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REA | Nº 2 | Junio de 2016 - Dosier ‘Antropología del Derecho en Brasil’

ISSN: 2387-1555 | www.iiacyl.com/rea 33

DIREITOS INDÍGENAS “DIFERENCIADOS” E SEUS EFEITOS


ENTRE OS WAJÃPI NO AMAPÁ*

Dominique Tilkin Gallois **


Juliana Rosalen***

© INSTITUTO DE INVESTIGACIONES ANTROPOLÓGICAS DE CASTILLA Y LEÓN, Salamanca | 2016.

Abstract In this text we discuss the notions of Resumo: Abordamos nesse texto alguns equívocos
“differentiated rights” within public policies underway in relacionados às noções de “direitos diferenciados”, no
Amapá, especially the modulations of the notions of âmbito das políticas púbicas em curso no Amapá, com
"private" and "collective". From accumulated reflections destaque para as modulações das noções de “particular” e
over several years monitoring care projects and actions in “coletivo”. A partir de reflexões acumuladas ao longo de
Wajãpi villages, we present the challenges faced by Wajãpi vários anos de acompanhamento de projetos e ações
as they deal with divergent practices regarding the assistenciais no Amapá, procuramos evidenciar os desafios
“differences” - social, economic, cultural and political – que se colocam aos Wajãpi, quando lidam com orientações
that support development policies. e práticas divergentes a respeito das “diferenças” – sociais,
econômicas, culturais e políticas – que embasam as
Keywords: collective rights, differentiated rights, políticas de desenvolvimento.
knowledge practices.
Palavras-chave: direitos coletivos, direitos diferenciados,
práticas de conhecimento.

APRESENTAÇÃO definição precisa dessas intervenções, voltadas à


O etnocídio é a destruição sistemática dos modos transformação dirigida dos modos de viver e de
de vida e pensamento de povos diferentes pensar indígenas, nos parece significativa para
daqueles que empreendem essa destruição. Em
suma, o genocídio assassina os povos em seu
avaliar os efeitos das políticas assistencialistas
corpo, o etnocídio os mata em seu espírito [...] O ora em vigor no Brasil, mesmo considerando a
etnocida, em contrapartida, admite a relatividade necessidade de alguns ajustes na aplicação do
do mal na diferença: os outros são maus, mas conceito. De fato, a abordagem clássica do
pode-se melhorá-los obrigando-os a se etnocídio tende a desconsiderar a agência dos
transformar até que se tornem, se possível,
idênticos ao modelo que lhes é proposto, que lhes
atores indígenas na acomodação de suas relações
é imposto. (CLASTRES, 2004 [1974]: 83) com o Estado. É, sem dúvida, por este motivo
que tal noção entrou em desuso nas análises
Há mais de 40 anos, Robert Jaulin e Pierre antropológicas, que preferiram dar destaque às
Clastres produziram textos importantes para formas indígenas de engajamento nas relações
caracterizar os mecanismos do etnocídio, a partir com agentes não indígenas.
de situações indígenas na América do Sul. A Por outro lado, ao longo dessas quatro
décadas, foram consolidados dispositivos
jurídicos que positivaram o valor das diferenças
* Trabalho apresentado no GT 9 – Direitos sociais, direitos culturais, entre eles as políticas de
indígenas e vulnerabilidade social, IV ENADIR/2015. reconhecimento de direitos territoriais, de
** DA/USP educação e saúde “diferenciadas”. Mas, como se
*** PPGAS/USP
GALLOIS, D. T. & ROSALEN, J.
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sabe, se olharmos para as práticas assistenciais mobilidade das famílias que pertencem a esses
propriamente ditas, muito pouco se avançou em grupos, circulando entre várias aldeias, algumas
termos concretos para a valorização das próximas dos postos de assistência e outras
diferenças indígenas. Além disso, há pouco mais muito distantes. Trataremos dessas diferenças na
de dez anos, se multiplicam as contradições entre, primeira parte do texto, antes de descrever
de um lado, as políticas de reconhecimento de algumas dificuldades enfrentadas pelos Wajãpi
direitos coletivos (sobre a terra, sobre a garantia no âmbito da escola, da valorização de suas
dos modos de vida e sobre práticas de expressões culturais e nos contextos de
conhecimentos diferenciados) e, de outro lado, as atendimento à saúde.
políticas de inclusão voltadas aos indivíduos
indígenas. Se, após a Constituição de 1988,
podia-se esperar um afastamento da perspectiva MODULAÇÕES ENTRE INTERESSES
assimilacionista, hoje verificamos que as formas “COLETIVOS” E “PARTICULARES”
de assistência social levadas às aldeias A questão pode ser introduzida
consolidaram essas práticas, com nova abordando os possíveis efeitos da criação – ainda
roupagem. em processo, como será descrito abaixo – de uma
Essas contradições se tornam cada vez nova associação que se propõe defender de
mais evidentes em todo o Brasil indígena, forma exclusiva os interesses dos jovens
especialmente visíveis nos efeitos da indígenas que estudam na cidade de Macapá.
