), que con-
Um processo alternativo melhor é Este material também pode ser produ- siste na deposição de camadas radiais
visto na figura 10. zido sinteticamente e apresenta perdas de germânio dopado com sílica num

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e eletrônica

12 nua, é fácil graduar-se a produção de pode ser utilizada para servir de prote-
modo a resultar numa estrutura com ção externa em outros tipos de fibras.
índice de refração que se modifica A capa externa de uma fibra óptica
continuamente quando a percorremos que mantém contato direto com esta
do cerne para a borda. fibra é denominada “capa primária”.
Esta técnica possibilita a produ- É importante observar que a pro-
ção de fibras ópticas com perdas que teção externa de uma fibra óptica
chegam a apenas 1 dB por quilôme- deve ser cuidadosamente projetada
tro, mas os tipos comerciais, em geral, de modo a não alterar as caracterís-
estão na faixa dos 5 dB por quilômetro. ticas ópticas desejadas.
13 Pequenas imperfeições da capa
Fibras PCS podem forçar uma fibra a ter pequenas
Estas fibras são formadas por um curvas (microcurvas) em determinados
núcleo de sílica pura sobre o qual pontos, o que pode afetar suas carac-
aplica-se uma camada de resina de terísticas e com isso provocar perdas.
silicone de menor índice de refração, Essas microcurvas podem, por
veja a figura 12. exemplo, ser provocadas por uma
Esta técnica possibilita a construção pressão maior da capa externa sobre
de fibras ópticas de grandes diâmetros. a fibra no próprio momento da fabrica-
14 As perdas destas fibras não são ção, deformando seu material, como
das menores, ocorrendo até uma indica a figura 13.
certa penetração de luz no material A contração do material da capa,
da capa externa, mas para muitas principalmente no caso do plástico,
aplicações os valores obtidos são também pode fazer com que a fibra se
aceitáveis. Esta passagem de luz do dobre obrigando assim a luz a formar
cerne para o material exterior acon- uma trajetória em hélice que é res-
tece principalmente nos modos de ponsável por perdas indesejáveis.
propagação de maior ordem, quando A adoção de um severo controle de
15 o ângulo de incidência nas paredes qualidade para o material empregado
(pontos de reflexão) é maior. na elaboração das capas dos fios é
Isso significa que a fibra deve a melhor solução para a obtenção de
ser usada com ângulos de abertura fibras com baixas perdas.
menores de modo a ser evitada, jus- Um problema importante que deve
tamente, a incidência de radiação ser previsto com a utilização de uma
em ângulos em que as perdas sejam capa que, por deformação aperta as
maiores. fibras, é o efeito que isso causa nos
Para estas fibras, as especifica- extremos.
ções de perdas são dadas em função O que acontece é que uma defor-
do ângulo de abertura segundo uma mação nas extremidades da fibra
característica não linear. dificulda seu acoplamento aos dispo-
sitivos externos como, por exemplo,
Fios e cabos os foto-receptores e foto-emissores,
Se bem que muitas fibras apre- observe a figura 14.
sentem uma resistência mecânica Técnicas especiais prevêem esta
considerável, sua utilização sem qual- deformação para a utilização de aco-
tubo central (cerne) que passará a ter quer tipo de proteção externa não é pladores especiais.
um índice de refração maior. interessante. Do mesmo modo que no caso
O tubo é posteriormente contraído A própria ação do meio ambiente, dos fios comuns, as fibras podem
de modo a formar a fibra óptica, con- contactos e choques mecânicos com ser agrupadas em cabos conforme
forme exibe a figura 11. outros objetos podem levar a fibra a mostra a figura 15.
Estas camadas são produzidas sofrer deteriorações, alterações de Os mesmos cuidados em rela-
passando gases pelo tubo, ao mesmo características ou ainda rompimento ção ao material, esforços mecânicos
tempo que ocorre um aquecimento. e danos. e deformações devem ser tomados
Pela variação dos constituintes destes Por isso, para as aplicações prá- de modo a se evitar problemas que
gases, tanto a região interna de maior ticas, as fibras são dotadas de capas afetem as características das fibras.
índice de refração como as capas protetoras semelhantes às usadas nos Observe a existência de um mate-
externas podem ser formadas. fios condutores de metal comuns. rial sólido de alta resistência mecâ-
Como a composição dos gases em Nas fibras do tipo PCS a proteção nica como suporte central para o
função dos dopantes pode ser modifi- externa pode ser a própria resina de cabo, o que permite um aumento de
cada de maneira praticamente contí- silicone. Esta mesma resina também sua resistência à tensão mecânica. f

12 Mecatrônica
MecatrônicaFácil
Fácilnnº38
º16- -Março
Maio 2008
2004
eletrônica
e
Sinalizador
incandescente
Chamar a atenção para uma placa de aviso ou ainda Newton C. Braga
para se tomar cuidado em um determinado local,
como por exemplo, uma saída de garagem é algo
que pode ser feito, por meio de uma lâmpada pis-
cante. Embora já existam estas lâmpadas prontas, a
freqüência ou o tipo de efeito não podem ser altera-
dos, o que leva a necessidade de um circuito próprio
em que o leitor possa fazer as devidas adequações. O
circuito que descrevemos usa poucos componentes e
e lâmpadas comuns de até 300 watts.

Lâmpadas piscantes podem Como funciona veremos nada além do acender contí-
ser usadas em projetos de mecatrô- A base do circuito é um oscilador nuo da lâmpada.
nica, robôs, para decoração de vitri- de relaxação com uma lâmpada néon. Dessa forma, as lâmpadas comuns
nes, junto a placas de aviso, e na Neste circuito o capacitor C1 carrega-se incandescentes só podem ser usadas
sinalização de portas de garagem. através do diodo D1, do resistor R1 e do neste circuito com uma freqüência
Outro tipo de aplicação é para festas potenciômetro até que seja alcançada máxima de algumas dezenas de hertz.
e bailes, onde conjuntos de diferentes uma tensão da ordem de 80 V que é a No nosso caso, temos o potenciô-
cores podem dar uma decoração dife- tensão de disparo da lâmpada néon. metro que permite ajustar a freqüên-
rente ao ambiente. Quando esta tensão é atingida, a cia entre alguns hertz e uma piscada
O circuito que apresentamos tem lâmpada néon conduz e o SCR dis- a cada 5 ou 10 segundos, conforme o
um controle total sobre a freqüência e para alimentando a lâmpada incan- valor do capacitor.
ainda, como grande vantagem, o fato descente em série. Como o circuito utiliza um SCR que
de poder operar com lâmpadas incan- O SCR permanecerá ligado é um controle de meia onda, usamos
descentes comuns. durante o tempo que o capacitor quatro diodos adicionais numa ponte
Na rede de 110 V ele pode con- demora para se descarregar através para obter o controle de onda com-
trolar até 300 watts de lâmpadas, e o da lâmpada néon até a tensão de pleta, e com isso piscadas de maior
dobro disso na rede de 220 V. manutenção. Esta é a tensão mínima intensidade.
com que a lâmpada pode se manter
Na sinalização de portas de garagem, em condução, apagando em seguida.
torres e viaturas é comum o uso de Este tempo é determinado em Montagem
lâmpadas de xenônio. O xenônio é um parte pelo resistor R2 que, então, Na figura 1 temos o diagrama
gás inerte que se torna condutor quando vai influir na duração da piscada e completo do aparelho de sinalização
uma tensão da ordem de 400 a 600 V lhe também na sua intensidade. A inten- com lâmpada incandescente comum.
é aplicada. Nestas condições, o gás passa a sidade é dada pelo fato da lâmpada
ter uma resistência muito baixa deixando em série precisar de alguns ciclos da A durabilidade de uma lâmpada incan-
passar uma corrente elevada. alimentação para poder ter seu fila- descente depende do número de vezes
Nos sinalizadores de xenônio, um mento aquecido ao máximo. que ela é acesa ou apagada, pois nesta
capacitor se descarrega rapidamente pela Se o pulso for muito curto, o fila- operação o filamento se dilata e contrai
lâmpada quando ela é disparada, produ- mento não se aquecerá o suficiente e rapidamente.
zindo um flash de luz de curta duração a piscada produzida será muito fraca. Isso significa que numa aplicação como
mas de alta potência. As lâmpadas de Por outro lado, a velocidade pisca-pisca ou pulsador, como neste caso,
xenônio, que também são usadas em fla- não podemos esperar que a durabilidade
máxima das piscadas (freqüência) é
shes de máquinas fotográficas, só podem da lâmpada seja a mesma do que quando
determinada pela inércia do filamento.
ser utilizadas para produzir pulsos de luz usada numa aplicação normal em ilumi-
de curta duração. Se não houver tempo para que o fila-
mento esfrie entre as piscadas, não nação.

