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Principios Juridicos Do Direito Ambiental - Luis Claudio Martins de Araujo PDF
Principios Juridicos Do Direito Ambiental - Luis Claudio Martins de Araujo PDF
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alguns breves apontamentos acerca dos Princípios Jurídicos
em si, de forma a permitir que entendamos o atual estágio
em que se encontram e seu papel no ordenamento jurídico.
Assim sendo, cabe ressaltar que a doutrina costuma
apontar que os Princípios Jurídicos passaram por três fases
ou ciclos distintos: o jusnaturalista, o positivista e o pós-
positivista1.
Em cada uma destas fases ou ciclos, a compreensão
dos Princípios partia de pressupostos diversos, em vista da
realidade social vigente, que levavam a permanente
transformação do seu objeto de análise.
Ou seja, decantados da experiência social, a visão dos
Princípios se regenera a partir de si mesma, se
desenvolvendo e revelando todo o seu conteúdo significativo
à luz da experiência jurídica.
De toda sorte, pode-se afirmar que na fase
jusnaturalista, os Princípios não passavam de valores
identificados com postulados de justiça, sendo exortações
morais em busca de um direito ideal ou um conjunto de
verdades objetivas derivadas da lei divina e humana, razão
pela qual não lhes era atribuída qualquer normatividade,
havendo, portanto, um sentimento de que deveriam ser
confrontados com ideais superiores e naturais2.
Na verdade, o não reconhecimento dos Princípios como
norma jurídica até então se dava por força de sua suposta
natureza transcendente ou de seu conteúdo e vagueza, pelo
1
ÁVILA, Humberto. Teoria dos Princípios: da definição à aplicação dos princípios
jurídicos. 2. ed. São Paulo: Malheiros.
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que, acrescentando-se o fato de não lhes ser atribuída
imperatividade, eram os Princípios qualificados como meras
exortações, preceitos de ordem moral ou política, mas não
verdadeiros comandos de Direito.
Em seguida, já na fase juspositivista, os Princípios
assumiram um papel secundário, passando a integrar os
grandes códigos como fonte normativa subsidiária, ou, como
válvula de segurança que garante o reinado absoluto da lei.
Desse modo, os Princípios seriam extraídos do próprio direito
positivo para impedir o vazio normativo, sendo vistos como
meras pautas programáticas supralegais destituídos de força
normativa, analisados apenas como elementos de
colmatação de lacunas do sistema jurídico3.
Todavia, esses parâmetros se ampliaram e se
enriqueceram no tempo, adquirindo novas possibilidades sem
que esse processo jamais se interrompesse. Assim,
recentemente, os teóricos verificaram que o antigo sistema
do positivismo jurídico já não atendia aos anseios do mundo
moderno, com a complexidade social, os conflitos de
interesse e o pluralismo de idéias.
Destruiu-se assim, antigas posturas arraigadas em
concepções positivistas ou formalistas de todo gênero,
passando-se a reconhecer uma atuação normativa do mais
alto peso aos Princípios, podendo, assim como as regras
positivamente estabelecidas, impor uma obrigação legal,
superando antigas tradições em nome da concretização dos
Princípios.
Surge assim o pós-positivismo, propugnando uma
mudança no pensamento jurídico até dominante, defendendo
a idéias de que o positivismo jurídico não atende aos
reclamos de um direito justo.
3
CANOTILHO, J.J. Gomes. Constituição dirigente e vinculação do legislador. Coimbra,
Livraria Almedina, 1994.
4
Os Princípios ascendem assim ao status de norma
jurídica, suplantando a crença de que teriam uma dimensão
puramente axiológica, ética, sem eficácia jurídica ou
aplicabilidade direta e imediata, superando a antiga postura
que conferia aos Princípios a mera posição subsidiária em
face dos atos de integração da ordem jurídica.
Desta forma, pode-se afirmar que diante desta
realidade pós-positivista, os Princípios estabelecem efeitos
jurídicos, obrigando a adoção de condutas conformadas aos
seus ditames, superando a concepção formalista de não
reconhecimento normativo.
Na verdade, diante da concepção pós-positivista, os
Princípios estruturam o próprio sistema jurídico, orientando o
comportamento de criação de normas e condutas4.
4
ÁVILA, Humberto. Teoria dos Princípios: da definição à aplicação dos princípios
jurídicos. 2. ed. São Paulo: Malheiros.
5
O Direito Ambiental, nascido do inquestionável direito
de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado
essencial à sadia qualidade de vida, está em permanente
progresso, acompanhando o metabolismo social vigente em
determinado período da civilização.
A dialética entre a natureza e a realidade social é uma
unidade constantemente oxigenada, que, longe de ser
estanque, permanece em constante modificação.
Esta continuidade evolutiva traz como reflexo direto a
permanente criação de novos Princípios do Direito Ambiental,
o que gera uma carga de dificuldade de elencar um rol
fechado de Princípios Ambientais.