monetarização das relações sociais nas aldeias, Mas, antes, é indispensável lembrar que as
que instauram desigualdade entre assalariados e organizações representativas do povo wajãpi já
não assalariados. Podem também ser verificadas existentes também resultaram de disputas entre
através do êxodo massivo de jovens ou mesmo de grupos de interesse, à época de sua fundação, nos
3
adultos para as cidades próximas das terras anos de 1990 . Sendo também necessário frisar
indígenas, para se tornar consumidores com os que as formas atuais assumidas pelos povos
recursos advindos das políticas de inclusão. A indígenas para a representação política, com
médio ou longo prazo, a multiplicação desses caráter étnico, base local ou regional e com
efeitos poderá redundar na fragilização dos formatos diferenciados (associações, conselhos
direitos à terra, legalmente assegurados para a
manutenção de modos de vida diferenciados.
Uma reflexão sobre as tensões entre dispositivos
legais, assegurando direitos coletivos, e 1. Os Wajãpi, falantes de uma língua tupi-guarani, totalizam hoje
dispositivos que fomentam o acesso de no Brasil cerca de 1.250 pessoas, distribuídas entre 80 pequenas
indivíduos indígenas a benefícios sociais se aldeias, todas situadas dentro de terra demarcada e homologada
em 1996, nos municípios de Pedra Branca do Amapari e Laranjal
torna, portanto, extremamente urgente. do Jari – Amapá. Suas organizações representativas são o
Conselho das Aldeias Wajãpi – Apina (criado em 1994), a
Associação Wajãpi Terra Ambiente e Cultura – AWATAC (criada
em 2013) e a Associação dos Povos Indígenas Wajãpi do
EXPERIÊNCIAS WAJÃPI Triângulo do Amapari – APIWATA (criada em 1996). As ações de
Neste texto, nos propomos a abordar saúde são desenvolvidas pelo Distrito de Saúde Indígena –
essas tensões e contradições a partir de SESAI; as de educação escolar, pelo Núcleo de Educação
Indígena da SEED/AP. Desde 1992, o Programa Wajãpi
experiências vivenciadas pelos Wajãpi 1 , (inicialmente sob gestão do Centro de Trabalho Indigenista – CTI
escolhendo alguns exemplos que explicitam as e, desde 2001, sob gestão do Instituto de Pesquisa e Formação
soluções encontradas pelos próprios atores Indígena – Iepé) desenvolve ações educativas (formação de
agentes indígenas de saúde, acompanhamento de professores,
indígenas quando buscam articular ambas as formação de pesquisadores e de agentes socioambientais, com
políticas de direitos coletivos e de acesso a foco principal na gestão sustentável da terra demarcada) em
benefícios individuais. acordo com o modo de vida e organização territorial dispersa dos
2 Wajãpi. Desde 2002, atividades de fortalecimento cultural são
Para avaliar tais experiências , é essencial também realizadas no âmbito do “Plano de Salvaguarda” do
compreender a diversidade interna da chamada patrimônio imaterial Wajãpi, para consolidar os conhecimentos e
“comunidade wajãpi” – uma unidade que não práticas envolvidas na arte gráfica kusiwa, registrada pelo
IPHAN e UNESCO.
existe nem na concepção nem nas práticas desse 2. Nesta avaliação, nos apoiamos em análises antropológicas e
povo –, não só considerando as trajetórias jurídicas, em particular Kahn (2005), Segato (2006), Souza Lima
diversificadas dos cinco grupos locais que hoje (2002) e Souza Filho (2008), mas optamos por não explicitar esse
diálogo no texto para dar mais espaço à etnografia.
vivem na Terra Indígena (TI), como a dispersão e 3.Atualizamos aqui análises anteriores das mesmas
problemáticas (GALLOIS 2002a, 2002b, 2005).
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ou movimentos, registrados ou não em cartório, “coletivo” se concretizou em contraposição à do


com ou sem CGC etc.) surgiram como respostas a “particular”, que se consolida hoje entre as
uma efetiva pressão de instâncias do Estado famílias Wajãpi que conseguem expressar suas
brasileiro para a formalização de instituições demandas no bojo das ações de inclusão.