Mecatrônica Fácil nº38 13


e eletrônica
A disposição dos componentes
Operando numa freqüência de mais de 10 Hz, a lâmpada não piscará de forma muito
acentuada mas “tremulará” dando um efeito de cintilação. Este efeito tem propriedades
em uma placa de circuito impresso é
hipnóticas e pode ser usado com finalidades médicas. Na verdade, a iluminação de um mostrada na figura 2.
ambiente com uma luz tremulante pode causar tonturas e nauseas. O SCR deve ter sufixo B se o apa-
relho funcionar na rede de 110 V, ou
sufixo D se operar na rede de 220 V. Em
1 ambos os casos este componente deve
ser montado num radiador de calor.
Os diodos podem ser 1N4004 para
a rede de 110 V e potências até 100
W. Para potências maiores devem ser
usados os 1N5404.
Para a rede de 220 V podem ser
usados os 1N4007 até 200 W, e os
1N5407 com potências acima de
200 W.
A lâmpada néon é comum e o
capacitor deve ter uma tensão de
isolamento de pelo menos 100 V. Os
demais componentes também são
usuais não oferecendo dificuldades
2 de obtenção.
O conjunto pode ser instalado
numa caixa plástica ou de outro mate-
rial, lembrando que todas as ligações
devem ser bem isoladas, já que o
aparelho trabalha conectado direta-
mente à rede de energia, e por isso
existe perigo de choques em caso de
contatos acidentais.
As lâmpadas podem ser ligadas
em paralelo e longe do aparelho, utili-
zando-se para isso fios apropriados.

Prova e uso
Para provar o aparelho basta ligar
na sua saída uma lâmpada incandes-
cente comum (branca ou de qualquer
cor) e alimentar o circuito. Ajusta-se,
então, o potenciômetro para se obter
as piscadas na frequência desejada.
Se as piscadas forem fracas ou
fortes demais pode-se alterar R2. Estef
componente pode assumir valores
entre 4,7 k ohms e 47 k ohms.
Lista de material: Da mesma forma, o capacitor pode
Semicondutores: Capacitor:
ter seu valor alterado entre 470 nF e
SCR - TIC106B ou D - diodo controlado C1 - 680 nF x 100 V - poliester 1μF conforme o efeito desejado.
de silício - ver texto Na verdade, na maioria dos proje-
D1a D4 - 1N4004, 1N4007, 1N5404 ou Diversos: tos estas alterações podem ser neces-
1N5407 - conforme a rede e a potência NE1 - NE-2H ou equivalente - lâmpada sárias para compensar as tolerâncias
- diodos de silício - ver texto néon dos componentes usados, permitindo
X1 - Lâmpada incandescente comum, con- ao montador que chegue ao desem-
Resistores: (1/8 W x 5%) forme a rede de alimentação, de qualquer penho desejado.
R1 - 10 k Ω cor - ver texto Comprovado o funcionamento do
R2 - 22 k Ω Placa de circuito impresso, radiador de aparelho é só fazer a instalação defini-
R3 - 47 k Ω calor para o SCR, soquetes para as lâmpa- tiva. Não ultrapasse nunca a potência
P1 - 220 k Ω ou 470 k Ω - potenciômetro das, cabo de força, botão para o potenciô- máxima recomendada e nem utilize
metro, fios, solda, etc. lâmpadas fluorescentes ou mistas. f

14 Mecatrônica Fácil nº38


montagem m

Pequeno inversor
para fluorescentes
Pequenas lâmpadas fluorescentes podem ser usadas Newton C. Braga
para efeitos especiais em montagens mecatrônicas
como robôs, braços, e outros. No entanto, essas lâm-
padas, apesar de seu baixo consumo, têm um incove-
niente: precisam de alta tensão para funcionar.
Para obter essa alta tensão a partir de baterias, é
preciso usar um inversor. Assim, descrevemos a mon-
tagem de um circuito inversor que, a partir de ten-
sões de 6 a 12 V pode gerar centenas de volts com
uma potência de alguns watts.

