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Curso Liderança - M-Iii - Teologia Biblica Da Voca - Ço
Curso Liderança - M-Iii - Teologia Biblica Da Voca - Ço
Módulo III
SUMÁRIO
Competências-secundárias:
Introdução
Por se tratar de uma teologia bíblica, deve-se ter em mente que estamos buscando o
ensino das Escrituras como um todo. Gerard Van Gronigen, em seu livro Revelação
Messiânica no Antigo Testamento, defende a idéia que toda a Bíblia mostra o pacto de
Deus com a humanidade, o qual se constitui em criar um povo que seja exclusivamente
Seu. Isto nos remete ao fato que toda iniciativa e decisão de sermos participantes do reino
divino é o resultado da iniciativa divina, como disse Davi: “Foi ele quem nos fez, somos o
seu povo e rebanho do seu pastoreio” (Sl 100:3). Não temos como deixar de notar que Deus
chamou e ainda chama homens e mulheres para serem parte do Seu povo, adorando-O e
servindo-O como estilo de vida, segundo o ensino das Escrituras.
Assim, logo de início, é importante saber que o chamado de Deus não é um
oferecimento pessoal. Deus é sempre aquele que primeiro vai à procura do ser humano. Foi
assim com Adão, Noé, Jacó, José, Moisés, Davi, Elias, Isaías, Daniel e aqueles a quem ele
quis chamar. O apóstolo Paulo também deixou claro que o seu chamado foi uma ação de
Deus (Rm 1:2).
Entretanto, o chamado não é genérico, sem direção ou propósito. Jeremias foi
chamado para ser profeta entre as nações (Jr 1:4-5); Paulo se declarou chamado para ser
apóstolo de Jesus e para anunciar o evangelho (Rm 1:2). Damos a esta ação divina o nome
de vocação. No reino de Deus é Ele próprio quem vocaciona.
E mais, o chamado que Deus faz aos seus servos resulta em uma vocação, a qual
jamais pode ser entendida como algo temporário, mas como uma proposta de vida. Veja o
que Paulo escreveu aos Efésios: ”vivam de maneira que esteja de acordo com o que Deus
quis quando chamou vocês.” (Ef 4:1). A tradução revista e atualizada apresenta o texto
assim: “que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados”. O nosso chamado
define o que faremos na vida, por isso Paulo escreveu aos efésios: “Deus chamou uns para
apóstolos, outros para evangelistas, outros para profetas e outros para pastores e mestres”
(Ef 4:11). O chamado vocacional é pessoal, e a todos aqueles a quem Deus escolheu ele
também chamou para serem ministros no seu Reino (Rm 8:30).
Assim como Paulo foi chamado para ser apóstolo, cada servo do reino tem uma
vocação, um chamado pessoal e específico a cumprir. Paulo afirmou que não foi
desobediente ao chamado que Cristo lhe fez (At 26:19). Ele não agiu como Jonas, que
procurou fugir da missão que Deus lhe confiara (Jn 1:1-3). Obedecer ou desobedecer ainda
continua plenamente válido para todos aqueles que são servos de Cristo. Uma vez
chamados, temos uma vocação e uma missão a desempenhar.
O relato do chamado do profeta Isaías (Is 6:1-8) nos mostra que um tempo de
dificuldade e muitas dúvidas se instalara em Israel. O Rei Uzias havia morrido após 51 anos
de reinado obediente ao Senhor. Isaias estava inquieto na expectativa do que iria
acontecer: Como seria o novo governo? Qual seria sua participação, uma vez que ele era
um dos príncipes? Qual seria o seu futuro? Naquela situação a melhor atitude era buscar a
Deus, e como servo de Deus, era no templo que ele se encontrava.
Deus ao se apresentar a Isaías o faz de maneira majestosa e gloriosa em “num alto e
sublime trono”, rodeado de seres celestes (Is 6:1-2). Quanto a isto, cabe uma reflexão de
nossa parte, pois o conhecimento que temos acerca de Deus será determinante de nossas
ações. Não servimos um deus qualquer. Aquele que nos chamou é o Deus onipotente, que
tudo sabe e que está presente em todos os lugares do universo físico e do mundo
Abraham Puy afirma que quem já se deparou com a grandeza de Deus não tem
dificuldade de reconhecer a sua pequenez. Isaias ao contemplar a beleza e a grandeza da
santidade divida exclamou: “Ai de mim! Estou perdido!” (Is 6:5). O servo de Deus quando
tem a visão correta do ser de Deus, logo olha para si mesmo e tem também a visão correta
acerca de si mesmo.
