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ISSN 0100-8862
Março/2006
Concórdia-SC
Nas últimas décadas, a suinocultura brasi- compostagem “in situ”. Este sistema visa reduzir
leira tem passado por grandes mudanças no que os investimentos em edificações, minimizar os
se refere aos sistemas, tipo e escala de riscos de poluição e melhorar a valorização
produção, predominando a produção vertical em agronômica do composto como adubo orgânico.
grande escala. Esse crescimento tem sido alvo Contudo, ele requer alguns cuidados quando da
de preocupação, principalmente, no que se refere construção das edificações, tais como: maior
às questões ambientais, pois quando esses altura do pé-direito e maior ventilação; maior
sistemas de produção são mal projetados ou mal disponibilidade de água; disponibilidade de
conduzidos, geram grandes quantidades de material de boa qualidade para a cama, como
resíduos, que pela falta de controle, muitas maravalha, casca de arroz, palha ou feno; e um
vezes, são lançados em corpos hídricos ou plantel de matrizes com bom “status” sanitário.
aplicados como fertilizantes agrícolas em grande A proposta deste trabalho é de apresentar
quantidades, podendo poluir águas superficiais e um modelo de sistema de produção em cama
subterrâneas. sobreposta em baixa escala (para 25 suínos) na
O correto manejo dos dejetos de suínos é o fase de crescimento e terminação, concebido
maior desafio que as regiões de produção para a agricultura familiar, construída com o uso
intensiva de suínos terão que enfrentar nos de madeira rústica, de baixo custo, para a
próximos anos, em função dos problemas de implantação em pequenas propriedades. O mo-
poluição das águas, dos custos de armazena- delo proposto reduz significativamente os custos
mento, tratamentos e aproveitamento dos deje- de implantação, os riscos de poluição ambiental e
tos como adubo orgânico na agricultura. problemas com os odores, quando comparados
O sistema de produção de suínos em cama com o sistema convencional. Produzindo um
sobreposta, também conhecido por “deep adubo orgânico de boa qualidade e de fácil
bedding” foi desenvolvido no Brasil pela Embra- manuseio.
pa Suínos e Aves para ser um sistema alter-
nativo aos sistemas convencionais de produção Memorial Descritivo
de suínos. Caracteriza-se por apresentar menor
custo de implantação, maior facilidade no trata- A construção da edificação para produção
mento dos dejetos, menor poder de poluição e de suínos na fase de crescimento e terminação
proporcionar maior conforto e bem-estar aos busca minimizar os custos. Para tanto, o projeto
suínos. propõe o uso de materiais (madeiramento, palha-
No sistema de criação em cama sobre- da e sombreadores) de baixo custo, que normal-
posta, os animais são criados em edificações cujo mente estão disponíveis nas propriedades.
piso é formado por maravalha, palha ou casca de
arroz, onde os dejetos sofrem um processo de
¹ Zootecnista, D.Sc. Pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Cx. Postal 21, CEP 89700-000, Concórdia- SC,
*osmar@cnpsa.embrapa.
2
Estudante do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia (Produção Animal), FCAV/UNESP – Jaboticabal- SP, ETCO (Grupo de Estudos
e Pesquisa em Etologia e Ecologia Animal.
3
Auxiliar de operações, Embrapa Suínos e Aves.
4
Zootecnista, Estagiário, Convênio Embrapa Suínos e Aves e UnC/Concórdia.
5
Técnico de Nível Superior I – Embrapa Suínos e Aves, Concórdia, SC.
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Antes do início da construção, deve-se cobertura será maior, bem como a eficiência de
adotar determinados procedimentos prelimina- vedação e isolamento térmico (detalhes Fig.2 e
res, tais como: escolher terreno plano, seco e 6). Para evitar proliferação de ratos junto à pa-
arejado, com bom acesso de veículos e de fácil lhada de cobertura, em todos os pilares
instalações hidráulica e elétrica; escolher um (esteios), à uma altura intermediária, recobre-se
local para proporcionar que a área onde efeti- parte deste esteios com material deslizante tipo
vamente ficará o leito da construção seja mais lata ou garrafas PET, cortada e pregada. Outra
elevado do que o entorno, no mínimo em 0,20 m; solução é instalar um fio eletrificado.