O circuito inversor que Também podem ser usadas induzem no enrolamento primário
apresentamos não é indicado para a pequenas lâmpadas utravioleta, da uma tensão que pode variar entre 200
alimentação de eletrodomésticos ou mesma faixa de potência, para gerar e mais de 400 V, mesmo que o trans-
eletrônicos a partir de pilhas ou bate- efeitos especiais de iluminação em formador seja de 110 V ou 220 V.
ria. Sua freqüência não é controlada um robô, ou ainda dotá-lo de um sis- O que acontece é que a especifica-
(60 Hz) e a forma de onda do sinal tema de visão noturna. ção 110 V ou 220 V é válida quando a
produzido não é senoidal. tensão aplicada é senoidal de 60 Hz.
Entretanto, ele serve para aplica- Como este circuito gera sinais retan-
ções mais simples onde se neces- Como Funciona gulares, as transições rápidas podem
site de uma alta tensão na faixa de O sinal pulsante necessário à exci- induzir tensões mais elevadas.
200 a 400 V, obtida a partir de pilhas tação do transformador elevador de Temos, então, uma alta tensão
comuns ou da bateria de um automó- tensão é gerado por um oscilador com suficiente para ionizar o gás de uma
vel. Dentre as aplicações possíveis base numa das portas do circuito inte- lâmpada fluorescente ou causar um
para este circuito podemos citar: grado 4093. A freqüência deste sinal é forte choque em quem se submeter
• Acendimento de lâmpadas flu- determinada basicamente por C1 e R1. a sua ação. Evidentemente, a potên-
orescentes a partir da bateria do Será interessante alterar R1 na faixa cia do circuito é baixa, da ordem de
carro ou de pilhas de 10 k ohms a 100 k ohms para se alguns watts, o que significa que a
• Sistemas de iluminação de obter a freqüência que dê melhor ren- lâmpada fluorescente não irá brilhar
emergência com lâmpadas fluo- dimento com o transformador usado. com a máxima intensidade.
rescentes O sinal retangular gerado por este O circuito funciona tanto com
• Sinalização oscilador é amplificado digitalmente tensões de 6 V como 12 V. Eviden-
• Geração de alta tensão para um pelas outras três portas do circuito temente, a potência será maior com
eletrificador portátil integrado 4093, que são ligadas como uma alimentação de 12 V.
buffers/inversores em paralelo.
A base do projeto é um circuito A saída das três portas amplifica-
integrado 4093 e os poucos compo- doras excita diretamente a base de Montagem
nentes utilizados tornam-no bastante um transistor Darlington de potência, Na figura 1 temos o diagrama
acessível. As lâmpadas fluorescentes que tem por carga o enrolamento de completo do inversor.
de 4 a 10 W, mesmo aquelas que já baixa tensão de um pequeno transfor- A disposição dos componentes
estão fracas demais para funcionar mador de força. em uma placa de circuito impresso
na rede de energia, acendem quando Desta forma, os sinais amplifi- é mostrada na figura 2.Os leitores
ligadas na saída deste inversor. cados, aplicados ao transformador, que desejarem uma montagem expe-

Mecatrônica Fácil nº38 15


m montagem
rimental, podem usar uma matriz de Prova e Uso assim como uma espécie de “arma”.
contatos. Para provar o circuito basta conec- O choque, entretanto, é inofensivo, se
O transistor de potência deve ser tar uma lâmpada fluorescente em sua bem que desagradável, dada a baixa
dotado de um pequeno radiador de saída e alimentá-lo. Depois, encontre corrente do circuito.
calor. o valor de R1 que resulte no maior Observe que a cerca deve ser iso-
O transformador pode ser de qual- brilho. Um trimpot de 100 k ohms em lada, pois qualquer fuga faz com que
quer tipo com enrolamento primário série com um resistor de 2,2 k ohms a tensão caia e, com isso, a intensi-
de 110 V ou 220 V, e secundário com permite um ajuste de rendimento dade do choque fique reduzida.
tensões de 6 a 12 V e corrente de melhor. Para um funcionamento prolongado
200 a 400 mA. Veja que a tensão do Para usar o circuito como eletrifi- deve ser utilizada bateria de boa capa-
secundário não precisa ser necessa- cador, conecte o enrolamento de alta cidade ou pilhas alcalinas grandes. Se
riamente a usada na alimentação. tensão de acordo com a figura 3. usar fonte de alimentação, ela deve ser
Para a conexão à lâmpada flu- Em um robô, o circuito pode ser isolada da rede de energia, ou seja,
orescente deve ser usado fio enca- usado para excitar dois eletrodos que deverá ter transformador e uma capa-
pado, porque um toque pode causar darão um ‘choque” nas pessoas que cidade de pelo menos 800 mA.
choques desagradáveis. forem tocadas por ele, funcionando f

1 3

2
Lista de material:

Semicondutores:
CI1 – 4093 – circuito integrado CMOS
Q1 – TIP120 – Transistor NPN Darlington
de potência

Resistores: (1/8 W, 5%)


R1 – 47 k Ω – amarelo, violeta, laranja (ver
texto)
R2 – 2,2 k Ω – vermelho, vermelho, ver-
melho

Capacitores:
C1 – 220 nF – cerâmico ou poliéster
C2 – 100 μF x 16 V – eletrolítico

Diversos:
T1 – Transformador – ver texto
X1 – Lâmpada fluorescente de 3 a 10 W

Placa de circuito impresso, pilhas ou


bateria, radiador de calor para o transistor,
fios, suporte de pilhas, caixa para monta-
gem, solda, etc.

16 Mecatrônica Fácil nº38


dispositivos
d
Controle de
Motor de Passo Wellington Rocha Domingos
O motor de passo é um dispositivo muito usado em
robótica para a movimentação de robôs e de outros
dispositivos mecatrônicos.
Este artigo traz um circuito simples capaz de con-
trolar um motor de passo sem a necessidade do
emprego de microcontroladores, que pode ser uti-
lizado por professores em salas de aula, ou mesmo
em projetos para feiras de ciências.

O motor de passo se carac- onde são introduzidos os sinais elé- 1


Sinais elétricos gerados pelo circuito
teriza pela capacidade de gerar força tricos, e os outros dois são ligados
e velocidade através de sinais elétri- ao positivo da bateria. Na figura 1
cos adicionados em suas bobinas. temos os sinais elétricos gerados
Em muitas aplicações ele dispensa pelo circuito.
até mesmo o uso de engrenagens ou Observe que são usados dois
caixas de redução. sinais em cada pulso gerado por
Nosso circuito utiliza um motor um pino do 4017. Nosso circuito
de passo de seis fios, sendo que utiliza quatro pinos do 4017 como
quatro desses são das bobinas, saídas para os sinais gerados pelo

2
Esquema elétrico

Mecatrônica Fácil nº38 17


dispositivos
d
3 555. Essa quantidade é dobrada por é porque sua fonte de alimentação
Circuito para a ligação do motor
conta da configuração de resistores está desligada, mas também há
e diodos e, dessa forma, para cada casos em que as bobinas deixam
quatro pulsos gerados pelo 4017 de gerar os sinais elétricos, o que
através de Q0, Q1, Q2 e Q3 temos faz com o que motor fique desli-
oito sinais elétricos que controlam o gado.
motor. Parado - Quando o motor de
Os três estados de um motor de passo estiver parado é porque
passo são as seguintes: apenas uma bobina está energi-
Desligado – Geralmente, quando zada, o que é bastante favorável
o motor de passo estiver desligado em muitas aplicações, uma vez
que o motor fica parado em um
4 ponto fixo sem se mover.
Layout da placa de circuito impresso
Rodando - Quando o motor estiver
girando é porque as bobinas estão
sendo energizadas em intervalos
de tempos sucessivos, fazendo
com que o motor gire.

O Circuito
O circuito do nosso projeto está
apresentado na figura 2. Seu coração
é o famoso NE 555, responsável pela
produção dos sinas que são incididos
na entrada CLK do 4017.
A configuração astável do 555
não pode ser alterada, pois ela foi
feita para atuar no projeto de maneira
a funcionar corretamente. A multipli-
cação de cada pulso é feita através
de dois diodos de sinais ligados em
série com os resistores. O ULN 2003
é um driver para motor de passo e
sem ele não seria possível controlar
o motor, mas é possível substituí-lo
pelo ULN 2803 que também exerce
a mesma função. A diferença é que
ele posui 18 pinos, ao passo que o
ULN 2003 posui apenas 16. Dessa
forma, será preciso modificar o
layout da placa de circuito impresso
ou montá-lo em uma matriz de con-
tatos.
O circuito para a ligação do motor
de passo é mostrado na figura 3.
Trata-se de um conector do tipo
barra pino, mas caso o mesmo não
seja encontrado no mercado, o
leitor poderá soldar os fios do motor
diretamente na placa de circuito
impresso.