indígenas com as quais o governo poderia Salientamos, inclusive, que a oposição entre
dialogar, conforme previsto na Constituição de coletivo e particular já tem uma longa história na
1988. E ressaltar que, se essa pressão resultou na Terra Wajãpi. De fato, a APIWATA foi criada um
formalização de Organizações Indígenas (OIs), ano depois do Conselho Apina, para atender ao
estas não são a única forma de fazer “política que os membros de algumas famílias
indígena”. denominavam, já naquela época, como
Entre os Wajãpi, as duas primeiras OIs demandas “específicas e diferenciadas”, usando
foram criadas durante a demarcação da TI, no as formulações então em voga nas políticas
final dos anos de 1990. Passados mais de 20 anos, educacionais indígenas. Hoje, o “particular”,
pacificaram suas relações e atuam hoje com como sinônimo de “diferenciado” e em oposição
programas distintos e complementares. O Apina ao “coletivo”, ressurge, para indicar formas de
congrega, em tese, “todos” os Wajãpi e consiste, ação política levadas a cabo por indivíduos ou
sobretudo, num movimento de reivindicações famílias em busca dos benefícios ofertados pelo
relacionadas à gestão territorial e política, não governo de Estado, de forma totalmente
gerenciando projetos ou verbas. A APIWATA, independente das organizações coletivas às quais
apesar de receber recursos em nome de um se filiam. Obviamente, as tensões entre interesses
coletivo wajãpi, atua, na prática, junto a algumas coletivos e particulares têm recaído sobre os
famílias, mas se dispõe a captar recursos para contextos em que a ação política “coletiva” das
pagamento de plano de assistência “particular” organizações representativas não consegue
para doentes graves, complementando assim as resultados capazes de satisfazer as expectativas
deficientes ações oficiais. Em geral, apesar de divergentes das cerca de 280 famílias nucleares
dissensões na concepção do que sejam “projetos wajãpi. Muitos contextos são palco destas
de futuro”, essas duas OIs atuam com agendas tensões, como a escola, os espaços para a
nitidamente demarcadas e os membros de uma e representação da “cultura” e as instâncias da
outra participam das assembleias de ambas. A assistência à saúde.
terceira organização, recém-criada, é a AWATAC,
que atua diretamente na gestão de projetos
voltados a “terra, ambiente e cultura”, não se ESCOLAS NAS ALDEIAS E ESCOLAS NA
sobrepondo, em termos, aos interesses de CIDADE
nenhuma das duas outras. “A escola é responsável pela saída dos
Ao longo de três décadas, os Wajãpi jovens para a cidade”. Essa afirmação, reiterada
aprenderam a fortalecer essas instâncias de por muitos Wajãpi, evidencia a atual situação de
representação, que têm funcionado de maneira falência da educação escolar diferenciada que o
regular, promovendo intensa circulação entre as estado deveria oferecer nas aldeias. Mas também
aldeias e pequenos escritórios em Macapá, onde indica a habilidade dos agentes do estado do
os diretores das OIs passam alguns períodos por Amapá em subverter reivindicações indígenas
mês, em sistema de revezamento. E são acerca da qualidade das ações educativas
efetivamente reconhecidas, por todos os Wajãpi, oferecidas pela Secretaria de Educação (SEED)
como espaços para tomada de decisões que nas aldeias. A situação hoje é muito simples: após
interessam à maioria. Note-se que nem todas as mais de seis anos de reivindicações ininterruptas
decisões são realizadas de forma “coletiva”, para que a SEED melhore sua capacidade de
tendo em vista que tal totalização de relações acompanhamento dos professores indígenas nas
sociais não existe, nem corresponde a qualquer aldeias e dê início à capacitação dos professores
prática preestabelecida entre os Wajãpi. Seu não indígenas que atuam no ensino médio ou
engajamento nas OIs decorre, justamente, da profissionalizante, as OIs dos Wajãpi, que
possibilidade de realizar experimentos na tomada estavam efetivamente à frente desta pauta de
de decisões que abranjam diferentes grupos reivindicações, progressivamente esmoreceram,
políticos e um número significativo de famílias de diante do imobilismo de sucessivos governos do
toda a TI, mas tais decisões seguem sempre estado do Amapá. Inclusive, as reivindicações
circunstanciais. Ao mesmo tempo, a figura do cessaram completamente depois da instalação de
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cursos profissionalizantes da SEED, que promete consolidação e registro de uma associação que
a contratação de novos professores indígenas. reunirá os estudantes indígenas que vivem na
Todos os wajãpi reconhecem a má qualidade capital do estado, para que acessem benefícios
dessa formação, mas pararam de se queixar sociais (não diferenciados), e ressalta que eles
frente à expectativa dos contratos acenados pelos “têm direito” de se representar dessa forma,
agentes da SEED. Tal promessa atende a vontade mesmo contra a decisão das organizações ditas
de praticamente todas as famílias, que desejam “étnicas”.