providenciar drenagem para as águas pluviais, O carregamento dos animais dá-se pela
através de valas; alocar a instalação com cabeceira oposta ao estrado/comedouro, visto
orientação solar Leste-Oeste; manter cobertura que esta cabeceira é móvel, tanto para esta
vegetal rasteira (grama) no estorno das instala- prática, como para acesso quando da colocação
ções e, se possível, cobertura vegetal arbustiva e retirada em definitivo do composto estabiliza-
distanciadas de tal forma que não interfira na do. Quando em períodos em que a insolação é
insolação/ventilação direta sobre a instalação. muito acentuada (verão) e os raios de sol inci-
O modelo de edificação apresentado na dem diretamente no interior da instalação, reco-
Fig.1 possui as seguinte características: di- menda-se minimizar tais efeitos com a colocação
mensões externas de 10m x 4m; pé-direito de na lateral incidente, de folhas de palmeiras ou
3m; inclinação de cobertura de 25o (58%); similares. Estas podem ser fixadas diretamente
projeção de cobertura (beiral) de 0,85m; em na estrutura de madeira ou criando-se mãos
duas águas. As laterais são fechadas com francesas em madeira roliça, de espessura fina o
tábuas de madeira bruta do piso até a altura de suficiente para assentar tais sombreadores.
0,9m e, acima destas com tela construída em
arame galvanizado com altura de 0,75m até uma Manejo da Cama
guia de madeira para a fixação da tela. A cons-
trução se alicerça sobre esteios de madeira O número de animais por baia depende do
roliça (eucaliptos), com diâmetro aproximado de fluxo de produção da granja, sempre obedecen-
0,15m. Em uma das extremidades da edificação do a densidade recomendada para a criação em
é colocado um estrado de madeira (tablado) a cama sobreposta (1,2m2/suíno) e a diferença de
uma altura de 0,65m, provido de degrau interme- idade máxima entre os animais (de 1 semana).
diário. Sobre o estrado, no limiar externo deste, Não existe restrição quanto ao número mínimo
instala-se os comedouros e, nas laterais do de animais que podem ser criados neste siste-
tablado, os bebedouros. Na Fig.7 mostra-se os ma.
detalhes de um comedouro que pode ser utiliza- Quanto ao manejo da cama, esta deve ter
do no sistema. uma altura entre 25 a 30cm, para regiões quen-
Na cobertura, recomenda-se a adoção de tes. Desta forma, a temperatura da cama se
medidas que minimizem o efeito da radiação mantém baixa, favorecendo o conforto dos ani-
solar, no interior da instalação e sobre animais. mais nas regiões quentes e não afetando a per-
Para tanto, sobre os caibros e entre as terças, formance produtiva.
intercala-se bambus (taquara) e, sobre estas, Neste caso, como a geração de calor é
fixa-se uma tela tipo aviário. Sobre a tela, tam- pequena e a evaporação d’água é menor, deve-
bém intercaladas de bambus, aplica-se uma se adicionar ou retirar material assim que se
camada de palhada com espessura de 0,10 m. notar a saturação.
Cobrindo a palhada, instala-se uma lona tipo A manutenção de parte de cama é
aviário, plastificada, ou vinimanta de PVC com importante pois estas já possuem bactérias e
duas faces, sendo a face branca voltada para vão favorecer o “start” do processo de compos-
fora, de tal forma que cubra toda a cobertura e tagem quando é misturada a cama nova. Além
faça-se um acabamento por baixo do beiral. disso, problemas com pó, comuns nos primeiros
Esse acabamento tem melhor resultado se for lotes em camas novas, são eliminados com este
adotado o procedimento de enrolar a extremi- manejo de transferência de cama. Nas fases de
dade da lona em uma taquara ou em um ferro de crescimento–terminação, o revolvimento da ca-
construção para posterior tensionamento junto ma não é necessário para que o processo de
aos caibros ou terças. Com a finalidade de compostagem se desenvolva lentamente, au-
manter a lona de cobertura perfeitamente assen- mentando a duração das camas.
tada sobre a palhada, é imprescindível que esta Não se recomenda o revolvimento da
seja contida via amarrações à altura de todas as cama quando os animais estão alojados no
tesouras, bem como entre um canto ao outro. verão. Este manejo resultaria na liberação de
Com este procedimento a vida útil da lona de calor ao ambiente. Este procedimento apenas
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deve ser feito na ocasião da saída dos lotes, ou do composto gerado pelo sistema de criação
no inverno. Este manejo é estrategicamente como adubo orgânico, devido a concentração de
realizado em períodos frios, comuns na regiões nutrientes e redução da água contida nos deje-
Sul do Brasil, com os animais dentro da edifica- tos; mesmo desempenho zootécnico dos animais
ção, para melhorar o conforto térmico do sis- quando comparado ao piso ripado total ou
tema. parcial; redução em mais de 50% da emissão de
Em locais quentes indica-se que a criação amônia (NH3) e de odores produzidos no siste-
de suínos em cama sobreposta nunca se inicie ma, em comparação ao piso ripado; aproveita-
nos períodos mais quentes do ano, pois é mento de resíduos (maravalha, palha, casca de
justamente nos dois primeiros lotes de cama que arroz) existentes nas zonas de produção, para a
esta alcança os maiores picos de temperatura. formação da cama; menor tempo de mão–de-
Em regiões quentes, recomenda-se o uso obra utilizada na limpeza e manejo dos dejetos;
de asperssores e ventiladores. Neste caso, possibilidade de ter maior número de animais por
deve-se seguir orientação técnica para que o lote, reduzindo os custos com divisórias entre as
sistema de aspersão seja efetivo e não molhe a baias; redução de casos do canibalismo caudal e
cama. dos problemas de cascos e das articulações;
Um cuidado importante que se deve ter é menor custo de armazenamento, tratamento,
com o uso de maravalha ausente de substân- transporte e distribuição dos dejetos e seu apro-
cias químicas geralmente utilizadas em serra- veitamento como adubo orgânico; melhor con-
rias. Além disso, este substrato – maravalha ou forto térmico ambiental, no inverno, devido ao
outro tipo de material – deve ter sido estocado calor gerado pelo processo de compostagem da
em locais apropriados, com umidade adequadas cama nas regiões frias, permitindo a construção
e livres de contaminação. de edificações com menor isolamento térmico.