Placa de circuito impresso


A montagem em placa de circuito
impresso (PCI) é exibida na figura 4,
o leitor deve tomar muito cuidado ao
montar o circuito, a placa é de face
simples e pode ser confeccionada

18 Mecatrônica Fácil nº38


dispositivos
d
sem nenhum problema, basta apenas Quando um sinal sai por Q1 ele Lista de materiais:
ter bastante calma e paciência nessa passa pelo resistor R3 e depois é divi-
Semicondutores
hora, tome cuidado ao soldar os com- dido em dois através dos diodos D1
CI1 - NE555 - temporizador
ponentes polarizados, (seria bom e D2. A seguir, ele é introduzido em
CI2 - CD4017 - contador de década
começar por estes), em seguida solde duas entradas do 2003 que, por sua CI3 - ULN2003 - driver para motor de
os jumpers e por último componentes vez, é direcionado para as bobinas do passo
simples como resistores e semicon- motor, impulsionando-o a girar e isso CI4 - LM7805 - regulador de tensão
dutores. Seria bom colocar soquetes vai acontecendo constantemente sem D1 a D8 - 1N4148 - diodo de silício
nos CIs, pois o leitor poderá utilizá-los parar. D9 - 1N4007 - diodo retificador
mais tarde em outra aplicação. Para aumentar a velocidade e o LED1 - diodo emissor de luz verde, de 5
torque do motor basta apenas trocar mm
o capacitor C3 por outro de mesmo
Como funciona valor mas que tenha capacidade de Resistores
Antes de ligar o circuito, verifique 220 V como, por exemplo, o de 100nF R1 – 47k Ω (amarelo, violeta e vermelho)
se está tudo em ordem e a seguir, x 220V-poliéster ou cerâmico. Não uti- R2 – 560 Ω (verde, azul e marrom)
ligue-o em uma alimentação de 12 lize capacitor eletrolítico pois o motor R3 a R6 – 330 Ω (laranja, laranja e marrom)
V. Quando o LED acender, imedia- vai tremer. R7 – 1 kΩ (marrom, preto e vermelho)
tamente o motor vai começar a girar.
Capacitores
Para que o motor gire no sentido con-
C1 – 100 mF x 16V - eletrolítico
trário basta inverter os fios das bobi- Conclusão C2 – 10 mF x 16V - eletrolítico
nas. O que acontece é que quando o A idéia deste artigo foi trazer aos C3 – 100 nF - cerâmico ou poliéster
555 envia um sinal para o 4017, ele é iniciantes de Eletrônica uma breve
reproduzido nas saídas e a cada sinal teoria sobre os motores de passo. Diversos
enviado pelo 555, o 4017 os organiza Em edições futuras mostraremos M1 - motor de passo de seis fios
em fila, fazendo com que cada um outros circuitos para controlar moto- B1 – 12 V - bateria ou fonte externa
venha a sair pelos pinos Q0, Q1, Q2, e res de passo, CC, servos e outros. CN1 - conector tipo barra pino de seis
Q3, um de cada vez e um sinal nunca Uma boa montagem e até a pró- pinos
volta para o pino anterior sem que ele xima!
passe pelo último pino de saída. f Solda, placa (PCI), fios, soquetes para CI e etc.

Mecatrônica Fácil nº38 19


1 2
dispositivos
d

conseguido ligando-se uma fonte de


corrente contínua conforme indica a
figura 5.
Essa fonte faz circular a cor-
rente de carga pela bateria ou pilha
durante um certo intervalo de tempo.
No entanto, não é qualquer fonte que
2, e também na pequena diferença de ela, não se conseguindo a carga com- pode ser ligada às pilhas que vão ser
tensão existente. pleta, veja a figura 4. recarregadas.
Se o circuito alimentado não for As baterias modernas não têm A corrente de carga deve ter uma
muito crítico quanto à tensão de ali- este problema, mas deve-se tomar intensidade perfeitamente controlada.
mentação, não teremos nenhum pro- cuidado quando se faz sua recarga. Uma corrente muito intensa provo-
blema em fazer a substituição. Isso é cará o aquecimento e até explosão da
especialmente válido quando alimen- A Carga pilha ou bateria. Uma corrente fraca,
tamos motores. As baterias e pilhas recarregáveis por outro lado, exigirá um tempo longo
Podemos observar que enquanto são recarregadas fazendo-se circular de carga.
uma célula típica alcalina ou seca uma corrente em sentido oposto ao Assim, os carregadores que são
fornece algo em torno de 1,5 a 1,6 V da corrente que ela fornece. Isso é vendidos juntamente com as pilhas
quando completamente carregada, as
células de Nicad têm uma tensão um 3
pouco maior do que 1,2 V.
Esse problema pode exigir um
pouco mais de cuidado quando subs-
tituímos uma bateria comum de 9 V
por uma de Nicad.
Conforme ilustra a figura 3, a
bateria de 9 V é formada por seis
células de 1,5 V em série. Ora, seis
células de 1,2 V de Nicad fornecem
apenas 7,2 V, portanto, a bateria
típica de Nicad de 9 V fornece apenas
7,2 V quando carregada.
Existem, entretanto, baterias que
são formadas por sete células e estas
fornecem 8,4 V, sendo assim as mais
recomendadas para as aplicações
que não aceitam uma alimentação de
apenas 7,2 V.

Efeito Memória 4 5
Um problema comum em algu-
mas baterias de Nicad, bem conhe-
cido por quem possui telefone
celular com baterias de gerações
antigas, é o denominado efeito
memória.
Se uma bateria não for comple-
tamente carregada e depois usada
na recarga seguinte, ela “memoriza”
a carga anterior e volta somente até

Mecatrônica Fácil nº38 21


dispositivos
d
10 11

Para outras pilhas e bateria, consi- 12


derando-se as correntes recomenda-
das é possível agregar mais resistores
e uma chave seletora, obtendo o cir-
cuito completo do carregador apre-
sentado na figura 10.
Mas, o melhor mesmo na elabo-
ração de um carregador mais sofisti-
cado, é utilizar um circuito integrado
regulador como fonte de corrente
constante. Isso pode ser feito com
base no circuito integrado LM350T,
veja a figura 11.
Esse circuito integrado possui um
diodo zener interno de 1,25 V que
serve para fixar a tensão de saída.
Porém, se formos ligar da forma
indicada nesta figura ele passará a
se comportar como um regulador de
corrente ou fonte de corrente cons-
tante. 13
O valor do resistor é calculado
dividindo-se 1,25 (que é a tensão do
diodo zener, pela corrente que dese-
jamos na carga. Assim, para 100 mA,
esse resistor será:

R = 1,25/0,1 = 12,5 ohms

Isso nos leva a um carregador com- f


pleto em que selecionamos os resisto-
res de acordo com o tipo de bateria a
ser recarregada. O circuito desse car-
regador é exibido na figura 12.
Na sua montagem, lembramos
que o circuito integrado regulador de
tensão deve ser dotado de um radia-
dor de calor. Uma placa de circuito
impresso é mostrada na figura 13.
Para a recarga dos diversos tipos
de pilhas e baterias devem ser usados
suportes e conectores apropriados.
f

Mecatrônica Fácil nº38 23


r robótica

Octa-I
O robô que
desvia de obstáculos

Nesta seção nossos leitores terão a oportunidade de


conhecer alguns artigos de sucesso já publicados
na revista Mecatrônica Fácil. Para quem não teve
a chance de conferir alguns artigos que marcaram
história nesta revista esta é hora! Aqueles que já
leram terão a oportunidade de rever seus conheci-
mentos. Esta edição apresentamos o robô Octa-I,
publicado na edição nº 1 que encontra-se esgotada.