ter um filho ou filha com “certificado”, para que Essa intervenção incentiva, de certa
possa futuramente ser “contratado” pelo forma, uma ruptura entre esses estudantes, suas
“governo”. Mas, como nem todos puderam se famílias e as OIs, onde todos, antes, buscavam e
inscrever nos cursos modulares oferecidos em encontravam apoio para apresentar suas
algumas aldeias, outra solução apareceu, reivindicações para melhorar as escolas nas
também apoiada pelos agentes do estado: cursar aldeias. Estamos diante de uma situação
o ensino médio na cidade de Macapá. A complexa: um órgão do estado afirma que não
expectativa das famílias que mandam seus filhos levará em consideração as demandas das OIs,
para a cidade é de que esses estudantes consigam que solicitaram explicitamente não apoiar –
os contratos mais facilmente do que aqueles que através da distribuição de bolsas e outros
estudam nas aldeias, pois acreditam que o ensino benefícios – o êxodo de jovens (às vezes,
é melhor na cidade. Há anos, na verdade, o setor crianças) para a cidade. Aliás, os representantes
de educação da administração da Funai em do Apina e da AWATAC explicitaram à SEPI que
Macapá, como também o Núcleo de Educação a distribuição de benefícios, para indivíduos e
Indígena, vêm incentivando o que se famílias indígenas, deveria ser discutida de
transformou, progressivamente, num “êxodo” de forma ampla e aberta com todas as organizações
jovens indígenas para a cidade. E curiosamente, representativas e com os chefes de família de
são, sobretudo, os filhos de professores indígenas todas as aldeias, em acordo com o Protocolo de
– com experiência do benefício que um salário de Consulta que os Wajãpi produziram em 2014.
professor representa – que se instalaram em Mas a resposta era sempre a mesma: a SEPI
Macapá para estudar. Lá, vive hoje um número apoiará demandas individuais dos indígenas
crescente de núcleos familiares Tiriyó, interessados nos benefícios, e não irá submeter
Kaxuyana, Wayana, Aparai e Wajãpi, compostos essa decisão às organizações na forma sugerida
pelos estudantes, seus cônjuges, seus filhos, os pelo protocolo dos Wajãpi. Para evitar a
pais ou avós. São os assalariados que sustentam a consulta, essa instância do governo estadual
permanência dos estudantes na cidade, um prefere sustentar que os indígenas que procuram
investimento para conseguir, hipoteticamente, no a SEPI “têm direito” aos benefícios enquanto
futuro, um professor contratado para a própria cidadãos. Um órgão do estado consagra assim,
aldeia. univocamente, uma escolha na disputa em torno
Entre os Wajãpi, os efeitos desse êxodo de posições políticas ora “coletivas”, ora
de jovens e adultos para a cidade, onde muitos se “particulares”, em que as noções de “específico”
envolvem com bebidas e drogas, têm sido e “diferenciado” vêm adquirindo novas
amplamente discutidos nos encontros de chefes, dimensões, onde as possibilidades de
que ocorrem regularmente sob impulso do composição e articulação, a que os Wajãpi
conjunto das OIs dos Wajãpi, como também no normalmente chegavam, podem agora se
processo de revalidação do Plano de Salvaguarda transformar em tensões prolongadas.
das Expressões Gráficas e Orais (arte kusiwa)
apoiado pelo IPHAN (ver abaixo). O resultado
imediato foi que muitos jovens foram retirados REPRESENTAR “A CULTURA INDÍGENA
das escolas da cidade por seus pais, e agora DO AMAPÁ”
cursam o ensino médio nas aldeias. Mas, na Durante muito tempo, os Wajãpi
contramão, outras famílias saíram para conseguiam se esquivar dos convites para
experimentar a vida na cidade, agora com apoio – participar de eventos organizados por agentes do
mesmo que indireto – da Secretaria Especial de estado, onde deveriam “apresentar” suas danças,
Povos Indígenas (SEPI). De fato, a atual gestão mostrar seus enfeites, ou mesmo “contar suas
da SEPI assume que está ajudando na lendas”. Essas situações geravam muitos
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constrangimentos para os participantes, que tem formas próprias de operar a performance da


voltavam para as aldeias contando as perguntas reivindicação, em que o mais importante não é o
absurdas que lhes eram feitas sobre sua “cultura”, de saber se são, ou não, “representantes”
sem falar do estranhamento de ter de dançar sem legitimados para se expressar.