Pode-se utilizar substratos misturados pa-
ra a formação da cama, somente observar que Desvantagens:
sempre que se realizar a mistura de diferentes
substratos, deve-se proceder a colocação em Maior consumo de água no verão (+15%);
camadas, aumentando-se a altura do leito con- Maior cuidado e necessidade de ventilação nas
forme o nível de saturação dos materiais. edificações, para retirada do vapor d’água; Re-
Recomenda-se que a retirada da cama se- quer bom nível sanitário dos animais no plantel;
ja realizada anualmente, ou quando, aciden- Necessidade de prever. resíduos (maravalha,
talmente ou por descuido no manejo, ocorrer um palha, casca de arroz) para o aproveitamento
excesso de umidade. Normalmente, em sistemas como cama.
de crescimento-terminação, anualmente, retira- Nas figuras a seguir estão apresentados
se 30% da cama, conforme a saturação da os desenhos e detalhes construtivos da edifica-
mesma, realizando-se a reposição com substrato ção para a produção de suínos em cama sobre-
novo. Uma maneira prática é observar-se a colo- posta:
ração da cama. Quando sua coloração estiver
entre o marrom claro e escuro, significa que o
processo de compostagem se desenvolve nor-
malmente. Porém, quando sua coloração for
escura tendendo a cor preta, significa que o pro-
cesso de compostagem se desenvolve lenta-
mente, ocorrendo redução na produção de calor
e evaporação d’água. Outra maneira de saber se
a cama apresenta-se pronta para ser retirada é
observar sua temperatura (quando ela for menor
que 20ºC ou mantiver-se ao nível da temperatura
ambiente) a cama está no ponto de ser trocada.
Vantagens e Desvantagens do
Sistema de Cama Sobreposta
Vantagens:
B
projeção da cobertura
0,85
BEBEDOUROS
ESTEIO
0.30
1,848
LEITO
A A'
4.00
COMEDOURO
1,848
ESTRADO
0,85
2.00
Fig. 1. Planta baixa da edificação para a produção de suínos em cama sobreposta com capacidade para 25 animais, nas
fases de crescimento e terminação - Planta Baixa
1
anti-rato
( PET ou eletrificado )
COMEDOURO 0,12
3.00
0,75
1.00
ESTRADO
0.90
0,65
Fig. 2. Corte longitudinal da edificação para a produção de suínos em cama sobreposta com capacidade para 25 animais,
nas fases de crescimento e terminação - Corte Longitudinal
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BAMBÚ SOBRE-PALHADA
1.00
BAMBÚ SOB-LONA
0,85
3.00
COMEDOUROS
ESTRADO
PERSPECTIVA GERAL
( IV )
LONA AVIÁRIO
ba
mb
ús
ob
re-
( III ) p alh
ad
PALHADA a
( II )
LONA PRETA
OU TELA
ba
mb
ús
ob
(I) -l o
na
MADEIRAMENTO anti-rato
ETAPAS DA COBERTURA
BAMBÚ SOB-LONA
GUIA
TELADO
FECHAMENTO INFERIOR
FACHADA CABECEIRA
Fig. 6. Vista da fachada da edificação para a produção de suínos em cama sobreposta - Fachada Cabeceira
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tampo superior
(1.85 x 0.35)
1.85
suporte da
barra de ferro
parede frontal (espalha ração)
do comedouro
(funil do depósito) parede posterior do
(1.80 x 0.85) comedouro
(1.80 x 1.00)
separador entre-bocas
(0.25)
depósito de ração
limiar do cocho
(1.80 x 0.15)
corte
1.00
COMEDOURO
perspectiva
0.35