Octavio Nogueira
Octa-I é um robô capaz de possível constatar nos dias de hoje,
desviar de obstáculos. Ao se deparar por exemplo, o nível de automação
com um obstáculo ele pára, dá um nas indústrias que cada vez mais
giro de 45° e segue em frente, até utilizam robôs na linha de produção
encontrar um novo obstáculo. Isto de seus produtos. Estes robôs não
permite que ele possa, por exem- se parecem com os que vemos nos
plo sair de dentro de um labirinto. O filmes de ficção científica onde, nor-
melhor de tudo isto é que ele é um malmente, se movimentam e, invaria-
robô que você mesmo pode cons- velmente, acabam por querer dominar
truir. o mundo. Se este tipo de coisa acon-
A Mecatrônica é um campo do tecerá (ou não) nós não sabemos,
conhecimento humano que tende a mas o que sabemos é que se quiser-
crescer muito nos próximos anos. É mos ter o controle da situação e um

24 Mecatrônica Fácil nº38


robótica r
bom emprego no futuro, devemos 1
Representação e aspecto dos servo-motores
começar desde já a aprender como
um robô funciona e como fazer para
programá-lo.
Nos Estados Unidos existem
diversas competições de robôs e as
escolas montam diversos times para
competir entre si, e os melhores são
mandados para competições estadu-
ais e nacionais. Infelizmente aqui no
Brasil ainda não temos nada que se
compare a isto, mas se não começar-
mos logo, iremos ficando cada vez
mais deslocados. O Octa-I, o robô
descrito neste artigo, poderia servir
de base para uma competição seme-
lhante ao que vemos lá.
Este artigo o permitirá construir
um robô com as seguintes caracterís-
ticas:
• Sistema motriz: Dois servomo-
tores com velocidade variável e 2
Pulsos de controle dos servos-motores
inversão do sentido de giro;
• Sensor: O sonar, que permite
determinar a distância que o
robô está de um objeto. Com este
sensor o robô pode se movimen-
tar desviando de obstáculos;
• Microcontrolador: É a parte
principal do robô, pois é onde as
informações dos sensores serão 3
Sonar
avaliadas e onde serão tomadas
as decisões;
• Alimentação; Fornece energia
para o robô se movimentar.

A seguir serão explicados com


mais detalhes os ítens acima:

Sistema motriz
O Octa-I possui dois servomoto-
res. Eles se diferenciam dos motores
normais, pois permitem que a veloci-
dade seja variada através do tamanho Nós não precisamos enviar pulsos 4
O Basic Step 2K
dos pulsos que são enviados, veja a de 1 ms e 2 ms. Quaisquer valores
ilustração na figura 1. entre estes limites farão o motor se
Eles possuem três terminais, mover, por exemplo se quisermos
sendo: terra, alimentação de 5 V e fazer o robô se mover lentamente
controle. O sinal de controle é um para frente, poderíamos enviar pulsos
trem de pulsos com duração entre de 1,6 ms e se quisermos que o robô
1 ms e 2 ms e um período de 10 vire, mandamos pulsos de 1,6 ms para
ms, ou seja, pulsos de 1 ms a 2 ms um motor e 1,4 ms para o outro. Com
com um intervalo entre eles de 10 estas durações de pulsos, um motor
ms, conforme mostra a figura 2. vai se mover lentamente para frente e
Quando o pulso tem 1,5 ms o motor o outro lentamente para trás.
está parado, quando tem 1 ms o Um aspecto importante a lembrar
motor gira a velocidade máxima em é que o motor precisa receber um
um sentido e quando está em 2 ms, pulso a cada 10 ms para continuar
gira a velocidade máxima no outro se movimentando, se pararmos de
sentido. mandar pulsos ele pára.

Mecatrônica Fácil nº38 25


r robótica

Sensor bater em um obstáculo e retornar. Imagine que o seu robô está par-
O sonar (figura 3) é um dos sen- Assim que retornar, o módulo do sonar ticipando de uma competição onde
sores mais interessantes, pois faz com calcula o tempo que o pulso levou para ele tem que sair de um labirinto, se
que o robô “saiba” a distância que está ir e voltar. Como sabemos a velocidade estivesse usando um sensor óptico
de um objeto, permitindo com isto que do pulso e o tempo que ele levou para ele teria que andar até encontrar uma
ele desvie e não colida com o mesmo. ir e voltar, é possível calcular a distân- parede e então ir seguindo a parede
O funcionamento do sonar é o cia que ele percorreu. até achar uma porta e seguir este
seguinte: ele envia um pulso ultra- A diferença deste sensor para os processo para caminhar pelo labirinto.
sônico muito curto e fica esperando o outros que detectam obstáculos, como Utilizando o sonar ele poderia fazer
seu retorno. O pulso vai viajar a uma os ópticos, é que o sonar nos permite um giro de 360 graus sobre o seu
velocidade aproximada de 340 m/s, saber a distância exata do obstáculo. eixo, fazendo medições de distância

A estrutura de plástico do Octa-I


O nosso protótipo foi construído em um livre). Observe a montagem da roda no Com base nessas informações use sua
chassi de dois níveis: inferior com os dois servomotor ilustrado na figura A. criatividade, você poderá usar muitos
redutores e a roda livre e superior com os Distribuímos as rodas de modo a formar materiais diferentes para a construção
circuitos eletrônicos e a caixa de pilhas. com elas um triângulo quase eqüilátero, do chassi tais como: chapas metálicas
Os materiais utilizados foram chapa de plás- de acordo com a figura B. Isso facilita a diversas, eucatex, madeira compensada
tico estireno de 2 mm e chapa de acrílico mobilidade do robô e os circuitos na parte fina, etc.
transparente de 2 mm. A escolha de um elevada ficam com o acesso mais fácil, além Tenha sempre em mente uma construção
chassi com essa configuração se deu com de se conseguir uma melhor “leitura” dos compacta e firme, de especial atenção ao
o intuito de obter uma melhor distribuição sensores com uma maior distância deles alinhamento do sistema motriz e proteja
de peso sobre uma base de três apoios (as em relação ao solo.Veja na figura C deta- os circuitos do pó com uma tampa ou
duas rodas motrizes dos redutores e a roda lhes da montagem do chassi do Octa-I. cobertura, bom trabalho e divirta-se!