Descobrimos que não há em nós nada de precioso ou de mérito que tenha levado a
Deus nos chamar para servi-LO. O chamado que recebemos é pura graça e misericórdia
divinas. Quando o servo tem a concepção correta da grandeza divina, sua reação primeira
é de total incapacidade de atender ao chamado, a menos que Deus faça algo. No caso de
Isaías, Deus ordenou que um anjo lhe purificasse as culpas e pecados (Is 6:6-7); no caso de
Moisés, Deus deu a ele a ajuda de Arão para falar, pois ele se declarava incapaz (Ex 4:10-
12); no caso Pedro, Jesus recusou afastar-se dele e o chamou para ser pescador de homens
(Lc 5:8-9).
Se Deus o chamou para servi-LO e você já esteve na Sua presença, então você já
descobriu quem você é, e o quanto você precisa ser purificado antes de servir.
A atitude de Isaias face a tudo que ele percebia nos mostra que ele não agiu com
descaso, adiamentos ou desconsideração. Uma vez que o profeta olhou para si mesmo e
reconheceu seu estado de impureza, isto significou que ele passou a considerar seriamente
a sua vida diante de Deus. Sempre que reconhecemos o santíssimo caráter de Deus e o
associamos ao seu conhecimento de todas as coisas, os nossos erros e pecados nos levam a
revisar nossa vida. Uma vez arrependido, o profeta é restaurado na presença de Deus e,
por isso, capacitado a ouvir o chamado divino: “Quem é que vou enviar?”
Antes de assumir qualquer responsabilidade como resposta a vocação que Deus lhe
fez é preciso trilhar os mesmos passos que o profeta Isaías trilhou.
Mais uma vez ressalto que a vocação para o presbiterato, diaconato ou outra posição
de liderança na igreja não é um oferecimento, mas um chamado divino que produz o
desejo de realizá-lo (Fl 2:13). É por isso que o apóstolo Paulo disse a Timóteo: “Quem
deseja ser presbítero (ou bispo) excelente coisa deseja” (I Tm 3.1), e o mesmo vale para os
diáconos (I Tm 3.8).
Não pode passar despercebida a capacitação que Deus concede, pelo seu Espírito
Santo através dos dons, para o cumprimento do serviço. Ser presbítero ou diácono não é
um dom espiritual. A ação de cuidar e governar a igreja (presbiterato) e o cuidar da vida
material dos necessitados (diaconato) são ofícios, ministérios desempenhados na igreja e
para a igreja. Entretanto, Paulo adverte que uma pessoa chamada para ser servir à igreja
deve possuir certos dons e também apresentar característica de responsabilidade pessoal.
No nosso foco de estudo, vamos colocar em uma tabela os requisitos de dois textos
bíblicos, excluindo no segundo as repetições, e analisá-los quanto à responsabilidade
humana e à capacitação espiritual dada por Deus (dons).
Texto Resp.
Requisito Dom Espiritual
I Timóteo 3:1-11 Humana
“O bispo seja:...” Irrepreensível, X
“..semelhantemente esposo de uma só mulher, X
os diáconos...” temperante, X
sóbrio, X
“Da mesma sorte, modesto, X
quanto às mulheres” hospitaleiro X
apto para ensinar; X
não dado ao vinho, X
não violento, X
cordato, X
inimigo de contendas, X
não avarento; X
governe bem a própria casa, X
governe a casa de Deus. X
Texto Resp.
Requisito Dom Espiritual
Tito 1:5-9 Humana
“Em cada cidade, Tenha filhos crentes que não são
X
constituísses acusados de dissolução,
presbíteros, conforme despenseiro de Deus, X
te prescrevi: não arrogante, X
não irascível, X
nem cobiçoso de torpe ganância; X
amigo do bem, X
sóbrio, X
justo, X
apegado à palavra fiel, X
piedoso, X
tenha domínio de si, X
tenha poder tanto para exortar, X
Pela doutrina convencer os que o
X
contradizem.