Tal característica, é interessante pontuar, se espraia
para a construção teórica da doutrina ambientalista, que
acaba por não se debruçar de maneira uniforme no estudo
dos Princípios Ambientais, bem como na nomenclatura e
subdivisões a serem adotadas no seu objeto de análise5.
De toda sorte, a busca de uma definição de um rol
possível de Princípios Ambientais sempre se faz conveniente
e necessária para uma melhor delimitação do espectro
analítico a ser abordado.
Assim, a par da previsível dificuldade, tentará se
desenvolver o tema dos Princípios do Direito Ambiental
pautado nas principais construções jurídicas ambientais
firmadas na esfera internacional (tratados, convenções e
acordos internacionais de Direito Ambiental), bem como em
instrumentos normativo-ambientais pátrios.
Desse modo, irá se enfocar, em linhas muito gerais, os
Princípios Ambientais que entendemos mais relevantes para
5
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 4.ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2000.
MACHADO, Paulo Affonso de Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 10. ed. S. Paulo:
Malheiros, 2002.
6
estimular discussões críticas sobre a matéria, permitindo
tornar o conhecimento do tema mais voltado para realidade
prática.
7
aplica-se sempre a que for mais favorável. É o que se extrai,
por exemplo, do próprio art. 5°, §2° Lei 7661/88, que ao
tratar do Zoneamento Costeiro, dispõe que no conflito entre
as normas do Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro e
dos Planos Estaduais ou Municipais de Gerenciamento
Costeiro, prevalecerá a norma mais restritiva.
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2.3 PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE
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sanitárias do meio ambiente; ou lancem matérias ou energia
em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos (art.
3º, III, lei 6938/81). Já a degradação da qualidade ambiental
é a alteração adversa das características do meio ambiente
(art. 3º, II lei 6938/81)67.
Por fim, deve ser lembrado que a Declaração do Rio
(Eco 92) traz a exigência de que os Estados devam
desenvolver as legislações nacionais relativa à
responsabilidade e à indenização referente às vitimas de
danos ambientais, em clara referência ao Princípio da
Responsabilidade.
6
O Superior Tribunal de Justiça no REsp 647.493-SC, entendeu que a União pode
responder pelos danos ambientais, inclusive pela omissão no dever de fiscalizar.
7
O Superior Tribunal de Justiça no REsp 222.349-PR, entendeu inclusive que o novo
proprietário pode ser considerado parte legítima para responder ação por dano
ambiental, independente da existência ou não de culpa.
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Desta forma, seguindo a lógica do Princípio do Poluidor-
Pagador, o empreendedor deve internalizar todos os “Custos
Ambientais” gerados por sua atividade, onde se inclui
naturalmente os custos gerados pela poluição que
eventualmente venha a causar.
Em nenhuma hipótese, ressalta-se, o empreendedor
deve deslocar o “Custo Ambiental” para o consumidor por
meio do repasse dos valores ambientais para o custo dos
produtos.
Lembra-se ainda que no direito pátrio, o Princípio do
Poluidor-Pagador se faz presente no art. 4º, VII, Lei
6938/81, que ao tratar dos objetivos da Política Nacional do
Meio Ambiente, traz a imposição ao poluidor da obrigação de
recuperar e/ou indenizar os danos causados.
Encontramos também o Princípio do Poluidor-Pagador
no âmbito do Direito Ambiental Internacional,
exemplificativamente, no Princípio 16 da Declaração do Rio-
Eco 92, ao dispor que “as autoridades nacionais devem
fomentar a internalização dos custos ambientais e o uso de
instrumentos econômicos, tendo em conta que o poluidor
deve arcar com os custos da contaminação”.
Da mesma forma, na esfera internacional, o Protocolo
de Kyoto é um exemplo do Princípio do Poluidor-Pagador, na
medida em que gera a obrigação dos Estados-Parte de arcar
com os custos da redução de emissões de gases poluentes.
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transindividual de natureza indivisível, cujos titulares são
pessoas indeterminadas ligadas por circunstâncias de fato.
Portanto, a lógica do Princípio do Usuário-Pagador
demanda que se alguém se aproveita dos recursos
ambientais deve suportar isoladamente os custos pela sua
utilização.
Logo, não deve se falar em terceiros tolerando os
custos daqueles que se beneficiaram pelo emprego dos bens
ecológicos.
Assim, observa-se claramente a incidência do Princípio
do Usuário-Pagador no art. 4º, VII, in fine, Lei 6938/81, que
ao tratar dos objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente
traz a imposição ao usuário da contribuição pela utilização de
recursos ambientais.
Também é emblemática da incidência do Princípio do
Usuário-Pagador a Lei da Política Nacional de Recursos
Hídricos (Lei 9433/97), ao trazer dentre seus instrumentos a
cobrança pelo uso de recursos hídricos (art. 5º, IV Lei
9433/97). Pela Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH)
a água passa a ser um bem de domínio público (art. 1º, I Lei
9433/97), inalienável (art. 18, Lei 9433/97), limitado e
dotado de valor econômico (art. 1º, II Lei 9433/97). Assim,
por decorrência destas características, em especial do
reconhecimento da água como bem econômico, há a
possibilidade de cobrança pelo uso de recursos hídricos (arts.