A
Montagem da roda no servomotor

B
Vista superior trasiera do Octa-1

C
Mais alguns detalhes da montagem do chassi do Octa - 1

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robótica r
à medida que girasse e, após isto, 5
Tela do Bascon
saberia em qual sentido deveria se
mover para passar pela porta.

“Cérebro” ou
processador central
Um dos grandes problemas de
quem quer começar a aprender ou
se aprofundar em robótica é ter que
aprender a linguagem de programa-
ção do robô. Hoje existem diversas
linguagens, cada uma com suas van-
tagens e desvantagens. Para este
robô nós escolhemos utilizar o micro-
controlador BASIC Step 2K, conforme
mostra a figura 4.
Este é um poderoso microcontro-
lador com 2048 bytes de memória
flash que possui 15 entradas/saídas conceitos básicos de um robô moto- Para facilitar o nosso trabalho,
e pode ser programado em BASIC. O rizado. Os tópicos aqui apresentados podemos escrever algumas rotinas
BASIC é uma linguagem muito fácil de podem ser aplicados para outros tipos para automatizar este processo:
se aprender e ao mesmo tempo pode- de robôs e este robô básico pode ser
rosa. Esta linguagem possui todas as ampliado com o acréscimo de outros Rotina para fazer os motores para-
características das linguagens de alto sensores e dispositivos. rem:
nível como C e Pascal, com a van- Sub Para()
tagem de ser muito mais fácil de se Compilador Servo(1) = 30
aprender. A Microsoft fornecia a lin- O programa precisa ser escrito e Servo(2) = 30
guagem QBASIC junto com o DOS, compilado antes de ser gravado no End Sub
antes da introdução do Windows e, microcontrolador do robô, para isto
provavelmente, considerável parte usamos o compilador Bascom. Ele é Faz o robô se mover para frente
dos leitores já programou alguma vez um ambiente completo de desenvol- com velocidade determinada por v:
em QBASIC. Pois bem, o BASIC utili- vimento para os microcontroladores Sub Frente(v As Byte)
zado pelo BASIC Step 2K é pratica- BASIC Step 2K. Ele possui o editor Servo(1) = 30 - V
mente idêntico ao QBASIC. de texto, compilador, simulador, gra- Servo(2) = 30 + V
Outros problemas com os micro- vador e arquivo de ajuda com todos End Sub
controladores são a necessidade de os comandos explicados. A figura 5
um gravador, geralmente caro, e a sua acima mostra a sua aparência. Faz o robô se mover para trás:
disponibilidade no mercado nacional. Como dissemos anteriormente a Sub Re(v As Byte)
Pois bem, o BASIC Step 2K é de fabri- linguagem utilizada é o BASIC, uma Servo(1) = 30 + V
cação nacional e o seu gravador é um linguagem muito fácil de se aprender Servo(2) = 30 - V
simples cabo ligado a porta paralela e com muitos recursos. End Sub
do PC. O compilador onde escreve- O Bascom é especialmente indi-
mos o código fonte é totalmente ami- cado para o nosso robô pois já possui Faz o robô virar para a direita:
gável e integrado com o gravador, nos em suas bibliotecas, comandos para Sub Direita(v As Byte)
permitindo fazer simulações e emula- controle dos motores, leitura dos sen- Servo(1) = 30 - V
ção antes de gravarmos o microcon- sores de ultra-som, etc. Servo(2) = 30 - V
trolador. Ele possui em sua biblioteca A primeira coisa a fazer em nosso End Sub
diversas funções úteis já prontas para programa é configurar os servos com
uso tais como escrita em display LCD, o seguinte comando: E para a esquerda:
comunicação serial, I2C e 1WIRE. E o Sub Esquerda(v As Byte)
melhor, é gratuito. Config Servos = 2 , Servo1 = Servo(1) = 30 + V
Todas as informações sobre o Portb.0 , Servo2 = Portb.1 , Servo(2) = 30 + V
microcontrolador BASIC Step 2K, Reload = 50 End Sub
assim como o compilador para down-
load estão disponíveis no site http:// Este comando diz ao compilador Estas rotinas são chamadas pelo
www.tato.ind.br. que teremos dois servos ligados as programa principal a medida do
Gostariamos, de deixar claro que saídas Pb0 e Pb1. Para fazermos os necessário, um exemplo de programa
este artigo é apenas um ponto de par- motores se moverem basta executar- simples seria fazer o robô se mover
tida para o que pode ser um grande mos o seguinte comando: Servo(1)=20 para a frente por 2 segundos, parar,
projeto, já que estamos estudando os ou servo(2)=20. se virar para a direita e se mover por

Mecatrônica Fácil nº38 27


r robótica

6 mais 2 segundos. O programa ficaria


Montagem da placa-suporte do Basic Step 2k
assim:

Call Frente(5)
Wait 2
Call Para()
Call direita(3)
Wait 1
Call Para()
Call Frente(5)
Wait 2
Call Para()

Como pode ser visto por este


pequeno programa - exemplo, a lingua-
7 gem é bem simples e com a ajuda de
Esquema elétrico da montagem
sub-rotinas podemos programar o robô
em uma linguagem quase coloquial.

Montagem:
Para a montagem deste robô você
vai precisar de:

1 microcontrolador BASIC Step 2K


2 servomotores modificados para
rotação contínua com pneus.
1 módulo sonar
1 capacitor de 100 µF x 16 V
1 suporte para 4 pilhas pequenas.
1 base de montagem
1 diodo 1N4004 ou 1N4007
fios de ligação.
8
Montagem das placas no chassi do robô

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robótica r
Tabela 1 - Pinagem do Basic Step 2K
1 – VIN – tensão de alimentação (7,5V a 15V)
2 – GND – terra
3 – TX – saída do sinal serial RS-232
4 – RX – entrada do sinal serial RS-232
5 - +5V – este pino pode servir como saída de tensão regulada de 5V ou como entrada
de alimentação de 5V, neste caso, não utilizamos o pino VIN
6 – PD6 – dados de entrada e saída
7 – PD5 – dados de entrada e saída
8 – PD4 – dados de entrada e saída
9 – PD3 – dados de entrada e saída
10 – PD2 – dados de entrada e saída
11 – PD1 – dados de entrada e saída
12 – PD0 – dados de entrada e saída
13 – PB7 – dados de entrada e saída
14 – PB6 – dados de entrada e saída
15 – PB5 – dados de entrada e saída
16 – PB4 – dados de entrada e saída
17 – PB3 – dados de entrada e saída
18 – PB2 – dados de entrada e saída
19 - PB1 – dados de entrada e saída
20 – PB0 – dados de entrada e saída