festejar, ou seja, sem tomar a bebida caxiri e sem A consolidação dessas formas de
poder brincar com os parentes no meio da expressão, no bojo do movimento de articulação
apresentação. Hoje, com a mediação das OIs, dos povos indígenas no Amapá, entretanto,
representantes Wajãpi são formalmente poderá ter uma consequência perversa, que é a
indicados para participar das comemorações separação das ações ditas “externas”, voltadas
organizadas pelo governo do estado no Dia do aos não índios, e das práticas cotidianas e formas
Índio e em outros eventos, que paulatinamente convencionais de relação que vigoram no
deixaram de ser simples espetáculos para alunos “interno” das aldeias. Essa diferenciação vem
das escolas da cidade e se transformaram em gerando múltiplos constrangimentos às ações e
oportunidades para construir articulações às intervenções culturais que os Wajãpi
políticas entre os povos que vivem no Amapá. desejavam consolidar no âmbito do Plano de
Desse modo, aprenderam juntos a se apresentar Salvaguarda, que eles vêm desenvolvendo há
como “índios do Amapá”, criando interessantes mais de dez anos, quando tiveram suas
estilos compartilhados, exibindo, além das expressões gráficas e orais kusiwa registradas
clássicas tangas de pano vermelho, uma fartura pelo IPHAN e pela UNESCO. A intenção era
de adornos plumários escolhidos entre os mais justamente superar o distanciamento entre o que
vistosos (geralmente imitando os adornos de acontece fora e o que acontece dentro das
povos considerados combativos, como os aldeias, como explicavam os chefes que
Kaiapó), além de bordunas e pinturas no rosto receberam, em 2004, o título da UNESCO: “Se
que também lhes permitem se apresentar como os não índios não respeitam nossa cultura, até os
“guerreiros”. nossos próprios jovens podem começar a
Foi no âmbito inicialmente voltado à desvalorizar nossos conhecimentos e modo de
espetacularização de traços indígenas exóticos vida". De acordo com o Plano de Salvaguarda, o
que nasceu um movimento, hoje, em franca foco das ações não seria a difusão e
consolidação. E, nesse contexto, os Wajãpi foram espetacularização da arte gráfica – objeto do
atores de uma produtiva série de equívocos, registro patrimonial –, mas a valorização
gerados pela duplicidade das noções de concomitantemente interna e externa dos
“representação” e de “apresentação”, tal como saberes e práticas vigentes no cotidiano dos
são usadas nesses cenários interétnicos. Nos dois Wajãpi. Tendo, inclusive, como foco a
casos, se trata da capacidade de exibir, para os integração entre várias dimensões da cultura, a
não índios, corpos aguerridos e palavras duras partir das formas de expressão, das categorias de
para reivindicar respostas das autoridades. As pensamento e de modos de relação vivenciadas
pinturas “de guerra” potencializam a entrega de primeiro “nas aldeias” e que seriam, então,
documentos e os longos discursos dos explicadas e ensinadas aos não índios que lá
representantes de cada povo, que são escolhidos trabalham. Muitos Wajãpi ainda defendem esse
por terem coragem e habilidade para rumo para as ações de valorização cultural, mas
“apresentar”. Para muitos Wajãpi, as duas são muitas vezes contestados pelas instituições,
palavras constituem uma única ação, que esperam deles mais ações de “divulgação”
direcionada, como eles deixam muito claro, aos ou de “produção cultural”. Como se viu, e se verá
não índios. Cabe lembrar que o formato das a seguir no caso das ações de saúde, a
discussões realizadas entre eles, para preparar valorização integrada de modos de pensar e de
essas ações na cidade, não dão tanto destaque aos viver é constantemente colocada à prova pelas
representantes ou apresentadores das OIs, i n t e r v e n ç õ e s q u e e x i g e m d o s Wa j ã p i
geralmente jovens com maior fluência em “apresentar” sua cultura a partir de recortes e de
português, mas envolvem os chefes de aldeias e categorias definidas de fora, conforme o
chefes de famílias, que formam efetivamente o entendimento dos não índios.
Conselho. Os jovens, inclusive, no âmbito dessas
reuniões internas, são tratados como jovijã
patavoarã, os ajudantes dos chefes. Cada um ao
seu modo, sejam jovens ou líderes mais velhos,
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AGENTES INDÍGENAS DE SAÚDE (AISS): atores envolvidos (gestão do DSEI, profissionais


SALÁRIOS, POSTOS DE SAÚDE E FÉRIAS de saúde não índios e AISs), com suas
Trataremos agora das dificuldades das respectivas crenças, formações e subjetividades,
instituições responsáveis pela saúde indígena em entenderia e colocaria em prática o que se
compreender as formas de organização social e denomina como atenção diferenciada? De fato,
territorial dos grupos wajãpi. São inúmeros os da objetividade das orientações à subjetividade
exemplos de desrespeito que revelam descuidos e das ações, existe um abismo. Podemos afirmar
descompassos dos profissionais de saúde quanto que, atualmente, as ações de saúde têm muito
aos atendimentos cotidianos realizados nas pouco de diferenciado e muita coisa semelhante
aldeias. Mas vale salientar que, muitas vezes, os ao sistema de saúde voltado aos não índios.