19 e s. Lei 9433/97), incentivando, dentre outros objetivos, a
racionalização do seu uso.
O art. 36 da Lei 9985/2000- a Lei do SNUC- ao tratar
da compensação ambiental, também deve ser lembrado
quando se analisa o Princípio do Usuário-Pagador. Ocorre nos
casos de licenciamento ambiental de empreendimentos de
significativo impacto ambiental. Assim, o empreendedor é
obrigado a apoiar, com, no mínimo, meio por cento dos
custos totais do empreendimento, a implantação e
12
manutenção de unidade de conservação de Proteção
Integral. É tratado também pelos art 31 a 34 do Decreto
4340/2002 e regulamentado pela Resolução CONAMA
371/20068.
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O STF na ADI 3378 entendeu inconstitucional as expressões “não pode ser inferior a
meio por cento dos custos totais previstos para a implantação do empreendimento”
e “o percentual”, constantes no art. 36, da Lei 9.985/2000. Haveria
empreendimentos que não causam impacto ambiental. Dessa forma, o órgão
ambiental competente é que fixaria o montante compatível e proporcional ao grau
de impacto ambiental do empreendimento analisado. Considerou-se, entretanto, que
a compensação ambiental não violaria o princípio da legalidade, já que a própria lei
impugnada previu o modo de financiar os gastos da espécie, nem ofenderia o
princípio da harmonia e independência dos Poderes, visto que não houve delegação
do Poder Legislativo ao Executivo da tarefa de criar obrigações e deveres aos
administrados.
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A sociedade internacional também se preocupou com
Princípio do Desenvolvimento Sustentável, como se observa
em inúmeros instrumentos de Direito Ambiental
Internacional, tais como a Convenção de Estocolmo de 1972
e o Relatório Nosso Futuro Comum da Comissão Mundial de
Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1987 (Relatório
Brundtland).
Os Princípios 1 e 4 da Declaração do Rio de Janeiro de
1992 (ECO-92), da mesma forma, busca o Desenvolvimento
Sustentável ao disporem que:
os seres humanos constituem o centro das
preocupações relacionadas com o
desenvolvimento sustentável, tendo direito
a uma vida saudável e produtiva em
harmonia com a Natureza.
A fim de alcançar o desenvolvimento
sustentável, a proteção do meio ambiente
deverá constituir parte integrante do
processo de desenvolvimento e não poderá
considerar-se de forma isolada.
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Princípio 10 da Eco 92
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comunidades, assim como a oportunidade de participar dos
processos de tomada de decisões.
Os Estados também deverão facilitar e fomentar a
sensibilização e a participação do público, devendo ainda ser
proporcionado acesso efetivo aos procedimentos judiciais e
administrativos.
Por outro lado, também é dever não só do Poder
Público, mas também da coletividade defender o meio
ambiente e preservá-lo para as presentes e futuras gerações
(art. 225, caput, da Carta maior de 1988).
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a outros Estados de quaisquer atividades e substâncias que
causem degradação ambiental grave ou se considerem
nocivas à saúde humana.
Por outro lado, os Estados onde ocorrerem os danos
ambientais deverão proporcionar as informações pertinentes
e notificar previamente e de forma oportuna os Estados que
possam se ver afetados por atividades passíveis de ter
consideráveis efeitos ambientais nocivos.
E, por fim, por força do Princípio da Ubiqüidade, a
comunidade internacional deverá fazer todo o possível para
ajudar os Estados que sejam afetados.
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melhoramento, devendo, na medida do possível, tratar os
problemas ambientais mundiais com base no consenso
internacional.
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2.12 PRINCÍPIO DO RESPEITO À IDENTIDADE
CULTURAL E INTERESSES DAS COMUNIDADES
TRADICIONAIS E GRUPOS FORMADORES DA
SOCIEDADE
3 CONCLUSÃO
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Estados e pela coletividade na preservação e no
melhoramento da vida natural e humana.
Assim, a proteção da dignidade da vida humana no
Planeta Terra não poderá ser garantida sem atenção aos
Princípios de Direito Ambiental desenvolvidos no permanente
debate da comunidade internacional e doméstica.
Além do que, mais que meras exortações morais, os
Princípios de Direito Ambiental são normas jurídicas
imperativas, dotadas de eficácia jurídica, e cujo conteúdo
deve ser obedecido em âmbito local, regional e internacional.
Conclui-se assim, que os Princípios Ambientais formam
os pilares do próprio sistema jurídico ambiental, exortando
toda coletividade neste pacto interplanetário ao cumprimento
de suas diretivas de proteção ao meio ambiente.
REFERÊNCIAS
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CANOTILHO, J.J. Gomes. Constituição dirigente e vinculação do
legislador. Coimbra, Livraria Almedina, 1994.
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