Pinagem do BASIC Step 2K saída ao pino 18 (PB2) do BASIC


Como a parte principal do robô Step 2K.
é o seu microcontrolador de con- 4. Ligue o terra do suporte de pilhas
trole, iremos descrever a pinagem do ao terra do BASIC Step 2k (pino 2)
mesmo, veja que nem todos os pinos 5. Ligue o terminal positivo do
serão usados neste robô. O BASIC suporta de pilhas ao anodo do
Step 2K é muito potente com diversos diodo e o catodo do mesmo ao pino
periféricos, tais como comunicação 5 do BASIC Step.
serial RS-232, etc, e diversos destes
periféricos não serão usados neste Com isto terminamos as ligações
projeto. elétricas e agora nosso robô precisa
A pinagem do Basic Step 2K é de um programa para executar. A
mostrada na tabela 1. programação, como vimos anterior-
Como podemos ver temos dis- mente, é feita através compilador
ponível 15 linhas de entrada/saída à Bascom.
nossa disposição, neste robô usare- Após o programa ter sido compi-
mos duas saídas para os motores e lado sem erros, conectamos o cabo
uma entrada para o sonar. Na figura de gravação e transferimos o pro-
6 visualizamos a montagem da placa- grama para o microcontrolador.
suporte do Basic Step 2K. O site da Tato Equipamentos Ele-
O esquema elétrico, com suas trônicos é www.tato.ind.br, onde
respectivas ligações, estão represen- você pode adquirir todos os compo-
tadas na figura 7. nentes necessários para a montagem
Os principais passos a serem elétrica do seu robô bem como o com-
seguidos são: pilador e programas de exemplo para
1. Ligue o fio de controle do motor testar o seu robô.
direito ao pino 20 (PB0) e o fio de f
controle do motor esquerdo ao pino
19 (PB1) www.mecatronicafacil.com.br
2. Ligue os fios de alimentação e No site da revista é possível acessar:
terra dos dois motores ao suporte • código fonte;
de pilhas tomando o cuidado para • desenho da vista superior do Octa - I
não inverter a polaridade. • desenho da vista frontal do Octa - I
3. O sonar precisa de 3 ligações,
ligue o fio +5V ao pino 5 do BASIC
Step 2K, o fio G ao terra e o fio de

Mecatrônica Fácil nº38 29


r robótica

Como projetar

um robô?
Aprenda a projetar o seu a partir de
algumas dicas importantes – parte 1

O final do semestre se aproxima e os projetos de con-


clusão de curso e outros começam a ser solicitados
pelos professores. Para muitos leitores ainda não é a Márcio José Soares
hora de pensar nisso, mas os mais atentos sabem que
o quanto antes se inicia um projeto, maiores são as
chances de sucesso no mesmo, uma vez que o tempo
será seu maior aliado e não seu principal inimigo.
Se o leitor se enquadra no time dos “atentos” e seu
projeto é um robô (seja lá qual for o tipo) que tal
começar a pensar no assunto? Nesta primeira parte
do artigo serão passadas algumas dicas práticas que
facilitarão o projeto e execução do seu robô.

A proposta melhor que se deparar com um pro- for montar um robô para participar de
Como foi dito no início deste blema para motivar o aprendizado! Se uma prova de “mini-sumso”, não vai
artigo, a proposta é passar algumas o leitor tem alguma dificuldade, é hora precisar de um sensor para ler a pres-
dicas que poderão servir de “base” de estudar! são atmosférica local! Certo?! Basi-
para muitos projetos de robôs. Assim camente os sensores que o leitor vai
o leitor poderá usufruir destas para a precisar serão utilizados para detec-
construção de seu próprio robô. Não Definindo a função tar as linhas limitadoras da arena e a
serão tratados os “cálculos” envolvi- principal do robô localização do adversário.
dos, já que este artigo pretende ser Antes de começar a pensar em Agora se o robô não irá participar
uma parte complementar à sala de quantos e qual tipo de motor será de nenhuma prova, muito provavel-
aula. usado, que microcontrolador (se for mente o leitor não tem regras e especi-
Projetar um robô não é tarefa mesmo necessário), a quantidade e tipo ficações previamente definidas. Neste
das mais simples. São necessários de sensores, etc, é melhor pensar na caso, o leitor deverá determinar quais
bons conhecimentos em eletrônica, função principal do seu robô. É a tarefa serão estas. E ao fazê-las procure ser
informática e mecânica, além de que o robô realizará (ou o conjunto das bastante objetivo. Determine a função
conhecimentos no uso de algumas fer- mesmas) que determinará tudo isso. principal através de uma única pala-
ramentas. Sem isso, com toda a cer- É momento de parar e pensar a res- vra ou termo que possa identificar sua
teza, seu robô poderá ficar “falho” em peito. E se seu trabalho for em grupo, principal função como, por exemplo:
alguma parte. Porém, considere que melhor ainda. Várias cabeças “focadas” robô de segurança, robô bombeiro,
o leitor fez todas as “lições de casa” pensam melhor que uma! Reuna-se robô jardineiro, etc. Desta forma fica
e realizou todos os “estudos” solici- com seus amigos e determinem juntos bem mais simples determinar todos
tados por seus professores. E caso qual a tarefa principal do robô. os elementos necessários para reali-
ele ainda acredite ter poucos conhe- Se o robô for utilizado em alguma zar a tarefa proposta.
cimentos em uma das áreas citadas, competição, por exemplo, a primeira Um outro detalhe importante sobre
nada de desanimar ok! Não é assim coisa a ser feita é ler na regra da prova a função principal, diz respeito às sub-
que se deve encarar uma dificuldade! quais tarefas devem ser realizadas tarefas. Estas podem ser encaradas
É hora de aprender e para isso, nada pelo robô. Por exemplo, se o leitor como um conjunto de pequenas sub-