profissionais de saúde não se dão conta de que A estratégia dos AISs, para tentar fazer
estão sendo desrespeitosos, pois acreditam que valer o que está garantido na legislação, tem sido
estão simplesmente colocando em prática seus recorrer à Procuradoria da República no Amapá,
conhecimentos – etnocêntricos e biologicistas – e de forma que esta faça uma intermediação na
seguindo as orientações gerais fornecidas pelo relação junto ao DSEI/SESAI. Há de se ressaltar
órgão responsável pela execução das ações junto que a Procuradoria tem sido a última opção dos
aos povos indígenas. Este exemplo discutirá não AISs, após inúmeras tentativas de resolução
especificamente o atendimento realizado pelos junto ao DSEI, que surtiram pouco ou quase
profissionais não índios na TI Wajãpi, mas a nenhum resultado prático. O último documento
relação construída entre o DSEI e os AISs wajãpi. entregue na Procuradoria pelos AISs à gestora
4
As regras que estavam, explícita ou solicitava que a SESAI reconhecesse e
implicitamente, colocadas, eram: os AISs são respeitasse que:
contratados para trabalhar em uma aldeia
específica; devem cumprir horário nos postos de Os AISs não moram sempre na mesma aldeia.
saúde; não possuem um calendário específico Cada AIS tem casas e roças em duas aldeias
diferentes e passa uma parte do ano em cada
que respeite tempo de roça e de caça, pois, já que lugar. Porque na aldeia antiga não tem lugar bom
recebem salário, podem comprar comida para sua para fazer roça, as plantas não crescem bem e
família; não estão autorizados a largarem o também tem pouca caça e peixe. Por isso a gente
trabalho para participar da limpeza das picadas e procura um lugar bom [para] morar e viver com
vigilância territorial nos limites da TI; só podem saúde. Queremos fortalecer nosso jeito de morar
e de nos alimentar para ter saúde.
visitar os parentes no período de férias. Afinal, os Os AISs trabalham nas aldeias para fazer
AISs são a todo instante relembrados de que são cobertura da saúde na TIW. Onde a comunidade
funcionários públicos. vai os AISs têm que acompanhar. Os AISs
Ainda que a Constituição de 1988 tenha também viajam para outras aldeias para atender
garantido o respeito ao modo de viver de cada os seus parentes. Porque os técnicos não
indígenas não vão conseguir visitar as famílias
povo indígena, e que a Lei N° 9.836/1999 que moram longe do posto de saúde, nos limites
também tenha instituído que a atenção à saúde da TIW. Por isso que os chefes escolheram os
deve ser diferenciada, respeitando “a realidade AISs para trabalharem nas aldeias.
local e as especificidades da cultura dos povos Para promover saúde os AISs não trabalham
indígenas”, na prática, isto não tem ocorrido. somente no atendimento dos pacientes. Nós
precisamos fazer roça, caçar, pescar, mudar de
Existe uma dificuldade imensa de compreensão aldeia, fazer casa nova, fazer festa e artesanato.
dos diferentes modos de viver dos povos A SESAI tem que liberar os AISs para fazer
indígenas, somada a uma falta de vontade política limpezas das picadas e vigilância nos limites da
e uma crença, calcada ainda em um paradigma TIW. É importante cuidar dos limites para não
evolucionista, de que, na realidade, os povos entrar invasores como garimpeiros,
madeireiros, pescadores, caçadores etc. As
indígenas precisam “evoluir e deixar de ser atividades desses invasores podem trazer muitas
primitivos”. Ainda que fossem superados estes doenças para os Wajãpi. Este trabalho dos AISs
problemas, teríamos outro: como cada um dos ajuda a prevenir as doenças e promover saúde
nos Wajãpi.
Já está garantido na lei que os AISs podem
trabalhar de jeito diferenciado dos não índios,
com respeito ao modo de vida wajãpi. Não é só
4. Algumas das regras que apresentaremos a seguir já foram
revertidas, a partir de uma intensa mobilização política do
nas férias que os AISs vão para outras aldeias.
Conselho Apina, com apoio do Ministério Público Federal. Na nossa cultura não existe férias. Por isso não
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podemos esperar as férias para viajar para as geral, a mãe tem outros filhos e precisa cuidar
outras aldeias para fazer os nossos trabalhos, deles também. Dificuldades agravadas quando a
como por exemplo: abrir roça, fazer casas, ajudar
nossos sogros, atender pacientes...
criança não consegue se locomover, já que todas
as atividades da família dependem de percursos:
Neste documento, os AISs enfatizam a na própria aldeia e a outros assentamentos; ir
promoção da saúde, através de um bem viver, ou para a roça, coletar alimentos, banhar-se no rio,
seja: ter roça, caça, mudar de aldeia, fazer caçar, pegar lenha etc. Então, dificilmente uma
limpeza das picadas, artesanatos, festas, comer mãe consegue dar apoio exclusivo para uma
bem, construir casas etc. Esta ideia se contrapõe criança. Ela divide sua atenção entre cuidados
fortemente às práticas de atenção à saúde que com os filhos e manutenção da alimentação da
promovem tanto a perda de qualidade de vida, casa. Por outro lado, cuidar da criança na cidade
resultante da sedentarização perto dos postos, não é uma solução melhor, aliás, vem se
como debilitam os corpos com a medicalização mostrando uma solução bastante complicada.
