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Teste de compreensão escrita 2

DIAL7 © Porto Editora


Nome N.° Turma Data

Avaliação Professor(a)

Voo agitado
Com a prática, acabei conseguindo me erguer um ou dois palmos e sair deslizando pelo quintal
durante algum tempo. Mas era pouco. Assim de pé, não podia dizer que estivesse voando. Eu per-
cebia que só deitado, braços abertos como as asas de um pássaro, é que chegaria a voar de verdade.
Mas quando experimentava me deitar e movimentar os braços como fazia de pé, sentia que jamais
5 sairia do chão. Era como querer nadar no fundo de uma piscina sem água.
Acabei me convencendo de que, para sair voando, eu teria de já estar no ar. (…)
Foi então que me veio a solução.
Como já disse, no fundo do quintal de nossa casa havia um pequeno bambuzal. Uma das brin-
cadeiras que a gente fazia ali era a de se dependurarem vários meninos num dos bambus, fazendo
10 com que ele se entortasse até que tocassem o pé no chão. Em dado momento todos, a um só tempo,
largavam o bambu, menos o que estivesse na ponta: este continuava dependurado e subia como um
foguete, agarrando-se com todas as forças no bambu para não ser atirado longe. E ficava balan-
çando de um lado para outro lá em cima, como um pêndulo, até que o movimento parasse de todo
e ele pudesse vir escorregando bambu abaixo.
15 Mais de uma vez eu participara daquela brincadeira. Sendo o menorzinho, e portanto o mais
leve, em geral era o que ficava mais tempo balançando, dependurado na ponta do bambu.
Só que, agora, eu não ia apenas me dependurar: ia subir com o bambu e aproveitar o impulso
para sair voando.
Evidentemente não contei a ninguém a minha intenção.
20 A princípio tudo deu certo: a subida foi sensacional. Quando a meninada largou o bambu,
esperei que ele se empinasse, e larguei também. Fui projetado para cima como uma bala de canhão.
Subi, subi, subi, vendo lá em baixo no quintal diminuírem cada vez mais as figurinhas dos outros
meninos, agitando os braços para mim, cheios de espanto e admiração. (…)
Abri os braços, procurei uma posição de equilíbrio, como se fosse um pássaro e movimentei as
25 mãos como tinha ensaiado. (…) No entanto, não conseguia me conter e mexia os braços e as per-
nas, desesperado como alguém que dentro d’água perde as forças e começa a se afogar. E sempre
caindo. Lá em baixo o telhado das casas, as árvores, as ruas já se aproximando velozmente.
Senti que estava perdido. Não adiantava mesmo continuar a me mexer. (…)
Foi quando ouvi um barulhinho no ar. Abri os olhos e vi o aeroplano voando lá longe, depois
30 fazendo uma volta e vindo em minha direção. O piloto parece ter me visto também, pois se aproxi-
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mava cada vez mais. Ao chegar bem perto fez um sinal com o braço. Respondi com um gesto aflito
de quem pede socorro. Ele deve ter entendido: fez uma volta e veio vindo por detrás, para

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passar bem em cima de mim. Procurei planar o mais possível, braços abertos, e quando vi que ele
se emparelhava comigo, ergui os braços e me agarrei com força no eixo entre as rodas, como
35 havia feito o aviador nas acrobacias lá do Prado.
Não foi fácil montar no eixo e dali passar para a asa, mas acabei conseguindo. (…)
Ao fim de algum tempo, que me pareceu uma eternidade, acabámos descendo mansamente
na pista.
Nem bem o avião tinha parado na grama, meu pai chegava esbaforido num carro de praça,
40 para me buscar. Avisado pelos outros meninos da minha aventura, havia tomado aquele carro de
aluguer – coisa que só fazia nas grandes ocasiões.
Depois disso não voltei mais a sair do chão.

Fernando Sabino, O Menino no Espelho, 40.a ed., Ed. Record, 1993 (texto com supressões)

1. Lê as afirmações seguintes e, sobre cada uma delas, indica se é verdadeira (V), falsa (F) ou
impossível de determinar (ID). Depois corrige as afirmações falsas.
V F ID

a. O narrador conta como, na sua infância, teve o desejo de voar.

b. Esse desejo surgiu repentinamente.

c. Durante meses, ele treinou todos os dias para conseguir voar.

d. Percebeu, então, que para o conseguir teria de estar no ar.

e. Foi uma brincadeira que costumava fazer que lhe deu a solução para o que ele
pretendia.

f. Combinou com os companheiros os pormenores da aventura.

g. Foram, então, para um terreno próximo da escola, onde havia bambus.

h. O narrador foi projetado no ar, largando um bambu a que se tinha agarrado.

i. Quando se viu no ar, pensou que os colegas o invejavam.

j. Durante algum tempo ele conseguiu realmente voar, mas depois começou a cair.

k. No entanto, acreditou que seria capaz de voar.

l. A sua preocupação era o que os pais diriam quando soubessem o que ele fez.

m. Conseguiu salvar-se, agarrando-se a um aeroplano que passava.


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n. Quando pousou na pista, estava o pai a chegar numa grande aflição.

o. O narrador sentiu um grande desgosto por ter de desistir do seu sonho de voar.
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