30 Mecatrônica Fácil nº38


robótica r
funções que culminam na principal. Em ambos os casos os robôs E para o robô de segurança tome
No exemplo do robô bombeiro, sua não seriam totalmente autônomos. como base os seguintes elementos:
principal tarefa será extinguir uma Porém é necessário compreender • elementos de locomoção;
chama ou foco de incêndio (tome isso que apesar de alguns sistemas não • elementos auxiliares para a nave-
como exemplo de função). Mas para estarem embutidos nos robôs, estes gação pelo ambiente;
extinguir uma chama ele primeiro pre- fazem parte do mesmo e devem ser • elementos de localização de intru-
cisa localizá-la e locomover-se até a tratados como tal. Geralmente, os sos (sensor);
mesma. Assim, utilizando estas outras robôs autônomos são os mais reco-
duas sub-tarefas podemos montar um mendados aos iniciantes, pois é mais
pequeno diagrama de blocos, como fácil compreender e executar os sub- 1
Diagrama de blocos para as sub-
mostra a figura 1. sistemas de maneira “localizada” tarefas do robô bombeiro
Já para um robô de segurança, as (embutida no robô).
sub-tarefas principais seriam a sua
locomoção, busca por intrusos e
ativação do alarme. Veja na figura 2 Definindo os elementos
um possível diagrama de blocos para necessários ao robô
determinar as principais sub-tarefas Agora que o leitor já determinou
do robô de segurança. a tarefa principal do seu robô e suas
O leitor deve ter notado que os sub-tarefas e como as mesmas serão
diagramas são bem simples. Quanto executadas, é hora de pensar nos
mais simples for o diagrama que deter- elementos (ou sistemas) principais
mina as tarefas do seu robô, maiores ao projeto. Porém, antes é preciso
serão as chances de sucesso com entender que não serão determinados
o mesmo. Procure não complicar. quais serão os componentes eletrôni-
Atenha-se sempre a tarefa principal! cos (motores, sensores, etc) e outros
Tendo o leitor determinado a necessários. Ainda não é o momento.
principal tarefa e o conjunto de sub- É necessário realizar um estudo
tarefas, pode-se determinar os itens prévio das sub-tarefas e a partir delas
necessários ao sistema. determinar quais serão os elementos 2
necessários. Diagrama de blocos para as sub-
Para o exemplo do robô bombeiro, tarefas do robô de segurança
Como meu robô pode-se tomar com base as seguintes
realizará a tarefa principal? necessidades:
Esta pergunta pode parecer estra- • elementos para realizar extinção
nha, mas ela deve ser respondida da chama (ventoinha, extintor de
antes de dar os próximos passos. CO2);
Quando se determina uma tarefa a • elementos para a localização da
ser cumprida é necessário determi- chama (sensor);
nar também como se irá realizar essa • elementos auxiliares para a nave-
tarefa. Há duas maneiras básicas para gação pelo ambiente (sensores);
um robô realizar uma tarefa: com ou • elementos de locomoção (moto-
sem apoio de sub-sistemas externos. res, drives de controle, encoders,
Isso diz respeito ao comportamento etc);
do robô. • cérebro para processamento
Nos exemplos dados acima pode- da tarefa principal e sub-tarefas
se, por exemplo, passar a tarefa da (microcontrolador, PC, etc).
localização da chama (robô bom-
beiro) para um sistema externo de
apoio. Neste caso, sensores inseri- 3
Diagrama de blocos com o elementos necessários ao robô bombeiro
dos em locais previamente estabele-
cidos detectam a presença de uma
chama no ambiente e alertam o robô
que então deverá se locomover para
o local e extinguir a chama. Para o
caso do robô de segurança, o mesmo
poderia utilizar-se de um sistema de
alarme remoto. Após a localização de
um intruso, através de sinais de rádio
o robô enviaria sinais para um sistema
remoto que ativaria um alarme.

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r robótica
• elementos de alerta (sirenes, lâm- A analogia para o robô de segu- Elemento extintor de chamas
padas, etc) rança é a mesma. Assim o leitor tem O robô bombeiro prevê um ele-
• cérebro para processamento da neste artigo seu primeiro exercício. mento para extinção da chama. Este
tarefa principal e sub-tarefas. Que tal desenhar um diagrama de pode ser desde um simples ventilador
A figura 3 exibe um diagrama de blocos dos elementos necessários a um extintor de incêndio com CO2.
blocos desta etapa do projeto. Per- para o robô de segurança? Quem vai determinar isso é o tama-
cebeu que o robô começou a tomar nho da chama que o leitor usará na
“forma”? prova.
Dimensionar cada uma Supondo que o leitor manteve o
Atenção dos elementos necessários bom senso e o robô deve apagar a
O leitor neste momento tem em chama de uma pequena vela, você
Se o leitor pretende mesmo construir mãos uma série de itens importantes irá concordar que um ventilador bem
um robô bombeiro, cuja tarefa será ao projeto: a tarefa principal do robô, simples poderá ser utilizado para
apagar uma “chama”, é melhor usar as suas sub-tarefas, como as mesmas este propósito. Como o robô será
como “foco de incêndio” uma simples e serão executadas e quais os elemen- autônomo, a economia de energia
pequena vela. E lembre-se de não deixar tos básicos necessários. Com isso é também deve ser pensada. Se um
nenhum material inflamável por perto,
hora de dimensionar os elementos. “pequeno sopro” em uma vela é mais
solicitar a devida autorização de seu
Tome como exemplo o robô bombeiro, que suficiente para apagá-la, então
professor e o acompanhamento dos
já que tem-se um diagrama de blocos um pequeno ventilador desses utili-
responsáveis pela brigada de incêndio
de sua escola e/ou faculdade. Jamais se dos elementos necessários para o zados em PC para arrefecer CPUs,
esqueça de tomar todas as precauções mesmo. Comece sempre em sentido ou mesmo o gabinete, pode servir
e solicitar as devidas autorizações!!! contrário, ou seja, do fim para o início. bem. Geralmente a corrente consu-
Com fogo não se brinca!!!! Parece estranho, mas o leitor enten- mida por estes pequenos ventilado-
derá o porque disso mais a frente. res não supera os 200 mA. Assim,
o circuito do nosso sistema para
extinção da chama poderia se pare-
4 cer com o apresentado na figura 4.
Circuito para o sistema de extinção de chama
Note que tudo é bem simples. O
circuito é composto basicamente por
um único transistor NPN tipo dar-
lington TIP112, um resistor limitador
para corrente de base do transistor e
a ventoinha. A escolha pelo transis-
tor tipo darlington é bem simples: ele
suporta uma corrente de coletor maior
e assim, o projeto poderá utilizar ven-
toinhas mais fortes que com certeza
drenarão uma corrente maior. O leitor
tem assim uma folga no projeto para
5 selecionar uma outra ventoinha, se
Sensor infra-vermelho comercial
necessário.

Elemento de
localização das chamas
Este elemento detecta a pre-
sença da chama no ambiente. Muito
provavelmente um simples sensor
tipo infra-vermelho (IR) do tipo
comercial dará conta do recado.
Veja a figura 5. Um sensor tipo
IR feito pelo próprio leitor também
poderia ser utilizado, desde que
sua faixa de leitura (espectro) fosse
calibrada para a identificação de
uma chama.
O sensor apresentado na figura 5
é bastante utilizado em sistemas de
segurança na detecção do calor cor-
póreo (o leitor perceberá que este
sensor também poderá ser utilizado

32 Mecatrônica Fácil nº38


6
robótica r
Detecção da chama com muitos sensores

7
Detecção da chama com apenas um sensor

como “elemento para localização de Conclusão


intrusos” no robô de segurança!). Nesta primeira parte do artigo o
O número de sensores utiliza- leitor viu como iniciar o projeto de um
dos no robô também deve ser con- robô, definindo sua tarefa principal,
siderado (quanto mais, melhor). E as sub-tarefas e como realizá-las.
sempre posicionados ao redor do Também foi possível dimensionar
chassi do robô (que ainda não foi dis- dois dos quatro elementos necessá-
cutido). Assim o robô poderia detec- rios ao robô tomado como exemplo.
tar a chama, mesmo se este fosse Na próxima edição o leitor obterá
numa direção diferente da localiza- informações sobre o dimensiona-
ção da chama durante uma possível mento dos dois elementos restantes e
varredura e desta forma, a correção também serão apresentadas informa-
desta seria facilitada diminuindo o ções a respeito do cérebro, da fonte
tempo de extinção da chama (figura de alimentação, do chassi, além de
6). Caso contrário o robô teria de dicas que facilitarão a geração da
fazer várias varreduras no ambiente, documentação necessária (relató-
percorrendo uma distância maior e rio final). Boa leitura e até a próxima
levando um maior tempo para extin- edição!
guir a chama. Veja também a figura f
7 que mostra a detecção da chama
com apenas um sensor.

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eletrônica
e

Mecatrônica Fácil nº38


16 - Março 2008
Maio 2004 13

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