exacerbada, o incentivo ao uso de alimentação Quando a mãe ou a avó precisam ficar na CASAI
industrializada etc. Resta aos AISs continuarem por longos períodos, acompanhando uma
construindo estratégias para tentar fazer valer criança, o restante da família, com toda certeza,
seus direitos e seus próprios modos de viver. irá sofrer na aldeia. Ninguém vai cuidar da roça
dessa mulher nem de seus outros filhos,
especialmente quando se trata de longos
CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIAS NA períodos de ausência. Porém, os problemas não
TERRA INDÍGENA WAJÃPI terminam por aí. Estas crianças, em geral, têm
Outro exemplo diz respeito à situação das direito a receber um benefício para ajudar nas
crianças nascidas com deficiência. Como despesas daquilo que for necessário para seu
explicam vários Wajãpi, antigamente isto era uma bem-estar. Na realidade, este benefício ajuda
questão resolvida em âmbito local, ou seja, pouco a criança, ou promove seu bem-estar,
existiam estratégias próprias para lidar com estas servindo muito mais como uma fonte de renda
ocorrências. Atualmente, por influência tanto das para a família. Sugestões advindas dos
práticas de assistência à saúde, quanto da atuação profissionais de saúde para apoiar a criança,
de missionários evangélicos, a relação familiar e como alugar uma cadeira de rodas, adquirir
o destino das crianças deficientes vêm ganhando materiais de fisioterapia etc. são ineficazes,
novas dimensões e contornos. levando-se em conta o contexto de vida local.
Vale ilustrar a discussão com uma Considere-se, ainda, que os profissionais
situação ocorrida há pouco na TI. Uma menina, de saúde dificilmente conseguem fornecer o
com cerca de 4 anos, foi “encontrada” em sua diagnóstico sobre o problema da criança para sua
aldeia e levada ao posto de saúde. Segundo o família, não explicitando, portanto, as reais
relato da pessoa que a levou ao posto de saúde, a condições de melhora ou sobrevida. Ou seja, a
menina tinha uma deficiência motora e não escolha de como e onde cuidar da criança é
conseguia andar, estava na rede, magra e “largada realizada sem informações suficientes para
na aldeia” com outras crianças e sem adultos por embasá-la. A família tem o direito de decidir, a
perto. Desta primeira descrição, podemos partir das informações e com base na legislação
depreender que: se a criança estava em sua aldeia, de atenção à saúde diferenciada, o que fazer com
não estava largada; estava na rede justamente por a criança. Se vai cuidar dela na aldeia, se vai
não conseguir se locomover sozinha; e arranjar acompanhantes para ela ser cuidada na
encontrava-se com outras crianças, o que é cidade, se vai propor a adoção ou qualquer outra
bastante comum quando os pais vão à roça. A solução que considere viável. Porém, a falta de
criança, por um tempo, foi cuidada pelos um diagnóstico, somada à repressão moral das
profissionais de saúde no posto e, depois, acabou soluções locais impedem que as famílias w
encaminhada para a Casa de Saúde Indígena ajãpi possam de fato ter a possibilidade de fazer
(CASAI) em Macapá, onde permaneceu por opções.
muitos meses, acompanhada de sua avó paterna. Esta repressão moral das soluções e
Uma primeira questão que podemos decisões locais encontra-se ancorada em
colocar é quanto à extrema dificuldade em cuidar pressupostos da tradição cristã e fundamentada
de uma criança com deficiência na aldeia. Em na tese do “direito à vida” enquanto um direito
GALLOIS, D. T. & ROSALEN, J.