Você não deve ter dificuldade em notar que há um peso maior na responsabilidade
pessoal. Deus coloca um peso maior sobre todos aqueles a quem Ele chama para serem
servos cooperadores do seu Reino. Quem deseja servir à igreja deve sempre lembrar que
mais lhe será dado; portanto, mais será esperado de você e mais será exigido de você (Lc
12.48).
b. A tentação da precipitação
Esta tentação é o oposto da anterior. Algumas pessoas acham que pelo fato de
terem sido chamadas por Deus, estão prontas para imediatamente fazer. É
verdade que o nível de preparo de cada pessoa está associado com o momento da
vida em que foi chamada, e do que já foi construído. Mas mesmo assim, o
chamado exige preparo. Se não preparo teológico ou doutrinário, maturidade de
vida, como pode exigir preparo ministerial, estratégico etc. É preciso ouvir a Deus
para não agir errado (Pv 16.1). É preciso ponderar, orar e não se precipitar (Pv
19.2).
Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder
seja de Deus e não de nós. 8 Em tudo somos atribulados, porém não
angustiados; perplexos, porém não desanimados; 9 perseguidos, porém não
desamparados; abatidos, porém não destruídos; 10 levando sempre no corpo o
morrer de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo. 11
Porque nós, que vivemos, somos sempre entregues à morte por causa de Jesus,
para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal.
Não é fácil perseverar quando as situações nos são adversas! Apenas quando focamos
o nosso trabalho para a glória de Deus, e quando sempre nos lembramos que servimos a
Deus em primeiro lugar, a perseverança será nossa prática.
Conclusão
A vida cristã é resultado da vocação divina, isto é, depende exclusivamente
de Deus. Isso é resultado da Sua misericórdia em nos chamar. Nenhuma pessoa veio
a Cristo porque simplesmente quis ou porque livremente escolheu esse caminho. Na
verdade, o primeiro passo na vida cristã tem início com o chamado irresistível de
Deus, que nos escolheu na eternidade (Ef 1.4) e nos chamou no tempo, com santa
vocação, por graça (II Tm 1:9).
Contudo, a nossa salvação não é o fim último, mas é o meio, pois somos
destinados, desde a eternidade, à glória de Deus. Assim, o propósito de Deus na
eleição é construir uma inumerável companhia de irmãos e irmãs que sejam iguais
ao Filho (II Ts 2:13-14).
Além disso, há degraus na vocação divina. Pedro fala que Deus, que em Cristo
nos chamou, irá nos aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar (I Pe 5:10).
Por outro lado, devemos ser dignos dessa vocação (II Ts 1:11), sendo
autênticos filhos de Deus e vivendo em harmonia e coerentemente com a nossa
nova realidade de vida (ver II Pe 1:5, 10 e 11). Os aspectos do viver compatível com
a nossa vocação contemplam: a santidade (Rm 1.7; I Co 1.2; I Pe 1.15), a
obediência a Deus (Hb 11.8) e a imitação do exemplo de Cristo (I Pe 2.21).
Quem deseja servir à igreja como presbítero, diácono ou líder ministerial,
excelente coisa deseja e isto precisa ser o resultado do chamado de Deus. Logo, o
desejo pessoal para ser servo da igreja não é o requisito suficiente, mas o chamado
divino é. Vocação é uma proposta para toda vida. Assim como José foi chamado
para ser um governador, Samuel, Isaías e Jeremias chamados para serem profetas,
Bezalel para ser o artífice dos objetos do templo (Ex 31:2-3), Davi para ser Rei,
Asafe para ser músico e compositor no templo, Felipe para ser diácono, Lucas para
ser médico missionário, Paulo para ser apóstolo e Barnabé para ser pastor, Deus
também tem um chamado para você. Cabe a você dizer à semelhança do profeta
Isaías: “Eis me aqui Senhor, envia-me a mim.”
Bibliografia
GRONIGEN, Gerard van. Revelação messiânica no Antigo Testamento. São Paulo:
Cultura Cristã, 1998.
PUY, Abraham C. van der. O supremo chamado de Deus. São Paulo: COMIBAM, 1982.
RICHARDS, Lawrence O.; MARTIN, Gib. Teologia do ministério pessoal: os dons
espirituais na igreja local. São Paulo: Vida Nova, 1984.