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Teste de compreensão escrita 2

Nome ________________________________________N.° _____Turma _____ Data_____________

Avaliação _____________________________________________ Professor(a) _________________

Voo agitado
Com a prática, acabei conseguindo me erguer um ou dois palmos e sair deslizando pelo
quintal durante algum tempo. Mas era pouco. Assim de pé, não podia dizer que estivesse
voando. Eu percebia que só deitado, braços abertos como as asas de um pássaro, é que
chegaria a voar de verdade. Mas quando experimentava me deitar e movimentar os braços
5 como fazia de pé, sentia que jamais sairia do chão. Era como querer nadar no fundo de
uma piscina sem água.
Acabei me convencendo de que, para sair voando, eu teria de já estar no ar. […]
Foi então que me veio a solução.
Como já disse, no fundo do quintal de nossa casa havia um pequeno bambuzal. Uma
10 das brincadeiras que a gente fazia ali era a de se dependurarem vários meninos num dos
bambus, fazendo com que ele se entortasse até que tocassem o pé no chão. Em dado
momento todos, a um só tempo, largavam o bambu, menos o que estivesse na ponta: este
continuava dependurado e subia como um foguete, agarrando-se com todas as forças no
bambu para não ser atirado longe. E ficava balançando de um lado para outro lá em cima,
15 como um pêndulo, até que o movimento parasse de todo e ele pudesse vir escorregando
bambu abaixo.
Mais de uma vez eu participara daquela brincadeira. Sendo o menorzinho, e portanto o
mais leve, em geral era o que ficava mais tempo balançando, dependurado na ponta do
bambu.
20 Só que, agora, eu não ia apenas me dependurar: ia subir com o bambu e aproveitar o
impulso para sair voando.
Evidentemente não contei a ninguém a minha intenção.
A princípio tudo deu certo: a subida foi sensacional. Quando a meninada largou o
bambu, esperei que ele se empinasse, e larguei também. Fui projetado para cima como
25 uma bala de canhão. Subi, subi, subi, vendo lá em baixo no quintal diminuírem cada vez
mais as figurinhas dos outros meninos, agitando os braços para mim, cheios de espanto e
admiração. […]
Abri os braços, procurei uma posição de equilíbrio, como se fosse um pássaro e
movimentei as mãos como tinha ensaiado. […] No entanto, não conseguia me conter e
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mexia os braços e as pernas, desesperado como alguém que dentro d’água perde as
forças e começa a se afogar. E sempre caindo. Lá em baixo o telhado das casas, as
árvores, as ruas já se aproximando velozmente.
Senti que estava perdido. Não adiantava mesmo continuar a me mexer. […]
Foi quando ouvi um barulhinho no ar. Abri os olhos e vi o aeroplano voando lá longe,
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depois fazendo uma volta e vindo em minha direção. O piloto parece ter me visto também,
pois se aproximava cada vez mais. Ao chegar bem perto fez um sinal com o braço.
Respondi com um gesto aflito de quem pede socorro. Ele deve ter entendido: fez uma volta
e veio vindo por detrás, para passar bem em cima de mim. Procurei planar o mais possível,
braços abertos, e quando vi que ele se emparelhava comigo, ergui os braços e me agarrei
40 com força no eixo entre as rodas, como havia feito o aviador nas acrobacias lá do Prado.

1 DIAL7 © Porto Editora


Não foi fácil montar no eixo e dali passar para a asa, mas acabei conseguindo. […]
Ao fim de algum tempo, que me pareceu uma eternidade, acabámos descendo
mansamente na pista.
Nem bem o avião tinha parado na grama, meu pai chegava esbaforido num carro de
45 praça, para me buscar. Avisado pelos outros meninos da minha aventura, havia tomado
aquele carro de aluguer – coisa que só fazia nas grandes ocasiões.
Depois disso não voltei mais a sair do chão.
Fernando Sabino, O Menino no Espelho, 40.ª ed., Ed. Record, 1993 (texto com supressões)

1. Lê as afirmações seguintes e, sobre cada uma delas, indica se é verdadeira (V), falsa
(F) ou impossível de determinar (ID). Depois corrige as afirmações falsas.

V F ID

a. O narrador conta como, na sua infância, teve o desejo de voar.

b. Esse desejo surgiu repentinamente.

c. Durante meses, ele treinou todos os dias para conseguir voar.

d. Percebeu, então, que para o conseguir teria de estar no ar.

e. Foi uma brincadeira que costumava fazer que lhe deu a solução para
o que ele pretendia.
f. Combinou com os companheiros os pormenores da aventura.

g. Foram, então, para um terreno próximo da escola, onde havia


bambus.
h. O narrador foi projetado no ar, largando um bambu a que se tinha
agarrado.
i. Quando se viu no ar, pensou que os colegas o invejavam.

j. Durante algum tempo ele conseguiu realmente voar, mas depois


começou a cair.
k. No entanto, acreditou que seria capaz de voar.

l. A sua preocupação era o que os pais diriam quando soubessem o que


ele fez.
m. Conseguiu salvar-se, agarrando-se a um aeroplano que passava.

n. Quando pousou na pista, estava o pai a chegar numa grande aflição.

o. O narrador sentiu um grande desgosto por ter de desistir do seu


sonho de voar.

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