Direitos indígenas “diferenciados” e seus efeitos entre os Wajãpi no Amapá, pp. 33-41
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humano universal, inconteste, cujo coletivo é a configurando uma pessoa autônoma, apartada de
própria humanidade. Muitos povos têm teorias suas redes de relações, é totalmente distante do
diferentes a respeito do que seja a vida, ou das pensamento e da prática indígenas. A solução
potencialidades que a geram, bem como do que não é, como tentam as práticas assistencialistas, a
seja a humanidade e dos múltiplos mundos que de capacitar – ou de domesticar – os índios para
ela abarca. De forma a tentar desfazer os que se insiram nas regras da cidadania, mas
preconceitos, especialmente dos profissionais de alargar essas práticas, permitindo que sejam
saúde, vários jovens wajãpi têm proposto a transformadas pelos modos indígenas de
realização de uma reunião ampliada para discutir existência;
a questão das crianças com deficiência. Além
disso, estes mesmos jovens têm reagido e – considerar que os técnicos, alocados em órgãos
produzido, através do Conselho Apina, estaduais, responsáveis pela implementação das
documentos que procuram fornecer respostas e ações diretamente nas aldeias não conhecem – e,
construir estratégias frente às ações promovidas às vezes, não estão interessados em conhecer – as
pelo DSEI. A questão das crianças com especificidades indígenas (em termos de
deficiência tornou-se um grande problema para organização social, de modos de ação política, de
os Wajãpi, porque soma, para além do formas de conhecimento etc.) e, por isso, se
desconhecimento, preconceito, interferências de limitam em aplicar as políticas recomendadas
toda ordem e um profundo desrespeito às práticas pelo governo federal a partir do que eles
e teorias Wajãpi. entendem ser “o modo de vida ou a cultura
indígena”. Favorecem, assim, um
distanciamento perverso entre as compreensões
ALGUNS PONTOS PARA DISCUSSÃO e práticas culturais “internas” e o que os Wajãpi
Os exemplos e contextos acima acabam aceitando como sendo “o conhecimento
esboçados indicam vários caminhos hoje dos não índios” a respeito deles, ou seja, critérios
percorridos pelos Wajãpi para compor interesses definidos por agentes “externos”. Note-se que
“particulares” (ou “diferenciados”) com as ações recentes da SEPI e de outros órgãos do
reivindicações mais abrangentes construídas e estado do Amapá visam justamente a
veiculadas pelas OIs, a partir de intensos debates consolidação de uma “cultura indígena do
e reuniões. Esses caminhos são pautados pelas Amapá”, ou seja, de algo que seja capaz de
imensas dificuldades que experimentam no trato “apresentar” (aos não índios) um condensado do
que lhes é dispensado por agentes que atuam na que são experiências, vivências, acervos de
educação e saúde e que, como vimos, carecem práticas e saberes de mais de onze povos falantes
totalmente de capacitação ou sensibilidade para de mais de dez línguas distintas. Fato é que os
entender a complexidade das problemáticas que índios se apropriam dessas objetivações e as
se colocam aos índios. Assim, consideramos que tornam suas. Hoje, “representam” se
as tensões descritas neste texto podem ser “apresentando” como povos em luta pelos seus
debatidas a partir das seguintes questões: direitos, mesmo que não consigam ser ouvidos
quando desejam falar de seus modos de vida
– considerar que as políticas públicas, sejam elas diferenciados. Sem dúvida, as novas formas de
voltadas a atender reivindicações coletivas e/ou expressão resultantes dessas articulações, que
individuais, esbarram na dificuldade de atendem indiretamente aos incentivos dos
transposição de suas formas de operação para as órgãos governamentais, constituem um tema
relações vigentes no cotidiano dos Wajãpi. Para interessante para a pesquisa antropológica. Mas,
estes, a abrangência de um coletivo tem em termos de reconhecimento e respeito às
necessariamente geometria variável e formas indígenas de existência, elas podem
circunstancial, correspondendo ora à família, ora representar um retrocesso.
ao grupo aldeão, ora ao grupo local, e dificilmente Se lembrarmos dos alertas enunciados
abrangerá a “totalidade” dos Wajãpi, que não se por Jaulin e Clastres nos anos de 1970, podemos
pensam como unidade e, sim, sempre, como concluir que o etnocídio está em curso não
composição instável entre diferentes. Ao mesmo apenas no Amapá, mas em muitas outras regiões
tempo, a noção de “indivíduo”, que embasa a do Brasil, com apoio declarado de órgãos
alocação de benefícios ao “cidadão”, públicos que pretendem saber, mais do que os
REA | Nº 2 | Junio de 2016 - Dosier ‘Antropología del Derecho en Brasil’
ISSN: 2387-1555 | www.iiacyl.com/rea
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próprios índios, o que vem a ser “a cultura” e “os desafios para superar uma transição na gestão do
anseios” da população indígena. O etnocídio será coletivo. In: Demarcando Terras Indígenas II,
tão mais eficaz quanto, a partir de um jogo de PPTAL/Funai/GTZ, Brasília. Disponível em:
espelhos e reflexos perversos, conseguir inculcar, <http://www.institutoiepe.org.br/media/artigos/
nas demandas indígenas, formatos de doc12.pdf>. Acesso em: 2015.
apresentação cultural e de representação política
que sintetizam a exterioridade indígena de um GALLOIS, Dominique Tilkin. (2005). Cultura
modo cada vez mais pobre, porque cada vez mais “indígena” e sustentabilidade: alguns desafios.
congelado, domesticado e atrelado ao que a Tellus, n. 8/9, p. 29-36.
população não indígena considera ser “o índio”.
KAHN, Marina. (2005). Uma política para
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Pacificando o branco: cosmologias do contato no HOFFMANN, Maria. (2002). Além da tutela:
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GALLOIS, Dominique Tilkin. (2002b).
Vigilância e controle territorial entre os Wajãpi:

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